sábado, 25 de maio de 2024

Vereda da Poesia = 17 =

 

Trova humorística da Princesa da Trova

Carolina Ramos
Santos/SP

Deu a tantos seu carinho
que no enlace, em confusão,
deu o sim para o padrinho
e o beijo no sacristão!
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Soneto de Fortaleza/CE

José Albano
(José D’Abreu Albano)
1882 – 1923, Montauban/França

SONETO DA DOR

Mata-me, puro Amor, mas docemente,
Para que eu sinta as dores que sentiste
Naquele dia tenebroso e triste
De suplício implacável e inclemente.

Faze que a dura pena me atormente
E de todo me vença e me conquiste,
Que o peito saudoso não resiste
E o coração cansado já consente.

E como te amei e sempre te amo,
Deixa-me agora padecer contigo
E depois alcançar o eterno ramo.

E, abrindo as asas para o etéreo abrigo,
Divino Amor, escuta que eu te chamo,
Divino Amor, espera que eu te sigo.
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Aldravia de Porto Alegre/RS

Ilda Maria Costa Brasil

uma
palavra
inúmeras
faces
vários
escritos
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Poema de Natal/RN

Silvino Potêncio
(Silvino dos Santos Potêncio)

O TEMPO É BREVE!…
(Poema numero 8)

O tempo é breve... Já vou andando,
Descendo por escadas em poeira.
Vou caindo pra morada derradeira,
Que existe na terra guardando,
Pra sempre os restos de um corpo,
Do mundo,... já se vai porque está morto!

Sinto náuseas fedorentas,
Em contato ao pensamento.
Sinto passos de almas lentas!!!???...
- Ah!... mas já não me fazem tormento!.

Saudades não levo nem deixo.
Tristezas!?... morreram já há algum tempo.
Concordem que não fui contratempo,
E só porque já não me queixo,
Não pisem no meu mausoléu...
Se alguém o ergueu para o céu!
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Trova de Curitiba/PR

Nei Garcez

Há emoções que a gente sente
e, que encantam tanto, tanto,
que, se expressas, verbalmente,
perdem parte deste encanto.
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Soneto de Curitiba/PR

Emílio de Meneses
(Emílio Nunes Correia de Meneses)
1816 – 1918, Rio de Janeiro/RJ

A CHEGADA

Noite de chuva tétrica e pressaga*.
Da natureza ao íntimo recesso
Gritos de augúrio vão, praga por praga,
Cortando a treva e o matagal espesso.

Montes e vales, que a torrente alaga,
Venço e à alimária** o incerto passo apresso.
Da última estrela à réstia ínfima e vaga
Ínvios*** caminhos, trêmulo, atravesso.

Tudo me envolve em tenebroso cerco
D'alma a vida me foge, sonho a sonho,
E a esperança de vê-la quase perco.

Mas uma volta, súbito, da estrada
Surge, em auréola. o seu perfil risonho,
Ao clarão da varanda iluminada!
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*Pressaga = que pressagia, prevê ou pressente
**Alimária = animal de carga
***Ínvios = Em que não se pode passar, transitar em caminho, estrada etc.).
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Quadra Popular

Sonhei contigo esta noite,
mas oh! que sonho atrevido!
Sonhei que estava abraçado
à forma do teu vestido !
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Décima de Fortaleza/CE

Francisco José Pessoa 
(Francisco José Pessoa de Andrade Reis)
1949 - 2020

PALHAÇO

A vida se nos faz meros palhaços...
sorriso solto num choro prendido,
querer que é dado nunca agradecido
saltar ao vento sem pisar os passos.
Tragar o fumo dos prazeres baços
embebedar-se tanto pra esquecer,
sentir-se ser alguém, mesmo sem ser,
no picadeiro, o aplauso, a falsa glória,
imagem tão real quanto ilusória
pranto da morte rindo pra viver!
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Epigrama de Salvador/BA

Roberto Correia
(Roberto José Correia)
1876 – 1937

Carroceiro, desalmado,
– diz o burro – vê que tu és
meu irmão! mas, aleijado,
que nasceste com dois pés!
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Poema do Príncipe dos Poetas Paranaenses

Emiliano Perneta
(Emiliano David Perneta)
Curitiba/PR, 1866 – 1921

ORAÇÃO DA MANHÃ

Amanheceu. A luz de um claro e puro brilho
Tem a frescura ideal de uma roseira em flor :
Antes de tudo o mais, ajoelha-te, meu filho,
Ajoelha-te e bendize a obra do Criador.

