terça-feira, 29 de setembro de 2015

Trovador Homenageado: Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho





Ao dar tudo o que ela quer,
a evitar que o amor se perca,
o corno cerca a mulher
mas a mulher pula a cerca.
___________
Após a noite que embaça
a janela do viver,
ressurge a luz na vidraça
com um novo amanhecer.
___________
Aprenda bem a lição, 
desde bem cedo, menino,
pois na vida a Educação
é base do seu destino.
___________
Canta o galo de matina
na Cantagalo florida,
saudando o sol que ilumina
duzentos anos de vida.
___________
Capiau faz dentadura
sem ter o dente frontal,
pois deste modo assegura
um sorriso natural.
___________
Com saudade do gramado,
da função desempenhada,
o gandula aposentado
corre atrás de uma pelada.
___________
 Dia das Mães! Não se esqueça
dos presentes de ninguém:
por incrível que pareça,
sua sogra é mãe também!
___________
Enquanto a gente descansa
na metade de um caminho,
um outro qualquer alcança
a outra metade sozinho.
___________
Ensinando ao aprendiz,
nosso professor Raimundo,
no quadro negro e com giz
sonhava mudar o mundo.
___________
Galopando sem receio
um indomável equino,
vou pela vida em rodeio
no cavalo do destino.
___________
Há uma lição que sem cola
pelo estudante é sabida:
– na vida a melhor escola
é a grande escola da vida.
___________
Luminar Academia,
plena de vitalidade,
a tua luz irradia,
a cultura na cidade.
___________
Manassés compositor,
com suas belas canções,
canta a vida, canta o amor,
despertando as emoções.
___________
Mostra a vida, mostra a história,
que a prática da coerência,
determina a trajetória
de uma correta existência.
___________
Natal! Campos do Jordão,
cidade em que o amor reluz,
faz de cada coração
o berçário de Jesus.
___________
O amanhecer se vislumbra
quando o sol em sua ida,
se elevando da penumbra
irradia a luz da vida.
___________
O autêntico jornalista,
expressa nos seus relatos,
correto ponto de vista
da realidade dos fatos.
___________
O garoto se insinua
perante a namoradinha:
– Minha sombra com a sua
será que fazem sombrinha?
___________

O jogador e a torcida
têm que ser disciplinados,
pois toda copa é vencida
dentro e fora dos gramados!
___________
O migrante em sua andança
parte do amado rincão.
Leva consigo a esperança
mas deixa o seu coração.
___________
O vovô vai à balada
e sem muito lero-lero,
na pista dança lambada
em compasso de bolero.
___________
Parece o craque Coalhada
com o galã falastrão:
- não aguenta uma pelada
mas diz que joga um bolão.
___________
Peão ardiloso paca,
do seu intento dá cabo:
- usa o cheirinho da vaca
para amansar touro brabo.
___________
Pela sua grande crença,
salvou-se, na Arca, Noé:
- não há dilúvio que vença
um homem cheio de fé!
___________

Proteja Deus o migrante
que com seu labor fecundo
faz de uma terra distante
a melhor terra do mundo.
___________
Quando a vejo na calçada,
de passagem pela rua,
minha sombra inconformada
ainda vai atrás da sua.
___________
Quando me sinto estressado,
fugindo da realidade,
vou do presente ao passado
pelo túnel da saudade.
___________
Quando toca Manassés
as canções de tempos idos,
tem o público aos seus pés
para os aplausos devidos.
___________
Se alastrando lentamente
qual um glaucoma, o rancor,
impede os olhos da gente
de enxergar a luz do amor.
___________
Seja de que modo for
e sem qualquer preconceito,
na casa onde mora o amor,
mora também o respeito.
___________
Teu corpo ardente, formosa,
caminho da perdição,
é uma rua perigosa
que eu subi na contramão.
___________
Toda natureza atesta
que esta vida é uma pintura,
onde Deus se manifesta
sem a Sua assinatura.
___________

