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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

JB Xavier (A. A. de Assis, Um Amigo Para Todas as Horas)

Assis, retrato por Jaime Pina

Algumas pessoas vivem do estardalhaço e com ele buscam sua auto-afirmação; outras, alimentam-se do silêncio e dele se originam suas forças. É o caso de A. A. de Assis.

Assis pertence à classe de pessoas especiais, em cuja proximidade todos desejam estar, porque emana dele tal mansuetude, que o universo se apazigua ao seu redor.

De Antonio Augusto de Assis vem a placidez do recolhimento e a contemplação parece orientar seus gestos e palavras, mesmo em seus momentos de maior descontração.

Como diz Olga Agulhon, no livro ‘Vida, Verso e prosa’ de autoria do homenageado: ‘‘Conviver com A. A. de Assis é verdadeiramente uma bênção. Ele vive plenamente e emana dele tantas boas energias que todos ao seu redor também se transformam e querem com ele aprender.’’

Viver plenamente: talvez esteja aí o segredo dos sábios. Sapiência não é acúmulo de conhecimentos, embora a atenção à experiência costume levar a ela, tampouco é a presunção do saber, porque esta afasta a humildade, que é o primeiro requisito do sábio. Paradoxalmente, sapiência é a consciência do não saber, é a compreensão vívida das próprias limitações.

Neste sentido A. A. de Assis é sábio, porque nunca o vi alardear saber. Pelo contrário, sempre que o encontrei nas muitas festas da UBT nas quais tive o prazer de sua companhia, sempre o vi observando, mais que falando, e isto, se não é a sapiência, é, pelo menos, uma das veredas do caminho que leva a ela.

Em outro trecho, Agulhon diz: ‘’O homem poeta - de alma ou expressão -
não é como um homem qualquer, que se deixa levar pela correria quase automática que o cotidiano teima em nos impor. Ao contrário, é aquele que tem sensibilidade de enxergar a beleza, o sentido, a estesia de cada fragmento de vida existente nas entrelinhas e nos segundos que passam’’.

E eu completaria: Eis porque A. A. de Assis é um diamante entre esmeraldas, um hino entre o ruído, um oásis na desolação.

Ele não rege sua passagem por este mundo através apenas do dizer e do pensar, mas também do fazer, e acima de tudo, do sentir.

Seu espírito inquiridor está sempre arguindo a vida que o cerca, em busca de novas descobertas para exprimir a beleza.

A convivência com A. A. de Assis convida ao pensar. Muitas vezes, nas rodas de amigos, o vi sorrir complacente, certamente diante de algum arroubo de sabedoria de algum interlocutor, tentando impressionar com seus conhecimentos.

Nessas ocasiões fiquei a observá-lo com redobrada atenção, ao ver um poeta que já venceu todos os concursos possíveis na UBT, que já conquistou todos os títulos disponíveis, sorrindo complacentemente ao exibido. Entretanto, apesar de todas as suas conquistas, não se percebe certezas em A. A. de Assis. E de que outra forma poder-se-ia reconhecer um sábio, senão pela dúvida? Não existe sabedoria na certeza. Pelo contrário! A sabedoria que flui da certeza frequentemente é estúpida; a ignorância que flui da dúvida frequentemente é sábia.

A palavra que me ocorre ao conviver com A. A. de Assis é ‘Plenitude’! A pobreza de espírito se mantém distante dele, porque esse sentido de plenitude que o acompanha fá-lo transbordar do cadinho fervente de seu universo criativo particular e escorrer como lava fervilhante de vida pelas encostas crestadas de um mundo cinza, colorindo-o com seus versos, instalando vida através da poesia, espalhando esperança através da sua fé.

A. A. de Assis pertence à classe daqueles que tratam bem o seu hoje, e ao fazê-lo, constroem um ontem que deixa saudades e um amanhã gentilmente esperançoso.

Ainda Aguilhon: ‘’A. A. de Assis olha e enxerga, repara e escuta, sente e recolhe, para depois transformar tudo em poesia.’’

A. A. de Assis - um homem que, com mansuetude e suavidade, nos lembra que há momentos em que apenas nós próprios podemos ser nossos confessores, e que os princípios impostos por nós sobre nós mesmos, assim como sua transgressão, não precisam ser explicados a mais ninguém, além de nossa própria consciência.

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/homenagens/3254658

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Hermoclydes S. Franco (Algumas Trovas Esquecidas)


A vagar pela cidade,
Desde os tempos de menino,
Procuro a felicidade
Que mora além do destino!...

Ser mãe é trabalho insano
Que tal carinho irradia
E te faz, por todo o ano,
Ser a mãe de cada dia!

Foi tanta emoção sentida,
Foram mil sonhos sonhados,
Que atravessamos a vida
Como eternos namorados...

Para ser livre e ufano,
Ter poder, ser sempre um bravo,
Na verdade o ser humano
Da lei deve ser escravo...

Plangem sinos, é Natal,
Festa em nossos corações...
O Deus-Menino, imortal,
É o centro das emoções...

O fulgor da Estrela-Guia
Viu nascer em Nazaré:
Para o mundo, novo dia;
Para os homens, nova Fé!...

Um lençol verde de paz...
Um rio... Uma catarata...
Lindas flores... animais...
Sons do silêncio, eis a mata!... (Sem verbos)

Tu foste, na minha vida,
Tempestade que passou...
Neblina descolorida
Que alguma nuvem deixou!...

Versejando à luz difusa,
Se o sentimento me inspira,
Eu te elejo a doce musa
Que há de tanger minha lira!...

Nas mensagens de prazer,
Carteiro, nas tarde mansas,
Tens o condão de trazer
O renascer de esperanças...

Em privação de sentidos,
Em teus braços perfumados,
Sonhei sonhos não vividos...
Vivi sonhos não sonhados...

Abraça o tempo que corre,
Na rapidez em que avança,
Que um bom momento não morre,
Acaba sempre em lembrança!

Mãe! Flor de amor e bondade,
Nem precisa rima rica,
Na poesia de saudade
Da lembrança que nos fica!

Escondendo tal carinho
Em seu semblante sisudo,
Meu PAI me pôs no caminho
Preparado para tudo!...

Não julgues a alheia sorte
Pelo brilho do brasão:
A luz que brilha mais forte
Tem mais curta duração...

MEMÓRIA... Forja de sonhos,
Arquivo de sentimentos,
Relicário onde os tristonhos
Escondem seus bons momentos...

Noite de Paz e de Amor!
Noite de sonho e de luz...
Veio ao mundo o Salvador,
O Deus-Menino, Jesus!...

A tempestade aparente
Do teu gênio, por magia,
Transformou-se de repente,
Ao meu beijo, em calmaria!

Terminado o encantamento,
Só restou a indiferença
De um calado sofrimento
Marcando sempre presença!

Minha fé a grande força
Que trago desde criança,
Não deixa que a vida torça
O meu rumo de esperança

Não tive coragem, creia,
De fugir nesta revolta...
Por isso é que, volta e meia,
Vivo dando a meia-volta!...

Na luta pela conquista
Do melhor que a via encerra,
Sou um simples pacifista:
“Faço o amor, não faço a guerra”.

A emoção é bailarina,
Num palco azul de ilusões...
Se Deus a fez feminina,
Tinha lá Suas razões.

Com efeitos especiais,
Meus sonhos mostram, em tela,
Os teus encantos reais
Na mais bonita aquarela!...

A inspiração é uma fada,
Com varinha de condão...
Quando toca a musa, amada,
Há poesia em profusão!...

Pelo teu corpo, em viagens
De sonhos e encantamentos,
Minhas mãos passam mensagens
De indescritíveis momentos...

Trago tantas emoções
Nas minhas canções serenas
Que, quando canto as canções,
Vivo de emoções, apenas!...

Para espantar minha dor,
Eu passo a vida a cantar,
Sabendo que mal de amor
Ninguém consegue espantar...

Lobo máu, o vento, ao léu,
Se transforma em furacão
Ao ver, nas nuvens do céu,
Carneirinhos de algodão!...

A vida é a fada-madrinha
Que, ao ver nosso intenso flerte,
Deu-me, em toque de varinha,
O prazer de conhecer-te!

Aquele que a paz expande
Tem a luz, bem definida,
Que se transforma no grande
Prazer de viver a vida!

Na vida, estrada de sonhos,
Conheci divinos seres
Que me ensinaram, risonhos,
Segredos de mil prazeres!...

Vem amor, morar comigo,
Que eu te mostro o que é viver
E, em longa noite contigo,
Eu te ensino o que é prazer...

O triste da caminhada,
Na longa estrada da vida,
É ver a fome estampada
Em tanta gente excluída!

Nossas sombras, abraçadas,
Sob a luz do luar risonho,
Atravessam madrugadas
Em busca do mesmo sonho!

Seria o grande momento,
Para toda a humanidade,
Se o bom Deus mandasse o vento
Varrer do mundo a maldade...

Não há sonho mais bonito
Nem mentira mais falaz
Do que o amor infinito
Que a vida jamais nos traz!

Teu amor é o suave açoite
Que eu desejo, em calmaria:
Como o dia busca a noite...
Como a noite busca o dia!

No meu sonho, em bela imagem,
Neste meu destino incerto,
Seu recado foi miragem
E apagou-se em meu deserto!...

Fonte:
Trovas enviadas pelo autor

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Antonio Barroso (Glosando Sonia Martelo)


Quando a chuva do céu desce
e o ventre da terra alcança,
a vida se reverdece
e tem o tom da esperança.


*************

Quando a chuva do céu desce
sob a protecção divina,
na flor, que nasce e que cresce,
sua cor mais se ilumina.

Vem o sol a acompanhar
e o ventre da terra alcança,
traz amor para animar
tanta paz, tanta bonança.

Poemas, que o amor tece,
enchem a alma de alegria,
e a vida se reverdece
embrenhada em poesia.

No lusco-fusco poente,
o rosto duma criança
olha a flor, resplandecente,
e tem o tom da esperança.

António Barroso (Tiago) (19-07-2011)

Fontes:
Sonia Martello
Imagem = http://zeliafogaca.blogspot.com/2008/05/verde-esperana.html

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Luiz Otávio (Trovas)




A trova tomou-me inteiro,
Tão amada e repetida
Que agora traça o roteiro
Das horas da minha vida!...

Ó trovas — simples quadrinhas
que têm sempre um quê de novo...
— Como podem quatro linhas
trazer toda alma de um povo?!

Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever ...

Cada quadrinha que faço
em hora calma ou incalma,
é pequenino pedaço
que eu mesmo furto a minha alma.

