NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
Selva: bela e exuberante;
cria, de rara beleza,
de Deus que, naquele instante,
nominou-a... Natureza!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal
Prisioneiro em prisão de porta aberta
(Augusto Nunes in "Os Espelhos da Água", p. 82)
Prisioneiro em prisão de porta aberta
Nas grades dos teus olhos cumpro a pena
A que este amor tão cego me condena
Mas que faz a minha alma tão liberta.
O mal de que te queixas é uma oferta
E eu dou-te a minha vida tão pequena
Em troca dos teus olhos de açucena
Onde a luz deste mundo se acoberta.
Mas impugno a sentença do juiz
E o que nos autos diz a acusação
E que num pobre réu me transformou
Pois nunca fui na vida tão feliz
E se aqui foi roubado um coração
É o meu!... e foste tu quem m’o roubou!
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Caminheiro de olhos baços,
em busca dos teus carinhos,
para que servem meus passos,
se me apagaste os caminhos?
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Hino de
ITABIRA/MG
Tem belezas minha terra
Vou cantar a minha lira
A primeira é mais sublime
O seu nome é Itabira
Ela tem três altas serras
Com a Serra do Esmeril
O seu ferro é dos melhores
É o primeiro do Brasil
Minha terra tão querida
A cidade mais gentil
Mais formosa e pitoresca
Não há outra no Brasil.
Em seus campos verdejantes
Nascem flores a granel
Em seus bosques almejantes
Frutos mais doces que o mel.
Tem o poço d'Água Santa
E as fontes do Pará
Quem de suas águas bebe
Não se esquece mais de lá.
Minha terra tão querida
A cidade mais gentil
Mais formosa e pitoresca
Não há outra no Brasil
Ali canta o sabiá
Patativa e Bem-te-vi
O canário, o pintassilgo
A saudosa juriti.
Ela voa no progresso
Porque ama a instrução
E seus filhos dela esperam
Do Brasil a salvação
Minha terra tão querida
A cidade mais gentil
Mais formosa e pitoresca
Não há outra no Brasil
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Este meu andar sisudo,
que modela a caminhada
já retrata quase tudo
que a vida transforma em nada!
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Recordando Velhas Canções
ESTÃO VOLTANDO AS FLORES
(marcha-rancho, 1962)
Paulo Soledade
Vê,
estão voltando as flores
Vê,
nessa manhã tão linda
Vê,
como é bonita a vida
Vê,
há esperança ainda
Vê,
as nuvens vão passando
Vê,
um novo céu se abrindo
Vê,
o sol iluminando
Por onde nós vamos indo
Por onde nós vamos indo.
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Trova de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
Eu fui náufrago da sorte
em um mar de solidão,
mas teu amor foi suporte
e tábua de salvação!
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Glosa de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR
MOTE:
Se a porta é larga, desvio,
sem luta não tem vitória.
Porta estreita é o desafio
de quem vence e faz história!
Rita Mourão
Ribeirão Preto/SP
GLOSA:
Se a porta é larga, desvio
dos sonhos que eu fui buscar.
Meus passos eu mesmo crio
pois sei que vou me encontrar.
O tempo é meu aliado,
sem luta não tem vitória,
desafio o inesperado,
meu caminho será a glória,
Com coragem eu me crio,
e toda a luz se abrirá.
Porta estreita é o desafio,
nada mais me deterá.
Transformando este meu mundo
com fé, sigo a trajetória,
o eco ressoa profundo,
de quem vence e faz história.
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Trova de
LEDA COSTA LIMA
Fortaleza/CE
Se a revolta me alucina
e a solidão me consome,
a saudade sempre assina
seu nome sobre o seu nome!...
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Poema de
LUCIANA SOARES
Rio de Janeiro/RJ
Ciclo das estações
O ritmo do tempo começa a dançar,
No inverno, o frio se faz escutar.
O vento assobia na rua vazia,
E a chuva cai lenta, trazendo calmaria.
O verão surge, com o sol abrasador,
O calor envolve, com força e ardor.
Mas no mar, as ondas trazem temperança,
Entre flores e frutos, a vida avança.
No outono, o vento espalha folhas no chão,
O céu cinza anuncia outra estação.
As flores descansam, os frutos se vão,
E o ritmo da vida encontra renovação.
Na primavera, a esperança floresce,
A natureza em cores renasce e aquece.
O frio e o calor encontram harmonia,
Num ciclo eterno de paz e poesia.
