quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Asas da Poesia * 81 *


Trova de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

A esmola às vezes se "enfeita" 
com tinturas de vaidade, 
mas a caridade é feita 
de amor e fraternidade.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Pequeno voo de ave aprisionada
sonho diminuto na frustração das asas
asas aspirando ornamentar os braços
quando os pés estagnados no chão
são promessas alimentadas em ilusão.

Perece o sonho no voo adiado
no desabitar da casa da criança
deambulando pela rua sem direção
agrilhoado a um relógio sem horas
tendo apenas o caos urbano como vício.

Eis que se quebram as grades!
O canto do pássaro soa livre
como uma cristalina melodia alada.
Liberta-se o peso do corpo
projetando-se na imensidão
voo infinito nas asas da imaginação.
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Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Se tu buscas na partida
além do horizonte, a paz,
não fujas da própria vida,
que a vida sabe o que faz!
= = = = = =

Soneto de
ANÍBAL BEÇA
Manaus/ AM, 1946 – 2009

Para que serve a poesia?

De servir-se utensílio dia a dia
utilidade prática aplicada,
o nada sobre o nada anula o nada
por desvendar mistério na magia.

O sonho em fantasia iluminada
aqui se oferta em módica quantia
por camelôs de palavras aladas
marreteiros de mansa mercancia.

De pagamento, apenas um sorriso
de nuvens, uma fatia de grama
de orvalho e o fugaz fulgor de astro arisco.

Serena sentença em sina servida,
seu valor se aquilata e se esparrama
na livre chama acesa de quem ama.
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Trova de
ADELINO MOREIRA MARQUES
São Paulo/SP

Do livro da minha vida
arranquei, com mão irada,
tua página, fingida...
...e a guardo toda amassada!
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Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

“Meu”

Não estás,
mas tenho-te em mim.

Não te vejo,
mas fecho os olhos e estás aqui.

Não te toco,
mas ainda sinto o toque da tua pele.

No meu inconsciente
e na minha consciência também,
nunca te deixei ir.

Chamo-te de ”meu”,
em surdina,
nos meus sonhos mais íntimos
em que mais ninguém
me consegue ouvir.

És meu,
naquele instante,
sem pressas ou outras desculpas
que me impeçam de te ter
perto ou distante.

E mesmo que não queiras aqui estar,
não te deixo ir,
este é o teu lar.

Porque no meu coração és meu,
mesmo que não seja dona de nada,
nem de ninguém.
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Trova de
RITA MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Nesta espera em que me farto
só dispenso a nostalgia,
é quando a porta do quarto
tua chegada anuncia!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Nos tristes olhos mal sustenho o pranto
(João Xavier de Matos, in "Cem Sonetos Portugueses", p. 50)

Nos tristes olhos mal sustenho o pranto
Por ver como é tão pobre e diminuta
A alma que no peito trago enxuta
De trovas que lhe tragam novo canto.

Não tem razão de ser um tal espanto
Que ser pequeno é fado que me enluta
E, aos poucos, vai matando, qual cicuta
Que tomo pela mão do desencanto.

Ser pouco talvez tenha uma virtude
Se a alma o reconhece e não se ilude
Com sonhos de grandeza bem fadada.

No concerto do mundo todos cabem:
Mais vale o que de nós outros não sabem
Do que nós deles não sabermos nada.
= = = = = = = = = 

Trova de
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
São Fidélis/RJ

Procura longa e constante,
num sempre querer achar…
Um sonho louco e distante,
impossível de alcançar…
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Soneto de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

A Rua dos Cata-ventos (X)

Eu faço versos como os saltimbancos
Desconjuntam os ossos doloridos.
A entrada é livre para os conhecidos...
Sentai, Amadas, nos primeiros bancos!

Vão começar as convulsões e arrancos
Sobre os velhos tapetes estendidos...
Olhai o coração que entre gemidos
Giro na ponta dos meus dedos brancos!

"Meu Deus! Mas tu não mudas o programa!"
Protesta a clara voz das Bem-Amadas.
"Que tédio!" o coro dos Amigos clama.

