terça-feira, 1 de setembro de 2015

Aparício Fernandes (A Trova no Brasil) Trovas de Protesto



Com trovas também se protesta. Foi o que fiz certa vez, penalizado com a situação das professoras mineiras que, além de receberem (no caso seria melhor dizer “não receberem”) um salário ridículo, ainda se viam sujeitas a vexames devido ao atraso sistemático, às vezes de muitos meses, no tocante ao recebimento de sua raquítica remuneração. Vai daí, enderecei ao então Governador Israel Pinheiro, o seguinte protesto:

Ilustre Governador
Doutor Israel Pinheiro,
peço vênia para expor
um drama que é bem mineiro.

Talvez não tenham levado
até seu conhecimento
que as professoras do Estado
não recebem pagamento.

Sim porque, desde janeiro,
(meu Deus, como o tempo passa!)
as mestras, sem ver dinheiro,
vão trabalhando de graça…

Essas moças estudaram,
são cheias de idealismo,
e o que sabem propagaram,
dando lições de civismo!

Aguentam alunos burros,
que nem Jó aguentaria,
e suportam pais casmurros
e mães com “filholotria”.

Um ano vai, outro vem,
elas sempre sorridentes…
– São heroínas também,
como herói foi Tiradentes!

Ah! Que vergonha danada!
– Aí mesmo, em seu Estado,
já existe escola fechada
por atraso de ordenado!

Quanto mais Minas precisa
de cultura e de instrução,
vemos pobres professoras
morrendo de inanição!

Mas há manobras manhosas
na sua filosofia:
– as classes mais poderosas
sempre recebem em dia…

E enquanto o ensino se afoga,
vai crescendo a cretinice.
– Será que o Senhor advoga
o incremento da burrice?

Não é que eu queira impedir
gestões governamentais:
– o senhor há de convir
que já foi longe demais…

Na justiça eu me regulo,
não fujo dessa premissa.
Por isso é que eu fico fulo
quando vejo uma injustiça!

A professora primária
merece todo respeito:
– solte esta verba ordinária
a que elas já têm direito!

Analisando a questão,
com muita filosofia,
eu vejo a contradição
nesta tremenda ironia:

“Israel” é tradição
de sucesso financeiro.
E o seu sobrenome, então,
até rima com dinheiro!

Além disso, governando
as minas que são gerais,
o senhor está zombando
de quem esperou demais…

A situação é séria
e exige uma solução.
– Não deixemos na miséria
os esteios da nação!
 
Portanto, Governador,
pague às moças sem demora.
Ou então faça um favor:
– renuncie e dê o fora!…

Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia. Rio de Janeiro/GB: Artenova, 1972

Millor Fernandes (1923 - 2012)