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Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ
Amor - mistério profundo
que não se pode explicar.
Mesmo, assim, pobre do mundo
se ninguém soubesse amar…
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS
A Rua dos Cata-ventos (II)
Dorme, ruazinha... É tudo escuro...
E os meus passos, quem é que pode ouvi-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro,
Com teus lampiões, com teus jardins tranquilos...
Dorme... Não há ladrões, eu te asseguro...
Nem guardas para acaso persegui-los...
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos...
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão...
Dorme, ruazinha... Não há nada...
Só os meus passos... Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração...
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Às vezes, me falta estima,
vendo a multidão que passa...
Muita gente se aproxima,
mas pouca gente se abraça!
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Soneto de
AMADEU RODRIGUES TORRES
Viana do Castelo/Costa Verde/Portugal (1924 – 2012) Braga/Portugal
Proesemar facilidades
Métrica, rima, ritmos, a parafernália
Usual, secular caiu de escantilhão
Nalguns, acaso e sorte tentam ritmação,
Mas os versos protestam como em represália.
Prosa e verso já calçam a mesma sandália
E aplaudem Mallarmé só por embirração
Co´a diferença e leis de discriminação,
Não obstante as lições da Fonte de Castália.
Mas quem quer lição hoje de outrem, afinal,
Se o raso quer assentar praça em general
E o poetrasto bisonho é Camões em Constância?
Fazem-me rir a crítica e a sua bitola:
Muita vez, não se sabe quem lidera a bola,
Se a amizade, a nesciência, a cor, a petulância.
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Trova de
ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA
Mata a revolta em teu peito,
não a deixes florescer:
rio com pedras no leito
não pode alegre correr!...
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Amor
O amor possui incrível intuição,
que lhe permite ver o invisível
e também escutar com perfeição
os sons até de uma maneira incrível!
É que o amor é bem rico em expressão.
Nesse aspecto, aliás, ele é imbatível:
tem ternura que vem do coração
e um respeito mútuo que é infalível.
Quem diz que ama, mas não se decide
a amar de fato e para toda a vida,
mente em querer amar somente um dia...
Pois o amor de verdade é o que reside
no coração em que encontrou guarida,
e sabe que deixá-lo é covardia!
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Poetrix de
LILIAN MAIAL
Rio de Janeiro/RJ
Auto-estima
o desamor não tem desculpa
tempo não é desabono
são folhas secas que enfeitam o outono
(Lembrete: O Poetrix é um terceto que não pode ultrapassar 30 sílabas poéticas, mas não determina normas para a distribuição destas sílabas dentro do poema. O poetrix tem temática livre e pode acontecer no passado, presente ou futuro)
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Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918
Vanitas
Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria,
Trabalha. A alma lhe sai da pena, alucinada,
E enche-lhe, a palpitar, a estrofe iluminada
De gritos de triunfo e gritos de agonia.
Prende a ideia fugaz; doma a rima bravia,
Trabalha... E a obra, por fim, resplandece acabada:
“Mundo, que as minhas mãos arrancaram do nada!
Filha do meu trabalho! ergue-te à luz do dia!
Cheia da minha febre e da minha alma cheia,
Arranquei-te da vida ao ádito profundo,
Arranquei-te do amor à mina ampla e secreta!
Posso agora morrer, porque vives!” E o Poeta
Pensa que vai cair, exausto, ao pé de um mundo,
E cai – vaidade humana! – ao pé de um grão de areia...
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
Eu, na vida, sou barqueiro
dos meus sonhos sem destino:
- sonho bom é o passageiro,
sonho mau é o clandestino.
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Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN
Estrada afora
Ela passou por mim toda de preto,
Pela mão conduzindo uma criança...
E eu cuidei ver ali uma Esperança
E uma saudade em pálido dueto.
Pois, quando a perda de um sagrado afeto
De lastimar esta mulher não cansa,
Numa alegria descuidosa e mansa,
Passa a criança, o beija-flor inquieto.
Também na vida o gozo e a desventura
Caminham sempre unidos, de mãos dadas,
E o berço, às vezes, leva à sepultura...
No coração — um horto de martírios!
Brotam sem fim as ilusões douradas,
Como nas campanhas desabrocham lírios.
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Haicai de
AFRÂNIO PEIXOTO
Lençóis BA, 1876 - Rio de Janeiro RJ, 1947
Comparação
Um aeroplano
Em busca de combustível...
Oh! é um mosquito.
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