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domingo, 3 de agosto de 2025

Asas da Poesia * 63 *


Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR

Acalanto
"Como as tuas carícias são
deliciosas!"(Ct. 4.10)

Minh'alma está triste
Como aquele pombo,
Que na mata, ao longe,
Já perdeu seu ninho;
Se soluça o pombo
Seu amor perdido,
A minh'alma implora
Pelo teu carinho.

Doente está minh'alma
Qual ave ferida,
Que o mau caçador
Acertou-lhe o passo;
Infeliz, o pombo
Se apagando vai,
Eu, porém, protejo-me
No teu meigo braço.

Como aquele pombo,
Triste está minha alma,
Coração partido
A sangrar de dor;
Mas, serei feliz,
Neste dia atroz,
Se em teu seio puro
Repousar eu for.

Ficarei quietinho...
Secarás meu pranto...
Voltará a paz
Pra aquecer-me então...
Os teus lábios dóceis
Roçar-me-ão a face
E terei carícias
De uma leve mão.

Oh, delícia imensa!
Deixarei o mundo!
Fingirei dormir
No teu seio, ó linda!
E acordado, sim,
Sonharei contigo,
Sem eu crer que possa
Estar vivo ainda.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

És um arbusto florido...
Eu sou o vento que passa,
e, num delírio atrevido,
te despe e depois... te abraça…
= = = = = = 

Soneto de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Testamento

Chegou o tempo inevitável da lembrança
...de repensarmos o que foi a nossa vida.
Se a mesma dor bate no amor, ele revida
com um sorriso necessário... de criança.

Doces memórias nos impelem a passados
...dourados... livres... onde os voos da inocência
ignoravam os arroubos da ciência
e preocupavam-se em criar sonhos alados.

Como brincávamos!!! ...tudo era tão bonito
movido apenas pela nossa ingenuidade
e hoje, imersos na leveza da saudade,
reinventamos nosso amor mais... infinito.

Na previsão de um infarto fulminante
ou de um mal súbito iminente e sem aviso,
nosso sorriso idiota e... tão preciso
ainda teima em enfeitar o nosso instante.

Nós insistimos em criar nossas gravuras
mais pueris... mais inocentes... caricatas,
que apenas contam histórias que nem têm datas,
mas apresentam seus momentos... de ternuras.

São versos... esse é o derradeiro patamar
mais expressivo... são os túneis de memórias,
para que alguém, ao estudar nossas histórias
entenda, ao menos, nosso tempo de sonhar.

As forças faltam, nossos corpos cambaleiam,
Mas nossas mãos ainda insistem: digitamos
Ou escrevemos e, assim, reeditamos
O que sonhamos, esperando que nos leiam.

Que tolos somos! Quem se importa com vivências?
...nossa aparência é um retrato desfocado
De um novo tempo que despreza o passado
Abominando nossas vãs experiências.

Nosso legado? Um objeto precioso,
algum dinheiro, um imóvel, a mobília,
Um carro novo, algum tesouro... e uma família
Tão dividida, querendo o mais valioso.

Noras e genros, retirando suas capas,
Filhos e netos, disputando, após o choro,
O que deixamos... cada um criando num coro
Traçando planos sórdidos, criando mapas.

É inevitável percebermos nossas lutas
Por um futuro mais feliz e promissor,
Mostrando tudo que ensinamos sobre o amor,
Findar em cenas lamentáveis de disputas.

Melhor seria procurarmos a alegria
Na fantasia e só deixarmos aos parentes,
Nossas histórias infantis e adolescentes,
E alguns romances.... fragmentos de poesia.

Quem sabe, um neto ou um filho mais sensato
E mais sensível compreenda, de verdade,
Que a nossa vida só buscou felicidade
Na liberdade mais feliz de cada fato?

Quem sabe, um deles, nos pesquise mais a fundo,
E estude a história de cada antepassado
E compreenda que a memória é o legado
Mais importante e verdadeiro que há no mundo.

E que os desejos pessoais e as manias
Naturalmente humanas e mais prazerosas
Não sejam teses imbecis, pecaminosos,
Dos que acusam com cruéis hipocrisias!

