sábado, 30 de junho de 2012

Doze em Ritmo de Sextilhas (Parte 1)


A título de observação:

Por serem 240 sextilhas, dividi em 10 partes de 24 sextilhas, para que não fique muito extenso em uma postagem.

O livro eletronico foi gentilmente cedido pelo poeta Zé Lucas, o em papel recebi em Curitiba, do Arlindo Tadeu Hagen.

APRESENTAÇÃO

Ao lado do movimento trovadoresco, reconhecidamente como instrumento de coesão e amizade entre os poetas e seus familiares, no Brasil e até em outros países amigos, passamos a introduzir o debate poético, também aglutinador de ideias e estimulador de amizades.  A brincadeira, toda feita pela Internet, tomou corpo há mais de três anos e nos tem dado preciosos momentos de alegria e inspiração. Os debates se desenrolam num clima de entendimento, ética e solidariedade que nos encanta.  Todos os companheiros, já unidos pelos laços indestrutíveis da trova, concordamos em fazer parcerias usando a sextilha e a septilha nordestinas, cujo formato, com os versos ímpares brancos ou sem rimas, como no caso da sextilha, para facilitar o repentismo, deixa os poetas mais soltos no manejo das ideias. Não estabelecemos nenhum tema específico.  Deixamos fluir os versos com plena liberdade de pensamento, evitando apenas o baixo calão, o preconceito ou coisa assim, mas sem estabelecer normas, porque desnecessárias diante de gente de amadurecida educação e boa índole.

Este, com doze parceiros, foi, numericamente, o maior debate que já realizamos, produzindo 240 estrofes, ora paginadas neste livreto.

O convívio quase diário entre esses doze amigos do coração, pela Internet, foi, sem dúvida, muito gratificante para todos nós, mas a experiência mostrou que é melhor trabalhar com grupos menores, dadas as naturais dificuldades da comunicação eletrônica (panes no sistema, defeitos nos computadores, ausências de parceiros em viagens, problemas de saúde etc.).

Por fim, considerando-me talvez o mais beneficiado nesta parceria,
pelo que aprendi e desfrutei em termos de satisfação, conquista e aprofundamento de amizades, agradeço a todos os companheiros e coloco-me ao seu inteiro dispor no que eu possa ser útil dentro de minhas limitações.  

Cordialmente, José Lucas de Barros.

DOZE EM RITMO DE SEXTILHAS

1. Assis
 Queridos irmãos e irmãs,
parceiros de cantoria,
dando início a este debate,
previno-os com alegria:
- Preparem seus corações
para um banho de poesia!

2 – Delcy 
Que  voe   com   euforia
este  debate  iniciado,
aproximando    poetas
de outros e do meu Estado ,
e,  hoje,  para   começar,
vai  meu abraço apertado!

3 – Elisabeth 
Recebo o abraço apertado,
minha gente companheira,
e aqui, de minha cidade,
a Suíça Brasileira,
a notícia é promissora
de que o verso é sem fronteira!

4 - Prof. Garcia
Que informação verdadeira
esta que a colega diz,
se a poesia é um sonho
norteia nossos perfis,
pois quem não sonha não vive,
sonhando eu sou mais feliz!

5-Gislaine
Com nossa força motriz
podemos criar estrelas,
mil sóis faremos brilhar
na graça de poder vê-las.
Te agradecemos,  Senhor,
por em nossos versos, tê-las!

  06 - Hélio
 Bom mesmo é se posso vê-las
na imensidão do infinito,
 apesar de não tocá-las
 me acalmo se estou aflito,
 pois quem contempla as estrelas
 vê que o mundo é mais bonito.

07 - Milton
As estrelas, no infinito,
mostram, a crentes e ateus,
neste quadro limitado
que brilha nos olhos seus,
uma pequenina parte
da força imensa de Deus.

09 - Tadeu 
Não dê vazão ao revide
quando alguém lhe magoar.
Ao contrário, busque um meio
de conseguir perdoar
que o revide é bumerangue
disposto sempre a voltar!

