MARIA LUÍZA WALENDOWSKY
Brusque/ SC
Sou águia
Voo no imenso céu azul.
Há dias com nuances de cores,
como são meus dias - alegres, tristes...
Voo em dias de chuva molhando as penas,
lágrimas parecem rios criando sulcos, me molhando o rosto.
Voo no balanço do vento forte prestes a me derrubar.
Busco encontrar o equilíbrio e sigo adiante.
Voo e encontro pássaros que ao longo da subida ficam para trás;
poucos me acompanham...
Dilacero o corpo arrancando velhas feridas,
mágoas, culpas, medos.
Voo solitária mais alto em busca de libertação.
Voo dorida esperando nascer uma nova esperança.
Voo para o infinito sonhando pousar na mão de Deus.
No aconchego da mão divina e encontro enfim a paz.
Sou águia!
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Poema de
LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE
Pinhalão/PR
Lauréis
“Quanta razão há de te amar."
(Ct. 1.4)
Tua face é formosa,
É quente a tua mão,
Porém, muito mais
É o teu coração.
Teus lábios vermelhos
Só trazem saudade,
Porém, mais ainda
Traz tua bondade.
Teu timbre de voz,
Por si, tem alento,
Mas nada supera
Teu temperamento.
Cabelos em pluma
Qual véu de inocência,
Mas nada ao valor
Da tua consciência.
Teus olhos são virgens?
Teus seios - candura,
Mas quanto é maior
A tua alma pura.
Tua boca é preciosa
Como ouro de lavra,
E não se compara
Com tua palavra.
Teu ser é perfume
De mil manacás,
Mas é superior
O amor que me dás.
Teu ser, por inteiro,
É bela canção;
És letra de um hino,
És minha oração.
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Poema de
PABLO NERUDA
Parral/Chile (1904 – 1973) Santiago/Chile
Se eu morrer…
Se eu morrer, sobrevive a mim com tamanha força
que acordarás as fúrias do pálido e do frio,
de sul a sul, ergue teus olhos indeléveis,
de sol a sol sonha através de tua boca cantante.
Não quero que tua risada ou teus passos hesitem.
Não quero que minha herança de alegria morra.
Não me chames. Estou ausente.
Vive em minha ausência como em uma casa.
A ausência é uma casa tão rápida
que dentro passarás pelas paredes
e pendurarás quadros no ar.
A ausência é uma casa tão transparente
que eu, morto, te verei, vivendo,
e se sofreres, meu amor, eu morrerei novamente.
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Sonetilho de
FLORBELA ESPANCA
Vila Viçosa, 1894 – 1930, Matosinhos
Só
Eu tenho pena da Lua!
Tanta pena, coitadinha,
Quando tão branca , na rua
A vejo chorar sozinha!...
As rosas nas alamedas,
E os lilases cor da neve
Confidenciam de leve
E lembram arfar de sedas...
Só a triste, coitadinha....
Tão triste na minha rua
Lá anda a chorar sozinha....
Eu chego então à janela:
E fico a olhar pra lua...
E fico a chorar com ela!…
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Trova Funerária Cigana
Sobre a tua sepultura
um frouxo raio da lua
parece a gota do pranto
celeste, na terra tua.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Oração
Senhor me ajuda a ser o sal da terra
e luz do mundo, tal qual nos ordenas.
Sou um alguém que sempre muito erra,
querendo agir com meu conceito apenas...
Em ânsia de acertar, já fiz novenas...,
porém meu bom intento sempre emperra
nas fraquezas humanas, que às centenas,
meu peito tão incrivelmente encerra!
Aumenta, pois, em mim o dom do amor,
a grande graça que se pode opor
a toda insana e egoísta cupidez!
Que eu possa dar sabor e claridade
aos que deles precisam... E, talvez,
eu corresponda, assim, Tua bondade!
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Hino de
Bagre/PA
Salve, salve terra altaneira
Marcada por tristes lembranças
Que representa sua luta,
Sua história e esperança
Para ser independente
E triunfar com confiança.
"Oh! Bagre, sustenta teu valor"
No teu povo jamais vencido
E eleva teu nome em memória
De teus heróis destemidos.
No vasto leito de teus rios
Casco estreito a velejar
Dentro dele se esconde
O açaí e o jacundá
O sustento de teu povo
Que sempre te elevará.
Na imensa história da vida
Um currículo a se lembrar
Até os pássaros que aqui gorjeiam
Estão o teu nome a festejar
De um peixe sem destino
Que o mundo lembrar.
Tua juventude participa
Nas leis da nação, trabalho e estudo.
Preserva a tua beleza natural
Na arte, esporte em tudo
Abrindo horizonte de muita esperança
Para teu nome brilhar no futuro.
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Escada de Trovas de
FILEMON MARTINS
São Paulo/SP
TOPO:
Saudade, de quando em quando,
provoca mágoas e dores,
pois vai de amores matando
quem vive lembrando amores.
Mário Barreto França
(In memoriam)
SUBINDO:
Quem vive lembrando amores
vai perdendo a emoção,
porque viver velhas dores
não faz bem ao coração.
Pois vai de amores matando
momentos bons, sem iguais,
que a vida vai cultivando
ao longo dos ideais.
Provoca mágoas e dores
quem vai e fica também,
pois todos os dissabores
são as saudades de alguém.
Saudade, de quando em quando
sem ser plantada, floresce,
no peito já vai brotando
como se fosse uma prece.
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Soneto de
JOSÉ XAVIER BORGES JUNIOR
São Paulo/SP
Pêndulo
De tudo o que busquei, foram-se os anos,
De tudo o que sonhei sobram resquícios,
De tudo o que cantei - vãos desenganos –
Restaram só profundos precipícios...
Por tudo o que velei, tracei meus planos
E quando caminhei fiz meus auspícios,
E dos meus ferimentos, dos meus danos
Ergui os meus castelos fictícios...
Enfim, onde cheguei, nessas quimeras?
Um pêndulo oscilante, eis o que sou,
Bailando entre rosas e entre feras,
Sou títere que a vida utilizou,
E ao cabo de uma vida só de esperas,
Não sei exatamente nem quem sou…
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Soneto de
FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 – 1920, São Paulo/SP
Musa impassível (II)
Ó Musa, cujo olhar de pedra, que não chora,
Gela o sorriso ao lábio e as lágrimas estanca!
Dá-me que eu vá contigo, em liberdade franca,
Por esse grande espaço onde o impassível mora.
Leva-me longe, ó Musa impassível e branca!
Longe, acima do mundo, imensidade em fora,
Onde, chamas lançando ao cortejo da aurora,
O áureo plaustro do sol nas nuvens solavanca.
Transporta-me de vez, numa ascensão ardente,
À deliciosa paz dos Olímpicos-Lares
Onde os deuses pagãos vivem eternamente,
E onde, num longo olhar, eu possa ver contigo
Passarem, através das brumas seculares,
Os Poetas e os Heróis do grande mundo antigo.
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Recordando Velhas Canções
MATRIZ OU FILIAL
(samba-canção, 1964)
Quem sou eu
pra ter direitos exclusivos sobre ela
se eu não posso sustentar os sonhos dela
se nada tenho e cada um vale o que tem
Quem sou eu
pra sufocar a solidão da sua boca
que hoje diz que é matriz e quase louca
quando brigamos diz que é a filial
Afinal
se amar demais passou a ser o meu defeito
é bem possível que eu não tenha mais direito
de ser matriz por ter somente amor pra dar
Afinal
o que ela pensa em conseguir me desprezando
se sua sina sempre é voltar chorando
arrependida me pedindo pra ficar
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