JOSÉ CORRÊA VILLELA
Rio de Janeiro, 1899 – ????
Embora o frio, embrulhado
nos trapos do desabrigo,
dormi bem agasalhado
– a noite dormiu comigo…
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Poema de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009
NOSSA LÍNGUA
(para o poeta Antoniel Campos)
O doce som de mel que sai da boca
na língua da saudade e do crepúsculo
vem adoçando o mar de conchas ocas
em mansa voz domando tons maiúsculos.
É bela fiandeira em sua roca
tecendo a fala forte com seu músculo
na hora que é preciso sai da toca
como fera que sabe o tomo e o opúsculo.
Dizer e maldizer do mel ao fel
é fado de cantigas tão antigas
desde Camões, Bandeira a Antoniel,
este jovem poeta que se abriga
na língua portuguesa em verso e fala
nau de calado ao mar que não se cala.
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Trova de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Não importa a cor da pele
e nem a força dos braços;
mais vale o que nos impele
aos amorosos abraços!
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Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR
Declaração...
Nas mãos,
Mais que flores...
Com os
Olhos da alma
Verás
Que te ofereço
meu pequeno
Coração.
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Trova de
JESSÉ NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ
Os meus sonhos de menino,
cheios de esperança e cores,
os leva o trem do destino,
nos trilhos, por entre flores.
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
MEU IRMÃO, VEM COMIGO VER O MAR
(Glória Marreiros, in "Terra de Ninguém", p. 33)
Meu irmão, vem comigo ver o mar
Chão e calmo em constante movimento
Berço da vida e fonte de alimento
Com espuma que é renda de um altar.
Esquece a dor de um barco a naufragar
Abandona-te às ondas e ao bom vento
Que o mar é esse líquido elemento
Que os homens trazem de volta à luz do lar,
Mãe de lendas por tantas gerações
Ó mar tu é que irmanas as nações
Nascidas pelos cantos deste mundo.
Reino do céu azul, brumas e medos
Só tu sabes os bens e os segredos
Que guardas no teu seio tão profundo.
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Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP
Irrequieto, o molecote,
no jeitinho turbulento,
parece um mini-quixote,
perseguindo um catavento.
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Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
MANHÃ DE VERÃO
As nuvens, que, em bulcões, sobre o rio rodavam,
Já, com o vir de manhã, do rio se levantam.
Como ontem, sob a chuva, estas águas choravam!
E hoje, saudando o sol, como estas águas cantam!
A estrela, que ficou por último velando,
Noive que espera o noivo e suspira em segredo,
Desmaia de pudor, apaga, palpitando,
A pupila amorosa, e estremece de medo.
Há pelo Paraíba um sussurro de vozes,
Tremor de seios nuns, corpos brancos luzindo...
E, alvas, a cavalgar broncos monstros ferozes,
Passam, como num sonho, as náiades fugindo.
A rosa, que acordou sob as ramas cheirosas,
Diz-me: “Acorda com um beijo as outras flores quietas!
Poeta! Deus criou as mulheres e as rosas
Para os beijos do sol e os beijos dos poetas!”
E a ave diz: “Sabes tu? Conheço-a bem... Parece
Que os Gênios de Oberon bailam pelo ar dispersos,
E que o céu se abre todo, e que a terra floresce,
- Quando ela principia a recitar teus versos!”
E diz a luz: “Conheço a cor daquela boca!
Bem conheço a maciez daquelas mãos pequenas!
Não fosse ela aos jardins roubar, trêfega e louca,
O rubor da papoula e o alvor das açucenas!”
Diz a palmeira: “Invejo-a! ao vir a luz radiante,
Vem o vento agitar-me e desnastrar-me a coma:
E eu pelo vento envio ao seu cabelo ondeante
Todo o meu esplendor e todo o meu aroma!”
E a floresta, que canta, e o sol, que abre a coroa
De ouro fulvo, espancando a matutina bruma,
E o lírio, que estremece, e o pássaro, que voa,
E a água, cheia de sons e de flocos de espuma,
Tudo, - a cor, o clarão, o perfume e o gorjeio,
Tudo, elevando a voz, nesta manhã de estio,
Diz: “Pudesses dormir, poeta! No seu seio,
Curvo como este céu, manso como este rio!”
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Na imensa feira da vida,
as barracas da ironia:
- a das culpas - concorrida!...
a dos remorsos - vazia...
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Soneto de
MÁRIO A. J. ZAMATARO
Curitiba/PR
NA PRAÇA
À noite o movimento anima a praça,
garotos e garotas vão além
dos olhos camuflados de vidraça...
da busca de dinheiro e de algum bem.
A grana e a droga e a lisa da cachaça
embalam todo o gozo que eles têm.
