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domingo, 14 de setembro de 2025

José Feldman (Reescrevendo o Mundo: Vozes Femininas e a Construção de Novas Narrativas) – Introdução


Prefácio
por Cailin Dragomir (Timisoara/Romênia, 1949)

A literatura tem sido, ao longo dos séculos, um espelho da sociedade, refletindo suas nuances, tensões e transformações. No entanto, por muito tempo, as vozes femininas foram silenciadas ou relegadas a papéis secundários. "Reescrevendo o Mundo: Vozes Femininas e a Construção de Novas Narrativas" propõe uma jornada pelas páginas da literatura, explorando como as mulheres têm desafiado e reconfigurado narrativas, trazendo à tona suas experiências, lutas e conquistas.

Desde os primórdios da literatura, figuras como Christine de Pizan, no século XIV, já se destacavam ao questionar o lugar da mulher na sociedade e na escrita. Sua obra "A Cidade das Damas" não apenas defendeu a capacidade intelectual das mulheres, mas também lançou as bases para um movimento que reverberaria por séculos. Avançando no tempo, o século XIX trouxe autoras como Jane Austen e Emily Brontë, que exploraram a condição feminina com uma profundidade que ainda ressoa hoje. Elas desafiaram as normas sociais, utilizando a ficção como uma ferramenta de crítica e empoderamento.

O século XX foi marcado por uma explosão de vozes femininas que, através de suas histórias, começaram a desconstruir o patriarcado e a reivindicar espaço no cânone literário. Autoras como Virginia Woolf e Simone de Beauvoir não apenas escreveram sobre a experiência feminina, mas também questionaram as estruturas que limitavam essa experiência. Woolf, em "Um Teto Todo Seu", argumentou sobre a necessidade de espaço e liberdade para que as mulheres escrevessem, enquanto Beauvoir, em "O Segundo Sexo", desafiou as normas que definem o que significa ser mulher.

Hoje, vivemos um momento em que a escrita feminina se tornou uma força poderosa e transformadora. Autoras contemporâneas como Chimamanda Ngozi Adichie, Elena Ferrante e Margaret Atwood não apenas expandem as narrativas femininas, mas também abordam questões de identidade, raça, classe e sexualidade, revelando a complexidade das experiências femininas. Elas estão reescrevendo o mundo, criando novas narrativas que refletem a diversidade e a riqueza da vida das mulheres.

Este livro é uma celebração dessa evolução. Cada capítulo explorará não apenas a obra de escritoras icônicas, mas também as vozes emergentes que estão redefinindo a literatura. Discutiremos como essas narrativas não apenas empoderam as mulheres, mas também provocam mudanças sociais, oferecendo novas perspectivas sobre o que significa ser mulher em um mundo em constante transformação.

Ao longo das páginas que se seguem, convidamos você a refletir sobre a importância da escrita feminina como um ato de resistência e criação. As histórias contadas por mulheres são essenciais para a construção de uma nova visão de mundo, uma onde suas vozes não apenas são ouvidas, mas celebradas. Juntas, essas narrativas formam um mosaico poderoso que nos permite imaginar e construir um futuro mais inclusivo e igualitário.

Em seu conteúdo, as escritoras não são apenas personagens em suas próprias histórias; elas são arquitetas de novas realidades, reescrevendo o mundo à sua maneira. Que suas palavras inspirem, provoquem e, acima de tudo, empoderem.


1. INTRODUÇÃO

A escrita feminina desempenha um papel crucial na desconstrução social, atuando como uma força transformadora em várias dimensões:

1.1. Visibilidade e Representação
A escrita feminina traz à tona histórias e experiências que, muitas vezes, foram marginalizadas ou ignoradas. Ao dar voz a mulheres de diferentes origens, etnias e classes sociais, a literatura feminina desafia a narrativa hegemônica e busca uma representação mais justa e diversificada da sociedade. Essa visibilidade é fundamental para que as experiências femininas sejam reconhecidas e validadas.

1.2. Desafio às Normas de Gênero
Autoras como Virginia Woolf e Simone de Beauvoir questionaram normas de gênero e papéis tradicionais atribuídos às mulheres. Suas obras não só expuseram a opressão que as mulheres enfrentavam, mas também propuseram novas formas de pensar sobre identidade e feminilidade. Essa desconstrução ajuda a criar um espaço onde as mulheres podem se libertar das expectativas sociais restritivas.

1.3. Crítica Social
A literatura feminina frequentemente serve como uma ferramenta de crítica social. Autoras como Chimamanda Ngozi Adichie e Angela Davis abordam temas como racismo, sexismo e desigualdade econômica, desafiando as estruturas de poder estabelecidas. Ao expor injustiças sociais, a escrita feminina estimula a reflexão e o debate sobre questões fundamentais da sociedade.

1.4. Empoderamento e Autonomia
A escrita é um meio de empoderamento. Ao escrever, as mulheres não apenas reivindicam seu espaço, mas também afirmam sua autonomia. Através da literatura, elas podem explorar suas próprias histórias, desejos e lutas, ajudando a construir uma identidade mais forte e autêntica. Esse empoderamento é vital para a construção de uma sociedade mais igualitária.

1.5. Solidariedade e Comunidade
A escrita feminina também promove a solidariedade entre mulheres. Autoras frequentemente compartilham experiências comuns, criando um senso de comunidade e apoio. Essa conexão ajuda a fortalecer movimentos sociais e a lutar por mudanças coletivas, mostrando que a luta pela igualdade é um esforço compartilhado.