    
            Milton Viola Fernandes, filho de Francisco Fernandes e de Maria Viola Fernandes, Millôr Fernandes nasceu no dia 16 de agosto de 1923 no Méier, subúrbio do Rio de Janeiro. Só seria registrado no ano seguinte, tendo como data oficial de nascimento o dia 27 de maio de 1924. Sua certidão de nascimento, grafada à mão, fazia crer que seu nome era Millôr e não Milton. Seu pai, engenheiro emigrante da Espanha, morre em 1925, com apenas 36 anos. A família começa a passar por dificuldades e sua mãe passa horas em frente a uma máquina de costura para poder sustentar os 4 filhos. Apesar do aperto, o autor teve uma infância feliz, ao lado de 10 tios, 42 primos e primas e da avó italiana D. Concetta de Napole Viola.
Estuda na Escola Ennes de Souza, de 1931 a 1935, por ele chamada de Universidade do Meyer, mas que na verdade era uma escola pública. A chegada ao Brasil das histórias em quadrinhos, em 1934, faz de Millôr um leitor assíduo dessas publicações, em especial de Flash Gordon, de autoria de Alex Raymond, e, com isso, dar vazão á sua criatividade. Sob a influência de seu tio Antônio Viola, tem seu primeiro trabalho publicado em um órgão da imprensa — "O Jornal", do Rio de Janeiro, tendo recebido o pagamento de 10 mil reis por ele. Era o início do profissionalismo, adotado e defendido para sempre.
Em 1935, também com 36 anos, falece sua mãe, o que faz com que os irmãos Fernandes passem a levar uma vida dificílima. Essa coincidência de datas leva Millôr a escrever um conto, "Agonia", publicado na revista "Cigarra" em janeiro de 1947, onde afirmava: "Tenho dia e hora marcada para me ir e o acontecimento se dará por volta de 1959". A morte da mãe o leva a morar em Terra Nova, subúrbio próximo ao Méier. Trabalha, em 1938, entregando o remédio para os rins "Urokava" em farmácias e drogarias. Durou pouco esse emprego. Logo vai ser contínuo, repaginador, factótum, na pequena revista "O Cruzeiro", que nessa época tinha, além de Millôr, mais dois funcionários: um diretor e um paginador. Com o pseudônimo "Notlim" ganha um concurso de crônicas promovido pela revista "A Cigarra". Com isso, é promovido e passa a trabalhar no arquivo.
            O cancelamento de publicidade em quatro páginas de "A Cigarra" fez com que fosse chamado por Frederico Chateaubriand para preencher as páginas que ficaram em branco. Cria, então, o "Poste Escrito", onde assinava-se Vão Gôgo. O sucesso da seção faz com que ela passe a ser fixa. Com o mesmo pseudônimo, começa a escrever uma coluna no "Diário da Noite". Assume a direção de "A Cigarra", cargo que ocuparia por três anos. Dirigiu também "O Guri", revista em quadrinhos e "Detetive", que publicava contos policiais.
            Ciente da necessidade de se aprimorar, estuda no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro de 1938 a 1943. Em 1940, muda-se para o bairro da Lapa, centro da cidade, e passa a morar próximo a Alceu Pena, seu colega em "O Cruzeiro". Colabora na seção "As garotas do Alceu" como colorista e versejador. Autodidata, faz sua primeira tradução literária: "Dragon seed", romance da americana Pearl S. Buck, com o título "A estirpe do dragão", em 1942.
            No ano seguinte retorna, com Frederico Chateaubriand e Péricles, á revista "O Cruzeiro". Em dez anos, a tiragem foi um grande êxito editorial, passando de 11 mil para mais de 750 mil exemplares semanais. Em 1945, inicia a publicação de seus trabalhos na revista "O Cruzeiro", na seção "O Pif-Paf", sob o pseudônimo de Vão Gôgo e com desenhos de Péricles.
            No ano seguinte lança "Eva sem costela — Um livro em defesa do homem", sob o pseudônimo de Adão Júnior. Sua colaboração para "O Cruzeiro", em 1947, atinge a marca de dez seções por semana.
            Em 1948 viaja aos Estados Unidos, onde encontra-se com Walt Disney, Vinicius de Moraes, o cientista César Lates e a estrela Carmen Miranda. Casa-se com Wanda Rubino. Publica "Tempo e Contratempo", com o pseudônimo de Emmanuel Vão Gôgo, em 1949. Assina seu primeiro roteiro cinematográfico, "Modelo 19". O filme, lançado com o título "O amanhã será melhor", ganha cinco prêmios Governador do Estado de São Paulo. Millôr é agraciado com o de melhores diálogos.
            Em 1951, na companhia de Fernando Sabino, viaja de carro pelo Brasil, durante 45 dias. Lança a revista semanal "Voga", que teve apenas cinco números. Viaja pela Europa por quatro meses, em 1952.
