sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 654)

 Uma Trova de Ademar 

Toda dor deixa sequela,
mas devido eu sofrer tanto,
minha dor só se revela
na angústia triste do pranto.
–Ademar Macedo/RN–

 Uma Trova Nacional 


Nas noites claras de lua,
no desenho da calçada,
vejo a silhueta sua
à minha sombra abraçada.
–Olympio Coutinho/MG–

 Uma Trova Potiguar 


A lua cheia de agosto
é de uma beleza infinda...
nos olhos de um lindo rosto
é duas vezes mais linda.
–Djalma Mota/RN–

 Uma Trova Premiada 


2006  -  CTS/Caicó/RN
Tema  -  PONTE  -  6º Lugar.


No seco botão da rosa
que me deste em tenra idade,
vejo a ponte afetuosa
que me conduz à saudade.
–Renato Alves/RJ–

 ...E Suas Trovas Ficaram 


Presença é luz, sol que arde,
no firmamento incendido.
Saudade é sombra da tarde,
pungente como um gemido.
–Pe. Celso de Carvalho/MG–

 Uma  Poesia 


Casinha à beira da estrada
com chão de terra batida,
fiz do teu portão de entrada
o meu portão de saída,
parti morto de saudade
tangendo os sonhos da idade
pelas estradas da vida!
–Prof. Garcia/RN–

 Soneto do Dia 

CONTRADIÇÃO.
–Maria Nascimento/RJ–


Hoje, mais uma vez, desesperada
por ser injustamente preterida,
vejo que já nasci predestinada
a amar sem nunca ser correspondida...

Mas o que me dói mais, na despedida,
é saber que fui sempre desprezada
porque foste o anjo bom da minha vida
e eu, da tua, jamais pude ser nada.

Se me pudesse ver da eternidade,
chorando de tristeza e de saudade
pelo amor que no tempo se perdeu,

Carlos Drummond de Andrade me diria:
"E agora", como vais viver Maria
sem o José que achavas que era teu?!

Fontes:
Textos enviados por Ademar Macedo/RN
Imagem formatada por Dáguima Veronica/MG

A. A. De Assis (Trovia – Ano 13 – n. 153 – Setembro de 2012)

Coordenador: A. A. de Assis - Maringá/PR
  Revista virtual de trovas
                         
                                

Maringá 2009

                         
                     
São Paulo 2012
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Inesquecíveis

Gostar de ti, quem não há de?
Inspiras tal simpatia,
que a gente sente saudade
se deixa de ver-te um dia.
Colombina

Na distância, ao teu aceno,
quanta tristeza me invade...
O trem ficando pequeno
e em mim crescendo a saudade!
Hermoclydes Franco

Quem tem a luz do saber,
muito mais que outro qualquer,
tem de cumprir o dever
de ser luz... onde estiver.
João Freire Filho

Quem entra em meu coração
fica lá por  toda a vida.
Ele é igual a um alçapão:
não tem porta de saída!
Miguel Russowsky

É Deus que forja o destino,
distribuindo talento.
O poeta é só um menino
soltando letras – ao vento...
Newton Meyer

Sei que é tarde, não me iludo,
e o que mais me dói agora
é pensar que tive tudo
que acabei jogando fora...
Nydia Iaggi Martins
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BRINCANTES

Todo mundo acha um regalo
comer galinha com a mão…
Mas, pela farra do galo,
ele é a única exceção!
Edmar Japiassú Maia – RJ

Vou pondo no paletó
as lembranças do meu fado.
Acho que as boas – que dó! –
coloco em bolso furado...
José Fabiano – MG

É minha a dívida: assumo,
e hei de saldá-la... porém,
enquanto a grana eu arrumo,
que tal me emprestar mais cem???
José Ouverney – SP

A deturpação dos fatos
é tão comum entre a gente
que a corrente dos boatos
passou a ser voz corrente.
Jotão Silva – RJ

Com franguinhas alopradas
é natural que aconteça,
por serem descabeçadas,
terem “galos” na cabeça...
Osvaldo Reis – PR

Depois da aviária e a suína,
mais folga o aluno cobiça:
quer que venha, repentina,
a gripe  bicho-preguiça!
Roza de Oliveira – PR

Tive um trabalho danado
com a vaca hoje cedinho:
não deu leite empacotado
nem quis sentar no banquinho...
Ruth Farah – RJ
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LÍRICAS E FILOSÓFICAS

Que alegre alívio provoca,
na alma e no coração,
o abraço que a gente troca
numa troca de perdão!
A. A. de Assis – PR

Se tu vais, por gentileza,
deixa a porta sem trancar!
Não me roubes a certeza
de que logo irás voltar!
Adélia Victória Ferreira – SP

Vejo sentadas no chão,
trajadas de desamor,
crianças comendo pão
amanteigado de dor!
Ademar Macedo – RN

O amor é doce alimento,
orvalho regando a flor;
é o mais belo sentimento
que herdamos do Criador.
Agostinho Rodrigues – RJ

Ah se eu pudesse algum dia
ter asas para voar...
Quem sabe talvez iria
em tua boca pousar!
Almir Pinto de Azevedo – RJ

A solidão enlouquece,
põe a vida à revelia...
Então o mar escurece
e de tristeza esvazia.
Ari Santos de Campos – SC

Tal e qual meu pé de rosa,
que ao ser podado floresce,
esta saudade teimosa,
quanto mais podo, mas cresce!
Carolina Ramos – SP

Antes fosse incêndio... fogo,
pois teu gelo me atormenta:
me impede de abrir o jogo
e minha alma não aguenta.
Cida Vilhena – PB

A cortina solta ao vento
dança, insone, o seu bailado:
– revolve o velho aposento
e os segredos do passado.
Conceição Abritta – MG

Ao relembrar nossa história,
que foi breve, mas foi linda,
no jazigo da memória
uma luz fulgura ainda...
Conceição de Assis – MG

Da minha terra encantada
eu guardo a estação mais bela,
o canto da passarada
e os meus sonhos de janela!
Dáguima Verônica – MG

Quem faz o bem com prazer,
mesmo que seja um incréu,
reserva, sem perceber,
um bom tesouro no céu.
Dari Pereira – PR

A  criança que eu trazia
dentro de mim, escondida,
hoje vive da  poesia,
chorando restos de vida!
Delcy Canalles – RS

Na casa de quem escreve
há sempre papel no chão:
não perde tempo quem deve
segurar a inspiração!
Diamantino Ferreira – RJ

Descubro ao longo da vida
meus mais íntimos segredos,
quando, qual harpa tangida,
vibro ao toque dos teus dedos...
Divenei Boseli – SP

Distante é grande a vontade,
saudade no peito bate...
Antes matar a saudade
que deixar que ela nos mate.
Djalma da Mota – RN

Nossa terra e a terra lusa,
na doce língua que as liga,
são cordas nas mãos da musa,
cantando a mesma cantiga.
Dorothy J. Moretti – SP

Trovadores, em verdade,
são irmãos na inspiração,
na partilha da amizade,
no carinho e na emoção.
Eliana Jimenez – SC

As flores, dupla função
representam nesta vida:
alegria e emoção,
ou então a dor sentida.
Euclymar Porto – RJ

O vento varre a ansiedade
e as folhas secas do chão;
só não varre esta saudade
que corta o meu coração.
Flávio Stefani – RS

