Esta entrevista foi realizada virtualmente com o escritor prof. Dr. Célio Simões. O objetivo é que o leitor conheça quem é o escritor atrás da pessoa, quem é a pessoa atrás do escritor, com 35 perguntas bem abrangentes.
CÉLIO SIMÕES DE SOUZA é paraense, advogado, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro de diversas academias no Pará, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.
1 - Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou.
Nasci em Óbidos, no Estado do Pará, cidade situada à margem esquerda do Rio Amazonas, no exato ponto onde ele é mais estreito e mais profundo (1,8 km de largura e 120 metros de profundidade). Entre tantos filhos ilustres, dois deles se destacam: José Veríssimo e Inglez de Souza, que com Machado de Assis e outros intelectuais, fundaram em 1900 a Academia Brasileira de Letras. Outra peculiaridade: a Revolução Constitucionalista de São Paulo em 1932 contou com a adesão do 4.º Grupo de Artilharia de Costa, nela sediado, sendo a única unidade militar fora do território paulista a se engajar àquele movimento. Com poucos dias de nascido, voltei com meus pais para a Fazenda Capela e lá vivi a primeira infância até os seis anos de idade, quando nos fixamos em Óbidos, pois eu e minhas irmãs precisávamos começar a estudar. Em 1966 me mudei para Belém/PA e na capital cursei o científico no tradicional Colégio Estadual Paes de Carvalho, fiz um ano do curso clássico no Colégio Abraham Levy e finalmente em 1972 iniciei o Curso de Direito na Universidade Federal do Pará, concluído em julho de 1976. Em 1979, fiz o curso da Escola Superior de Guerra. Em 1980 e a nível de extensão, conclui Metodologia do Ensino Superior na Universidade da Amazônia, fiz outros cursos de extensão universitária na área do Direito e finalmente, em 2006, fiz a minha pós-graduação em Direito do Trabalho, na Universidade Cândido Mendes (RJ).
2 – Como era a formação de um jovem naquele tempo? E a disciplina, como era?
Cursei o primário, como os demais jovens da época, no Grupo Escolar José Veríssimo, que nos propiciou ensino de excelente qualidade. Quem concluía essa etapa, mediante o chamado Exame de Admissão, ingressava no curso ginasial, que passou a funcionar a partir de 1962 no Colégio São José, de propriedade dos religiosos que atuavam na paróquia – os padres franciscanos e as freiras da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição. Durante o primário, estudávamos ao som das palmatórias, usadas também nas escolas particulares que davam aulas de reforço. Durante o ginasial os castigos físicos foram abolidos, porém a disciplina era muito rígida, tanto que tivemos um colega excluído do curso por haver engravidado a namorada. Por causa disso, ele jamais voltou aos bancos escolares. Primário e ginasial atualmente constituem o ensino fundamental.
3 - Recebeu estímulo na casa da sua infância?
Sou filho homem único de uma família de professores. Minha mãe e minhas quatro irmãs (duas já falecidas) foram professoras e o ambiente familiar contribuiu para o meu aprimoramento escolar. Quem me alfabetizou foi uma tia materna, a professora Córa Simões, titular do Colégio Santo Antônio e que formou muitas gerações de obidenses. Desde 2009, quando fundei na cidade a AALO - Academia Artística e Literária de Óbidos, onde ocupo a Cadeira n.º 1 e fui seu primeiro presidente, a escolhi para ser minha patrona no referido instituto cultural. Além de advogado, depois me tornei professor, atuando na Universidade da Amazônia, na Escola Superior de Advocacia, na Escola de Árbitros e Mediadores do Estado do Pará e no magistério particular. Já deixei as salas de aula e hoje só dou palestras.
4 – Quais livros foram marcantes antes de começar a escrever?
Iniciei com as Seleções do Reader’s Digest, uma publicação mensal destinada ao público familiar, contendo artigos variados, de interesse geral e de humor leve e divertido. Tenho em casa a coleção completa, desde o primeiro número lançado no Brasil em 1942. Além das revistas e jornais da época, como O Cruzeiro, Manchete e O Cometa, garimpava a coleção Tesouro da Juventude, uma enciclopédia destinada aos jovens e as crianças, que passou por uma repaginação em 1958 e fez parte da educação de milhares de estudantes daquela época. Incluo também os clássicos de Ernest Hemingway como O Velho e o Mar e Por Quem Os Sinos Dobram, e uma extraordinária obra da literatura pacifista “Nada de Novo na Frente Ocidental” de autoria de Erich Maria Remarque, que serviu no Exército Alemão durante a Primeira Guerra Mundial. A obra reflete suas experiências e observações sobre os traumas, o desespero e a total inutilidade das guerras. Certa época descobri a portabilidade e o baixo custo dos chamados “Livros de Bolso” e através deles tive acesso a muitos clássicos da literatura brasileira, que de outra forma me seriam difíceis. Sempre cultivei o hábito da leitura, vendo nos livros uma agradável companhia.