Uma trova pequenina,
tão modesta, tão sem glória,
bem pouca gente imagina,
que também tem sua história.

Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém.
Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem.

Toda noite ao me deitar
(por certo você reprova),
eu me esqueço de rezar
e fico fazendo trova.

Tudo nos une: o amor,
o gênio igual, a constância,
até mesmo a própria dor...
— Só nos separa a Distância...

Se é de amor tua ferida,
não busques remédio, — cala!
— O Tempo, aliado à Vida,
lentamente há de curá-la...

Duas vidas todos temos,
— muitas vezes, sem saber...
— A vida que nós vivemos
e a que sonhamos viver...

Do Passado faço culto!
Nas tenho cá o meu rito:
— Se triste, eu o sepulto!
Se feliz, o ressuscito...

É desigual esta vida
pois, nos engana... nos furta...
— Dá velhice tão comprida!
E mocidade tão curta!...

Que sina, que padecer
foi a Sorte aos cegos dar:
— Não ter olhos para ver
e tê-los para chorar...

“Meu Deus como o Tempo passa!...”
— Nós, às vezes, exclamamos...
Mas por sorte ou por desgraça,
fica o tempo... e nós passamos..

Muitas vezes ao partir,
(oh! tortura singular!)
— os que ficam, querem ir...
os que vão, querem ficar...

Às vezes o mar bravio,
nos dá lição engenhosa:
Afunda um grande navio,
deixa boiar uma rosa

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos....

Duas vidas todos temos,
muitas vezes sem saber:
-- a vida que nós vivemos,
e a que sonhamos viver...

Nessas angústias que oprimem,
que trazem o medo e o pranto,
há gritos que nada exprimem,
silêncios que dizem tanto !…

Eu ...você ...as confidências...
o amor que intenso cresceu
e o resto são reticências
que a própria vida escreveu...

Ele cai ... não retrocede ! ...
continua até sozinho ...
que a fibra também se mede
pelas quedas no caminho ..

Se a saudade fosse fonte
de lágrimas de cristal,
há muito havia uma ponte
do Brasil a Portugal.

Ao partir para a outra vida,
aquilo que mais receio,
é deixar nessa partida,
tanta coisa pelo meio ...

Busquei definir a vida,
não encontrei solução,
pois cada vida vivida
tem uma definição...

Não paras quase ao meu lado ...
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida ...

Meus sentimentos diversos
prendo em poemas tão pequenos.
Quem na vida deixa versos,
parece que morre menos ...

Contradição singular
que angustia o meu viver :
a ventura de te achar
e o medo de te perder ...

Estrela do céu que eu fito,
se ela agora te fitar,
fala do amor infinito
que eu lhe mando neste olhar ...

Ó mãe querida – perdoa !
o que sonhaste, não sou ...
- Tua semente era boa !
a terra é que não prestou !
---------

Fontes:
OTÁVIO, Luiz. Trovas. Belo Horizonte: Editora Acaiaca,
VERDAN, Iraí. Vida e obra do Príncipe da Trova – Luiz Otávio.
Portal Movimento das Artes.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Plinio Linhares (Trovamando V - Helena)


A HELENA
(minha musa inspiradora)

As forças da natureza,
Venham todas em amparo;
Que haja maior riqueza,
Para musa que preparo.

Que ela tenha as virtudes,
De um anjo divinal;
E venha com atitudes,
De uma dama bem formal.

Desejo que seja linda,
Num corpo escultural;
Espírito na berlinda,
Rainha universal.

Veja o bem nos irmãos,
Ampare o deserdado;
Estenda sempre as mãos,
A alguém desamparado.

Que sorria e mais encante,
O adulto e a criança;
Doando, sempre avante,
A paz e a esperança.

E com um simples olhar,
Faça o doente são;
O aflito acalmar,
Ao acenar de sua mão!

Precisa o trovador,
Receber a sua parcela;
Deste anjo salvador,
Do bem e paz, que ele sela.

Presentes eu lhe darei,
E todo dia bela rosa;
Amor, afeto, farei,
Pra ficar rindo e prosa.

Pra ela, como fiz outrora,
E deixando-a bem grata;
Na noite, em qualquer hora,
Farei linda serenata.

Passou bela, flutuante,
Fui, perguntei-lhe o nome;
E com voz estonteante,
Disse só o seu prenome: -

- HELENA, a sua criada,
Vejo que é bom rapaz;
Só serei a sua amada,
Se a trova for capaz!

Andar firme, bem andante,
Olhar doce e suave;
Fala macia, bem galante,
Linda, soberana ave.

HELENA, musa perfeita,
Ornamento, belo brinco;
Deusa mor de gala seita,
És, no TROVAMANDO CINCO...

Por seu passado seguro,
Pelo presente bem são;
Para um feliz futuro,
HELENA, quero sua mão!

Lavarei seus pés com flores,
Ao recebe-la por minha;
Demonstrando meus amores,
Mesmo quando não a tinha.

Pra poder lhe merecer,
Erradicarei defeitos;
Farei puro o meu ser,
E verás cantar meus feitos...

Cercar-lhe-ei de afetos,
Como mar cerca a terra;
Tal qual avós aos netos,
Como neblina na serra.

Amparo eu lhe darei,
E amor compreendido;
O afeto que farei,
Há de ser correspondido.

Haverá companheirismo,
E um trato fraternal;
Dose de cavalheirismo,
União no ideal.

Dois corpos a caminhar,
E as almas siamesas;
Impossível separar,
Nem com doutas sutilezas.

DON QUIXOTE DE LA MANCHA,
Eu, a derribar moinhos;
Terei a grata ensancha,
De mostrar os meus carinhos.

Eu, andante cavaleiro,
Montado no ROCINANTE;
Para ser-lhe prazenteiro,
E tornar apaixonante.

És estrela que me guia,
De luz deveras brilhante;
Clara noite, como dia,
Você é o meu calmante...

Meu amor, por que mantém?
Seu querer adormecido;
O meu ser só se sustem,
Com seu beijo aquecido.

Que coisa linda o beijo!
Exalta todo meu ser;
Põe cérebro em lampejo,
Dá vontade de viver...

Aquele abraço doce,
Que você me deu um dia;
Não esqueço nem que fosse,
O rei momo da folia!...

Seu arfar, no meu ouvido,
Nele, seu beijo ardente;
Ao chamar-me de querido,
Diz verdade, ou me mente?

No dia em que me levou,
Provar sua intimidade;
A minh’alma se lançou,
No orgasmo da verdade.

Você me deu o maná,
Que dado ao prometido;
E ainda o fará,
Com amor arremetido.

Seu afago, carinhoso,
O olhar mais dardejante;
Meu querer fica formoso,
O meu ser eletrizante!

Dançando, rostos colados,
E corpos em conjunção;
Ficam cupidos corados,
E anjos em aflição...

Você me põe no espaço,
Naquele, o sideral;
Sempre ledo no regaço,
Do seu bom manancial.

Me ame, minha querida,
Deixe-me amar também;
Extinga minha ferida,
Meu amor, meu forte bem!

O céu, dar-lhe-ei em verso,
Pois na prosa, se esvai;
Mas o grande universo,
Pra lhe dar, só nosso PAI!

Fundo extrato d’amor,
Perfumarei meu querer;
Far-lhe-ei do meu fulgor,
Como o amanhecer.

Para seu luxo, a teia,
Tecerei com fios d’ouro;
De amor, será a ceia,
Imortal e porvindouro.

Adorná-la e vestir-lhe,
Faze-la mais preciosa;
Do mar, pérolas roubar-lhe,
Do jardim, mais bela rosa...

Vamos, na realidade,
HELENA, meu bem querer;
Dar-lhe-ei a faculdade,
Em mi’a fala escolher.

Quero fazer, como dantes,
Amar-lhe na velha forma;
Sermos os finos amantes,
Na melhor, perfeita norma.

Prazeirar a natureza,
Atirar pedras no lago;
Sentir a lua benfazeja,
E acreditar em mago...

Em todas as coisas belas,
Igualá-las à você;
E a mais bonita delas,
Nunca há lhe merecer!

Agrupar as nossas almas,
Na mais doce lua de mel;
Pairar sobre nuvens calmas,
Sob bênçãos de lindo céu.

Vindo fundo sentimento,
Com amor forte, seguro;
Dar-lhe-ei enlaçamento,
De agora ao futuro...

Qualidade de amor,
Terá nosso matrimônio;
Afeto e esplendor,
Será o nosso binômio.

Ajuda lhe prestarei,
E você me cuidará;
Bom amor receberei,
Mais ternura hei de dar.

O amor é como luz,
E nas trevas ilumina;
Fortalece e seduz,
A sua saga, contamina.

Os casais indiferentes,
Ao verem nosso exemplo;
Tornar-se-ão firmes crentes,
E virão ao nosso templo.

Que bom, é o bem viver,
Que maldade, é discórdia;
Ore muito pra não ter,
Que pedir misericórdia.

Para viver desta forma,
E Ter essa harmonia;
Há de se seguir a norma: -
Só com DEUS, em sintonia!

No jantar a luz de velas,
Com a paz dos querubins;
Comporei trovas mais belas,
Na lira, dos serafins.

Suave música de fundo,
Aflorando sentimento;
Dar-lhe-ei do mais fecundo,
Amor e desprendimento.

O casamento perfeito,
Há de ter a BOA discórdia;
Pois, de rosas, não há leito,
Nem a forçada concórdia.

Ter bom senso de ouvir,
Mais a arte de calar;
Para tudo discernir,
E a vida aclamar.

A fala mansa, macia,
O cenho descontraído;
Forma a paz e sacia,
De bênçãos, um lar caído.

Um casal prenhe de paz,
Faz do lar, foco de luz;
Qualquer treva se desfaz,
Pois ali, está Jesus!

O amor não tem espécie,
É amor sem discussão;
É natural de sua messe,
E não tem comparação.

Não existe confusão,
Há de ter contentamento;
Sem amor, é ilusão,
O perfeito casamento.

A relação em conflito,
Só bem querer modifica;
Faz bendito o maldito,
E amor solidifica!

Quer viver fatal inferno?
É em casa atritar;
Ampare e seja terno,
Chegue até lisonjear.

Casamento com problema,
Já são muitos o da vida;
Só o amor como lema,
Há de faze-la querida!

Se no lar houver disputa,
E só uma eu admito: -
De amor e de labuta,
Pois a paz não é um mito.

Com uma linda atafona,
Lavarei seus pés com flores;
Bem, que a fada abona,
Prometendo meus amores...