Que nossas mãos ganhem asas de passarinhos
E haja carinho em nosso último estertor,
Para que alguém encontre o mapa desse amor
Que cultivamos na rudeza do caminho.

Que nos editem... não há outra alternativa
Que imortalize nossos modos de sonhar
E que respeitem nosso jeitinho de amar
Para que nossa liberdade sobreviva.
= = = = = = 

Trova de
CIPRIANO FERREIRA GOMES 
São Paulo / SP

Da pedra bruta aos brilhantes, 
mãos calejadas, fiéis, 
servem às mãos elegantes
a vaidade dos anéis. 
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Livros e Saudade

Três quadros encostados na parede...
Em cima da mesa, desenhos por terminar.
Na estante, próxima à janela,
entre os livros, a saudade a espreitar...
= = = = = = 

Quadra Popular

Meu amor, vai pelo mundo:
ir pelo mundo é um bem;
o mundo também é regra
para aqueles que a não têm.
= = = = = = 

Soneto de
RAUL DE LEONI
Petrópolis/RJ, 1895-1926

Mefisto

Espírito flexível e elegante,
Ágil, lascivo, plástico, difuso,
Entre as cousas humanas me conduzo
Como um destro ginasta diletante.

Comigo mesmo, cínico e confuso,
Minha vida é um sofisma espiralante;
Teço lógicas trêfegas e abuso
Do equilíbrio na Dúvida flutuante.

Bailarino dos círculos viciosos,
Faço jogos sutis de ideias no ar
Entre saltos brilhantes e mortais,

Com a mesma petulância singular
Dos grandes acrobatas audaciosos
E dos malabaristas de punhais…
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Acaso fizeste a Lua? 
Acaso fizeste a rosa? 
Então que ciência é a tua, 
tão solene e presunçosa?…
= = = = = = 

Poema de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021

Menino Ilha

Como uma ilha deserta, desperto no meio do mar...
Distante, sem eira e nem beira, mal posso sonhar.
O mar, quase amante com ondas infindas, constantes,
que vêm e que vão;
E todas melosas, molhadas me beijam, me afogam e voltam bailar.
O sol escaldante de dia me aquece, me queima, me atenta
e me faz flutuar...
E um solitário coqueiro com seus leques abertos
me dão o frescor no leve roçar...
E a sombra me cobre, se esquiva, vai embora,
sumindo no ar.
 
A noite silente, estrelas luzentes palpitam, desejam, rodeiam a ilha
num doce velar...
Vaidosa a lua me sonda, me espia; se olha, se mira no espelho do mar.
E eu tal uma ilha envolto em letras, que voam, saltitam na noite perdido
num mar de ilusão...
Palavras se juntam, ideias benditas me vêm à cabeça mas logo se vão.
Pensamentos acendem faíscas ligeiras, palavras arteiras...
Meu estro acorda, me deixa sonhar.
 
Sou ilha, sou homem, menino, poeta... Quem sou?...
Sou eu pequenino... no universo, um anão...
sou sol ou sou ilha... sou mar, sou luar, sou eu, sou você...
sou só...
Solidão!
= = = = = = 

Quadra de
IDEL BECKER
Porto Casares/ Argentina, 1910 – 1994, São Paulo/SP

Eu recuso mulher nova,
que é espelho dos enganos.
Quero uma velha bem velha
de vinte, ou vinte e dois anos.
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Amor sem jaça

Nem pense em me deixar! Eu enlouqueço,
ou vou, por certo, entrar em depressão...
Não saberei viver sem tanto apreço,
com que você prendeu meu coração.

Por isso eu peço aos céus que, a qualquer preço
nos livre de qualquer separação,
que me poria num torpor espesso,
exterminando a minha inspiração!

Também jamais veria no futuro
alguma graça para o meu viver,
pois existir sem estro eu esconjuro!

