Marcadores

Marcadores

Marcadores

Mostrando postagens com marcador Universos Di Versos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Universos Di Versos. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 40 =

 

Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Ao operar seu nariz
perdeu um olho, o Batista.
Vem outro louco e, então, diz
que o pagamento era... a vista!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Manaus/AM

ANIBAL BEÇA
(Anibal Augusto Ferro de Madureira Beça Neto)
(1946 – 2009)

Soneto com Estrambote Enviesado

Alfaiate de mim costuro a roupa
que cabe ao figurino que me coube.

Só meu verso protege essa amargura
desfiada de dia ao sol veloz,
para à noite tecer nova textura,
novelo de silêncio ao rés da voz.

Enxoval construído nessa usura
solitária de andaimes, num retrós
de linha vertical, que se pendura
na pênsil teia atada, fio em foz

desse rio agulha que me costura
ao rendilhado de águas tropicais,
que sabe de saudades no meu cais.

Viageiro de uma sanha que me traz
sempre de volta ao tear do meu destino
na seda depressiva me assassino.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Brasília/DF

BENEDITO PEREIRA DA COSTA

lua
estrelas
mar:
eu
e
você
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Recife/PE

MAJELA COLARES

O soldador de palavras

Fazer poemas é soldar palavras,
fundir o signo – literal sentido -
do verbo frio, transformado em chama,
aceso verso, pensado e medido

sob a moldura da expressão intensa
fingem palavras um som mais fingido
além, no ocaso, da sintaxe extrema,
fuga do verbo não mais definido.

Criado o texto, com ideia e tinta,
forma e figura na linguagem extinta,
quebrando regras de comuns fonemas.

A ideia é fogo. Fogo… o verbo aquece.
A tinta é solda que remenda e tece
versos, metáforas e, por fim, poemas.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada em Petrópolis/RJ, 2003

MOACYR SALLES 
Brasília/DF

Numa aposta de carreira,
usa a mentira os atalhos.
A verdade chega inteira,
chega a mentira aos frangalhos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Maceió/AL

LYGIA MENEZES

Sonho

Ou foi sonho ou foi loucura,
Dizê-lo bem, nem eu sei.
Sei que apenas uma criatura...
Amei.

E foi tão grande e divino
O grande amor que senti...
Que querendo fugir do meu destino
Sofri.

Sonho lindo! Amor risonho!
Onde me levas? Aonde vais?
— Quem me dera que esse sonho
Não se acabasse nunca mais!...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Quadra Popular

Amar e saber amar
são dois pontos delicados:
os que amam, são sem conta:
os que sabem, são contados.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Porto Alegre/RS

IALMAR PIO SCHNEIDER

Da Condição Humana

Jamais eu te direi que estou feliz
e me reservo agora este direito
de sofrer por aquilo que não fiz,
pois este é o meu destino e assim o aceito.

Não quero que me julgues satisfeito
e nem tampouco um mísero infeliz,
o meu caminho embora seja estreito
tem amplitudes que sonhei e quis.

Se desejarmos merecer a vida
profundamente além da concebida
iremos naufragar em dissabores…

Por isso aonde eu for e aonde fores
não é preciso conseguir extremos:
sejamos o que somos e seremos… 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Curitiba/PR

MÁRIO ZAMATARO

Não há lágrima no pranto
“chorado” numa viola,
mas notas de um desencanto
que a lágrima não consola.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Jaú/SP

ANGÉLICA TURINI FERREIRA

Neste labirinto que se chama terra,
que se chama cérebro
que se chama vida,
há estruturas complexas
fragmentos bíblicos
notícias escorrendo…

Pés sangrando.