Enxugar com alvo linho,
Com sândalo perfumado;
Que fará do nosso ninho,
Aposento consagrado.

Enfim, ó bela HELENA,
Você é minha gracinha;
É a mais linda pequena,
Entre moças da pracinha.

Com HELENA, há certeza,
De perene bem viver;
A sua alma de beleza,
Seu eterno bem querer.

Você é o douro trigo,
Saciando minha fome;
É caminho que eu sigo,
HELENA, sublime nome.

Bela de TRÓIA, viesse,
Mi’a HELENA, visitar;
A sua beleza fenece,
Se a minha comparar!

Adjetivo gentílico,
HELENA, igual à grego;
Povo culto e idílico,
Pelo amor têm apego.

HELENA, larga estrada,
Caminhou a minha vida;
De sedenta na parada,
É a água mais querida.

Com um sexo respeitoso,
Sempre, sempre sublimado;
No sagaz harmonioso,
Do OLIMPO, consagrado.

E será sempre assim,
Pois és deusa que encanta;
Muito mais que um jasmim,
Minha musa, minha mantra!

Eu tivesse um harém,
Amaria a todas elas;
Somente você porém,
É a bela, das mais belas!...

Sonho em ser um sultão,
Dono de gema formosa;
Todos reis invejarão,
Você, pedra preciosa!

A fausta tiara rica,
Que orna cabeça nobre;
Em vossa mercê, que fica,
Para quem o sino dobre.

E como agradecer,
Inspiração de HELENA;
Me fez mais enternecer,
Com sua beleza serena.

Despeço emocionado,
Minha musa, minha luz;
Sou o seu apaixonado,
Com auspícios de JESUS!

ANA PAULA, também AMANDA,
VALQUIRIA, linda pequena;
MARIA, a mais veneranda,
A Quinta, bela HELENA...

Digo sempre o que sinto,
E inspiro em SUAS, leis;
Para terminar o CINCO,
E a começar o SEIS.

O trovador sempre faz,
Consigo auto-ajuda;
Deseja ao LEITOR – PAZ!
Mais amor, que tudo muda.

Ao meu querido LEITOR,
Sou grato em profusão;
Minhas trovas de amor,
Em você, INSPIRAÇÃO!...

Fonte:
http://blogdodegasdc.blogspot.com/2010/04/trovamando-v-helena.html

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Apollo Taborda França (Trovas da Amizade)


AMÁLIA MAX, sublime,
Tem amor à causa nossa...
E na trova bem exprime,
O valor de Ponta Grossa!

(para Argentina de Mello e Silva)
ARGENTINA, poetisa,
Na trova grande demais...
Muito suave, qual a brisa,
Acalenta os seus florais!

Professor ATHOS VELLOZO,
Requintado estilista...
Vive sempre em áureo gozo,
No seu mundo de jurista!

AURORA CURY se empenha
No mister de bem compor...
Seus versos, uma resenha,
De jardim cheio de flor!

AZOR CRUZ, de naipe régio,
Também, médico-escritor...
Sua vida, florilégio,
Alça vôos de condor!

(para Eleonora Brasil Pompeu)
ELEONORA é na trova,
O tino, facilidade...
Assim certo, ela prova
Ser “Poetisa da Cidade”!

(para Emílio de Mattos Sounis)
SOUNIS médico e poeta,
De envolvente inspiração...
Sua trova, bem seleta,
Sempre fala ao coração!

O FRANCISCO FILIPAK
É um mestre de nomeada...
No idioma um destaque,
No soneto uma florada!

HARLEY CLOVIS STOCCHERO
Já surgiu para brilhar....
Põe nos versos bom tempero,
Num estilo peculiar!

É HELENA KOLODY
Notável na poesia...
A grandeza está aí,
No seu verso que extasia!

HILDA KOLLER é de Castro,
Um rincão do Paraná...
Na poesia, rico lastro,
Que se iguale, lá não há!

(para Ladislau Romanowski)
ROMANOWSKI, um artista
De charme bem popular...
Mostra-se puro humanista
E escritor muito exemplar.

(para Lia Sachs Iankilewich)
LIA SACHS, poetisa,
Vai “Dissecando a Agonia”...
Seu cantar é suave brisa,
Exuberante eufonia!

LOURDES STROZZI, que musa,
Ela própria a inspiração...
Sua trova é conclusa,
Nota dez, com distinção!

MOYSÉS PACIORNIK pensa,
Escreve, fluentemente...
Fala suave, jeito leve,
Mas, seu estro uma torrente!

(para Nair Cravo Westphalen)
NAIR CRAVO, que poeta,
Em “soneto” foi premiada...
Tem espírito de asceta
E muita luz na jornada!

O NELSON que é SALDANHA
E se aureola D`OLIVEIRA...
É de inspiração tamanha,
Que na trova faz carreira!

WOCZIKOSKI, nosso ORLANDO,
Tem vigor, alacridade...
Trovador que, burilando,
Se engrandece na “saudade”!

TÚLIO VARGAS vai na História,
Onde encontra seus motivos...
Garimpeiro da memória,
Tão valiosos seus arquivos!

É UBIRATAN LUSTOSA
Radialista consagrado...
Se realiza bem na prosa,
“Nosso Encontro” vem premiado!

(ao Vasco José Taborda)
O VASCO, nobre poeta,
Líder da fraternidade...
Tem a luz de grande esteta,
Onde vai prega amizade!

A ZÉLIA SIMEÁO POPLADE
Mostrou cedo a vocação...
Tem seu verso majestade,
Suavidade e erudição!

Fonte:
FRANÇA, Apollo Taborda. 100 Trovas da Amizade. Curitiba: Formigueiro, 1985.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Carlos Guimarães (Trovas Humoristicas: Cantigas para Sorrir)


Para mim mesmo enganar
e das tristezas fugir,
eu passo a vida a cantar
CANTIGAS PARA SORRIR.

Ao vê-la na igreja entrar,
bamboleante, os braços nus,
Santo Antônio, em seu altar,
cobre os olhos de Jesus!

Ao vê-lo descer inerme,
em meio a tanto aparato,
disse um verme a um outro verme
- Vou comprar bicarbonato...

"Aqui Jaz Zé das Boêmias".
E os vermes, por precaução,
não permitiram que as fêmeas
visitassem-lhe, o caixão...

A minha sogra é uma bola
e meu sogro já dizia:
- Dorme até sem camisola,
pra fazer economia.

Ante o desquite, maroto,
segreda o primo da Berta:
- Velho casado com "broto",
tem que "dar galho", na certa.

Ao ver a loura passar,
diz um luso muito vivo:
- Espero ainda encontrar
esse "troço" em negativo.

Até parece pilhéria,
ouvir, de certa pessoa,
a informação de que és séria,
só porque não ris à toa...

Ao meu sogro, ninguém logra
vencer em azar, ninguém,
pois atura a minha sogra
e a sogra dele, também.

Ao vê-la cheia de graça,
vizinhas contam piadas,
mas, se é o marido quem passa,
há explosões de gargalhadas.

A confusão foi tamanha...
Móveis quebrados... Berreiro,,,
É que a sogra do Saldanha
baixou naquele terreiro.

A minha comadre Clara
está bonita e feliz:
gastou os olhos da cara,
mas consertou o nariz.

"A coisa está toda errada"
- diz o pescador Romão -
"No mar, peixinhos de nada,
na praia, cada peixão!"

Ao vê-Ia, na cova, inerme,
roliça qual um presunto,
segreda um verme a outro verme:
- que abundância de defunto!

Aqui Jaz o Godofredo,
porque o vizinho, avisado,
chegou um pouco mais cedo
do que havia combinado.

Boa de bola e aguerrida,
chutando bem, a Lalá
é sempre muito aplaudida,
nas cabeçadas que dá.

Boa mulata, a Anacleta
diz por piada, talvez,
que, apesar de analfabeta,
conhece bem português.

Cheque sem fundos, o Meira
recebeu naquele dia:
- Vendendo uma geladeira,
o coitado "entrou em fria"

Caro doutor, saiba disso:
se esse transplante malogra,
eu pago em dobro o serviço,
que a coroa é minha sogra.

Com todo o senso de artista
e, apesar de todo o zelo,
não sou bom filatelista,
no entanto, procuro "sê-lo"

Com pode, Madalena,
nem sei como acreditar,
pílula assim tão pequena
nosso segredo guardar...

Casou-se o pobre Peçanha,
com mulher feia e sem graça:
Para quem não tem champanha,
vale um trago de cachaça...

Com dimensão reduzida
- duas pecinhas à toa -
o teu biquíni, querida,
guarda tanta mim boa!

Cão de marujo, também,
por mais perigos que arroste,
imita o seu dono e tem
um amor em cada poste.

Comprou, na Agência Postal,
o menor selo que havia,
deu-lhe um jeito de avental
e eis a tanga de Maria !

Começou mal a semana
o beberrão azarado:
abusou tanto da cana,
que acabou sendo "encanado".

De fazenda é tão escasso
o biquíni da Julieta,
que até não sobrou espaço
pra colocar a etiqueta...

Diz a mulata Maria,
sem explicar a razão
que o luso da padaria
é pão vendendo outro pão....

Do amor fervorosa crente,
a mulher do seu Tomás,
sendo uma cara pra frente,
vive a passá-lo pra trás...

Dentro do meu coração,
na minha radiografia,
o doutor - que indiscrição! -
viu tua fotografia!

Do espelho da tua sala,
procura o exemplo seguir:
ele reflete e não fala,
tu falas sem refletir...

Da ingente lida cansada,
velha cegonha matreira,
hoje, vive, aposentada,
a assustar moça solteira.

Deu-me tanta bola a Berta,
com sorrisos e olhar doce,
que eu fui em frente na certa:
aí, a Berta trancou-se !

Diz que detesta covarde
e odeia os homens pecatos;
da coragem, faz alarde
e, em casa, é quem lava os pratos...

Deixei minha namorada,
numa agonia tremenda:
escondi, na mão fechada,
o seu biquíni de renda.

Bebeu tanto o Zé Bolacha,
ao regressar da viagem,
que pagou em dobro a taxa
por excesso de bagagem.

Declara, em meio à homenagem,
o astronauta, herói da Nasa
- Prova mesmo de coragem
vou dar voltando pra casa!

Datilógrafa, a Maria
é "boa" como ninguém:
mesmo em datilografia,
tem seus méritos, também.

Da gravata à borboleta,
que eu usei esta semana,
a minha prima, Julieta,
fez um biquíni bacana.

Ela vive no oculista
e ele é motivo de troça,
pois se ela trata, da vista,
ele faz a vista grossa...

