sábado, 17 de maio de 2008

José Bidóia (Criança Modelo - Ser Pioneiro)

CRIANÇA MODELO

Chorando
Cantando
Ou jogando
Bolinha de gude no meio da rua
Batendo peteca
Ninando boneca
Versátil e sapeca
Ela embeleza o mundo
E este a cultua.

Com charme e com graça
No campo ou na praça
Enquanto não passa
Essa idade envolvente
De enlevo e de paz
Ela passa pulando
Ela pula brincando
Ela brinca sonhando
Com doces quimeras
Que o sono desfaz

Ela é igual uma flor
Necessita de amor
Alimento e calor
Pra crescer, pra subir
E se abrir para a vida
Necessita bom ninho
De fieis padrinhos
Chupeta e carinho
Incentivo do pai
E conselhos e beijos
Da mamãe querida

Necessita de mestres
Que eduque, que adestre
De vida campestre
De água fervida
Filtrada ou de fonte
De amigos coerentes
Leais, complacentes
Alegres, prudentes
Que faz verso e prosa
E historias lhe conte

Vive igual sanhaço
E sentindo cansaço
Procura o regaço
Da vovó supimpa
Da ama que ama
Ou da mãe extremosa
Se a vovó esta na cama
Se a ama reclama
E a mamãe não chama
Ela chora sentida
E é lindo seu pranto
Na face mimosa

E lindo são seus braços
Erguidos no espaço
Qual barras de aço
Sustenta a bandeira
Símbolo augusto
De um povo viril...
E são lindas suas mãos
Quando em oração
Ou repartindo o pão
Num gesto altruísta
Com outras crianças
Do imenso Brasil

Assim é a criança
Que brinca e balança
E leva de herança
Pela vida a fora
Saudade e sementes...
Saudade da bola
Saudade da escola
E do moço parola
Que lhe dava abraços
Bombons e presentes

Sementes de flores
Sementes de amores
E as que os professores
Deixaram em suas mãos
Para serem plantadas
Tratadas, colhidas
Semente se abrindo
Com chuva caindo
Qual lábios sorrindo
Sementes de paz, de fé
De progresso
E sementes da vida

Saudade do pé de pitanga
Da polpuda manga
E dos banhos na sanga
Da plumagem linda
E o canto suave
Das aves canoras
Das festas juninas
Das verdes campinas
E do bloco da esquina
Em vibrantes cirandas
Nas tardes sonoras

A toda criança
Que brinca e balança
Divina esperança
De um mundo de paz
De fartura e de amor...
Minha prece vibrante
Meu apelo constante
Pra que viva e que cante
Mas sem prescindir
Na bondade infinita
De nosso Senhor.

SER PIONEIRO

Pioneiro desbravador
É aquele da floresta
Faz a casa com amor
E do amor berço de festa.

Ser pioneiro é testar os ideais,
É conseguir a busca de algo mais,
Por terras “nunca dantes” desbravadas,
Muitas vezes só de mochila às costas
Acordando caprichosas respostas
Do regaço de sonhos sem pecados.

Ser pioneiro é ser valente,
É polir diamantes brutos,
É acreditar na semente
Tendo esperança nos frutos.

Ser pioneiro é colocar fé nos passos,
Respeitando vitórias e fracassos
A tudo dando divinais valores,
É unir parentes, amigos, vizinhos...
Pelas trilhas do amor que são caminhos
Acarpetados com ternura e flores.

Quer ser feliz duplamente?
Siga do pioneiro o exemplo
Que faz da fé na semente
Seu pão, seu lar e seu templo.

Quando o pioneiro desmata,
Deus, de cima, lavra em ata
No seu livro de sucesso,
Por saber que ele só faz
Pensando na luz, na paz...
E no bendito progresso.

Parabéns para os pioneiros
De todas as latitudes,
De peões a fazendeiros,
Por tão sagradas virtudes.
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Sobre o Autor:
JOSÉ BIDÓIA
ACADEMIA DE LETRAS DE MARINGÁ
CADEIRA Nº.40 – PATRONO: VINICIUS DE MORAES
Agropecuarista, compositor, conhecido como “O poeta das estradas”.
Nasceu em Penápolis-SP, no dia 09 de janeiro de 1930. Autor de “Amenidades”; “Gotas de luz” “Fascínio”; “Devaneios” e “Rimas badaladas”.
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Fonte:
Academia de Letras de Maringá
http://www.afacci.com.br/

O Nosso Português de Cada Dia (Figuras de Linguagem)

São recursos que tornam mais expressivas as mensagens. Subdividem-se em figuras de som, figuras de construção, figuras de pensamento e figuras de palavras.

Figuras de som

ALITERAÇÃO: consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais.
“Esperando, parada, pregada na pedra do porto.”

ASSONÂNCIA: consiste na repetição ordenada de sons vocálicos idênticos.
“Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral.”

PARONOMÁSIA: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos.
“Eu que passo, penso e peço.”

Figuras de construção

ELIPSE: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.
“Na sala, apenas quatro ou cinco convidados.” (omissão de havia)

ZEUGMA: consiste na elipse de um termo que já apareceu antes.
Ele prefere cinema; eu, teatro. (omissão de prefiro)

POLISSÍNDETO: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período.
“ E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito (...)”

INVERSÃO: consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase.
“De tudo ficou um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.”

SILEPSE: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que se sebentende, com o que está implícito. A silepse pode ser:

• De gênero
Vossa Excelência está preocupado.

• De número
Os lusíadas glorificou nossa literatura.

• De pessoa
“O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa coisinha verde e mole que se derrete na boca.”

ANACOLUTO: consiste em deixar um termo solto na frase. Normalmente, isso ocorre porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.
A vida, não sei realmente se ela vale alguma coisa.

PLEONASMO: consiste numa redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem.
“E rir meu riso e derramar meu pranto.”

ANÁFORA: consiste na repetição de uma mesma palavra no início de versos ou frases.
“ Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer”

Figuras de pensamento

ANTÍTESE: consiste na aproximação de termos contrários, de palavras que se opõem pelo sentido.
“Os jardins têm vida e morte.”

IRONIA: é a figura que apresenta um termo em sentido oposto ao usual, obtendo-se, com isso, efeito crítico ou humorístico.
“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças.”

EUFEMISMO: consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, procura-se suavizar alguma afirmação desagradável.
Ele enriqueceu por meios ilícitos. (em vez de ele roubou)

HIPÉRBOLE: trata-se de exagerar uma idéia com finalidade enfática.
Estou morrendo de sede. (em vez de estou com muita sede)

PROSOPOPÉIA OU PERSONIFICAÇÃO: consiste em atribuir a seres inanimados predicativos que são próprios de seres animados.
O jardim olhava as crianças sem dizer nada.

GRADAÇÃO OU CLÍMAX: é a apresentação de idéias em progressão ascendente (clímax) ou descendente (anticlímax)
“Um coração chagado de desejos
Latejando, batendo, restrugindo.”

APÓSTROFE: consiste na interpelação enfática a alguém (ou alguma coisa personificada).
“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!”