1.6. Reimaginando o Futuro
As narrativas femininas não se limitam a descrever o presente ou o passado; elas também imaginam futuros alternativos. Autoras de ficção especulativa, como Margaret Atwood, exploram cenários que questionam as normas sociais e políticas, oferecendo visões de um mundo mais justo. Essas histórias inspiram a reflexão sobre o que é possível e encorajam a ação em direção a mudanças sociais.

1.7. Educação e Conscientização
A literatura feminina é uma ferramenta poderosa para a educação. Ao abordar questões como violência de gênero, sexualidade e direitos humanos, as obras escritas por mulheres ajudam a conscientizar leitores sobre problemas sociais. Essa conscientização é o primeiro passo para a mudança, pois promove o entendimento e a empatia.


A importância da escrita feminina na desconstrução social reside em sua capacidade de desafiar normas, promover a diversidade e fomentar a transformação. Ao dar voz às experiências das mulheres, a literatura não apenas enriquece o panorama cultural, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais equitativa e inclusiva. Através da escrita, as mulheres continuam a moldar narrativas que ressoam profundamente, provocando reflexão e ação em prol de um futuro melhor.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas de São Paulo. Devido à situação financeira insuficiente não concluiu a Faculdade de Psicologia, na FMU, contudo se fez e ainda se faz presente em mais de 200 cursos presenciais e online no Brasil e no exterior (Estados Unidos, México, Escócia e Japão), sendo em sua maioria de arqueologia, astronomia e literatura. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, onde nasceu, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, em Ubiratã/PR, em Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Confraria Brasileira de Letras, Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil/Suiça, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em crônicas, contos, poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); “Canteiro de trovas”; “Pérgola de textos” (crônicas e contos), “Caleidoscópio da Vida” (textos sobre trovas) e “Asas da poesia”.

Fontes:
José Feldman. Reescrevendo o Mundo: Vozes Femininas e a Construção de Novas Narrativas. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

sábado, 13 de setembro de 2025

O Romance Policial no Brasil

HISTÓRICO

O romance policial no Brasil tem uma trajetória rica e diversificada, refletindo as transformações sociais, culturais e políticas do país. 

Surge no século XIX, fortemente influenciado pela literatura europeia, especialmente os clássicos de Edgar Allan Poe e Arthur Conan Doyle. Embora as bases do gênero já estivessem se formando, o primeiro romance policial brasileiro amplamente reconhecido é "O Mistério do Crime de São Paulo" (1887) de Joaquim de Almeida e Silva. No entanto, muitos estudiosos citam o impacto das obras de Machado de Assis, que, embora não sejam romances policiais no sentido estrito, exploram temas de mistério e crime em obras como "Memórias Póstumas de Brás Cubas".

O gênero começa a ganhar forma e popularidade nas primeiras décadas do século XX. Autores como Mário de Andrade e, posteriormente, Agatha Christie começam a influenciar a escrita de romances policiais. Em 1924, publica-se "O Caso Morel" do escritor argentino Adolfo Bioy Casares, que combina elementos de ficção científica e mistério, mostrando a versatilidade do gênero.

Na década de 1940, vários autores começam a se destacar no Brasil. Um dos pioneiros é Rubem Fonseca, que traz uma abordagem urbana e contemporânea ao gênero, refletindo a violência e a complexidade social do Brasil. Seus contos e romances, como "Feliz Ano Novo", são marcos dessa nova fase do romance policial.

Durante as décadas de 1970 e 1980, o romance policial brasileiro começa a ter uma voz mais forte e crítica. O crime e a corrupção se tornam temas recorrentes, refletindo a realidade política do período da ditadura militar. Autores como João Gilberto Noll e os influenciados pela Escola de Escritores de São Paulo incorporam elementos do gênero noir, apresentando personagens complexos e tramas sombrias. 

Neste período, as publicações começaram a se diversificar, e surgiram editoras dedicadas ao gênero, que possibilitaram a publicação de novas vozes e narrativas.

Nos anos 1990 e 2000, o gênero passa a conquistar um público cada vez maior. Autores como Luiz Ruffato, com "Estação das Chuvas", e os romances de policial de contador de histórias como a série "O Sétimo" de Lúcia Hiratsuka, vão ganhando espaço nas prateleiras.

O best-seller "O Silêncio dos Inocentes", que foi adaptado para o cinema e se tornou fenômeno mundial, também influenciou o mercado brasileiro, fazendo com que mais autores tentassem explorar essa narrativa cheia de suspense e reviravoltas.

Na contemporaneidade, o gênero policial brasileiro é extremamente prolífico e diverso. Autores como Patrícia Melo, com suas tramas policiais que exploram a marginalidade da sociedade, e Raphael Montes, que traz uma abordagem mais psicológica e perturbadora, têm atraído a atenção tanto de críticos quanto de leitores.

Além disso, a literatura policial brasileira começa a se expandir para outras mídias, como séries de televisão e filmes, aumentando sua visibilidade e popularidade.

Em suma, o romance policial no Brasil evoluiu de influências estrangeiras para uma identidade própria, refletindo as complexidades da sociedade brasileira. Através de suas histórias, os autores abordam questões sociais, dilemas morais e as nuances do comportamento humano, consolidando o gênero como uma das expressões literárias mais vibrantes do país.

ELEMENTOS DO ROMANCE POLICIAL

O romance policial é um gênero literário caracterizado por uma série de elementos que, quando combinados, criam tramas intrigantes e envolventes. Abaixo estão os principais elementos que compõem um romance policial:

1. Crime

O crime é o núcleo central da narrativa policial. Geralmente, envolve um ato ilícito, como um assassinato, um roubo ou um sequestro. O crime serve como ponto de partida para a investigação, e o autor deve apresentar os detalhes de como e por que o crime ocorreu.