Eis um conceito maroto,
que aos quatro cantos espalho:
se todo o galho foi broto,
nem todo o "broto" "dá galho".

Ela é séria e não dá bola,
chega a ser ultrapassada...
Com tantas curvas, Carola,
afinal, é tão quadrada...

Estendido sobre a cama,
na brancura do lençol,
que saudades meu pijama
sente do teu "baby-doll"!

Explica a mulher a alguém,
que seu marido é pintor:
é por isso, que ela tem
um filho de cada cor...

Eu tenho quatro vizinhas
- que santas meninas são! -
à sua porta, às tardinhas,
há homens em procissão...

Entra um branca gelada
e uma preta bem quentinha,
topo as duas, camarada:
- não perco uma cervejinha.

Em perfeita comunhão,
na vila de Santarém,
a mulher do sacristão
ajuda ao padre, também.

Explica cheia de sestro,
que não engana a ninguém:
sendo mulher de maestro,
faz seus "arranjos", também.

Entra a esposa bem idosa
e uma "gatinha" assanhada,
o macumbeiro Barbosa
vive numa encruzilhada.

Imploraste a Santo Antônio
um casamento, Maria:
deu-te o santo o matrimônio
mas fui eu que "entrou em fria"...

Já pronto para o transplante,
pergunta, aflito, o ancião:
- Fico em forma, doutor Dante,
só trocando o coração?

Jogador inveterado,
morre o amigo Zé do Taco...
Vai entrar, pobre coitado,
no seu último buraco...

Se meus apelos comovem
ao senhor, eu peço, então,
que transplante um corpo jovem,
no meu velho coração...

Maria, ao jogar "pelada",
me dá bola a tarde inteira
e porque joga avançada,
terminamos na "banheira"...

Minha sogra sempre anota
meus atrasos num caderno:
se essa "coroa" empacota,
vai ser porteira do inferno...

Maria, a minha Maria,
põe nos beijos tal calor,
que a noite pode ser fria
e eu não uso cobertor...

Morre a sogra e, comovido
o meu compadre Tomás,
na coroa, distraído,
escreveu: "Descanso em paz"!

Meu amigo, Zé da Mota,
fala mal da sogra à toa,
pois eu conheço a velhota
e ela até que é muito boa!

Morreu lutando, e aqui jaz
Chico Bomba, o corajoso...
E esse epitáfio, quem faz
é o seu primo: o Zé Medroso...

Meu gato sumiu e o fato
deixa a gata tiririca,
lamentando, sempre, o gato,
ao ouvir certa cuíca.

Muito embora não se esgote
todo assunto que é você,
pelo V do seu decote
quanta coisa a gente vê!

Mulata boa, essa Helena,
que afirma ser tua prima...
Sempre que passa, me acena
de polegar para cima.

Namorei a Margarida,
mas como me deu trabalho!
Nunca vi, na minha vida,
um broto dar tanto galho...

Não fez o menor sarilho
meu amigo Vivaldino
e deu, ao décimo filho,
o nome de PILULINO...

Não vende móveis, Maria,
mas, segundo as faladeiras,
atrai boa freguesia
com seu "jogo de cadeiras"

Na bebida, a minha mágoa
procuro ver afogada...
Já me chamam de pau-d'água,
mas, a minha mágoa... nada...

No banheiro, de surpresa,
ao entrar, reparo bem,
que até no banho, Teresa
é enxuta como ninguém.

Num biquíni diferente,
pôs fogo na praia inteira,
ao desfilar imponente,
só de peruca e piteira...

O que eu desejo, sem pressa,
consigo sempre, Maria...
Hoje, me dás, sem que eu peça,
o que me negaste um dia...

O rapaz tanto bebia,
que, um mês depois de enterrado,
nenhum verme conseguia
fazer "quatro", nem deitado...

O Machado é grande amigo,
que eu tenho, sempre, ao meu lado:
qualquer problema comigo,
quem "quebra o galho" é o Machado.

Pão duro a mais não poder,
o meu compadre Zulmiro,
em vez de dar, quis vender
o seu último suspiro.

Por mera superstição
Zé Cachaça explica bem:
Bebe antes da refeição,
durante e depois, também.

Pelo olhar de antipatia,
que o vigário me lançou,
estou certo que Maria,
de manhã se confessou.

Perdão, Senhor, mas não posso
resistir à tentação
de, ao rezar o Padre-Nosso,
pedir manteiga no pão.

Pensam que caí num logro,
mas, aviso a quem quiser
- pelo dinheiro do sogro,
aturo sogra e mulher.

Porque a mulher é de morte,
estranha o compadre Osmar,
que o chamemos de "consorte",
se ele viva é "com azar".

Porque a mulher do goleiro,
jogando um tanto avançada,
me deu bola o dia inteiro,
entrei, também, na pelada....

Para casar, o Joaquim
tornou bruta carraspana:
Esse cara só diz "sim",
com a cara cheia de "cana".

Para evitar confusão,
afirma, sempre o Ramalho,
que não tem superstição:
tem alergia ao trabalho...

Por bigamia, garanto,
castigo do céu não logras:
deve ter honras de santo,
quem aturou duas sogras...

Pões tal feitiço na ginga,
que, ao sambar, eu me atrapalho:
és tu, mulata, o o coringa,
que faltava em meu baralho

Quando eu morrer, a mulher
em apuros, que não fique:
se na cova eu não couber,
que me enterre no alambique...

Quando ela passa, divina,
penso ao ver-lhe a majestade:
- Ah! Se eu pudesse, menina,
dividir por dois a idade! ...

Quando bebo mais um pouco,
uma coisa me maltrata
e me deixa quase louco:
- é ver sogra em duplicata...

Quando ouviu o Pai-de-Santo
falar, em "trabalho", o Augusto
que é folgado, tremeu tanto
e quase morreu de susto...

Quando minha sogra entrou
no inferno, em grande escarcéu,
o Demônio se assustou
e se mandou para o Céu.

Soldador de profissão,
vive a soldar Zé Trancado
e a mulher, por distração,
vai namorando um "soldado".

Superstição esquisita
essa que tem Dona Aurora,
pois só recebe visita,
quando o marido está fora.

Se a vida tem algo errado,
a própria vida conserta;
vejam só: o Zé Trancado,
ontem, casou-se com a Berta.

Tem tanto medo da bronca
da mulher, o meu vizinho,
que até mesmo quando ronca,
o seu ronco sai fininho.

"Tenho coragem" dizia
e provou do que é capaz,
ao correr naquele dia
com o marido "dela" atrás.

Tem, o Zé, vida apertada
e a má sorte a castigá-lo:
se a mulher dá cabeçada,
é nele que nasce o galo...

Tanto mente o Zé Patranha,
faz tanto rolo e trapaça,
que se estoura uma champanha,
há quem jure que é cachaça.

Trazendo a Prudência ao lado,
eu demonstro inteligência,
pois viajo sossegado,
se dirijo com "prudência" .....

Vem Maria, ao meu amor,
que, com jeito, a gente arranja
botar no congelador
tuas flores de laranja.

Vive o Domingos feliz
sem o trabalho enfrentar,
que os "domingos" - ele diz -
são feitos pra descansar.

Voltou de cesta vazia,
pois não pescou nada, nada...
Mas, foi nessa pescaria,
que Benvinda foi pescada...

Vem gente de todo o lado,
ver minha prima Janete,
num "triquini" muito ousado:
chapéu, sandália e chiclete...
========

Fonte:
União Brasileira dos Trovadores/Juiz de Fora

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Héron Patrício (Baú de Trovas)


Eu me recuso, tristeza,
a conviver com teu mundo:
- Vida que tem correnteza
não cria lodo no fundo!

Antes um "não " que amargura:
antes um "não" que maltrata,
do que a terrível tortura
do teu silêncio - que mata!

Mesmo sem assinatura,
o bilhete me revela
tanta meiguice e ternura
que eu sei que o bilhete é dela!

Ao criar seu falso drama
o pessimista parece
aranha que tece a trama
e se enreda no que tece!

Fim de amor, sonhos extintos...
Mas a saudade é radar
que atravessa labirintos
e consegue me encontrar!

Se contra tudo ele existe,
entre segredos e esperas,
nosso romance persiste
na volúpia das Quimeras!...

Quando passas ao meu lado,
te acompanha o meu desejo...
- Se a volúpia for pecado,
eu peco quando te vejo!

Nos caminhos do Universo,
eu sou catador de estrelas
e jogo o laço do verso
na esperança de prendê-las.

Trovador, longe da infância,
contando as horas da idade,
rima tempo com distância
e distância com saudade!

Meu salário teve, agora,
um aumento "cavalar"...
já me botaram espora
e aprendi a relinchar!

Uma lágrima, nascendo,
tem a trágica beleza
de gota de luz contendo
toda a essência da tristeza.

Infiéis os meus cabelos!
saudoso o careca chora...
"Dei carinho... tive zelos
mas foram todos embora!"

Ligo o rádio ... Enquanto o sono
entorpece os meu sentidos,
em carícias de abandono
vibra a Rádio em meus ouvidos

A tristeza é uma senhora,
minha velha conhecida,
que me rouba a luz da aurora
e põe noite em minha vida!

Somente para agradar-te
e não ficares sozinha,
a minha alma se reparte
e é mais tua do que minha!

Nó na vida?... - Não me abalo,
desfazê-lo não me cansa,
pois consigo desatá-lo
com dois dedos de esperança!

Uma estrela, no infinito,
é recado que os ateus
recebem, com luz escrito,
sobre a existência de Deus!

Tempo é moinho rangendo
aos ventos da eternidade,
trigais de sonhos moendo
para o meu pão de saudade!

Pela ofensa que machuca,
por mais que me queime e doa,
se meu sangue diz - "Retruca!",
a minha alma diz "Perdoa..."

Com remorsos na bagagem
ou rancor no coração,
briga de amor é viagem
rumo ao Cais da Solidão!

Ao sentir que a solidão
vai comigo, em meu caminho,
tenho a estranha sensação
de que nunca estou sozinho!

Quando a folhagem fenece,
cobrindo o verde de luto,
o outono, em troca, oferece
a recompensa do fruto.

No jardim, junto ao meu quarto,
o silêncio é tão profundo
que se pode ouvir o parto
das rosas chegando ao mundo!

O poeta é um ser aflito,
um eterno insatisfeito,
por ter um mundo infinito
no exíguo espaço do peito!

A neblina, em dias frescos,
descendo em vales sombrios,
aos poucos tece arabescos,
nas brancas margens dos rios...