Dragões alados
alfaias
palavras que se perdem
eis o resultado da meditação!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Triverso de de Santos/SP

MAHELEN MADUREIRA 

Manhã de sol –
Na praia os caminhantes
Também as libélulas.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Sextilha de Curitiba/PR

VANDA FAGUNDES QUEIROZ

Não revelo meu segredo,
se temo ventos ao léu…
Relâmpago é luz que acende;
se um trovão faz escarcéu,
eu penso: é festa de arromba
dos anjinhos, lá no céu!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Corumbá/MT

RUBENS DE CASTRO

Você já foi escolhida
para ser, em meu caminho...
na Santa Ceia da Vida,
meu Céu... meu Pão... e meu Vinho!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE: 
O beco é tão estreitinho, 
lá onde mora o Janjão, 
que da janela o vizinho 
cumprimenta dando a mão!
Jorge Murad 
Rio de Janeiro/GB, 1910 – 1998

GLOSA: 
O beco é tão estreitinho, 
que Janjão, sempre, ao cruzar, 
de manhã, com seu vizinho, 
tem que nele se esfregar! 

Tem um beco tão estreito 
lá onde mora o Janjão, 
que ninguém passa direito 
sem levar um esfregão! 

Janjão curte estar sozinho, 
mas o beco é tão estreito 
que da janela o vizinho 
vê tudo. Quem vai dar jeito? 

Pense num beco estreitinho, 
este, onde mora o Janjão; 
que, ao sair, o seu vizinho 
cumprimenta dando a mão!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Juiz de Fora/MG

CECY BARBOSA CAMPOS

Nuvens
passantes
escondem
estrelas:
tímidas
top-models
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Bandeirantes/PR

LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI

Ao Poeta

Imprime a tua lavra no papel,
teu sentimento expõe, sem medo, ali;
junta ao mover das cores, com cinzel,
a agilidade dada ao colibri!

Desliza os versos, sem pensar, ao léu,
revela tudo o que se esconde em ti,
pois tu consegues ir do inferno ao céu,
falar de amor com calma ou frenesi!

Depressa, enxuga as lágrimas do pranto,
põe na poesia o mais doce acalanto,
no sonho, o reflorir da primavera!…

Com teu cantar, que fica, além da vida,
podes curar, do amor, muita ferida,
com teu ressoar de vozes da quimera!…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de Bauru/SP

EULINDA BARRETO

Passaste por minha vida
e eu escrevi nossa história…
na página envelhecida
eu te prendi… na memória!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Sonetilho de de Mogi-Guaçu/SP

OLIVALDO JÚNIOR

Num quartinho, sem ninguém…

Num quartinho, sem ninguém,
dorme o moço de Pasárgada,
sonha um homem que não tem
mais ninguém na madrugada.

Num quartinho, sem ninguém,
pousa o pássaro em jornada,
com jornais que não se leem
nestas margens da pousada.

Não tem sono, mas viola,
nota a nota, um violão,
com mil coisas na cachola...

Cão sem dono, pede esmola,
porta a porta, com seu cão
e, sozinho, os seus amola.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Triverso de Curitiba/PR

ROSALVA FREITAS BRÜSCH

Vento de inverno
Folheou o meu livro
E não leu nada.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Setilha sobre o Mar, de Ipu/CE

GONÇALO FERREIRA DA SILVA
.
Quando vejo o mar viajo
No doce rumorejar
A saudade evanescente
Como ao ouvido ditar:
Poeta a sua saudade
Recorda a necessidade
De novo retorno ao mar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova do Rio de Janeiro/RJ

ADELMAR TAVARES
(Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti)
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

O perfume do teu lenço
trago comigo na mão.
Mas o cheiro da tua alma,
dentro do meu coração.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Acróstico de Belo Horizonte/MG

SÍLVIA MOTTA
(Sílvia de Lourdes Araujo Motta)

Coração de Férias
(Acróstico da desilusão Nº 5087)

Coração está quase a parar...
O ritmo sem motivação fez
Requerimento de férias
Amorosas e, sem ilusão
Cessou até de sonhar...
Agora, está vazio de emoção!
O tempo não quer parar!
 
Deixei o relógio cair ao chão
nem assim ele quebrou...
 