A ilusão da meninice
com meus netos se refez:
agora, em plena velhice,
eu sou criança outra vez!...
Fernando Câncio – CE

O retrato na moldura,
da corrosão, dá sinais!
Mesmo assim, guarda a candura
da graça de nossos pais!
Francisco Garcia – RN

Nos olhos o mesmo brilho
e este orgulho que nos trai,
quando no peito de um filho
bate um coração de pai!
Gabriel Bicalho – MG

Solidão, tu és um elo
entre o que foi e o que é...
Fiz de areia o meu castelo,
sem me lembrar da maré!
Gislaine Canales – SC

Começa a lua num traço,
vai crescendo e nos seduz...
Como é formoso, no espaço,
esse trapinho de luz!
Humberto Del Maestro – ES

A inspiração que aparece
e me impele a escrever
é um tesouro que abastece
e enriquece o meu viver.
Istela Marina – PR

O vento, que varre a mata
e pelos campos caminha,
traz um som de serenata
à minha vida sozinha.
Jeanette De Cnop – PR

Luzes! Músicas! E à mesa
como nunca alguém sonhou.
Mas havia uma tristeza
que eu não sei por onde entrou...
Janske Schlenker – PR

Mantenha a cabeça erguida,
sorria, volte a cantar...
Sem ânimo para a vida,
você não sai do lugar!
Jorge Fregadolli – PR

Cultivemos o jardim
do amor, com perseverança,
para que seja o estopim
de um futuro de esperança.
José Feldman – PR

Trova, meu pombo-correio,
Voa longe, por favor!
Diz ao mundo que inda creio
na paz que brota do amor!
José Lucas de Barros – RN

Tento fugir da rotina,
conquistar um novo espaço...
mas minha tristeza assina
seu nome, por onde passo...
José Valdez – SP

Nas nuvens vejo ajoelhada
minha mãe a orar comigo,
sempre que a fé é abalada
e nem rezar eu consigo.
Lisete Johnson – RS

Contrassenso é eu ter na vida
por meu sol os olhos teus,
se ao te olhar, minha querida,
bem ceguinhos deixo os meus.
Luiz Hélio Friedrich – PR

A trova levou-me aos céus,
pois entre joios e trigos
perdi pequenos troféus
mas ganhei grandes amigos.
Manoel Cavalcante – RN

Que a lei, com todo o seu porte,
seja um escudo do bem...
E que a justiça do forte
seja a do fraco também!
Mara Melinni Garcia – RN

O presente mais bonito
fui eu mesma que me dei:
num momento de conflito,
dei-me a paz... e perdoei.
Maria Ignez Pereira – SP

Sabedoria... só cabe
a quem tem por diretriz
não dizer tudo o que sabe,
mas... saber tudo o que diz.
Ma. Madalena Ferreira – RJ

A ciranda traz lembranças
que a saudade perpetua,
de um tempo em que nós, crianças,
éramos todas de rua...
Marina Bruna – SP

De uma única costela,
nosso Deus fez a mulher;
se há criatura mais bela?
-Desdiga-me quem puder!
Maurício Friedrich – PR

Deus fez tudo à nossa espera,
fez a luz e fez as flores,
fez o mar e a primavera,
e inspirou os trovadores.
Nei Garcez – PR

Ficou mais lento o meu passo?
Caminharei mesmo assim.
Só temeria o cansaço
se me cansasse de mim...
Newton Vieira – MG

As dores e os desencantos,
lancem ao pó das estradas...
– Façam dos lares recantos
que lembrem contos de fadas!
Olga Agulhon – PR

A saudade e o abandono
deste meu leito vazio
mostram as horas sem sono
plenas de dor e de frio.
Olga Ferreira – RS

Amor cigano, utopia,
triste  busca por alguém;
quem tem um amor por dia
não tem o amor de ninguém.
Olympio Coutinho – MG

Trovador que espalha o sonho
que lhe mora n’alma inquieta
revela ao mundo tristonho
a bênção que é ser um poeta!
Renato Alves – RJ

Quando o  passado me embala
e o sono,aos poucos, se evade
até o relógio da sala
vem acordar a saudade!
Rodolpho Abbud – RJ

No gérmen que se faz planta
a promessa é chama acesa
dourando o trigo que encanta
e que põe o pão na mesa!...
Sônia Martelo – PR

Querida, eu tenho ciúme
– não há desdouro em dizê-lo...
Ciúme até do perfume
que perfuma o teu cabelo.
Thalma Tavares – SP

Eu olho a rua e, se o vejo,
a razão já sai de perto.
Fecho a janela... e o desejo
esquece o cadeado aberto!
Therezinha Brisolla – SP

A vida, em sua beleza,
deu-me tantas emoções,
que, mesmo ao sentir tristeza,
há doces recordações.
Vanda Alves – PR

Por mais que o progresso iluda,
deturpe e inverta valor,
o que Deus fez ninguém muda:
amor será sempre Amor.
Vanda Fagundes Queiroz – PR

O tempo passou... e agora...
já é mais que entardecer,
mas tua presença é aurora
na noite do meu viver.
Zeni de Barros Lana – MG
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Fonte:
O Autor

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Cecília Meireles (Serenata)


José Bonifácio (Poemas)


SAUDADE

I
Eu já tive em belos tempos
Alguns sonhos de criança;
Já pendurei nas estrelas
A minha verde esperança;
Já recolhi pelo mundo
Muita suave lembrança.

Sonhava então - e que sonhos
Minha mente acalentaram?!
Que visões tão feiticeiras
Minhas noites embalaram?!
Como eram puros os raios
De meus dias que passaram?!

Tinha um anjo de olhos negros,
Um anjo puro e inocente,
Um anjo que me matava
Só c'um olhar - de repente,
- Olhar que batia na alma,
Raio de luz transparente!

Quando ela ria, e que riso?!
Quando chorava - que pranto?!
Quando rezava, que prece!
E nessa prece que encanto?!
Quando soltava os cabelos,
Como esparzia quebranto!

Por entre o chorão das campas
Minhas visões se ocultaram;
Meus pobres versos perdidos
Todos, todos acabaram;
De tantas rosas brilhantes
Só folhas secas ficaram!

II

Oh! que já fui feliz! - ardente, ansioso
Esta vida boiou-me em mar de encantos!
Os meus sonhos de amor eram mil flores
Aos sorrisos de aurora, abrindo a medo
Nos orvalhados campos!

Ela no agreste monte; ela nos prados;
Ela na luz do dia; ela nas sombras
Pardacentas do vale; ela no monte,
No céu, no firmamento - ela sorrindo!
Então o sol surgindo feiticeiro,
Entre nuvens de cores recamadas,
Segredava mistérios!

Como era verde o florejar das veigas,
Brandinha a viração, múrmura a fonte,
Meigo o clarão da lua, a estrela amiga
Na solidão do Céu!

Que sedes de querer, que amor tão santo,
Que crença pura, que inefáveis gozos,
Que venturas sem fim, calcando ousado
Humanas impurezas!
Deus sabe se por ela, em sonho estranho
A divagar sem tino em loucos êxtases,
Sonhei, penei, vivi, morri de amores!
Se um quebro fugitivo de seus olhos
Era mais do que a vida em plaga edênica,
Mais do que a luz ao cego, o orvalho às flores,
A liberdade ao triste prisioneiro,
E a terra da pátria ao foragido!!!
Mas, ai! - tudo morreu!...

