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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Hermoclydes S. Franco (Algumas Trovas Esquecidas)


A vagar pela cidade,
Desde os tempos de menino,
Procuro a felicidade
Que mora além do destino!...

Ser mãe é trabalho insano
Que tal carinho irradia
E te faz, por todo o ano,
Ser a mãe de cada dia!

Foi tanta emoção sentida,
Foram mil sonhos sonhados,
Que atravessamos a vida
Como eternos namorados...

Para ser livre e ufano,
Ter poder, ser sempre um bravo,
Na verdade o ser humano
Da lei deve ser escravo...

Plangem sinos, é Natal,
Festa em nossos corações...
O Deus-Menino, imortal,
É o centro das emoções...

O fulgor da Estrela-Guia
Viu nascer em Nazaré:
Para o mundo, novo dia;
Para os homens, nova Fé!...

Um lençol verde de paz...
Um rio... Uma catarata...
Lindas flores... animais...
Sons do silêncio, eis a mata!... (Sem verbos)

Tu foste, na minha vida,
Tempestade que passou...
Neblina descolorida
Que alguma nuvem deixou!...

Versejando à luz difusa,
Se o sentimento me inspira,
Eu te elejo a doce musa
Que há de tanger minha lira!...

Nas mensagens de prazer,
Carteiro, nas tarde mansas,
Tens o condão de trazer
O renascer de esperanças...

Em privação de sentidos,
Em teus braços perfumados,
Sonhei sonhos não vividos...
Vivi sonhos não sonhados...

Abraça o tempo que corre,
Na rapidez em que avança,
Que um bom momento não morre,
Acaba sempre em lembrança!

Mãe! Flor de amor e bondade,
Nem precisa rima rica,
Na poesia de saudade
Da lembrança que nos fica!

Escondendo tal carinho
Em seu semblante sisudo,
Meu PAI me pôs no caminho
Preparado para tudo!...

Não julgues a alheia sorte
Pelo brilho do brasão:
A luz que brilha mais forte
Tem mais curta duração...

MEMÓRIA... Forja de sonhos,
Arquivo de sentimentos,
Relicário onde os tristonhos
Escondem seus bons momentos...

Noite de Paz e de Amor!
Noite de sonho e de luz...
Veio ao mundo o Salvador,
O Deus-Menino, Jesus!...

A tempestade aparente
Do teu gênio, por magia,
Transformou-se de repente,
Ao meu beijo, em calmaria!

Terminado o encantamento,
Só restou a indiferença
De um calado sofrimento
Marcando sempre presença!

Minha fé a grande força
Que trago desde criança,
Não deixa que a vida torça
O meu rumo de esperança

Não tive coragem, creia,
De fugir nesta revolta...
Por isso é que, volta e meia,
Vivo dando a meia-volta!...

Na luta pela conquista
Do melhor que a via encerra,
Sou um simples pacifista:
“Faço o amor, não faço a guerra”.

A emoção é bailarina,
Num palco azul de ilusões...
Se Deus a fez feminina,
Tinha lá Suas razões.

Com efeitos especiais,
Meus sonhos mostram, em tela,
Os teus encantos reais
Na mais bonita aquarela!...

A inspiração é uma fada,
Com varinha de condão...
Quando toca a musa, amada,
Há poesia em profusão!...

Pelo teu corpo, em viagens
De sonhos e encantamentos,
Minhas mãos passam mensagens
De indescritíveis momentos...

Trago tantas emoções
Nas minhas canções serenas
Que, quando canto as canções,
Vivo de emoções, apenas!...

Para espantar minha dor,
Eu passo a vida a cantar,
Sabendo que mal de amor
Ninguém consegue espantar...

Lobo máu, o vento, ao léu,
Se transforma em furacão
Ao ver, nas nuvens do céu,
Carneirinhos de algodão!...

A vida é a fada-madrinha
Que, ao ver nosso intenso flerte,
Deu-me, em toque de varinha,
O prazer de conhecer-te!

Aquele que a paz expande
Tem a luz, bem definida,
Que se transforma no grande
Prazer de viver a vida!

Na vida, estrada de sonhos,
Conheci divinos seres
Que me ensinaram, risonhos,
Segredos de mil prazeres!...

Vem amor, morar comigo,
Que eu te mostro o que é viver
E, em longa noite contigo,
Eu te ensino o que é prazer...

O triste da caminhada,
Na longa estrada da vida,
É ver a fome estampada
Em tanta gente excluída!

Nossas sombras, abraçadas,
Sob a luz do luar risonho,
Atravessam madrugadas
Em busca do mesmo sonho!

Seria o grande momento,
Para toda a humanidade,
Se o bom Deus mandasse o vento
Varrer do mundo a maldade...

