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quarta-feira, 16 de abril de 2025

Asas da Poesia * 5 *


Triversos de
LUCIAH LOPEZ
Curitiba/PR

Vesperais

I
extraindo a saudade
das varandas e alpendres
tua substância esvanece

II
no horizonte vermelho
ídolos se avizinham
fugidias são as horas

III
ázimos serão os pães
que alimentarão as bocas
ao final do dia

IV
ao entardecer
o jardim é secreto
palco de euforias

V
ao cair da tarde
despertam cigarras cantadeiras
sonora euforia
= = = = = = = = =  

Trova de
GERSON CÉSAR SOUZA
São Leopoldo/RS

Ator, arisco ao cabresto,
rebelde, se for preciso,
a vida escreve o meu texto
e eu teimo e sempre improviso!
= = = = = = 

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Lembranças de Minas Gerais

De manhãzinha -
Janela entreaberta
À mesa de madeira
Pequenas flores perfumam
A caneca de ágata,
Recebendo os tênues raios de sol,
Enquanto o gato se espreguiça
À soleira da porta -
Distancia-se o som do trem,
Sinto o aroma de café
Que evola do antigo bule azul,
Emoldurando
O despertar da vida
Em poesias e nas alegres
Borboletinhas brancas -
Manhã de primavera
Desperta em Minas...
= = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Guri do boné virado, 
estilingue... palavrão..., 
hoje, vigário ordenado: – 
Pax vobiscum, meu irmão!
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Hei de render-me de braços levantados
(Mário Sousa Ribeiro, in “Textos de Amor”, p. 118)

Hei de render-me de braços levantados
Se apontares um beijo ao meu coração
E, algemados, arrastares à prisão
Estes meus olhos puros de amor armados.

Detido entre os teus braços já desfardados
Não irei implorar nada, nem perdão
E só assinarei uma confissão
A de querer os ferros eternizados.

Provo que sou culpado, sim, pela morte
Desses dias de pasmo e sinistra sorte
Que tive antes de tu bem me aprisionares.

Sei que o teu amor me salva e me redime
Mas irei cometer sempre o mesmo crime
Para nunca, nunca mais tu me soltares. 
= = = = = = = = = 

Poetrix de
REGINA LYRA
João Pessoa/PB

Harmonia

Supostas teclas
dedilham saudades.
Música que fazíamos juntos.
= = = = = = 

Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918


Este, que um deus cruel arremessou à vida,
Marcando-o com o sinal da sua maldição,
- Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas para aos pés ser calcada no chão.

De motejo em motejo arrasta a alma ferida...
Sem constância no amor, dentro do coração
Sente, crespa, crescer a selva retorcida
Dos pensamentos maus, filhos da solidão.

Longos dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma cega, perdida à toa no caminho!
Roto casco de nau, desprezado no mar!

E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E, homem, há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Almoço e janto poesia. 
E neste meu universo, 
mastigo um pão todo dia 
amanteigado de verso.
= = = = = = 

Poema de
HEINRICH HEINE
Alemanha, 1797 – 1856

De Manhã Cedo

Minha esposa querida e boa.
Minha bem amada esposa,
Que logo pela manhã
Negro café, branco leite,

É ela mesma quem serve!
E com que encanto, que sorriso!
Em todo o mundo de Cristo
Não há quem sorria assim.

E a flauta que é sua voz
Só entre os anjos se encontra.
Cá por baixo, quando muito,
Entre os melhores rouxinóis.

E as mãos que são como lírios
E os cabelos que entressonham
Em volta do róseo rosto!
Ah, tudo nela é perfeito!

