sábado, 29 de setembro de 2018

Ógui Lourenço Mauri (Primavera, De Novo!...)



Fonte:
Poema enviado pelo autor

Vinicius de Moraes (A Bela Ninfa Do Bosque Sagrado)


Hollywood, novembro de 1946: A noite é alta, Ciro's terminou e estamos todos - um destacado grupo de "estrelas" e "astros", entre os quais sou um modesto meteorito - na casa de Beverly Hills de Herman Hover, o notório dono da famosa boate de Sunset Boulevard. Vou nas águas de minha amiga Carmen Miranda, com quem saí e a quem, como um cavalheiro que sou, depositarei em sua vivenda de Bedford Street. Lá estão também as figuras ciclópicas de José do Patrocínio de Oliveira, o não menos conhecido Zé Carioca, e seu sonoplástico parceiro Nestor Amaral, ambos homens dos sete instrumentos, sendo que este é capaz de tocar o Hino Nacional batendo com um lápis nos dentes e o "Tico-tico no fubá" mediante pequenos cascudos acústicos aplicados no cocuruto - tudo diante de um microfone, bem entendido. 

Carmen está quieta, sentada no braço de minha poltrona. Tornamo-nos rapidamente grandes amigos. Celebramo-nos com o devido foguetório quando nos encontramos e uma vez juntos temos assunto para conversas intermináveis, sempre salpicadas de história sobre seus inícios como cantora, que me encantam. Sua verve é inesgotável e ninguém imita como ela antigas situações marotas em que se viram envolvidos, nos primeiros contatos com o público, seus velhos companheiros Mário Reis, Francisco Alves e Ari Barroso, na fase renascentista do samba carioca. Aprendi a querer-lhe muito bem e admirar a coragem com que enfrenta, ela uma mulher toda sensibilidade, a tortura de se ter tornado um grande cartaz comercial para Hollywood e de ter de sorrir à boçalidade, com raríssimas exceções, dos produtores, diretores, cenaristas, cinegrafistas, iluminadores e demais mão-de-obra dos estúdios. : Mas hoje Carmen está quieta. Seus imensos olhos verdes se horizontalizam numa linha de cansaço, quem sabe tédio, daquilo tudo já "tão tido, tão visto, tão conhecido", como diria Rimbaud. Cerca de nós, o ator Sonny Tuffs toca um piano mais bêbedo que o do genial Jimmy Yancey nas faixas em que foi gravado sem saber. Depois seu corpanzil oscila, ele se levanta só Deus sabe como e sai por ali cercando frango, não sem antes abraçar à passagem a atriz Ella Raines, que compareceu de noivo em punho e deixa-se estar com este a um canto, com um ar de Alicinha que só enganaria os drs. Sobral Pinto e Albert Schweitzer.

Numa poltrona a meu lado estira-se, com um viso suficientemente decomposto, o magnata Howart Hughes. Troco duas palavras com ele, mas o tedioso multimilionário e playboy, descobridor e bicho-papão de "estrelas", me parece muito mais interessado em Ella Raines - espécie de Grace Kelly de 1940, só que menos pasteurizada. Deixo-o, pois, à sua nova conquista, enquanto no meio da sala, Zé Carioca e Nestor Amaral "se viram" para chamar a atenção sobre os seus dotes de instrumentistas. Mas a pressão geral é grande e cada um procura cavar o pão da noite como pode, enquanto Herman Hover passeia com um ar de Napoleão em Marengo. Há propostas para um banho de piscina, para um concurso de rumba e outras trivialidades, mas ninguém topa mesmo porque o Sol (ou melhor "Ele", como dizem com o maior nojo meus amigos Américo e Zequinha Marques da Costa) já deve, contumaz ginasta matutino, estar pendurado à barra do horizonte para a sua atlética flexão de cada dia. O ambiente se está nitidamente desgastando em álcool e semostração. 

Vou propor a Carmen irmos embora quando uma cortina se entreabre e surge uma mulher espetacular. Não creio que ninguém houvesse reparado, mas a mim ela me pareceu tão linda, tão linda que foi como se tudo tivesse de repente desaparecido diante dela. 

Fiquei, confesso, totalmente obnubilado ante tanta beleza, muito embora essa beleza se movimentasse, por assim dizer, um pouco à base da dança a que chamam quadrilha: dois passinhos para diante e três para trás com direito a derrapagem. Mas o que o corpo fazia, o rosto desconhecia; pois esse rosto tinha mais majestade que Carlos Machado entrando no Sacha's. Ela olhou em torno com um soberano ar de desprezo e logo, dando com Carmen, tirou um ziguezague até ela, vindo postar-se no esplendor de todo o seu pé-direito justo diante de mim, coitadinho que nunca fiz mal a ninguém. 

- Hey, Carmen - disse ela. 

- Hey, honey - respondeu Carmen com o seu sorriso no 3. 

- Gee, Carmen, I think you're wonderful, you know. I think you're tops, you know. Tops. You're terrific. 

Para quem não sabe inglês, esse diálogo inteligente exprimia a admiração da moça por Carmen, a quem ela chamava de "do diabo", de "a máxima" e toda essa coisa. Passado o quê, dá ela de repente comigo lá embaixo, pobre de mim que tive bronquite em criança, e olhando-me por cima de suas pirâmides, fez-me a seguinte pergunta num tom de rainha para vassalo: 

- Who are you? (- Quem é você?) 