"Mas que vos dar de novo e de imprevisto?"
Digo... e retorço as pobres mãos cansadas:
"Eu sei chorar... Eu sei sofrer... Só isto!"
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Trova de
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/MG

Com carinhos redobrados,
numa gratidão sem fim,
vive sob os meus cuidados
quem sempre cuidou de mim.
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Soneto de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

Contraste

Tu és feliz, a vida é um paraíso,
onde há paz, ventura em profusão,
e a graça singular do teu sorriso,
– símbolo da Beleza e Perfeição!

Mas eu sou infeliz, pois já diviso
na luz do teu olhar, ingratidão,
e sem querer eu sinto que preciso
esquecer-te e viver na solidão.

Julgara que tu fosses, ó querida,
meu segredo, meu sonho, minha vida,
minha eviterna e santa inspiração…

Mas tu és assassina do meu sonho,
vives feliz e eu vivo tão tristonho,
sentindo que esta vida é uma ilusão!
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Poetrix de
JANAÍNA NEVES DIAS CESCATO
São Paulo/SP

Ciúme

Se nem sou mais seu lume
pra que prender num vidro
meu voo vagalume?
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Poema de
CRIS ANVAGO
Setúbal/ Portugal

Eu pensava que viver era correr
Correr para um objetivo
Mesmo não sabendo bem qual.
Depois vi que quando corremos,
Não vemos nada à nossa volta,
Nem ao nosso lado
Fica tudo veloz, desfocado…
Agora penso que viver é caminhar
E bem devagar…
Olhar os pequenos pormenores da caminhada
Sentir o cheiro das plantas
Ouvir os pássaros
Saborear os momentos…
Ver como correm ainda algumas pessoas…
Como eu já corri sem saber bem para onde…
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TROVA POPULAR

Os teus olhos, pretos, pretos,
são como a noite cerrada...      
Mesmo pretos, como são,  
sem eles, não vejo nada.
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Hino de 
UMUARAMA/ PR

I
Quando em festa o futuro chegou
Com seu canto de luz sobre a mata
Toda agreste em beleza acordou
Qual semente que em flor se desata.

Um fremir de esperança ideal
Perpassou entre as nuvens e a rama
E se ergueu para a história, afinal,
Poderosa, a sorrir, Umuarama.

Estribilho
Umuarama, para frente, com trabalho e alegria.
Há nas mãos de tua gente fé, vontade e energias.
Essa força admirável que arrancou-te do sertão
Te impulsiona, insuperável, para a glória da Nação.

II
Umuarama, teu nome altaneiro,
É amizade num clima gentil
E transforma teu solo em celeiro,
Distribuindo fartura ao Brasil.

O esplendor de que o sol te reveste,
Um clarim sobre o mundo serás.
És bandeira triunfal que no Oeste
Abre a porta do teu Paraná.
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Trova do
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ

Bela estátua, a do poeta!
Drummond não vê - que ironia -
que cada onda inquieta
tem dom de musa e poesia.
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Soneto de
BENEDITA AZEVEDO
Magé/ RJ

Carícia

Carícia recebida com amor,
é redenção do espiritual ser,
buscando esta essência superior,
para nessa plenitude viver.

Os anseios sonhados não vividos,
recuperando a esperança, o ardil,
de muitos anos de um amor contido,
no verdor desse peito juvenil.

Pelos cuidados de uma mãe zelosa
que carícias quase não recebia
e pra os filhos seus traumas transmitia.

Aquela experiência dolorosa,
daquele amor que não lhe garantia,
toda carícia que ela merecia.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

A mulher, que é toda encanto, 
lembra a abelha, meiga e boa: 
dá mel gostoso; no entanto, 
se for preciso, ferroa!
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Lengalenga de Portugal
LAGARTO PINTADO

 Lagarto pintado, 
quem te pintou?
Foi uma menina 
que por aqui passou
 
Lagarto verde, 
que te esverdeou?
Foi uma galinha 
que aqui passou
 
Lagarto azul, 
que te azulou?
Foi a onda do mar 
que me molhou
 
Lagarto amarelo, 
que te amarelou?
Foi o sol poente 
que em mim pisou
 
Lagarto encarnado, 
que te encarniçou?
Foi uma papoila 
que para mim olhou
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Trova de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

A verdadeira alforria
é aquela que estende as mãos,
unindo em plena harmonia
branco e negro, como irmãos.
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