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quarta-feira, 22 de julho de 2020

Sinclair Pozza Casemiro (Maria e Maria)


Caminhoneiro feliz era o Tião. Não foi a vida que pedi pra Deus... mas já que ele me deu.... Um caminhão bem cuidado, as posses não lhe puderam conferir um novo, mas seu sonho por certo um dia viraria verdade e ele passearia pelas ruas de Campo Mourão com as Marias na boleia. Esse dia ia chegar, tão certo como o sol que me alumia, lhe agaranto, Maria. E Maria concordava, rindo. Era assim sempre aquela mulher. Sempre rindo, co'a filhinha ao colo. Mulher de caminhoneiro é também uma forte, Euclides. Não tem tempo ruim, sol, chuva, frio, calor, comida, fome, cobrador à porta, o silencio cumplicioso diante do credor indignado... e a vida vai-se indo...

Maria e Maria. Suas duas maiores fortunas que ele, sempre que podia, carregava junto. A filhinha não reclamava, gostava muito. Nem sabia se tinha outro jeito, é claro. A mãe não só não reclamava quanto gostava muito, também. Acompanhar Tião, seu homem. Valente, alegre, mal-humorado com quem não gostava e um doce, até estragado de tão doce, pra quem queria bem. Assim, a vida ia se indo.

Os botinas já tinham se acostumado de ver a família na boleia. Carona não pode, mas as Marias eram carona? Acho que não. Pelo sim, pelo não, uma cervejinha de vez em quando e o problema estava resolvido.

Assim a vida ia se indo, Maria sempre rindo. Tião, ia e voltava, frete não lhe faltava. A casinha, ali perto do 119, na saída pra Peabiru, era humilde. A cidade de Campo Mourão ainda não era assim asfaltada, com as comodidades de agora, mas já mostrava futuro. A vizinhança, pouca, muito rara mesmo, era pobre igual, ou melhor, mais pobre. Tião não era pobre. Era afortunado, tenho um caminhãozinho, uma família, vamo vivendo... Muita peça que quebra, pneu que estoura, recape que não aguenta, senão até que sobrava pra não dever nada. Mas... tá bom. A noite fazia esquecer os problemas junto do corpo quente e macio da Maria, sempre rindo...

A filhinha crescendo, já dando seus passinhos, entendia de um tudo. Gostava de passear no caminhão, parava pra isso qualquer birra ou tristeza, se é que havia.

A Maria era sua, só sua, a Maria, filhinha, era deles, só deles. Mas a fortuna eles dividiam com os amigos. A casinha, quando eles lá paravam, era sempre cheia de gente. E de causos, e de chimarrão, dava gosto. Maria, sempre rindo. Não gostava de ficar, queria ir com Tião, nem precisava chamar. Chegava, lavava, arrumava a casinha, preparava comida pras viagens, ajeitava as coisas. Ia de novo. Seu lar era mesmo a boleia.

Estavam todos na roda do chimarrão, naquela tarde meio chuvosa, quando chegou uma mudança. No barraco ao lado. Não para ninguém aí, esquisito. Já ouvi dizer que foi amaldiçoado, quando os pioneiros vinham pro lado do Santa Cruz, fazer as rezas na Gruta, uma mulher foi assassinada nesse rancho. Me contaram que foi de amor. O companheiro não aceitava que ela não lhe queria mais. E aquele filho, diziam, nem era dele, não. Então ele trouxe ela, mais o filhinho no rancho, e escondido de todo mundo, matou a infeliz. O filhinho, Tião? Ah, nem tinha como saber das coisas, era de colo. Cresceu, com parentes. Mas o ranchinho fica aí, assustando os outros. Diz que ela vem, de noite, procurar o filhinho,.. Diz que se escuta o choro dela e ela chamando o bebê. É... coração de homem é terra que ninguém pisa...

A roda, de repente, tem mais gente. Chega a dona nova da casa e o filho, rapaz de corpo bem feito, falador, bonito. Logo se enturma, aprecia o chimarrão. Muito bem feito, fazia tempo que não experimentava um igual, com essas ervas... Ervas daqui, do quintal, diz Maria. Pra gente usar. Quando quiser... A conversa se anima, vão terminar a mudança, vai que chove.,.