Figuras de palavras

METÁFORA: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. A metáfora implica, pois, uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido.
“Meu pensamento é um rio subterrâneo.”

METONÍMIA: como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica entre os termos. Observe:
Não tinha teto em que se abrigasse. (teto em lugar de casa)

CATACRESE: ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, torna-se outro por empréstimo. Entretanto, devido ao uso contínuo, não mais se percebe que ele está sendo empregado em sentido figurado.
O pé da mesa estava quebrado.

ANTONOMÁSIA OU PERÍFRASE: consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade:
...os quatro rapazes de Liverpool (em vez de os Beatles)

SINESTESIA: trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos do sentido.
A luz crua da madrugada invadia meu quarto.

Vícios de linguagem

A gramática é um conjunto de regras que estabelecem um determinado uso da língua, denominado norma culta ou língua padrão. Acontece que as normas estabelecidas pela gramática normativa nem sempre são obedecidas pelo falante.

Quando o falante se desvia do padrão para alcançar uma maior expressividade, ocorrem as figuras de linguagem. Quando o desvio se dá pelo não-conhecimento da norma culta, temos os chamados vícios de linguagem.

BARBARISMO: consiste em gravar ou pronunciar uma palavra em desacordo com a norma culta.
pesquiza (em vez de pesquisa)
prototipo (em vez de protótipo)

SOLECISMO: consiste em desviar-se da norma culta na construção sintática.
Fazem dois meses que ele não aparece. (em vez de faz ; desvio na sintaxe de concordância)

AMBIGÜIDADE OU ANFIBOLOGIA: trata-se de construir a frase de um modo tal que ela apresente mais de um sentido.
O guarda deteve o suspeito em sua casa. (na casa de quem: do guarda ou do suspeito?)

CACÓFATO: consiste no mau som produzido pela junção de palavras.
Paguei cinco mil reais por cada.

PLEONASMO: consiste na repetição desnecessária de uma idéia.
A brisa matinal da manhã deixava-o satisfeito.

NEOLOGISMO: é a criação desnecessária de palavras novas.
Segundo Mário Prata, se adolescente é aquele que está entre a infância e a idade adulta, envelhescente é aquele que está entre a idade adulta e a velhice.

ARCAÍSMO: consiste na utilização de palavras que já caíram em desuso.
Vossa Mercê me permite falar? (em vez de você)

ECO: trata-se da repetição de palavras terminadas pelo mesmo som.
O menino repetente mente alegremente.

Fonte:
http://www.brasilescola.com/

Paraná (Expressões Regionais)