Não há sonho mais bonito
Nem mentira mais falaz
Do que o amor infinito
Que a vida jamais nos traz!

Teu amor é o suave açoite
Que eu desejo, em calmaria:
Como o dia busca a noite...
Como a noite busca o dia!

No meu sonho, em bela imagem,
Neste meu destino incerto,
Seu recado foi miragem
E apagou-se em meu deserto!...

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Apollo Taborda França (Trovas da Amizade)


AMÁLIA MAX, sublime,
Tem amor à causa nossa...
E na trova bem exprime,
O valor de Ponta Grossa!

(para Argentina de Mello e Silva)
ARGENTINA, poetisa,
Na trova grande demais...
Muito suave, qual a brisa,
Acalenta os seus florais!

Professor ATHOS VELLOZO,
Requintado estilista...
Vive sempre em áureo gozo,
No seu mundo de jurista!

AURORA CURY se empenha
No mister de bem compor...
Seus versos, uma resenha,
De jardim cheio de flor!

AZOR CRUZ, de naipe régio,
Também, médico-escritor...
Sua vida, florilégio,
Alça vôos de condor!

(para Eleonora Brasil Pompeu)
ELEONORA é na trova,
O tino, facilidade...
Assim certo, ela prova
Ser “Poetisa da Cidade”!

(para Emílio de Mattos Sounis)
SOUNIS médico e poeta,
De envolvente inspiração...
Sua trova, bem seleta,
Sempre fala ao coração!

O FRANCISCO FILIPAK
É um mestre de nomeada...
No idioma um destaque,
No soneto uma florada!

HARLEY CLOVIS STOCCHERO
Já surgiu para brilhar....
Põe nos versos bom tempero,
Num estilo peculiar!

É HELENA KOLODY
Notável na poesia...
A grandeza está aí,
No seu verso que extasia!

HILDA KOLLER é de Castro,
Um rincão do Paraná...
Na poesia, rico lastro,
Que se iguale, lá não há!

(para Ladislau Romanowski)
ROMANOWSKI, um artista
De charme bem popular...
Mostra-se puro humanista
E escritor muito exemplar.

(para Lia Sachs Iankilewich)
LIA SACHS, poetisa,
Vai “Dissecando a Agonia”...
Seu cantar é suave brisa,
Exuberante eufonia!

LOURDES STROZZI, que musa,
Ela própria a inspiração...
Sua trova é conclusa,
Nota dez, com distinção!

MOYSÉS PACIORNIK pensa,
Escreve, fluentemente...
Fala suave, jeito leve,
Mas, seu estro uma torrente!

(para Nair Cravo Westphalen)
NAIR CRAVO, que poeta,
Em “soneto” foi premiada...
Tem espírito de asceta
E muita luz na jornada!

O NELSON que é SALDANHA
E se aureola D`OLIVEIRA...
É de inspiração tamanha,
Que na trova faz carreira!

WOCZIKOSKI, nosso ORLANDO,
Tem vigor, alacridade...
Trovador que, burilando,
Se engrandece na “saudade”!

TÚLIO VARGAS vai na História,
Onde encontra seus motivos...
Garimpeiro da memória,
Tão valiosos seus arquivos!

É UBIRATAN LUSTOSA
Radialista consagrado...
Se realiza bem na prosa,
“Nosso Encontro” vem premiado!

(ao Vasco José Taborda)
O VASCO, nobre poeta,
Líder da fraternidade...
Tem a luz de grande esteta,
Onde vai prega amizade!

A ZÉLIA SIMEÁO POPLADE
Mostrou cedo a vocação...
Tem seu verso majestade,
Suavidade e erudição!

Fonte:
FRANÇA, Apollo Taborda. 100 Trovas da Amizade. Curitiba: Formigueiro, 1985.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Carlos Guimarães (Trovas Humoristicas: Cantigas para Sorrir)


Para mim mesmo enganar
e das tristezas fugir,
eu passo a vida a cantar
CANTIGAS PARA SORRIR.

Ao vê-la na igreja entrar,
bamboleante, os braços nus,
Santo Antônio, em seu altar,
cobre os olhos de Jesus!

Ao vê-lo descer inerme,
em meio a tanto aparato,
disse um verme a um outro verme
- Vou comprar bicarbonato...

"Aqui Jaz Zé das Boêmias".
E os vermes, por precaução,
não permitiram que as fêmeas
visitassem-lhe, o caixão...

A minha sogra é uma bola
e meu sogro já dizia:
- Dorme até sem camisola,
pra fazer economia.

Ante o desquite, maroto,
segreda o primo da Berta:
- Velho casado com "broto",
tem que "dar galho", na certa.