10 – Thalma
Jamais se pode negar
que revidar é defeito.
Quem não exerce o perdão
vive a vida de mau jeito,
pois não conhece a verdade
da Lei de Causa e Efeito.

11 - Vanda 
  Desta forma, ao nosso jeito,   
  vamos cumprindo a missão: 
  vemos o mundo e colhemos 
  em tudo uma inspiração 
  que, antes de expressar poesia, 
  passa pelo coração.  

12 - Zé Lucas
Este nosso mutirão
tem tudo para dar certo,
pois somos doze andarilhos
atravessando o deserto
pra desafiar distâncias,
porque, pra nós, tudo é perto. 

13 - Assis 
 Zé Lucas, poeta esperto,
é mesmo um sábio andarilho,
talvez pela boa sorte
de do Nordeste ser filho,
treinado na bela arte
de do Sol colher o brilho.

14 - Delcy
 Seguimos o  mesmo  trilho,
doze  antigos  trovadores ,
que as distâncias não separam
pois são  grandes  sonhadores,
que  versejam  em  sextilhas
e   falam  dos  seus  amores!

15 - Elisabeth
Nós que somos trovadores,
pelo verso destemido,
a nossa voz  se agiganta...
o bem é fortalecido,
porque falando de amor
a vida tem mais sentido!

16 - Prof. Garcia
Quando o verso é bem urdido
e a estrofe fica bem feita,
a peça logo acabada
fica tão linda e perfeita,
que a musa sente ciúme
e ao lado dela se deita!

17-Gislaine
Um verso lindo deleita!
O nosso dom de trovar,
é  uma bênção que nós temos  
de, em versos, poder cantar:
amor, saudade, afeição,
e  nova emoção criar!

18 - Hélio
 Quando o mundo se tocar
 quão benéfica é a poesia,
 vai ver que constam nos versos
 a paz, o amor e a harmonia,
 mesmo quando os vates unem
 o real à fantasia.

19 - Milton
Quando é bem feita a magia
até o mágico se encanta,
alegre ou emocionante,
nosso verso se agiganta:
como é bom quando alguém colhe
os versos que a gente planta!!!

  21 – Tadeu 
    A nossa matéria-prima
deve ser sempre o amor.
Quem não tiver isto em mente
será só compositor
de muitos versos bonitos,
sem alma de Trovador! 
  
22 – Thalma 
Para ser bom Trovador 
não basta rimar direito, 
é preciso haver ternura 
feito um mar dentro do peito... 
Sem amor não há poesia, 
sem ele nada é perfeito! 
  
23 - Vanda 
Sendo o caminho imperfeito, 
Deus ameniza a jornada, 
dando-nos feixes de rimas... 
e os poetas, em parada, 
vão traçando no caminho 
uma faixa iluminada. 
  
  24 - Zé Lucas
Vejo a poesia estampada
na manhã que se levanta,
na ternura dolorosa
dos olhos da Virgem Santa
e na grandiosa beleza
da cachoeira que canta! 

Fonte:
Doze em Ritmo de Sextilhas: Debate pela Internet. 20.02.2010 a 22.12.2010., 2012.

Joana Veiga (Era uma Vez…)


Joana é aluna da 7a. Série do Colégio de Educação Básica de Montes Claros.

Era uma vez 
Um reino distante 
Onde vivia 
Um rei cintilante.

Vivia em paz 
Sem guerras, sem manhas 
Com seus amigos 
E com suas aranhas.

Um dia sua filha desapareceu 
e foi uma grande desgraça; 
O reino andava triste
E sem nenhuma graça.

Então o rei decidiu ir procurá-la:
Levou um pouco de poção
E, sem se esquecer,
Chamou o seu dragão.

Voaram, voaram,
Andaram, andaram, 
até chegarem ao castelo 
Onde vivia um ogre amarelo.

Bateram à porta,
Ninguém abriu;
Bateram novamente 
E nem um pio.