Aparício Fernandes (Classificação da Trova) Trovas Populares Anônimas



        
Encerrando esta análise, temos, finalmente, as trovas populares anônimas. Sobre elas, assim se expressou J. G. , 6, de Araújo Jorge, no prefácio do livro "100 Trovas Populares Anônimas", (Editora Vecchi, 1962, Rio de Janeiro):
         "Trovas populares anônimas não são apenas trovas "eruditas" dos grandes poetas, as trovas literárias, que um dia se perdem no rio da grande popularidade, afogando seus autores, são também as trovas rústicas e imperfeitas que nascem da alma do povo, na boca dos cantadores, dos violeiros, dos sanfoneiros, dos poetas populares anônimos que enxameiam no interior do Brasil e de Portugal. Verdadeiros filões de ouro de nossa sensibilidade e de nosso espírito".
         Na síntese clara e expressiva de algumas poucas palavras, J. G. nos oferece uma esplêndida definição sobre a trova popular anônima. Quem não sente a alma do nosso povo, tão sentimentalmente romântico, nesta trova popular anônima, autêntica e deliciosa cantiga, uma das mais lindas que conhecemos?:

Vou-me embora, vou-me embora
segunda-feira que vem.
Quem não me conhece, chora,
que dirá quem me quer bem!

         Ao que tudo indica, esta trova deve ter surgido no Nordeste, uma vez que a expressão “que dirá”, significando quanto mais, é tipicamente nordestina. Quando éramos garoto e nadávamos no rio de nossa cidadezinha, ouvíamos diariamente as bravatas dos pequenos nadadores, em desafios mútuos: "Você, que é medroso, atravessou o rio, que dirá eu!"
         Outra deliciosa quadrinha popular é esta:

Todo homem é um diabo,
não há mulher que o negue.
Mas todas elas procuram
um diabo que as carregue!...

         Talvez em represália, apareceu esta quadrinha popular, muito ao sabor das mocinhas, que, mal começam a namorar, já sentem prazer em alfinetar os seus futuros maridos:

Deus, quando fêz o homem,
não precisou cerimônia:
– deu-lhe o corpo de um boneco
e a cara de um sem-vergonha.

         Muito embora "cerimônia" não rime com "sem-vergonha", a quadrinha é deliciosa; todavia, por êsse defeito de rima, não a consideramos Trova, na moderna acepção do termo. Sem dúvida poderia caber-lhe o título de trova, mas apenas no sentido mais amplo e vago da palavra, ou seja, de composição poética ligeira, despretensiosa, cantiga popular, etc.
         Concluindo, aqui ficam mais alguns exemplos de trovas populares anônimas:

O meu pai é Juca Caco;
minha mãe, Caca Maria;
ajuntando os cacos todos,
sou filho da cacaria.
___________
Ó beija-flor de asa branca,
que mora na pedra ôca,
toda menina bonita
merece um beijo na bôca!
___________
Não seja tão imprudente,
olhe bem por onde vai.
Sua mãe morreu sem dente,
de tanto morder seu pai.
___________
Dizem que o pito alivia
as mágoas do coração;
eu pito, pito e repito,
e as mágoas nunca se vão.

         Algumas vezes acontece que a trova, além de ser popular anônima, vem em linguagem chula ou caipira:

Bezerro de vaca preta
onça pintada não come.
Quem casa com muié feia
não tem mêdo de outro home.
___________
continua… Trovas mistas e trovas bipartidas

Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia. Rio de Janeiro/GB: Artenova, 1972

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Aparício Fernandes (Classificação da Trova) Quanto à Origem



Vamos agora ao último aspecto da classificação de trovas: o da origem. Sob este ângulo, podemos situar a trova em três categorias: literária, popularizada e popular anônima.
        A trova literária é aquela de autor identificado, isto é, cuja autoria não padece dúvida, pelo menos para aqueles que se interessam de alguma forma pelo Movimento Trovadoresco ou pela literatura brasileira. É quase sempre assinada por trovadores atuantes e/ou de certo renome. Devido a isto, alguns a chamam também de erudita; preferimos, porém, a outra designação, por julga-la mais apropriada, embora talvez não seja ainda a ideal. Eis alguns exemplos de trovas literárias:

  _____________
Há tantos burros mandando  
em homens de inteligência,   
que às vezes fico pensando    
que a burrice é uma ciência...
SYMACO DA COSTA
 _____________       
Tanto se canta e enaltece,
do seu mal tanto se diz,
que saudade até parece
um modo de ser feliz.
ZÁLKIND PIATIGORSKY
  _____________
Quanta alegria semeia
quem vive sempre contente:
– A felicidade alheia
também faz feliz a gente.
OCTÁVIO BABO FILHO
  _____________
Que o verde é a cor da esperança  
vê-se logo que é mentira,
quando o nosso olhar alcança       
o céu azul de safira.       
MERCÊS MARIA MOREIRA LOPES       
  _____________
Ame a vida, cante e ria,
da mágoa não seja réu,
que a verdadeira alegria
tem o endereço do céu!
PEDRO GUEDES
  _____________
        Podendo-se apontar os autores dessas trovas, que são indubitavelmente aqueles cujos nomes figuram sob as mesmas, e sendo essa autoria de domínio público, comprovada através da publicação em livros, jornais e revistas, além da divulgação em programas radiofônícos, podemos seguramente classificar essas trovas como sendo literárias.
        Passemos agora às trovas poupularizadas. São aquelas que, caindo no gosto popular, são decoradas e repetidas pelo povo, incorporando-se praticamente ao folclore. O autor, como acontece sempre nestes casos, vai aos poucos ficando esquecido, pois o povo quer saber mesmo é da quadrinha, sem se preocupar em associar à mesma o nome de quem a compôs. A glória do anonimato é a paradoxal consagração do trovador. Os autores das trovas popularizadas são geralmente identificados pelos estudiosos mais atentos do trovismo. Todavia, mesmo entre os trovadores, são frequentes as controvérsias quanto à autoria de determinadas trovas popularizadas. Eis dois exemplos de trovas popularizadas:

Até nas flores se encontra      
a diferença da sorte:       
– umas enfeitam a vida, 
outras enfeitam a morte.
 _____________
Parece troça, parece,
mas é verdade patente:
– a gente nunca se esquece
de quem se esquece da gente.
  _____________
        A primeira destas quadrinhas é de autoria do cigano brasileiro Jerônimo Guimarães, que viveu no século XIX, e a segunda é do poeta pernambucano Jáder de Andrade. Milhões de brasileiros conhecem de cor estas duas trovas, mas, desses, quantos saberão os nomes dos autores? Em se tratando de trovas popularizadas, devemos ainda dizer que às vezes o       povo resolve    modificá-las, por conta própria, trocando palavras ou adulterando um ou mais versos; quando essas modificações são bem feitas e não atentam contra a metrificação, pode até mesmo acontecer que, com o passar do tempo, já não se tenha mais certeza de como era a trova originalmente.
        Na trova de Jáder de Andrade, por exemplo, o verso inicial, "Parece troça, parece", já tem sido modificado para “Parece incrível, parece", ou ainda "É incrível e não parece", enquanto que o resto da trova permanece o mesmo. Poderíamos citar ainda, como exemplo de trova popularizada, a conhecidíssima quadrinha de Bastos Tigre:


Saudade, palavra doce
que traduz tanto amargor!
Saudade é como se fôsse
espinho cheirando à flor.

continua… Trovas populares anônimas

Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia. Rio de Janeiro/GB: Artenova, 1972

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Aparício Fernandes (Classificação da Trova) A Forma


A Trova pode ser classificada sob três aspectos; a forma, a mensagem (ou conteúdo) e a origem. Quanto à forma, podemos dividi-la em trova de rima simples e de rima dupla. A de rima simples é a mais antiga e a mais popular. Apareceu, segundo Luís da Câmara Cascudo, por volta do século XIII. É a que rima apenas o 2o. com o 4o. verso. Eis uma trova de Adelmar Tavares, que é um perfeito exemplo de trova de rima simples:

A inveja tem seu castigo,
Deus mesmo é quem retribui:
enquanto o invejado cresce,
o invejoso diminui...
                   A trova de rima dupla, como o nome está dizendo, é a que possui os quatro versos rimados entre si. É um tipo mais aprimorado, mais literário, mais artístico, embora, possivelmente, menos popular. A trova de rima dupla pode ter as rimas intercaladas, Isto é, rimando o 1.° com o 3° verso e o 2° com o 4°, ou internas, quando o 1.° verso rima com o 4° e o 2° com o 3°.
         Eis um exemplo de trova de rima dupla com as rimas intercaladas; é do trovador A. A. de Assis:
Desesperadora e triste
é a solidão dos ateus,
para os quais nem mesmo existe
a companhia de Deus.
                   Vejamos agora um exemplo de trova de rima dupla com as rimas internas, através desta linda quadrinha do saudoso poeta Gentil Fernando de Castro;
Que lição às nossas dores,
ó velho muro, desvendas!
— É na ferida das fendas
que mais te cobres de flores...
                   A trova de rima dupla interna é relativamente rara. Podemos considerá-la mais sofisticada, mais erudita e bem menos popular do que as suas irmãs, A tendência dos trovadores atuais é francamente pela composição da trova de rima dupla intercalada; num ensaio que se publicou, propôs-se que doravante só seja reconhecida como trova a quadra de rima dupla; ao que parece, Colbert Rangel Coelho e alguns outros trovadores são da mesma opinião.
                  O certo é que, pelo menos nos inúmeros Jogos Florais e demais Concursos de Trovas que frequentemente são realizados em nosso país, já não se aceita as trovas de rima simples, que são automáticamente desclassificadas. Não acreditamos, porém, que a trova de rima simples venha a desaparecer, pois:
a) é muito mais antiga que a trova de rima dupla;
b) está consagrada pelo povo, sendo de feição nitidamente popular;
c) várias trovas antológicas, que o povo sabe de cor, são de rima simples;
d) é o caminho de acesso natural à trova de rima dupía, encontrando ainda muitos compositores, principalmente entre os trovadores iniciantes.
                   Guimarães Barreto, poeta e escritor paraibano residente na Guanabara, em seu livro "Excursão peto Reino das Trovas" (Irmãos Pongetti, 1962, Rio) diz o seguinte:
"As trovas, provenham de letrados ou iletrados, caracterizam-se pelos motivos que as criam e que, como as composições musicais, lhe servem de elemento essencial, O tema, ou assunto que as motiva, é quase tudo".
                   Concordamos, em parte, com a opinião acima, porquanto, embora as duas coisas se completem, damos mais valor ao conteúdo poético de uma trova do que propriamente ao artifício de sua forma. Por isso, somos tolerantes. Embora nossa preferência recaia na trova de rima dupla, não vamos negar a existência de trovas de rima simples belíssimas, que de modo algum podem ser relegadas ao ostracismo. Nossa concordância com o Guimarães Barreto termina quando êle escreve o seguinte:
"Há casos em que a própria rima se dispensa e basta a homofonia nas últimas sílabas tônicas dos segundo e quarto versos (rimas toantes), multo de agrado dos trovadores portugueses. Essa ausência de rimas não perturba a boa qualidade das trovas, mas, pelo contrário, lhe dá um sabor de originalidade, um novo motivo de encantamento:
Quem me vê eu 'star sorrindo
não pense que estou alegre,
meu coração ‘stá tão preto
como a tinta que se escreve."
                   Em nossa opinião, uma quadra só será trova se tiver as rimas conforme o figurino legal. As rimas toantes podem ser interessantes para poemas livres ou para sonetos inovadores. Na trova não, mesmo porque não se enquadram na definição de trova que é hoje aceita sem contestação, pelo menos no que se refere às rimas.
                   Na quadra mencionada por Guimarães Barreto notamos ainda a utilização do apóstrofo no 1.° e no 3° verso. Somos contrário não só aos apóstrofos, como às licenças poéticas e a todo e qualquer recurso apelativo na composição de uma trova.
                   Quem é bom trovador, dispensa essas muletas: utiliza-se do vernáculo corretamente e nem por isso suas trovas deixam de ter a naturalidade musical de uma fonte cristalina.
                   Somos contrário até mesmo à utilização do têrmo pra em lugar de para, só o admitindo em casos especialíssimos. Uma trova com um pra dificilmente será uma trova de elevada categoria (vide nota). Quanto ao pro (para o), então, nem se fala...
                   Para terminar, vamos citar uma trova de Adelmar Tavares, de rima dupla intercalada, onde o poeta usa a mesma palavra para rimar o 1.° com o 3o verso:
Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo...
— E eu, que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo...
                   E ainda uma outra, de Lia Pederneiras de Faria, que apresenta a curiosa particularidade de ter a rima "inha" nos quatro versos:
"Não há mãe melhor que a minha!"
— diz a filha à mamãezinha.
E a mãe sorrindo: – Filhinha,
melhor que a tua, era a minha!…
______________
* Nota: a contração “pra” pelas novas normas da UBT, é aceita tanto em trovas humorísticas como em líricas/filosóficas.
____________
continua…
Fonte:
Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia. Rio de Janeiro/GB: Artenova,