A
Aceiro: terreno limpo para evitar a propagação do fogo
Alimentadores: ônibus provenientes dos bairros e que alimentam os terminais (Curitiba)
Alôco: expressão que indica que o indivíduo está ficando louco por deixar que façam aquilo com ele.
Alugado: pessoa metida . Ex:que alugado! Aquele piá só se acha!
Amarra, trava: cica das frutas que ainda estão verdes. Ex.: Este caqui está amarrando!
Antipó: asfaltamento primário
Arregado: algo bom, que está levando vantagem
Arrodear: ficar próximo, ir chegando (como quem quer algo).
Arruinar-se: ficar doente, piorar (o estado de saúde).
As meia: repartir pela metade( geralmente as despesas)
B
Baguá: pessoa, animal ou coisa de tamanho avantajado.
Báia: casa. Ex: vou para a báia do fulano
Bala zequinha: bala muito comum que existia somente em Curitiba. Ex: Cara muito comum
Banana caturra: banana nanica
Banquinha: banca de jornal
Barreado: carne desfiada cozida em panela de barro, comida típica do Paraná
Barroca: Beira acidentada de estrada, barranco.
Batata salsa: mandioquinha
Béra: cerveja
Bi-articulado: ônibus bi-articulado
Biquinho: tampa da válvula de pneus
Bobódromo: Av. Batel (Curitiba); local onde curitibocas se encontram. Também utilizado nas cidades do interior, nas avenidas ou ruas que há encontro das pessoas, circulando a pé ou em carros, geralmente à noite.
Bodoque: estilingue
Bonde: ônibus
Broa: pão, pão de trigo preto (centeio, sarraceno, etc)
Bucuva: pancada na cabeça com mão fechada; croque
Burrichó: Asno, jumento. (tratamento geralmente dado a filhote).
Busun: derivado do inglês "bus", é como o curitibano adora se referir aos ônibus da cidade
C
Cabeça: sinônimo de pessoa, é tipo assim: quantas cabeça vão também? quantas pessoas vão também?
Caçador: esporte infantil também conhecido como "bola-queimada"
Cachorro: "fazer um cachorro" significa fazer uma troca!
Caipora: sujeito ridículo, sempre tem desculpa pra tudo
Calcinha: tipo de elástico para cabelo
Campear: Procurar, caçar, seguir.
Canaleta: pista exclusiva para ônibus expresso
Cancha: Quadra esportiva; campo de futebol de areia ou suíço.
Capão: Aglomerado de árvores em um local do campo (capão de mato).
Capilé: groselha
Carpim: meia masculina
Carreiro: Caminho aberto no mato, trilha. (usa-se também carrero).
Cartucho: saco de papel
Casa de material: casa de alvenaria
Catarina: catarinense
Catina: chinelo de borracha
Cheguei no mico ou no pau da viola: Quase sem combustível.
Chimia (eyeschmier): 1. qualquer doce em pasta para passar no chineque ; 2. (original) prato alemão que é ovo mexido com sal e bacon pra comer com pão no café da tarde ou da manhã
Chineque: pão doce
Chiquinha: elástico para cabelo
Chuncho: improvisação mal feita
Churriu: dor de barriga, diarréia.
Coxa: Coritiba (clube de futebol)
Cozido: embriagado
Cueca virada: roscas doces fritas e passadas em açúcar e canela
Cuequinha de veludo: sujeito que tem muito dinheiro (elite)
Curitiboca: 1. um tipo de pessoa, existente em qualquer lugar, que tem mania de reclamar ou por defeito em tudo que vê. 2. mistura de Curitibano com boboca
D
Data: terreno.
De cara!: relativamente inconformado Ex.: Ele ficou de cara com o preço!
De fianco: o mesmo que "de viés", " de lado", "de revesgueio", "de soslaio", "de través", atravessado, "de retanfian" (corruptela de "flanco").
De varde: a toa, sem fazer nada, na maciota, aliás na maciota é outra expressão típica da terrinha; (corruptela de debalde; vaguear).
Deitar o cabelo: Ir embora depressa - geralmente de carro. (o mesmo que esticar o cabelo e alisar o cabelo).
Desacorçoado: desanimado, sem ímpeto.
Descolar: pedir algo ou alguma coisa entre amigos. Ex.: me descola um cigarro?
DeusZuLivre!: Deus Me Livre!
De ynhapa: De quebra, a mais, de "lambuja". (variações: inhapa - nhapa).
Digue: fale
Disgranhento: sujeito mal, desgraçado
Do tempo do êpa!: das antigas
Do tipo: expressao que indica que é "bom", "do meu gosto", ou pode ser usado para indicar o sentido pejorativo. Ex.: "este café está do tipo!(muito bom!)..."; "esta mulherzinha é bem do tipo! (vulgar)..."
Dois palitos: lugar perto, pertinho, da onde quer chegar
Dois toque: coisa bem rápida, que não demora nada para ser feita
Dolangüe: cantada, chavéco, mentira
Dolé: Sorvete, picolé.
E
Encasquetado: Pessoa que está desconfiada com alguma coisa
Enlear: 1. embrulhar. Ex., enlear um presente 2. embrulhar Ex enganar alguém.
Enlevado: Absorto, interessado. (diz-se também da pessoa distraída, alheia).
Entojada: Pessoa (geralmente criança), muito dengosa, cheia de vontades.
Entrar de perú: entrar de bico , sem pagar
Espeto corrido: rodízio de carnes em churrascarias
Estação tubo: local de embarque/desembarque de expressos e ligeirinhos
Estarlete: fiscal de controle de estacionamento urbano.
Expresso: ônibus expresso, o qual circula em canaletas especiais
F
Faisqueiro: O mesmo que isqueiro.
Ferpa, ferpinha, estrepe: pedaço bem pequeno de madeira que penetra nas mãos de quem a manuseia sem cuidado
Festerê: festa, show, aglomerado onde varias pessoas se divertem
Foco: lâmpada
G
Gaiota: carrinho ou carrocinha usada por catadores de papel; pequena caçamba, com ou sem tampa, rebocada por veículo.
Gaita de pino: Sanfona.
Galeto: Muito rápido
Galinha de porão: curitibano que não toma sol e fica branquelo. Quando vai à praia está mais branco que galinha de porão
Gambiarra, enjambração: coisa mal feita, improvisada, "nas coxas", artifício técnico duvidoso.
Gasosa: refrigerante local (abacaxi, framboesa, limão, gengibirra, etc)
Gengibirra: gasosa de gengibre
Goiaba: ônibus interbairros, verde por fora, cheio de bicho por dentro.
Goró: beber algo alcoólico
Graciosa: Estrada da Graciosa (local turístico)
Guapeca: Cachorro pequeno, vira-latas.
Guaribar: Melhorar, limpar, ajeitar.
Guri / guria: menino, piá / menina.
I
Inhengo: tonto, bobo
Interbairros: ônibus que circula entre os bairros (Curitiba)
J
Jacú: pessoa mal vestida, matuto, sem tarimba social, sem classe, caipira.
Jaguara: pessoa ruim, trapaceira, de má fé, mal intencionada.
Jogo de tique: você joga com uma moeda, ou uma arruela. joga contra um poste ou parede. vai fazendo pontos quem joga mais perto da peça do adversário
Jojoca: soluço
Jururu: quieto
L
Lambrequim: enfeite presente no beiral das casas de madeira
Latão: ônibus de qualquer tipo do transporte público
Levar um pacote: cair de moto
Ligeirinho: ônibus de circulação rápida que para somente em estações tubo
Liquinho: Botijão de gás (3 kg) com um queimador no bico, usado em acampamentos
Lomba: Aclive (em estrada ou campo).
Lombada: quebra molas
Loque: pessoa bobona, que é facilmente enganada.
M
Ma'zói!: Corruptela da expressão "mas olhe..." Coisa ou assunto excelente, muito bom. (corruptela de mil de bom).
Magrão: pessoa, individuo, geralmente quando o mesmo não está presente.
Mais firme que palanque no banhado: coisa ou pessoa com pouca resistência, sem forças. Também se diz de quem bebeu além da conta.
Malaco: garoto de rua ou mendigo; pessoa de má índole, trapaceiro (o mesmo que jaguara).
Meio-fio: guia da calçada
Mimosa, mexirica, bergamota: fruta cítrica conhecida como tangerina
Momó: pessoa devagar, meio tonga
Morcegar: Não trabalhar, ficar à toa.
N
Na faixa, no vascão: tudo o que é sem custo; gratuito
Nabas: porcaria
Naipe: aparência, tipo, modos, jeito. Ex.: olha o naipe daquele cara!
Não tem precisão: Idem. não tem importância, fique tranquilo...
Nega-maluca: bolo de chocolate com cobertura
Nhanha: polaco desconjuntado, uma pessoa caipira
Nhanho: pessoa chata, sem classe (o mesmo que jacú).
Nhápa: lambuja - Ex.: Você compra 12 bananas e ganha duas de nhápa
O
Ospra: o mesmo que "pô". Expressão de origem polaca
P
Palanque: Mourão de cerca, estaca, poste de sustentação
Palha: qualquer coisa que seja ridícula, demodê, discordante com o gosto da maioria
Pandorga: Pipa, papagaio, quadrado
Pão com vina: cachorro quente
Pão d'água, bundinha: pão arredondado com uma divisão no meio (50g)
Papel lustro: papel espelho
Parada: qualquer coisa que não está presente no momento. Ex.: "Conseguiu aquela parada, tá ligado?"
Passeio: Calçada.
Patente: vaso sanitário
Patrola: veículo usado para remoção de detritos. Ex. trator
Patrolar: Nivelar, passar motoniveladora. (corruptela da marca do equipamento - patroll ).
Peça: cômodo de uma residência ou apartamento
Peladão: praça 19 de Dezembro (Curitiba), onde tem duas estátuas de nu artístico
Pelego: Cobertura grossa e felpuda, geralmente de pele de cabra, posta sob a sela em animal.
Pelota: Bola pequena; saliência, caroço.
Penal: estojo para lápis, canetas, etc
Periquita: Outro apelido para as estarletes que fiscalizam o estacionamento.
Pescoço: pessoa chata
Piá: Criança do sexo masculino, guri, garoto.
Pialo: enganar alguém
Piazada: grupo de garotos ou meninos
Picareta: vendedor de carros usados
Pila: dinheiro
Pingado: café com leite, mais leite que café, servido em lanchonetes em copos de vidro
Pirirí: dor de barriga - diarréia
Pirogi: ravioli polonês,só em Curitiba ,pastel cozido de requeijão com molho de manteiga e bacon
Podar: Ultrapassar (um veículo).
Poióca: alguma coisa, coisa propriamente dita.
Potreiro: Terreno, geralmente anexo à casa, onde se criam animais.
Prá mais de metro: Coisa ou assunto muito longo, demorado, comprido.
Psor: Professor
Q
Quati: moleza, preguiça
Quiçaça: Mato fechado.
R
Rabicó: elástico de cabelo
Radiola: Aparelho de som com rádio e toca-discos, vitrola.
Raia: Pipa (tipo de papagaio de papel levado ao ar com linha).
Ranho: Secreção nasal, catarro.
Rápida: avenida para carros com fluxo veloz
Reba: sem qualidade, porcaria
Refri: simplificação de refrigerante
Repuxo: fonte com chafariz
Revistaria: banca de revistas
Rodado: Conjunto de pneu e aro de veículo.
S
Sanduba: sanduiche qualquer
Sanfonado: Expresso mono-articulado, anterior ao Ligeirão
Sanga: riacho
Sapecada: pinhão na brasa
Sarau: baile para jovens
Serelepe: esquilo
Setra: estilingue, bodoque, atiradeira.
Sinaleiro: Semáforo.
Socorro: estepe, pneu reserva.
Sortido: Refeição popular, prato feito.
Submarino: chopp com steinhaeger servido no bar do alemão
T
Tempo brusco: clima nublado, fechado e escuro.
Tigre, tigrada: gente brega
Tigüera: Mato ralo, descampado.
Tomar a fresca: Apanhar a brisa da tarde; refrescar-se à sombra.
Tombeira: caminhão basculante
Tongo: pessoa boba, sem traquejo social, matuto, sem iniciativa.
Traia: pessoa de má índole
Traíra: pessoa que não cumpre o que diz
Trincheira: viaduto, só que uma rua está no seu nível normal e outra passa por baixo dela.
Trujão: intrometido
Trumbufú: Pessoa feia, mal ajeitada, desgrenhada. (variação: tribufú).
Tubo: ponto de ônibus para expressos e ligeirinhos
Tunda: surra, pancada,sova. Ex.: "Levou uma tunda de laço!"
U
Um abraço pro gaiteiro: Coisa ou assunto sem solução; despedida.
V
Vai vem: mão dupla
Varde: sem serviço, sem ter o que fazer: Ex. Ela está de varde!!!
Véio: camarada, amigo do peito. Ex. E aí véio!
Vermelhão: bi-articulado
Via rápida: avenidas de acesso "rápido" (Curitiba)
Vina: Salsicha. (deriva do termo alemão "vinewürst").
X
Xixo: espeto de carne ou de frango com legumes