Então decidiu entrar à socapa. 
Bebeu um pouco de poção
E, com a faca na mão,
Começou a sua emboscada.

Subiu à torre mais alta
Onde estava a sua adorada,
Morta no chão
Sem nenhuma arranhão.

Foi à procura do ogre
e encontrou-o no quarto
e no meio daquela bagunça
encontrou um frasco.

O frasco dizia:
“ Cura milagrosa para a morte”.
Teve logo a feliz ideia
Que lhe daria muita sorte!

Foi buscar o frasco,
Muito sorrateiramente
Deu de beber à sua amada 
que acordou de repente.

Assobiou ao dragão
Que já sabia o que fazer:
Levou a rapariga 
Logo ao amanhecer.

Com a força de um gigante
E o coração mais contente
Afirmou que do ogre se iria vingar
Em nome de toda a gente.

Começou a berrar
 até o ogre acordar;
 mal o ogre acordou 
deu-lhe de papar.

O ogre, como era cego, 
Pensava que era um criado;
Mas quando engoliu
Sentiu um arrepio.

O ogre morreu,
Todos os seus criados se libertaram.
O rei voltou para a sua terra,
Onde todos o esperavam.

Já estava tudo bem
Tudo normal
O reino alegre
E excepcional.

Fonte:
Contos de Terror e Imaginação. Escola de Ensino Básico de Montes Claros.

Marcelo Spalding (O Fim do Livro Didático)


O livro assistiu à conquista dos mares e do espaço, ao massacre de tribos inteiras, à construção de aldeias que viraram cidades que viraram metrópoles, a Grandes Guerras Mundiais, a Cismas e Revoluções no Oriente e no Ocidente; contribuiu com o surgimento de nações fortes e líderes sanguinários, de ideias que originaram a eletricidade, o avião, o telefone, a bomba atômica, o rádio, a vacina, o cinema, a genética, a internet; consolidou línguas, perpetuou religiões, criou mundos imaginários. O secular e sagrado livro, atravessou um milênio inteiro – o das luzes, o das invenções – praticamente incólume, soberano numa era de rápidas transformações tecnológicas, nos fazendo acreditar que ele, o livro, era realmente como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Mas não.

 Nem o livro – e talvez nem a colher, a roda ou a tesoura – está livre de transformação nessa passagem do mundo analógico para o mundo digital, do mundo de átomos para o mundo de bits, o que tem provocado verdadeiro alvoroço em uma geração nascida e criada em meio a (muitos) livros. Sim, muitos, porque se em 1427 havia apenas 122 livros na Universidade de Cambridge, hoje são mais de 150 milhões de volumes mantidos em 150 quilômetros de prateleiras só na nesta Universidade.

 Tal profusão é sinal de que o livro não conquistou apenas as estantes, mas também o coração e o imaginário de seus leitores: “É preciso reconhecer o mundo como um grande livro”, nos dirá Guilherme de Baskerville, o frade franciscano protagonista de O Nome da Rosa; “Liesel quase puxou um título do lugar, mas não se atreveu a perturbá-los, eram perfeitos demais”, contará a protagonista Morte em A menina que roubava livros; “Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante”, revelará Clarice Lispector no antológico conto “Felicidade Clandestina”.

 Há algum tempo, porém, o livro não é mais o único a transmitir essas histórias, sonhos, medos, lições, tem dividido bastante de seu protagonismo com o cinema, a televisão, agora a internet. Sem contar que cada vez mais a escrita em geral – e a literatura em particular – encontra novos e variados suportes digitais com características distintas e capazes, inclusive, de modificar o texto em si, numa revolução que o estudioso Roger Chartier considera “com poucos precedentes tão violentos na longa história da cultura escrita”.

 Nesse aspecto, o próprio objeto físico tem sido rediscutido, com alguns prevendo que ocorrerá com o livro o mesmo que com os discos ou os filmes fotográficos: uma transposição do seu formato de átomos para um formato de bits, digital. É nesse contexto que foram lançados há algum tempo aparelhos como o Kindle e mais recentemente aparelhos como o iPad, com telas já muito melhor adaptadas à leitura do que as telas dos notebooks ou PCs. Dizer que os aparelhos digitais irão substituir por completo a milenar tradição de livros impressos, entretanto, é tão leviano quanto ignorar sua presença ou lutar contra ela.