Ao ver a loura passar,
diz um luso muito vivo:
- Espero ainda encontrar
esse "troço" em negativo.

Até parece pilhéria,
ouvir, de certa pessoa,
a informação de que és séria,
só porque não ris à toa...

Ao meu sogro, ninguém logra
vencer em azar, ninguém,
pois atura a minha sogra
e a sogra dele, também.

Ao vê-la cheia de graça,
vizinhas contam piadas,
mas, se é o marido quem passa,
há explosões de gargalhadas.

A confusão foi tamanha...
Móveis quebrados... Berreiro,,,
É que a sogra do Saldanha
baixou naquele terreiro.

A minha comadre Clara
está bonita e feliz:
gastou os olhos da cara,
mas consertou o nariz.

"A coisa está toda errada"
- diz o pescador Romão -
"No mar, peixinhos de nada,
na praia, cada peixão!"

Ao vê-Ia, na cova, inerme,
roliça qual um presunto,
segreda um verme a outro verme:
- que abundância de defunto!

Aqui Jaz o Godofredo,
porque o vizinho, avisado,
chegou um pouco mais cedo
do que havia combinado.

Boa de bola e aguerrida,
chutando bem, a Lalá
é sempre muito aplaudida,
nas cabeçadas que dá.

Boa mulata, a Anacleta
diz por piada, talvez,
que, apesar de analfabeta,
conhece bem português.

Cheque sem fundos, o Meira
recebeu naquele dia:
- Vendendo uma geladeira,
o coitado "entrou em fria"

Caro doutor, saiba disso:
se esse transplante malogra,
eu pago em dobro o serviço,
que a coroa é minha sogra.

Com todo o senso de artista
e, apesar de todo o zelo,
não sou bom filatelista,
no entanto, procuro "sê-lo"

Com pode, Madalena,
nem sei como acreditar,
pílula assim tão pequena
nosso segredo guardar...

Casou-se o pobre Peçanha,
com mulher feia e sem graça:
Para quem não tem champanha,
vale um trago de cachaça...

Com dimensão reduzida
- duas pecinhas à toa -
o teu biquíni, querida,
guarda tanta mim boa!

Cão de marujo, também,
por mais perigos que arroste,
imita o seu dono e tem
um amor em cada poste.

Comprou, na Agência Postal,
o menor selo que havia,
deu-lhe um jeito de avental
e eis a tanga de Maria !

Começou mal a semana
o beberrão azarado:
abusou tanto da cana,
que acabou sendo "encanado".

De fazenda é tão escasso
o biquíni da Julieta,
que até não sobrou espaço
pra colocar a etiqueta...

Diz a mulata Maria,
sem explicar a razão
que o luso da padaria
é pão vendendo outro pão....

Do amor fervorosa crente,
a mulher do seu Tomás,
sendo uma cara pra frente,
vive a passá-lo pra trás...

Dentro do meu coração,
na minha radiografia,
o doutor - que indiscrição! -
viu tua fotografia!

Do espelho da tua sala,
procura o exemplo seguir:
ele reflete e não fala,
tu falas sem refletir...

Da ingente lida cansada,
velha cegonha matreira,
hoje, vive, aposentada,
a assustar moça solteira.

Deu-me tanta bola a Berta,
com sorrisos e olhar doce,
que eu fui em frente na certa:
aí, a Berta trancou-se !

Diz que detesta covarde
e odeia os homens pecatos;
da coragem, faz alarde
e, em casa, é quem lava os pratos...

Deixei minha namorada,
numa agonia tremenda:
escondi, na mão fechada,
o seu biquíni de renda.

Bebeu tanto o Zé Bolacha,
ao regressar da viagem,
que pagou em dobro a taxa
por excesso de bagagem.

Declara, em meio à homenagem,
o astronauta, herói da Nasa
- Prova mesmo de coragem
vou dar voltando pra casa!

Datilógrafa, a Maria
é "boa" como ninguém:
mesmo em datilografia,
tem seus méritos, também.

Da gravata à borboleta,
que eu usei esta semana,
a minha prima, Julieta,
fez um biquíni bacana.

Ela vive no oculista
e ele é motivo de troça,
pois se ela trata, da vista,
ele faz a vista grossa...

Eis um conceito maroto,
que aos quatro cantos espalho:
se todo o galho foi broto,
nem todo o "broto" "dá galho".

Ela é séria e não dá bola,
chega a ser ultrapassada...
Com tantas curvas, Carola,
afinal, é tão quadrada...

Estendido sobre a cama,
na brancura do lençol,
que saudades meu pijama
sente do teu "baby-doll"!