Hoje, porém, ocorreu-me
- Não sei porquê - que um pouquinho
Mais elegante o seu corpo
Pudera ser. Um pouquinho.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Pergunta o padre ao noivinho: 
- "É de espontânea vontade?" 
e ele respondeu baixinho:
- "Não senhor...necessidade!...”
= = = = = = 

Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Eu sou aquele

Eu sou aquele que, estando sentado a uma janela,
a ouvir o Apóstolo das Gentes,
adormeci e caí do alto dela.
Nem sei mais se morri ou fui miraculado:

consultai os Textos, no lugar competente —
o que importa é que o Deus que eu tanto ansiava
como uma luz que se acendesse de repente,
era-me vestido com palavras e mais palavras

e cada palavra tinha o seu sentido...
Como as entenderia — eu tão pobre de espírito
como era simples de coração?

E pouco a pouco se fecharam os meus olhos...
e eu cada vez mais longe... no acalanto
de uma quase esquecida canção...
= = = = = = 

Hino de
TORRES/ RS

Torres.
Tu és, cidade - menina,
A mais formosa praia sulina....
Tu és vida, luz e calor,
Tu és um poema de amor.

Entre as praias gaúchas,
Tu és a mais bela;
És uma linda aquarela.
De cor e de poesia...
És magistral sinfonia.

O teu mar de verdes águas,
Batendo contra os rochedos,
Vai cavando entre penedos
Tuas furnas deslumbrantes...

O Mampituba sereno,
A Torre Sul e a Guarita,
O Farol e a Torre Norte,
A Igrejinha tão bonita.

Recantos cheios de sonhos...
Torres : Ó praia tão sedutora,
Tens a beleza morena
Da menina sonhadora,
Da moça que devaneia
Sobre a tua areia...

Ó Torres :
Das três torres,
Tu és a rainha das praias...
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

A palavra

Palavras no contexto expressam vida
de felizes momentos ou tristezas,
de dor, condenação ou de belezas,
mas sempre vão estar em tua lida.

As decisões tratadas nas empresas,
nas escolas, na rua ou na avenida,
terão pra sempre a nota definida
pelas palavras cheias de certezas.

Mas, se a elas usamos com desprezo
transformarão aquilo que fizermos,
perderão o sentido em apalermos.

Mas se o texto estiver já bem coeso,
com a palavra usada em bom contexto
vamos, pois, escrever, não há pretexto.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova Premiada de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

A mulher que é mãe me encanta, 
no lar, seja aonde for.
Pois sendo mãe ela é santa 
sendo mulher é o amor.
= = = = = = = = = 

Poema de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

Missão

Quando alguém te ferir,
escreve;
quando a noite chegar,
escreve;
quando a chuva cair,
escreve;
quando o sonho acabar,
escreve!

Se a tristeza se for,
escreve;
se o amor renascer,
escreve;
se a esperança se impor,
escreve;
se o jardim florescer
escreve!

E só então
terás cumprido à risca
tua missão.
= = = = = = = = =  

Poemeto de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP

Ouvia-se os respingos
caindo inertes, sem emoção.
Não era chuva, orvalho,
tampouco pranto.
Somente borrifadas...
Talvez poesia,
talvez um nada no chão.
= = = = = = = = =  

Soneto de
EDY SOARES
Vila Velha/ES

Pedras

Depois de tantas lutas malfadadas,
de aspérrimos penhascos pela vida;
de palmilhar por todas as estradas
a fim de que a missão fosse cumprida...

Depois dessas sandálias desgastadas
num labirinto hostil e sem saída,
e as plantas dos meus pés dilaceradas,
cansado, eu resolvi pedir guarida...

Bem que eu tentei ser firme e resistente
feito o diamante, duro e reluzente,
ser fera que outros bichos não devoram...

Contudo, fortalezas se esmorecem...
Eu descobri que os fortes se enfraquecem...
Eu descobri que pedras também choram!
= = = = = = = = =  

Quadra de
AUTOR ANÔNIMO

Não sei se vou ou se fico,
não sei se fico ou se vou…
Se vou, eu sei que não fico,
se fico, eu sei que não vou…
= = = = = = = = =

Letra de Música de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

A força do amor

Eu estava perdido,
Cansado e sofrido,
Sem mais ilusão,
Descrente da vida
Vivia vagando
Sem paz no coração

(repete a partir daqui)

Mas eis que um dia
Surgiram alegrias
Em todo meu ser
Deparei com Jesus
E por caminhos de luz
Comecei a viver

Hoje sigo contente
Pois tenho presente
A sua força e calor
Sou todo universo 
Sou prosa – sou verso
Tudo em mim é amor
= = = = = = = = =  

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Asas da Poesia * 4 *


 Poema de
MACHADO DE ASSIS 
Rio de Janeiro/RJ, 1839 – 1908

A Carolina

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs um mundo inteiro.