5 – Fale um pouco sobre a sua trajetória literária. Como começou a sua vida de literato?
Escrevi desde os 14 anos, quando ainda estudava o quinto ano do curso primário, em 1961. Por indicação da professora Jeannet Valente do Couto, eu e mais três garotos ficamos incumbidos da publicação do jornal da nossa classe, que denominamos de “UIRAPURÚ”, em homenagem ao pássaro de canto mais belo da Amazônia. Era um mural mensal e noticioso que trazia nossos comentários sobre os fatos mais relevantes ocorridos na região Oeste do Pará, onde vivíamos e do Brasil. Teve vida efêmera, pois em 1962 saímos da escola para cursar o ginasial, mas a experiência foi muito válida por haver despertado nossa vocação para a escrita e para o jornalismo. Hoje essa professora, já bem idosa, é minha confreira na Academia Artística e Literária de Óbidos, nos encontramos com frequência, pois somos quase vizinhos aqui em Belém. Mais tarde, passei a escrever crônicas e contos que eram divulgados em jornais e revistas de Belém (PA), Santarém (PA), São Luís (MA) e São Paulo (SP). Eu já tinha um excelente acervo quando surgiu a oportunidade de escrever meus livros, o que só veio a ocorrer em 2017, porque antes a advocacia tomava quase todo o meu tempo útil.
6- Como foi dar esse salto de leitor para escritor?
Exatamente assim, como informado na pergunta anterior. Amigos, familiares e leitores começaram a sugerir que eu escrevesse um livro, reunindo minhas crônicas e contos, para evitar que os textos ficassem dispersas ou se perdessem nos jornais que os publicavam. Convencido de que era inevitável tal iniciativa, fiz minha estreia como escritor com o livro “UM POUCO DE MUITAS HISTÓRIAS”, que teve excelente repercussão e mereceu referências muito positivas dos que o leram.
7 – Teve a influência de alguém, para começar a escrever?
Dois dos meus melhores amigos de infância e meus confrades na Academia Obidense - o engenheiro Ademar Amaral e o arquiteto, urbanista e empresário Carlos Antônio Silva (in memoriam) - se tornaram excelentes escritores e foi inevitável acompanhá-los, porque sempre falamos a mesma linguagem e desenvolvemos o mesmo interesse pela literatura. Ademar já recebeu vários e importantes prêmios literários e além de cronista, é um romancista fantástico. Carlos Antônio também era um pintor e fotógrafo talentoso, poeta e cronista e em 2012 resolveu escrever o seu primeiro livro. No início desse dito ano convidou-me para escrever o prefácio, deixou a “boneca” do livro no escritório e não chegou a recebê-la de volta, porque faleceu prematuramente em agosto, consternando seus leitores, amigos e familiares. Anos depois de sua morte eu e Ademar organizamos esse livro, por ele ainda em vida denominado “ÂMAGO DA AMAZÔNIA” e fizemos o lançamento aqui em Belém, com o comparecimento de numeroso público. Foi a nossa maneira de homenagear esse amigo-irmão, que nos deixou para sempre brigando com a saudade.
8 – Tem Home Page própria? (não são consideradas outras que simplesmente tenham trabalhos seus).
Tenho minha página no Facebook e nela divulgo crônicas que escrevo duas vezes por mês às terças-feiras, tanto que denominei a série de “TERÇA DA CULTURA POPULAR”. Nos textos, abordo a origem e o significado de certas expressões populares que fazem parte do nosso linguajar cotidiano, que você tem generosamente divulgado.
9 – Você percebe muitas dificuldades em viver de literatura, em um país que está bem longe de ser um apreciador de livros?