Explica a mulher a alguém,
que seu marido é pintor:
é por isso, que ela tem
um filho de cada cor...

Eu tenho quatro vizinhas
- que santas meninas são! -
à sua porta, às tardinhas,
há homens em procissão...

Entra um branca gelada
e uma preta bem quentinha,
topo as duas, camarada:
- não perco uma cervejinha.

Em perfeita comunhão,
na vila de Santarém,
a mulher do sacristão
ajuda ao padre, também.

Explica cheia de sestro,
que não engana a ninguém:
sendo mulher de maestro,
faz seus "arranjos", também.

Entra a esposa bem idosa
e uma "gatinha" assanhada,
o macumbeiro Barbosa
vive numa encruzilhada.

Imploraste a Santo Antônio
um casamento, Maria:
deu-te o santo o matrimônio
mas fui eu que "entrou em fria"...

Já pronto para o transplante,
pergunta, aflito, o ancião:
- Fico em forma, doutor Dante,
só trocando o coração?

Jogador inveterado,
morre o amigo Zé do Taco...
Vai entrar, pobre coitado,
no seu último buraco...

Se meus apelos comovem
ao senhor, eu peço, então,
que transplante um corpo jovem,
no meu velho coração...

Maria, ao jogar "pelada",
me dá bola a tarde inteira
e porque joga avançada,
terminamos na "banheira"...

Minha sogra sempre anota
meus atrasos num caderno:
se essa "coroa" empacota,
vai ser porteira do inferno...

Maria, a minha Maria,
põe nos beijos tal calor,
que a noite pode ser fria
e eu não uso cobertor...

Morre a sogra e, comovido
o meu compadre Tomás,
na coroa, distraído,
escreveu: "Descanso em paz"!

Meu amigo, Zé da Mota,
fala mal da sogra à toa,
pois eu conheço a velhota
e ela até que é muito boa!

Morreu lutando, e aqui jaz
Chico Bomba, o corajoso...
E esse epitáfio, quem faz
é o seu primo: o Zé Medroso...

Meu gato sumiu e o fato
deixa a gata tiririca,
lamentando, sempre, o gato,
ao ouvir certa cuíca.

Muito embora não se esgote
todo assunto que é você,
pelo V do seu decote
quanta coisa a gente vê!

Mulata boa, essa Helena,
que afirma ser tua prima...
Sempre que passa, me acena
de polegar para cima.

Namorei a Margarida,
mas como me deu trabalho!
Nunca vi, na minha vida,
um broto dar tanto galho...

Não fez o menor sarilho
meu amigo Vivaldino
e deu, ao décimo filho,
o nome de PILULINO...

Não vende móveis, Maria,
mas, segundo as faladeiras,
atrai boa freguesia
com seu "jogo de cadeiras"

Na bebida, a minha mágoa
procuro ver afogada...
Já me chamam de pau-d'água,
mas, a minha mágoa... nada...

No banheiro, de surpresa,
ao entrar, reparo bem,
que até no banho, Teresa
é enxuta como ninguém.

Num biquíni diferente,
pôs fogo na praia inteira,
ao desfilar imponente,
só de peruca e piteira...

O que eu desejo, sem pressa,
consigo sempre, Maria...
Hoje, me dás, sem que eu peça,
o que me negaste um dia...

O rapaz tanto bebia,
que, um mês depois de enterrado,
nenhum verme conseguia
fazer "quatro", nem deitado...

O Machado é grande amigo,
que eu tenho, sempre, ao meu lado:
qualquer problema comigo,
quem "quebra o galho" é o Machado.

Pão duro a mais não poder,
o meu compadre Zulmiro,
em vez de dar, quis vender
o seu último suspiro.

Por mera superstição
Zé Cachaça explica bem:
Bebe antes da refeição,
durante e depois, também.

Pelo olhar de antipatia,
que o vigário me lançou,
estou certo que Maria,
de manhã se confessou.

Perdão, Senhor, mas não posso
resistir à tentação
de, ao rezar o Padre-Nosso,
pedir manteiga no pão.

Pensam que caí num logro,
mas, aviso a quem quiser
- pelo dinheiro do sogro,
aturo sogra e mulher.

Porque a mulher é de morte,
estranha o compadre Osmar,
que o chamemos de "consorte",
se ele viva é "com azar".

Porque a mulher do goleiro,
jogando um tanto avançada,
me deu bola o dia inteiro,
entrei, também, na pelada....

Para casar, o Joaquim
tornou bruta carraspana:
Esse cara só diz "sim",
com a cara cheia de "cana".

Para evitar confusão,
afirma, sempre o Ramalho,
que não tem superstição:
tem alergia ao trabalho...