2. Detetive ou Investigador

O protagonista muitas vezes é um detetive, seja profissional (como um policial, investigador particular) ou amador. Esse personagem é encarregado de resolver o crime e geralmente possui habilidades de percepção e raciocínio lógico aprimoradas. O detetive é fundamental para a condução da história, guiando o leitor através da investigação.

3. Suspeitos

Os romances policiais tipicamente apresentam uma lista de suspeitos - indivíduos que podem ter motivos e oportunidades para cometer o crime. Cada suspeito traz suas próprias características, motivos e segredos, que o detetive (e o leitor) deve desvendar ao longo da narrativa.

4. Pistas e Indícios

As pistas são os elementos que podem levar à solução do crime. Elas podem ser físicas (como objetos deixados na cena do crime), testemunhos ou comportamentos suspeitos. O autor deve distribuir as pistas de maneira estratégica, permitindo que o leitor também tente solucionar o mistério ao lado do detetive.

5. Investigação

A investigação é o processo pelo qual o detetive coleta informações, interroga suspeitos e analisa evidências. Esse elemento é central ao enredo e envolve muitas reviravoltas e revelações. O desenvolvimento da investigação deve ser claro e intrigante, conduzindo o leitor através de uma série de descobertas e deduções.

6. Revelação ou Clímax

Ao longo do romance, as tensões aumentam em direção a um clímax, onde o detetive apresenta suas descobertas. Essa revelação crucial geralmente oferece a solução do crime e pode incluir uma reviravolta surpreendente que desafia as expectativas do leitor.

7. Motivo e Contexto

O motivo é a razão pela qual o crime foi cometido. Pode envolver questões como vingança, ganância ou ciúme. O contexto social, cultural e psicológico também desempenha um papel importante, proporcionando profundidade à história e explicando por que os personagens agem da maneira que fazem.

8. Ambiente

O ambiente onde a história se desenrola pode influenciar a trama e os personagens. Pode ser uma cidade grande, uma área rural, ou um espaço fechado, como uma casa ou barco. O cenário pode ser utilizado para criar uma atmosfera de mistério e suspense.

9. Narrador

O ponto de vista do narrador é crucial na narrativa policial. Pode ser em primeira pessoa, do ponto de vista do detetive ou de um personagem interessado, ou em terceira pessoa, oferecendo uma visão mais ampla sobre a trama. A escolha do narrador pode impactar a carga emocional e as revelações da história.

10. Finalização

O desfecho do romance policial geralmente resolve as questões levantadas ao longo da narrativa. Uma conclusão satisfatória revela a verdade sobre o crime e fornece um encerramento para a história dos personagens, embora algumas obras possam deixar espaço para interpretações ou reflexões mais profundas.

Considerações finais

Esses elementos trabalham em conjunto para criar uma narrativa envolvente, que mantém os leitores intrigados e ansiosos para descobrir a resolução do mistério. O sucesso de um romance policial muitas vezes depende não apenas de um enredo bem construído, mas também da habilidade do autor em manipular os elementos mencionados para surpreender e prender a atenção do leitor.

Bibliografia:
– Abreu, Augusto de. “O Romance Policial Brasileiro: Uma Análise de sua Evolução”. *Revista Brasileira de Literatura Comparada, n° 12, 2010.
– Bakewell, Joan. Edgar Allan Poe: A Biografia. Editora Rocco, 2006 (sobre a influência de Poe no gênero).
– Eagleton, Terry. A História da Literatura. Editora Oxford, 2013. 
– Pereira, Roberta. “Outras Vozes no Crime: A Literatura Policial Contemporânea no Brasil”. Cadernos de Literatura Comparada, v. 4, p. 112-127, 2014.
– Rowland, Barbara. The Detective's Companion: A Guide to the Mystery Genre. Blackstone Publishing, 2003.
– Wagner, Luiz Rufatto. O Libre.to: Ensaios sobre a Literatura Policial. Editora Saã Paulina, 2016.

Fontes:
José Feldman. Literatura tintim por tintim. Floresta/PR. Bibl. Voo da Gralha Azul. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

José Feldman (O Mistério da Floresta Encantada)

Era uma vez, em uma pequena aldeia cercada por uma densa floresta, uma mulher carinhosa chamada Dona Benta, conhecida por suas delícias culinárias e por cuidar de todos na comunidade. Ela também tinha um profundo amor pela natureza. 

Todos os dias, Dona Benta caminhava pela floresta, admirando as árvores majestosas e os pássaros que cantavam alegremente.

Um dia, enquanto colhia ervas para fazer um chá, ela percebeu que algo estava errado. As árvores estavam murmurando, e o vento parecia sussurrar um aviso. Intrigada, ela decidiu investigar. Com seu cesto cheio de ervas, seguiu o som até uma clareira iluminada pelo sol.

Lá, encontrou Saci, o menino travesso de uma perna só, que estava fazendo travessuras com algumas folhas secas. Ele estava tão concentrado em suas brincadeiras que não percebeu a chegada de Dona Benta.

— Saci! — chamou ela. — O que você está fazendo aqui?

— Ah, Dona Benta! — respondeu ele, dando uma pirueta. — Estou tentando fazer uma poção mágica para fazer as folhas dançarem! Mas parece que as árvores estão tristes. Você percebeu?

Dona Benta assentiu, preocupada.

— Sim, Saci. Algo está acontecendo com a floresta. Precisamos descobrir o que é.

Nesse instante, um ruído ecoou entre as árvores, e o Curupira, guardião da floresta, apareceu, seus cabelos flamejantes brilhando sob os raios de sol. Ele tinha uma expressão séria.