E choveu. Choveu tanto, que o ranchinho não serviu pra abrigo e os novos vizinhos foram procurar arrego no Tião. Como sempre, o caminhoneiro atendeu. Tratou o vizinho já como velho companheiro, o que só o caminhoneiro sabe fazer. As mulheres confabulavam, a Maria, filha, encantava com sua graça e esperteza. A noite chuvosa embalou a todos, até os desafortunados do novo lar, que não tinham mesmo o que fazer.

E assim a vida ia se indo. No outro dia, o moço arrumou o rancho, nem precisou mais de ajuda. Agradecido, só fez visita, na outra noite. Tião recebeu, Maria sempre rindo...

Os dias foram passando, Tião, Maria e Maria indo e voltando, os novos vizinhos se conversando... Tinha mesmo um barulho esquisito no rancho. Mas.,. arre! Tenho o corpo fechado, falava o moço, que achava bonito o jeito da Maria, sempre rindo...

Maria achava bonito aquele moço, sem medo, valente que nem o Tião.

Hoje não vou, Tião. Tenho que arrumar umas coisinhas. Tá bem, volto logo. E assim a vida ia se indo... Maria já nem sempre rindo... Já nem indo tanto mais, também, no caminhão com Tião.

Um dia, um amigo falou pro Tião que ele nunca que ia morar em casa perto de casa assombrada. Tragédia chama tragédia. Se fosse o Tião, mudava dali.  Ora! Pra mim, essas coisas? Desde quando, nunca me aconteceu nada! Eu, se fosse você, Tião, mudava dali. O ranchinho é coisa do tinhoso, nem é bom tá perto. Oras!!

Mas o amigo insistia... Reparando bem, era mesmo. Maria nem sempre ria mais, já não ia mais com ele como antes, andava aborrecida, doente. Doente? Mas tava mais bonita, cabelo sempre arrumado, batom, as unhas sempre pintadas... Não tinha que se preocupar, não. Que confusão, Meu Deus! Acho que o Pezão não é bem amigo, não. Deu pra me perturbar com coisas... Tião, você não merece. Tentei evitar, até te tirar de lá, mas... Você é muito bom, rapaz, não percebeu. Cuida da Maria e do moço bonitão.

Bastou. O coração bom de Tião se anuviou, ele mais nada viu. Depois, bem depois que a tonteira e o ódio amainaram, ele achou que não era verdade, era engano, era mentira, era pesadelo. E nessa ilusão conseguiu chegar. Estava igual seu cantinho, mas já não era o mesmo mais. Também Maria, já não sorria. Mas um fio de esperança contava pra ele que não, que era tudo ilusão, pesadelo. Tião despediu, da Maria e da Maria, vou viajar. Tinha um plano.

Chegou a Peabiru, como nunca antes, nem viu passar o tempo, a estrada. E, de lá, encostou o caminhão, voltou a pé. A peixeira na cinta, não ia ser preciso usar. Era tudo ilusão, pesadelo. Os passos iam fazendo ele se achar tolo, perda de tempo. A Maria era só dele, era, sim, como era quando ela sempre ria.

Na porta do seu cantinho, ele viu umas chinelas que não eram dele. No azul escuro da noite sem lua, Tião viu tudo claro, de repente. E, brusca, irrompidamente saltou ao leito onde dormiam os corpos descansados dos pecadores ingratos. Tião só viu massas de corpos nus, braços, pernas, gritos, molhados, em meio ao prateado fio. Depois, no tribunal, soube que foram muitas, perto de cinquenta. A Maria, filha, tadinha, estava muda. Os olhos sempre abertos, fugidios, corriam do Tião. A vida pra eles também se acabara. Não foi preso, que a Lei, naquele tempo, não condenava quem matava pra defender a honra. A pequena Maria, ficou sabendo que morrera também. Como os olhos não queriam mais ver, a boca não quis mais comer, o coração não quis mais viver. E naquele tempo, também era mais difícil remédio pra essas dores.

Até hoje, quem passa por aquela estrada, escuta no rancho e no cantinho do Tião, um choro e mais uns gritos. Conforme a hora, escuta também uma voz, principalmente quando se anuvia e o vento assobia, chamando longe... longe... "Mariinha, filhiiinha!..." O pai, esse vagueia, pelo rio 119, pela estrada pra Peabiru, como vagueou em vida até ser reconhecido, ainda quente, sob as rodas de um caminhão.