Secou-se a relva, a viração calou-se,
Os queixumes da fonte emudeceram,
Mórbida a lua só prateia lousa,
A estrela amorteceu e o sol amigo
No verde-negro seio do oceano
Chorando a face esconde!

Meus amores talvez morreram todos
Da lua no clarão que eu entendia,
Nessa réstia do sol que me falava,
Que tantas vezes me aqueceu a fronte!

III

Além, além, meu pensamento, avante!
Que idéia agora a mente me assalteia?!
Lá surge afortunada,
Da minha infância a imagem feiticeira!
Quadra risonha de inocência angélica,
Minha estação no Céu, por que fugiste?
E que vens tu fazer - agora à tarde
Quando o sol já desceu os horizontes,
E a noite do saber já vem chegando
E os lúgubres lamentos?
 
Minha aurora gentil - tu bem sabias
Como eu falava às brisas que passavam,
Às estrelas do Céu, à lua argêntea,
sobre nuvem purpúrea ao Sol já frouxo!
Ante mim se erguia então o venerando
O vulto de meu Pai - perto, ao meu lado
Minha irmãs brincavam inocentes,
Puras, ingênuas, como a flor que nasce
Em recatado ermo! - Ai! minha infância
Não voltarás... oh! nunca!... entre ciprestes
Dormes daqueles sonhos esquecida!
 
Na solidão da morte - ali repoisam
Ossos de Pai, de Irmãos!... embalde choras
Coração sem ventura... a lousa é muda,
E a voz dos mortos só a campa a entende.
Tive um canteiro de estrelas,
De nuvens tive um rosal;
Roubei às tranças da aurora
De pérolas um ramal.

De aurinoturno véu
Fez-me presente uma fada;
Pedi à lua os feitiços,
A cor da face rosada.

Contente à sombra da noite
Rezava a Virgem Maria!
De noite tinha esquecido
Os pensamentos do dia.
Sabia tantas histórias
Que não me lembra nenhuma;
Ao meus prantos apagaram
Todas, todas - uma a uma!

IV

Ambições, que eu já tive, que é delas?
Minhas glórias, meu Deus, onde estão?
A ventura - onde vivi na terra?
Minha rosas - que fazem no chão?

Sonhei tanto!... Nos astros perdidos
Noites... noites inteiras dormi;
Veio o dia, meu sono acabou-se,
Não sei como no mundo me vi!

Esse mundo que outrora habitava
Era Céu... paraíso... eu não sei!
Veio um anjo de formas aéreas,
Deu-me um beijo, depois acordei!

Vi maldito esse beijo mentido,
Esse beijo do meu coração!
Ambições, que eu já tive, que é delas?
Minhas glórias, meu Deus, onde estão?

A cegueira vendou-me estes olhos,
Atirei-me num pego profundo;
Quis coroas de glória... fugiram,
Um deserto ficou-me este mundo!

As grinaldas de louro murcharam,
Nem grinaldas - somente a loucura!
Vi no trono da glória um cipreste,
Junto dele uma vil sepultura!

Negros ódios, infames traições,
E mais tarde... um sudário rasgado!
O futuro?... Uma sombra que passa,
E depois... e depois... o passado!

Ai! maldito esse beijo sentido
Esse beijo do meu coração!
A ventura - onde vive na terra?
Minhas rosas - que fazem no chão?

Por entre o chorão das campas
Minhas visões se ocultaram;
Meus pobres versos perdidos
Todos, todos acabaram;
De tantas rosas brilhantes
Só folhas secas ficaram....

ENLEVO

Se invejo as coroas, os cantos perdidos
Dos bardos sentidos, que altivos ouvi,
Bem sabes, donzela, que os loucos desejos,
Que os vagos almejos, são todos por ti.

Bem sabes que, às vezes, teu pé sobre o chão,
No meu coração faz eco, passando;
Que sinto e respiro teu hálito amado;
E, mesmo acordado, só vivo sonhando!

Bem sabes, donzela, na dor ou na calma,
Que é tua a minha alma, que é meu o teu ser,
Que vivo em teus olhos; que sigo teus passos;
Que quero em teus braços viver e morrer.

A luz do teu rosto - meu sol de ventura,
Saudade, amargura, não sei o que mais -
Traduz meu destino, num simples sorriso,
Que é meu paraíso, num gesto de paz.

Se triste desmaias, se a cor te falece,
A mim me parece que foges pro céu,
E eu louco murmuro, nos amplos espaços,
Voando a teus braços: - És minhas!... Sou teu!...

Da tarde no sopro suspira baixinho,
No sopro mansinho suspira... Quem és?
Suspira... Hás de ver-me de fronte abatida,
Sem força, sem vida, curvado a teus pés.

IMPROVISADO

DERMINDA, esses teus olhos soberanos
Têm cativado a minha liberdade;
Mas tu cheia, cruel, de impiedade
Não deixas os teus modos desumanos.

Por que gostas causar dores e danos?
Basta o que eu sofro: tem de mim piedade!
Faze a minha total felicidade,
Volvendo-me esses olhos mais humanos.

Já tenho feito a última fineza
Para ameigar-te a rija condição;
És mais que tigre, foi baldada empresa.

Podem meus ais mover a compaixão
Das pedras e dos troncos a dureza,
E não podem abrandar um coração?

Fonte:
Portal São Francisco

Monteiro Lobato (Dona Expedita)

- ...

- Minha idade? Trinta e seis...

- Então, venha.

Sempre que dona Expedita se anunciava no jornal, dando um número de telefone, aquele diálogo se repetia. Seduzidas pelos termos do anúncio, as donas de casa telefonavam-lhe para “tratar” – e vinha inevitavelmente a pergunta sobre a idade, com a também inevitável resposta dos 36 anos. Isso desde antes da grande guerra. Veio o 1914 – ela continuou nos 36. Veio a batalha do Marne; veio o armistício – ela firme nos 36. Tratado de Versalhes – 36. Começos de Hitler e Mussolini – 36. Convenção de Munich – 36...

A futura guerra a reencontrará nos 36. O mais teimoso dos empaques! Dona Expedita já está “pendurada”, escorada de todos os lados, mas não tem ânimo de abandonar a casa dos 36 anos – tão simpática!

E como se tem 36 anos, veste-se à moda dessa idade um pouco mais vistosamente do que a justa medida aconselha. Erro grande! Se à força de cores, rugas e batons, não mantivesse aos olhos do mundo os seus famosos 36, era provável que desse a idéia duma bem aceitável matrona de 60...

Dona Expedita é “tia”. Amor só teve um, lá pela juventude, do qual às vezes, nos “momentos de primavera”, ainda fala. Ah, que lindo moço! Um príncipe. Passou um dia de cavalo pela janela. Passou na tarde seguinte e ousou um cumprimento. Passou e repassou durante duas semanas – e foram duas semanas de cumprimentos e olhares de fogo. E só. Não passou mais – desapareceu da cidade para sempre.

O coração da gentil Expedita pulsou intensamente naqueles maravilhosos quinze dias – e nunca mais. Nunca mais namorou ou amou alguém – por causa da casmurrice do pai.