Trago-te flores, — restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
= = = = = = = = =  

Poema de
DANIEL MAURÍCIO
Curitiba / PR

As imagens do tempo
Ficaram encalacradas
No velho espelho 
E o sorriso sem jeito
Ficou imperfeito pela mancha no aço
No corredor semi-escuro
Com ladrilhos em mosaico
Desfilam lembranças 
Com chinelos de veludo
E o espelho
Com olhar cansado 
Já não guarda mais segredo 
Com silêncio centenário 
O relógio de parede
Assiste a tudo
Pois já os seu ponteiros 
Parados
Marcam um tempo indefinido.
= = = = = = = = =  

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

À janela do meu quarto de alfazema
(Augusto Nunes in "Os Espelhos da Água", p. 16)

À janela do meu quarto de alfazema
Vem a lua, de leve e a sorrir
Indagar se eu estou mesmo a dormir
Ou se namoro ainda o meu poema.

E vendo que eu hesito no fonema
Que a voz do coração há de exprimir
Um raio de luar vem redigir
A frase que me solta do dilema.

De miradouro faz esta janela
E em muitas noites saio através dela
Levado por estrelas e miragens.

E quando me levanto, de manhã
Sinto que a alma está mais pura e sã
Depois de eu regressar dessas viagens.
= = = = = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Dizem que amas de mentira,
mas gosto de acreditar,
e até que um dia eu confira,
vou-me deixando enganar.
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Última página

Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos
Numa palpitação de flores e de ninhos.
Dourava o sol de outubro a areia dos caminhos
(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.

Verão. (Lembras-te, Dulce?) À beira-mar, sozinhos,
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...

Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,
(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor...

Carne, que queres mais? Coração, que mais queres?
Passam as estações e passam as mulheres...
E eu tenho amado tanto! e não conheço o Amor!
= = = = = = 

Trova de 
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A saudade não me poupa,
desenhando, fio a fio,
o perfil da tua roupa
no guarda-roupa vazio...
= = = = = = 

Soneto de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN, 1876 – 1901, Natal/RN

A minha avó

Minh' alma vai cantar, alma sagrada!
Raio de sol dos meus primeiros dias...
Gota de luz nas regiões sombrias
De minha vida triste e amargurada.

Minh 'alma vai cantar, velhinha amada!
Rio onde correm minhas alegrias...
Anjo bendito que me refugias
Nas tuas asas contra a sina irada!

Minh 'alma vai cantar... Transforma o seio
N'um cofre santo de carícias cheio,
Para este livro todo o meu tesouro...

Eu quero vê-lo, em desejada calma,
No rico santuário de tu' alma...
— Hóstia guardada num cibório de ouro!
= = = = = = = = =  