Fontes:
- http://www.curitibavirtual.com.br/CURITIBANES.htm
- http://www.educadventista.org.br/escolas/pr/curitiba
- http://forum.wordreference.com/archive/index.php/t-127859.html
- http://www.terrabrasileira.net (Gralha Azul)

II Seminário Nacional de Língua e Literatura

Tema: Teoria e Ensino - Escrita e Identidade

Descrição:
- Integrar os cursos de graduação e pós-graduação em Letras;
- Promover o diálogo dos cursos de graduação e pós-graduação em Letras com outras IES;
- Propiciar atividade de formação continuada para alunos e profissionais da área de Letras e afins.

PROGRAMAÇÃO

Local: auditório do IFCH
Dia 29 de maio de 2008 – Quinta-feira
13h às 14h – Entrega de materiais
14h – abertura oficial
14h30min às 17h30min – conferência de abertura – Prof. Drª Laura Padilha – UFF.
19h30min às 22h30min - Mesa-redonda “Escrita e Identidade: as interfaces entre lingüística e literatura” - Prof. Drª Rita Schmidt (UFRGS) e Profª Drª Márcia Cristina Correa (UFSM)

Dia 30 de maio de 2008 – Sexta-feira
8h às 11h30min – Conferência de encerramento – Profª Drª Maria José Coracini – UNICAMP.
11h30min - Apresentação Artística (Bando de Letras)
14h às 16h – Sessão de comunicações I
16h30min às 18h30min – Sessão de comunicações II
19h30min às 22h30min – Sessão de comunicações III
INSCRIÇÕES

Investimento
R$ 40,00 para os participantes em geral
R$ 70,00 para os participantes com apresentação de comunicação

As inscrições sem apresentação de comunicações se estenderão até o dia do início do evento, respeitadas as vagas disponíveis.

Responsável: Prof. Drª Evandra Grigoletto
E-mail para contato: g.evandra@terra.com.br

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
Campus I -Km 171 -BR 285, Bairro São José, C. Postal 611
CEP 99001-970 Passo Fundo-RS
PABX (54) 33168100 ; Fax Geral (54) 3316-8125
IFCH: Fone/Fax (54) 3316-8380 / 3316-8331 -Email: ifch@upf.br

Fonte:
Boletim Eletrônico das Jornadas Literárias n. 56.

Alberto Caeiro (Há metafísica bastante em não pensar em nada)

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se adoecesse pensaria nisso.

Que idéia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma?
E sobre a criação do mundo?

Não sei.Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar.
É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das cousas?
Sei lá o que é mistério!
Quem está ao sol e fecha os olhos;
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa

Metafísica? Que metafísica tem aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber o que não sabem?

“Constituição íntima das cousas”...
“sentido íntimo do Universo”...
Tudo isto é falso,
Tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando,
E pelos lados das árvores um vago ouro lustroso
Vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta a dentro
Dizendo-me,Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina).

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?)
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo
E ando com ele a toda hora

Fonte:
Postado em 21 de abril em http://secundoneto.blogspot.com/2008/04/alberto-caeiro.html

Mário Henrique Castro Benevides (Um Conceito de Civilização – Escritos de Euclides da Cunha)

Mario H. C. Benevides é Bacharel em Ciências Sociais e mestrando em Sociologia – Universidade Federal do Ceará

Introdução

Dentre as descrições feitas da Guerra de Canudos (Como as de Franco (1898), Benício (1997), Nunes (in Galvão, 1974). A Guerra de Canudos foi estudada, em todo o século XX, por um universo de autores. As discussões que o conflito ainda alimenta, no plano sociológico e histórico, são, além de amplas, multifacetadas. Os trabalhos mencionados, no entanto, foram produzidos no momento da contenda, por repórteres do período. Seriam contemporâneos de Euclides da Cunha, sendo seus escritos amostras da diversidade de abordagens sobre o acontecimento) – conflito armado, que, em 1897, destruiu a cidade de mesmo nome (também conhecida como Belo Monte), no sertão da Bahia – a interpretação do escritor Euclides da Cunha (1866-1909), publicada sob a forma do livro Os sertões: campanha de Canudos, de 1902, ainda é a mais presente, a mais discutida nos meios literários e históricos (GALVÃO, 2002), a despeito das muitas críticas que sofre – críticas ao teor cientificista de seus argumentos, à linguagem erudita ou rebuscada de sua escrita, “à parcialidade de seu depoimento, à falta de tratamento profissional das fontes que usou e ao caráter datado ou contraditório de muitas de suas avaliações” (ZlLLY, 2002: 3). Essa interpretação divulga a violência do conflito e seus personagens centrais – os jagunços, os guerreiros canudenses – tanto como uma narrativa esteticamente organizada como na forma de uma observação com pretensões de objetividade científica, classificada até como um dos primeiros tratados de sociologia no Brasil (FERNANDES, 1977; SEVCENKO, 1983; SODRÉ, 1995).