Seu pai era caturra de barbas à Von Tirpitz, português irredutível, desses que fogem de certos romances de Camilo e reentram na vida. Feroz contra o sentimentalismo. Não admitia namoros em casa, e nem que se pronunciasse a palavra casamento. Como vivesse setenta anos, forçou as duas únicas filhas a se estiolarem ao pé de sua catarreira crônica. “filhas são para cuidar da casa e da gente”.

Morreu, afinal, e arruinado. As duas “tias” venderam a casa para pagamento das contas e tiveram de empregar-se. Sem educação técnica, os únicos empregos antolhados foram os de criada grave, dama de companhia ou “tomadeira de conta” – graus levemente superiores à crua profissão normal de criada comum. O fato de serem de “boa família” autorizava-as ao estacionamento nesse degrau um pouco acima do último.

Um dia a mais velha morreu. Dona Expedita ficou só no mundo. Quer fazer, senão viver? Foi vivendo e especializando-se em lidar com patroas. Por fim, distraía-se com isso. Mudar de empregos era mudar de ambiente – ver caras novas, coisas novas, tipos novos. Um cinema – o seu cinema! O ordenado, sempre mesquinho. O maior de que se lembrava fora de 150 mil réis. Caiu depois para 120; depois para 100; depois 80. Inexplicavelmente as patroas iam-lhe diminuindo a paga a despeito da sua permanência na linda idade dos 36 anos...

Dona Expedita colecionava patroas. Teve-se de todos os tipos e naipes – das que obrigam as criadas a comprar o açúcar com que adoçam o café, às que voltam para casa de manhã e nunca lançam os olhos sobre o caderno de compras. Se fosse escritora teria deixado o mais pitoresco dos livros. Bastava que fixasse metade do que viu e “padeceu”. O capítulo das pequeninas decepções seria dos melhores – como aquele caso dos 400 mil réis...

Foi vez que, saída de emprego, andava em procura de outro. Nessas ocasiões costumava encostar-se à casa de uma família que se dera com a sua, e lá ficava um mês ou dois até conseguir nova colocação. Pegava a hospedagem fazendo doces, no que era perita, sobretudo um certo bolo inglês que mudou de nome, passando a chamar-se o “bolo de cona Expedita”. Nesses interregnos comprava todos os dias um jornal especializado em anúncios domésticos, no qual lia atentamente a seção do “procura-se”. Com a velha experiência adquirida, adivinhava pela redação as condições reais do emprego.

- Porque “elas” publicam aqui uma coisa e querem outra – comentava filosoficamente, batendo no jornal. – para esconder o leite, não há como as patroas!

E ia lendo, de óculos na ponta do nariz: “precisa-se de uma senhora de meia idade para servicinhos leves”.

- Hum! Quem lê isto pensa que é assim mesmo – mas não é. O tal servicinho leve não passa de isca – é a minhoca do anzol. A mim é que não me enganam, as biscas...

Lia todos os “procura-se”, com um comentário para cada um, até que se detinha no que lhe cheirava melhor. “Precisa-se duma senhora de meia-idade para serciços leves em casa de fino tratamento”.

- Este, quem sabe? Se é casa de fino tratamento, pelo menos fartura há de aver. Vou telefonar.

E vinha a telefonada de costume com a eterna declaração dos 36 anos.

O hábito de lidar com patroas manhosas levou-a a lançar mão de vários recursos estratégicos; um deles: só “tratar” pelo telefone e não dar-se como ela mesma.

“Estou falando em nome duma amiga que procura emprego.” Desse modo tinha mais liberdade e jeito de sondar a “bisca.”

- Essa amiga é uma excelente criatura – e vinham bem dosados elogios. - Só que não gosta de serviços pesados.

- Que idade?

- Trinta e seis anos. Senhora de muito boa família – mais por menos de 150 mol réis nunca se empregou.

- É muito. Aqui o mais que pagamos é 110 – Sendo boa.

- Não sei se ela aceitará. Hei de ver. Mas qual é o serviço?

- Leve. Cuidar da casa, fiscalizar a cozinha, espanar – arrumar...

- Arrumar? Então é arrumadeira que a senhora quer?

E dona Expedita pendurava o fone, arrufada, murmurando: “Outro ofício!”

O caso dos 400 mil réis foi o seguinte. Ela andava sem emprego e a procurá-lo na seção do “precisa-se”. O súbito, esbarrou com esta maravilha: “Precisa-se duma senhora de meia-idade para fazer companhia a uma enferma; ordenado, 400 mil réis”.

Dona Expedita esfregou os olhos. Leu outra vez. Não acreditou. Foi em busca duns óculos novos adquiridos na véspera. Sim. Lá estava escrito 400 mil réis!...

A possibilidade de apanhar um emprego único no mundo fê-la pular. Correu a vestir-se, a pôr o chapeuzinho, a avivar as cores do rosto e voou pelas ruas afora.

Foi dar com os costados numa rua humilde; nem rua era – numa “avenida”. Defronte à casa indicada – casinha de porta e duas janelas – havia uma dúzia de pretendentes.

- Será possível? O jornal saiu agorinha e já tanta gente por aqui?

Notou que entre as postulantes predominavam senhoras bem-vestidas, como o aspecto de “damas envergonhadas”. Natural que assim fosse porque um emprego de 400 mil réis. Era positivamente um fenômeno. Nos seus... 36 anos de vida terrena jamais tivera notícia de nenhum. Quatrocentos por mês! Que mina! Mas com um emprego assim em casa tão modesta? “Já sei. O emprego não é aqui. Aqui é onde se trata – casa do jardineiro, com certeza...”

Dona Expedita observou que as postulantes entravam de cara risonha e saíam de cabeça baixa. Evidentemente a decepção da recusa. E o seu coração batia de gosto ao ver que todas iam sendo recusadas. Quem sabe? Quem sabe se o destino marcara justamente a ela como a eleita?

Chegou, por fim, a sua vez. Entrou. Foi recebida por uma velha na cama. Dona Expedita nem precisou falar. A velha foi logo dizendo:

“Houve erro no jornal. Mandei por 40 mil réis e puseram 400... Tinha graça eu pagar 400 a uma criada, eu que vivo à custa do meu filho, sargento da polícia, que nem isso ganha por mês...”

Dona Expedita retirou-se com cara exatamente igual à das outras.

O pior da luta entre criados e patroas é que estas são compelidas a exigir o máximo, e as criadas, por natural defesa, querem o mínimo, e as criadas, por natural defesa, querem o mínimo. Nunca jamais haverá acordo, por que é choque de totalitarismo com democracia.

Um dia, entretanto, dona Expedita teve a maior das surpresas: encontrou uma patroa absolutamente identificada com suas idéias quanto ao “mínimo ideal”- e, mais que isso, entusiasmada com esse minimalismo – a ajudá-la a minimizar o minimalismo!

Foi assim. Dona Expedita estava pela vigésima vez na tal família amiga, à espera de nova colocação. Lembrou-se de recorrer a uma agência, para a qual telefonou. “Quero uma colocação assim, de 200 mil réis, em casa de gente arranjada, fina e, se for possível, em fazenda. Serviços leves, bom quarto, banho. Aparecendo qualquer coisa deste gênero, peço que me telefone” – e deu o número do aparelho e de casa.