Por bigamia, garanto,
castigo do céu não logras:
deve ter honras de santo,
quem aturou duas sogras...

Pões tal feitiço na ginga,
que, ao sambar, eu me atrapalho:
és tu, mulata, o o coringa,
que faltava em meu baralho

Quando eu morrer, a mulher
em apuros, que não fique:
se na cova eu não couber,
que me enterre no alambique...

Quando ela passa, divina,
penso ao ver-lhe a majestade:
- Ah! Se eu pudesse, menina,
dividir por dois a idade! ...

Quando bebo mais um pouco,
uma coisa me maltrata
e me deixa quase louco:
- é ver sogra em duplicata...

Quando ouviu o Pai-de-Santo
falar, em "trabalho", o Augusto
que é folgado, tremeu tanto
e quase morreu de susto...

Quando minha sogra entrou
no inferno, em grande escarcéu,
o Demônio se assustou
e se mandou para o Céu.

Soldador de profissão,
vive a soldar Zé Trancado
e a mulher, por distração,
vai namorando um "soldado".

Superstição esquisita
essa que tem Dona Aurora,
pois só recebe visita,
quando o marido está fora.

Se a vida tem algo errado,
a própria vida conserta;
vejam só: o Zé Trancado,
ontem, casou-se com a Berta.

Tem tanto medo da bronca
da mulher, o meu vizinho,
que até mesmo quando ronca,
o seu ronco sai fininho.

"Tenho coragem" dizia
e provou do que é capaz,
ao correr naquele dia
com o marido "dela" atrás.

Tem, o Zé, vida apertada
e a má sorte a castigá-lo:
se a mulher dá cabeçada,
é nele que nasce o galo...

Tanto mente o Zé Patranha,
faz tanto rolo e trapaça,
que se estoura uma champanha,
há quem jure que é cachaça.

Trazendo a Prudência ao lado,
eu demonstro inteligência,
pois viajo sossegado,
se dirijo com "prudência" .....

Vem Maria, ao meu amor,
que, com jeito, a gente arranja
botar no congelador
tuas flores de laranja.

Vive o Domingos feliz
sem o trabalho enfrentar,
que os "domingos" - ele diz -
são feitos pra descansar.

Voltou de cesta vazia,
pois não pescou nada, nada...
Mas, foi nessa pescaria,
que Benvinda foi pescada...

Vem gente de todo o lado,
ver minha prima Janete,
num "triquini" muito ousado:
chapéu, sandália e chiclete...
========

Fonte:
União Brasileira dos Trovadores/Juiz de Fora

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Héron Patrício (Baú de Trovas)


Eu me recuso, tristeza,
a conviver com teu mundo:
- Vida que tem correnteza
não cria lodo no fundo!

Antes um "não " que amargura:
antes um "não" que maltrata,
do que a terrível tortura
do teu silêncio - que mata!

Mesmo sem assinatura,
o bilhete me revela
tanta meiguice e ternura
que eu sei que o bilhete é dela!

Ao criar seu falso drama
o pessimista parece
aranha que tece a trama
e se enreda no que tece!

Fim de amor, sonhos extintos...
Mas a saudade é radar
que atravessa labirintos
e consegue me encontrar!

Se contra tudo ele existe,
entre segredos e esperas,
nosso romance persiste
na volúpia das Quimeras!...

Quando passas ao meu lado,
te acompanha o meu desejo...
- Se a volúpia for pecado,
eu peco quando te vejo!

Nos caminhos do Universo,
eu sou catador de estrelas
e jogo o laço do verso
na esperança de prendê-las.

Trovador, longe da infância,
contando as horas da idade,
rima tempo com distância
e distância com saudade!

Meu salário teve, agora,
um aumento "cavalar"...
já me botaram espora
e aprendi a relinchar!

Uma lágrima, nascendo,
tem a trágica beleza
de gota de luz contendo
toda a essência da tristeza.

Infiéis os meus cabelos!
saudoso o careca chora...
"Dei carinho... tive zelos
mas foram todos embora!"

Ligo o rádio ... Enquanto o sono
entorpece os meu sentidos,
em carícias de abandono
vibra a Rádio em meus ouvidos

A tristeza é uma senhora,
minha velha conhecida,
que me rouba a luz da aurora
e põe noite em minha vida!

Somente para agradar-te
e não ficares sozinha,
a minha alma se reparte
e é mais tua do que minha!

Nó na vida?... - Não me abalo,
desfazê-lo não me cansa,
pois consigo desatá-lo
com dois dedos de esperança!

Uma estrela, no infinito,
é recado que os ateus
recebem, com luz escrito,
sobre a existência de Deus!

Tempo é moinho rangendo
aos ventos da eternidade,
trigais de sonhos moendo
para o meu pão de saudade!