Assim, meu bem, evite tal desgraça;
jamais me deixe só! Você vai ver
que é todo seu o meu amor sem jaça!
= = = = = = 

Trova de
LUIZ OTÁVIO
(Gilson de Castro)
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

Contradição singular
que angustia o meu viver:
a ventura de te achar
e o medo de te perder.
= = = = = = 

Soneto de
FLORBELA ESPANCA 
(Flor Bela de Alma da Conceição Espanca)
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

O fado

Corre a noite, de manso num murmúrio,
Abre a rosa bendita do luar....
Soluçam ais estranhos de guitarra....
Ouço, ao longe, não sei que voz chorar...

Há um repouso imenso em toda terra,
Parece a própria noite a escutar....
E o canto continua mais profundo
Que uma página sentida de Mozart!

É o fado. A canção das violetas:
Almas de tristes, almas de poetas,
Pra quem a vida foi uma agonia!

Minha doce canção dos deserdados,
Meu fado que alivias desgraçados,
Bendito sejas tu! Ave Maria!…
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Nem mesmo sei o que sou
pela dor que sinto agora.
Bem pareço a sombra escura
de um ser que viveu outrora.
= = = = = = 

Poemeto de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

Ouvia-se os respingos
caindo inertes, sem emoção.
Não era chuva, orvalho,
tampouco pranto.
Somente borrifadas...
Talvez poesia,
talvez um nada no chão.
= = = = = = 

Trova de 
CÁSSIO MAGNANI
Santa Bárbara/MG, 1921 – 1990, Nova Lima/MG

Madama vai ao peixeiro:
– A senhora quer Robalo?
Ela, mostrando o dinheiro:
– Não, senhor, quero comprá-lo!
= = = = = = 

Poema de 
MOEMA TAVARES
Rio de Janeiro/RJ

Lágrimas  

Correm como um rio 
E me afogam... 
Gota a gota me descem pela face
Gota a gota formarão um lago, um rio
Cada lágrima é uma gota de aflição,
de saudade de algo que não aconteceu, 
de desejos não realizados, 
de sonhos apenas sonhados, 
não vividos...
As lágrimas inundam o presente 
porque não posso esquecer o passado
Idealizado, sonhado...
= = = = = = 

Trova de
ORLANDO WOCZIKOSKY  
Curitiba/PR, 1927 – 2019

A mulher é diferente
    no terreno da emoção:
- O homem diz sim e consente,
    ela consente e diz não!
= = = = = = 

Soneto de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDA DECARLI
Bandeirantes/PR

Maravilha natural

Da lenda, a qual explica a sua origem,
um trecho sobre o amor malsucedido...
“Teve, um casal, seu plano interrompido:
- fratura em rochas... águas com vertigem!...”

Vindas da serra as águas se dirigem
ao cânion, onde o rio está estendido.
Cada turista observa, embevecido,
as gigantescas quedas, que coligem!

Nosso Brasil tem belas cachoeiras,
águas cantantes pelas ribanceiras,
e, cristalinas, vistas a olho nu...

Ressalto, aqui, aquelas impactantes,
maravilhosas, densas, sons vibrantes:
- As Cataratas (plenas) do Iguaçu!

(1° lugar no Concurso Literário-2023, pela Academia Literária do Oeste do Paraná)
= = = = = = 

Poetrix de
JUCINEIA GONÇALVES 
Belo Horizonte/MG

descompasso

meus caminhos
não singram mares
ah, essa minha continentalidade!
= = = = = = 

Soneto de
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Porto/Portugal, 1744 – 1810, Moçambique

Marília de Dirceu: Soneto II

Num fértil campo de soberbo Douro,
dormindo sobre a relva descansava,
quando vi que a Fortuna me mostrava
com alegre semblante o seu Tesouro.

De uma parte, um montão de prata e ouro
com pedras de valor o chão curvava;
aqui um cetro, ali um trono estava,
pendiam coroas mil de grama e louro.

Acabou (diz-me então) a desventura:
De quantos bens te exponho qual te agrada,
pois benigna os concedo, vai, procura.