Haicai de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Os Ipês de Maringá

O show dos ipês.
Turistas gravam imagens
para o facebook.
= = = = = = 

Glosa de
ZÉ SALVADOR
São Gonçalo/ RJ

Mote:
O QUE SE FAZ COM AMOR
TEM UM SABOR DIFERENTE. 
ADEILZA PEREIRA
Serra Talhada/ PE
.
Eu faço arte popular,
na que faço, sou fiel,
sou amante do cordel
e jamais quis me casar.
Eu preferi me amigar,
decisão inteligente, 
foi conceituadamente
meu consenso sem impor 
o que se faz com amor
tem um sabor diferente. 
.
Planto uva vou colher uva,
fava planto e colho fava,
por isto aqui eu pensava:
cai água do céu é chuva
e a cortadeira é saúva
não é gente como a gente,
mas, ô “bichim” resistente 
e muito trabalhador,
o que se faz com amor
tem um sabor diferente!
.
A formiga cortadeira
na prevenção da invernada,
tem a labuta pesada
trabalha sem brincadeira,
mas a cigarra faceira
se diverte no presente,
canta no sol inclemente  
seja o futuro qual for,
o que se faz com amor
tem um sabor diferente.
.
A aranha tem seu emprego, 
ela é boa fiandeira, 
fia o fio a noite inteira
tem a roca no sossego,
isto não é subemprego
é um prazer referente,
não estardalha mas sente
a sua leveza ao expor
o que se faz com amor
tem um sabor diferente.
= = = = = = 

Hino de 
RIACHO DA CRUZ/ RN

Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS

Parte I
Apesar de pequenina
Há fascínio e encantos mil
És retrato de formosura
Dentro dos encantos do Brasil.

Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS

Parte II
A tua gente simples
Mais calorosa e gentil
Te saúda com orgulho
Este bom pedaço do Brasil.

Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS

Parte III
Riacho, teu nome
É Riacho da Cruz
E o teu povo forte
Faz do Rio Grande do Norte
Sua terra mãe, de luz! Riacho da Cruz.

Refrão
Riacho da Cruz, Brasil!
Nós te saudamos e te valorizamos – BIS

Parte IV
Riacho, teu nome
É Riacho da Cruz
E o teu povo forte
Faz do Rio Grande do Norte
Sua terra mãe, de luz! Riacho da Cruz

Riacho da Cruz, BRASILLLLLLLLLL!
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Esta noite

Nesta noite tão bela quero ter-te
Ao meu lado sorrindo e bem contente.
Aceitando o convite com meu flerte
Para jantarmos logo mais...  Consente!

Nós dois naquele barco, ao convés,
Não venha com recusa,  por favor!
Traga aqueles teus olhos cuja cor
Transmite essa beleza do que és.

Agora temos logo de tratar
Do que precisaremos nesta noite
Talvez alguma coisa pra levar.

Uma noite só nossa é o que prometo
Mesmo com tanto medo do pernoite
No  barco em alto-mar, mesmo em soneto.
= = = = = = = = =  = = = = 

Uma Lengalenga de Portugal
LENGALENGAS PARA TIRAR A SORTE
 
Um-dó-li-tá
Cara de amendoá
Um segredo colorido
Quem está livre
Livre está
***

Um, dois, três, quatro
A galinha mais o pato
Fugiram da capoeira
Foi atrás a cozinheira
Que lhes deu com um sapato
Um, dois, três, quatro…
***

 Nove vezes nove
Oitenta e um,
Sete macacos e tu és um
Fora eu que não sou nenhum!
***

A saquinha das surpresas
Ninguém sabe o que lá vem
Tão calada, tão quietinha
Vamos ver o que lá vem!
***

 Pim, pam, pum
Cada bola mata um
Da galinha pro peru
Quem se livra és tu!
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
AUTOR ANÔNIMO

Se esta rua fosse minha
eu mandava ladrilhar,
com pedrinhas de brilhante, 
para meu amor passar.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Vida em verdes versos

Na imobilidade dos seus gestos
O Olhar intenso, atento.
Em total cumplicidade com a folha
Torna-se parte delas
Num mágico entrelaçar de vidas:
Louva-a- deus e folha
Ele, na solidão e expectativa de seus breves dias,
Uma vida plena...
Ela, a folha observa e o admira.
O mágico dos disfarces
Imita as cores à sua volta,
E, assim inspira poemas:
Vida em verdes versos...
= = = = = =

sábado, 12 de abril de 2025

Asas da Poesia * 3 *

 

Poema de
OLIVALDO JÚNIOR
Mogi-Guaçú/SP

Envelhecidos

Chega uma fase em que, envelhecidos,
os sonhos já não falam mais 
de quem os teve, e calam-se os ouvidos
ante os outros, nunca em paz.

