JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR
Sonho de paz
As balas que ecoam, em triste lamento,
na sombra da vida há tanto a esperar,
mas a paz é um rio que flui em movimento,
e o amor é um sonho que pode reinar.
Na mesa da vida há espaço pra todos,
e na voz da razão, a força de amar,
quebrando os preconceitos, se erguendo dos lodos,
para juntos, em paz, finalmente caminhar.
Que as esperanças sejam luzes brilhantes,
que os olhares se cruzem sem mais se temer,
pois um mundo unido são sonhos constantes,
e a paz é o futuro que queremos viver.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Enquanto eu tirava espinhos
das rosas que te ofertava,
deixavas nos meus caminhos
os espinhos que eu tirava...
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Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
O amor é primo-irmão da dor
Se minha lágrima feliz vem sem aviso,
o paraíso assume formas diferentes,
o sentimento que me dou... é tão preciso,
que até meu riso ri das dores insistentes.
E nesse flash, o meu olhar mais expressivo,
dentro do espelho do meu doce encantamento,
sublima o pranto, pois se choro, estou mais vivo
e sobrevivo desse embevecimento.
Por ser feliz é desse jeito que me exprimo,
O amor é primo-irmão da dor que dele emana
e se ele engana o coração, quando sorri,
não corto a víscera da dor, porque, se esgrimo,
só me defendo... e até mesmo a dor insana,
num riso tênue, restitui o que perdi.
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Trova Humorística Premiada em Irati/PR, 2023
SÉRGIO FERREIRA DA SILVA
São Paulo / SP
Tentou roubar no baralho...
Se arriscou e apostou tudo...
Mas, se a meta era um cascalho,
levou, foi mesmo, um cascudo!
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Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS
O poder do amor
Mote:
Dentre os poderes na terra
o do amor é bem mais forte,
somente o amor vence a morte
e pode acabar a guerra!
(Nilson Matos)
Glosa:
Dentre os poderes na terra
o que tem maior valor,
o que mais poder encerra
é com certeza, o do amor!
Dentre tantos sentimentos,
o do amor é bem mais forte,
pois abriga bons momentos
que indicam o nosso norte!
Pra que contarmos com a sorte,
se o amor é o nosso guia?
Somente o amor vence a morte
e nos traz muita alegria!
O amor é a chave da vida,
sua porta, não nos cerra...
Sua força é conhecida,
e pode acabar a guerra!
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Trova Popular
A cantar ganhei dinheiro,
a cantar se me acabou.
O dinheiro mal ganhado,
água deu, água levou.
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Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926
Maquiavélico
Há horas em que minha alma sente e pensa,
Num tempo nobre que não mais se avista,
Encarnada num príncipe humanista,
Sob o Lírio Vermelho de Florença.
Vejo-a, então, nessa histórica presença,
Harmoniosa e sutil, sensual e egoísta,
Filha do idealismo epicurista,
Formada na moral da Renascença.
Sinto-a, assim, flor amável do Helenismo.
Virtuose — restaurando os velhos mapas
Do gênio antigo, entre exegeta e artista.
E ao mesmo tempo, por diletantismo,
Intrigando a política dos papas,
Com a perfídia elegante de um sofista...
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Trova de
HAROLDO LYRA
Fortaleza/CE
Com sua vela enfunada
não lhe intimidam navios
e singra, afoita jangada,
os verdes mares bravios.
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Soneto de
JOAQUIM GANHÃO
Évora/Portugal
Imaginação
Sou somente uma imaginação?
Será que eu sou uma vida real?
Serei apenas uma breve ilusão'
Verdade ou a mentira no geral?
Estarei simplesmente a sonhar?
Alguém pode a verdade garantir?
O que o sonho nos pode ficcionar,
se é tão real o nosso ver e o ouvir?
Dizem que a vida é uma passagem
então o sonho, o que é realmente?
Será uma ponte pra outra margem?
Será este rio apenas um afluente?
Ou esta vida é visionária miragem
onde coexistimos com o ambiente?