 Livros de referência, como enciclopédias, atlas, dicionários, guias, legislações e manuais, fazem muito mais sentido numa plataforma digital do que no papel. Por pelo menos duas razões: a facilidade de consultas precisas e a facilidade de atualização. Só interessa a um mercado tradicional e um tanto viciado que um estudante compre o mesmo livro a cada ano, preocupado apenas com a mudança de uma ou outra lei que foi alterada naqueles meses, por exemplo.

 Na sala de aula, da mesma forma, livros didáticos grossos e caros são cada vez mais anacrônicos (ainda que coloridos e bonitos), e não pela questão pedagógica, tão bem discutida há algum tempo por nossos colegas pedagogos, mas pela questão tecnológica. Fazer os pais comprarem uma caixa de livros didáticos de editoras e autores que se repetem, conjunto de livros cujo valor ultrapassa o de muitos tablets, é hoje tão justificável quanto a compra da última versão da Barsa pela biblioteca da escola.

 Em livro chamado “A sala de aula interativa”, Marco Silva, ainda no ano 2000, já defendia o uso de ferramentas tecnológicas em sala de aula, mudando não apenas os materiais, mas também o método de ensino:

 “A sala de aula interativa seria o ambiente em que o professor interrompe a tradição do falar/ditar, deixando de identificar-se com o contador de histórias, e adota uma postura semelhante a do designer de software interativo. Ele constrói um conjunto de territórios a serem explorados pelos alunos e disponibiliza co-autoria e múltiplas conexões, permitindo que o aluno também faça por si mesmo. Isto significa muito mais do que ‘ser um conselheiro, uma ponte entre a informação e o entendimento, [...] um estimulador de curiosidade e fonte de dicas para que o aluno viaje sozinho no conhecimento obtido nos livros e nas redes de computador’. O aluno, por sua vez, passa de espectador passivo a ator situado num jogo de preferências, de opções, de intercompreensão. E a educação pode deixar de ser um produto para se tornar processo de troca de ações que cria conhecimento e não apenas o reproduz.”

 Um livro didático, como se sabe, é a reprodução de um discurso e de uma construção feita fora do contexto do jovem aluno, desconsiderando suas particularidades e reduzindo sua participação a preencher de lacunas. Aplicativos didáticos, embora hoje sejam muito caros, aos poucos podem ser desenvolvidos pelas universidades de cada cidade, numa parceria entre cursos de informática e educação, por exemplo, considerando a linguagem, a região e a realidade social em que estão inseridas as escolas, bem como as propostas educacionais de cada instituição.

 Com isso, talvez fosse possível investir parte do valor milionário que hoje é gasto em livros didáticos em livros de literatura. Livros em papel, que seja, pois ainda que haja – e cada vez mais – literatura nas mídias digitais, temos e por muito tempo teremos boa literatura nos livros impressos. E a literatura, quando bem trabalhada, incentiva os jovens a ler, aprimora técnicas de leitura, raciocínio, compreensão, o que no final das contas é fundamental para qualquer disciplina.

 Mais importante do que o uso de livros didáticos (ou mesmo de aplicativos didáticos) é o gosto e a capacidade de leitura, pois sem a leitura em breve não teremos mais livros – nem digitais, nem impressos; nem literários, nem didáticos. E dá para imaginar um aluno estudando apenas por aqueles tutoriais em vídeo de qualidade duvidosa? Que se permita o surgimento de novas tecnologias em sala de aula, mas que se preserve o que de melhor a tradição escolar construiu.