Declinei minha condição de modesto servidor da pátria no estrangeiro, o que não pareceu interessá-la um níquel. Em seguida, sem aviso prévio, ela debruçou-se a ponto de eu poder ver o algodãozinho que havia juntado no seu umbigo, pôs as mãos sobre os meus braços, trouxe o rosto até um centímetro do meu e cuspindo-me todo como devia fez-me a seguinte indagação: 

- Do you think I'm beautiful? (- Você me acha bonita?) 

Fiz-lhe os elogios de praxe. Ela esticou-se novamente e concordou comigo: 

- You're right. I'm very beautiful. But morally, I stink! (- Você está certo. Eu sou muito bonita. Mas moralmente eu... como traduzir sem ofender tanta beleza, tirante os ouvidos do leitor? - não cheiro muito bem.) 

Dito o quê, partiu como chegara, através da mesma cortina, para onde suponho houvesse um bar privado. Só sei que aquilo deu-me uma grande animação, a festa continuou até "Ele" raiar e eu acabei dançando com a linda moça, ela bastante mais alta do que eu, o que permitia ouvir-lhe bater o coração, de resto levemente taquícárdico. Antes de sair vi vários casais no Jardim que não se sabia mais quem era quem, vi Sonny Tuffs atravessado num sofá, vi coisas como só se vê em baile de carnaval. Festinha familiar, como diria a finada dona Sinhazinha. 

Fora perguntei a Carmen se ela sabia quem era a deusa. 

- É uma atriz nova que está entrando agora. Bonita, não é? Chama-se Ava Gardner.

Fonte:
Vinicius de Moraes. Para viver um grande amor.

Emílio de Meneses (Poemas ao Anoitecer) IV


DIES IRAE
(Sobre o Desastre do “Aquidabã”)

I
Na vastidão das águas da baía
Tudo é luz, íudo é paz neste momento.
Límpido, ao alto, nos acaricia
O amplo côncavo azul do firmamento.

Do mar ao céu, é mais profunda a calma.
Quer junto a nós, quer na amplidão remota,
Raramente nos ares a asa espalma.
Solitária branquíssima gaivota.

À barra, um transatlântico que ao mastro
Alto., estrangeiro pavilhão desfralda,
Deixando empós um marulhoso rastro,
Corta, solene, a líquida esmeralda.

Nuns tons leves de nítida aquarela,
Sobre um barco de pesca tardo e lento,
Em forma de triângulo, uma vela
Desenha ao longe o bojo pardacento.

Dentro do porto alteia-se a floresta
Dos mastros com suas flâmulas aflantes,
E, num silêncio abrigador de sesta,
Dormem os transatlânticos possantes.

O sol envolve com seu manto de ouro
As fortes naus afeitas às tormentas,
Que, ora, na quietação do ancoradouro,
Parecem grandes aves sonolentas.

Um que, certo, entre todos é o mais forte,
Parece estar sonhando em pompa de galas,
Num tempo em que ele se entregava à sorte.
Debaixo de uma abóbada de balas!

II
Sonha o grande couraçado,
Sonha o navio, e, no sonho,
Revê todo o seu passado
De heroísmo no mar medonho.

Tem dentro de si, contente,
A marujada louça
Que a glória nunca desmente
Do nome de Aqindabã.

Todo ele é uma alma sonora,
É da pátria a própria imagem,
A dar provas, de hora em hora,
De nobreza e de coragem.

Sonha que a sonhar desperta
Por uma alegre manhã
A uma voz que brada: Alerta!
Marujos do Aquidabã.

III
Ao balouço do mar que aos beijos o rodeia,
Todo em galas desperta o potente navio,
E aquela nobre gente aos perigos alheia,
Presto, provas quer dar de luzimento e brio.

A azáfama começa e em toda a plenitude,
Do vigor de um pulmão, as vozes de comando,
Qual hino triunfal de alegria e saúde
Brotam de um peito heróico os ares recortando.

Vibra em roda o estridor clangoroso de festa.
Move-se lado a lado a marujada ativa.
O grande couraçado orgulhoso se apresta
Pronto para aguardar luzida comitiva.

A hora de levantar e de partir não tarda;
Todo o navio anseia em grande açodamenlo
E em cima, no convés, o sol, de cada farda,
Tira efeitos de estranho e ideal deslumbramento.

Brilham fulvos galões; brilham, presas aos ombros,
Dragonas de retrós metálico de escarcha,
E tudo a refulgir envolve a nau de assombros
Nesse apresto sem par de uma imprevista marcha.

O ouro do fivelame e dos botões rebrilha,
Fulge, dos espadins, o ouro que o punho encerra.
E tudo é o resplendor e tudo é a maravilha
De uma festa de paz na grande nau de guerra!

IV
Ei-lo que chega ao porto entressonhado.
Foi suave a travessia
Mas em todos que estão no couraçado,
Não é a mesma a alegria.

A tarde desce. A noite se aproxima.
Foi todo alegre o dia.
Mas agora, nos astros, lá por cima.
Anda a melancolia.