            "Uma mulher em três atos", sua primeira peça, estréia no Teatro Brasileiro de Comédia, em São Paulo (SP), em 1953.
            No ano seguinte, compra o imóvel que se tornaria famoso — "a cobertura do Millôr", no bairro de Ipanema. Nasce seu filho Ivan.
            Em 1955, divide com o desenhista norte-americano Saul Steinberg o primeiro lugar da Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, Argentina. Escreve “Do tamanho de um defunto”, que estreou no Teatro de Bolso (Rio) e, depois, adaptado pelo próprio autor para o cinema, tendo o filme o título de “Ladrão em noite de chuva”. Nesse ano escreve “Bonito como um deus”, que estréia no Teatro Maria Della Costa, em São Paulo (SP), e ainda “Um elefante no caos” e “Pigmaleoa”. Em 1956, passa a ilustrar todos os seus textos publicados na revista "O Cruzeiro". No ano de 1957, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro recebe exposição individual do biografado. Realiza a cenografia de “As guerras do alecrim e da manjerona”. Esse trabalho foi premiado pelo Serviço Nacional de Teatro no ano de 1958. Nesse ano, conclui a primeira tradução teatral: “Good people”, então intitulada “A fábula de Brooklin — Gente como nós”. Fez parte do grupo que "implantou" o frescobol no posto 9, Ipanema, Rio de Janeiro.
            Escreve o roteiro de “Marafa”, a partir do romance homônimo de Marques Rebello. Em 1959. No mesmo ano, apresenta na TV Itacolomi, de Belo Horizonte, a convite de Frederico Chateaubriand, uma série de programas intitulada “Universidade do Méier”, na qual desenhava enquanto fazia comentários. Posteriormente, o programa foi transferido para a TV Tupi do Rio de Janeiro, com o título de “Treze lições de um ignorante” e suspenso por ordem do governo Juscelino Kubitschek após uma crítica à primeira dama do país: Disse Millôr: "Dona Sarah Kubitschek chegou ontem ao Brasil depois de 5 meses de viagem á Europa e foi condecorada com a Ordem do Mérito do Trabalho." Nasce sua filha, Paula.
            Nos anos seguintes, já integrado á intelectualidade carioca, convive com Péricles, criador de "O Amigo da Onça", Nelson Rodrigues, David Nasser, Jean Manson, Alfredo Machado, Fernando Chateaubriand, Emil Farhat e Accioly Netto, entre outros.
            Em 1960, depois de resolvidos os problemas com a censura, estréia no Teatro da Praça, no Rio, ”Um elefante no caos”. O título original da peça era “Um elefante no caos ou Jornal do Brasil ou, sobretudo, Por que me ufano do meu país” rendeu a Millôr o prêmio de “Melhor Autor” da Comissão Municipal de Teatro. O filme “Amor para três”, com roteiro do biografado, baseado em “Divórcio para três”, de Victorien Sardou. Expõe, em 1961, desenhos na Petit Galerie, no Rio. Viaja ao Egito e retorna antes do previsto, tendo em vista a renúncia do presidente Jânio Quadros. Trabalha por 7 dias no jornal "Tribuna da Imprensa", Rio, que mais tarde pertenceu a seu irmão Hélio Fernandes. Foi demitido por ter escrito um artigo sobre a corrupção na imprensa. Os editores, o poeta Mário Faustino e o jornalista Paulo Francis pediram também demissão em solidariedade.
            No ano seguinte, na edição de 10 de março de “O Cruzeiro”, “demite” Vão Gôgo e passa a assinar Millôr. A Amstutz & Herder Graphic Press, importante publicação de Zurique, dedica uma página de seu anuário ao autor. “Pigmaleoa” é apresentada, no Teatro Rio. Em 1963, escreve a peça teatral “Flávia, cabeça, tronco e membros”. Viaja a Portugal e, durante sua ausência, a revista “O Cruzeiro” publica editorial no qual se isenta de responsabilidade pela publicação de “História do Paraíso”, que obteve repercussão negativa por parte dos leitores católicos da revista. Millôr deixa a revista e começa a trabalhar no jornal “Correio da Manhã”, ficando até o ano seguinte.
            A partir de 1964, e até 1974, colabora semanalmente no jornal Diário Popular, de Portugal. A página mereceria o seguinte comentário de um ministro de Salazar: "Este tem piada, pena que escreva tão mal o português". Lança a revista “Pif-Paf”, considerada o início da imprensa alternativa no Brasil. Foi fechada em seu oitavo número, por problemas financeiros.
            Volta à TV, em 1965, como apresentador na TV Record, ao lado de Luis Jatobá e Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), do “Jornal de Vanguarda”. “Liberdade liberdade” estréia no Teatro Opinião, no Rio, musical escrito em parceria com Flávio Rangel.