Escolhi, acordei, e não vi nada:
comigo assentei logo que a ventura
nunca chega a passar de ser sonhada.
= = = = = = 

Trova de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP

Chega tarde, o companheiro
e ao ver tanta grana, exclama:
- Como ganhaste o dinheiro ?!
Passas o dia na cama!!!
= = = = = = 

Poema de 
YORGOS SEFERIS
Esmirna/Grécia, 1900 – 1971

A Folha do Choupo

Tremia tanto que o vento a levou
tremia tanto como não a levaria o vento
lá longe
um mar
lá longe
uma ilha ao sol
e as mãos apertando os remos
morrendo no momento em que o porto apareceu
e os olhos fechados
em anêmonas do mar.

Tremia tanto tanto
procurei-a tanto tanto
na cisterna com os eucaliptos
na primavera e no verão
em todas as nuas florestas
meu Deus procurei-a.
(tradução: Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratisinis)
= = = = = = 

Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Na penumbra, o berço é um templo,
ajoelho e em ternura enorme,
entre rendas eu contemplo
meu pequeno deus que dorme!
= = = = = = 

Hino de 
Arara/PB

Inspirada em uma ave
A tua história surgiu
A pujança de teus filhos
O teu nome difundiu
Reservando o teu espaço
Na História do Brasil.

Arara amada
terra querida
Confio a ti a minha vida.

O teu passado sofrido
Teu presente de certeza
É o prenuncio já vivido
De um futuro de grandeza
Terra plácida e venturosa
Dádiva da mãe natureza.

Arara amada
terra querida
Confio a ti a minha vida.

A tua fé incessante
Sempre enérgica e cristalina
Fruto do teu patriarca
O apóstolo Ibiapina
Faz superar obstáculos
Toda provação domina.

Arara amada
terra querida
Confio a ti a minha vida.

Dezembro mês escolhido
Para ser também o teu Natal
Harmonia, independência
Marcas do teu ideal
Trabalho e crescimento
Tua face natural.

Arara amada
terra querida
Confio a ti a minha vida.
= = = = = = 

Trova de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Se algum motivo incessante
sopra luz em tons diversos...
é a musa que vem, migrante,
pedir pouso em nossos versos!
= = = = = = 

Poema de 
PEDRO DU BOIS
Passo Fundo/RS, 1947 – 2021, Balneário Camboriú/SC

Nudez

Desnuda-te
demonstra
tua humanidade
na beleza
em claves
e palavras
onde mostra
aos tolos
que esperam
de ti o golpe
no movimento
de teu corpo nu

teu o arcabouço
no nascimento
e no abandono

no reencontro do corpo
ao encontro de outro
corpo nu como o teu.
= = = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Nos meus embates medonhos
sempre enfrento os desafios,
quando a vida tece sonhos
e o tempo desfaz os fios.
= = = = = = 

Fábula em Versos
adaptada das Fábulas de Monteiro Lobato 
JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

Fábula do Urso e do Coelho 

Um urso forte, de grande tamanho, 
encontrou um coelho, com jeito de estranho. 
“Eu sou o rei, não tenha medo!” 
Disse o urso, com ar de enredo. 

O coelho, esperto, logo respondeu: 
“Reis são muitos, mas amigos são poucos, eu sou seu!” 
E assim, com risos, se tornaram aliados, 
mostrando que a amizade é o maior dos legados.
= = = = = = = = = 

sábado, 2 de agosto de 2025

Asas da Poesia * 62 *


Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Tem muito mais graça a vida
quando a gente tem com quem
repartir bem repartida
a graça que a vida tem.
= = = = = = = = =

Poema de 
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR

Pombinha meiga
''Mostra-me o teu rosto,
faze-me ouvir a tua voz." (Ct. 2.14)

Pombinha meiga de cor rosada,
Vem aquecer-me com teu calor!
Apaixonado estou, minha amada,
Por este cheiro que tens da flor.

Pombinha meiga de rósea cor,
Cristais dos olhos - cristais do mar,
Ó suave néctar - sublime amor,
Leva-me às nuvens para eu sonhar.

Pombinha meiga, tão cor-de-rosa,
De lábios dóceis, de viva cor;
Assim contemplo-te, ó carinhosa
Ternura amena cheia de amor!