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Trova Humorística de
FRANCISCO ASSIS MENEZES
Porangatu/GO
Com tal mania pro jogo,
mesmo detido, em verdade,
Jogava dama o Diogo,
usando a sombra da "grade"...
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Casa dos poetas
Visito sempre a casa dos poetas,
Pois lá me sinto bem a qualquer hora;
É onde eu sempre encontro as mais seletas
Poesias de levar tristeza embora...
Na sala principal estão completas
As obras de imortais e os de agora...
Há versos mil de amor, canções diletas
A um coração que de saudade chora...
Um corredor de trovas me conduz
Às redondilhas numa sala enorme,
Com muito belas odes e poemetos...
A tudo leio e tudo me traz luz
Para eu fugir das mágoas, bem conforme
Às lições que eu aprendo nos sonetos!
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Trova Humorística de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
Só por descuido é que a Helena
acabou por se casar…
Pois, pensou que Cibalena
fosse a pílula… Que azar!
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Poema de
PAULO LEMINSKI
Curitiba/PR, 1944 – 1989
Invernáculo
Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.
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Trova Funerária Cigana
Morreste silencioso…
De ninguém te despediste.
Do mundo nada quiseste.
Ao mundo nada pediste.
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Soneto de
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Couto/RJ
A imagem do tempo
O olhar é opaco, a face contraída,
há flacidez nas pálpebras cansadas,
a boca é seca, a tez esmaecida,
encimada por mechas desgrenhadas...
Todo o peso das culpas desta vida
repousa sobre as costas encurvadas.
O farto ventre, a carga mais sentida,
castiga as frágeis pernas arqueadas...
De confidentes restam a bengala
e uma imagem sagrada, lá na sala:
– Fiéis acompanhantes da velhice!
Velhice de incertezas e mistério,
que o tempo vai legando a seu critério...
e a mim agora impôs...sem que eu pedisse!
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Trova de
LEDA COSTA LIMA
Fortaleza/CE
Quando eu sofro a tua ausência
e a solidão me devassa,
com suave paciência
chega a saudade e me abraça!...
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Poema de
CRIS ANVAGO
Lisboa/ Portugal
Porque dizes não quando pensas sim?
É timidez, medo do que eu possa dizer?
Sabes que os teus olhos se focam em mim
Lês tudo o que eu não consigo escrever
Nas entrelinhas dos meus versos
Existe um segredo que se esvai no nevoeiro
Todas as palavras inversas se cruzam
Todos os medos ficam pendurados no bengaleiro
Estou protegida quando chove
Quando ninguém me vê no nevoeiro
Não sou D. Sebastião
Sou mais guerreira!
Não desaparecia do nada para a vida inteira!
Quero ser tudo o que sonho
Sim! O impossível vive em mim!
Perco-me no horizonte e amo o infinito
Sei que o amor é e será assim…
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
Perdeu no xadrez também...
e, sem dinheiro, se abate
ouvindo a ordem de alguém:
— Se não der um cheque... mate!
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Soneto do
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
LINO VITTI
Piracicaba/SP, 1920 – 2016
Minha escola
Eu não sou o poeta dos salões
de ondeante, basta e negra cabeleira.
Não me hás de ver, nos olhos, alusões
de vigílias, de dor e de canseiras.
Não trago o pensamento em convulsões,
de candentes imagens, a fogueira.
Não sou o gênio que talvez supões
e nem levo acadêmica bandeira.
Distribuo os meus versos quais moedas
que pouco a pouco na tua alma hospedas,
raras, como as esmolas de quem passa.
Vou porém me sentir feliz um dia
se acaso alguém vier render-me a graça
de o ter feito ricaço de poesia.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
Benditas sejam as vidas
que, alegres, serenas, santas,
vivem a vida envolvidas
em levar vida a outras tantas!
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Poema de
ALFREDO SANTOS MENDES
Lisboa/Portugal
O palco da vida
Peguei no meu viver, pus nos dois pratos…
Da balança que pesa a minha vida.