Fim de amor, sonhos extintos,
mas a saudade é radar
que atravessa labirintos
e consegue me encontrar!

Eu não contei tuas idas
nem minhas voltas confesso..
O que marcou nossas vidas
foi nosso eterno regresso !

Nossos momentos de amor
temos, os dois, que guardá-los;
- No teu palco sou ator
somente nos intervalos...

Fim de chuva.. e a lua cheia,
que no espaço azul flutua
põe diamantes na bateia
da poça d'água da rua!"

Quando eu partir... quem me dera,
rompendo o infinito afora,
encontrar em outra esfera
meu Pouso Alegre de outrora.
---------------
Fonte:
UBT/Juiz de Fora

domingo, 7 de junho de 2009

Nilton Manoel (Constelação de Trovas)



1
Quem tem vida vive atento
pêlos caminhos que enfrenta;
brinda as farpas do momento
com chocolate e pimenta.

2
O chifre em terra rachada
em bucolismo infernal,
é o adorno que traça a estrada
da carência de água e sal.

3
Florestas? - Quero espigões!
e a fauna toda enjaulada!
... e a moda de altos portões,
esconde a noite estrelada.

4
Depois dos cinqüenta, creio,
tudo é lucro e coerência;
homem que não faz rodeio,
sabe o que vale a existência.

5
Homem é o que sabe ser
companheiro, amigo e irmão;
Quem preza o Bem, sabe ter
da vida toda a emoção.

6
Meu pai, exemplo perfeito
de luta e vitalidade;
ao partir, por ser direito,
deixou sincera saudade.

7
Quando o homem é Homem não chora,
enfrenta as farpas da vida,
vence a fauna hostil com a flora
tornando a estrada florida.

8
O amante da Filomena,
se encontra o ex-marido dela,
treme tanto de dar pena...
e geme sem dor com ela!

9
Solteiro? - Querida! Ó vida
de prazeres... sonhos tantos!
Casados? ? Os nós da lida,
cegam os reais encantos!?

10
No lirismo de meu povo
sonho e tenho sempre fé
que num dia de sol novo
será plena a paz.. de pé!

11
Enfim dono dos saberes
da vida, em música e dança,
concluo que, o fim dos seres
é o limite da esperança.

12
Corre-se tanto, mas tanto,
pelo pódio e sua glória
que, o enfim é o fúnebre pranto,
de um troféu ao fim da história!

13
Quando há morte programada
pelos quadrantes da terra,
homens que não valem nada
sentem paz plantando guerra.

14
Cavalgando sem rodeios
por galáxias estreladas,
o poeta, em seus anseios
tece trovas requintadas.
======

sexta-feira, 13 de março de 2009

Trovadores Gaúchos e suas Trovas



Flávio Roberto Stefani
Em ternura plena e extrema,
nossos sonhos se cruzaram!
E a noite se fez poema...
e os versos também se amaram!...

Gislaine Canales
Quero cantar pelo espaço
e, nas estrelas, rever
todas as trovas que eu faço.
trova é prece em meu viver!

Delcy Canalles
Beber sorrisos de aurora,
sentir tristezas de ocaso,
é transformar nosso agora
na beleza de um parnaso!

Lisete Johnson Oliveira
Foi na ânsia de alcançar
um porvir doce e risonho,
que olvidei de alicerçar
as escadas do meu sonho!

Marlê Beatriz Araújo
As poças d’água da rua
brincam de espelho quebrado,
há, em cada poça, uma lua,
e um belo céu estrelado!

Marisa Vieira Olivaes
Quando o "minuano" assobia,
rasgando o espaço, imponente,
é um vendaval de poesia,
soprando na alma da gente!

Milton Sebastião Souza
Contigo sempre reparto
este amor que não termina:
é na penumbra do quarto
que o nosso amor se ilumina.

Doralice Gomes da Rosa
A frágil rosa em seu galho
depois que o vento passou,
desfolhou-se sobre o orvalho
que a madrugada deixou!

Cláudio Derli
Sopra, ó vento, as nuvens rasas,
pelo verde pampa em flor,
transportando em tuas asas,
meu sonho de trovador!

Gerson César Souza
Sou feliz por um segundo
quando o amor encurta espaços
e a fronteira do meu mundo
toma a forma dos teus braços!

Gisele Bueno Pinto
Se nada existir na vida,
se até o sonho fugir,
hei de encontrar-te, querida,
na hora de ressurgir!

Hugo Ramirez
Da vida o mais doce encanto
é recordar na velhice,
o maternal acalanto
dos dias da meninice.

Irene Canalles
Ah, se eu pudesse voltar,
aos tempos de antigamente!
Não teria em meu olhar
esta angústia tão presente!

Nilza Castro
Fiz um castelo de areia
naquela duna branquinha,
veio o vento e a maré cheia,
levaram tudo que eu tinha!

Beatriz Castro
Amarrei o meu destino
ao leme de uma ilusão,
e me tornei peregrino
dos mares da solidão.

Nelson Fachinelli
Felicidade, na vida,
quem sabe, mal comparando,
é como a chuva caída
que vai e acaba voltando.

Neoly de Oliveira Vargas
Se a vida me põe à prova,
não há nada que me oprima,
meu psicólogo é a trova
e o meu analista, a rima!

Severino Silveira de Sousa
Quando me paro cismando,
eu sinto, meio bisonho,
o vento do amor soprando
nas cordilheiras do sonho!

Wilma Mello Cavalheiro
Cometo qualquer loucura,
das convenções rompo os laços,
só para ter a ventura
de amanhecer nos teus braços!

Conrado da Rosa
Comparo o viver sozinho
e, que muita gente tem,
à tristeza de um caminho
onde não passa ninguém.

Dalvina Fagundes Ebling
Eu sempre te quis pra mim
mas nunca soube dizer,
que te amava tanto assim,
por isso vivo a sofrer!

Maria Dorneles
Neste mundo de violência,
tem a criança um porvir,
porque deus, pai da existência,
faz sempre a rosa se abrir!

Antônia Nery
Meu amor vive distante,
lá do outro lado do mar.
A saudade,a todo instante,
é que vem me visitar!

Arlete Sacramento
Chamam-me velho, nem ligo.
vejam só minha atitude:
olhando meus filhos, digo:
-alí vou com juventude.

Zeno Cardoso Nunes
Tens nos olhos a poesia
das noites enluaradas,
tens no sorriso a magia
e o frescor das madrugadas.

Sílvia Benedetti
Busquei a felicidade
por todo lugar que andei,
para dizer a verdade
só procurei, não achei!

Maria Pampin
Chegou num jeito sem jeito
de bombacha, bota e espora,
fez morada no meu peito
e nunca mais foi embora.

Maria Cardoso Zurlo
Pela fé, seguir o rumo
da paz que nos fortalece,
é simplesmente em resumo,
amor em forma de prece...

Rui Cardoso Nunes
Eu fiz da saudade a marca
de minha ilusão perdida,
e de meu verso uma tarca
para marcar minha vida.

Alice Cristina Velho Brandão
Quando a vida tiver fim
hei de sempre ser lembrado
pois deixo um pouco de mim
em cada órgão doado.

Amália Marie Gerda Bornheim
Cada gotinha de orvalho,
sorvida por uma flor,
revela, de galho em galho,
uma "promessa" de amor...

Antonio Nely Fardo
Precisamos entender
a vontade do senhor.
Quão imnportante é crescer,
em nosso mundo interior!

Éderson Juliano Savi Pauletti
Se o ódio promove a guerra,
se a esperança se desfaz,
que do amor que ainda há na terra,
brotem cascatas de paz!

Eloy de Oliveira Fardo
Um beijo roubado às pressas
e de forma singular
pode aguçar as promessas
e dar foto ao pé do altar...

Luiz Machado Stabile
Estes brinquedos guardados
reduzem qualquer distância,
pois são eles, empoeirados,
que eternizam minha infância.

Lydia Lauer
Quando não puder bater,
em teu peito o coração,
salva a vida de outro ser
na sublime doação.

Maria Helena Binelli Catan
Vôo nas asas do vento
por rumos desconhecidos
e, nesse voar, eu tento,
achar mil sonhos perdidos.

Zélia Maria de Nardi
Consola a dor na esperança
que à vida sempre conduz.
quem não teme, tudo alcança,
transformando a dor em luz.

Antonia Viana Machado
Saudade tem um jeitinho
que comove e faz sofrer.
chega sempre de mansinho,
não depende do querer.

Cássia Luísa Bolson
Tudo aquilo que foi dito
poderá ser reparado,
mas o que ficou escrito
não pode mais ser mudado.

Elisabete Beatriz de Lima Scholz
Amizade é como a rosa,
cultivada com ardor.
continuará mais formosa,
se regada com amor.

Ivani de Souza
Mãe é a grande fortaleza,
plena de amor e emoção!
A mais bela realeza
que te ampara na aflição!

Luiz Damo
Nas lembranças do passado
tantos sonhos eu gravei,
hoje, releio apressado
as mensagens que arquivei.

Anita Gonzáles
Se avelhice, queres, calma,
e prazer em tua lida,
a primavera põe n’alma
junto ao inverno da vida!

Ivan Soares Schettert
Na rocha em contínuas rondas,
a noite, o farol reluz,
ao refletir sobre as ondas
grandes pingentes de luz!

José Westphalen Correa
Ao sentir a alma perdida
na procura da esperança,
há momentos nessa vida
em que sonho ser criança!

Manoela Ajalla Paz
Na trajetória da vida
às vezes, fico tristonho,
depois encontro guarida,
porque sou filho de um sonho!

Sidarta da Rosa Soares
Quem nunca teve um amor
vive uma vida sem vida,
sem carícia, sem ardor,
como uma sombra perdida!

Zuleika Ribeiro Edler
Os netos são a esperança,
são momentos de alegria,
lembrando sempre a criança
que já fomos algum dia!

Antonio Vogel Spanemberg
Quanta família sofrida!...
Quanto jovem se destrói!
- As drogas, ceifando a vida,
é uma verdade que dói!

Eldo Ivo Klain
Se o infinito profundo
cabe inteiro no meu "eu",
bem menor é o vasto mundo
que o desejo de ser teu!

Israel Lopes
Teus olhos, linda gaúcha,
são flechas de poesia,
paixão real que me puxa
num breve toque-magia.

João de Souza Machado
Amigo é preciosidade
fazê-lo é grande ciência,
a beleza da amizade
é o novo sol da existência!

Lacy José Raymundi
A visão que me produz
um vaga -lume na altura,
me lembra um pingo de luz
brilhando na noite escura...

