domingo, 19 de agosto de 2012

Nilton Manoel (Didática da Trova) Parte 8

3.1 AINDA SE FAZEM TROVAS COMO ANTIGAMENTE

Na inauguração das trovas em torno da Fonte Luminosa, estavam presentes o prof.Antônio Palocci, do Departamento de Educação e Cultura de Ribeirão Preto, Nilton da Costa Teixeira da União Brasileira de Trovadores, UBT, Silvio Ricciardi, da Academia Ribeirão-pretana de Letras,o historiador José Pedro Miranda, Nilton Manoel, dezenas de populares e a presença de jornais e rádios. A repórter de O Diário, publicou no dia seguinte, 17/11/1974, interessante matéria sob o titulo: Ainda se fazem trovas como antigamente? A pergunta reflete a mesma indagação nos dias de hoje. A trova literária tem os mesmos três pilares históricos e básicos da trova folclórica:- lirismo, filosofia e humorismo que estas palavras por si revelam-nos seus significados. Sentimos que, os trovadores veteranos, gostam mais  da trova filosófica na temática dos concursos e estas, por motivos óbvios, tem sido menos popularizadas. Nos concursos estudantis, a trova lírica e a trova humorística despertam maior interesse na juventude e revelam bonitas mensagens. Nascem  dos concursos novos poetas que, são divulgados em  livros, revistas e republicadas em outras como na Folhinha do Sagrado Coração e no Almanaque Santo Antônio.    - ASA - organizados pelo Frei Edrian Josué Pasini, OFM, Editora Vozes, anualmente. Em livro antigo, sem data e editora, encontrei Francisco da Silveira Bueno dizendo que o objeto da poesia é “ a expressão da beleza”. Quanto a essência  “ podemos ter  poesia sem métrica, sem rima; não a teremos, porém, se lhe faltar ritmo”.

3.2 COMO FAZER TROVAS E SER TROVADOR

Cada verso da trova é feito de palavras escolhidas para métrica e formação de sons poéticos. Nos dicionários atuais, as palavras são apresentadas em silabas.  Cabe ao poeta, os conhecimentos básicos de versificação. “Trova é um poema completo de quatro versos de sete sons, rimando o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto”  Daí por diante. Depende apenas  de o autor ser poeta ou não”. (ASA,2008, p. 123).

Nos concursos literários, o concorrente, deve consultar o dicionário em busca da significação do tema proposto pelos organizadores. O sonho do trovador está na  confecção de uma trova perfeita. Quem quer ser premiado, escreve, reescreve, até que encontra a mensagem competidora.  O trovador sempre quer na ponta da esferográfica um achado ou seja idéia vantajosa, providencial e feliz. Nos  IV Jogos Florais de Ribeirão Preto (SP), 1978, com o tema  verde, em âmbito municipal, Geraldo de Maia Campos foi um dos premiados com a trova a seguir:

Não pode dar resultado
Sendo tu verde e eu maduro.
Eu tenho apenas passado,
E tu, meu bem, tens futuro!


(Jogos Florais em quatro tempos, UBT,PMRP;1978, p. 38)
      
Os concursos literários buscam o aprimoramento do gosto estético através do exercício da arte-poética, aqui ensejada pela trova, como estímulo à criatividade. Além, despertar o interesse pela literatura em geral e pela poesia em especial. Finalmente, incentivar os sentimentos humanitários para a vida social.

Na Declaração de Princípios da União Brasileira de Trovadores - UBT,acróstico São Francisco, escrito por Luiz Otávio, tem para a primeira letra: Simplicidade: Sendo a trova a expressão mais simples da poesia e, pois, um reflexo da alma do trovador, devemos agir sempre com simplicidade na arte,  nas palavras e nas ações”.

A trova é feita de palavras que devem ser as melhores ao tema proposto.A maioria dos poetas premiados em concursos  escreve, reescreve diversas vezes o texto para depois enviá-lo ao crivo dos julgadores literários. Cremos ser de grande valia, analisar as trovas premiadas no ano anterior. No âmbito nacional temos a têmpera do  produto final da banca e nas premiadas em âmbito local  a predileção  literária  dos trovadores da municipalidade.  Observe que são nas  palavras do texto literário, uma de mãos dadas com as outras, que encontramos infinitas possibilidades de expressão e de interpretação. (SANTOS,2006, p.12 )

Tendo por base o Decálogo de Metrificação de autoria de Luiz Otávio – fundador da União Brasileira de Trovadores, entidade de âmbito nacional - editado com a participação de poetas de todas as regiões do Brasil, ao ler: Ao estudarmos a Arte de Trovar ou a composição da Trova, devemos analisá-la em duas partes: o corpo e a alma ou a forma e o fundo. (OTÁVIO, 1975,pág.2)
Construímos com estas informações os quadros abaixo:

 ....................Rítmo
Forma............Melodia..............gramatical
 ....................Expressão..........poética

QUADRO 1 - FORMA

Na parte correspondente à Forma teríamos o Ritmo  –  resultante da metrificação e das tônicas: a melodia - conseguida pelas rimas e pelo emprego harmonioso das vogais e consoantes; a Expressão gramatical e poética. .(OTÁVIO, pág . 2,1975).


Mensagem
Originalidade (e o achado)
              Fundo        Comunicabilidade
Simplicidade
Harmonia interna

QUADRO 2 - FUNDO

Na parte correspondente ao Fundo, teríamos: a Mensagem poética, a originalidade (e o achado), a comunicabilidade, a simplicidade, a harmonia interna, etc.

 No Decálogo de Metrificação, a UBT, revela o cuidado  com a forma ligada ao ritmo, ou seja com a metrificação. A publicação oferece recursos para que o poeta componha  com segurança uma trova literária; e alerta: “ o idioma e o verso são os instrumentos do poeta”. O Ensaio lembra que é bom recordar noções sobre verso e pontos gramaticais.  Indicamos aqui a Minigramática de CEGALLA. Nesse Decálogo de Metrificação, temos  orientações e  trovas ilustrativas  de Luiz Otávio. Goldstein (1991, p.13)  sobre ritmo assegura: Cada época tem seu rítmo

– As sílabas são contadas até a última tônica do verso. Na aplicação das regras temos  por exemplo:

Poderá a força elétrica
de um sábio computador
ensinar contagem métrica
mas não faz um trovador.


 – As pontuações não impedem as junções de sílabas.

       Pensa em calma! Evita errar
       injusto és se nos reprovas...
       Pois não queremos mudar
       o modo de fazer trovas...


– Não se deve fazer o aumento de uma sílaba métrica os encontros consonantais disjuntos.(ou seja: não   usar o suarabact).  Ex. ignoro e não iguenoro.

Você pode acreditar                     
ter a pura convicção
que a ninguém vou obrigar
a ter a minha opinião...

         Comissão Central de Metrificação, UBT- Nacional, a 29/08/1974, atendeu a consulta da secção de Ribeirão Preto (SP) para sanar a dúvida com relação a palavra substituta usada em uma trova local. Luiz Otávio reforçou a necessidade de sistematizar os julgamentos de concursos de trovas. Hoje todos os trovadores brasileiros e portugueses concorrem em igualdade de condições

– Uma vogal fraca faz  junção com a vogal fraca ou forte inicial da palavra seguinte. §único: Aceitam-se exceções a esta regra no sentido de evitar a formação de sons duros e desagradáveis. Exemplo: “cuja ventura/única consiste”.   

Podes crer que és muito injusto
e estás longe da verdade:
pois na Trova, a todo o custo
defendo a espontaneidade...          
 
                 
– Uma vogal forte pode ou não, fazer junção com vogal fraca da palavra seguinte, no entanto jamais deve faze-la com vogal forte. § único – Nos casos  em que se prefira fazer a junção “forte + fraca”, deve-se ter sempre o cuidado de evitar sons desagradáveis ( “mais que tu/ardo”) ou formar  novas palavras (“via” ao invés de “ vi a..).

É uma história bem correta:
Em tudo o ensino é preciso,
No entanto, só/ o poeta
Quer ser gênio de improviso...


– Pode haver a juncão de três vogais numa sílaba métrica.
§1º - Não deve haver mais de uma vogal forte.

§2º - No caso em que a vogal forte não esteja  colocada entre  as vogais fracas e, sim, em 1º e 2º  lugar, para que seja  correta a junção, as duas vogais fracas devem juntar-  se por crase ou elisão, e não por sinalefa (ditongação). Assim estará certo: “ é a ambição que nos prende e nos maltrata” e  não se pode unir as três de ¨e a /íntima palavra derradeira’

§ 3º- Deve-se ser usada com cuidado a  junção de mais de três vogais, embora haja casos corretos de quatro ou cinco vogais.

Esta é uma trova indiscreta
Convenções, mal amparadas,
Induzem muito poeta
A convicções enraizadas.


– Os ditongos aceitam as prejunções com vogais fracas, (“e eu”). As postjunções são aceitas somente nos ditongos crescentes ( encontro instáveis) (“a distância infinita”) e são repelidas nos ditongos decrescentes. (“ Eu sou/a que no mundo anda perdida”).

§ único – Há casos de uso facultativo de prejunção de vogais fortes aos ditongos  e não e não ferem as tônicas das  palavras. ( aceita-se: “Será auspiciosa” e será inaceitável: “Terá/auto nos pontos”).

Para medir nossos versos
se o ouvido fosse o juiz,
em nossos metros diversos
ninguém poria o nariz...


– Nos encontros vocálicos ascendentes ( formados por vogais ou semi-vogais átonas seguidas de vogais ou semi-vogais tônicas), a sinérese  é de uso facultativo. (“ci-ù-me”  ou “ciume”, etc.).

§ único- Há neste grupo, excepcionalmente, encontros vocálicos que não aceitam sinérese. Geralmente, são formados pela vogal “a”  seguidas das vogais “a” ou “e” ou “o” (como em: Sa/ara, a/éreo,a/orta,etc.) ou, em alguns casos, da mesma vogal “a” seguida das semi-vogais “i” ou “u” tônicas, como em: “para/iso”, “na/u”, etc.

Na trova, soneto ou poema
em toda parte do mundo,
se a Forma é o seu di/adema,
a sua alma é sempre o fundo!


– Nos encontros vocálicos descendentes ( formados por vogais ou semi-vogais tônicas seguidas de vogais ou semi-vogais átonas) não se aceita a sinérese ( “tua”,”lua”, “frio”,”rio”, etc., e sim “tu/a”, “su/a”, “fri/o”, “ri/o”,etc.

§ único – Em algumas regiões do Brasil é usada a sinerese nestes encontros vocálicos, com base na  fonética local. No entanto, não será aceita na metrificação, em benefício da uniformidade, uma vez que na maioria dos Estados e feita a separação dessas vogais.

As dúvidas são pequenas,
 não sejas tão pessimista,
dá-me a tu/a ajuda, apenas,
e será bela a conquista.
                            
– O uso da aférese (“inda”, etc), síncope (pra”, etc), apócope  ( “mui”,etc ), e ectilípses (com a”, “o”, “as”;   “os”) é facultativo. 

 § 1º a junção de “com” mais palavras iniciadas com vogais átonas é correta mas pouco usada. Acompanhando a maioria dos poetas, sempre que possível, deve ser evitada. (com amor”, etc);

§ 2º A junção de “com” mais palavras iniciadas com gogais tônicas não será aceita. (‘com esta”, etc).                               

§ 3º A junção de fonemas anasalados “am”,”em”, “im”, etc.,com vogais átonas não será mais aceita. (“ formaram/idéias”, “cantaram/hinos”,etc).

§ 4º É preciso de cuidado com o uso de aféreses, síncopes e apócopes que, por estarem em desuso ou por formare,, geralmente, sons desagradáveis, irão ferir a sensibilidade e os ouvidos dos leitores e dos ouvintes.

É mui// feio criticar       (apócope)
/inda que seja um direito      (aférese)
-p/ra ser justo, aulas vem dar    (síncope)
com o teu plano sem defeito...     ( ectilipse)

Continua…

Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.

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