Nesse contexto, onde a classificação do trabalho de Euclides da Cunha e mesmo de seu pensamento era e ainda é uma questão debatida (Como por Galvão (2002), Roland (1997), Sodré (1995), Coutinho (1995), Freyre (1987). Estes autores discordam sobre o estatuto de sua obra – analítica, fictícia ou permeada por ambos os mundos simbólicos. O debate sobre essa classificação ainda perdura nos círculos intelectuais de hoje), um termo merece destaque, por sua variabilidade no discurso deste pensador: civilização. Nos primeiros textos deste escritor a palavra “civilização” é citada como um conceito do qual não se escapa, como uma força histórica e como uma lei natural: “A civilização é o corolário mais próximo da atividade humana sobre o mundo; (...) o seu curso, como está, é fatal, inexorável” (CUNHA, 1995 [1888]: 587). Posteriormente, no entanto, n’Os sertões, em meio a sua visão analítica e literária, ela também se torna alvo de crítica, um conceito relativizado, tratado como uma imposição estrangeira, uma pressão exterior e estranha ao mundo nacional: “Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou desaparecemos.” (Idem, 1982 [1902]: 60; grifo meu). Até chegar, mais tarde ainda, no momento de definitiva consagração do escritor – sua posse na Academia Brasileira de Letras, em 1906 – carregado de uma ambigüidade sutil:

O qüinqüênio de 1875-1880 é o da nossa investidura um tanto temporã na filosofia contemporânea, com seus vários matizes, do positivismo ortodoxo ao evolucionismo no sentido mais amplo, e com as várias modalidades artísticas, decorrentes, nascidas de idéias e sentimentos elaborados fora e muito longe de nós.
A nossa gente, que bem ou mal ia seguindo com os seus caracteres mais ou menos fixos, entrou, de golpe, num suntuoso parasitismo. Começamos a aprender de cor a civilização: cousas novas, bizarras, originais, chegando, cativando-nos, desnorteando-nos, e enriquecendo-nos de graça.
(Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, 18 de dezembro de 1906. Retirado de www.academia.org.br em 13/12/2006).

O presente texto discute – sem se dedicar a grandes compilações e sem a pretensão de reconstruir longamente a história de um conceito – o “deslocamento” da palavra civilização nos escritos de Euclides. Façamos um passeio pelo front e pelas batalhas que sua linguagem recupera e observemos uma pequena parte de sua elaboração.

Escritor e Civilização

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em 1866, em uma fazenda do município de Cantagalo, província do Rio de Janeiro. Neto de traficante de escravos, filho de guarda-livros, pertencia a uma família então sem grandes patrimônios. Cursou engenharia na Escola Militar da Praia Vermelha, uma opção necessária já que não dispunha de recursos para custear os estudos na Escola Politécnica, instituição de formação civil. A educação militar, gratuita, que lhe direcionou para a carreira das armas, de onde se afastaria em 1896, já tenente, tinha forte influência de idéias positivistas e filosóficas, como lembra Carone (1980). Republicano convicto ainda nos tempos do Império, o jovem Euclides já escrevia artigos para o pequeno jornal O democrata e neles já mostrava suas posições políticas de crítica ao regime imperial. Mas, foi a Guerra de Canudos que tornara seu nome conhecido nos meios letrados do país. O jornal O Estado de São Paulo envia Euclides da Cunha como correspondente de Guerra para a frente de batalha, no interior da Bahia. Formado engenheiro civil, participa como testemunha e repórter dos eventos que viriam compor, nos cinco anos seguintes, seu livro mais conhecido: Os sertões.

A publicação da obra e a crítica positiva que ela recebeu de figuras consagradas nos meios eruditos, como o escritor José Veríssimo (CUNHA, 1995b), rendem a Euclides uma notoriedade súbita. Não demoraria e o engenheiro/escritor seria aceito na Academia Brasileira de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, instituições de forte prestígio intelectual já naqueles tempos da República Velha. Mas é preciso esclarecer que esse reconhecimento intelectual não mudou a realidade econômica de Euclides da Cunha. O autor, que sempre dividira seu tempo entre a vida de escritor e o ofício da engenharia (profissão que detestava), continuou a viver muitas dificuldades financeiras. Morreria em 1909, assassinado, no bairro da Piedade, pelo amante de sua esposa, o tenente Dilermando de Assis.

A idéia de civilização, associada a termos como “desenvolvimento” e “liberdade”, era bastante presente em parte do discurso intelectual da época, fruto de influências do pensamento europeu, (SEVCENKO, 1983). Era, ao mesmo tempo, criticada, no sentido de seu caráter estrangeiro, uma vez que este momento histórico era palco da luta intelectual pela construção de uma identidade nacional, empresa que se queria livre de fórmulas invasoras (idem, ibidem). O contexto do século XIX entendia como civilização a estrutura cultural e social do Velho Mundo, em particular a França, onde o termo fora cunhado (ELIAS, 1994b). No espectro do pensamento positivista e evolucionista, produzidos naquele universo, a civilização era o modelo de desenvolvimento para a humanidade. Quando as pressões por competição econômica e avanço das técnicas de produção chegaram com força ao Brasil Império, a civilização estava lá, na boca e nas mentes dos defensores do “progresso” (CARVALHO, 1998).

Para Norbert Elias (1994) civilização é um processo, um encadeamento de eventos, mudanças sociais e interiorizações, que se dirige, ao longo da história ocidental, para um maior controle social, um maior controle técnico do homem sobre a natureza e uma maior disseminação de autocontrole entre os indivíduos (ELIAS, 1994c). Esse processo estaria intimamente ligado a outros, como a ampliação da noção de “eu” provocada pela divisão social do trabalho (idem, ibidem) e uma integração política que ganhara novo ritmo com a formação dos Estados nacionais, nos fins da Era Medieval. (idem, ibidem). O processo civilizador como chama Elias, relacionado a essa série de outros processos sociais e históricos, nem sempre caminharia “para frente”, passando às vezes por recuos que se traduzem em seus contrários (crises políticas, desintegrações sociais, perda de controle social, aumento da violência no cotidiano).

O termo “civilização” teria origem na sociedade francesa dos fins da Idade Média (ELIAS, 1994b). Divulgada, ao longo dos séculos, como um sinônimo de nobreza, de superioridade cultural, de humanidade, tal palavra ganhou força e lugar em todo o mundo ocidental. Seu aspecto mais profundo era o de um conjunto de normas voltadas para a lógica de “domesticação” e controle dos hábitos humanos – formas “corretas” de vestir-se, de porta-se à mesa, de falar em público, etc. Ser “civilizado”, significava, no contexto europeu do período, obedecer a tais normas. Assim, ainda de acordo com Elias, a civilização se firmou como instrumento de distinção social tornando-se um dos processos mais ativos no correr da história. A despeito de seus “retrocessos” (Elias aponta a sociedade alemã da Segunda Guerra Mundial como um deles [1998]) a civilização (ou o “processo civilizador”, no jargão do autor) teria se relacionado com as transformações conjunturais do Ocidente e seria agora centro de sua História (ELIAS, 1994c).