Marilene Bueno da Silveira
São teus beijos, a magia,
que me acalma e alimenta,
trazem luz, muita alegria
se uma nuvem atormenta.

Alexandre Amaral Trindade (12 anos)
Era uma cena tão linda,
cheia de plantas e flores,
e nessa beleza infinda
brilhava com muitas cores!

Alessandro Deickel Trindade (9 anos)
Mamãe é uma linda flor,
toda cheia de ternura,
ela me enche de amor,
com sua alma linda e pura!

Taciana Canales da Trindade
Um sorriso de criança
mostra um momento profundo
onde vigora a esperança
de ressurgir novo mundo!

Renata Canales
Eu gosto muito de flores,
rosa, branca, qualquer cor,
mas o tom dos meus amores
é rubro, que é cor do amor!

Átila Amaral Trindade
A minha alma renasceu
num renascer de emoção!
A alegria não morreu,
vive no meu coração!

Carmen Pio
Eu queria ser feliz,
Deus me deu sabedoria.
Era um simples aprendiz,
virei mestre da alegria.
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Antonio Augusto de Assis vence o Concurso de Trovas do Rotary Club







O I Concurso Nacional e Internacional de Trovas da revista Brasil Rotário, teve por temas: Rotary, Servir e Paz. Contando com o apoio da Academia Brasileira de Trovas e a União Brasileira de Trovadores, concorreram 608 trovas do Brasil e Portugal.

O trovador maringaense A. A. de Assis obteve o primeiro lugar com:
Rotary, amigo, é servir,
e é servindo que ele faz
o mundo inteiro se unir
no grande abraço da paz!

Além deste troféu, Assis será agraciado com o diploma e troféu de Menção honrosa, pelas trovas:

Ah, Rotary, que lição
de estratégia a que nos dás:
- em vez de comprar canhão,
servir construindo a paz!

O amor e a paz social,
que o servir expressa e encerra:
- eis o supremo ideal
de Rotary em toda a terra!

A solenidade de premiação será realizada dia 25 de março (4a. feira), ás 17 horas, no Auditório Paulo Viriato Corrêa da Costa, da Revista Brasil Rotário, a Av. Rio Branco, 125, 18o. andar (Rio de Janeiro/RJ).

Premiação: Do 1º ao 5º lugar, Categoria de Vencedores, Troféus e Diplomas.. As Menções Honrosas e Especiais, em número de 10 (dez) cada, receberão Diplomas. Todos os participantes do Concurso farão jus ao recebimento de exemplares do número da Revista Brasil Rotário em que serão publicadas as Trovas premiadas.
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Antonio Augusto de Assis, mais conhecido como A. A. de Assis, nasceu em São Fidélis-RJ, a 7 de abril de 1933. Foi para Maringá em 1955, retornou ao estado do Rio em 1959 e novamente transferiu residência para Maringá em 1963, permanecendo até hoje. Aposentou-se em 1997 como professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá. Desde a juventude tem-se dedicado à poesia. Em 1960, residiu em Nova Friburgo-RJ, berço da trova moderna no Brasil. Nesse período, conviveu com os mais importantes trovadores da época, tais como Aparício Fernandes, Delmar Barrão, Luiz Otávio, J.G. de Araújo Jorge e outros, daí surgindo seu entusiasmo pela quadra setissilábica. Assis é autor de vários livros e também da Missa em trovas, que tem sido celebrada em quase todo o país em festas de poesia.

Não pode haver criação literária mais popular, que fale mais diretamente ao coração do povo do que a trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e sente a sua força. Por isso mesmo, a trova e o trovador são imortais” – Jorge Amado

Fontes:
- http://www.rotaryspaeroporto.org.br/boletins/ConcursoTrovas2008.doc
- Cooperativa Editora Brasil Rotário
- VICTOR, Agenir Leonardo. A Trova: O Canto do Povo. Trabalho apresentado ao Curso de Comunicação Social das Faculdades Maringá, para habitlitação em Jornalismo. Maringá: Dezembro, 2003.
- Fotomontagem por José Feldman em cima de imagem de http://paparocadoce.weblog.com.pt/

domingo, 8 de março de 2009

Ciranda de Trovas do Paraná: Sabedoria

 A maior sabedoria de quem sabe o seu saber é saber que a cada dia sempre tem o que aprender. NEI GARCEZ CURITIBA O dom da Sabedoria do Espírito Santo é graça de ver, com santa alegria, o Bem até na desgraça. LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE PINHALÃO Deus nos dá sabedoria, para o bem que nos conduz amor que, com a alquimia, nos torna um farol de luz! VANDA ALVES DA SILVA CURITIBA Quando eu sonhava, eu não via quanta chance... que passou! Faltava a sabedoria que o mestre Tempo ensinou. VANDA FAGUNDES QUEIROZ CURITIBA Quem vive a maturidade mantendo a mesma alegria revela que na verdade conquistou sabedoria. LEONILDA YVONNETI SPINA LONDRINA Escolher rumos amenos, inovar o dia-a-dia, errar menos... Sempre menos... Também é SABEDORIA. MARIA DA GRAÇA STINGLIN DE ARAÚJO CURITIBA Não se tem sabedoria só com estudos a esmo. É coisa que se inicia no conhecer de si mesmo. GERALDO PEIXOTO DE LUNA LONDRINA Não busque a felicidade pelas trilhas da utopia, busque- a dentro da verdade e à luz da Sabedoria. WALNEIDE FAGUNDES DE SOUZA GUEDES CURITIBA Teço a alegria em minha alma com muita sabedoria. Tecendo-a feliz e calma, faço mais belo o meu dia! ARLENE LIMA MARINGÁ Sem ser um sabedor,ia buscando a felicidade. Sem achar sabedoria foi se perdendo na idade FAHED DAHER APUCARANA A vida é força, poder, vinda de Deus com amor! Sabedoria é entender tão pouco tempo a dispor ! VIDAL IDONY STOCKLER CURITIBA Se a noite é escura e vazia pela fé, que é a luz Divina, vejo que a Sabedoria não brilha, mas, ilumina. WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ CURITIBA Quem usa a sabedoria não briga, apenas debate. Ponderado, desconfia que o adversário quer combate. YAYÁ PETTERLE PORTUGAL CURITIBA Usar de sabedoria é o segredo nesta Vida para haver paz e alegria do Nascer à Despedida!... SÔNIA DITZEL MARTELO PONTA GROSSA A minha alma em espiral buscando a Sabedoria, foge do mundo banal para o reino da harmonia. ROZA DE OLIVEIRA CURITIBA
Fonte: Ciranda de Trovas Sabedoria – http://www.tekanascimento.net/ciranda_trova_sabedoria.htm

sábado, 27 de setembro de 2008

Silmar Bohrer (Trovas)

A vida anda tão restrita,
tão restrita anda a vida
e eu ainda busco guarida
nesta senhora mal-dita.

Escreveu o romancista,
"o homem, poliedro imenso",
milhares de faces a vista
que não chegam ao consenso.

Fazemos versos "a revirias"
eu e o escriba bissexto,
versejando todos os dias
até praticamos incesto.

Ando à procura no mundo
do veio dos ventos uivantes,
aqueles mesmo, ventantes,
os tais ventos giramundo.

Estou com os livros - meu mundo,
embrenhado na biblioteca,
onde o silêncio é profundo
e o grito é baixinho - heureca !

Mesmo atrelado aos tais
ditames da pura Razão
não renunciarei jamais
às doçuras do coração.

Caneta, a pecinha realeza
que pereniza meus versos,
captando comigo a sutileza
na lonjura dos universos.

Tenho tido gostado de ser
assim como tenho sido,
um ser que se passa esquecido
desde a manhã ao anoitecer.

Haverá melhor gostosura
nestes tempos setembrinos
do que os ares assobiolinos
que deixaram a clausura ?

A nuvenzinha no céu
parece não ter intentos
vai graciosa pra dedéu
invadindo os pensamentos

Sendo louco pela vida
minhas idéias se consomem
quando vejo tanta ferida
exposta pelo bicho-homem
-

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Zélia Simeão Poplade

Quando a criança ajoelhada
imita a mãe a rezar,
Deus, lá da Mansão Sagrada,
a ambas vem abençoar.
*********
Amor não é só carinho,
que nos dá ventura imensa.
Amar é dar-se inteirinho...
sem exigir recompensa!
*********
Depois de tanto sofrer,
vendo o filho numa cruz,
Maria, enfim, foi viver
na Glória, junto a Jesus
*********
No sorriso da criança,
mesmo da que vive ao léu,
há um mundo de esperança
e u’a mensagem do céu.
*********
Chega a tarde, hora da prece,
de lá do céu, entre os lírios,
a Mãe de Deus sempre desce
para abençoar seus filhos.
*********
Perdoar uma ingratidão,
que alguém nos fez padecer,
é bem difícil, irmão,
mas, difícil de esquecer.
*********
Nem vou mais dissimular,
(porque todo mundo vê)
que eu só vivo pra te amar
que eu sou louco por você!
*********
Jamais negue alguma ajuda
ao pobre, sabe por quê?
Às vezes a sorte muda...
quem vai pedir é você.
*********
A deficiência não deve
ser olhada com desdém...
Só o louco é que se atreve
a zombar de quem a tem.
*********
Compreende a dor do “ceguinho”,
que a deficiência marcou...
Não lhe negues o carinho
que a chorar te suplicou
*********
Sobre a Autora
Filha de Joaquim Simeão e Adamínia Simeão, nasceu em Curitiba, a 6 de fevereiro.

Professora jubilada, integrante do Centro de Letras de Paranaguá, Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá, Centro de Letras do Paraná, União Brasileira dos Trovadores e outras entidades congêneres do Paraná e outras regiões.

Vice presidente do Conselho Municipal de Paranaguá e presidente da UBT – Paranaguá.

Escritora, poeta, jornalista e radialista, recebeu diversas medalhas em concursos de poesia.