Pela ofensa que machuca,
por mais que me queime e doa,
se meu sangue diz - "Retruca!",
a minha alma diz "Perdoa..."

Com remorsos na bagagem
ou rancor no coração,
briga de amor é viagem
rumo ao Cais da Solidão!

Ao sentir que a solidão
vai comigo, em meu caminho,
tenho a estranha sensação
de que nunca estou sozinho!

Quando a folhagem fenece,
cobrindo o verde de luto,
o outono, em troca, oferece
a recompensa do fruto.

No jardim, junto ao meu quarto,
o silêncio é tão profundo
que se pode ouvir o parto
das rosas chegando ao mundo!

O poeta é um ser aflito,
um eterno insatisfeito,
por ter um mundo infinito
no exíguo espaço do peito!

A neblina, em dias frescos,
descendo em vales sombrios,
aos poucos tece arabescos,
nas brancas margens dos rios...

Fim de amor, sonhos extintos,
mas a saudade é radar
que atravessa labirintos
e consegue me encontrar!

Eu não contei tuas idas
nem minhas voltas confesso..
O que marcou nossas vidas
foi nosso eterno regresso !

Nossos momentos de amor
temos, os dois, que guardá-los;
- No teu palco sou ator
somente nos intervalos...

Fim de chuva.. e a lua cheia,
que no espaço azul flutua
põe diamantes na bateia
da poça d'água da rua!"

Quando eu partir... quem me dera,
rompendo o infinito afora,
encontrar em outra esfera
meu Pouso Alegre de outrora.
---------------
Fonte:
UBT/Juiz de Fora

domingo, 7 de junho de 2009

Nilton Manoel (Constelação de Trovas)



1
Quem tem vida vive atento
pêlos caminhos que enfrenta;
brinda as farpas do momento
com chocolate e pimenta.

2
O chifre em terra rachada
em bucolismo infernal,
é o adorno que traça a estrada
da carência de água e sal.

3
Florestas? - Quero espigões!
e a fauna toda enjaulada!
... e a moda de altos portões,
esconde a noite estrelada.

4
Depois dos cinqüenta, creio,
tudo é lucro e coerência;
homem que não faz rodeio,
sabe o que vale a existência.

5
Homem é o que sabe ser
companheiro, amigo e irmão;
Quem preza o Bem, sabe ter
da vida toda a emoção.

6
Meu pai, exemplo perfeito
de luta e vitalidade;
ao partir, por ser direito,
deixou sincera saudade.

7
Quando o homem é Homem não chora,
enfrenta as farpas da vida,
vence a fauna hostil com a flora
tornando a estrada florida.

8
O amante da Filomena,
se encontra o ex-marido dela,
treme tanto de dar pena...
e geme sem dor com ela!

9
Solteiro? - Querida! Ó vida
de prazeres... sonhos tantos!
Casados? ? Os nós da lida,
cegam os reais encantos!?

10
No lirismo de meu povo
sonho e tenho sempre fé
que num dia de sol novo
será plena a paz.. de pé!

11
Enfim dono dos saberes
da vida, em música e dança,
concluo que, o fim dos seres
é o limite da esperança.

12
Corre-se tanto, mas tanto,
pelo pódio e sua glória
que, o enfim é o fúnebre pranto,
de um troféu ao fim da história!

13
Quando há morte programada
pelos quadrantes da terra,
homens que não valem nada
sentem paz plantando guerra.

14
Cavalgando sem rodeios
por galáxias estreladas,
o poeta, em seus anseios
tece trovas requintadas.
======

sábado, 27 de setembro de 2008

Silmar Bohrer (Trovas)

A vida anda tão restrita,
tão restrita anda a vida
e eu ainda busco guarida
nesta senhora mal-dita.

Escreveu o romancista,
"o homem, poliedro imenso",
milhares de faces a vista
que não chegam ao consenso.

Fazemos versos "a revirias"
eu e o escriba bissexto,
versejando todos os dias
até praticamos incesto.

Ando à procura no mundo
do veio dos ventos uivantes,
aqueles mesmo, ventantes,
os tais ventos giramundo.

Estou com os livros - meu mundo,
embrenhado na biblioteca,
onde o silêncio é profundo
e o grito é baixinho - heureca !

Mesmo atrelado aos tais
ditames da pura Razão
não renunciarei jamais
às doçuras do coração.

Caneta, a pecinha realeza
que pereniza meus versos,
captando comigo a sutileza
na lonjura dos universos.

Tenho tido gostado de ser
assim como tenho sido,
um ser que se passa esquecido
desde a manhã ao anoitecer.