E a gente anda assim, meio curvada,
como se, no chão, tivesse ficado
um pedaço da alma que, dilacerada,
pensou que o espelho estivesse
fora do prumo, até mesmo quebrado.

Chega uma fase em que tentamos
acreditar num amanhã melhor,
sorrimos muito e até gargalhamos,
mas o mundo jamais é maior.

Chega uma fase em que, pequenos,
sentamo-nos conosco mesmo
e, mesmo tendo os olhos serenos,
sentimos que vamos a esmo.

E a gente, como se fosse contente,
faz de conta que não sabe
que nunca será a mesma e, ausente,
nesses sonhos, já não cabe.
= = = = = = = = =  

Poema de
ELISA ALDERANI
Ribeirão Preto/SP

Orações

Frente a minha morada, o poste é sentinela alerta.
A janela está aberta.
Pingos de chuva luzentes riscam o ar.
Cheiro de terra molhada
Penetra minha alma enclausurada.
Quero sair correr, me perder no tempo,
Mas fico sozinha pingando saudade.
Chora o céu escuro,
Lembranças atravessam o muro.
Oh poeta triste!  Escuta o silêncio,
Entre cadeiras vazias, livros espalhados na mesa,
Ideias azuladas, sufocadas,
Veladas de mistério.
Sonha poeta; preenche linhas vazias,
Noite de melancolia inútil, profanada.
Procura as palavras espelhadas no vidro.
Suspiros embaçados, devaneios…
E, se esvai o dia, o agora.
Uma chuva de orações molha
Minha alma nua.
= = = = = = = = =  

Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Roda de fiar

As lembranças tecidas em lãs,
Algodão e linho aquietam-se
E observam a antiga roda de fiar,
Transformando a palha em ouro -
"Rumpelstíltskin"...
A roca
Lembra? leme de um barco
Roda da Vida, num contínuo movimento
De fibras em fios,
As mãos invisíveis do Tempo
Ainda permanecem
A mover a roda de fiar - tecer destinos
Delicados fios entrelaçando
Sonhos e vida -
Enquanto,
Uma, curiosa, gota de sangue
Desliza no fuso...
= = = = = = 

Trova de
DOROTHY JANSSON MORETTI 
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

A brisa afasta a cortina,
e uma nesga de luar,
fugindo à fria neblina,
vem aos meus pés se abrigar.
= = = = = = 

Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Pregados aos silêncios das paredes
(Mário Sousa Ribeiro, in “Textos de amor”, p.118)

Pregados aos silêncios das paredes
Há chapéus em retratos esquecidos
Bengalas e bigodes retorcidos
Luvas sobre anéis ricos que não vedes.

Pestanas por detrás de finas redes
Complementos das rendas dos vestidos
De enlaces e noivados prometidos
Que saciem as mais que humanas sedes.

Crianças rindo em tão ingênuas poses
São cobaias das vis metamorfoses
Que ar sisudo lhes há de conferir.

São os nossos avós, nossos parentes
E se hoje nos achamos diferentes
É porque não sabemos nos despir. 
= = = = = = = = = 

Triverso de
FRANCISCO DE ASSIS NASCIMENTO
Goiânia/GO

Letras em fulgor
E solenes trilham.
Compor com amor.
= = = = = = 

Soneto de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Virgens mortas

Quando uma virgem morre, uma estrela aparece,
Nova, no velo engaste azul do firmamento:
E a alma da que morreu, de momento em momento,
Na luz da que nasceu palpita e resplandece.

Ó vós, que, no silêncio e no recolhimento
Do campo, conversais a sós, quando anoitece,
Cuidado! – o que dizeis, como um rumor de prece,
Vai sussurrar no céu, levado pelo vento...