Fonte:
TABORDA, Vasco José e WOCZIKOSKY, Orlando (orgs). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro – Instituto Assistencial de Autores do Paraná, 1984.

sábado, 6 de setembro de 2008

Trovas Daqui, Dali e Mais Além



Cuide bem do seu bebê:
forme-o forte, sábio, puro.
Ele é a porção de você
que vai viver no futuro!
A. A. de Assis – PR

Moro em São José dos Campos
Onde vivo e sou feliz.
No luzir dos pirilampos
vai um abraço pra Gis.
Adamo Pasquareli - SP

Com minha alma enternecida,
confesso com todo ardor:
Só tenho dois dons na vida...
ser poeta e Trovador!...
Ademar Macedo-RN

Tu sorriso exuberante,
qual canto de rouxinol.
Vieste a mim delirante,
bem como um raio de sol.
Alzira Dall’ Agnol – SC

Quer saber o que é amar?
Não fique buscando a esmo;
amar é como tirar
boas férias de si mesmo!
Amilton Maciel Monteiro – SP

Quis colher o sol e a lua,
Depô-los no teu regaço,
Quis cantar de rua em rua,
Os versos que já não faço.
Antonio Barroso - (Tiago) Portugal

Teu retrato está timbrado
dentro do meu coração.
E por mim sempre lembrado,
com muito amor e afeição!
Arlene Lima - PR

De amistad soy sembrador
con mis trovas por el mundo
ya que soy un trovador,
¡que siente un amor profundo!
Carlos Imaz - Francia

Al amor y a la amistad
la sonrisa abre la puerta
y, si hay sinceridad,
la mantendremos abierta.
Carlos Rodríguez Sánchez - Venezuela

A amizade é um bem de amor
que toca a nossa emoção,
guardaremos tal valor
no fundo do coração...
Cidinha Frigeri - PR

O amor oculto, floresce
qual rara flor, num penedo:
perfume que remanesce
das delícias de um segredo...
Clevane Pessoa-MG

Es carnaval de alegría
viste alegóricamente
baila de noche y de día
se oculta a través de gente.
Cristina Bonilla - México - USA

El odio, guerra y rencor
que destruyen las naciones,
se conviertan en amor
en todos los corazones.
Cristina Oliveira - USA

No meu inverno de amor,
nestes momentos tristonhos,
eu rezo e peço ao senhor:
-Não deixe morrer meus sonhos!
Delcy Canalles - RS

O alto-falante anunciava
a valsa de um querer-bem,
e o parque inteiro aguardava
ouvir seu nome, também.
Dorothy Jansson Moretti-SP

Eu agradeço os seus versos,
família do coração,
estes beijos vão dispersos,
levando minha emoção!
Eleandra Bonatto - RS

La piedad es un valor
que embellece nuestra vida.
Si la brindas con amor
regresará bendecida
Fabiana Piceda - Argentina

Em ternura plena e extrema,
nossos sonhos se cruzaram!
E a noite se fez poema...
e os versos também se amaram!...
Flavio Roberto Stefan i - RS

Dois Franciscos, há em mim,
cada qual mais Trovador;
um, é santo e querubim,
o outro, frágil pecador!
Francisco Macedo-RN

Na tempestade, um evento
de energia colossal...
Vi Deus cavalgando o vento
e Senhor do temporal!
F. Vasconcelos - PR

Sou Trovador, e, por isto,
minh ’alma jamais se entrega:
em minhas trovas conquisto
tudo o que a vida me nega!
Gerson César Souza - PR

O mar é o mais doce amante,
pois não cansa de beijar,
num lirismo alucinante,
toda a praia que encontrar.
Gislaine Canales - RS

Con sonrisas y con lagrimas
la vida teje en heridas
un dulce manto de rimas
que salvan las cosas idas.
Gladys Bravo - Chile

Se és veloz no pensamento,
No trânsito sê prudente.
Usa o cinto, fica atento...
Mostra que és inteligente!
Gledis Tissot - SC

Numa eterna teimosia
o relógio vence os Anos
marcando as horas do dia
e os dias de desenganos!...
Hermoclydes Siqueira Franco-RJ

Quien oculte su sonrisa
camina por un atajo
con dirección imprecisa,
pensativo y cabizbajo.
Hildebrando Rodríguez - Venezuela

Teus lábios num beijo assumem
o formato dos losangos,
e unidos aos meus resumem
a polpa de dois morangos!
Humberto Rodrigues Neto-SP

O poeta é um visionário,
mas quanta verdade encerra;
mesmo sendo um solitário
ele abrange toda a Terra...
Ialmar Pio - RS

O vento, só por maldade,
moveu todo meu destino:
formou dunas de saudade
com meus sonhos de menino!
Ivone Prado-MG

Yo compongo mis canciones
porque soy un trovador
Y le canto a las naciones
quiero paz también amor.
Jaime Correa – Chile

Quem já viveu graves crises
jamais esquece a da fome,
pois nunca encontrou raízes
naquela seca sem nome.
Jair Maciel de Figueiredo-RN

Primavera é a natureza
se revestindo de flores,
multiplicando... a beleza,
nos sonhos dos Trovadores.
Joamir Medeiros – RN

-Quando me entrego ao passado,
no meu devaneio infindo,
sonho, bom tempo, acordado,
pensando que estou dormindo.
Jose Lucas-RN

Solitário é luz sem brilho
é sombra sem a visão,
de um olhar que busca o filho
na mais densa escuridão!
Josias Alcântara-ES

Não me tem perigo o mar,
pois distante dele moro;
Há perigo em me afogar
nestas lágrimas que choro.
Lairton Trovão de Andrade - PR

Amigo é o que longe ou perto,
atende sem ser chamado,
com o coração aberto
e um sorriso iluminado.
Leonilda H. Justus - PR

O sol é lâmpada acesa,
por Deus pai, como magia...
para pintar a beleza
da vida... dia após dia
Mara Melinni Garcia-RN

Se o mar da vida, tristonho,
faz meu sonho naufragar,
iço as velas de outro sonho
e (outra vez) volto pro mar!
Marisa Vieira Olivaes - RS

João -de- Barro nos ensina
Com seu talento exemplar,
Que com barro e palha fina
Pode se fazer um lar.
Miguel Russowsky - PR

Yo tengo la fortaleza
la templanza y la razón
de seguir con gentileza
aunque sufra el corazón
Mirta Cordido – Argentina

Na Trova e no Trovador
é que se encontram, suponho,
criatura e Criador
unidos no mesmo sonho!
Nádia Huguenin - RJ

Construtor de propriedade,
João- de- Barro, arquiteto,
Sem cursar a faculdade,
Cria e monta o seu projeto.
Nei Garcez - PR

Amigo eu trago guardado,
sempre com muita afeição,
naquele lugar sagrado
que se chama coração.
Neiva Fernandes – RJ

Muitas vezes eu já disse,
que tenho muitos amores,
me alegrando na velhice:
Deus, família e Trovadores.
Neoly Vargas - RS

Sol de mis días felices
que iluminan mis sentidos
brillan siempre tus matices,
tu luz marca mis caminos.
Nora Lanzieri - Argentina

Cada tropeço me ensina
que a vida é eterno sonhar.
Na vida nada termina,
muda de forma e lugar!
Prof. Garcia-RN

A História da Humanidade
mostra , de modo bizarro,
poucos heróis de verdade
e muitos mitos de barro!
Rodolpho Abbud-RJ

Na trova, que é seu veleiro,
singrando temas diversos,
Trovador é marinheiro
que navega em quatro versos.
Thereza Costa Val-MG

Que o Trovador lá de cima,
nosso vate preferido,
mostre o bem, o amor, a rima
e o seu rastro a ser seguido!
Vânia Ennes - PR

Lenço branco desdobrado,
acenando com amor,
em adeus lacrimejado
como os orvalhos da flor!
Vidal Idony Stockler - PR
=============================
Fonte:
União Brasileira de Trovadores - Balneário Camboriú - SC. Revista Trovamar - Ano 4 - Nº 45 - Setembro - 2008. Disponível em Portal CEN - http://www.caestamosnos.org/rev_trovamar/Setembro_2008.html

domingo, 24 de agosto de 2008

José Levy de Oliveira (Exercícios de Trovas)

(id:MCCXXXII)
.
UBT – Membro no. 088 - Seção de Juiz de Fora, MG

I. TROVAS BEM-COMPORTADAS

O temas são vários: um cartaz de alguém muito preocupado com meu bem-estar e o da coletividade;a indefinição das vestes e cabelos modernos; algumas fraquezas humanas; um noivo impaciente:

1.
Não que me faltasse aviso
Ou falte espírito crítico;
A mim? De mim! o sorriso
Do sorrateiro político!

2.
Dúvida atroz nos domina
Ante a mocidade nova:
Será menino ou menina
Ou os dois, até contra-prova?

3.
Já está na boca do povo
Que a mulher do Belisário
Vai ser um defunto novo:
Nunca faz aniversário...

4.
A fim de não levar “pito”
O cara, dissimulado,
Pra não revelar o pito
Pitava o pito apagado.

5.
Posso desejar a ti”
É ver-te bem desmaiado,
Pois, antes fora de si
Do que mal acompanhado.

6.
Se detestavas a morta
Por cruel e aborrecida,
Nada disso mais importa,
Pois a encontras ... falecida.

7.
Fui um dos heróis da luta
Nessa batalhe triunfal;
Ninguém me viu na disputa
Mas dei um apoio moral....!

8.
Detida por impudência,
A moça assim se define:
-É clara minha inocência.
Só me esqueci do biquíni...

9.
Doidivanas e ao léu,
Ela trocou o biquíni:
De óculos, chinelo e chapéu
Foi banhar-se ... de triquini.

10.
Para o Carnaval, de fato,
Não é difícil arranjar-se
E fica até bem barato:
Desnudar-se, desnudar-se ...

11.
“- Se te atrasas para o altar,
Eu me agasto, minha nega!
- Não adianta se agastar ...
O problema é que ela chega!

12.
Eu não sei o que seria
Se a Pati nada quisesse,
Mas, supondo que eu fizesse,
Será que a Pati faria?...

13.
- Oh! meu amor! Onde a lua,
As estrelas? Que se passa?
- Mas o que fazes na rua,
Que é só ruído e fumaça?
14.
Aquele beijo roubado
Devolver-te? Só de um jeito!
Que o tires com um beijo dado
Agarradinha ao meu peito.

15.
Troveirei a noite inteira
Na janela do meu bem,
Mas, oh!, sorte traiçoeira!,
Troveirou o céu, também.

16.
Duvidas que o homem troveja
E queres prova, doutor?
O que faz quando verseja
E faz trova o trovador?

II. TROVAS METATROVÍSTICAS
A eficácia terapêutica de poetar; as intertextualidades inerentes a esses pequenos poemas; a grandeza do Santo que é o patrono dos trovadores:

1.
Depois das mais duras provas
E dos percalços da vida,
O trovador pensa em trovas
E leva a dor de vencida...

2.
Se, no caminho, uma pedra
Foi, um dia, inspiração,
Tão forte é a trova, que medra
Nas trilhas do coração.

3.
Não sobra melancolia,
Isso o dia-a-dia prova
Que não sare à melodia
Que há na alma da trova.

4.
No pobrezinho de Assis
Nossa força se renova
E nossa trova lhe diz:
“- Santo Patrono da trova!”

5.
O trovador, eu sustento,
O seu talento comprova
Talando o seu pensamento
No estreito leito da trova.

6.
Tão grande é o poder da trova
Que até a amplidão do universo
- e esta mesma o comprova –
Cabe em qualquer de seus versos.