Felicidade não há na solidão!
É triste chorar sozinho no canto...
Recordando de tanta decepção!
Inaceitável ausência de carinho!
As férias estão em meu peito,
Sinto-me desfalecer deste jeito!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poetrix de Campo Grande/MS

ÉVANES PACHE

sobre a mesa
velas acesas
emprestam luz à sobremesa.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Sorocaba/SP

DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Soneto à Trova

Atrai-me um bom poema modernista,
embora eu mais o sinta como prosa;
por mais encanto nele, à minha vista,
é como se faltasse aroma à rosa.

Poesia clássica... há quem lhe resista,
dizendo que é cerceada e artificiosa.
Não é verdade; o poeta nasce artista,
brunir seu verso é lide venturosa.

Por isso à trova eu mais me delicío;
a rima, o metro, o ritmo, o desafio
de dizer tudo em quadra pequenina...

Para cumprir tão exigente prova
e compor essa joia que é uma trova,
certamente nos guia... mão divina.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Nas costas, leva a criança
seus livros numa sacola;
nos olhos, leva a esperança
como colega de escola!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Cruz Alta/RS

JUÇARA VALVERDE
(Juçara Regina Viégas Valverde)

Noite

Na penumbra da noite,
desfio lembranças.
Escondidos sonhos afloram,
Despertam-me,
insone percebo a amplidão.

O cheiro da noite que a brisa trás
suavemente embala a vida.
Acalento recordações,
fantasias deliram
no passar das horas.

Surge a manhã.
Anunciado, vem o sol,
afaga as montanhas,
acaricia o mar
e me desperta.

Sigo dia adentro
entre bruma e sol,
fantasmas em despedida.
E a cada novo momento,
dispo-me
e livre
vou desfrutar o dia.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Vereda da Poesia = 39 =


Trova Humorística de São Gonçalo/RJ

GILVAN CARNEIRO DA SILVA

O truque falha...vermelho,
o mágico diz que o enguiço
é culpa do seu coelho
que ainda é novo no serviço...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto do Rio de Janeiro/RJ

ADELMAR TAVARES
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

Covardia

Se ela bater de novo à minha porta,
arrependida, para o meu amor,
hei de dizer-lhe tudo quanto corta
minha alma, como um gládio vingador!...

O que vier desse gesto, pouco importa!
Não se fez cega e surda à minha Dor?!
Pois bem, nem mesmo se hoje a visse morta,
dar-lhe-ia a reverência de uma flor...

Mas, ai! batem de leve na janela.
Entram na sala... Sua voz... É tarde
para fugir de vê-la! Enfrento-a... É ela!

Hesito... Tremo... E sôfrego... aturdido,
caio nos braços seus como um covarde,
e me ponho a chorar como um perdido! 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia de Vitória/ES

MATUSALÉM DIAS DE MOURA

minha
alma
chora
um
sonho
morto
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto do Rio de Janeiro

ATHOS FERNANDES
Itaperuna/RJ, 1920 – 1979, Bom Jesus do Itabapoana/RJ

Pedintes

O pobre pede o pão. O nobre pede o trono.
O santo pede o altar, o crente pede a missa,
e quem das leis sociais sofre amargo abandono
ergue as mãos para o Céu, pedindo por justiça.

Quem ama pede amor. O insone pede o sono.
O mártir pede a cruz, e pede, o herói, a liça.
Pede o inverno o verão. A primavera o outono,
e o sábio pede a luz da verdade castiça!

Quem luta pede a paz. O enfermo pede a cura.
O verme pede a terra e a águia pede a altura
e quem sofre a opressão pede a mão que o redima.