Horas depois retinia a campainha do portão.

- É aqui que mora madame Expedita? – perguntou, em língua atrapalhada, uma senhora alemã, cheia de corpo, e de bom aspecto.

A criadinha que atendeu disse que sim, fê-la entrar para o hall de espera e foi correndo avisar a dona Expedita. “Uma estrangeira gorda querendo falar c madame!”

- Que pressa meu Deus! – murmurou a solicitada, correndo ao espelho para os retoques.

– Nem três horas que telefonei. Agência boa, sim...

Dona Expedita apareceu no hall com um excessozinho de ruge nos beiços de múmia. Apareceu e conversou – e maravilhou-se, porque, pela primeira vez na vida, encontrava a patroa ideal. A mais sui-generis das patroas, de tão integrada no ponto de vista das “senhoras de meia-idade que procuram serviços leves”.

O diálogo travou-se num crescendo de animação.

- Muito boa tarde! – disse a alemã, com a maior cortesia. – Então foi madame quem telefonou para a agência?

0 “madame” causou espécie a dona Expedita.

- É verdade. Telefonei e dei as condições. A senhora gostou?

- Muito, mas muito mesmo! Era exatamente o que eu queria. Perfeito. Mas vim ver pessoalmente, porque o costume é anunciarem uma coisa e a realidade ser outra.

A observação encantou dona Expedita, cujos olhos brilharam.

- A senhora parece que está pensando com a minha cabeça. É justamente isso o que se dá, vivo eu dizendo. As patroas escondem o leite. Anunciam uma coisa e querem outra. Anunciam serviços leves e botam em cima das pobres criadas a maior trabalheira que podem. Eu falei, insisti com a agência: servicinhos leves...

- Isso mesmo! – concordou a alemã, cada vez mais encantada. – Serviços leves, porque afinal de contas uma criada é gente – não é burro de carroça.

- Claro! Mulheres de certa idade não podem fazer serviços de mocinhas, como arrumar, lavar, cozinhar quando a cozinheira não vem. Ótimo! Quanto à acomodação, falei à agência em “bom quarto”...

- Exatamente! – concordou a alemã. – Bom quarto – com janelas. Nunca pude conformar-me com isso das patroas meterem as criadas em desvão escuros, sem ar, como se fossem malas. E sem banheiro em que tomem banho.

Dona Expedita era toda risos e sorrisos. A coisa lhe estava saindo maravilhosa.

- E banho quente! – acrescentou com entusiasmo.

- Quentíssimo! – berrou a alemã, batendo palmas. – Isso para mim é ponto capital.

Como pode haver asseio numa casa onde nem banheiro há para criadas?

- Há, minha senhora, se todas as patroas pensassem assim! – exclamou dona Expedita, erguendo os olhos para o céu. – Que felicidade não seria o mundo! Mas no geral as patroas são más – e iludem as pobres criadas, para agarrálas e explorá-las.

- Isso mesmo! – apoiou a alemã. A senhora está falando como um livro de sabedoria. Para cem patroas haverá cinco ou seis que tenham coração – que compreendam as coisas...

- Se houver! – duvido dona Expedita.

O entendimento das duas era perfeito: uma parecia o Double da outra. Debateram o ponto dos “serviços leves” com tal mútua compreensão que os serviços foram levíssimos, quase-nulos – e dona Expedita viu erguer-se diante de si o grande sonho de sua vida: um emprego em que não fizesse nada, absolutamente nada...

- Quanto ao ordenado, disse ela (que sempre pedia 200 para deixar por 80), fixei-o em 200...

Avançou medrosamente e ficou à espera da inevitável repulsa. Mas a repulsa do costume pela primeira vez não veio. Bem ao contrário disso, a alemã concordou com entusiasmo.

- Perfeitamente! Duzentos por mês – e pagos no último dia de cada mês.

- Isso! – berrou dona Expedita, levantando-se da cadeira. – Ou no comecinho. Essa história de pagamento em dia incerto nunca foi comigo. Dinheiro de ordenado é sagrado.

- Sacratíssimo! – urrou a alemã, levantando-se também.

- Ótimo – exclamou dona Expedita. – Está tudo como eu queria.

- Sim, ótimo- repetiu a alemã. – Mas a senhora também falou em fazenda...

- Ah, sim fazenda. Uma fazenda bonita, toda frutas, leite e ovos, extasiou a alemã. Que maravilha...

Dona Expedita continuou:

- Gosto muito de lidar com pintinhos.

- Pintos! Ah, é o maior dos encantos! Adoro os pintos – as ninhadas... o nosso entendimento vai ser absoluto, madame...

O êxtase da ambas sobre a vida de fazenda foi subindo numa vertigem. Tudo quanto havia de sonhos incubados naquelas almas refloriu viçoso. Infelizmente, a alemã teve a idéia de perguntar:

- E onde fica a sua fazenda, madame?

- A minha fazenda? – repetiu dona Expedita, refranzindo a testa.

- Sim, a sua fazenda – fazenda para onde madame quer que eu vá...

- Fazenda para onde eu quero que a senhora vá? – tornou a repetir dona Expedita, sem entender coisa nenhuma. – Fazenda, eu? Pois se eu tivesse fazenda lá andava a procurar emprego?

Foi a vez da alemã arregalar os olhos, atrapalhadíssima. Também não estava entendendo coisa nenhuma. Ficou uns instantes no ar. Por fim:

- Pois madame não telefonou para a agência dizendo que tinha um emprego, assim, na sua fazenda?

- Minha fazenda uma ova! Nunca tive fazenda. Telefonei procurando emprego, se possível numa fazenda. Isso sim...

- Então, então, então... – e a lema enrusbeceu como uma papoula.

- Pois é – respondeu dona Expedita percebendo afinal o qüiproquó. – Estamos aqui feito duas idiotas, cada qual querendo emprego e pensando que a outra é a patroa...

O cômico da situação fê-las rirem-se – e gostosamente, já retornadas à posição de “senhoras de meia-idade que procuram serviços leves”.

- Esta foi muito boa! – murmurou a alemã, levantando-se para sair. – Nunca me aconteceu coisa assim. Que agência, hein?
Dona Expedita filosofou.

- Eu bem que estava desconfiada. A esmola era demais. A senhora ia concordando com tudo que eu dizia – até com os banhos quentes! Ora, isso nunca foi linguagem de patroa – dessas biscas. A agência errou, talves por causa do telefone, que estava danado hoje – além do que sou meia dura de ouvidos...

Nada mais havia a dizer. Despediram-se. Depois que a alemã bateu o portão, dona

Expedita fechou a porta, com um suspiro arrancado do fundo das tripas.

- Que pena, meu Deus! Que pena não existirem no mundo patroas que pensem como as criadas...