As dificuldades são muitas, a partir do custo da edição e do lançamento de um livro, sempre onerosos. Some-se a isso o desinteresse das pessoas pela leitura, principalmente na era da internet, na qual os livros vão paulatinamente cedendo lugar ao computador e aos celulares para leituras breves ou superficiais. É lamentável, mas é a nossa realidade. Em 2026 farei 50 anos trabalhando como advogado, fui juiz de um Tribunal, tenho outros negócios e não dependo da venda de livros para sobreviver. Pelo contrário. Como é o meu escritório de advocacia que banca a edição dos livros que escrevo, toda a renda apurada nas vendas é destinada à Santa Casa de Misericórdia de Óbidos, que cuida gratuitamente da saúde da população carente do município. Fico imensamente feliz em poder fazer isso.
10 – Você possui livros? Se sim, em que você se inspirou em seus livros? Cite alguns deles.
Sim, porém nenhum romance ainda. Como cronista e contista já publiquei os seguintes: “UM POUCO DE MUITAS HISTÓRIAS”; “RECADOS DA MEMÓRIA”; “UM RIO DE HISTÓRIAS”; “CONTAR PARA NÃO ESQUECER” e “ENCONTROVERSOS”, este último, meu único livro de poesias. Participei de obras coletivas como “UM ABRAÇO APERTADO”, “ATEP - 40 ANOS”, “ANTOLOGIA DOS IMORTAIS OBIDENSES”, “AMAZÔNIA AMBIENTAL” e organizei “TALISMÔ (da poetisa Kátia Santos), “POESIAS” (do poeta Saladino de Brito), “ÂMAGO DA AMAZÔNIA”, do saudoso amigo Carlos Antônio Silva, sobre o qual falei acima e “ERA UMA VEZ, NÓS TRÊS”, da minha ex-professora Maria José Calluf, que também é acadêmica no Silogeu Literário obidense.
11 – Como definiria seu estilo literário?
Meu estilo é leve e divertido, porque de leitura pesada já bastam os noticiários dos jornais. Sou adepto da literatura brasileira praticada na Amazônia e procuro dela não me afastar. O admirável Ariano Suassuna dizia que militava politicamente “como escritor”. Eu também o faço, embora tomando cuidado para não me tornar chato para os leitores.
12 – Dentre os livros escritos por você, qual lhe chamou mais atenção? E por quê?
O livro “UM POUCO DE MUITAS HISTÓRIAS”, justamente por ser o primeiro...
13 – O que é importante para alguém escrever hoje em dia na área de literatura?
O campo de atuação do escritor é vasto, de vez que existem muitos temas e assuntos importantes sobre os quais escrever. E, na eventual falta deles, ainda resta a ficção...
14 – Você participa de algum grupo de escritores. Se sim, o que te levou a participar dele? O que te motiva a escrever um texto?
Sim, faço parte do “CLUBE LITERÁRIO”, de um grupo de amigos escritores da Academia Paraense de Letras e de outros das demais academias literárias que faço parte. Além disso os escritores e colunistas do Jornal URUÁ-TAPERA, um dos mais lidos do Estado, que divulga as minhas crônicas e as dos demais articulistas, também se congregaram num grupo, mercê do interesse comum pela literatura e pela poesia. A maior motivação para escrever resulta da observação do que acontece no dia a dia, nas viagens que faço e nos encontros, pois sempre surge uma situação que pode virar uma crônica.
15 – Que acha dos seus textos: O que representam para si? E para os seus leitores?
Meus textos representam a minha realização pessoal como intelectual e escritor. Para os leitores, seria melhor que eles mesmo fizessem algum juízo de valor...
16 – Você pertence a diversas academias no Pará. O que te levou a elas? Como se sente nelas? Quais suas ambições nelas?
Idealizei e fundei a Academia Artística e Literária de Óbidos (AALO), da qual fui o primeiro presidente. Em Belém, sou um dos fundadores da Academia Paraense de Jornalismo, da qual fui vice-presidente por 3 vezes e consultor jurídico. Faço parte da Academia Paraense Literária Intreriorana, que congrega em Belém os escritores e poetas com origem no interior paraense. Sou membro titular da Academia Paraense de Letras, da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da qual já fui diretor e presidente, sou fundador da União dos Juristas Católicos de Belém, sócio efetivo do Instituto dos Advogados do Pará, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós (de Santarém/PA), sócio honorário da Academia Vigiense de Letras, sócio efetivo da Associação Cultural Obidense e da Associação dos Advogados Trabalhistas do Estado do Pará, da qual fui fundador, diretor e duas vezes vice-presidente. Recentemente, fui convidado a integrar como efetivo a Academia de Letras da Polícia Militar do Estado do Pará, da qual redigi os estatutos e se encontra em fase de implantação. Às vezes tenho até dificuldade de frequentá-las, pela falta de tempo ou pela coincidência das suas atividades, que acabam se superpondo. Em todas ingressei por ter sido convidado, salvo as que fundei ou ajudei a fundar. Sinto-me muito bem nelas, sou bem recebido pelos amigos e confrades de cada qual. Nenhuma ambição tenho em relação aos Silogeus que pertenço, salvo a de contribuir para elevar a cultura na Amazônia.