Fonte:
Sinclair Pozza Casemiro. Causos do coração do Paraná (por entre as beiras do Ivaí e do Piquiri…). Campo Mourão: Sisgraf, 2005.

domingo, 15 de novembro de 2009

Gilmar Cardoso (A Verdadeira Origem do Carneiro no Buraco)


Esta história começou já se vai quase um século. Eu mesmo confesso que desconhecia a verdadeira origem do prato típico do Município de Campo Mourão-PR, até colidir meu carro em outro onde viajavam dois nobres anciãos: o Tenente Soares e seu fiel escudeiro Benevides, ambos na casa dos seus noventa anos, bem vividos, diga-se de passagem. Isto aconteceu no ano passado no litoral do Estado de Santa Catarina, durante as férias mais controvertidas que já tive.

Quebrei vários ossos, mas não corri risco de morte, ao contrário dos velhinhos. Ficamos os três em uma só enfermaria, e como não podia ser de outra forma, conversávamos, ou seja, entre os “ais” de dor, falávamos sobre os mais diversos assuntos, até mesmo sobre o Carneiro no Buraco e a história de que ambos presenciaram a primeira vez que essa iguaria foi consumida.

Abre aspas: Viajava nossa caravana em busca da Água da Fonte de São João Maria de Jesus, que segundo se sabia, ficava cerca de doze léguas a oeste do povoado de Campos do Mourão num lugarejo batizado por Pinhalão. – disse o oficial. Vínhamos da já frondosa Guarapuava, a qual era matrona de toda essa região, cujo percurso fazíamos em lombos de mulas. Se me lembro bem, o Zizinho e o Cacique vinham a pé. Um burro forte carregava a cozinha, que era composta dos víveres, uma chaleira de ferro para esquentar a água do chimarrão, talheres de pau, e um tacho de cobre com tampa. A água carregávamos nas cabaças.

Estávamos já há muitos dias andando por uma estrada conhecida como Caminho Pisado, uma antiga via que possuía cerca de oito palmos de largura, uma profundidade de 0,40cm e forrado por gramíneas que impediam o crescimento do mato. Esse histórico ramal era popularmente conhecido como caminho das tropas ou Peabiru; e naquele tempo ainda era bem delineado.

Nossas provisões estavam no fim, assim como a pólvora. Sem comida e sem jeito para caçar, a situação começou a ficar insustentável. Mas Deus nunca havia sido tão generoso para conosco como naquele dia.

Num final de tarde, Zizinho e o Cacique afastaram-se um pouco do acampamento para ver se encontravam alguns frutos que se pudesse amenizar a fome. Mas adivinha o que encontraram? Dois carneiros gordos!

Um deles eles conseguiram pegar. E como bons mateiros que eram, o trouxeram destripado ao acampamento. O animal pesou cerca de 30 quilos, depois de limpo e cortado em pedaços. — Não deixa o animal balir, meu pai dizia que dá azar e é sinal de que o próximo a morrer é você! — ouvia-se por ali como influência da cultura popular.

O japonês, nosso mestre-cuca, ativou o fogo, juntou tudo o que restava da dispensa: tomate, cebola, batata doce, batata salsa, chuchu, abobrinha, cenoura, vagem, pimentão, mandioca e maçã; e foi logo botando tudo para cozinhar no tacho de cobre com tampa.

Chegava o crepúsculo daquele dia distante. Estávamos todos ansiosos para saborear o cozido, que naquele instante começava a ferver. Mas a alegria do pobre dura pouco, e não demorou mais um minuto que ouvimos tiros, seguidos por berros: “ladrões de carneiro, vou cobri-los de chumbo!”

Mais do que depressa Zizinho, Cacique e o Japonês trataram de se livrar dos vestígios do animal roubado. A opção foi o buraco deixado pelo tronco de um pé de jaracatiá apodrecido. Nele colocaram o tacho, juntamente com o material incandescente: brasas vivas do nó de pinho; e depois o cobriram com a terra de um cupinzeiro abandonado que havia nas imediações. Além disso, cobriram também a terra removida com folhas para não gerar nenhuma suspeita de que ali havia um jantar sendo preparado.

De repente apareceu no acampamento um homem baixinho, tez clara e nariz afilado. Trazia às costas uma enorme espingarda, cuja boca do cano ainda saía um pouco de fumaça. Fedia mais que as mulas.

De véspera, olhou para uma botija que havia sobre os arreios, e foi logo perguntando se era vinho. Eu disse que era e ele poderia bebê-lo todo se pudesse.