— Olá, Dona Benta, Saci. A floresta está em perigo! Os homens estão cortando árvores sem parar, e os animais estão fugindo. Se não fizermos algo, perderemos este lugar encantado.

Dona Benta, com seu coração bondoso, decidiu que não poderia ficar parada. Juntos, eles formaram um plano. Saci usaria suas travessuras para distrair os homens que estavam desmatando, enquanto Dona Benta e Curupira procurariam uma solução mais permanente.

Na manhã seguinte, o Curupira criava ilusões, fazendo com que os madeireiros se perdessem entre as árvores. Quando eles tentavam seguir um caminho, mudava a direção das trilhas, levando-os a lugares inesperados. Ele usava o vento para sussurrar avisos às árvores e aos animais, alertando-os sobre a presença dos madeireiros. Isso ajudava os animais a se afastarem e evitarem perigos.

O Saci era conhecido por sua habilidade de fazer objetos desaparecerem. Ele escondia ferramentas e equipamentos dos madeireiros, fazendo com que eles não conseguissem trabalhar. Emitia risadas altas e sons estranhos que assustavam os trabalhadores, fazendo com que eles se sentissem inseguros.

Enquanto isso, Dona Benta preparou uma deliciosa refeição com ingredientes da floresta. Ela sabia que a comida poderia unir as pessoas.

Convidou os aldeões para um grande banquete em sua casa, onde serviu pratos feitos com os frutos e ervas da floresta. Durante a refeição, começou a falar sobre a importância de preservar a natureza, mostrando como a floresta era essencial para a vida de todos.

— Se continuarmos a desmatar, — disse Dona Benta, — não teremos mais água limpa, ar puro e alimentos frescos. Precisamos cuidar do que temos!

Os aldeões, tocados pela sabedoria de Dona Benta, começaram a entender a gravidade da situação. Eles decidiram se unir e proteger a floresta. 

No dia seguinte, armados com ferramentas e determinação, foram até a clareira onde os homens cortavam as árvores.

Com a ajuda de Saci, que continuava a confundir os madeireiros, e do Curupira, que se manifestava como eco e vento, os aldeões conseguiram impedir o desmatamento. Juntos, formaram um círculo em volta das árvores que ainda estavam de pé, cantando e dançando em celebração à vida.

Os madeireiros, confusos e assustados, foram embora, e a floresta voltou a respirar aliviada. 

Com o tempo, os aldeões aprenderam a viver em harmonia com a natureza. Plantaram novas árvores e criaram um jardim comunitário, onde todos podiam colher as bênçãos da floresta sem destruí-la.

E assim, com a ajuda de Dona Benta, do travesso Saci e do protetor Curupira, a floresta encantada prosperou, e os habitantes da aldeia aprenderam a respeitar e preservar a beleza natural ao seu redor. A amizade entre eles e a natureza se fortaleceu, e a floresta nunca mais esteve em perigo.

E sempre que alguém caminhava pela floresta, o riso de Saci, as chamas do cabelo do Curupira brilhantes, lembrava que a verdadeira magia estava na preservação e no cuidado com o mundo ao nosso redor.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas de São Paulo. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, em Ubiratã/PR, em Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Confraria Brasileira de Letras, Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil/Suiça, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias, trovas, crônicas e contos no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); “Canteiro de trovas”; “Pérgola de textos” (crônicas e contos), “Caleidoscópio da Vida” (textos sobre trovas) e “Asas da poesia”.

Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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domingo, 7 de setembro de 2025

José Feldman (A Porta fujona)

Era uma manhã ensolarada em um bairro tranquilo, onde a rotina dos moradores seguia em um compasso sereno. No entanto, na entrada de uma casa localizada em uma ladeira, um grupo de homens estava prestes a transformar essa tranquilidade em um espetáculo cômico. Eles eram os instaladores da nova porta de correr, e a expectativa era alta — uma porta de correr sempre traz um toque de modernidade!

Com a fita métrica em mãos e a serra elétrica zumbindo, os homens estavam concentrados na tarefa. Entre eles estava o chefe, um tipo bem-humorado chamado João, que sempre fazia piadas para aliviar a tensão. “Se essa porta fosse mais rápida, eu a contrataria para correr na maratona!” disse ele, rindo.

Após algumas tentativas e erros, a porta estava finalmente instalada, mas os homens, em um momento de distração e descoordenação, esqueceram de fixá-la corretamente. E, como se a própria porta tivesse vida, ela decidiu que era hora de uma aventura.

De repente, a porta escapuliu de suas garras e, com um estrondo, começou a deslizar ladeira abaixo. 

“Ei! Volta aqui!” gritou Carlos, o ajudante mais jovem, enquanto seus colegas se entreolhavam em estado de choque. 

A porta, agora em plena fuga, derrubou uma lata de lixo, espalhando garrafas e restos de comida por toda a calçada.

As pessoas que passavam, inicialmente perplexas, começaram a reagir. Uns corriam para se afastar da porta descontrolada, enquanto outros paravam para rir da cena inusitada. Uma senhora, com um gato no colo, soltou uma gargalhada tão alta que fez o animal pular e sair correndo.

Carlos e seus colegas, em uma corrida frenética, tentavam alcançar a porta. 

“Parece que a porta tem mais energia que a gente!” gritou Pedro, um dos instaladores que já estava sem fôlego. 

A porta continuava sua corrida, desgovernada, e a cada metro que descia, deixava um rastro de destruição. Bicicletas foram derrubadas, e um ciclista que vinha descendo a ladeira teve que se desviar, quase caindo ao chão.