            Composta pelo biografado, a canção “O homem” é defendida no II Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, por Nara Leão, em 1966. Monta, ao ar livre, no Largo do Boticário, Rio, só com atores negros, sua adaptação de “Memórias de um sargento de milícias”.
            Em 1968 passa a colaborar com a revista “Veja”. No ano seguinte, participa do grupo fundador de “O Pasquim”.
            Lança o livro “Esta é a verdadeira história do Paraíso” e também “Trinta anos de mim mesmo”, numa sessão de autógrafos denominada “Noite da contra-incultura”.
            Em 1975, faz exposição de 25 quadros “em branco, mas com significado”, na Galeria Grafitti, no Rio.      No ano seguinte, escreve para Fernanda Montenegro a peça “?..”, que se tornou o grande sucesso teatral de Millôr ao ser encenada no Teatro Maison de France, no Rio.          Em 1977, realiza nova exposição de seus trabalhos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
            Estréia no Teatro dos Quatro, Rio, a peça “Os órfãos de Jânio”, em 1980.
            O ano de 1982 é de muito trabalho. O autor escreve e publica a peça “Duas tábuas e uma paixão”. Traduz a opereta “A viúva alegre”, de Franz Lear, apresentada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. “A eterna luta entre o homem e a mulher”, no Teatro Clara Nunes – Rio. Escreve a adaptação de “A chorus line”. Estréia “Vidigal: Memórias de um sargento de milícias”. São dele, nessa peça, os cenários, figurinos e letras, escreve e representa o espetáculo “O gesto, a festa, a mensagem”, na TV Record de São Paulo. Deixa a revista “Veja”.
            Em 1983, ?homenageado pela Escola de Samba Acadêmicos do Sossego, de Niterói (RJ). Millôr não comparece ao desfile. Passa a colaborar com a revista “Isto é”. Lança “Poemas”, em 1984. Estréia o musical “O MPB4 e o dr. Çobral vão em busca do mal”. No ano seguinte, colabora com o Jornal do Brasil. Lança o “Diário da Nova República”. ?montada a peça “Flávia, cabeça, tronco e membros” no Teatro Ginástico – Rio.
            Passa a usar o computador para escrever e desenhar, em 1986. Escreve, com Geraldo Carneiro e Gilvan Pereira, o roteiro do filme “O judeu”, baseado na vida de António José da Silva,concluído em 1995.
            No ano seguinte, lança “The cow went to the swamp / A vaca foi para o brejo”.
            Deixa a revista “Isto é “ e o Jornal do Brasil, em 1992. No ano de 1994, lança “Millôr definitivo — A bíblia do caos”.
            Escreve a peça “Kaos”, Adapta para a Rede Globo “Memórias de um sargento de milícias”. A partir de um argumento de Walter Salles, escreve o roteiro “Últimos diálogos”, em 1995. Em 1996, passa a colaborar nos jornais “O Dia” (RJ), “O Estado de São Paulo” (SP) e “Correio Braziliense” (DF). Neste último, trabalharia somente até o fim do ano. Em 1998, em parceria assina o roteiro de “Mátria”. No ano seguinte, começa a adaptar “Os três mosqueteiros”, de Dumas, para o formato de musical, trabalho que não chegou a ser concluído.
            Em 2000, escreve o roteiro de “Brasil! Outros 500 — Uma Pop Ópera”, que teve sua estreia no Teatro Municipal de São Paulo. Deixa de colaborar com “O Estado de São Paulo” e “O Dia”. Passa a colaborar com coluna semanal na “Folha de São Paulo”. Lança o site “Millôr On Line” (http://www.millor.com.br) .
            No ano seguinte, deixa a “Folha de São Paulo” e volta ao “Jornal do Brasil”. Em 2002, publica “Crítica da razão impura ou O primado da ignorância”, em que analisa as obras “Brejal dos Guajas e outras histórias”, de José Sarney, e “Dependência e desenvolvimento na América Latina, de Fernando Henrique Cardoso. Deixa de colaborar, em novembro, com o “Jornal do Brasil”. Em 2003, ilustra “O menino”, volume de contos de João Uchôa Cavalcanti Netto, e faz cem desenhos para uma nova compilação das “Fábulas fabulosas”.       
            Em 2004, lança pela Editora Record, “Apresentações”.
            Em meados de agosto de 2004 é anunciado seu retorno às folhas da revista semanal “Veja”, a partir de setembro daquele ano.
            Millôr faleceu no dia 27 de março de 2012, em casa, no bairro de Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro.
Fontes:
Livros do autor, Internet, CD "Em busca da Imperfeição", de 1999, produzido pela Neder & Associados e “Cadernos de Literatura Brasileira – Instituto Moreira Salles.