Não pode ser mais calmo nem sereno
O vir da Ave-Maria.
Para a noite que chega sobre um trenó
De meiga nostalgia:

Foi nas águas do Amazonas
Que aprendi a navegar.
Meu Deus, por que me abandonas
Nas feias águas do mar?!

Ao vibrar melancólico da viola,
Aquele ingênuo canto
De um coração nostálgico se evola
Como sonoro pranto.

Do Pará nas ribanceiras
Deixei meus pais a chorar.
E aqui estou nestas canseiras
Da triste vida do mar!

O céu arqueia protetoramente
O amplo azul constelado,
Como que para ouvir a voz dolente
Que embala o couraçado.

Ai! Maranhão do meu berço.
Para por ti eu rezar,
Tem mais contas o meu terço
Do que vagas tem o mar!

Em torno, à vasta quietacão das águas
Mais o silêncio cresce
E só se escuta este gemer de mágoas
Num sussurro de prece:

Do Piauí nas densas matas
Vivia alegre a cantar
E hoje choro estas ingratas,
Duras tristezas do mar!

Este simples e rústico lamento
Tem talvez a virtude
De espairecer algum pressentimento
Do marinheiro rude:

Ao meu Ceará com certeza
Nunca mais hei de voltar.
Foi meu berço a Fortaleza,
Vai ser meu túmulo o mar!

Seja pressentimento ou desengano,
A meiga singeleza
Daqueles sons, tem do destino humano
A infinita tristeza:

Do Rio Grande do Norte
A terra quer se queimar;
Prefiro na seca a morte,
A morrer dentro do mar!

Fonte:
Emílio de Meneses. Obra Reunida. 
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1980.

Isabel Furini (O Poder do Livro)


(Menção Honrosa no Concurso de Contos Paulo Leminski, de Toledo/PR)

O relógio de pêndulo deu oito badaladas. Um som metálico vibrou no ar. Roberto entrou na sala, colocou o paletó escuro e desbotado no espaldar da cadeira e sentou-se. Vestia uma camisa branca, com o colarinho gasto e um pulôver já fora de moda. Olhou o relógio. Um relógio enorme, antigo, de madeira escura e lustrosa, herdada do avô. Depois consultou seu relógio de pulso. Tinha a sensação de que um dos relógios estava defasado alguns segundos.

Dona Irineia saiu do elevador apressada e avançou rapidamente pelo corredor. Abriu a porta. Na parede, um cartaz que dizia: “ PROIBIDA A ENTRADA A AUTORES” em letras grandes e, em letras pequenas: “Deixe seus originais na portaria”. Entrou na recepção, ligou o computador e disse “bom dia” para o senhor Roberto.

- Dona Irineia... pode vir... - pediu ele.

Dona Irineia entrou, abriu as cortinas. Um raio de sol entrou pela janela de vidro, atravessou a metade da sala e caiu como uma torrente de luz sobre a escrivaninha de ébano escuro, cheia de papéis, livros, canetas, contratos. Roberto estava sentado diante da escrivaninha, na cadeira alta com espaldar de veludo vermelho. Às suas costas, o retrato antigo de seu avô, Florêncio, fundador da Editora RT.1.

Nos cantos da sala, caixas enormes, abertas, onde Irineia, todos os dias jogava, com indiferença, os originais que vinham pelo correio. Jogava os sonhos, as esperanças, as fantasias, as suposições, as ambições dos autores nas caixas de papelão. Cérebros, corações, fígados com vesículas apodrecidas de tanta ansiedade na busca da fama ou do reconhecimento. Ela jogava tudo nas caixas de papelão.

Irineia pegou uma faca grande, com o cabo forrado em couro marrom e começou a abrir os pacotes do correio. Chegavam originais de todos os tipos e de todos os cantos deste enorme país. Romances, novelas, contos, crônicas, monografias, teses, livros técnicos e poesias. Chegavam obras dos lugares mais recônditos, das grandes cidades, do campo e dos povoados. Povoados que Irineia mal conseguia localizar no mapa e nem sabia que existiam.

Roberto pegou alguns originais para análise. Sua forma de escolher os livros que seriam publicados no semestre era, no mínimo, peculiar, para não dizer que era uma maneira estranha, extravagante, ou simplesmente, insana. O editor comum obedece a padrões de modernidade, originalidade, gosto popular ou elementos como mudança de perspectiva, quebra de tempo, jogo de palavras, ironia, tipos de discursos e outros.

Roberto era diferente. Como um alquimista em busca da pedra filosofal, Roberto colocou pó de enxofre nos dedos das mãos e manuseou as páginas de um romance, abrindo-o ao acaso. Leu um parágrafo. Tantos anos na Editora deram-lhe uma firmeza inigualável.

- Dona Irineia.... - chamou o patrão.

- Sim, senhor - respondeu ela, enquanto se levantava, empurrando a cadeira.

Ele respirou profundamente e disse com raiva:

- Essa febre de escrever tomou conta da população! Todo mundo quer escrever, é irritante!
Roberto acomodou os óculos grossos sobre o nariz proeminente e alisou seus cabelos grisalhos, longos e oleosos.

- Por favor - pediu Roberto, acendendo um cigarro - Isto é ridículo! Este cara já enviou mais de dez livros... Soltou a fumaça do cigarro no ar. - Ele ainda não entendeu que nunca vou publicar suas obras? Quando vir este nome no envelope nem abra. Jogue fora!