No caso de Euclides da Cunha, as variações de seu pensamento, seu visível interesse no mundo sertanejo, juntamente com sua tentativa de abarcar conceitos aparentemente diferentes como filosofia, ciência e literatura, orquestraram uma construção conceitual importante: o autor se apropriava da idéia de civilização, tão alardeada nos círculos republicanos do período, como um termo e uma noção móvel, central no que toca seu lugar de observador de uma realidade associada comumente às suas antíteses: a “barbárie”, o desconhecido, o selvagem (POMPA, 2003). Os “singularíssimos civilizados” (como ele chama os soldados republicanos que atacaram Canudos [CUNHA, 1982: 437]) seriam “mercenários inconscientes” da civilização que avançava sobre os sertões. Mas, nos termos de Euclides, essa campanha, impulsionada por leis naturais nas quais ele acreditava, era também um crime pela destruição e morte causada (idem, ibidem). A mesma civilização como modelo de organização, como ordem social por excelência, era, para o autor, também produtora de violências.

O termo está presente na definição de Os sertões, na apresentação de seus objetivos:

Intentamos esboçar, palidamente embora, ante o olhar de futuros historiadores, os traços atuais mais expressivos das sub-raças sertanejas do Brasil. E fazêmo-lo porque a sua instabilidade de complexos de fatores múltiplos e diversamente combinados, aliada às vicissitudes históricas e deplorável situação mental em que jazem, as tomam talvez efêmeras, destinadas a próximo desaparecimento ante as exigências crescentes da civilização e a concorrência material intensiva das correntes migratórias que começam a invadir profundamente a nossa terra. (CUNHA, 1982: 16, grifo meu).

A presença constante da palavra nos textos do autor demarca as fronteiras do encontro cultural e político que Euclides vivia e que a Guerra, a seu modo, representava. Ela surge também nas descrições do canudense, do jagunço e atravessa a lógica do conflito-enredo:

O caso, vimo-lo anteriormente, era mais complexo e mais interessante. Envolvia dados entre os quais nada valiam os sonâmbulos erradios e imersos no sonho da restauração imperial. E esta insciência ocasionou desastres maiores que os das expedições destroçadas. Revelou que pouco nos avantajávamos aos rudes patrícios retardatários. Estes, ao menos, eram lógicos. Insulado no espaço e no tempo, o jagunço, um anacronismo étnico, só podia fazer o que fez - bater, bater terrivelmente a nacionalidade que, depois de o enjeitar cerca de três séculos, procurava levá-lo para os deslumbramentos da nossa idade dentro de um quadrado de baionetas, mostrando-lhe o brilho da civilização através do clarão de descargas.
Reagiu. Era natural. (Idem, ibidem, p 262, grifo meu).
A animalidade primitiva, lentamente expungida pela civilização, ressurgiu, inteiriça. Desforrava-se afinal. Encontrou nas mãos, ao invés do machado de diorito e do arpão de osso, a espada e a carabina. (idem, ibidem, p 405, grifo meu).

O tom aparentemente inconcluso do conceito, em Euclides, não implicava, portanto, em uma indefinição casual: está, como outras noções, coligado ao processo de elaboração intelectual que o autor realiza ao longo de sua vida como escritor e pensador. A civilização aqui é tanto a sociedade européia como os conjuntos nela inspirados, que, de um modo ou de outro, reordenavam seu espírito cultural. Aparece nos limiares de sua construção simbólica – a obra completa Os sertões –, como um artefato estético/literário gerador de reflexão: Euclides costurava a ciência – e muitas dos preconceitos – de seu tempo ao amplo conjunto de fatores singulares da realidade brasileira. No entanto, mais do que produzir um misto de ensaio analítico amparado pela ciência positivista ou uma peça de Literatura realista, o autor cruzou as classificações para expor suas experiências e impressões como testemunha da Guerra de Canudos, dando à idéia de civilização uma marcação de processo histórico não necessariamente positiva, não absolutamente pacificadora, hostil às existências das populações sertanejas:

Insistamos sobre esta verdade: a guerra de Canudos foi um refluxo em nossa história. Tivemos, inopinadamente, ressurreta e em armas em nossa frente, uma sociedade velha, uma sociedade morta, galvanizada por um doido. Não a conhecemos. Não podíamos conhecê-la. (...) essas psicoses epidêmicas despontam em todos os tempos e em todos os lugares como anacronismos palmares, contrastes inevitáveis na evolução desigual dos povos, patentes sobretudo quando um largo movimento civilizador lhes impele vigorosamente as camadas superiores. (idem, ibidem: 483, grifo meu).

O “movimento civilizador” de que nos fala o escritor brasileiro é uma viagem de mudança drástica, que ele muitas vezes interpreta como incontrolável, evolutiva, mas que não encara como ingênua, livre de conflitos e danos sociais – uma civilização-guerra, contada como uma história de guerra da civilização contra o mundo do Diferente.

A relevância da história deste conceito está ligada à importância de entendermos a civilização nos contextos atuais, onde ela é freqüentemente evocada. Em tempos onde a violência estampa o mundo do discurso no Brasil (representada e apresentada pela imprensa ou pelo cinema, por exemplo) a civilização é retomada como palavra de ordem, como noção que se quer recompor. Discuti-la no universo da literatura, acredito, é alargar o campo de visão do mundo social. Analisá-la nos textos de Euclides da Cunha não é procurar uma origem ou um “discurso fundador”, mas desnudá-la dentro de um símbolo construído pela história da crítica. Euclides da Cunha pode não ter sido o primeiro a abordar esta noção na língua portuguesa – a obra crítica de Eça de Queiroz, por exemplo, o precedeu nisto –, mas a centralidade de sua obra no palco da escrita – centralidade também social e historicamente construída pelos campos intelectuais brasileiros e estrangeiros – é suficientemente importante para o debate.

Euclides da Cunha encarna parte dos antecedentes intelectuais dessa representação social. Ele mescla preconceitos e eurocentrismos, mas esboça também uma crítica ao mundo não-brasileiro quando fala de civilização no Brasil. Sua obra oferece subsídios para repensarmos muitos conceitos, para que possamos manter o poder de reflexão de nossa memória política. Que civilização, material e simbólica, estamos construindo? De que civilização estamos falando?
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Nota do Blog: A Bibliografia do artigo pode ser encontrada no site da Revista mencionada nas fontes.
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Sobre o Autor do Artigo
Cearense, nascido em Fortaleza em 1982 e formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará há dois anos (2006). Atuou como pesquisador-estudante no Laboratório de Estudos da Violência (LEV-UFC) de 2004 a 2006. Realiza estudos na área de Sociologia da Literatura desde 2005, tendo como foco a obra do escritor Euclides da Cunha e a interpretação literária brasileira acerca do mundo sertanejo. Atualmente se dedica a escrita de dissertação de mestrado sobre tema correlato, apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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Fontes:
BENEVIDES, Mario Henrique Castro. Um Conceito de Civilização - Escritos de Euclides da Cunha. In Revista Espaço Acadêmico - N. 84 - Ano 7 - Maio de 2008 - Maringá: EDUEM.
Conheça o espaço no site http://www.espacoacademico.com.br/
Biografia fornecida pelo próprio autor, por e-mail.

http://www.cmcantagalo.rj.gov.br/ (foto de Euclides da Cunha)
http://www.cce.ufsc.br/ (imagem de Os Sertões)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Charles Dickens (O espectro)

— Olhe cá, ouça!

Quando falou assim a voz que o chamava, estava de pé, à porta de sua casinha, empunhando a bandeirola, que conservava enrolada no pauzinho que desempenhava as funções de haste.