“Isso é um verdadeiro filme de ação!” exclamou um morador que assistia a tudo de sua varanda, enquanto outros começavam a filmar a cena com seus celulares.

Em meio à confusão, um dos homens, o robusto Roberto, decidiu que seria o herói do dia. Ele viu a porta se aproximando e, em um impulso, lançou-se na direção dela como um jogador de futebol, tentando agarrá-la. Mas a porta, indiferente aos seus esforços heroicos, continuou deslizando. Roberto ficou agarrado na borda, sendo arrastado ladeira abaixo como um brinquedo de criança.

“Me solta! Me solta!” ele gritava, enquanto a porta ignorava seu apelo, correndo mais rápido do que ele. O grupo de instaladores, agora em uma verdadeira missão de resgate, corria atrás deles, com gritos de desespero.

Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, a porta encontrou um obstáculo: uma árvore robusta. Com um baque surdo, ela colidiu contra o tronco e parou abruptamente. Roberto, aliviado, se desvencilhou da porta, caindo no chão com um suspiro de alívio e uma expressão que misturava cansaço e incredulidade.

Os homens se reuniram ao redor da porta, agora paralisada, e começaram a rir descontroladamente. 

“Acho que ela estava apenas procurando uma nova casa!” comentou Carlos, enquanto todos riam para aliviar a tensão.

Aquela manhã, que havia começado como um simples dia de trabalho, se transformou em uma memória inesquecível para todos os presentes. E, claro, a ladeira nunca mais seria vista da mesma forma. Para os moradores, a porta de correr que havia fugido se tornaria uma lenda local — a história da porta que decidiu dar uma volta.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas de São Paulo. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, em Ubiratã/PR, em Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Confraria Brasileira de Letras, Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil/Suiça, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); “Canteiro de trovas”; “Pérgola de textos” (crônicas e contos), “Caleidoscópio da Vida” (textos sobre trovas) e “Asas da poesia”.

Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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domingo, 31 de agosto de 2025

José Feldman (A Melodia está no Ar)

(Menção Honrosa no V Concurso Literário Foed Castro Chamma 2025, de Irati/PR - tema: Melodia)

Em uma pequena cidade, perdida entre montanhas verdejantes e rios caudalosos vivia Edilene, uma jovem apaixonada por música. Desde pequena, ela acreditava que o mundo ao seu redor era uma sinfonia invisível, repleta de melodias que poucos conseguiam ouvir.
 
Certa manhã, enquanto caminhava pelo parque, ela parou para escutar o canto dos pássaros que se misturava ao sussurro das folhas, formando um suave prelúdio. Inspirada, pegou seu caderno e começou a escrever as notas que sentia no ar.
 
Conforme os dias passavam, ela explorava diferentes lugares da cidade. No mercado, o tilintar das moedas e o riso das crianças criavam um ritmo alegre. Na beira do rio, o gorgolejar da água formava um solo tranquilo. Cada ambiente trazia uma nova melodia, e ela se dedicava a capturar cada uma delas.
 
Um dia, quando caminhava pelo parque, encontrou um músico idoso tocando violão. As cordas vibravam com uma profundidade que parecia conversar com a alma de quem passava. Edilene se aproximou, encantada. O homem, percebendo seu interesse, sorriu e disse:
 
— A música está em tudo, menina. Basta ouvir.
 
Ela sorriu de volta, entendendo que suas anotações não eram apenas notas, mas a essência da vida que a cercava. Ele, com seu violão, começou a tocar a melodia que ela havia coletado em suas andanças e anotara em seu caderno A cidade parou para ouvir. Os rostos se iluminaram, e pessoas começaram a dançar. A melodia que antes era invisível agora se manifestava em cada coração. Edilene percebeu que a música não era apenas algo que se tocava, mas uma experiência compartilhada.
 
A partir daquele dia, ela e o músico se tornaram inseparáveis. Juntos, eles continuaram a explorar a cidade, capturando novas melodias, unindo vidas e espalhando alegria. E assim, a pequena cidade se transformou em um grande concerto, onde cada som e silêncio contavam uma história. E, enquanto a vida seguia seu curso, Edilene aprendeu que a verdadeira magia da música está na capacidade de conectar as pessoas e fazer com que cada um ouça a melodia única que existe á sua volta.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas de São Paulo. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, em Ubiratã/PR, em Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Confraria Brasileira de Letras, Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil/Suiça, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior. Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); “Canteiro de trovas”; “Pérgola de textos” (crônicas e contos), “Caleidoscópio da Vida” (textos sobre trovas) e “Asas da poesia”.

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domingo, 24 de agosto de 2025

José Feldman (A estrada e o coração)

Texto construído tendo por base a trova de Luiz Poeta (Luiz Gilberto de Barros) (Rio de Janeiro/RJ)
Na saudade intransigente,
o coração se revolta;
a estrada diz: – Segue em frente;
o coração pede: - Volta!

Era final de tarde quando Antero estacionou o carro no acostamento. O horizonte, tingido pelos tons dourados do pôr do sol, parecia tão distante quanto a paz que ele buscava. Naquela estrada deserta, as lembranças pesavam mais que a mala no porta-malas. Ele olhava fixamente para o asfalto que se perdia no infinito, como se esperasse que a resposta para sua inquietude surgisse na próxima curva.

Antero estava fugindo. Não de algo visível, mas de um vazio que havia tomado conta dele. Havia decidido, quase por impulso, deixar tudo para trás: o emprego, os amigos, a cidade. "É melhor recomeçar em outro lugar", dissera a si mesmo enquanto arrumava a bagagem. Mas agora, sozinho no meio do nada, a dúvida o corroía. Será que estava fazendo a coisa certa? Será que era possível deixar para trás o que o coração insistia em guardar?