Irineia disse que enviaria a carta padrão. Carta padrão consistia num modelo, onde a obra do escritor era elogiada e a Editora pedia desculpas por não poder incluí-la, falta de espaço na programação. Isso evitava processos e discussões intermináveis com autores inconformados.

Leu uma página e ficou irritado, “vejo um escritor de pulso vacilante, tentando contar uma história, mas sem técnica suficiente. Um trabalho superior a suas forças, megalomaníaco” pensou. - Não é suficiente ter uma história interessante, deve ser bem contada. Deve ser: “Alento de fogo.” Dona Irineia colocou novos livros sobre a escrivaninha: “Sonhos”, “Heróis do presente”, “A Morte de Joana” “Chuva no telhado” e “Mundo em guerra”. Roberto empurrou os óculos grossos de armação preta e enfiou o nariz nos originais de “Heróis do Presente”. Gás Bucal, murmurou.

Fechou o livro e voltou a abri-lo. Leu um parágrafo. Fechou e tornou a abri-lo pela terceira vez.

Não, eu estava certo na primeira classificação: Gás Bucal. Anote, dona Irineia, Heróis do Presente, é Gás Bucal.

Sempre falava para a secretária qual tinha sido sua avaliação. Fazia anos que ela trabalhava para ele e já não sabia viver sem sua presença calada e submissa. Só uma vez Irineia levantara a voz, dois anos atrás, para defender um livro de amor e traição. Nunca antes, nunca depois.

Pegou o livro “Chuva no Telhado” - Roberto deixou fluir os originais encadernados em cor cinza pelas mãos sensíveis. Passou os dedos pelas bordas e o abriu. Leu uma página, este é pior.

Nos últimos três meses, só os originais de “Lago em Sombra” tinham sido aceitos para edição. Roberto tinha, à semelhança dos alquimistas, a busca incansável. Ainda lembrava seu avô dizendo: Existem dois tipos de editores, os editores alquimistas que procuram a pedra filosofal das palavras e os editores alquimistas que procuram simplesmente o ouro filosofal. Ele era do tipo um.

Seu avô tinha ideado um método infalível de classificar os originais. Tinha relação com o elemento ar. Talvez porque o avô Florêncio fosse de um signo de ar, Gêmeos. E toda sua vida tinha acreditado no destino e nas estrelas.

O método era o seguinte: Ruim, D - Gás estomacal. Bom - C: Gás bucal - Provinha da boca. Muito bom: B - Corrente de vento chega à garganta. Excelente: A - Gás Pulmonar . Obras de grande qualidade chegavam poucas. Extraordinário: AAA- ALENTO DE FOGO - O fogo do corpo e da alma.

Poucas obras “Alento de Fogo” havia recebido na vida. Na realidade, só recebera duas. Há trinta anos, seu avô ainda era vivo, quando receberam uma obra Alento de Fogo. O avô Florêncio estava doente, mas ao ler o texto recuperou-se totalmente e viveu mais cinco anos, com muita energia e vitalidade..

- Só o Alento de Fogo pode dar a vida... ou a morte... - disse o velho.

Dez anos atrás tinha reconhecido, ele sozinho, outra obra Alento de Fogo. Foi fascinante. A cada página que lia recuperava a vitalidade. Fez uma viagem ao redor do mundo. Nada de hotéis caros, de shoppings nem de restaurantes chiques. Caminhou pelas areias do deserto. Escalou as pirâmides, dançou na Ilha de Páscoa diante dos vigias.

Foi feliz durante dois anos. Mas a energia do alento também se esgota. Desde então, só procura o Alento. Há anos que traz os óculos grossos que escondem o desespero de sua alma na procura de um livro especial. Um livro que o tire da monotonia, da mesmice, das preocupações, do vazio da vida. Um livro revelador de um mundo paralelo que fale de suas expectativas, de seus sonhos, acertos e fracassos.

Roberto procurava na literatura, na palavra, a antiga arte da transmutação da mente. Arte anterior às técnicas da mente positiva ou da neurolinguística e outras ervas, que no seu entender, vendiam fantasias... das boas e das ruins, e algumas dessas fantasias eram terrivelmente nocivas à alma.

Roberto procurava na literatura a arte de entender o mundo. E a vitalidade para continuar a viver. A vitalidade que tinha perdido nos longos dias de leitura, na luta constante para analisar os textos com justiça. A análise e a luta com os textos sugaram sua energia. No fragor da contenda ficou míope e não conseguia enxergar a beleza da vida.

Roberto também escrevia. Ler e escrever. Escrever e ler. Sua vida tinha-se debruçado sobre os livros. Sua vida tinha-se esgotado entre letras impressas e folhas de papel. Os livros inéditos se pareciam. Eram como almas sem corpo. Todos pareciam iguais: papel branco oficio ou A4, letra New Roman ou Arial, corpo doze, duplo espaço.

Originais ruins que chegavam a suas mãos eram jogados no lixo. Não lia. Só abria três vezes o livro. Abria o livro, lia uma página e anotava a classificação. Abria de novo e lia dois parágrafos. Abria-o, pela terceira vez e só lia um parágrafo. Ele dava três chances. Só três, para cada candidato.