Pombinha meiga de cor rosada,
Cândida lágrima cristalina,
Sonha comigo, musa esperada,
Sonha somente, rósea menina.
= = = = = = = = =  

Trova de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR

Brotou cheia de confiança,
mas no tempo, que passou,
a minha verde esperança
pouco a pouco... desbotou.
= = = = = = = = =  

Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

Manhã

A manhã nasce das muitas janelas
deste sereno corpo fatigado,
sede  dos meus caminhos sem cancelas,
na luz de muitos astros albergados.

Casa em que me recolho das mazelas,
dos louros, derroteiros, lado a lado,
para de mim ouvir franca sequela:
Ecce Homo! Eis o triste camuflado.

Essa tristeza antiga em residência,
às vezes se constrói em face alegre,
máscara sem eu mesmo em aparência

num carnaval insólito em seu frege.
O que me salva a cor nessa vivência
é saber que a poesia é quem me rege.
= = = = = = = = =  

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Eu, na vida, sou barqueiro
dos meus sonhos sem destino:
sonho bom é o passageiro,
sonho mau é o clandestino.
= = = = = = 

Poema de
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Minha majestade

Não deixes meu olhar dormir no teu,
Eu corro o doce risco de sonhar
A história linda e triste de um plebeu
Que foi pela rainha se encantar.

Não deixes meu o olhar se apaixonar.
O calabouço escuro de uma dor
É o final feliz de um sonhador
Que um dia descobriu o que é amar.

A ponte levadiça se fechou
E dentro do Castelo, eu percebi
Que em cada verde bosque onde vivi,
Não vi que a liberdade se escondeu.

Amei o teu olhar no meu olhar...
Narcisos é que amam refletir
Seus rostos, mas se o espelho lhes mentir,
Vaidosos, eles tentam se matar.

Se esse teu rei souber dos meus anseios
De amar sua rainha... hás de convir,
A sua espada em mim, há de brandir
E exterminar meus trôpegos enleios.

Mas mesmo assim, teu servo passional
Há de sonhar... Quem há de me impedir?
Que eu morra, vendo o teu olhar sorrir,
...assim, te tornarei mais imortal.

Se sou um camponês, que volte e voe...
Pois quem nasceu no bosque é passarinho
E quando o céu azul é o caminho,
Que eu busque em cada bosque que me abençoe.
= = = = = =

Trova de
LUIZ MONTEZI EVANGELISTA
Santos Dumont/MG

O porco acordou suando,
pois teve um sonho confuso:
- Sonhou que estava morando
com a porca... de um parafuso!
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Chuva na praia

Se o céu trocar a chuva pelo sol
vai agradar e muito a todos nós
que estamos do arrebol ao arrebol
curtindo a praia à moda de arigós!

Garoa bem cerrada, igual lençol
encobre tudo, mais do que os torós
e faz com que seu manto de aerosol
nos deixe até com jeito de bocós!

Queremos ter um dia ensolarado
com a paisagem linda e o azul do céu,
curtindo o verde mar encapelado!

São Pedro tenha dó do interiorano;
chuva na praia é duro e bem cruel
para um sonho de sol e pouco pano!
= = = = = = 

Trova de
LUIZ OTÁVIO
Rio de Janeiro/RJ, 1916 – 1977, Santos/SP

Lar vazio... o "nada" em tudo...
a vida sem mais porquê...
- E na sala, o piano mudo,
como fala de você!...
= = = = = = 

Soneto de
FLORBELA ESPANCA 
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos

Versos de Orgulho

O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém!

Porque o meu Reino fica para Além!
Porque trago no olhar os vastos céus,
E os ouros e os clarões são todos meus!
Porque Eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!