Ficou a balouçar, enlouquecida,
Perante a imensidão de tantos fatos!
Desesperei. Quis ver quais os relatos,
Que a deixaram assim, enfurecida!
Teria ela ficado ressentida…
P’lo turbilhão perverso, dos meus atos?
Eu fui mais um ator que desfilou!
Que fez o seu papel, representou!
Que foi palhaço. Herói. E foi guerreiro!
Se errei alguma vez no meu percurso.
Por certo não havia outro recurso,
Terão de condenar, o mundo inteiro!
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Trova da
Princesa dos Trovadores
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Na vida, a luta não cessa
em prol do sonho e do pão
e a liberdade começa
onde acaba a servidão!
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Hino de
Terra Roxa/PR
Princesa d'oeste, cheia de encantos,
Rodeada por imensos cafezais
E, onde outrora tudo era selva.
A soja rivaliza com trigais.
Salve salve, Terra Roxa
Princesa de encantos mil
Por teu progresso sempre lutaremos
Queremos ver-te brilhar no Brasil.
Teus fundadores podem orgulhar-se
De seu trabalho que não foi em vão
Os teus jardins e praças tão floridos
A todos, disto, testemunhos dão.
Salve salve, Terra Roxa
Princesa de encantos mil
Por teu progresso sempre lutaremos
Queremos ver-te brilhar no Brasil.
Em ti se unem confissões e raças
Dos que chegaram para trabalhar
Por teu progresso, expansão e glória.
Com os teus filhos, vão se empenhar.
Salve salve, Terra Roxa
Princesa de encantos mil
Por teu progresso sempre lutaremos
Queremos ver-te brilhar no Brasil.
Avante Terra Roxa do Oeste
Prossiga em ritmo forte varonil.
Com fé em Deus alcançará teu alvo
E brilharás, honrando o Brasil.
Salve salve, Terra Roxa
Princesa de encantos mil
Por teu progresso sempre lutaremos
Queremos ver-te brilhar no Brasil.
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Trova de
ARTHUR THOMAZ
Campinas/SP
No tempestuoso caminho
para ficar ao teu lado,
fui em busca de carinho,
vim na saudade enlaçado…
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Poema de
DARIO VELLOZO
Curitiba/PR, 1869-1937
Flor de cacto
Vens do Azul, da Quimera, alma de olhos sidéreos,
Que a minha alma de asceta aos paramos eleva
E à minha viuvez de mágoas e mistérios
Abre as aras do Além para o ofício da treva.
E eu bendigo, e sigo o teu corpo de Sombra,
Peito de névoa e luz; névoa das louras tranças,
Luz do olhar, desse olhar, deliciosa alfombra,
Calvário e serial de minhas esperanças.
Ilusões são punhais. Cada ilusão que aflora
A penumbra de um sonho, alma de olhos sidéreos,
Leva o espectro da cruz às flâmulas da Aurora
Cruz do Além, cruz feral, de mágoas e mistérios.
A carícia cruel de teu seio fremente
Abre as asas do Além pra o ofício da Treva,
E eu te digo. E a minha alma, ajoelhada, sente
Que a tua alma de morta ao passado nos leva...
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Trova de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
No lar que me fez honrado,
ante os conceitos de espaço,
o respeito era sagrado,
mesmo que o pão fosse escasso!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
O homem e a serpente
Um moço encontrou
Dormente
Serpente
Que o gelo enervou.
À casa a levou,
E logo
Do fogo
Mui perto a chegou.
A vil se animou,
Que em breve
Da neve
O efeito acabou.
A cauda anelou;
Erguendo
E torcendo
O colo, silvou.
A quem a salvou
Do corte
Da morte
Matar intentou.
O moço tomou
Pesado
Machado,
E ao meio a cortou.
A ingrata acabou
Partida,
Com a vida
Seu crime expiou.
O ter caridade
É da humanidade
Um sacro dever:
Porém não a ter
Com feras ingratas
É de almas sensatas.
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