Originais ruins eram jogados no lixo. Não lia. E não era por falta de tempo. Nem por preguiça. Não lia porque lhe fazia mal, como a carne gordurosa o intoxicava. Intoxicava sua alma, embotava seus sentidos. Em síntese, diminuíam o ciclo de vida de Roberto.

Para Roberto, não ler lixo não era modismo, capricho, nem uma forma de esnobar a literatura. Era sobrevivência. Teve terríveis experiências, um livro mal escrito aumentava sua úlcera, desregulava os movimentos de diástole e sístole de seu músculo cardíaco.

Poucos sabiam que o alimento de Roberto era a literatura. Não só o alimento de sua alma, mas até certo ponto, a literatura era também o alimento de seu corpo. Até suas vísceras precisavam de leitura. Uma página ruim que lia, e seu corpo parecia desmembrar-se.

- Hoje não estou com sorte - pensou, enquanto terminava de ler o parágrafo. Só achou um livro C. Classificação A e B, lia do princípio até o final. Os outros não, questão de saúde.

Ao final da tarde, recebeu a visita de seu primo José, dono de uma grande editora

- Importa-se demais com qualidade, Roberto - recriminou-o - Marketing. Agora tudo é marketing. Eu dou para o departamento de marketing ver as possibilidades de venda, a gente nunca sabe quando tem um best-seller nas mãos...

- Lembra de nosso avô Florêncio?

- Você sempre foi o neto preferido dele.

- Vô Florêncio sempre dizia que um livro é como uma panela de pressão. Tem ar quente... entende, José? Todo livro tem um ar... um alento... o livro ruim é como uma panela de pressão com ar gelado, esfria o sangue nas veias, pois não foi purificado pela arte. Panela de pressão apitando, enfumaçando, é sinal do fogo do artista. Esse fogo fica impregnado em cada página, em cada parágrafo, em cada frase, em cada canto do livro.

- Panela de pressão! - exclamou José e soltou uma forte gargalhada que atravessou o ar e bateu no relógio. O relógio deu algumas badaladas, longas, sem compasso, arrítmicas.

No dia seguinte, o céu nublou-se, a chuva bateu sobre os vidros da janela. Roberto continuara lendo. Três dias depois, voltou a sair o sol.

Nesta quinta-feira, Roberto chegou à Editora às 8 da manhã, como era habitual. A luz estava acesa. Entrou. Dona Irineia estava de pé, falando com uma senhora baixinha e muito magra, de cabelos brancos unidos no alto da cabeça por um coque, ao estilo das avós antigas. Vestia com elegância uma blusa azul, com pequenos desenhos vermelhos e uma calça azul marinho.

- A senhora é autora - disse Irineia, sem jeito.

- Bom dia, Senhor . - disse a velhinha, fitando-o com seus olhos azuis, intensos.

- Meu nome é Maysa - apresentou-se e estendeu-lhe a mão direita para cumprimentá-lo, enquanto com a esquerda apertava os originais.

- A senhora não sabe ler? - perguntou Roberto, de forma ríspida, cruzando os braços.

- Sei, claro que sei ler - disse ela recolhendo o braço e pegando o livro com ambas as mãos.

- Pois veja, então, minha senhora! - gritou Roberto, abrindo a porta e assinalando o cartaz - Autores: Proibida a entrada.

- Senhor Roberto - disse Irineia, tentando ajudar a velha senhora - eu a deixei entrar, ela só quer falar sobre o livro. Ficou anos escrevendo e...

Roberto interrompeu sua fala. Pode deixá-lo...

Abriu a porta, entrou e sentou-se em seu lugar. Pela porta entreaberta, viu que a velha continuava em pé, imóvel.

- Fora daqui - disse entre dentes - fora, velhinha, fora. Eu não edito biografias de mortos ilustres, não edito livros de tricô, nem receitas culinárias. Escutou a velha despedir-se e o ruído da porta fechando-se. Roberto colocou enxofre nas pontas dos dedos e abriu um livro. Buscava a cada dia a áurica dos alquimistas, o mercúrio.

- Posso entrar? - perguntou dona Irineia.

Roberto ficou impressionado. Raramente ela entrava sem ser chamada.

- Peço que o senhor avalie este livro, por favor, senhor Roberto. Não tomará muito de seu tempo. Faça esse favor para mim - e colocou o livro sobre a escrivaninha.

- Está bem - disse ele, num gesto resignado, como um capitão depondo as armas.

Roberto abriu o livro. Começou a ler a página, o primeiro parágrafo e nas solas de seus pés sentiu um comichão. Segundo parágrafo e um calor começou a subir de seus tornozelos. Apertou o estômago, o batimento cardíaco chegou à garganta e transformou-se em admiração e em silêncio. Antes de terminar a página, viu um espírito, um dragão vermelho e preto. Um dragão enorme, que devorava as florestas da dúvida, derrubava as montanhas da presunção e arrasava os vales da mediocridade.

- Uma obra prima! - tentou gritar, mas não conseguiu. Sentiu um estouro na garganta... ou foi no peito? Eram cinco horas e o relógio de pêndulo começou a dar a primeira badalada.