Fonte:
Monteiro Lobato. Negrinha (contos). Ed. Brasiliense.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 653)

Uma Trova de Ademar 

No momento em que eu nascia,
Deus, usando o seu poder,
pôs o vírus da poesia
nas entranhas do meu ser.
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Com direção perigosa,
é bom que agente perceba
que a bebida é prazerosa,
mas, se dirigir não beba!
–Júnior Adelino/PB–

Uma Trova Potiguar 


Um dia vem, outro vai,
veja o que aconteceu;
ontem, velho era papai,
agora o velho sou eu.
–Prof. Maia/RN–

Uma Trova Premiada 


2009  -  Nova Friburgo/RJ
Tema  -  SAUDADE  -  4º Lugar

Saudade é um velho barquinho
que vence o tempo e a distância
e recolhe, no caminho,
os pedacinhos da infância …
–Ercy Mª Marques de Faria/SP–

...E Suas Trovas Ficaram 


Eu comparo o arrependido
que o perdão vê numa cruz,
ao viajante perdido
que avista ao longe uma luz.
–Lilinha Fernandes/RJ–

Uma  Poesia 


MOTE:
Maria Conceição Fagundes/PR


Se caem do céu as águas,
com tanta beleza e encanto,
por que desencanto e mágoas
há nas águas do meu pranto?

GLOSA:
Ademar Macedo/RN


Se caem do céu as águas,
é para molhar o chão,
e afogar um pouco as mágoas
do povo do meu sertão.

Vejo o sertão florescer
com tanta beleza e encanto,
que a gente já pode ver
uma flor em cada canto.

O sertão tem suas fráguas
e é do clima a diretriz;
por que desencanto e mágoas
se o sertanejo é feliz?

No sertão desde criança,
eu choro, mas no entanto;
muitas gotas de esperança
há nas águas do meu pranto!

Soneto do Dia 

DESEJO PÓSTUMO.
–Reginaldo Albuquerque/MS–


Nunca esqueci a pá contra o tijolo
sobre o esquife no qual nos separamos,
quando fugia o sol murchando os ramos
e triste ave soltava um mesto arrolo.

Entre as preces que fiz, em desconsolo,
plantei dúzias da flor que mais amamos,
fiando que à estação, que então sonhamos
virás, e este amor hás de recompô-lo...

Quisera ter poderes, dons enormes,
e crer que, tal qual Lázaro, querida,
não estás morta, em paz, apenas dormes,

e, extático, abraçar-te com ternura,
como te bem fizera outrora em vida,
depois de te livrar da sepultura!

Ineifran Varão (Bem-Te-Vi Amigo)

Bem-te-vi voou
Pra cima da casa
Galho não quebrou
Nem batendo a asa

Lá embaixo alguém
Gritou sem demora
Nem tu nem ninguém
Quebra minha flora

Ele esbravejou
To de bico seco
Você nem olhou
Quem vem lá no beco

Lá embaixo de novo
A voz deu um grito
És casca de ovo
Quebras nem palito

Bem-te-vi bicou
Bico malcriado
Galho não quebrou
Mas quebrou o telhado

Sirva de lição
Pra dona da casa
Pois grito brigão
Não apaga brasa

Bem-te-vi pra ela
Fez canto de amor
Voou pra janela
Com uma linda flor

Hoje a convivência
É uma beleza
Viva a consciência!
Viva a natureza!

Fonte:
http://ineifran.blogspot.com.br/2012/08/bem-te-vi-amigo.html

Lino Sapo (A Televisão de Dona Tel)

Vou falar de uma pessoa
Que os céus dizem amém
Uma pessoa maravilhosa
Que nunca fez mal a ninguém
Simples e trabalhadora
E igual a ela não tem

Seus cabelos tá branquiados
O sorriso de antes já enrugou
Mas a gentileza é a mesma
Isso ela nunca renegou
Seu caminhar é compassado
Marca de que já trabalhou

Tem no espirito a bondade
E nas ações seu valor
De dignidade é uma fonte
Em sua vida sobra amor
As feridas que a vida fez
Ela soube vencer a dor

Dona Tel é esse anjo
Que Deus nos presenteou
Casada com seu Joatão
O homem que tanto amou
Quatorze filhos fizeram
E nenhum abandonou

De sua infinita sabedoria
A paz sempre buscou
E a ajudar ao próximo
Respeito conquistou
E um grande trabalho
A comunidade prestou

Hoje mim dar saudade
E recordo com satisfação
De sua ilustre humildade
E te tanta compreensão
Por deixar a todos nós
Assistir em sua televisão

Sem fazer diferença
Todos eram telespectador
Branco, preto ou índio.
De Vagabundo a trabalhador
Mulher, homem, menino.
De analfabeto a doutor.

Quase vinte e quatro horas
A TV não desligava
Pequenina mais potente
A galera telespectava
Preto e branco a imagem
E a população apreciava

Filmes, jornais e novelas.
Tinha seu público especial
Desenhos, shows e humor.
A meninada achava legal
Futebol, reportagem, culinária.
Era coisa sensacional

Mininos buchudos e fedorentos
Esparramado pelo chão
Os adultos no tamborete
Uma cadeira pra joatão
TEL sentada na sua poltrona
Todos diante da televisão

Gargalhadas e cochicho
E o psiu logo se ouvia
Sustos e muitos gritos
Isso sempre acontecia
Olhos bem lagrimosos
Com as cenas que se via

A novela era na sala
Uma sueca na cozinha
Os suequeiros não resistiram
A sala bem completinha
Aderiram às novelas
Abandonando as cartinhas.

Cabra errado e bigodudo
Ria-se que a chapa caia
Comentavam as cenas
E vinham no outro dia
Menino pegava no sono
Acordava dizendo arizia

O sucesso da televisão
Nunca pode se medir
Nem a entrada ao povo
TEL nunca quis impedir
Assistia todo mundo
Podiam se divertir.

As portas nunca fecharam
Era aberta até madrugada
Às vezes o dia nascia
E a negrada pegada
Nem respeitava o sono
De quem a TV doava

Durante muitos anos
A TV foi à atração
Da humilde cachoeira do sapo
Que não tinha animação
De segunda a segunda
De primavera a verão.

Na calçada os jovenzinhos
Procuravam se agradar
Era o lugar predileto
Pra começar a namorar
Banhados e perfumados
Tentavam impressionar

Foi também palco de brigas
Para na porta se escorar
Pois a sala estava cheia
Não dava mais para entrar
Imprensavam-se, e se apertavam.
Para a TV apreciar

Os filhos de dona Tel
Nunca inteferiram no divertir
Raquel, Chico, Daniele
Lú, Basto, Neide ou Joacir.
Ciço, Júlia, Zefa ou Galega
Vieram a contribuir

Janaina, Ivone, Aparecida.
Também como Mariquinha
Presenciaram muito a cena
Quando a cachoeira vinha
Sua casa sempre lotada
Do forasteiro a vizinha

O tempo se passou
As coisas melhoraram
O povo comprou sua TV
Da casa de TEL se afastaram
Esqueceram tanto favor
Que da mesma contemplaram

Dona tel ainda assisti
Só que agora TV a cores
Seu Joatão tá acamado
Não lembra mais dos amores
A casa ainda é a mesma
Aconchegante e sem odores

Eu ali muito assistir
Dona TEL muito obrigado
Jamais vou me esquecer
De seus favores abençoados
Hoje eu rezo a Deus
Para TELs ter multiplicado.