17 – Qual a sua opinião a respeito da Internet? A seu ver, ela tem contribuído para a difusão do seu trabalho?
Sem a internet eu estaria privado de ver meus textos divulgados no excelente Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes. Sem essa ferramenta, seria difícil encaminhar os textos da Terça da Cultura Popular para os jornais, sites e blogs que os divulgam em Manaus/AM, Óbidos, Santarém, Belém, São Luís/MA e Floresta/PR.
18 – Tem prêmios literários? Se sim, cite alguns.
Além das menções honrosas, recebi 3 prêmios literários, sendo um deles da UFOPA-Universidade Federal do Oeste do Pará, em Santarém; um em Manaus/AM de uma associação cultural denominada ADORM e outro da Revista Troféu, de São Paulo/SP, já extinta, pela conquista do segundo lugar num concurso nacional de crônicas que participei, ainda na década de 80.
19 – Em relação aos Concursos Literários: Qual sua visão sobre eles? Acha que eles têm “marmelada”?
Atuei em vários, inclusive na comissão julgadora, como ocorre atualmente, onde estou avaliando e classificando obras de vários os escritores, todos eles médicos, para definir os três primeiros lugares do certame. Não compactuo com favorecimentos e se houvesse, denunciaria e me retiraria de imediato.
20 – Você precisa ter uma situação psicologicamente muito definida ou já chegou num ponto em que é só fazer um “clic” e a musa/ou muso pinta de lá de dentro? Para se inspirar literariamente, precisa de algum ambiente especial?
Nenhum ambiente especial, para ser sincero. A inspiração chega inesperadamente. Já escrevi crônicas muito aplaudidas cuja inspiração veio quando eu viajava de carro para minha residência de veraneio no balneário de Salinópolis, distante 220 km de Belém. Guardei tudo na memória e quando voltei, coloquei no papel. Tem dado certo, como por exemplo, foi a crônica “SOB O CÉU DE CAXIAS”, situação embaraçosa e histriônica que resultou de uma pane no carro, próximo à cidade de Caxias (MA) quando com a família viajávamos de férias para Fortaleza (CE), na década de 80. E assim tantas outras surgiram, muitas durante a noite, antes do sono chegar.
21 – Você projeta os seus textos? Ou seja, você projeta a ação, você projeta o esquema antes? Como é que você concebe os textos?
Vou desenvolvendo o tema antes concebido, ao sabor da pena. Depois faço várias revisões, para não divulgar com erros de pontuação, de concordância, etc. Mas sempre escapa alguma coisa, pois ninguém pode ser revisor de si mesmo.
22 – Você acredita que para ser escritor basta exercitar a escrita ou é um dom? Ou ambos?
Penso que é um dom. Mas não resta dúvida que exercitar a escrita ajuda bastante. O escritor deve ter um rico e diversificado vocabulário, sob pena de empobrecer a escrita.
23 – No processo de formação do escritor é preciso que ele leia porcaria? Se sim, o que define como porcaria?
Não acho necessário ler algo imprestável, esse tipo de literatura rasteira que abunda por aí, para consolidar a formação de qualquer escritor. Nada que não acrescente algum ganho real no conhecimento de alguém, merece ser manuseado. A cultura é um bem muito valioso, que prescinde da mediocridade para ter vida e valores próprios.
24 – Mas existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós, a quem chega apenas o que a mídia divulga, que autores são importantes descobrir?
Tem muita gente de valor escrevendo coisas belas. Às vezes me questiono porque eles, de alguma maneira, não rompem a tirania das editoras, gráficas e até de livrarias que os condena ao ostracismo. Os livros são caros, as livrarias cobram até 40% do preço de capa como comissão pela venda de livros, para os quais em nada contribuíram. Prevalece o mercantilismo. Já vi escritores de reconhecidos méritos literários vendendo suas obras num tabuleiro sob a sombra das árvores, para não se submeterem ao confisco aqui denunciado.
25 – Na sua opinião, que livro ou livros da literatura portuguesa deveriam ser leitura obrigatória?