E o Poeta, também, seguindo a mesma norma,
é um mendigo a pedir a pureza da Forma,
a beleza da Ideia e a riqueza da Rima!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada em Ribeirão Preto/SP, 1998

DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Meus pobres sonhos, tão fracos,
a vida em escombro os fez,
mas, teimosa, eu junto os cacos…
e eis-me a sonhar outra vez! 
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Divinópolis/MG

ADÉLIA PRADO
(Adélia Luzia Prado Freitas)

Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Quadra Popular

Meu benzinho não é este,
nem aquele que lá vem.
Meu benzinho está de branco,
não mistura com ninguém.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Portugal

FLORBELA ESPANCA
(Florbela de Alma da Conceição Espanca) 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Se Tu Viesses Ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca, 
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo 
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Belém/PA

ANTONIO JURACI SIQUEIRA

Vão-se as agruras da lida
e tudo tem mais valia
sempre que a vida é envolvida
nos braços da poesia!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Petrópolis/RJ

CARMEN FELICETTI

Acalanto do mar

Linda rede azul e verde
Azul e verde é o mar
Uma ponta em Cabo Frio
A outra, onde estará?
A sua franja branquinha
De renda do Ceará
Vai se arrastando na areia
Num doce pra lá pra cá.
O vento a embala fraco
O vento a embala forte
Depende se vem do sul
Depende se vem do norte.
O pescador no seu ventre
Todo dia arrisca a sorte
A sua trama é tecida
Com fios de vida e morte.
Á noite a voz da sereia
O marinheiro convida
Para dormir e sonhar,
Deitar no fundo da rede
E enroscar o seu corpo
No corpo de Iemanjá.
E vai e ondula e oscila
E vem balança e tonteia
E sua renda branquinha
Risca um bordado na areia.
Linda rede azul e verde
Azul e verde é o mar
Uma ponta em Cabo Frio
A outra, onde estará?
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Haicai de Goiânia/GO

RENEU DO AMARAL BERNI

Borboleta

No varal do pátio,
Sobre a saia de florzinhas,
Uma borboleta.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Sextilha de Limoeiro do Norte/RN

ANTONIO NUNES DE FRANÇA

Em Limoeiro do Norte,
a tarde mudou de clima;
assim houve duas chuvas:
uma d’água, outra de rima;
uma de cima pra baixo,
outra de baixo pra cima.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Chegou a sogra, querida,
e a desgraça aconteceu:
veio o cão... Com a mordida,
deu a raiva... e o cão morreu!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Glosa do Rio Grande do Sul

GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Lareira saudade...

MOTE:
Fiz da saudade que aquece
a solidão dos meus dias,
a mensagem que enternece
minhas horas tão vazias.
Carolina Ramos
Santos/SP

GLOSA:
Fiz da saudade que aquece,
minha doce companheira,
peço, fique, quase em prece,
comigo, na noite inteira!

Eu preciso amenizar
a solidão dos meus dias,
minhas noites, a chorar,
são tristes, sem alegrias.

Quando o meu tempo anoitece
lanço em ecos pelo mundo
a mensagem que enternece
desse meu sofrer profundo!

Saudade, lareira ardente,
vem, aquece as horas frias,
enche de amor, ternamente,
minhas noites tão vazias.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

MESSODY RAMIRO BENOLIEL

chuvas
gostosas
lembranças
tuas
minhas
nossas
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto de Euclides da Cunha/BA

INÁCIO DANTAS

Soneto aos poetas

Todo poeta canta para si
a paz e o amor que deseja para o mundo!

Canta, entra no mundo da magia,
põe o tom da paixão n´alma inquieta
move do céu os trovões da alegria
diz o amor com lábios de profeta.

Ergue o teu pensar em linha reta
canta o que tem da vida mais valia,
se alguém não se lembrar do poeta
talvez ainda se lembre da poesia.

Fugir do amor quem o faz se ilude,
revela uma poesia feita a esmo
quem ama e se fecha em si mesmo.