Roberto sentiu que seu peito doía. Era uma dor dilacerante. Levou as mãos ao coração . Oh, Deus, pensou, e sentindo a morte chegar, não lamentou sua busca. Não os anos perdidos diante da escrivaninha, nem a janela fechada onde nunca entrava o vento. Não lamentou ter ficado sem amigos, em ter sido abandonado pela esposa. Não lamentou ser considerado estranho ou louco. A única coisa que lamentava era ter que partir da terra sem poder terminar de ler originais com “Alento de Fogo”. Alento de fogo, alento de fogo, repetia. Abriu novamente o livro e tentou ler...

- Alento de Fogo! - gritou. Abriu os olhos e a boca e o espírito do livro, o dragão invisível, transformou-se numa bola de fogo incandescente, foi arremessado de seu corpo e jogou-se sobre os originais do livro. Seu rosto caía pesadamente sobre a escrivaninha, enquanto seu espírito livre revoava sobre a mesa, nas asas do dragão. A asa esquerda do dragão bateu na janela, quebrando o vidro. Entrou uma lufada de ar. Respirou profundamente. Esse ar que entrava pelo vidro quebrado lhe fazia bem, muito bem, devolvia-lhe a vitalidade.

Abriu os olhos. - Vou chamar um médico - disse Irineia.

- Não, não... estou bem. Só preciso ler.

Irineia olhou-o com assombro. Roberto abriu o livro e leu a primeira página. Sorriu.

Irineia... Irineia.... - disse com voz quase carinhosa. Irineia, estou lendo e pensando... já somos quase velhos, Irineia, passamos tantos anos trabalhando juntos... tantos anos. Olharam-se em silêncio.

- Quero dar a volta ao mundo. Quer viajar comigo, Irineia?

- Como sua secretária?

- Sim...Não! Não! Viajar comigo.... você sabe... você sabe, Irineia... Nós nos damos bem... nós gostamos dos mesmos livros.... vamos envelhecer sozinhos.... e envelhecer sozinho, é tolice, não acha? Vamos compartilhar nossos últimos anos? O que diz, Irineia?

Irineia chorava como uma criança que, no Natal, ganha um presente inesperado de Papai Noel. Só conseguiu enxugar as lágrimas. E sorrir.

Fonte:

IV Concurso Infantil Dê o Nome do Personagem do Livro “Pegadas na Vila” (Prazo: 30 de Novembro)

REGULAMENTO

A partir do livro “PEGADAS NA VILA” da Escritora Neida Rocha, crianças de 4 a 13 anos de idade, de qualquer cidade do Brasil, poderão participar do IV CONCURSO INFANTIL: DÊ O NOME DO PERSONAGEM DO LIVRO “PEGADAS NA VILA”.

A inscrição é GRATUITA e deverá ser feita até o dia:
30 de NOVEMBRO de 2018, através da ficha de inscrição abaixo e o envio para o e-mail neidarocha@terra.com.br ou colocado na URNA no Parque Educativo Vila Encantada.

A título de premiação, a criança que tiver o nome escolhido no CONCURSO INFANTIL, receberá um final de semana em Pomerode com 1 noite de hospedagem, 2 refeições e ingressos para a vila para 2 adultos e 2 crianças.

A entrega do prêmio acontecerá em local e data a confirmar e a divulgação do resultado, com fotos da premiação constará do site: www.vilaencantada.com.br.

Cada criança poderá participar com quantas sugestões desejar, desde que seja feita uma ficha de inscrição para cada sugestão.

A escolha do nome será feita pela autora e dois representantes do PARQUE EDUCATIVO VILA ENCANTADA e levará em consideração a criatividade da criança.

A participação no IV CONCURSO INFANTIL: DÊ O NOME DO PERSONAGEM DO LIVRO “PEGADAS NA VILA” pressupõe a aceitação desse regulamento, por parte do concorrente, cedendo o ganhador, os direitos autorais e autorizando o uso de seu nome e de sua imagem no material de divulgação do resultado e inclusão do seu nome nos próximos livros da autora, sem ônus para a mesma, desde que autorizado por um responsável.

As fichas participantes e não premiadas serão incineradas.

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Para Conhecer o Parque Educativo Vila Encantada, Acesse o Site: www.vilaencantada.com.br
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FICHA DE INSCRIÇÃO

NOME DA PERSONAGEM
NOME DA CRIANÇA
DATA NASCIMENTO
ENDEREÇO
CIDADE/UF/CEP
E-MAIL
NOME RESPONSÁVEL
CPF RESPONSÁVEL
ASS. RESPONSÁVEL

Fonte:
email enviado por Neida Rocha

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Joaquim de Melo Freitas (Livro D’Ouro da Poesia Portuguesa vol. 5) V


BARCAROLA

«Corre, voa, borboleta, vai graciosa
Libar ondas de néctar delirante
A anêmona cingir, o lírio, a rosa
Com a asa fugitiva, coruscante.

«Vai sôfrega d'amor e sê ditosa.
Dá-se no céu um caso semelhante
Quando estrelas em noite vaporosa
Se abismam n'uma queda extravagante.

«Vai mariposa, a chama te fascina
Na aresta do ludibrio, como esfinge
Em deserto d'areia cristalina.»

Calam-se as vozes; picam-se as amarras;
A gôndola desliza e o mar atinge
Ao som dos bandolins e das guitarras.

BRIC-À-BRAC

O dono miserável da locanda
O “brocanteur” terrível, sanguinário
Agoniza n'um catre solitário
D'uma alcova minúscula, execranda.