Nem precisei insistir. Não demorou nem meia hora e o baixinho estava mais bêbado que gambá de alambique. Falando mole ele dizia que os carneiros não sobreviveriam mesmo naquelas condições. A bicharada iria comê-los mais dia, menos dia.

Não demos o braço a torcer nos entregando de que havíamos surrupiado o animal, talvez fosse uma estratégia do tal baixinho.

Escureceu profundamente. A fome aumentava e nosso convidado não ia embora.

Lá pela meia noite ele adormeceu. Podíamos até desenterrar o tacho se quiséssemos, pois naquelas condições o homem da espingarda não iria perceber, já que dormia sua total embriaguez.

Num verdadeiro ritual, aos poucos fomos retirando as folhas que estavam sobre o buraco em que havíamos colocado o tacho, até o descobrir totalmente. Enquanto isso os outros estavam a acender um novo fogo que de fato serviria para terminar de cozinhar o carneiro, nossa única opção do jantar daquele dia.

Mas tão grande fora a surpresa quando o japonês retirou a tampa do tacho, o carneiro estava totalmente cozido, tenro, macio e delicioso!

Não sabíamos, mas naquela noite nascia uma iguaria exótica. Nossa viagem terminou e por muitas outras vezes cozinhamos carneiros daquele modo, só que juntando a ele outros temperos, tais como: pimenta do reino, alho, ajinomoto, cebolinha, salsinha, vinagre de vinho, óleo e sal.

Certa ocasião, na década de 60, eu estava em São Paulo e como você já percebeu, gosto de contar histórias e contei essa passagem a um grupo de americanos. Alguns anos depois fiquei sabendo que eram eles cineastas e que até utilizaram minha receita num daqueles filmes de bang-bang.

Naquele instante percebi que Benevides estava muito quieto e o chamei por várias vezes. Ele não respondeu. Havia morrido enquanto seu companheiro me contava a história.

No dia seguinte o Tenente já não tinha mais forças, falava entre longas pausas já com voz sumida. Mas antes que desse o último suspiro, chamou-me para perto de si e disse: “você pode ter duvidado da história que lhe contei, mas se quiser saber certeza, pergunte ao falecido Nereu e o finado Deodato, eles também estavam lá”. Fecha aspas.

Essa foi a história que o valente tropeiro militar Tenente Soares me contou, antes de ter o corpo encomendado por um padre coadjutor de Guarapuava, da Congregação do Verbo Divino, que lhe aspergiu água benta sob o “olhar” vigilante da imagem de São José, que adornava o oratório daquele hospital. Ao longe soou um berrante...

Fonte:
Conto de abertura do livro "Enquanto conto, encanto o conto" - contos, lendas e rumores, Organizado pela Fundaçao Cultural de Campo Mourao.1ª. ed. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2004. v. 5000. 100 p.
Imagem = montagem de José Feldman

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ocimar Barbosa (A Lenda dos Namorados do Bosque)

Pindamonhangaba tem uma lenda das mais românticas que conta sobre um amor impossível. Trata-se da “Lenda dos Namorados do Bosque”. O fato, segundo historiadores já falecidos, caso do antigo arquivista da prefeitura municipal, “seo” Lacerda, teria acontecido na década de 20 do século que passou.

A morte de dois jovens abalou a sociedade e a comunidade de forma geral, mas o que houve nos bastidores é o que acabou criando a lenda, como uma versão valeparaibana para “Romeu e Julieta”.

A alta sociedade de Pindamonhangaba, remanescente dos áureos tempos do café, ainda vivia das aparências e de uma falsa opulência financeira. Sarais e encontros festivos nas casas mais abastadas falavam da vinda do Príncipe Regente antes do episódio da Independência, dos soldados da Guarda de Honra, da presença de D. Pedro II e das tradições familiares.

Preconceito, o inimigo do amor
Nas igrejas e outros templos religiosos, falava mais alto o renome e a posição social. Um lado da igreja era destinado aos descendentes da nobiliarquia e outro lado para os cidadãos comuns. Famílias tradicionais que ostentavam a distinção de títulos não permitiam que seus membros mantivessem contatos com gente de “menor expressão”.

Assim, em meio a esse cenário pincelado pelo preconceito sobranceiro - entre a pessoa de descendência fidalga e outra do da “plebe”-, surgiria um grande amor .