Namorados, que andais, com a boca transbordando
De beijos, perturbando o campo sossegado
E o casto coração das flores inflamando,

- Piedade! elas veem tudo entre as moitas escuras...
Piedade! esse impudor ofende o olhar gelado
Das que viveram sós, das que morreram puras!
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Lágrimas, fuga das águas 
por um riacho inclemente 
que numa enchente de mágoas 
inunda o rosto da gente!
= = = = = = 

Estância Tripla de
JOSÉ FELDMAN
Floresta/ PR

Lira da poesia 

Quando a luz da manhã se faz presente,  
o poeta desperta, a alma em ebulição,  
a inspiração se faz reluzente,  
e a esperança surge com nova emoção.  

Ao entardecer, o sol se retira,  
as sombras bailam segredos no ar,  
mas a caneta persiste em sua lira,  
escrevendo versos que não vão cessar.  

Assim, entre o amanhecer e o anoitecer,  
o coração bate forte, anseia amar,  
cada estrofe é um sonho que está a crescer,  
e um futuro luminoso a se desenhar.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

Sai do museu, braço dado 
com sua sogra, o Sinfrônio:
- e o guarda grita, alarmado: 
- "Tão roubando o patrimônio!"
= = = = = = 

Poema de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Canção da Garoa

Em cima do meu telhado,
Pirulin lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.

O relógio vai bater;
As molas rangem sem fim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.

E chove sem saber por quê...
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin…
= = = = = = 

Hino de
ALVORADA DO SUL/ PR

O teu nome alvorada do sul
Sintetiza o despertar para o futuro
Em teu céu sempre azul o cruzeiro a brilhar
Mostra o rumo que tens a trilhar

E o alvorecer de um novo dia
Surge esperançoso de sucesso
Cheio de paz e alegria, na marcha firme.
Para o progresso

E o teu povo trabalhador confia no amanhã
Cheio de esplendor
E o teu povo trabalhador
Confia no amanhã cheio de esplendor
 
O teu nome alvorada do sul
Sintetiza o despertar para o futuro
Em teu céu sempre azul o cruzeiro a brilhar
Mostra o rumo que tens a trilhar
 
Em cada dileto filho teu
Vive a chama de um ideal
És o amor que nasceu
De um desejo bom e triunfal
 
E o teu povo trabalhador confia no amanhã
Cheio de esplendor
E o teu povo trabalhador
Confia no amanhã cheio de esplendor
 
O teu nome alvorada do sul
Sintetiza o despertar para o futuro
Em teu céu sempre azul o cruzeiro a brilhar
Mostra o rumo que tens a trilhar
 
E o teu povo trabalhador
Confia no amanhã cheio de esplendor
E o teu povo trabalhador
Confia no amanhã cheio de esplendor 
= = = = = = = = =  

Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Liberdade

Eu quero a liberdade e a leveza do vento,
A brincar co'a folhagem  a rolar  na grama.
Eu quero a submissão  da criança que mama
E a  servidão do frade  a buscar seu intento.

Eu quero a autonomia  e a coragem de um cego
A andar pela avenida e ruas da cidade,
Buscando a sinergia entre o homem  e a liberdade,
Com a espontaneidade e a visão de seu ego.

Em busca da existência  e condição humana,
querendo a independência  e nada o desengana;
Nesse comportamento há medos que o consomem.

E na disposição de sua liberdade
Está a proposição e na eterna vontade
A força propulsora  da liberdade do homem.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova Premiada de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Roxa ou preta quando antiga, 
mas rubra se a dor maltrata. 
Por isso não há quem diga 
da saudade a cor exata.
= = = = = = = = = 

Uma Lengalenga de Portugal
A Boneca
 
 Tia Anica Marreca
 Traga-me uma roca
 Pra minha boneca
 Que ela é careca.
 Tem um pé de pau
 Quando vai pra cama
 Faz trau tau tau.
= = = = = = = = =  

Quadra Popular de
DEODATO PIRES
Olhão/ Portugal

Quer tenha ou não tenha sorte
na vida que Deus lhe deu,
não pode fugir à morte
todo aquele que nasceu.
= = = = = = = = =