Era tal a configuração do terreno que não parecia possível que pudesse ter dúvida sobre a procedência da minha voz. Contudo o homem, longe de erguer os olhos para o lugar em que me achava, à borda da trincheira, precisamente sobre a sua cabeça, deu meia volta e olhou em direção à vila.
— Olhe cá, ouça!

Só então deixou de esquadrinhar a linha. Girou de novo sobre os calcanhares e deitando a cabeça para trás distinguiu-me por cima do seu observatório.
— Há algum caminho que me permita descer até aí para travarmos conversação um pouco mais de perto?

Houve uma pausa, então. O homem examinava-me com profunda atenção. Por fim, apontou-me com a bandeirola um ponto situado a duzentas ou trezentas toesas à esquerda.
— “All right!” Muito bem! — exclamei.

E dirigi-me ao lugar indicado. Lá, depois de muito olhar em torno de mim, descobri um estreito caminho, toscamente talhado em ziguezague e comecei a segui-lo.

A trincheira era funda em extremo. Estava talhada a pique sobre um bloco de pedra e, à medida que se descia, diminuía a consistência da pedra, ao passo que a umidade aumentava proporcionalmente. Vi-me obrigado a serpentear. Durante minhas voltas e reviravoltas não me saíam da memória o jeito indeciso e a rara timidez que havia notado no pobre homem quando se decidiu a indicar-me o caminho.

Concluídos os rodeios, tornei a contemplá-lo da vertente e pude observar que permanecia na via que dera passagem ao último comboio. Sua atitude permitia afirmar que estava à minha espera.

Encostava o queixo na palma da mão esquerda, enquanto o braço correspondente procurava apoio no direito que tinha cruzado ao peito; e era tão singular a sua expectativa, refletia tanta ansiedade que parei por um pouco, cheio de surpresa.

Continuei descendo até chegar ao terrapleno e então pude contemplar, à vontade, a cútis morena, a barba negra e as sobrancelhas espessas da minha estranha personagem.

Sua casita ocupava o lugar mais solitário e triste da via férrea. De cada um dos lados erguia-se um muro pedregoso que vertia água e impedia o olhar de espraiar-se pela imensidade do céu, de que só se distinguia uma faixa estreita.

E não eram mais alegres as perspectivas da estrada. De um lado via-se a prolongação tortuosa desse grande cárcere; de outro, ainda mais limitado, o que atraía os olhares era uma luz de vermelho sinistro, situada sobre a abertura de um túnel sombrio, cuja estrutura maciça oferecia um aspecto grosseiro e repulsivo. Os raios solares ali chegavam minguados e amortecidos; respirava-se um cheiro subterrâneo. Um vento fúnebre que me gelou o sangue nas veias soprava daquela boca escura... Estremeci. Apossou-se de mim a idéia de que já não estava no mundo dos vivos.

O interpelado permanecia fixo no mesmo lugar. Cheguei-lhe ao lado; consegui tocar-lhe; mas perseverou indefinidamente na sua primitiva imobilidade. Enquanto não parei, permaneceu quieto em seu lugar. Depois, retrocedeu um passo e levantou a mão; mas não tinha deixado um só instante de assestar nos meus olhos o olhar desvairado dos seus.
— É bem solitário este posto — disse-lhe eu. — Já lá de cima, quando o descobri, foi o que me pareceu. Poucas visitas terá por aqui, não é verdade? mas nem por isso elas lhe serão desagradáveis... Pelo menos, é o que me parece! Sou um sujeito cuja vida decorre entre horizontes bem limitados. Por fim consegui alcançar a liberdade e minha curiosidade arrasta-me, apaixonadamente, ao exame cuidadoso das grandes construções ferroviárias. Tais investigações, inteiramente novas para mim, satisfarão minha ignorância com a maior precisão.

Disse-lhe aproximadamente essas palavras. Estou longe de reproduzi-las com absoluta fidelidade. Nunca fui muito forte na arte de entabular conversações e nessa ocasião, menos do que nunca, pois o interpelado tinha certa expressão pouco tranqüilizadora, que me infundia medo.

Voltou-se, para registrar, com exagerada solicitude o lugar em que permanecia fixa a luz vermelha que só alumiava as proximidades do túnel, como se fizesse pouco caso dos outros objetos naquelas ermas paragens.

Por fim, dirigiu-me novamente o olhar.
— Está também a seu cargo a vigilância e cuidado desse sinal? — perguntei-lhe.

Respondeu, em voz calma:
— O quê! Pois não sabia?

Era tão insistente a fixidez do seu olhar e tão intensa a sombra que lhe escurecia o rosto, que me cruzou pela mente uma suspeita singular.

Devia considerar como a um homem aquele ser que estava diante de mim? Não seria um fantasma? Mais tarde pensei que devia sentir-me contagiado pelo seu aspecto. Coube-me então a vez de retroceder um passo. Isso provocou no desgraçado os sinais mais inequívocos de terror. Eu lhe metia medo. Esta descoberta pôs fim às minhas suspeitas extravagantes.
— O senhor me olha — disse-lhe com um sorriso forçado — como se eu lhe fizesse medo.
— Parece-me que já o vi antes.
— Onde?

Indicou com a vista a luz vermelha.
— Ali? — perguntei-lhe.
— Sim — respondeu num gesto mudo de assentimento e sem tirar de mim os olhos ansiosos.
— Mas, bom homem, que é que eu poderia ir fazer ali? Ainda que isso fosse possível, creia que isso nunca me ocorreu e que nunca, em toda minha vida, pus os pés naquele lugar. Posso jurá-lo — disse; — estou bem certo disso e posso jurá-lo.

Por fim, pareceu que estas palavras tinham desfeito o gelo entre nós.

Daí em diante, respondeu com desembaraço às minhas perguntas.

Fez-me entrar na sua casinha, onde tinha um fogão, uma estante para o registro do serviço, um livro em que se estampava determinadas observações e um aparelho telegráfico composto de um mostrador com setas indicadoras e uma campainha de chamada.

O digno e excelente homem ter-me-ia merecido o conceito de empregado competentíssimo nas suas funções se não tivesse suspendido por duas vezes suas respostas, empalidecendo, para olhar para a campainha (que, no entanto, permanecia muda, nesses momentos), e não tivesse aberto a porta de sua vivenda (fechada unicamente para evitar a insalubre umidade), desejoso de olhar de fora a chama vermelha da entrada do túnel.

De ambas as vezes acompanhou o seu regresso para junto do fogão com aquele gesto inexplicável que lhe havia observado, sem poder defini-lo, quando nos olhamos a distância, eu, das minhas alturas, ele, das suas profundidades.
— Alegro-me de acreditar — disse-lhe, ao levantar-me para partir — que encontrei aqui um homem satisfeito com a sua sorte.

Era intenção minha induzi-lo a fazer-me qualquer comunicação.
— Sim, realmente, foi assim em outros tempos — respondeu — mas agora — acrescentou com essa voz apagada que havia empregado antes — estou inquieto, senhor: a inquietação me devora.