A jovem era linda, de família de berço nobre do século XIX e cercada de cuidados. Representante ideal da sociedade pindense, havia estudado nos melhores colégios do Rio de Janeiro; ele, um moço da classe média, porém, altivo e inteligente, havia cursado os principais colégios de Pindamonhangaba. Quando se conheceram, ele estudava medicina em São Paulo.

O amor impossível
Conheceram-se durante uma noite de domingo, na Praça Monsenhor Marcondes, naquele período onde o romantismo ainda fervilhava nos corações (não como hoje, onde baladas, drogas, bebidas e palavrões fazem parte do cotidiano da maioria dos casais de namorados). Gestos cavalheirescos ainda provocavam suspiros nas jovens moçoilas.

Foi amor à primeira vista. Apresentados por amigos, brilhou nos olhos a chama do amor verdadeiro onde ambos se sentiram almas-gêmeas, um do outro.

Sentiam-se como se já houvessem se conhecido em outras eras. Tudo era mágico, a atração totalmente recíproca. Imediatamente, estavam loucamente apaixonados.

Logo que soube dos encontros românticos, a família da moça passou a pressioná-la: “Ele não é do nosso nível. Você precisa terminar esse romance!”, diziam os pais, sem demonstrar o mínimo de respeito pelos sentimentos da moça.

Como os jovens apaixonados continuavam a se encontrar, a família proibiu a jovem de vê-lo. Pior! O amor ganhou ainda mais força. Com a proteção das amigas de ambos, o casal de namorados continuava a viver aquele amor cada vez mais impossível.

Ameaças e perseguições
A situação começava a ganhar contornos perigosos com ameaças de todos os lados. O rapaz passou a ser perseguido pelos jovens da elite. Algo terrível estava pra acontecer.

O jovem estudante de medicina já estava em seu 2º ano de estudo e, depois de dois anos, passaram a se encontrar apenas no período de férias, quando ele retornava para sua terra natal, Pindamonhangaba. Nesse período, voltavam as pressões familiares, ameaças e perseguições.

Ficava mais difícil os encontros secretos, enquanto isso, a paixão aumentava, era cada vez mais ardente. Precisavam fazer alguma coisa, pois já não poderiam viver, um sem o outro.

Eternizando o amor
Os jovens temiam, um pela vida do outro. Isso era a prova maior de um sentimento verdadeiro. Depois de conversarem muito, apesar de constantemente vigiados, resolveram colocar um fim àquela situação insuportável.

Em uma certa noite que ficou na história, os jovens desceram a ladeira do Bosque da Princesa. O jovem estudante de medicina trazia um pequeno frasco contendo veneno.

Sob a luz da lua e embaixo de um ipê todo florido, amaram-se, sendo vigiados desta vez, apenas pelas águas cúmplices e silenciosas que deslizavam pela curva do Rio Paraíba.

Depois, brindaram àquele grande amor e beberam da taça que continham a substância venenosa trazida pelo rapaz. Foi um adeus melancólico a duas jovens vidas, mas um “sim” ao encontro de duas almas afins.

No dia seguinte, um grupo de pescadores que passava pelo local encontrou os dois corpos abraçadinhos, cobertos pelas pétalas do ipê amarelo. O velho ipê cobriu com seu manto dourado o jovem casal e serviu assim, de testemunha para um enlace doloroso, porém eterno.

Dizem que o ipê, a partir daquele dia, foi secando, ficando triste...até que morreu de vez e foi retirado. Durante muitas décadas, era visto um pedaço de terra sem vida e sem qualquer vegetação, do lado esquerdo de quem olha para o rio.

Nos anos, 90, com a reforma do gramado do Bosque da princesa, o local ficou sem a referência da velha história: A Lenda dos Namorados do Bosque.

Fonte:
http://www.pindavale.com.br/historiasecausos/textos.asp?artigo=52

domingo, 16 de março de 2008

Deusdédti Ramos (Conta de Cabeça - O Sorteio)

CONTA DE CABEÇA
.
Sujeito vaidoso sobrevoando a fazenda, em companhia de um amigo, se gabava mostrando a propriedade. Ora uma enorme plantação de café, ora de laranja, ora de outra cultura. Estava de peito estufado e o amigo simplesmente incabulado com as dimensões do patrimônio do amigo, não tecia o menor comentário.

Quando sobrevoaram uma enorme invernada onde uma quuantidade incalculável de gado pastava, o amigo pediu para o piloto fazer um vôo razante sobre os bichos. Ao terminar o vôo razante, que durou uns dez minutos,o amigo exclama exausto: - Puxa! Quinze mil, trezentas e quarenta e oito cabeças?