Trovador Homenageado: Alonso Rocha

A igreja, as flores e o eleito;
ela de branco e eu tristonho:
– foi o cenário perfeito
para o enterro do meu sonho.

Ao lembrar que o teu brinquedo
é decifrar-me, sorrio...
- De nada vale o segredo
de um velho cofre vazio.

Ao teu "fogo" sou submisso
(mesmo sabendo quem és)
e me basta esse "feitiço"
para que eu viva a teus pés.

 
Cabelos brancos da idade,
recolho do poço limpo
a única joia - a saudade -
que me restou do garimpo.

 
Dei conforto em hora aguda
a tantos (que nem mais sei),
mas na dor só tive ajuda
de mãos que nunca ajudei.

De uma paixão incontida,
o tempo – insano juiz –
pode curar a ferida
mas nos deixa a cicatriz.

Em silêncio os cinco dedos
da minha mão de aprendiz,
guardam íntimos segredos
das trovas que eu nunca fiz.

Em sofrer minha alma insiste,
mesmo sabendo, também,
que a dor da espera é mais triste
se não se espera ninguém...

Louco artista é o trovador,
que o sofrimento renova
quando exibe a própria dor
no palco de sua trova.

Não desistas nem te dobres
se o teu trabalho é perdido,
pois nos garimpos dos pobres
há sempre um veio escondido.
 
Nas manhãs, num velho rito   
(com o fim de protegê-las)
o Sol – pastor do infinito –
guarda o rebanho de estrelas.

Pelas leis da natureza,
sem ouro e glória vivemos;
porém, com toda certeza,
nós, sem água, morreremos.

Poesia, como eu entendo,
é milagre de escrever...
Quase dizer, não dizendo...
ou não dizendo...dizer! 

Por esse amor insensato
eu sei que o céu me condena,  
mas a escolha do meu ato
eu troco por qualquer pena.

Por que tanto preconceito,
cobiça, orgulho e ambição,
se os homens só têm direito
a sete palmos do chão?
 
Quando, ao luar, nadas nua
e os teus brancos seios vejo,
sangra, ao feitiço da lua,
o açude do meu desejo.

 
Quando já idoso e grisalho
te abraças numa paixão,
o tempo é o roto espantalho
que te afugenta a razão.

Quando o sofrer é infinito
e a vida nos deixa a sós,
ao sufocarmos o grito,
grita o silêncio por nós.

Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus - o Oleiro -
cobra o retorno do barro.

Se em noite de Lua cheia
rolas em doce arrepio,
de certo um boto vagueia
na preamar de teu cio.

 Sempre que eu sonho na vida,
sou numa luta sem jaça
borboleta enlouquecida
batendo contra a vidraça.

Sem resposta que conforte,    
dúvida imensa me corta:
– Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?

Sobra do amor, rarefeita,
e tudo o que me restou,
a ternura é a flor que enfeita
o jarro triste que eu sou.
 
Tu partiste: em penitência,
sem pranto que me conforte,   
eu sinto na dor da ausência
tua presença mais forte.