Lá estava ela, a saudade. Intransigente, como sempre, invadindo cada pensamento. Fechava os olhos e via Márcia. O sorriso dela, o jeito como prendia o cabelo, as risadas que ecoavam pela casa. Tudo parecia tão perto, mas era inalcançável. 

Márcia tinha partido. Não por desamor ou desavença, mas porque a vida, com sua maneira cruel de agir, havia decidido que era hora de levá-la para sempre. Um acidente, um instante, e tudo o que Antero conhecia como felicidade havia se despedaçado.

Desde então, a saudade era sua companheira constante. E a saudade, ele descobrira, não era apenas um sentimento… era uma presença. Ela tinha cheiro, som e até peso. Era teimosa, não aceitava explicações, ignorava o tempo e se recusava a partir. Ele sentia que, a cada quilômetro que dirigia, a saudade ficava mais forte, como se o coração dele estivesse preso a um elástico invisível, puxando-o de volta.

Ele desceu do carro e se sentou na beira da estrada. O vento quente tocava seu rosto, mas não trazia consolo. Olhou para o horizonte mais uma vez, como se a estrada pudesse responder àquela luta interna que o consumia. A razão lhe dizia: "Segue em frente. É o único caminho." Mas o coração, rebelde e insistente, sussurrava: "Volta. Volta para onde tudo começou, para onde está o que te resta dela."

Antero pegou do bolso uma foto amassada de Márcia. Era do dia em que haviam feito uma viagem juntos, a primeira de muitas. Na imagem, ela sorria, com o cabelo bagunçado pelo vento e os olhos brilhando. Ele lembrou-se de como ela adorava dizer que as estradas eram metáforas da vida: "Elas sempre levam a algum lugar, Antero. Mesmo que a gente não saiba para onde."

"Mas e quando a estrada não faz sentido?" ele perguntou em voz alta, como se ela pudesse ouvi-lo. O eco de sua voz foi a única resposta.

O tempo passou devagar enquanto ele permanecia ali, imóvel, entre o passado que o puxava e o futuro que o empurrava. Até que, num momento de quietude, algo mudou. Ele percebeu que a saudade não era a inimiga. Ela era, na verdade, uma prova de que Márcia ainda vivia dentro dele, nas memórias, nos gestos, nos sonhos que haviam compartilhado. A saudade não era para ser combatida, mas entendida.

De repente, a estrada à sua frente parecia menos ameaçadora. Talvez ela estivesse certa; as estradas sempre levam a algum lugar. Talvez o futuro não fosse um abandono do passado, mas uma continuação dele. Ele levantou-se, respirou fundo e olhou uma última vez para a foto. Guardou-a no bolso, entrou no carro e ligou o motor.

Dessa vez, não era nem o coração nem a razão que o guiavam. Era Márcia, em cada lembrança, em cada saudade. Ele sabia que nunca a deixaria para trás, porque ela era parte dele — parte do caminho, parte da estrada.

E assim, com um misto de dor e esperança, ele seguiu em frente.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, Ubiratã/PR, Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); “Canteiro de trovas”; “Pérgola de textos” (crônicas e contos), “Caleidoscópio da Vida” (textos sobre trovas) e “Asas da poesia”.
Fontes:
José Feldman. Caleidoscópio da Vida. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

José Feldman (Zumbis Digitais)

Nos dias de hoje, caminhamos pelas ruas e nos deparamos com uma cena cada vez mais comum: pessoas imersas em seus smartphones, com os olhos fixos nas telas e os dedos deslizando freneticamente. É como se estivéssemos cercados por zumbis, vagando sem rumo, alheios ao que acontece ao nosso redor.

A cada esquina, vejo grupos de amigos que, em vez de se entreterem uns com os outros, estão absortos em suas redes sociais. Os risos e as conversas são substituídos por notificações e curtidas. Quando um deles finalmente levanta a cabeça, é como se despertasse de um transe, surpreso com a realidade ao seu redor. "Oi, você chegou?", pergunta um, sem saber que o outro estava ali o tempo todo, apenas em uma realidade paralela.

O mais curioso é que, enquanto as pessoas estão tão conectadas aos seus dispositivos, a desconexão com o mundo real se torna evidente. Cumprimentos são ignorados, sorrisos trocados são despercebidos. Às vezes, um simples "bom dia" se transforma em um eco perdido no vazio da atenção fragmentada. O que era uma interação natural e espontânea se torna uma raridade em meio ao zumbido constante de mensagens e atualizações.

Dentro de casa, a situação não melhora. Famílias reunidas à mesa, mas cada um preso em seu próprio universo digital. As conversas se resumem a comentários sobre o que foi postado na internet, enquanto o cheiro da comida esfriando e o calor do afeto se perdem na distração. O diálogo se torna superficial, quase uma obrigação, enquanto as telas dominam a cena.

Essa era digital trouxe inegáveis avanços, mas também um preço alto: a perda da conexão humana. Os pequenos momentos, aqueles que costumavam nos unir, estão se dissipando. As risadas compartilhadas, os abraços sinceros, os olhares cúmplices foram substituídos por emojis e gifs. E assim, enquanto as notificações pipocam, o verdadeiro mundo ao nosso redor se torna um cenário desbotado, quase esquecidos.

E quando, finalmente, decidimos olhar ao nosso redor, percebemos que estamos cercados por seres humanos incríveis, com histórias para contar e experiências para compartilhar. 