Haverá melhor gostosura
nestes tempos setembrinos
do que os ares assobiolinos
que deixaram a clausura ?

A nuvenzinha no céu
parece não ter intentos
vai graciosa pra dedéu
invadindo os pensamentos

Sendo louco pela vida
minhas idéias se consomem
quando vejo tanta ferida
exposta pelo bicho-homem
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sábado, 16 de agosto de 2008

Como "não se deve" fazer trovas

(o bom humor é meu, a interpretação é sua)

Muitos especialistas na matéria vivem ensinando como fazer trovas, orientando-se, é claro, pelos princípios básicos da UBT.

Pois hoje eu quero ensinar-lhe "como não se deve fazer trovas". E garanto-lhe, de antemão, que é muito mais fácil e, de quebra, com toda certeza irá lhe render muitos troféus na estante. Se amanhã ninguém se lembrar de alguma trova sua, o que importa? Ali estarão seus troféus, como testemunhas palpáveis e permanentes de suas conquistas.

Bom, comecemos pelas "lírico/filosóficas". Independente de qual seja o tema, sua trova deve conter a palavra "saudade". Em torno dela tente compor as demais 25 ou 26 sílabas poéticas que irão coroar sua obra de arte. E tente ser o mais convincente possível. Porque se o julgador perceber que você está "forçando a barra", isso poderá lhe ocasionar uma desclassificação, o que seria lamentável para suas pretensões. Se ainda assim tiver dúvidas, pegue qualquer livro de resultados e dê uma geral. Você irá se surpreender com a lógica destas afirmações...

O termo que concorre quase em plano de igualdade com "saudade" é "sonho". Use e abuse do seu direito de sonhar. Também não corre risco de despencar no IBOPE. Caso queira variar, então você pode utilizar "solidão", "esperança", "tristeza" (eu conheço uma certa "a tristeza que me invade" que é recordista em galardões!)... Mas faça sempre uma referência, mesmo que de forma velada, ao "amor", que é o carro-chefe de toda a guarnição. Mas "desamor" também é bom. Para concluir, veja se ficou parecida com alguma trova famosa que você já conhece. Se ficou, melhor ainda: o sucesso está garantido!

E resta ainda a alternativa das frases, que podem ser provérbios ou mesmo citações bíblicas e filosóficas. Não vá se distrair e colocar o nome do verdadeiro autor, porque esse descuido também gera desclassificação. Para todos os efeitos é uma criação sua. Muito bem, passemos agora às trovas humorísticas. Continua valendo o exemplo anterior: independente do tema, seu único trabalho será escolher um personagem: "vizinho" tem boa cotação; "português" também é ótimo aperitivo mas o alvo preferido (porque o retorno é garantido) é "sogra". Fora isso tem "amante", "corno", viúva", "gordo"... Porém o que nos últimos anos vem fazendo um estrondoso sucesso, com efeitos "magníficos", é adaptar piadas do anedotário, transformando-as em trovas. Digo e explico: a maioria das pessoas encarregadas de votar não costuma ler almanaques de piadas e também não sabe que os princípios básicos que regem a UBT recomendam que se evite essa tática. Isso virou "uma mina de ouro". Pode fazer, que dá certo. Ultimamente até aquelas piadas mais manjadas estão sendo aproveitadas. Como se diz na minha terra: é "mamão com açúcar"!

Agora, um último recurso: se mesmo assim, depois de esgotadas todas as tentativas, você continuar na galeria dos que nunca conseguem perfilar entre os laureados, só resta uma saída: pegue aquelas trovas com as quais você premiou há muito tempo atrás, lembra-se? Dê uma boa requentada nelas ou então troque apenas umas palavras, incluindo a palavra-tema (tem gente que não troca nada mas é muito arriscado) e pronto: ei-lo de volta ao pódio. Com o mesmo glamour de outrora.

Não se preocupe, já sei o que você quer me perguntar: é claro que várias pessoas irão perceber o que está acontecendo mas ficarão com pena de você e apenas farão aquela familiar expressão de "não vi nada, não sei de nada", "tô nem aí", etc. E você continuará sendo amado e festejado. E desta vez também será aplaudido. Chega de aplaudir, somente.

Não me agradeça, por favor, se ocorrer essa mudança em sua vida trovadoresca. Afinal, "se não vivemos para servir, não servimos para viver". OBS: essa frase é minha, mas pode encaixá-la numa trova, se assim o desejar.

E, encerrando, há as trovas religiosas: mesmo que você não creia em Deus, use-o em seus trabalhos, porque a comissão julgadora crê, e irá levar muito a sério as suas palavras. Quando você morrer, e for por Deus cobrado, diga que "foi só uma brincadeirinha, magina"! Que você não tinha intenção!...