Alonso Rocha (1926 - 2010)

Raimundo Alonso Pinheiro Rocha nasceu em Belém em 15 de dezembro de 1926 e morreu em 23 de fevereiro de 2010, filho do poeta Rocha Júnior e Adalgiza Guimarães Pinheiro Rocha. Foi casado com Rita Ferreira Rocha e pai de cinco filhos. Conhecido como príncipe os poetas, Raimundo ocupou a cadeira número 32 da Academia Paraense de Letras desde 22 de Novembro de 1996, participou da diretoria da Academia desde o ano de 1996, ininterruptamente, com mandato até 2010. Por profissão, trabalhou como bancário, atuando também no sindicalismo no período de 1954 a 1976, tendo sido diretor do Sindicato dos Bancários do Pará e membro-fundador da Federação dos Bancários do Norte-Nordeste.
             Foi o IV Príncipe dos Poetas do Pará, escolhido após consulta a um colégio eleitoral constituído de 200 personalidades integrantes dos círculos culturais, científicos e sociais do Estado, pessoas essas ligadas às artes e selecionadas por uma comissão especial formada pelos escritores Georgenor de Sousa Franco Filho, Pedro Tupinambá, Victor Tamer e Albelardo Santos. O resultado de votação através de voto assinado foi apurado em 1987, tendo recebido na sessão solene de 21 de julho de 1989 (sesquicentenário de Machado de Assis) a comenda de 35 gramas de ouro, oferecida pelo governo do Estado do Pará.
            Na adolescência, em 1942, fundou a Academia dos Novos em companhia de Jurandyr Bezerra, Max Martins e Antônio Comaru Leal. Ao grupo vieram juntar-se jovens intelectuais da época, como Benedito Nunes, Haroldo Maranhão, Leonan Cruz, Raimundo Melo, Fernando Tasso de Campos Ribeiro, Arnaldo Duarte Cavalcante, Gelmirez Melo, Edmar Souza, Benedito Pádua, Otávio Blatter Pinho, Antero Soeiro, Eduálvaro Hass Gonçalves, Alberto Bordalo e Lúcia Clairefort Seguin Dias.
            Seu livro de poesias Pelas Mãos do Vento, obteve os prêmios Vespasiano Ramos (1954) da Academia Paraense de Letras e Santa Helena Magno (1955) do governo do Estado do Pará. Em (2004) foi presidente (por 4º. Mandato) da União Brasileira de Trovadores – seção Belém, tendo promovido em 1997 o I Jogos Florais de Belém, bem como o XIII Concurso nacional de Trovas no ano de 2002/Belém-Pará.
            A trova, forma poética que cultivou somente há pouco tempo, proporcionou a Alonso Rocha inúmeras vitórias em Jogos Florais e concursos pelo Brasil, notadamente no Pará, no Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul.
            Como sonetista, foi apontado como um dos melhores dos últimos tempos e um dos maiores dos últimos 50 anos do Pará.
            Malba Than, no livro A Lua (editora Luz, Rio, 1955) publicou o seu soneto à “Lua Cheia” e o classificou como “autêntico Príncipe da Poesia Contemporânea.
            Alonso Rocha queera sócio-correspondente das: “Academia Norte Rio-Grande de Letras, Academia Municipalista de Letras do Brasil, Academia Sete-Lagoana de Letras, Academia Eldoradense de Letras, do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes, sócio honorário da Academia Piauiense de Letras e cidadão honorário do Município de Marapanim-PA.
            Poeta eclético, não aprisionado a escolas e sem preconceito com qualquer forma de manifestação poética, Alonso Rocha foi dinâmico colaborador da gestão e representatividade da Academia Paraense de Letras.
            Sua derradeira participação em atividades literárias aconteceu em 2009 em Belém representando a Academia Paraense de Letras como Júri do II Prêmio AP de Literatura, da Assembleia Paraense.
            Recebeu vários troféus, medalhas e diplomas, resultantes de certames poético como: 1º. Lugar no concurso promovido pelo jornal “A Província do Pará” e Prefeitura Municipal de Belém (1961); 2° Concurso do Norte e Nordeste de Poesia, patrocinado pelo jornal “Folha do Norte”; Palma de Ouro e Palma de Bronze, no concurso Poetas do Mundo Lusíada da Academia de Poemas de Massachusetts (Estados Unidos da América -1987); Medalha de Bronze, no concurso Evolução da Cultura Brasileira, na segunda metade do século XX, do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes (Rio de Janeiro, 1933); 1º. Lugar, por unanimidade, do 1º. Concurso Nacional de Poesia do Clube dos Magistrados do Rio de Janeiro (1997) e honrosas classificações em concurso de sonetos em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de janeiro; Medalha condecorativa José Veríssimo; Medalhas culturais Olavo Bilac, Paulino de Brito, Dr. Acylino de Leão, D. Pedro I; Centenário do Teatro da Paz; Bicentenário da Igreja São João Batista; Centenário da Fundação da Biblioteca e Arquivos Públicos do Pará, conferidos pelo governo do Estado do Pará; Conselho de Cultura do Pará e Academia paraense de Letras; Medalha Olavo Bilac, do Cenáculo Brasileiro de Letras e Artes; Medalha condecorativa da Academia Municipalista de Letras do Brasil e Diploma de Honra ao Mérito do Instituto de Educação do Pará.
Livros Publicados
            "Pelas Mãos do Vento" (poesia) 1955; e "Bruno de Menezes" ou a Sutileza da Transição  (Ensaio ao lado de Célia Coelho Bassalo, J. Arthur Bogéa, João Carlos Pereira e Joaquim Inojosa) 1994, "O Tempo e o Canto" (poesia) 2009.