O mundo! O que é o mundo, ó meu amor?!
O jardim dos meus versos todo em flor,
A seara dos teus beijos, pão bendito,

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
São os teus braços dentro dos meus braços:
Via Láctea fechando o Infinito!...
= = = = = = 

Trova Funerária Cigana

Se além da sentida morte,
o sentimento vigora,
feliz dos restos mortais
que sobre eles se chora.
= = = = = = 

Poemeto de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

A madrugada jaz fria
no concreto da cidade
e teu corpo incendiado
aquece os lençóis vazios.
A flor grita, em euforia
nos canteiros agitados;
muda, sente calafrios,
chamas da maturidade.
= = = = = = 

Trova de 
JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA
Pindamonhangaba/SP

É machão! Que fortaleza!
Engrossa a voz e se zanga...
Mas, nos surtos de fraqueza,
fala fino e solta a franga !
= = = = = = 

Poema de 
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP

Oração ao despertar
 
Abrindo os olhos, Senhor,
para um dia a mais viver,
vejo a Luz de Vosso amor
abençoando meu ser.
 
Ponho-me assim na frequência
das Graças que do Alto vêm,
pronto a exercer a clemência,
buscando fazer o bem.
 
Que a fé me tire o desânimo,
o rancor, a impaciência;
deixe o coração magnânimo,
facho de amor por essência.
 
Pai, que durante este dia
eu tenha a oportunidade
de sustentar a harmonia
e de fazer caridade.
 
Nesta jornada, que eu veja
a todos como um irmão,
numa atração benfazeja
a promover compreensão.
= = = = = =

Trova de
DODORA GALINARI
Belo Horizonte/MG

Mais que migalha de um pão,
vai o faminto buscar
alguém que lhe dê a mão
que lhe permita... sonhar!
= = = = = = = = =  

Poema de
SILVIAH CARVALHO
Manaus/AM

Caminhos do coração

Quando tudo acaba no coração da gente,
Ficamos em meio a um deserto,
Sem direção, tudo é vazio,
A alma treme exposta ao incerto.

Na ânsia louca de preencher o espaço,
A alma aflita pede socorro,
O corpo balança cai em qualquer braço,
Assim começa tudo de novo,

A falsa esperança mostrou o caminho,
Em seus braços findou-se o medo,
Enganou-se de novo com falsos carinhos.

Seguiu os passos para linda miragem,
Pisou as flores, morreu nos espinhos,
E o amor começa no mesmo caminho.

De novo o deserto,
De novo o incerto,
De novo os espinhos…
= = = = = = = = =  

Trova de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Com fé no poder divino,
traço meus rumos assim:
jamais permito ao destino
fazer escolhas por mim!
= = = = = = = = =  

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Vem ter comigo, à noite, à minha cama
(Glória Marreiros in "Colar de Pérolas", p. 21)

Vem ter comigo, à noite, à minha cama
Falar-me das saudades que sentiste
Que eu envolvo o teu corpo que despiste
Em lençóis com o nosso monograma.

No calor do aconchego é que se inflama
O excelso dom da vida que consiste
Em fazer singular tudo o que existe
E ao apagado círio dar a chama.

Vem afogar em mim os teus cansaços
Molda-te ao travesseiro dos meus braços
Que a cama é doce, quente e hospitaleira.

Dorme que o maior bem que pode haver
É o de numa só noite alguém viver
Os sonhos todos de uma vida inteira.
= = = = = = = = = 

Trova de
LUIZ CARLOS ABRITTA 
Cataguases/MG, 1935 – 2021, Belo Horizonte/MG

Eu te amo tanto, mas tanto,
que já pus num pedestal
toda glória desse encanto,
que se tornou imortal!
= = = = = = = = =  

Soneto de
AFONSO FREDERICO SCHMIDT
Cubatão/ SP, 1890-1964, São Paulo/SP

Loucura verde

Nas longas noites em que eu me enveneno,
cigarro a espiralar sobre cigarro,
traz-me a saudade o teu perfil bizarro,
que eu não sei mais se é louro ou se é moreno.

Não é bem um perfil, mas um pequeno
alvoroço de névoas, um desgarro
de linhas onde, surpreendido, esbarro
com o teu olhar a me sorrir, sereno...

Depois teu vulto se dilui aos poucos,
mas teus olhos heris, como os dos loucos,
ficam parados, mortos, ante os meus.