O outro intrigado, pergunta: - Como é que voce sabe que é este o numero de cabeças?

- Foi fácil. Foi só somar as patas e dividir por quatro.
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O SORTEIO

Durante uma assembléia onde participavam pessoas de ambos os sexos com idade de 10 a 95 anos.

Em um dado momento, para descontrair, um dos organizadores, tomando a palavra, propôs aos participantes um sorteio:
- Atenção, pessoal, quem quiser participar de um sorteio, por favor levante a mão.

No mesmo instante, praticamente 90% dos quase duzentos presentes levantou a mão, mesmo não sabendo o quê seria sorteado.

Uma explicação se seguiu:
- Nós vamos sortear uma barra de chocolate, permaneça com a mão levantada quem quiser ganhar uma barra de chocolate.

Os 90% foi reduzido a mais ou mais de 40%.

Então o interlocutor, para esclarecer disse:
- Pessoal, a barra de chocolate é esta aqui – aí mostrou uma barrinha de Bis.

Houve um breve silêncio e o número de mãos levantadas caiu para pouco mais de trinta.
- Muito bem! Vocês concordam que escolhamos dentre as pessoas de mãos levantadas, a pessoa mais jovem?

Todos concordaram e o prêmio foi entregue a uma garota aparentando ser a mais nova.
- Agora vamos sortear esta caixa com cocô de cavalo. Levante a mão quem deseja ganhar este prêmio.

Houve um tremendo zum-zum-zum e algumas gargalhadas. Quando tudo se acalmou, notou-se um garoto de uns doze anos com a mão levantada. O organizador chamou a atenção de todos para o fato e todos os olhares se convergiram para o ponto, no canto, onde estava o garoto, sério e decidido.

O silêncio foi quebrado com esta pergunta do organizador:
- Meu bom garoto, você entendeu bem o que contém esta caixa? Para que é que você quer este com cocô de cavalo?

A resposta foi breve e inteligente e direta.
- É que gosto de cultivar algumas plantinhas e com certeza isto servirá como esterco. Nada tenho a perder. É um prêmio, não é? Meu avô já dizia: “ Cavalo dado não se olha os dentes”

O organizador para não cometer injustiça, sentindo como se o garoto estivesse adivinhando, resolve perguntar mais uma vez:
- Ninguém mais quer concorrer a este prêmio?

Silêncio geral.

- Bom, meu garoto, então você acaba de ganhar: uma caixa com a bosta do cavalo e o próprio animal que a eliminou. Trata-se de um cavalo da raça Puro Sangue Inglês de dois anos e meio, inteiro, e que vale perto de R$280.000,00, doado por um proprietário de um Haras, aqui da redondeza. Meus parabéns! Aqui está a caixa com seu conteúdo e uma carta/autorização para retirada do magnífico animal, quando você achar melhor.

Fonte:
Sítio do Caipira. Causos. http://eptv.globo.com/

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Rocir Santiago (Causo: Num quero ser mentiroso)

Dois amigos, de São João, a 17 Km de Garanhuns, um caçador e pescador e o outro pessoa comum: Mário e Adolfo.
Certo dia Mário chamou Adolfo para uma caçada, no que ouviu:
-Tá doido, amigo! Num quero fama de mentiroso não!
Foram várias insistências e negativas como resposta até que um dia, Adolfo aceitou.
No mato, Mário perguntou:
- O amigo quer caçar, ou pescar?
- Prefiro pescar - respondeu Adolfo - não gosto de ofender à fauna, nem à flora!
Mário saiu para um volta pra ver se encontrava caça e deixou o amigo às margens de uma barragem pescando.
Passadas algumas horas, Mário voltou com um tatu que havia abatido, mas se deparou com o amigo cochilando às margens da barragem.
Aproveitou para fazer uma brincadeira: entrou lentamente na água, colocou o tatu no anzol, deu uns puxões e saiu.
Despertado, Adolfo arrastou o bicho da água e, vendo o amigo foi incisivo:
- Num conte isso pra ninguém não, senão vão me chamar de mentiroso! E olha que é o terceiro tatu que arrasto daí e devolvo pra água pra ninguém dizer que tô mentido!

Fonte:
Sítio do Caipira. Causos. Por Rocir Santiago (Guaranhuns/PE). Disponível em
http://eptv.globo.com/