Fonte:

Carlos Zemek (No Mundo dos Sonhos)



Pintura de Carlos Zemek 
(Inspirado em um sonho)
Eu flutuo pelo espaço ... posso ver estrelas por todos os lados, quando percebo que estou próximo a uma nebulosa cor violeta .... Vejo a Terra de fora ... Mas ela é apenas uma rocha ... Onde um homem de capa de chuva e chapéu metálicos grita lá de baixo na superfície do planeta em meio a uma tempestade de chuva ácida ... 

- Desce aqui meu amigo emplumado ... por que voas por aqui??? 

Sem entender por que ele me chamara de amigo emplumado eu resolvi descer voando e na descida eu noto que meu corpo é recoberto de penas azuis brilhantes ... eu sou apenas um pequeno pássaro azul ... 

Pouso a seu lado em uma rocha e a tempestade se transforma em fina garoa, ele abre um guarda-chuva e o prende na rocha pra me proteger das gotas ácidas que já incomodavam minhas penas ... 

É uma sensação estranha ser um pássaro disse eu ! 

- Você sabe muito bem, podemos ser tudo que imaginamos.. 

- Eu não me imaginei um pássaro!

- Mas voava pelo infinito como um !!! 

- Eu estou sonhando não estou ?? 

- Sim

- Quem é você ? 

- Sou parte do Todo como você... 

- Por que chove ??? Se isto é um sonho não podia parar ??? 

- É assim que está sua mente no momento ... (Uma risada sinistra que me dá arrepios) 

- Você é um elemental, espírito ou algo parecido??? 

- Nomes simplórios para definir meu estágio temporário de vida ... 

Mas comparando poderia dizer que sou algo assim. 

- Me sinto inquieto, posso voar um pouco ?? 

- Claro, o que você procura está do outro lado deste planeta ... 

- Ok... (Me perguntei se ele sabia o que eu queria pois eu não sabia.) 

Voar é uma sensação maravilhosa ... saio da atmosfera do planeta e já vejo uma espécie de lua cor violeta .. cheia de plantas e árvores ... enquanto me aproximo uma voz dentro de minha cabeça diz: 

- Alto quem vem lá ???(Percebo que é a lua violeta quem fala comigo) 

- Estou apenas de passagem... (Digo em voz alta)

- Pode vir!! (Diz a Lua) 

Quando me aproximo bastante, posso ver que é um planeta muito parecido a Terra ... com árvores e plantas, mas tudo é púrpura, violeta, azul, roxo e lilás.

Pouso em uma pedra e observo um belo lago com três árvores que parecem emitir luz própria.

Quando olho para o lado lá está novamente o homem de capa de chuva metálica.

- Onde estou? (Pergunto maravilhado com a visão da paisagem)

- Está no lugar tranquilo de sua mente, dentro do mundo dos sonhos.

Fico ali alguns minutos observando a maravilhosa paisagem enquanto uma sensação de paz e tranquilidade invadem minha mente.

Após algum tempo uma grande espiral se abre no espaço e me suga rapidamente para dentro ... nesse instante acordo... mas com a imagem da linda Lua violeta e o lago com as três árvores impressa em minha mente.

Fonte:

Concurso Nacional de Contos de Ponta Grossa (Resultado Final)


CATEGORIA NACIONAL:

“A PASSAGEM QUE SE PERDEU NO SERTÃO: OU O QUE FOI FALADO NA MORTE DE QUELE-MÉM” de Alexandre Magno Jardim Pimenta, de Franca/SP

“FIAT LUX” de Bethânia Pires Amaro, de Salvador/BA

“O RELÓGIO” de Marcia de Oliveira Gomes, de Rio de Janeiro/RJ. 

Menções Honrosas na Categoria Nacional 

“O QUARTO DO FILHO” de Juliana Cristina Curvo, de Cuiabá/MT

“EM NOME DO PAI” de Ricardo Francisco de Camargo Chagas, de Ivaiporã/PR

“DE ONDE VÊM OS BEBÊS?” de Natasha Suelen Ramos de Saboredo, de São José dos Pinhais/PR. 