— Verdes, curvos cristais, por onde eu vejo
monstros verdes passando num cortejo,
sob um sol verde como os olhos teus.
= = = = = = 

Trova de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Presidente Alves/SP, 1947 – 2025, Bauru/SP

Não há sorriso que emplaque
na comédia desta vida,
se na ironia da claque,
toda verdade é escondida!...
= = = = = = = = =  

Poema de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

Caminhada

A caminhada é longa, nós sabemos
que é difícil vencer este caminho,
mas a fé nos ajuda, assim nós cremos,
melhor lutar do que ceder ao espinho.

Não temer o perigo é o que queremos,
porque o mundo se torna tão mesquinho
que às vezes é preciso que busquemos
um punhado de amor e de carinho.

E enquanto a vida nos disser prossiga,
buscaremos obter na fé amiga
os pomos que a vitória nos conduz.

Almas gêmeas seremos pela vida,
unidas pelo amor – missão cumprida
para o destino que nos leva à luz!
= = = = = = = = =  

Trova de
CONCEIÇÃO PARREIRAS ABRITTA 
Crucilândia/MG, 1934 - 2015, Belo Horizonte/MG

Ouço ainda a ressonância
das cantigas que cantei
nas tardes da minha infância
no jardim que eu tanto amei.
= = = = = = = = =  

Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Desejos

Queria ser 
o seu “tudo” na vida...
o caminho a percorrer,
os perigos a enfrentar,
o amanhã por nascer,
o sorriso 
do seu olhar.

Queria 
ser o seu 
agora;
o seu melhor 
momento 
de felicidade
e encantamento...

Queria, 
ser também,
a sua, 
esperança.
A sua alegria,
a sua ilusão, 
e fantasia.

Queria, 
finalmente,
estar em seu coração...
ser seu momento
de reflexão
na calma tarde 
refletida lá fora.
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Trova de
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP

Renúncia é uma ponte estreita,
onde das extremidades,
pode-se ouvir sempre à espreita,
chorando duas saudades...
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Soneto de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Desencanto
(Primeiro sonho de amor, 1944)

Personagens esparsos… pela vida
caminhamos, atrás de uma quimera.
Alguns se acham… o amor lhes dá guarida,
juntos mudam o inverno em primavera!

E sonhei que assim fosse… embevecida,
ao dar contigo, como se soubera
que à tua sombra, cálida e querida,
acharia a ventura à minha espera!

– Errei! Tinha as mãos de amores cheias…
E o jovem coração, já saturado,
no fogo das paixões, ainda incendeias,

pensando ser feliz, quem sabe, assim!
Nosso romance, apenas esboçado,
“ sem nunca ter começo, teve fim”. (*)
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(*) Chave de Ouro de Guilherme de Almeida
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Trova de
HELENA DE BARROS BARBOSA MOREIRA
Bauru/SP

Outono, linda estação,
onde todos, neste mundo,
sentem a enorme emoção
de um renovar mais profundo!
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Cantiga Infantil de Roda
SAMBA LELÊ 

   Samba Lelê tá doente
Tá com a cabeça quebrada
Samba Lelê precisava
É de uma boa lambada

Samba, samba, samba, ô Lelê
Samba, samba, samba, ô Lalá
Samba, samba, samba, ô Lelê
Pisa na barra da saia, ô Lalá
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Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Abrigo de todo o mundo,
tens, quarto, testemunhado
exaltação do feliz
e queixas do desgraçado.
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Poema de 
ANTÓNIO BOTTO
Concavada/Abrantes/Portugal (1897 – 1959) Rio de Janeiro/RJ

Tenho a certeza 
De que entre nós tudo acabou. 
- Não há bem que sempre dure, 
E o meu, bem pouco durou. 
Não levantes os teus braços 
Para de novo cingir 
A minha carne de seda; 
- Vou deixar-te, vou partir! 
E se um dia te lembrares 
Dos meus olhos cor de bronze 
E do meu corpo franzino, 
Acalma 
A tua sensualidade 
Bebendo vinho e cantando 
Os versos que te mandei 
naquela tarde cinzenta! 
Adeus! 
Quem fica sofre, bem sei; 
Mas sofre mais quem se ausenta!
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Trova de
RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Ousar não é ser valente
ao buscar gloria e poder.
Ousadia é quando a gente
humaniza o nosso ser!
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