Gilvan Carneiro da Silva
O truque falha...vermelho,
o mágico diz que o enguiço
é culpa do seu coelho
que ainda é novo no serviço...
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Soneto de Cururupu/MA
Raimundo Correia
Cururupu/MA, 1860 – 1911, Paris/França
FIM DE COMÉDIA
O pano sobe, e o povo, satisfeito,
Aplaude a farsa, e ao riso não resiste;
“Gosta um moço da filha de um sujeito,
E este não quer que a filha case; ao triste
No fundo do jardim promete a amante
Um rendez-vous, longe do pai tirano;
Mas pilha o velho o escândalo flagrante,
E ambos vão casar-se… e cai o pano.”
Dizem os velhos que o teatro ensina.
Então tu podes sem pesar, menina,
Seguir este conselho: solta a rédea
Deste amor, que é o meu e o teu tormento,
Que há de a nossa comédia em casamento
Findar, como findou a tal comédia.
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Aldravia de Pirapetinga/MG
Amélia Luz
Fui
linha
e
ponto
tecendo
remendo
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Martelo Agalopado, de Riacho de Santana/BA
Marco Haurélio
GALOPANDO O CAVALO PENSAMENTO
(duas estrofes de cordel)
A Senhora dos Túmulos observa
O vaivém da tacanha mocidade,
Que despreza a virtude e a verdade
E dos vícios se mostra fiel serva,
Porém nada no mundo se conserva:
Sendo a vida infindo movimento,
É a Morte um novo nascimento
A inveja é o túmulo dos vivos —
O herói repudia esses cativos,
Galopando o Cavalo Pensamento.
Das trombetas ecoam novo som,
O tinido das armas me atordoam,
O rufar de tambores longe soam,
Destruindo o último Panteon
Será esse sinal o Armagedon?
Ou apenas mais um renascimento
De um ciclo que traz o advento
Duma aurora de brilho sem igual,
Sem início, sem meio e sem final,
Galopando o cavalo pensamento.
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Epigrama de Salvador/BA
Roberto Correia
1876 – 1937
Burro, a cegueira da sorte
Elevou-te e, ao sol, espelhas
Mas guardas o mesmo porte
E as mesmíssimas orelhas.
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Soneto de São Luís/MA
Artur de Azevedo
(Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo)
São Luis/MA, 1855 – 1908, Rio de Janeiro/RJ
TERTULIANO, O PASPALHÃO
Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
Tipo que, morto, não faria falta;
Lá um dia deixou de andar à malta
E, indo à casa do pai, honrado velho,
A sós na sala, diante de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:
— Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, és rico, és talentoso!
Que mais no mundo se te faz preciso?
Penetrando na sala, o pai sisudo,
Que por trás da cortina ouvira tudo,
Severamente respondeu: — Juízo!
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Trova de Curitiba
Helena Kolody
Cruz Machado/PR, 1912 – 2004, Curitiba/PR
A vida o tempo devora;
o próprio tempo não dura.
Colhe a alegria de agora,
para a saudade futura!
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Poema de São Francisco de Itabapoana/RJ
Roberto Pinheiro Acruche
QUEM SOU EU
Eu sou um caso,
um ocaso!
Eu sou um ser,
sem saber quem ser!
Eu sou uma esperança,
sem forças!
Eu sou energia,
ora cansada!
Eu sou um velho,
ora criança!
Eu sou um moço,
ora velho!
Eu sou uma luz,
ora apagada!
Eu sou tudo,
não sou nada!
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Haicai de Magé/RJ
Benedita Azevedo
Barulho estridente
no bosque ao lado da casa –
Ah! Um pica-pau.
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Soneto de Miguel Couto/RJ
Edmar Japiassú Maia
A MISSA DO COMPADRE
Ia vivendo meio aposentado,
celibatário que era por vontade,
por ter sofrido, em plena mocidade,
uma desilusão de amor frustrado…
Porém, um dia, foi comunicado
da morte do compadre na cidade,
e este fato lhe trouxe, na verdade,
a esperança deixada no passado…
O infausto passamento deu-lhe o ensejo
de sentir despertado um só desejo,
que trazia no peito adormecido…
E foi durante a missa do compadre,
que, amparando em seus braços a comadre,
baixinho, agradeceu ao falecido!
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Trova de Vila Nova de Gaia/Portugal
Alexandre Rodrigues Fernandes
Quem me dera ser quem era,
em vez daquilo que sou...
Voltas sempre, primavera.
Minha infância... não voltou!
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Poema de Portugal
Vitório Nemésio
(Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva)
Ilha Terceira/Açores, 1901 – 1978, Lisboa/Portugal
A CONCHA
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
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Quadra Popular
Hoje não venhas tarde
Dizes-me tu com carinho
Ou compras um relógio novo
Ou amanhã vai de carrinho.
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Spina de São Paulo/SP
Solange Colombara
ENTRE FRESTAS E OLHARES
Marejam aos infortúnios
do destino, harmonizam
em crepúsculos serenos,
são apenas arco-íris tênues, plenos.
Acalmam sorrindo ou lançam luzes
em pequenas doses, sutis venenos.
Teus raios iluminam minhas noites;
sois na vida, espetaculares acenos.
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Trova Premiada em Amparo/SP, 1999
Sérgio Ferreira da Silva
São Paulo/SP
Nos mais difíceis momentos,
tuas virtudes revelas:
quando o barco enfrenta os ventos,
mostra a beleza das velas!
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Décima de Natal/RN
José Lucas de Barros
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN
Até parecem mentira
Certas coisas deste mundo:
Numa fração de segundo
A roda do tempo gira;
Um instante se retira,
Outro pula no tablado;
O tempo é tão apressado
Que passa pisando a gente…
Futuro é quase presente,
Presente é quase passado.
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A Décima, mais usada pelo repente, é uma estrofe de dez versos de sete sílabas poéticas, ela é o gênero usado pelos cantadores repentistas para os versos de mote. Nas décima, as rimas são: o primeiro verso rima com o quarto e quinto, o segundo rima com terceiro, o sexto rima com o sétimo e décimo, e o oitavo rima com o nono.
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