Os Lusíadas de Camões, Os Maias de Eça de Queiroz, um ou dois de Fernando Pessoa e José Saramago já seriam suficientes, mas não me iludo, pois se os clássicos da literatura brasileira nem são mais lidos, pode-se ter uma ideia da falta de interesse por aqueles.
26 – Qual o papel do escritor na sociedade?
O escritor atua como guardião da cultura e da memória, provocando reflexões através de suas obras, que podem ser usadas para construir um pensamento crítico. Ao criar suas narrativas, o escritor contribui para a formação de uma sociedade que questiona e analisa a realidade em que vive, além de preservar e transmitir conhecimentos, valores e tradições para as futuras gerações.
27 – Há lugar para a poesia em nossos tempos?
Há e haverá sempre. A poesia é a expressão máxima do sentimento, a essência lírica da arte de alguém se expressar de forma bela e criativa. Não podemos viver sem ela...
A PESSOA POR TRÁS DO ESCRITOR
28 - O que o choca hoje em dia?
A intolerância. A vida passou a valer muito pouco. Os noticiários televisivos diariamente exibem cenas de violência, quase sempre por motivos fúteis, que nos estarrecem. A sociedade do século XXI se tornou enferma do medo.
29 – O que mais lê hoje?
Livros, livros e mais livros... Dois ou três ao mesmo tempo, me virando para não confundir os enredos. Tenho conseguido.
30 – Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?
Talvez a criação de um instituto cultural, para incentivar artistas amadores a desenvolver seus talentos, sem terem que depender muito do setor público.
31 – De que forma você vê a cultura popular nos tempos atuais de globalização?
Não há globalização que possa eliminar costumes, tradições, saberes, crenças, manifestações artísticas e modos de vida criados, transmitidos e vivenciados pelo povo de um Estado, de uma comunidade ou de uma região, muitas vezes passados através de gerações pela tradição oral. Ela se mostra dinâmica, democrática, participativa e representa a identidade e a memória coletiva de um grupo, abrangendo áreas como dança, música, festas, culinária, folclore e artesanato. A globalização pode até deturpá-la, o que admito já vem acontecendo principalmente nos folguedos da quadra junina, mas daí a desaparecer de vez por causa dela, vai uma considerável distância.
CONSELHOS PARA OS ESCRITORES
32 – Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever?
Que primeiro lesse muito os bons autores de ontem e de hoje, antes de colocar no papel suas próprias ideias e criações literárias, não esquecendo que todo escritor possui um estilo que o distingue dos demais.
33 – O que é preciso para ser um bom escritor?
Ter conteúdo intelectual para desenvolver o tema que se propõe a abordar e escolher se vai enveredar pela poesia, pelo romance, pelo conto ou pela crônica. O conto exige uma história completa e fechada, tendo uma faceta dramática, um conflito ou uma ação. Porém, se a narrativa tende a se ampliar, deixa de ser conto e vira crônica, gênero que oscila entre a literatura e o jornalismo, resultando da visão pessoal, particular e subjetiva do cronista ante um fato qualquer, colhido no noticiário do jornal, da TV ou do cotidiano O que diferencia um do outro é a apresentação das personagens e principalmente o desfecho, que na crônica fica a cargo do leitor... No conto as personagens são caracterizadas de maneira mais acurada, há maior densidade dramática, um conflito resolvido no desfecho unicamente por quem escreve e não por quem lê.
34 - Gostaria de acrescentar mais alguma coisa? Outros trabalhos culturais, opiniões, críticas etc...
Tenho mais de 20 composições musicais, das quais sou autor dos textos poéticos e meu parceiro, o maestro Vicente Fonseca (desembargador do trabalho aposentado e também acadêmico da Academia Paraense de Letras), é o autor das músicas. Várias dessas composições se tornaram o hino oficial de instituições culturais, como da Academia Paraense de Letras Jurídicas, da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Artística e Literária de Óbidos, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, etc. Bolar um texto poético e dele ver nascer uma música é outra realização pessoal que tenho, difícil até mesmo de explicar.
35 – Se Deus parasse na sua frente e lhe concedesse três desejos, quais seriam?
Que me tornasse uma pessoa melhor, sem as falhas que ainda cometo. Que me permitisse continuar a viver com honestidade, sem lesar o próximo e dando a cada um o que é seu. Que me livrasse de agir com injustiça e falta de equidade para com o próximo, pois já passei por isso e sei como é iníquo e profundamente doloroso.
Obrigado por participar desta entrevista para o blog.
Abraços fraternos
José Feldman