Existe algo quase mágico em estar cercado pela natureza, em pisar na terra descalço, em ouvir o som das aves que parecem compor uma sinfonia para o amanhecer. É como se, nesses momentos, o mundo nos devolvesse uma parte de nós que havíamos esquecido. Um pedaço essencial, perdido entre o stress da cidade, os ruídos das avenidas e a constante necessidade de correr sem saber exatamente para onde.
Estar em um lugar onde o tempo corre devagar é um presente raro. Um espaço onde os animais correm livres, as galinhas ciscam distraídas, onde o vento conversa com as árvores e o céu parece mais perto. É impossível não sentir que ali, naquele instante, somos parte de algo maior. O silêncio do campo não é vazio; é preenchido por uma calma que invade a alma e nos conecta ao que há de mais essencial.
A natureza, com sua simplicidade, tem o dom de nos mostrar a perfeição do que é ser. Não há excessos, não há máscaras. O rio segue seu curso, as árvores crescem sem pressa, os animais vivem sem as complicações que os humanos insistem em carregar. E nós, ao nos colocarmos nesse cenário, somos lembrados de que a vida, em sua essência, é muito mais simples do que imaginamos.
É impossível não pensar em Deus quando se está em um lugar assim. É como se a natureza fosse um reflexo direto de Sua presença, uma extensão de Sua criação. Os galhos que se curvam ao vento, as folhas que dançam ao som da brisa, os pássaros que cantam como se soubessem os segredos do universo – tudo parece nos sussurrar que não estamos sozinhos, que há algo maior cuidando de cada detalhe.
E, ao nos colocarmos nesse cenário, algo dentro de nós muda. A pressa dá lugar à contemplação, a ansiedade se dissolve em gratidão, e a mente, tão cheia de pensamentos barulhentos, encontra um raro momento de serenidade. É como se, por um breve instante, pudéssemos ouvir não só o som da natureza, mas também a voz de Deus nos dizendo que tudo está bem.
Esse contato com a terra, com o cheiro de mato depois da chuva, com os animais correndo livres, nos faz lembrar que fomos criados para isso: para viver em harmonia com o mundo ao nosso redor, para respeitar e cuidar do que nos foi dado.
Há uma sabedoria que só a natureza pode ensinar. Não está nos livros, nem nos discursos grandiosos, mas nos pequenos detalhes. No jeito como o senhor Valdemar, com suas mãos calejadas, nos lembra que a verdadeira riqueza está no que se cultiva com amor; no sorriso de dona Diná, que fala mais do que mil palavras; na simplicidade do fogão à lenha, que aquece não só a comida, mas também o coração.
Nesses lugares, percebemos que a vida não é sobre acumular, mas sobre pertencer. É sobre encontrar paz no silêncio, acolhimento no chão batido, e conexão nas pequenas coisas. Cada cheiro, cada som, cada cor carrega uma história que pulsa dentro de nós, como se aquele pedaço de terra fosse também parte de quem somos.
Ao final de um dia assim, ao olhar para o céu tingido de laranja pelo pôr do sol, sentimos um agradecimento profundo. Não é apenas um lugar bonito – é um lugar que nos dá paz, que nos devolve a nós mesmos. É um pedaço de paraíso que nos lembra que, por mais que o mundo seja grande e barulhento, há sempre um canto de calmaria que nos espera.
Estar na natureza é mais do que uma experiência; é um reencontro. Um momento em que percebemos que somos pequenos diante da grandiosidade do mundo, mas que, ao mesmo tempo, somos parte dele. E, nesse encontro, encontramos Deus. Não em palavras, mas no silêncio. Não em teorias, mas na simplicidade.
Por mais que a vida nos leve para longe, para as metrópoles barulhentas e os compromissos incessantes, é reconfortante saber que sempre podemos voltar. Voltar para a terra, para as árvores, para os sons e cheiros que nos lembram quem somos. Porque, no fundo, todos temos um Shangri-Lá dentro de nós – um pedaço de chão que nos acolhe, nos sustenta e nos reconecta com o que há de mais puro em nossa essência.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor e gestor cultural. Formado em patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, Ubiratã/PR, Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); e “Canteiro de trovas”.. No prelo: “Pérgola de textos” (crônicas e contos) e “Asas da poesia”
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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