Ajoelha-te aqui, e sorvendo esse aroma
De feno, e rosa, e musgo, e bálsamo sutil,
Que vem do seio azul dessa manhã, que assoma,
Na radiosa nitidez de uma manhã de Abril,

Bendize a força, a graça, a seiva, a juventude,
A hercúlea robustez daqueles pinheirais,
Que resistem, de pé, dentro da casca rude,
Aos mugidos do vento e aos rijos temporais.

Ama essa terra como um fauno que por entre
A silva agreste vive; ama tudo o que vês;
Todos somos irmãos, filhos do mesmo ventre,
Filhos do mesmo amor e da mesma embriaguez.

Abraça os troncos nus, beija esses ramos de ouro,
Ajoelha-te aos pés dos que te querem bem :
Que riqueza, Senhor, que límpido tesouro!
Que grande coração que o arvoredo tem!

Pede a Deus que conhece os bons e maus caminhos
Que conhece o passado e conhece o porvir,
Que te aponte de longe os cardos e os espinhos,
E que te estenda a mão, quando fores cair...
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Trova do Príncipe da Trova

Luiz Otávio
(Gilson de Castro)
Rio de Janeiro/RJ, 1916 -1977, Santos/SP

Ele cai... não retrocede!...
Continua... até sozinho...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho...
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Martelo Agalopado de Pilõezinhos/Distrito de Guarabira/PB

José Camelo de Melo Rezende
1885 – 1964, Rio Tinto/PB

O orgulho nasceu em noite escura, 
E é filho da triste ignorância, 
Ao descer o seu corpo à sepultura, 
Cai-lhe verme por cima, em abundância, 
E seu todo se torna uma figura, 
Que nos causa a maior repugnância. 
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Haicai de Belo Horizonte/MG

Hana Haruko
(Clevane Pessoa de Araújo Lopes)

Pássaros canoros 
Energia em expansão 
Almas projetadas… 
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Poema de Vila Velha/ES

Aparecido Raimundo de Souza

CHUVA E SAUDADE

Cai a chuva… é triste o dia…
A manhã é cinzenta e baça…
E eu mudo vejo a chuva fria,
A correr de leve na vidraça…

E a chuva cai… cai e não passa…
Nem sequer a chuva estia…
Para que um pouco se desfaça,
A saudade de quem eu tanto queria!…

Qual essa vidraça, está meu rosto…
E meus olhos não querem desanuviar…
É por demais sofrido o meu desgosto…

Aumenta a chuva e com ela a minha dor…
Soluço qual criança perdida, sem cessar,
Na incerteza de ao menos rever-te amor!…
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Trova de Campinas/SP

Arthur Thomaz
(Arthur Thomaz da Silva Neto)

Não tem preço, a amizade,
é o ditado popular.
E os amigos de verdade
são difíceis de encontrar.
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Parcela* de Campo Grande/MS

Rubenio Marcelo
 
1.
   no azul do poema
   a luz da canção
   agora um clarão
   antes tão pequena
   não mais quarentena
   que se encastela
   agora eu e ela
   no leme do dia
   rumo à escadaria
   cantando parcela...

   2.
   assim, infinito
   nessa plenitude
   meus pés, amiúde,
   procuram o grito
   perpassam o mito
   ardente aquarela
   aurora e estrela
   que já predestinam
   sazões que sublimam
   à luz da parcela...

   3.
   oh tempo-verdade
   gravando o eterno
   já não mais hiberno
   a outra metade
   oh fertilidade
   que tudo revela
   com justa cautela
   quero ressurgir
   para refletir
   cantando parcela...

   4.
   no bico do corvo
   deixei o meu múnus (1)
   e os importunos
   punhais do estorvo
   agora não sorvo
   profana querela
   há porta, há cancela
   colunas, mansão
   adeus solidão
   no tom da parcela!

   5.
   permanentemente
   honrarei o rito
   quesito a quesito
   manhã, sol-poente
   se dente é por dente
   ardente é aquela
   retina que zela
   o perfeito instinto
   no áureo recinto
   do canto-parcela!
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 (1) Múnus = obrigações

* Parcela, conhecida também pela denominação de Décimas de versos curtos, a Parcela é gênero de cantoria constituída por estrofes com versos de quatro ou de cinco sílabas. Destacaram-se neste estilo os cantadores Pedra Azul, Manoel da Luz Ventania, José Félix e o cego Benjamim Mangabeira, este último falecido em Fortaleza.

Como é outra variante das Décimas, o esquema de distribuição rimática das Parcelas é abbaaccddc. (Fonte: Lilian Maial)

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