O amor é poesia na sua plenitude!
– Poeta, dessa madeira que tu lavras
constrói o teu castelo de palavras!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Premiada de São Paulo/SP

ROBERTO TCHEPELENTYKY

O destino escreve a escolha
do amor de nós dois assim:
Páginas da mesma folha…
Tu… de costas para mim!…
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema de Portugal

AL BERTO
(Alberto Raposo Pidwell Tavares)
Coimbra, 1948 – 1997, Lisboa

Acordar tarde 

tocas as flores murchas que alguém te ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte

procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer

irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de pedra tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Triverso de Curitiba/PR

ALICE RUIZ

Tempo

Voltando com amigos 
o mesmo caminho 
é mais curto.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Spina de Campo Mourão/PR

JOSÉ FELDMAN

REPOUSO DA GUERREIRA

Repousa a gatinha
envolta na aura
de pura serenidade.

Em seu semblante, a sensação
de satisfação de outro dia
de lutas contra a adversidade.
Dorme o sono da guerreira,
baú de sonhos da divindade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Na vida, são tantos "ismos",
no entanto, o que é mais feroz,
é aquele que abre os abismos
do abismo que há entre nós!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Acróstico de Contenda/PR

HILDEMAR CARDOSO MOREIRA

Antônio Eugênio 
(Acróstico ao graduando Antônio Eugênio Pavloski)

A escalada do progresso é sempre dura,
Não progride nesta vida quem não luta
Todos têm necessidade da cultura:
O saber, valor garante na labuta.
Não é apenas o diploma conquistado,
Isso que consegue o jovem estudante,
O mais importante, é sim, o aprendizado,

E aprender e saber nunca é bastante.
Um degrau tu venceu galhardamente,
Ganhaste uma batalha heroicamente,
E muitas vencerás nos dias teus.
Não descure porém o analfabeto,
Irmane-se ao inculto, dê-lhe afeto:
O amor é a nave que nos leva a Deus.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poetrix de São Paulo/SP

BETO QUELHAS

águas do rio

passam com rapidez
como o amor que partiu
e a dor que se fez
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Soneto do Paraná

EMILIANO PERNETA 
(Emiliano David Perneta)
Pinhais/PR, 1866 — 1921, Curitiba/PR

Ao cair da tarde

Agora nada mais. Tudo silêncio. Tudo,
Esses claros jardins com flores de giesta,
Esse parque real, esse palácio em festa,
Dormindo à sombra de um silêncio surdo e mudo...

Nem rosas, nem luar, nem damas... Não me iludo,
A mocidade aí vem, que ruge e que protesta,
Invasora brutal. E a nós que mais nos resta,
Senão ceder-lhe a espada e o manto de veludo?

Sim, que nos resta mais? Já não fulge e não arde
O sol! E no coril negro deste abandono,
Eu sinto o coração tremer como um covarde!

Para que mais viver, folhas tristes do outono?
Cerra-me os olhos, pois, Senhor. É muito tarde.
São horas de dormir o derradeiro sono.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Na minha idade avançada,
ser sensato é insensatez...
– Agora ou é tudo ou nada:
sou feliz ou perco a vez!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Poema do Rio de Janeiro/RJ

LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)

Tempo de olhar o tempo

Um olho no relógio, outro na vida;
O tempo não convida, ele intima;
Quem não sabe lutar, foge da esgrima;
Quem bate no destino, ele revida.

Embora a tristeza nos oprima,
Quem não conhece a dor, sente a ferida
Na víscera da dor mais dolorida…
O amor é uma dor que não vitima.

Deus nunca olha o homem lá de cima,
Ele aproxima o ser do Criador;
E quando ele se vê no seu senhor, 
Entrega-lhe essa dor que o subestima. 

O amor é uma sublime obra-prima
Que prima pela criatividade;
Ele se move acima da maldade,
Por mais que alguma mágoa o deprima.

Ninguém consegue ver olhando a esmo,
E quando  o nosso olhar nos desanima,
Fazemos nosso amor ter como rima
A dor que o desamor faz de si mesmo.

Um olho no relógio… e na manhã;
Poetas têm a solidão por prima
Mas é na solidão que os anima
Que a emoção se torna… sua irmã.

(Primeiro Lugar no Concurso Literário da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil 2013)