CATEGORIA LOCAL:

“VELHICE” de Jeanine Geraldo Javarez

“A BORBOLETA NA ORELHA” de Rodrigo Kwiatkowski da Silva

“AS BANDAS DA BUNDA” de Rosicler Antoniácomi Alves Gomes. 

Menções honrosas na Categoria Local

“JORNAL VELHO” de Aldo Roberto Lemes de Almeida

“O CERCO NA AREIA” de Tiago Afonso Marenda.

Fonte:
http://concursos-literarios.blogspot.com  

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Mário Zamataro (A Mania das Palavras)


Ilustração por Carlos Araújo 
(veja nota abaixo)
As palavras têm a mania de querer ultrapassar os dicionários. Não se trata de mania de grandeza, mas, sim, de sentido. Mania de não aceitar uma definição qualquer que as prenda a determinado sentido. O que é natural.

 Cada ser vivo experimenta sensações próprias em suas experiências vividas. Alguns vão além, inventam sensações e imaginam experiências. E dão a este tipo de combinação um poder ainda maior para a significação dos eventos da vida. As significações se encadeiam e se transferem de um ser vivo a outro, o que forma um conjunto infinito...

 As palavras nascem assim, das sensações experimentadas e inventadas. E vão se juntar a outras, interminavelmente, neste mesmo conjunto infinito da vida.

 No subconjunto da poesia, as significações são potencializadas. Ou seja, as palavras ganham potência. Talvez seja este o melhor contexto para a demonstração e compreensão desta mania “incurável” que as palavras têm. É onde a combinação de palavras e significações forma uma trama inesgotável de sensações e de possibilidades de sensações; sugere a invenção de experiências; engendra imagens de matizes antes impossíveis; amplia as dimensões do mundo!

 Viva a mania das palavras!
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Nota:
Essa ilustração - ouvindo e procurando palavras num dicionário - foi criada para um livro didático (Língua Espanhola) da Editora Ática. Até o cachorro participa...

Fontes:

Manuel Bandeira (Poesias Infanto-Juvenis)



Ilustração de Robson Corrêa de Araújo

COTOVIA

- Alô, cotovia! 
 Aonde voaste,
 Por onde andaste,
 Que saudades me deixaste?
 - Andei onde deu o vento.
 Onde foi meu pensamento
 Em sítios, que nunca viste,
 De um país que não existe . . .
 Voltei, te trouxe a alegria.
 - Muito contas, cotovia!
 E que outras terras distantes
 Visitaste? Dize ao triste.
 - Líbia ardente, Cítia fria,
 Europa, França, Bahia . . .

 - E esqueceste Pernambuco, 
 Distraída?

 - Voei ao Recife, no Cais
 Pousei na Rua da Aurora.

 - Aurora da minha vida
 Que os anos não trazem mais!

 - Os anos não, nem os dias,
 Que isso cabe às cotovias.
 Meu bico é bem pequenino
 Para o bem que é deste mundo:
 Se enche com uma gota de água.
 Mas sei torcer o destino,
 Sei no espaço de um segundo
 Limpar o pesar mais fundo.
 Voei ao Recife, e dos longes
 Das distâncias, aonde alcança
 Só a asa da cotovia, 
 - Do mais remoto e perempto
 Dos teus dias de criança
 Te trouxe a extinta esperança,
 Trouxe a perdida alegria. 

A ONDA

A onda
a onda anda
 aonde anda
 a onda?
 a onda ainda
 ainda onda
 ainda anda
 aonde?
 aonde?
 a onda a onda

BELO BELO

 Belo belo minha bela
 Tenho tudo que não quero
 Não tenho nada que quero
 Não quero óculos nem tosse
 Nem obrigação de voto
 Quero quero
 Quero a solidão dos píncaros
 A água da fonte escondida
 A rosa que floresceu
 Sobre a escarpa inacessível
 A luz da primeira estrela
 Piscando no lusco-fusco
 Quero quero
 Quero dar a volta ao mundo
 Só num navio de vela
 Quero rever Pernambuco
 Quero ver Bagdá e Cusco
 Quero quero
 Quero o moreno de Estela
 Quero a brancura de Elisa
 Quero a saliva de Bela
 Quero as sardas de Adalgisa
 Quero quero tanta coisa
 Belo belo
 Mas basta de lero-lero
 Vida noves fora zero. 

