sexta-feira, 17 de maio de 2024

Vereda da Poesia = 9 =


Uma Trova de Maringá/PR

A. A. de Assis

Cresce a cidade… que pena…
crescendo, perde a poesia;
– na rua ninguém me acena,
ninguém mais me diz bom-dia!
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Um Poema de Porto Alegre/RS

Rodrigo Zuardi Viñas

SE EU PARTIR ANTES DE TI

Quero que isso aconteça
numa manhã tranquila
e agradável
para que o momento
seja eternizado
pela beleza do dia
e pelos sentimentos
que temos um pelo outro.
Ah, se eu partir antes de ti,
sei que, além de saudades,
manterás, por mim,
muito carinho e admiração.
A amizade que nos une
foi construída
com muito respeito, sinceridade
e companheirismo.
Ah, se eu partir antes de ti,
sei que me guardarás
como uma das tuas boas lembranças.
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Uma Quadra Popular

Quero cantar, ser alegre,
Que a tristeza não faz bem;
Inda não via tristeza
Dar de comer a ninguém.
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Um Soneto de São Mateus do Sul/PR

Gérson César Souza

NEBLINA

Tal qual o véu que cobre um rosto de menina,
tua beleza amanheceu hoje escondida.
Chegou o inverno... e eu te encontro adormecida,
cidade amada, sob um manto de neblina...

Meus passos calmos já conhecem cada esquina,
cada comércio, cada rua ou avenida.
Mesmo esta névoa é uma velha conhecida,
parceira antiga na jornada matutina.

Eu acompanho este momento em que despertas:
luzes se acendem... as janelas são abertas...
e o sonolento vai e vem da nossa gente.

Quando a neblina vai, por fim, se dissipando,
alto no céu há um sol ansioso te esperando
para abraçar teu frio e dar-te um beijo quente!
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Uma Aldravia de Ipatinga/MG

Marília Siqueira Lacerda

noite
dia
silêncio
dobrado
feriado
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Uma Setilha de Natal/RN

José Lucas de Barros
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Entre as coisas que a vida me propôs,
desde o tempo feliz da tenra idade,
e eu procuro seguir com todo o empenho,
vêm, na linha de frente, a honestidade
e os princípios do amor e da harmonia,
porque Deus vai querer que eu prove, um dia,
o que fiz pra ganhar a eternidade.
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Um Epigrama de Fortaleza/CE

Antônio Sales
Fortaleza/CE, 1868 – 1940

A opinião severíssima
te condena sem razão:
tu serias fidelíssima
se fosses… mulher de Adão.
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Uma Sextilha de Porto Alegre/RS

Gislaine Canales
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Podemos trocar carinhos
por e-mails todo dia,
e podemos divulgar
mensagens, versos, poesia,
repartindo com o mundo
a nossa eterna alegria!
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Uma Trova de Santos/SP

Cláudio de Cápua
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP

Os braços vindos de guetos,
sob o sol ou sob a lua,
amarelos, brancos, pretos,
clamam justiça na rua.
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Um Poema de Lisboa/Portugal

Fernando Pessoa
(Fernando António Nogueira Pessoa)
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

A MORTE É A CURVA DA ESTRADA 

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te ouço a passada
existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.
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Uma Décima de Natal/RN

Ademar Macedo
Santana do Matos/RN. 1951 – 2013, Natal/RN

O SERTÃO É UM POEMA…

Deus na sua magnitude,
fez do sertão um palácio,
deixou escrito um prefácio
na parede do açude;
disse da vicissitude
da flor e do gineceu,
de um concriz que se escondeu
nos garranchos da jurema,
o sertão é um poema
que a natureza escreveu.
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Mais um Poema de Lisboa/Portugal

Antero Jerónimo

As palavras são janelas ou muros
Levadas a tribunal de audição 
Juízes ou carrascos atentos
São libertação ou podem ser condenação

Entrego as minhas palavras
Como uma bandeira branca
Desfraldada em campo sereno
Onde conseguimos a reconciliação 
No espaço do maravilhoso criar
Onde somos dom e inspiração

Sempre estivemos nesse lugar
Da comunicação em união 
Mas inseguro tropeço em fragilidade 
Nesta minha latente imperfeição

Sejamos então abraço e voz de alma
Que nos transcende e acalma.
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Um Indriso* de São Paulo/SP

Isidro Iturat

LUA CHEIA

A velha mandinga contava à sua neta
sobre os sortilégios da Mãe Lua,
lá na boa noite, lá na noite quieta:

“Para a deusa nunca vais olhar,
porque se te mira quando tu a miras,
o Pássaro Prata ouvirás cantar.

E ao canto da ave o ventre se alua

e do bom marido, saberás das iras”
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* O indriso é um poema que consta de dois tercetos e duas estrofes de verso único, isto é, que está organizado segundo um padrão 3-3-1-1, e surge a partir de uma reelaboração do soneto no que poderia explicar-se como um processo de condensação estrófica. Os quartetos do soneto passam a ser tercetos no indriso. Depois, os dois tercetos do primeiro passam a ser estrofes de verso único no segundo. 
O indriso foi criado por Isidro Iturat, que nasceu em Vilanova i la Geltrú, España, 1973. Escritor e professor de lingua e literatura espanholas. Reside em São Paulo desde 2005. (Fonte: www.indrisos.com)

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