Que tal baixar a tela por um instante e voltar a sentir o calor da presença de alguém? As conexões genuínas são o que realmente nos fazem humanos. Afinal, viver não é apenas existir entre pixels, mas sentir, rir e amar de verdade.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, Ubiratã/PR, Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); e “Canteiro de trovas”.. No prelo: “Pérgola de textos” (crônicas e contos) e “Asas da poesia”
Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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domingo, 17 de agosto de 2025

José Feldman (A Nostalgia dos Velhos Tempos)

(Esta crônica obteve o 2. lugar no X Prêmio Literário “Gonzaga de Carvalho”, 2025, da Academia de Letras de Teófilo Otoni/MG, para acadêmicos correspondentes)
 
Vivemos em um mundo onde a comunicação é um ritual. 

Os telefones de antigamente, com seus cabos emaranhados e o disco giratório, eram uma obra de arte em si. Não havia toque de tela, nem mensagens instantâneas. Para fazer uma ligação, era preciso paciência. Cada número discado era como uma pequena oração, um pedido ao universo para que a conexão se estabelecesse. E quando alguém atendia, era como se um portal se abrisse entre duas realidades.

As máquinas de escrever eram o coração dos escritórios. Cada tecla pressionada ressoava como uma batida, e o som da fita deslizando era música para os ouvidos de muitos. Havia algo quase mágico em ver as palavras surgirem na página. Erros? Ah, os erros eram uma tragédia! A fita corretiva era um recurso precioso, mas muitas vezes deixava marcas indesejadas.

Em contraste, os computadores modernos oferecem uma facilidade sem precedentes. Com um simples clique, podemos editar, apagar e reformular nossos textos. As palavras fluem com a rapidez dos pensamentos. No entanto, essa facilidade também trouxe distrações. Redes sociais e notificações incessantes competem pela nossa atenção, tornando quase impossível se focar no que realmente importa. A escrita, muitas vezes, se perde em meio a um mar de informações.

Quem se lembra dos mimeógrafos? Aqueles aparelhos que exalavam um cheiro característico de tinta fresca e que nos permitiam fazer documentos em série, mas que exigiam cuidado e habilidade. A espera pela secagem do papel era um momento de expectativa. Com a chegada das impressoras a jato de tinta e laser, a produção de documentos tornou-se instantânea. O papel, antes tão precioso, agora é descartado em grandes quantidades, e as preocupações ambientais crescem.

Os carros, ah, os carros. Lembro-me dos carros antigos, com suas chaves de ignição, que exigiam um pouco mais de interação e cuidado. O cheiro da gasolina, o som do motor, a troca de marcha. Faziam nos conectar com o mundo, mas também exigiam nossa atenção constante. Hoje, os carros se tornaram verdadeiros computadores sobre rodas. Com painéis digitais, assistentes de voz e GPS, a condução se tornou mais fácil e segura. No entanto, a dependência da tecnologia traz novos desafios. O ato de dirigir, que antes era um momento de reflexão, agora virou uma experiência passiva, onde o motorista se desliga do que acontece à sua volta.

A era dos smartphones revolucionou a maneira como nos comunicamos. Com um toque, estamos conectados a amigos, familiares e ao mundo. A informação flui a uma velocidade inimaginável. No entanto, essa conexão constante tem seus efeitos colaterais. A ansiedade e a pressão para estar sempre disponível criaram uma cultura de imediatismo que pode ser desgastante. Os momentos de silêncio e introspecção, tão essenciais para a saúde mental, tornaram-se raros.

Enquanto olhamos para trás e admiramos os equipamentos que moldaram nossas vidas, é impossível não reconhecer as melhorias que a tecnologia trouxe. A comunicação, a produtividade e a mobilidade foram ampliadas de um modo que nossos antepassados nunca poderiam imaginar. Contudo, é fundamental encontrar um equilíbrio. A nostalgia pelos tempos passados não deve nos impedir de aproveitar os avanços que temos hoje, mas também deve nos lembrar da importância dos momentos de desconexão e reflexão.

Assim, seguimos adiante, navegando entre o que foi e o que é, buscando sempre uma harmonia entre a inovação e a essência do que significa ser humano.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, Ubiratã/PR, Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); e “Canteiro de trovas”.. No prelo: “Pérgola de textos” (crônicas e contos) e “Asas da poesia”

Fonte:
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

José Feldman (Os Rabugentos e os Carros do Futuro)

Na velha praça, Arlindo e Eulália estavam novamente em seu banco, prontos para mais uma discussão acalorada. O assunto do dia era a nova moda dos carros elétricos.

— Olha só, Eulália! — começou Arlindo, com um brilho cínico nos olhos. — Agora todo mundo fala de carros elétricos como se fossem a oitava maravilha do mundo! Você já viu um desses? Parecem mais brinquedo de criança!

— Brinquedo? — Eulália riu, balançando a cabeça. — Você está tão preso no passado que não consegue enxergar o futuro! Os carros elétricos são silenciosos, eficientes e ainda ajudam o meio ambiente!

— Silenciosos? — Arlindo exclamou, com uma expressão de desdém. — Prefiro ouvir o barulho de um motor potente! Isso sim é música para os meus ouvidos! Um carro sem ronco não é carro, é um... robô!

— Robô? Você está exagerando! — Eulália respondeu, cruzando os braços. — E quem precisa de barulho? No meu tempo, a gente sonhava com carros que não poluíssem! Agora, você só quer saber de roncos!

— Olha, eu não sou contra a ideia de carros que não poluam. — Arlindo disse, levantando as mãos. — Mas e a emoção de dirigir? Você já dirigiu um carro elétrico? É como andar em um sofá sobre rodas!