Fonte: Academia dos Poetas Paraenses

XXIII Jogos Florais de Porto Alegre 2015 (Trovas)

Concurso Nacional
Categoria Novos Trovadores
Tema: Vida
VENCEDORES:
1º lugar: Clóvis Wilson Mattos Andrade (Senhor do Bonfim/BA)
2º lugar: Clóvis Wilson Mattos Andrade (Senhor do Bonfim/BA)
3º lugar: Luzia Brisolla Fuim (São Paulo/SP)
 MENÇÕES HONROSAS:
Agenir Leonardo Victor (Maringá/PR)
Carlos Henrique Silva Alves (Senhor do Bonfim/BA)
Eulinda Barreto Fernandes (Bauru/SP)
MENÇÕES ESPECIAIS:
Ana Cristina Schmidt da Silva (Brusque/SC)
Luzia Brisolla Fuim (São Paulo/SP)
Marília Oliveira (Porto Alegre/RS)
Concurso Nacional/Internacional
Tema: Luz
VENCEDORES:
1º lugar: Vanda Alves da Silva (Curitiba/PR)
2º lugar: José Gilberto Gaspar (São Bernardo do Campo/SP)
3º lugar: Olympio da Cruz Simões Coutinho (Belo Horizonte/MG)
4º lugar: Luiz Poeta (Rio de Janeiro/RJ)
5º lugar: José Ouverney (Pindamonhangaba/SP)
MENÇÕES HONROSAS:
J. B. Xavier (São Paulo/SP)
Relva do Egypto Rezende Silveira (Belo Horizonte/MG)
Sandro Pereira Rebel (Niterói/RJ)
Selma Patti Spinelli (São Paulo/SP)
Wanda de Paula Mourthé (Belo Horizonte/MG)
MENÇÕES ESPECIAIS:
Ailto Rodrigues (Nova Friburgo/RJ)
Antonio Augusto de Assis (Maringá/PR)
Edmar Japiassu Maia (Nova Friburgo/RJ)
Josafá Sobreira da Silva (Rio de Janeiro/RJ)
Roberto Tchepelentyky (São Paulo/SP)
Vanda Fagundes Queiroz (Curitiba/PR)
Concurso Nacional/Internacional
Tema: Sombra
VENCEDORES:
1º lugar: Wanda de Paula Mourthé (Belo Horizonte/MG)
2º lugar: Edmar Japiassu Maia (Nova Friburgo/RJ)
3º lugar: Ercy Maria Marques de Faria (Bauru/SP)
4º lugar: Ercy Maria Marques de Faria (Bauru/SP)
5º lugar: Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho (Juiz de Fora/MG)
MENÇÕES HONROSAS:
Arlindo Tadeu Hagen (Juiz de Fora/MG)
Campos Sales (São Paulo/SP)
José Ouverney (duas) (Pindamonhangaba/SP)
Lucília Alzira Trindade de Carli (Bandeirantes/PR)
MENÇÕES ESPECIAIS:
Antonio Colavite Filho (Santos/SP)
Austregésilo de Miranda Alves (Senhor do Bonfim/BA)
Dari Pereira (Maringá/PR)
Josafá Sobreira da Silva (Rio de Janeiro/RJ)
Sérgio Ferraz dos Santos (Nova Friburgo/RJ)
Concurso Estadual (RS)
Tema: Treva (lírica/filosófica)
VENCEDORES:
1º lugar: Luiz Damo (Caxias do Sul)
2º lugar: Delcy Canalles (Porto Alegre)
3º lugar: Lisete Johnson (Porto Alegre)
4º lugar: Milton Souza (Porto Alegre)
5º lugar: Ialmar Pio Schneider (Porto Alegre)
MENÇÕES HONROSAS:
Alice Brandão (Caxias do Sul)
Amália Marie Gerda Bornhein (Caxias do Sul)
Clênio Borges (Porto Alegre)
Flávio Roberto Stefani (Porto Alegre)
Neoly de Oliveira Vargas (Sapucaia do Sul)
 MENÇÕES ESPECIAIS:
Delcy Canalles (Porto Alegre)
Gislaine Canales (Porto Alegre)
Ialmar Pio Schneider (Porto Alegre)
Luiz Damo (Caxias do Sul)
Zélia de Nardi (Caxias do Sul)
Concurso Estadual (RS)
Tema: Brilho (humorística)
VENCEDORES:
1º lugar: Milton Souza (Porto Alegre)
2º lugar: Luiz Machado Stábile (Uruguaiana)
3º lugar: Milton Souza (Porto Alegre)
4º lugar: Magnólia da Rosa (Porto Alegre)
5º lugar: Luiz Machado Stabile (Uruguaiana)
  