Fonte:
Lino Sapo: Vida e Obras

2.º Concurso de Quadras Populares /2012 do Clube da Simpatia (Resultado Final)

Tema – TERRA

1.º PRÉMIO

 A Terra, tão maltratada
dia a dia, ano após ano,
está a ficar cansada
de ser “Mãe” do ser humano…
DEODATO PIRES - PORTUGAL

 2.º PRÉMIO

Vejo a Terra do espaço:
é azul da cor do mar
e Portugal é regaço
das ondas que o vão beijar.
 GABRIEL DE SOUSA - PORTUGAL

3.º PRÉMIO

Se andares reto na vida
e, sempre fazendo o bem,
por certo, terás guarida
na Terra e no céu, também.
CREUSA CAVALCANTI FRANÇA – BRASIL

4.º PRÉMIO

Deus sofre a olhar a Terra
que para o homem criou,
mas este só pensa em guerra
e a Terra não preservou.
MARIA ALIETE CAVACO – PORTUGAL

5.º PRÉMIO

Conquistar novos espaços...
eis a semente da guerra.
Tantas vidas em pedaços
por um pedaço de terra!

RENATA PACCOLA – BRASIL

 MENÇÕES HONROSAS

"Terra à vista!" E o marinheiro,
num aviso genial,
fez, do país brasileiro,
pedaço de Portugal !
 COLAVITE FILHO – BRASIL

À Terra que me gerou
tenho um tributo a pagar,
que é deixar ser o que sou
e para a Terra voltar!...
 GLÓRIA MARREIROS – PORTUGAL

 A vida é tão amorosa!...
E tanta verdade encerra:
dá-nos o espinho... E a rosa,
para perfumar a Terra.
EMILIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES - PORTUGAL

Ó Terra que eu amo tanto,
oásis nos universos,
és poema, és encanto,
és a musa dos meus versos.
 IZIDORO CAVACO - PORTUGAL

 Trago no peito a saudade
da minha terra querida,
que deixei em tenra idade
seguindo as sendas da vida.
 SÔNIA MARIA SOBREIRA DA SILVA - BRASIL

 Quando se ouvem os canhões,
no raiar de cada aurora,
numa terra, em convulsões,
há um poeta que chora.
 JOÃO TIAGO DE OLIVEIRA BARROSO - PORTUGAL

 Cheiro de terra molhada   
é convite à nostalgia
de minha infância encantada
onde morava a alegria.
 ELIANA RUIZ JIMENEZ - BRASIL

 Há tanta beleza, tanta...
nesta Terra onde nasci,
que minh'alma se agiganta,
grata, ao que Deus fez aqui!
 THEREZINHA DE JESUS LOPES - BRASIL

 Muitas terras eu já vi,
encantadoras e belas,
mas a terra onde nasci
faz inveja a todas elas.
 ÁLVARO CAVACO - PORTUGAL

 Todos cantam sua TERRA,
também vou cantar a minha;
mas canto nenhum encerra
tantos dotes de rainha!
 ANTONIO CABRAL - BRASIL

Fonte:
http://clubedasimpatia.blogspot.com.br/

XX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de Letras de São João da Boa Vista (Resultado Final)

Poesia – Prêmio Emílio Lansac Thoa

Infantil – até 12 anos


1º LUGAR –
“O TEMPO”
Marina Macedo Romera
São João da Boa Vista- SP
Anglo Ensino Fundamental

2º LUGAR
“INFÂNCIA”
Lara Mauro de Araújo
São João da Boa Vista-SP
Anglo Ensino Fundamental

3º LUGAR
“O PENSAMENTO”
João Henrique Gião
São João da Boa Vista- SP
Anglo Ensino Fundamental

Juvenil- 13 a 18 anos

1º LUGAR
“MUNDO DAS PALAVRAS”
Juliano da Silva Damas Júnior
São João da Boa Vista-SP
Colégio Experimental Integrado

2º LUGAR
“UM PAÍS HISTÓRICO CHAMADO BRASIL”
Matheus Lucas de Arruda Camara
Cantagalo-RJ

3º LUGAR–
“MASOQUISMO”
Paula Cardella Amaral
São João da Boa Vista-SP
Anglo Ensino Fundamental

Adulto – 19 a 59 anos

1º LUGAR
“VOCÊ VAI FICANDO EM MIM”
José Leite da Silva
Florianópolis-SC

2º LUGAR
“NEBLINA DA SERRA”
Rubens Luíz Sartori
Campo Mourão-PR

3º LUGAR
“A POESIA DOS TEMPOS”
Marcelo Augusto Araújo de Oliveira
São Paulo-SP

PREMIO ESPECIAL OTÁVIO PEREIRA LEITE – MAIORES DE 60 ANOS
1º LUGAR
“POR QUEM OS SINOS DOBRAM”
Luzia Terezinha de Brito Vacari
Campinas-SP

2º LUGAR
“ARTE HUMANA, ARTE DIVINA”
Edileuza Bezerra de Lima Longo
São Paulo-SP

3º LUGAR
“PALCOS DA VIDA”
Nilton Silveira
Porto Alegre-RS

PROSA- PRÊMIO FÁBIO DE CARVALHO NORONHA

Infantil – até 12 anos


1º LUGAR
“CHEIRINHO DE MINHA INFÂNCIA”
Rebeca de Almeida Borges
São João da Boa Vista-SP
Escola SESI- 156

2º LUGAR
“MEU MELHOR AMIGO”
Maria Eduarda do Prado Matheus
São João da Boa Vista- SP
Anglo Ensino Fundamental

2º LUGAR –
“TARDE MISTERIOSA”
Lara Mauro de Araújo
São João da Boa Vista-SP
Anglo Ensino Fundamental

3º LUGAR
A FLOR QUE NUNCA BROTAVA”
Luiza Arantes Jacinto
São João da Boa Vista
Anglo Ensino Fundamental

Juvenil- 13 a 18 anos

1º LUGAR
A PROVA DOS OITO”
Matheus Lianda
São João da Boa Vista- SP
Colégio Objetivo

2º LUGAR
“ÚLTIMO FRAGMENTO”
Larissa Gulin Gazato
São João da Boa Vista-SP
Escola SESI 156

3º LUGAR
“TUDO POR UM SONHO”
Flávia Lemes Gamba
São João da Boa Vista
Escola SESI 156

Adulto - de 19 a 59 anos
1º LUGAR
“ DOIS MOMENTOS”
Elias Araújo
Américo Brasiliense-SP-

2º LUGAR
“HOMEM DOBRANDO A ESQUINA”
Gilberto Garcia da Silva
Praia Grande-SP

3º LUGAR
“ UM PIANO E UMA XÍCARA DE CHÁ”
Gustavo Fontes Rodrigues
São Paulo-SP

PRÊMIO ESPECIAL OTÁVIO PEREIRA LEITE – Maiores de 60 anos
1º LUGAR
“IDENTIDADE E CPF”
Renato Vieira Ostrowski
Campo Magro –PR

2º LUGAR
“O RETORNO”
Maria Apparecida S. Coquemala
Itararé – SP

3º LUGAR
“CONFISSÕES ÍNTIMAS”
Luiz Alberto de Almeida Magalhães
Belo Horizonte- MG

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Sarau de 2º Aniversário do Caldo & Poesia (Amanhã, 31 de agosto)

O próximo dia 31, sexta feira, faremos o sarau de 2º Aniversário do Caldo & Poesia. Na ocasião, além da participação de nossos amigos poetas e músicos, haverá o lançamento dos livros de

Carlos Gomes, com o romance “O Valle das Acácias”, e

José Mateus Neto, com “Despautério” (poesias),

além da apresentação musical da poetisa, cantora e compositora Teca Amorim e

um pocket show do poeta e compositor Tião de Sá e

pocket show também do Idealizador cultural  Ivan Ferretti Machado.