— Um sofá? Você realmente sabe como ofender! — Eulália respondeu, rindo. — E você se esqueceu que os carros a gasolina e álcool estão acabando? A gasolina vai virar coisa do passado!

— Coisa do passado? — Arlindo rebatou. — E o que você vai fazer quando ficar sem combustível? Pedir carona de um vizinho com um carro elétrico? Eu prefiro meu carro barulhento, que me leva a qualquer lugar!

— E eu prefiro saber que meus netos vão herdar um planeta saudável! — Eulália disse, com firmeza. — Você só pensa no presente, Arlindo! E o futuro? Vai ficar preso na nostalgia dos motores barulhentos!

— Nostalgia é uma coisa boa! — Arlindo insistiu. — E quem disse que os carros elétricos são a solução? E se a bateria acabar no meio do nada? Você vai ter que esperar uma eternidade por um carregador!

— E você, se ficar sem gasolina, vai ter que empurrar seu carro até o posto! — Eulália retrucou, com um sorriso travesso. — E não venha me dizer que isso é emocionante!

— Olha, eu não empurro carro nenhum! — Arlindo defendeu-se, rindo. — Se eu ficar sem gasolina, vou dar um jeito de arranjar um galão e encher o tanque. Não sou desses que ficam esperando um milagre!

— E quem precisa de milagre quando se tem tecnologia? — Eulália disse, fazendo uma pausa dramática. — Os carros elétricos estão mudando o mundo, Arlindo! Você deveria se atualizar!

— Atualizar? Eu não sou um computador! — Arlindo respondeu, balançando a cabeça. — E já viu o preço de um carro elétrico? Com o que custa um, eu compro três carros a gasolina e ainda sobra para uma viagem!

— Ah, claro! E depois você vai reclamar que os carros antigos estão se desintegrando! — Eulália riu. — Você só quer economizar e não se preocupa com o planeta!

Arlindo arqueou as sobrancelhas. — Economizar é uma virtude! E quem vai querer um carro que não faz barulho? Vou sair na rua e parecer um fantasma!

— Fantasma? Você já se olhou no espelho? — Eulália provocou, rindo. — Você já é um fantasma do passado, Arlindo! Aceite isso!

— Aceitar? Estou aqui, vivo e a cores! — Arlindo exclamou, gesticulando. — E se eu quiser um carro que marque presença, eu vou ter! Não quero sair dirigindo um “silencioso”, como se estivesse fugindo de algo!

— Você só está com medo do novo! — Eulália disse, com um sorriso. — Um dia, você vai ver que os carros elétricos são o futuro! E quem sabe você não acaba comprando um?

— Eu? Comprar um carro elétrico? — Arlindo riu, balançando a cabeça. — Só se você me prometer que vai me ensinar a usar um carregador!

— Oh, não se preocupe! — Eulália respondeu, piscando. — Eu vou te ensinar a usar, e você vai ver que é mais fácil do que empurrar um carro!

— Empurrar? Nunca mais! — Arlindo disse, levantando-se do banco. — Vamos tomar um café e deixar essas discussões de lado! Afinal, o que importa não são os carros!

— Concordo! — Eulália sorriu, levantando-se também. — E quem sabe, enquanto tomamos café, você não se convence de que um carro elétrico não é tão ruim assim?

Os dois velhos rabugentos se afastaram, rindo e discutindo, prontos para mais uma tarde de amizade e boas risadas, longe das preocupações sobre carros e tecnologia.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, Ubiratã/PR, Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); e “Canteiro de trovas”.. No prelo: “Pérgola de textos” (crônicas e contos) e “Asas da poesia”
Fontes:
José Feldman. Pérgola de Textos. Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Adobe Firefly

domingo, 10 de agosto de 2025

José Feldman (O Tempo e o Agora)

 
O relógio marca a hora,
cada instante é um agora...
A vida não demora.


O relógio marca a hora, e, com cada tique-taque, somos lembrados de que a vida é feita de instantes. Em um mundo que parece acelerar a cada dia, é fácil nos perdermos na correria. Corremos para o trabalho, para compromissos, para a rotina que nos consome. Mas a poesia nos lembra: cada instante é um agora.

Quantas vezes deixamos de apreciar o que está diante de nós? O cheiro do café fresco pela manhã, o sorriso de um amigo, a luz do sol filtrando pelas folhas. Esses momentos, muitas vezes simples, são os que realmente compõem a tapeçaria da nossa existência. A vida não demora, mas é feita de sutilezas que muitas vezes passam despercebidas.

A verdade é que o tempo é um mestre implacável. Ele não espera. O que temos é este agora, e é nele que devemos encontrar significado. A vida não se mede apenas em grandes eventos, mas nas pequenas alegrias do dia a dia. Cada risada, cada conversa, cada instante vivido intensamente é um lembrete de que estamos aqui, presentes.

Vale a pena parar e refletir. O que estamos fazendo com nosso agora? Estamos realmente vivendo ou apenas existindo? O relógio continua a marcar as horas, e a vida não espera. Por isso, vamos aprender a valorizar cada momento, a respirar fundo e a sentir a beleza do presente.

No final, o que levará a nossa história não serão apenas os grandes feitos, mas as memórias construídas em cada agora. E assim, ao invés de correr, que possamos caminhar, apreciar, amar. A vida é breve, e o tempo, esse sempre fiel companheiro, nos mostra que o agora é tudo o que realmente temos.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, Ubiratã/PR, Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); e “Canteiro de trovas”.. No prelo: “Pérgola de textos” (crônicas e contos) e “Asas da poesia”

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada com Microsoft Bing