quinta-feira, 28 de junho de 2012

Silvia Araújo Motta (Caderno de Trovas)



Que pena ver passarinhos, 
em seu lar, engaiolados... 
Cantam SAUDADES dos ninhos 
dos áureos tempos passados. 

Nunca mais vou te esquecer! 
Perfumaste meu CAMINHO, 
pois, fizeste renascer 
a flor do lençol de linho. 

Naquele LENÇOL de linho 
ficou o perfume do amor, 
das carícias, do carinho, 
da saudade, flor da dor. 

Se você não posso ter 
guardarei o seu PERFUME 
na flor que posso colher 
pra não perder o costume. 

A SAUDADE perfumada 
na estrada que não conheço 
vem da flor apaixonada 
dos lençóis que não esqueço. 

Na estrada que já conheço 
tem perfume de SAUDADE, 
pois teu amor não mereço: 
-Só uma sincera amizade. 

A SAUDADE de um amor 
sempre vem e nos tira a paz 
e o bichinho desta dor 
faz coçar, ferida traz.

Sei que a SAUDADE não mata, 
mas sei do que ela é capaz,
traz dor quando o amor desata 
e ao roer, ferida faz. 

Sei que a SAUDADE incomoda 
e até parece infinita 
mas quando o amor volta, 
a roda gira feliz, é bendita. 

SAUDADE traz à presença 
alguém que já foi embora, 
tristeza leva à descrença, 
por isso, nossa alma chora. 

Quando a tristeza me invade 
ponho o sonho no barquinho 
canto o fado da SAUDADE 
e espero o mar de carinho. 

Saudade não tem idade... 
na criança ou mocidade, 
só guarda felicidade 
e vem na MATURIDADE. 

Temos muito que fazer 
para conquistar o amor... 
mas difícil é concorrer 
com quem só tem DESAMOR. 

Só quem teve bons momentos, 
diz o adágio popular, 
tem SAUDADE e, em pensamentos, 
sofre sem poder falar. 

No teu JARDIM do prazer 
plantei sementes de amor, 
mas hoje quero esquecer 
a saudade até da flor. 

Palavras joguei ao VENTO... 
Estão a chorar no espaço! 
-Vou buscá-las! Não agüento 
ficar sem laço e abraço! 

O AMOR põe sonhos reais 
nas asas inquebrantáveis 
não se preocupa com os ais, 
nem com rimas mensuráveis. 

O café com RAPADURA
tem dos médicos receita, 
porque tristeza ele cura 
se é dado à pessoa eleita. 

Eu quis tanto ser feliz... 
que uso máscara de Rei... 
mas o CARNAVAL me diz, 
que em mim, valor eu não dei. 

O mundo dá tantas voltas, 
é pontual numa esfera; 
No verão não tem escoltas, 
traz SAUDADES da galera. 

Outono do Amor? SAUDADE: 
dos prazeres, da delícias... 
Inverno? Infelicidade: 
só por falta das carícias, 

Vivemos juntos a aliança 
de um perfeito CASAMENTO, 
mas nasceu outra criança 
só da amante...Não agüento! 

Autocrítica me alcança, 
bom senso, no pensamento: 
-SAUDADE sem esperança, 
já não permite lamento 

Vou viver sem meu amor, 
porque agora só me resta, 
esperar passar a dor 
que sofri “naquela festa.” 

Trago a lembrança caiada
que deu-me a paz esperada,
mas no SEPULCRO, adornada
a alma vive atormentada.

A esperança chega e canta 
o que o amor quer ouvir, 
na paixão que faz-de-conta 
faz o CORAÇÃO sorrir. 

Toda FLOR marca a presença 
de uma ternura sem par 
e carrega a antiga crença 
do amor que se quer doar. 

A solidão passo-a-passo 
vai deixando-me tristonho... 
já não sei mais o que faço 
para ativar o meu SONHO. 

Ninguém sabe quem tu és, 
nem que te faço RAINHA, 
quando vou aos Cabarés 
por curto tempo...só minha. 

As FLORES da nossa casa 
murcharam, sem primazia; 
a saudade vem e me arrasa 
ao ver a jarra vazia. 

As perdidas ESPERANÇAS 
renascem a cada dia 
porque recolho as lembranças 
e delas faço poesia. 

Eu sinto com tua voz, 
a falar aos meus OUVIDOS, 
que o amor que existe em nós 
já tem frutos conhecidos. 

Está vendo, meu amor, 
aquela ESTRELA a piscar? 
Ela espanta minha dor 
porque brilha em teu olhar.

Fonte:
MOTTA, Sílvia Araújo. A Trova e o Trovador. 2ª ed. Belo Horizonte, MG: 2010.

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