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Trovador Homenageado: Cláudio Derli Silveira

Bebia tanto o Liminha,
que causava dó na gente,
pois a sede que ele tinha
era só por aguardente!…
Bebo uísque, vinho, rum,
bebo até cachaça pura.
Não bebo por ser bebum,
mas por gostar da tontura!
Calma, meu amigo, calma,
nem tudo é assolação;
às vezes, faz bem à alma,
um pouco de solidão...
Da Tribuna, manda o aviso:
- Não roubo por ser ladrão,
tampouco porque preciso,
mas por coceira na mão!
Discursava um orador...
e o gaiato da cidade...
- A propósito, doutor,
dá chute o “pé de igualdade”!
Do bom caminho, “seu” padre,
só me desvio um pouquinho,
pois as curvas da comadre
são "trechos" de mau caminho!
 
Eis a vida, eis os caminhos...
na missão de precursores:
– o sábio evita os espinhos,
e o tolo... pisa nas flores!
Ela diz do namorado,
ao conversar com alguém,
que o rapaz é “bem armado”
mas não dá “tiro” em ninguém!
Eu deixo este amor desfeito
e busco novos caminhos,
levando sonhos no peito
e a esperança dos sozinhos!...
Foi de muitos...namorada
e o “xirú”: - Mas o que tem?
Mate com erva lavada,
sacia a sede também!…
Foi uma infeliz jogada
do goleiro Zé Maria:
– a bola que foi chutada
foi a que ele não queria!
Imitando o meu lamento
por quem não me preza mais,
ouço a voz triste do vento
na plataforma do cais!…
 
Lua de mel...E o Menote
com idade a lhe pesar,
foi com tanta sede ao pote
que acabou por infartar!…
Meu sonho de piá desperto,
nas cinzas tardes de outono,
era laçar, campo aberto,
os ventos xucros, sem dono!...
Na feira do troca-troca,
o Juca ficou nervoso,
quando ouviu sua “Dondoca”
propondo troca de esposo!...
Na "madruga" o patrãozinho
vai ao quarto da empregada,
bate à porta e diz baixinho:
- "É o fantasma camarada..."
Os romances me comovem...
E, embora com pé na cova,
“gato” velho vira jovem
nos braços de “gata” nova!…
 
Porto Alegre me sorri,
vestida de multicores...
Não sou natural daqui,
mas tenho aqui meus amores...
Sopra, ó vento, as nuvens rasas,
pelo verde pampa em flor,
transportando em tuas asas
meus sonhos de trovador.
Sou irmão dos vendavais,
dos mares que naveguei,
deixando de cais em cais
amores... que conquistei!
Tomo a cruz do meu destino
que me cabe, por missão,
sem deixar o desatino
sobrepujar-me a razão!...
Tua altivez te desbota
e a própria alma esvazia:
– fazer, da minha derrota
tua maior euforia...
Viúva quando assanhada,
apela pro desafogo.
É como lenha molhada 
que chora... mas prende fogo!