Em meio ao gozo há o peso da carcaça,
e a vida oscila à beira... do que vem.
O tempo é companheiro do perigo.
Vacilo não perdoa nem amigo.
E é breve a sensação que vem de ser.
No centro, a velha mola do poder
e, em volta, a tola senha do freguês...
Na praça, todo sonho é insensatez!
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Trova de
BENEDITO ANGRENSE BRASIL DOS REIS VARGAS
Angra dos Reis/RJ
A saudade, é bem verdade,
como punge e faz sofrer!
Mas sem ter uma saudade,
quem é que pode viver?!
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Poetrix de
MARÍLIA BAÊTAS
Belém/PA
NO MUNDO DA LUA
Vagam meus pensamentos,
flutuam qual astronauta.
Na terra, tua falta.
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Poema de
CHARLES BAUDELAIRE
Paris/França 1821 – 1867
O ALBATROZ
Às vezes, por prazer, os homens de equipagem
Pegam um albatroz, enorme ave marinha,
Que segue, companheiro indolente de viagem,
O navio que sobre os abismos caminha.
Mal o põem no convés por sobre as pranchas rasas,
Esse senhor do azul, sem jeito e envergonhado,
Deixa doridamente as grandes e alvas asas
Como remos cair e arrastar-se a seu lado.
Que sem graça é o viajor alado sem seu nimbo!
Ave tão bela, como está cômica e feia!
Um o irrita chegando ao seu bico em cachimbo,
Outro põe-se a imitar o enfermo que coxeia!
O poeta é semelhante ao príncipe da altura
Que busca a tempestade e ri da flecha no ar;
Exilado no chão, em meio à corja impura,
A asa de gigante impede-o de andar.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Guarda bem isto na mente,
se a mentira te norteia:
mais cedo ou mais tarde, a gente
colhe aquilo que semeia!...
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Hino de
CLEVELÂNDIA/ PR
Clevelândia longínquo recanto
De teus filhos precioso agasalho.
Sob o manto de um céu de turquesa
És colmeia de vida e trabalho.
Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais
Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.
Quando aurora desponta sorrindo
E os pinhais lacrimejam orvalho
Teus filhos alegres contentes
Buscam todos na vida o trabalho.
Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais
Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.
A teus filhos que seja a harmonia
E o trabalho fecundo a divisa
Tua grandeza e progresso futuro
Desta fonte de vida precisa.
Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais
Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.
Quando ao longe te avista sorrindo
Minha alma alegre conduz
Minhas preces à mãe padroeira
Virgem Santa Senhora da Luz.
Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais
Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.
Clevelândia longínquo recanto
Deste nobre e feliz Paraná
És parcela do nosso Brasil
Mas tão bela como outra não há.
Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais
Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.
Quando aurora desponta sorrindo
E os pinhais lacrimejam orvalho
Tuas quinhentas casinhas de pinho
Formam tudo na vida o trabalho.
Clevelândia meiga terra
És um sonho que se faz
Na riqueza de teus campos
Na alegria dos trigais
Que se estende pelos vales
Feito ouro, feito pão
Com benção do Senhor
Na tristeza do sertão.
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ
TARDE FELIZ (ABRINDO O BAÚ)
Em morna tarde de sol
Cheia de tanta beleza,
Podemos observar
Encantos da natureza.
No aconchego da varanda,
Contemplo este céu azul,
No rádio tocando a banda,
O vento sopra do sul.
No jardim todo florido
Crianças correm a brincar,
De pique pega escondido.
O gato mia no muro
A coruja voa a gritar
Enquanto o ouvido eu apuro.
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Trova de
BENEDICTO NUNES DE ASSIS
São José dos Campos/SP
Primavera, esta menina
brincando, a enfeitar a terra,
abre lírios na campina
e põe manacás na serra!
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Uma Lengalenga de Portugal
ARRE BURRO
(Várias versões)
Arre burro
De Loulé
Carregado
De água-pé
***
Arre burro
De Monção
Carregado
De requeijão
***
Arre burrinho
Arre burrinho
Sardinha assada
Com pão e vinho
***
Arre burrinho
De Nazaré
Uns a cavalo
Outros a pé
***
Arre burrinho
Para Azeitão
Que os outros
Já lá vão
Carregadinhos
De feijão
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Trova Popular de
AUTOR ANÔNIMO
Segunda-feira eu te amo,
terça te quero bem;
na quarta morro por ti,
quinta por mais ninguém.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR
ACONCHEGO
Imóveis
A pena
E a asa da borboleta
Sonham
Com o vento…
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Trova de
DINAIR LEITE
Paranavaí/PR
Foi o poeta! Se chora…
Quedou da rosa o perfume
que invadiu belo anjo que ora
pro poeta e acende lume!
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