Venha participar conosco deste encontro, com sua poesia, sua música, seu causo ou simplesmente com a sua presença, para compartilhar este momento festivo e saborear um delicioso caldo, que é o mimo e marca da casa.

Local: União dos  Moradores  da Vila Santa Clara
Rua Caioabas, 104 – Vila Santa Clara
Travessa da Rua  Domingos Afonso
Horário: das 19h30 às 22h30 – entrada franca


Fonte:
http://varaldobrasil.blogspot.com.br/2012/08/convite_29.html

2º ENESIAR Encontro de Escritores Independentes de Araçatuba e Região

Fonte:
Varal do Brasil

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 652)

Uma Trova de Ademar 
Sinto um dom que me extasia
e uma inspiração sem fim,
quando a musa da poesia
passeia dentro de mim.
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Apesar dos espantalhos
que a vida mostra-me à beça,
eu serpenteio os atalhos
para chegar mais depressa!
–Francisco José Pessoa/CE–

Uma Trova Potiguar 


Minha família, sem teto,
repartia o mesmo pão...
mas sobrava sempre afeto
no final da divisão...!
–Mara Melinni Garcia/RN–

Uma Trova Premiada 


2009  -  Nova Friburgo/RJ
Tema  -  SAUDADE  -  M/H


Passa o tempo… e, enquanto corre,
a lembrança vai sumindo…
Mas a saudade não morre:
-Apenas fica dormindo…
–Pedro Mello/SP–

...E Suas Trovas Ficaram 


Meu amor, que mau pedaço
eu passo quando demoras...
meu coração perde o passo,
atrás do passo das horas...
–Waldir Neves/RJ–

Uma  Poesia 


Quer fazer este mundo mais tristonho
tire o charme romântico das flores,
quer banir a beleza apague as cores
quer matar um poeta, mate o sonho;
entretanto se quer Jesus risonho
faça um gesto de amor, abrace a vida,
veja o mundo na tela colorida
da visão inspirada de um profeta;
mas, não toque no sonho do poeta
que o poeta sem sonho se liquida.
–José Lucas de Barros/RN–

Soneto do Dia 
AS HORAS ERMAS.
–Thalma Tavares/SP–


Ah, solidão, como tu és danosa!...
Quando me cercas com o teu vazio
minha alma triste, insone, pesarosa,
sofre de ausências neste quarto frio.

Estendo as mãos ao nada e desafio
a noite que se adensa vagarosa
sobre o meu corpo tenso e erradio
que se agita na insônia insidiosa.

Não há ninguém em minhas horas ermas.
Apenas sombras do passado, enfermas,
povoam de saudades minhas noites.

E então maldigo a solidão das horas
e a chegada acintosa das auroras
que me fustigam com seus mil açoites.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Trova 225 - Prof. Garcia (Caicó/RN)


Dom Pedro II (Sonetos Avulsos)

INGRATOS

Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais atroz que fosse e sem piedade,
Arrancando-me o trono e a majestade,
Quando a dous passos só estou da morte.

Do jogo das paixões minha alma forte
Conhece bem a estulta variedade,
Que hoje nos dá contínua f'licidade
E amanhã nem — um bem que nos conforte.

Mas a dor que excrucia e que maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora,
Que fere o coração e pronto mata,

É ver na mão cuspir a extrema hora
A mesma boca aduladora e ingrata,
Que tantos beijos nela pôs — outrora.

TERRA DO BRASIL

Espavorida agita-se a criança,
De noturnos fantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descansa.

Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugilo de terra; e neste creio
Brando será meu sono e sem tardança...

Qual o infante a dormir em peito amigo,
Tristes sombras varrendo da memória,
ó doce Pátria, sonharei contigo!

E entre visões de paz, de luz, de glória,
Sereno aguardarei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da história!

I - À MORTE DO PRÍNCIPE D. PEDRO

Pode o artista pintar a imagem morta
Da mulher, por quem dera a própria vida.
À esposa que a ventura vê perdida
Casto e saudoso beijo inda conforta.

A imitar-lhe os exemplos nos exorta
O amigo na extrema despedida...
Mas dizer o que sente a alma partida
Do pai, a quem, oh Deus, tua espada corta.

A flor de seu futuro, o filho amado;
Quem o pode, Senhor, se mesmo o Teu
Só morrendo livrou-nos do pecado,

Se a terra à voz do Gólgota tremeu
E o sangue do Cordeiro Imaculado
Até o próprio céu enegreceu!

III - A IDÉIA CONSOLADORA

Vendo as ondas correr para o ocidente,
Corre mais do que elas a saudade,
Mas espero que a minha enfermidade
O mesmo me consinta brevemente.

Com saúde mais lustre dar à mente
É cousa que enobrece a humanidade;
Contudo agora o paga a amizade
Da pátria, e da família, cruelmente;

Mas consola-me a idéia, — que mais forte
Lhes voltarei para melhor amá-los,
Pois mais anos assim até a morte

Eu mostrarei que sempre quis ligá-los
Na feliz, e também na infeliz sorte
Para, amando-os, ainda consolá-los.

IV - SEMPRE O BRASIL

Nunca noite dormi tão sossegado,
Quem nem mesmo sonhei com o meu Brasil,
Porém, vendo infinito mar d'anil,
Lembra-me a aurora dele nacarada.

Cada dia que passa não é nada,
E os que faltam parecem mais de mil.
Se o tempo que lá vivo é um ceitil,
Aqui é para mim grande massada.

E a doença porém me consentir,
Sempre pensando nele, cuidarei
De tornar-me mais digno de o servir,

E, quando possa, logo voltarei;
Pois na terra só quero eu existir
Quando é para bem dele que eu o sei.

V - A VIDA E O BARCO

Andar e mais andar é a vida a bordo;
Mal estudo, e apenas eu vou lendo;
A noite com a música entretendo;
Deito-me cedo, e mais cedo acordo.

Saudosíssimo a pátria eu recordo,
E, pra consolo versos lhe fazendo,
Desenho terras só aquela vendo,
E para não chorar os lábios mordo.

Enfim há de chegar, eu bem o sei,
Que o Brasil eu reveja jubiloso;
E, se outrora eu servi-lo só pensei,

Muito mais forte e muito mais zeloso,
Para ainda mais servi-lo, voltarei
Té que nele encontre o último repouso.

VII - A MEUS NETINHOS IMPRESSORES DE MEUS VERSOS

Versos feitos por mim na mocidade
O mérito só tem sentimento.
Eram, pra assim dizer, um instrumento
Mais que o prazer ecoando-me a saudade.

Pospondo a fantasia sempre à verdade
Melhor encontrei nesta o ornamento
E, no estudo apurando o sentimento,
Quanto tenho a saber disse-me a idade.

É isso o que vos quero eu ensinar,
Amando-vos qual pode um terno avô,
A quem para as suas cãs engrinaldar

Melhor só poderia o que eu vou
Em carícias tão vossas procurar,
Sentindo que de vós inda mais sou.

Fonte:
Sonetos. com