Afinca as mãos convulso n'um rosário,
Ao céu a vida, súplice, demanda,
N'uma imagem de Cristo veneranda
Crava os olhos de abutre, de corsário.

Pois apesar das lágrimas-remorsos
Das vítimas do seu medonho trama
Ruins fantasmas de lívidos escorços.

Nos paroxismos vende, além da cama,
O Cristo a um judeu, e em vis esforços
A alma entrega a Satã, que lh'a reclama.

PAISAGEM

O sol adormecera no horizonte;
As nuvens em retalhos sonolentos,
Parecem nos bizarros tons cinzentos
O grupo despenhado de Phaetonte.

O riacho desliza ao pé do monte
Em frequentes e turgidos lamentos;
A philomela ensina o canto aos ventos
No chorão, que murmura junto á fonte.

A várzea rescende à laranjeira!
Da catedral nas frestas em ogiva
Um rancho d'andorinhas s'enfileira;

E nas trevas soluça a sombra esquiva
Do coveiro, que planta uma roseira
Onde jaz a venal filha adotiva.

"VAE VICTIS"

Rasga sacrílego a amplidão celeste
Um milhafre com azas pardacentas
E a cotovia harmoniosa investe
Armando as garras torpes e cruentas.

Negro como o letargo do cipreste,
Rosna o vento nas franças macilentas,
O sol dardeja n'um palor agreste
Que entusiasma as nuvens corpulentas.

A luz crua p'lo espaço se derrama,
Engrossam os trovões em alcateia,
Rutila do corisco a alegre flama.

A presa que o milhafre saboreia
É o emblema do fraco, o velho drama
Que o sistema do mundo patenteia.

EPISÓDIO BALNEAR

N'uma “soirée” heroica, ígnea e linda
Jurara o fulvo Arthur até à morte
Ser da formosa e pudibunda Olinda
Chumbando a ela p'ra sempre a sua sorte.

Por ela ao inferno iria, o mar ainda
Beberia d'um trago! Ela é seu norte,
Meiga estrela de lúcido transporte,
Palpitante de rubra graça infinda.

De manhã cedo a nossa "Julieta"
Desce nas crespas vagas a banhar-se
Mascarada n'um fato de baeta,

E quando grita prestes a afogar-se,
Chega "Romeu", exibe uma gorjeta,
Mas não vai lá, que teme constipar-se.

“REISCHOFFEN”
6 de Agosto de 1870.

Desfraldam-se estandartes e trombetas,
Ouve-se o crepitar da espingarda;
Quando o canhão rouqueja á retaguarda
Cintila a larga messe das baionetas.

As couraças protegem a vanguarda,
Dos capacetes pousam nas facetas
As crinas marciais, vermelhas, pretas,
Com expressão terrível e galharda.

Bonnemain determina a voz de carga:
Os estribos tilintam, fulge a espada,
Debalde a morte os esquadrões embarga.

N'esta luta ciclópica, gigante,
O exercito francês em retirada
Teve assomos d'heroísmo deslumbrante.

Fonte:
Joaquim de Melo Freitas. Garatujas. 
Aveiro/Portugal: Imprensa Commercial, 1883

Antonio Brás Constante (Engarrafamentos [sem álcool])


Quer conhecer um pedaço do inferno? É fácil (você nem precisa fazer um pacto com o “Tinhoso” para saber como é), basta sair com o seu automóvel e ficar preso em algum engarrafamento. Entramos nos engarrafamentos como alguém que entra em uma garrafa, pois os dois casos acabam sendo um porre. Diferentes de um drinque, que pode ser destilado, os engarrafamentos são amontoados de carros deste lado, daquele lado, de todos os lados. Você fica ali parado, preso naquele lugar por um longo tempo, sentindo-se como um vinho que fica em uma adega para ser envelhecido, porém, ao contrário do vinho, aquela situação não melhora os seus atributos ou lhe faz uma pessoa mais doce e especial; ao contrário, a única coisa que consegue é deixá-lo extremamente azedo.

Os engarrafamentos, assim como as bebidas, nos deixam em uma situação complicada aos olhos de nossos empregadores, que não gostam de funcionários cheirando a álcool, do mesmo modo que não gostam de funcionários chegando atrasados. Seu veículo acaba se transformando em uma garrafa de luxo (pois, novo ou velho, ele ainda custa uma bela grana), onde nesta metáfora você é o líquido ali aprisionado, molhado, suado e exalando o odor de sua própria transpiração. Louco para “vazar” dali. Se pudesse escolher, iria preferir virar um pouco de uísque em um copo para beber, em vez de ter que ficar literalmente “virando roda” na estrada.

Nessas horas, lembra da frase onde orientam: “se beber não dirija”, e fica pensando que o engarrafamento causa o mesmo efeito, pois o impede de dirigir, de seguir o seu caminho. Atrapalhando sua vida. Trazendo sentimentos de frustração, impaciência e raiva, que são servidos de forma seca para você. Sem direito sequer a umas pedrinhas de gelo e rodelas de limão.

Somos pequenas gotas humanas dentro dos engarrafamentos. Somadas a uma infinidade de outras gotas que se encontram na mesma situação que a nossa, esperando o trânsito fluir, para enfim seguirem suas vidas, e quem sabe acharem um rumo melhor para seus destinos do que aqueles reservados para as tais bebidas em nosso organismo.

