terça-feira, 23 de setembro de 2025

Renato Benvindo Frata (Quantos Pedaços?)


Quantos pedaços do meu coração devo juntar para compor ao menos um pouco do seu amor?

Despedaçado, só me resta colher fragmentos aqui e ali, juntá-los na palma, amoldá-los com cuidado a lhes imitar a forma, deixá-los concisos, mas sei que jamais reconstituirei seu todo. 

Há farelos dele aos quais não terei acesso. Muitos, em área de tráfego que por certo, os pisares da tristeza inutilizou...

Quantos pedaços precisarei?

É a pergunta plantada em meus olhares em que tudo parece nada. 

Estão voltados ao além das coisas em que a saudade enxerga sem compreender o porquê da sentida ausência. Ela não tem cor, cheiro ou expressão... é vazia como o vazio do silêncio. 

Sofro por isso.

Ponho-me a auscultar passos que não vêm, sinais que não chegam, avisos que não me alcançam. Sensações falecem distorcidas a cada pôr de sol a despencarem abismos. 

A escuridão não permite que veja. Mas me dá sentido. 

Sentidos... O tempo passa e, com ele, a vida, o que me leva à angústia pela pressa.

Vão-se os sóis coloridos dos outonos, as flores frescas perfumadas das primaveras, os frutos doces, intumescidos dos verões para me deixar nesse extenso e interminável inverno.

Inverno interno, inverno eterno, inverno inferno.

Com a pele enrijecida, cabelos raleados, passos imprecisos, músculos flácidos, olhos pedindo lentes, espero. Numa espera fera, cratera pronta a me enterrar.

Permaneço na mesma posição de quando me debrucei à janela e pedi que não fosse, que voltasse. 

Pedi que viesse para nossos perdões recíprocos e, com eles, a completude do amor. Pedi para compormos a canção da paz. 

Mas não. 

A solidão pede que pergunte: - quantos pedaços?
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Renato Benvindo Frata nasceu em Bauru/SP, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Professor da rede pública, aposentado do magistério. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs:  Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.
Fontes:
Texto enviado pelo autor.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

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