MENÇÕES HONROSAS:
Cláudio Derli Silveira (Porto Alegre)
Doralice Gomes da Rosa (Porto Alegre)
Magnólia da Rosa (Porto Alegre)
Lisete Johnson (Porto Alegre)
Neoly de Oliveira Vargas (Sapucaia do Sul)
MENÇÕES ESPECIAIS:
Cláudio Derli Silveira (Porto Alegre)
Lisete Johnson (Porto Alegre)
Maria Dornelles (Itapuã)
Neoly de Oliveira Vargas (duas) (Sapucaia do Sul)
Concurso Internacional em Língua Hispânica
Tema: Luz
 VENCEDORAS:
Dioselina Yvaldy de Sedas/ Panamá
Mirta Lilian Cordido / Argentina
Cristina Olivera Chávez / México-USA
Mirta Lilian Cordido / Argentina
Dioselina Ivaldy de Sedas / Panamá
MENÇÕES HONROSAS
Maria Helena Espinosa Mata / México
Jaime Solis Robledo / México
Carlos E. Rodriguez Sanchez / Venezuela- USA
Irene Mercedes Aguirre / Argentina
Marta Senovia Velasquez Vélez / Colombia
 MENÇÕES ESPECIAIS
Maria Helena Espinosa Mata / México
Hilda Augusta Schiavoni / Argentina
Maria Cristina Fervier / Argentina
Rene B. Arriaga Del Castillo / México
Carlos Imaz Alcaide / França
Concurso Estudantil
Tema: Claridade (Lírica/Filosófica)
(Para alunos, professores e colaboradores da PUC)
VENCEDORAS
1º lugar: Lúcia Barcelos
2º lugar: Maria Carolina da Cunha
3º lugar: Francisco Alberto Rheingantz Silveira
 MENÇÕES HONROSAS
Eva Alda Cavasotto
Maria Carolina da Cunha
Marina Dani Gomes
Concurso Estudantil
Tema: Som (Lírica/Filosófica)
VENCEDORAS
1º lugar: Fernanda Santos Acunha
2º lugar: Jenifer Janice Pereira Vergueiro
3º lugar: Thiago Roque da Silva
MENÇÕES HONROSAS
Charles Benhur
Júlia Rodrigues
Luiza Nunes Ribeiro
 MENÇÕES ESPECIAIS
Alison Escobar Bitencourt
Douglas Barreto Centeno
Manoela Santos Muniz da Silva
Nickolas da Silva Linck