Fonte:
Constante, Antonio Brás.  Hoje é o seu aniversário! “Prepare-se” : e outras histórias. 
Porto Alegre, RS : AGE, 2009.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Olivaldo Júnior (Com a mala cheia de livros*)


Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.
Clarice Lispector

Pelas ruas, com a mala cheia de livros, acho que pareço um fugitivo de minha própria vida, clandestina essência que me habita e me transmuta em ser. Sou o quê? Poeta, escritor, ensaísta? Não, acho que não sou nada disso. Mas, na instância de tentar fugir com a mala cheia de livros, me livro um pouco de mim, do eu que não tem gostado de ser eu. Eu, que me revisto de palavras, me disfarço com poesia, me refaço a cada letra e melodia, eu mesmo.

Ninguém sabe que, dentro da mala, do oco sem fundo, um mundo, moinho, gira e gera um novo mundo em si. A mala, cheia de livros, denota que um dia eu lerei o que ela contém. Ainda que tenha mais livros do que tempo para ler. “Mas quem quer mesmo sempre acha tempo para tudo...”, dirão alguns, talvez você. Mas careço de tempo. Aliás, não só de tempo, mas de um ser que o administre de forma a fazer meu dia caber em mim, em minha vida.

Abençoado pela mala cheia de livros, que os ganhei, meio que pedi, não vou para casa de pronto. Antes, vou à Oração, quem sabe, só pelo gosto de andar mais um pouco nas ruas com a mala nas mãos, como a exibir seu obscuro conteúdo por aí. Clarice escrevera: Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. Carrego, então, o peso da bênção esta noite nas mãos. Ninguém sabe que a mala está cheia de livros. Mas eu, meu ser, ele sabe.
____________________
Nota:
* Escrito ao som de Tocando em frente, canção de Almir Sater e Renato Teixeira, na voz de Maria Bethânia.

Fontes:
Texto enviado pelo autor 

Vivaldo Terres (Poemas Escolhidos) V


PRIMAVERA III

Primavera das estações és a mais bela,
Com teu olhar extremamente lindo,
Com teu sorriso, nunca esquecido,
Que nunca foi, e não será fingido.

Quando chega setembro...
Já começo a te esperar.
Pois sei que é nesse mês que voltas,
Voltas a nos encantar!
Não só com a beleza que trazes para a terra,
Como também a do mar.

Com teus jardins floridos,
Aqui ou, em outro lugar.
Ou mesmo com o teu perfume,
Começam a nos deslumbrar.
Mostrando que na verdade...
Igual a ti outra não há.

AMOR PROFUNDO

Quantas saudades
Que me fazem lembrar
Daquela que me disse:
- Eu te amo!
Nunca vou te ferir
Trazendo inseguranças e desenganos

Pois eu te amo
Com amor profundo
Meu coração por ti
Ele enlouquece
Minha alma então
Se enche de alegria
E de ti jamais esquece

Na verdade isso acontecia
Ela era todo carinho e ternura
Que alma doce
Ela possuía

Mas infelizmente aconteceu
O que nem eu nem ela preferiríamos
Numa noite ao amanhecer
Ela passou mal
E suas últimas palavras
Foram essas:
- Sei que vou partir
Mas onde estiver
Estarei sempre pensando em ti

CADA VEZ MAIS BONITA

Quando te vejo sorrindo,
Sinto-me realizado revigora.
Minh’ alma e o coração se agitam,
E passo a ver-te cada vez mais bonita.

Que prazer que alegria,
Quando te vejo contente.
A nossa casa que parecia sombria,
Volta a sorrir novamente.

Tudo porque voltaste, a ter felicidade.
Graças a Deus...
 Que essa infelicidade foi passageira.
Antes éramos infelizes,
E hoje somos felizes a semana inteira.

COM CERTEZA

Quando te vejo com esses olhos tristes,
Pois nascestes para ser feliz.
Porque sofrer por um amor distante!
 Que só te trás magoas e desilusões.

Esquece esse amor sem esperança,
Segue em frente sem desfalecer.
 Sempre buscando alternativas,
 E a vida te ajudará a esquecer.

Procura analisar teus sentimentos,
E verás que tens tudo que almejas...
Segue adiante pensando em Jesus,
Que cedo ou tarde a vitória virá...
Com certeza.

ETERNAMENTE APAIXONADO

Só tu que me fazes esquecer,
Aquele amor de outrora.
Faz tanto tempo,
Que isso passou.
Desde os tempos de escola.
Ela era linda apesar de adolescente,
Vivia alegre e sorria a toa.
Com seus olhos belos...
E sua tez bem clara.
Igual a ela,
Não conheci outra pessoa

Adolescentes iguais a mim.
Vivíamos encantados,
Todos nos queríamos.
Que ela nos desse um sorriso,
Um beijo ou qualquer...
Outro agrado.

Mas ela sempre,
Não nos dava esperanças.
Mesmo assim apesar de tudo,
Um dia que foi maravilhoso.
Ela não sorriu
Perguntou-me:
- Queres ser o meu namorado?
Desde aquele dia...
Eu me tornei eternamente apaixonado

Fonte:
Poemas enviados pelo poeta