Fonte:
Portal Movimento das Artes
http://www.movimentodasartes.com.br/trovador/pop_081/080420a.htm

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A. A. de Assis (Estudar é Preciso)

O poeta nasce feito?...Quase. Nasce com uma competência natural, o que geralmente chamamos "dom". Esse "dom" distingue-o como uma pessoa especial, criativa, capaz de utilizar a palavra como matéria-prima da arte. O poeta precisa, entretanto, ajudar a natureza, complementando o "dom" com as ferramentas proporcionadas pelo estudo e pelo treinamento. O estudo lhe fornece a indispensável bagagem cultural; o treinamento lhe permite aprimorar a técnica. Isso siginifica que ninguém fará poesia de boa qualidade sem que se empenhe num constante e diciplinado exercício de aprendizagem.

Consulta freqüente a bons manuais de linguagem e de versificação, leitura de livros e mais livros de poemas (principalmente livros e mais livros de Trovas); aprofundamento na história da literatura; participação em oficinas, seminários, congressos, concursos, festas literárias, etc; permanente troca de idéias com outros poetas, sobretudo produção intensa de poesia. Porque o poeta ou se entrega para valer, e apaixonadamente, à sua arte, ou jamais passará de um fazedor de versinhos. Toda arte exige dedicação. A poesia mais do que qualquer outra, e mais ainda a poesia na modalidade Trova. Muito estudo. Treinamento incessante. "Dom", cultura e técnica somados.

Se você aceita o desafio, parabéns para todos nós, candidatos que somos a leitores dos seus belos versos.

Fonte:
Boletim Nacional da União Brasileira dos Trovadores
Agosto 2008 - numero 481. p.1.

sábado, 9 de agosto de 2008

J. G. de Araujo Jorge (Trovas)

Sejam felizes ou não
Cantando instantes diversos,
As trovas do coração,
são trevos de quatro versos.

Rico eu sou, mesmo sem ouro
E da riqueza, dou provas,
- eis aqui o meu tesouro:
Minha sacola de trovas.

Tão simples, as trovas são
Cantigas com que a alma expande
Tudo o que há no coração
Do poeta - um menino Grande.

Meu terço feito de trovas
Que em versos fico a compor,
Com ele rezo, e dou provas
Do meu culto ao teu amor!

Ciúme

"Dosado", o ciúme é tempero
que à afeição da mais sabor...
Mas, levado ao exagero,
é o pior veneno do amor...

Cão de guarda, ameaçador,
a rosnar, furioso e cego
eis afinal, meu amor,
este ciúme que carrego...

Do amor e da desconfiança
infeliz casal sem lar,
nasceu o ciúme, - essa criança
tão difícil de educar...

Perigoso, onipotente,
verdadeiro ditador...
o ciúme é um cego, doente,
ou um doente, cego de amor?

Eis como o ciúme defino:
mal que faz mal sem alarde
corte de alma, muito fino,
que não se vê... mas como arde!

O ciúme, desajustado,
por louco amor concebido,
era uma amante, (coitado)
a padecer... de marido!"

Solidão

Por certo a pior solidão
É aquela que a gente sente
Sem ninguém no coração...
No meio de muita gente...

Praias longe, em solidão
Fora de todas as rotas,
Tal como o meu coração
Só como o sonho... das gaivotas...

A Vida
-
Gota d'água transparente
que brilha, cresce...e que cai!
Assim a vida da gente
que num instante se vai!

A Vida, - mistério vão
sombra agora, depois luz,
- estranho traço de união
ligando um berço... a uma cuz!

A Vida - uma onda que avança
e volta, vai-vem do mar...
Quando vai, quanta esperança!
Quanta amargura, ao voltar!

A Vida - visão fugaz,
praia chã, mar que alteia,
onda que faz e desfaz
os seus cabelos de areia...

A Vida - ansiosa escalada
sobre a paisagem do mundo
Tanto esforço para nada
se há sempre abismo no fundo!

Às vezes penso que a vida
que há tanta gente a querer
só existe, - indefinida -
pra gente poder morrer...

Ó pobre vida suicida!
Teu destino é uma ironia
se o que chamamos de vida
é um morrer de cada dia!

Numa amizade perdida,
num amor que se desgraça,
a morte desconta a vida
a cada dia que passa!

Há uma ironia, contida
nas contigências da sorte:
- quanto mais se vive a vida
mais se avança para a morte.

Vive a vida bem vivida
e ao mais, esquece e revela,
que a gente leva da vida
a vida que a gente leva...
( JG. de Araujo Jorge do livro "Trevo de Quatro Versos" 1a ed. 1964 )

Fonte:
http://www.jgaraujo.com.br/