ORAÇÃO PARA AVIADORES

Santa Clara, clareai
 Estes ares.
 Dai-nos ventos regulares,
 de feição.
 Estes mares, estes ares
 Clareai.

Santa Clara, dai-nos sol.
 Se baixar a cerração,
 Alumiai
 Meus olhos na cerração.
 Estes montes e horizontes
 Clareai.

Santa Clara, no mau tempo
 Sustentai
 Nossas asas.
 A salvo de árvores, casas,
 E penedos, nossas asas
 Governai.

Santa Clara, clareai.
 Afastai
 Todo risco.
 Por amor de S. Francisco,
 Vosso mestre, nosso pai,
 Santa Clara, todo risco
 Dissipai.

Santa Clara, clareai.

A ESTRELA 

Vi uma estrela tão alta, 
 Vi uma estrela tão fria! 
 Vi uma estrela luzindo 
 Na minha vida vazia. 

 Era uma estrela tão alta! 
 Era uma estrela tão fria! 
 Era uma estrela sozinha 
 Luzindo no fim do dia. 

 Por que da sua distância 
 Para a minha companhia 
 Não baixava aquela estrela? 
 Por que tão alto luzia? 

 E ouvi-a na sombra funda 
 Responder que assim fazia 
 Para dar uma esperança 
 Mais triste ao fim do meu dia. 

D. JANAÍNA 

D. Janaína
 Sereia do mar
 D. Janaína
 De maiô encarnado
 D. Janaína
 Vai se banhar.

 D. Janaína
 Princesa do mar
 D. Janaína
 Tem muitos amores
 É o rei do Congo
 É o rei de Aloanda
 É o sultão-dos-matos
 É S. Salavá!

 Saravá saravá
 D. Janaína
 Rainha do mar.

 D. Janaína
 Princesa do mar
 Dai-me licença
 Pra eu também brincar
 No vosso reinado.

BALÕEZINHOS

Na feira do arrabaldezinho 
 Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor: 
 - "O melhor divertimento para as crianças!" 
 Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres, 
 Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.

No entanto a feira burburinha. 
 Vão chegando as burguesinhas pobres, 
 E as criadas das burguesinhas ricas, 
 E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.

Nas bancas de peixe, 
 Nas barraquinhas de cereais, 
 Junto às cestas de hortaliças 
 O tostão é regateado com acrimônia.

Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras, 
 Os tomatinhos vermelhos, 
 Nem as frutas, 
 Nem nada.

Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a 
 [única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.

O vendedor infatigável apregoa: 
 - "O melhor divertimento para as crianças!" 
 E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um 
 [círculo inamovível de desejo e espanto. .

TREM DE FERRO

Café com pão
 Café com pão
 Café com pão

 Virgem Maria que foi isto maquinista?

 Agora sim
 Café com pão

Agora sim
 Café com pão

 Voa, fumaça
 Corre, cerca
 Ai seu foguista
 Bota fogo
 Na fornalha
 Que eu preciso
 Muita força
 Muita força
 Muita força

 Oô..
 Foge, bicho
 Foge, povo
 Passa ponte
 Passa poste
 Passa pato
 Passa boi
 Passa boiada
 Passa galho
 De ingazeira
 Debruçada
 Que vontade
 De cantar!

 Oô...
 Quando me prendero
 No canaviá
 Cada pé de cana
 Era um oficia
 Ôo...
 Menina bonita
 Do vestido verde
 Me dá tua boca
 Pra matá minha sede
 Ôo...
 Vou mimbora voou mimbora
 Não gosto daqui
 Nasci no sertão
 Sou de Ouricuri
 Ôo...

 Vou depressa
 Vou correndo

Vou na toda
 Que só levo
 Pouca gente
 Pouca gente
 Pouca gente…

Fonte: