terça-feira, 21 de agosto de 2012

Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa (S. Tomé e Príncipe – 2. Narrativa, 3. A Expressão em Crioulo)

2.    NARRATIVA

Modestíssima, quantitativa e qualitativamente, é a narrativa de S. Tomé e Príncipe. As esporádicas experiências de Viana de Almeida (Maiá Pòçon, contos, 1937) e de Mário Domingues. (O menino entre gigantes, 1960) não chegam a ser uma contribuição relevante. O primeiro, nesse tempo, prejudicado ainda por um ponto de vista subsidiário de uma época colonial; o segundo (também natural de S. Tomé e Príncipe, mas tornado escritor português pela obra e pela radicação) talvez pela carência da dramatização da personagem principal, o mulato Zezinho, nado e criado em Lisboa. De acaso teria sido o conto «Os sapatos da irmã», sem qualquer relação com S. Tomé, que Francisco José Tenreiro, em 1962, publicou na colectânea Modernos Autores Portugueses (Lisboa). Acidentais ainda, mas já com uma visão ajustada a um real africano, foram também as experiências de Alves Preto, limitada, cremos, a dois contos: «Um homem igual a tantos» e «Aconteceu no morro» [118]. E ainda o caso de Sum Marky (i. e. José Ferreira Marques), branco nascido em S. Tomé, autor de vários romances, de importância discutível, alguns no entanto parcialmente com interesse, valendo citar Vila Flogá, 1963, como testemunho acusatório da exploração colonialista.

3.      A EXPRESSÃO EM CRIOULO

Não obstante ser bilingue, visto que a população utiliza, além da língua portuguesa, o crioulo de S. Tomé, a criação literária é reduzida em dialecto, domínio que a tradição oral vem monopolizando com substancial interesse. Praticamente conheciam-se as composições poéticas de Francisco Stockler e uma experiência de Tomaz Medeiros. No entanto, após a independência nacional, parece haver sintomas de uma revitalização no uso literário do crioulo, ao nível popular, pelo menos a partir de agrupamentos musicais. Exemplo são os casos dos caderninhos de Sangazuza e o caderno do Agrupamento da Ilha, 1976, compostos de músicas revolucionárias e, de um modo geral, vertidos em nimbas, sambas, marchas, valsas, boleros e sòcòpés.
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Nota
[118] Alves Preto, «Um homem igual a tantos» in Mensagem. Lisboa, Casa dos Estudantes de Lisboa, ano II, n.° 2, fevereiro de 1959, pp. 21-23. «Aconteceu no morro», idem, ano II, n.°s 5-6,1960, pp. 2-6.


Continua…Guiné-Bissau

Fonte:
Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa I Biblioteca Breve / Volume 6 – Instituto de Cultura Portuguesa – Secretaria de Estado da Investigação Científica Ministério da Educação e Investigação Científica – 1. edição — Portugal: Livraria Bertrand, Maio de 1977

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