7.
Porque se trova, na vida,
Com tanta ânsia fremente?
Para, à beleza, guarida
Dar no coração da gente.

8.
Na floresta de concreto
Do urbano trovador,
Dá-se o milagre completo
Quanto ele trova ... essa flor!

9.
Pela vida, de mãos dadas
Com a mais sublime estesia,
Me ponho pelas estradas
Com as trovas de cada dia.

10.
Não trovo por ser perfeito
Trovador, mas por saber:
Dever de casa, a ser feito,
Seja feito com prazer.

III. TROVAS DE CONTEMPLAÇÃO

1.
- Essência? – me perguntaste.
É a porçãozinha mais ínfima
Que sobra após o desbaste
Do que excede à parte íntima...

2.
Por mais que longa a distância
Entre corações leais,
Nada macula a constância
Com que eles se querem mais...

3.
Esta verdade não falha,
Certeza mais que palpite:
Para quem ama e trabalha
O Infinito é o limite.

4.
As perfeições do teu mundo
Amo e admiro, meu Deus,
Mas, poeta, me aprofundo
Em somar esforços meus...

5.
Em noites de céu escuro,
Quando não se pode vê-las,
É nosso anseio mais puro
Que acende a luz das estrelas.

6.
Não tenhas temor de nada,
Se vives honesto e bom.
Não se resume a trovoada
A um pouco de luz e som?

7.
Se a vida é duro embate
Que aos fracos sói abater,
“Combater o bom combate”
É “ajudar a viver”.

8.
Para que o esforço não falhe,
Pondo a perder a intenção,
Atente a cada detalhe,
Busque sempre a perfeição.

9.
O homem procura Deus
Com forte sede e incerteza
E, bem em frente aos olhos seus,
Está Deus na Natureza.

10.
Homem, meu filho, merece,
Esse nome, o que porfia
Em trabalho, amor e prece,
Nas lides de cada dia.

11.
Filho não é prevenção,
Cofre, poupança ou seguro;
Filho é carta de intenção
Que se consigna ao futuro.

12.
Temor é morte, variante
Escrita em modo invertido.
Temer é morrer bem antes
De enfrentar o que é temido.

13.
Temor a Deus? Não concordo
Nem penso viver ao léu.
Com Deus me deito e me acordo
E a Terra com ele é Céu.

14.
Consciente, sereno, altivo,
Em todo e qualquer momento
Deve ser o objetivo
Do cultor do pensamento.

15.
A força que reverdece
O coração sofredor
Provem do alívio da prece
Que vence tristeza e dor.
16.
A vida é para brilhar,
Deve o homem ser feliz;
Em vez de o vício adotar,
Corte o mal pela raiz.

17.
Na vida terás franquia,
Ao nascer, com esta certeza:
A cada meia alegria
Haverá uma tristeza.

18.
A mente lúcida, aberta
À incerta natureza,
Só de uma coisa está certa:
É impossível ter certeza.

19.
Assim vai a Humanidade,
Metade em alegre boemia,
Enquanto a outra metade
Restam suor e porfia.

20.
Temor eu tenho de, um dia,
Descobrir que não vivi
Aventuras, fantasias,
Somente porque as temi.

21.
É hora, de vez por todas,
De deixar da vida a esmo;
Pretendo contrair bodas
E viver comigo ... mesmo.
22.
Se o progresso é despedida
De tudo bom que conheço,
A ir pra frente na vida
Prefiro ir ... de regresso.

23.
“- Ajuda!” – diz meu netinho,
Sempre que quer um socorro.
E corro, vou ligeirinho,
Que ao meu futuro que corro.

24.
Tem sido uma dura andança
Toda minha vida a buscar
Sossego, paz e bonança
... se a tempestade passar.

25.
A natureza, com sono,
Chega a mudar de estação,
Pra descansar, no outono,
Dos excessos do verão.

26.
Querer nem sempre é poder,
Mas, se pudesse eu queria
Deixar de inútil querer:
Seu eu quisesse, poderia?

27.
Nos burburinhos urbanos,
Em que a vida perde a graça,
Uns toques restam, humanos,
No bucolismo da praça..

28.
Caminhava eu num sentido,
Em outro ela, com graça,
Nosso mundo resumido
Em nosso encontro na praça.

29
Causa a distância, querida,
Imenso dó que assim meço:
Maior a dor da partida,
Mais o prazer do regresso.

30.
Se, no Juízo Final
For dar meu depoimento
Contra ti e por teu mal,
Serei réu de esquecimento.

31.
Meu amor é assim, total,
Por isso posso afirmar
Que se ele te fizer mal
Renuncio a te amar.

TROVAS DE LOUVAÇÃO

A uma cidade, cujo nome já é um verso perfeito;
a personalidades dignas de encômios:

1.
Redondilha que seduz,
Cantá-la bem nos compete;
Reluz a antiga Queluz,
Conselheiro Lafaiete!

2.
Luiz Otávio, é a prova
De que é capaz a poesia
De resistir pela trova:
LuizOtáviomania... (1)

3.
Do país que atravessaste
Em aturados estudos,
Euclydes, tu nos deixaste
A epopéia de Canudos.

4.
Luiz da Câmara Cascudo,
Para que o Brasil melhore,
Fixou-lhe, em amplo estudo,
Como é rico o seu folclore...

5.
Em quatro versos, concisa,
Clara, completa, notável,
A trova sempre realiza
O ideal de Luiz Otávio.

6.
Caxias, tu és legenda
De civismo, força e glória,
Sereno em qualquer contenda,
Bondoso, em qualquer vitória...

7.
Ao coibir-lhe agravos,
As tuas ordens, Caxias,
Dão lições aos nossos bravos
De humanismo e fidalguias.

Fonte:
Academia de Letras de Viçosa
http://www.alv.org.br/

sábado, 16 de agosto de 2008

Como "não se deve" fazer trovas

(o bom humor é meu, a interpretação é sua)

Muitos especialistas na matéria vivem ensinando como fazer trovas, orientando-se, é claro, pelos princípios básicos da UBT.

Pois hoje eu quero ensinar-lhe "como não se deve fazer trovas". E garanto-lhe, de antemão, que é muito mais fácil e, de quebra, com toda certeza irá lhe render muitos troféus na estante. Se amanhã ninguém se lembrar de alguma trova sua, o que importa? Ali estarão seus troféus, como testemunhas palpáveis e permanentes de suas conquistas.

Bom, comecemos pelas "lírico/filosóficas". Independente de qual seja o tema, sua trova deve conter a palavra "saudade". Em torno dela tente compor as demais 25 ou 26 sílabas poéticas que irão coroar sua obra de arte. E tente ser o mais convincente possível. Porque se o julgador perceber que você está "forçando a barra", isso poderá lhe ocasionar uma desclassificação, o que seria lamentável para suas pretensões. Se ainda assim tiver dúvidas, pegue qualquer livro de resultados e dê uma geral. Você irá se surpreender com a lógica destas afirmações...

O termo que concorre quase em plano de igualdade com "saudade" é "sonho". Use e abuse do seu direito de sonhar. Também não corre risco de despencar no IBOPE. Caso queira variar, então você pode utilizar "solidão", "esperança", "tristeza" (eu conheço uma certa "a tristeza que me invade" que é recordista em galardões!)... Mas faça sempre uma referência, mesmo que de forma velada, ao "amor", que é o carro-chefe de toda a guarnição. Mas "desamor" também é bom. Para concluir, veja se ficou parecida com alguma trova famosa que você já conhece. Se ficou, melhor ainda: o sucesso está garantido!

E resta ainda a alternativa das frases, que podem ser provérbios ou mesmo citações bíblicas e filosóficas. Não vá se distrair e colocar o nome do verdadeiro autor, porque esse descuido também gera desclassificação. Para todos os efeitos é uma criação sua. Muito bem, passemos agora às trovas humorísticas. Continua valendo o exemplo anterior: independente do tema, seu único trabalho será escolher um personagem: "vizinho" tem boa cotação; "português" também é ótimo aperitivo mas o alvo preferido (porque o retorno é garantido) é "sogra". Fora isso tem "amante", "corno", viúva", "gordo"... Porém o que nos últimos anos vem fazendo um estrondoso sucesso, com efeitos "magníficos", é adaptar piadas do anedotário, transformando-as em trovas. Digo e explico: a maioria das pessoas encarregadas de votar não costuma ler almanaques de piadas e também não sabe que os princípios básicos que regem a UBT recomendam que se evite essa tática. Isso virou "uma mina de ouro". Pode fazer, que dá certo. Ultimamente até aquelas piadas mais manjadas estão sendo aproveitadas. Como se diz na minha terra: é "mamão com açúcar"!

Agora, um último recurso: se mesmo assim, depois de esgotadas todas as tentativas, você continuar na galeria dos que nunca conseguem perfilar entre os laureados, só resta uma saída: pegue aquelas trovas com as quais você premiou há muito tempo atrás, lembra-se? Dê uma boa requentada nelas ou então troque apenas umas palavras, incluindo a palavra-tema (tem gente que não troca nada mas é muito arriscado) e pronto: ei-lo de volta ao pódio. Com o mesmo glamour de outrora.

Não se preocupe, já sei o que você quer me perguntar: é claro que várias pessoas irão perceber o que está acontecendo mas ficarão com pena de você e apenas farão aquela familiar expressão de "não vi nada, não sei de nada", "tô nem aí", etc. E você continuará sendo amado e festejado. E desta vez também será aplaudido. Chega de aplaudir, somente.

Não me agradeça, por favor, se ocorrer essa mudança em sua vida trovadoresca. Afinal, "se não vivemos para servir, não servimos para viver". OBS: essa frase é minha, mas pode encaixá-la numa trova, se assim o desejar.

E, encerrando, há as trovas religiosas: mesmo que você não creia em Deus, use-o em seus trabalhos, porque a comissão julgadora crê, e irá levar muito a sério as suas palavras. Quando você morrer, e for por Deus cobrado, diga que "foi só uma brincadeirinha, magina"! Que você não tinha intenção!...

Fonte:
Portal Movimento das Artes
http://www.movimentodasartes.com.br/trovador/pop_081/080420a.htm