Teria querido, talvez retirar as suas palavras, mas já era impossível. Estavam irremissivelmente pronunciadas.

Aproveitei-me delas imediatamente.
— Por quê? Qual a causa da sua inquietação?
— É muito difícil explicá-la, cavalheiro; custa-me indizivelmente falar deste assunto. Se o senhor tornar a visitar-me de novo, tentarei expandir-me.
— Acredito! Desejo vivamente voltar. Quando quer que eu apareça?
— Abandono este posto muito cedo, mas às dez horas da noite estarei de volta.
— Virei amanhã às onze.

Agradeceu-me e acompanhou-me até à porta.
— Porei à vista a minha luz branca — disse-me surdamente, conforme o seu costume — até que o senhor acerte com o caminho. Quando o encontrar, não grite, e ao regressar, quando se encontre no ressalto da trincheira, não o faça também.

As maneiras e o som da sua voz pareciam-me aumentar o aspecto glacial daquele lugar. Limitei-me a responder-lhe:
— Muito bem.
— Não se esqueça — continuou. — Quando vier amanhã à noite, não há necessidade de fazer barulho. Permita-me uma pergunta, para terminar. Por que gritou esta noite: “Olhe cá, ouça!”.
— Garanto-lhe que não sei. Mas, realmente, disse algo parecido com isso.
— Algo parecido, não, foi isso que disse. Conheço perfeitamente esse modo de chamar.
— Oh! não digo que não. Fiz assim simplesmente porque o avistava aqui no fundo.
— Só por esse motivo?
— Que outro poderia ser?
— Não lhe pareceu que alguém lhe ditava essas palavras: que obedecia, de certo modo, a uma influência sobrenatural?
— Não.

Deu-me boa noite e foi-me alumiando o caminho com a lanterna. Continuei andando ao longo da via férrea, fora dos trilhos, sob o peso de uma impressão desagradável. Parecia que tinha um comboio ao meu encalço... Achei finalmente o caminho. Foi-me fácil a subida e acabei por chegar à minha hospedaria, sem nenhum embaraço.

Veio a noite seguinte. Fiel à minha entrevista, punha o pé no primeiro degrau da encosta em ziguezague, ao bater das onze, que se ouvia ao longe.

O homem se achava ao pé da trincheira, espreitando a minha chegada com o seu farol branco ao alto.
— Não murmurei meia palavra — disse, ao chegar junto dele. — Posso falar agora?
— Sem dúvida, cavalheiro!
— Pois então boa noite. Venha de lá um aperto de mão.
— Boa noite, senhor. Aí vai.

Depois do cumprimento, dirigimo-nos, caminhando um ao lado do outro, para a casinhola. Entramos e sentamo-nos junto ao fogo.
— Não vou permitir que se incomode, cavalheiro (começou a dizer, inclinando-se e com voz imperceptível como um suspiro), perguntando-me novamente o motivo do meu desassossego. Ontem à tarde confundi-o com outra pessoa. Era esse o motivo da minha inquietação.
— Aborrece-o esse engano?
— Não é que o senhor me perturbe. O outro é que..
— Quem é esse outro?
— Não sei.
— Parece-se comigo?
— Também não sei. Nunca lhe vi o rosto. Esconde-o com o braço esquerdo, enquanto move rapidamente o direito, assim; veja.

Reparei na sua pantomima muda. Era uma série de gestos descompostos, que queria exprimir, de um modo veemente, convulsivo e apenas com um braço, esta frase: “Pelo amor de Deus! Saia do caminho!”
— Numa noite de luar — acrescentou o homem eu estava aqui, no lugar em que o senhor está agora, quando ouvi uma voz gritando: — Olhe cá, ouça! — Corri para fora. O outro estava de pé, junto ao sinal vermelho, gesticulando como lhe mostrei ainda agora. Estava rouco à força de gritar: Olhe, cuidado, cuidado! Não se calava nem por um segundo. Repetia sem descanso: Olhe, cuidado, cuidado! — agarrei o farol e corri para o homem, perguntando-lhe: — Que aconteceu? É um aviso ou um acidente? Em que lugar? — Parei a dez passos da entrada do túnel; fiquei tão perto dele que percebi, assombrado, que o desconhecido escondia o rosto com o braço esquerdo. Segui direito para ele, estendi a mão para descobrir-lhe o rosto; mas de repente, antes que o conseguisse, desapareceu.
— Pelo túnel? — perguntei.
— Não senhor. Percorri-o em toda a sua extensão de quinhentos metros; parei; levantei o farol em todas as direções; vi perfeitamente os números das cotas do nível e as indicações quilométricas escritas na parede. A umidade deslizava como azeite ao longo das pedras e gotejava pela abóbada; mas, nem sombra de ser humano! Voltei, então, sobre meus passos, mais rapidamente que na ida, porque me inspiravam horror mortal esses lugares. Depois de ter revistado minuciosamente os arredores da luz vermelha, sem abandonar um minuto o meu farol regulamentar, subi até o sinal. Nada! Desci de novo e fui telegrafar. Fi-lo por duas vezes. — Alarma. Que está acontecendo? — E de ambas as vezes me transmitiram a resposta costumeira: — Sem novidade.

Enquanto o guarda-chaves falava, parecia-me que um dedo gelado me percorria lentamente a espinha. Resisti quanto pude a essa sensação, esforçando-me por dar a entender ao infeliz que semelhante aparição fora o resultado de uma ilusão de ótica e que aquele grito imaginário podia bem ter sido causado pelo ruído do ar ao chicotear os fios do telégrafo ou ao chocar-se com as altas paredes, arrancando ao silêncio da noite as suas notas lúgubres de harpa eólia.

Deixou-me acabar, movendo a cabeça, mas sem dar sinais de impaciência.

Depois, ao cabo de alguns instantes, observou-me que conhecia perfeitamente o ruído dos fios vibrados pelo impulso do vento. Ninguém era como ele tão capaz de distingui-lo, pois tinha passado ali, sozinho, em vigília, muitas, muitíssimas intermináveis noites de inverno.

Disse-me, além disso, que não tinha acabado ainda sua narração.

Pedi-lhe que me perdoasse a interrupção; e ele, então apoiando suavemente a mão no meu braço esquerdo, prosseguiu lentamente:
— Seis horas depois da aparição ocorreu um desastre memorável na via; e, ao cabo de outras duas, retiraram os mortos e feridos do túnel, depositando-os no mesmo lugar em que tinha visto o fantasma.

Estremeci, da cabeça aos pés. Contudo, consegui dominar-me.
— Certamente — disse-lhe — não há dúvida de que houve uma coincidência notável, capaz de impressionar profundamente a sua imaginação. Mas é igualmente exato, que muito freqüentemente ocorrem casos parecidos.

Observou-me novamente que ainda não terminara.
— O que lhe contei — prosseguiu pondo-me outra vez a mão no braço e dirigindo-me por cima do ombro um olhar insistente — ocorreu há um ano já. Seis ou sete meses depois, quando não havia voltado a mim ainda da minha surpresa, nem me achava reposto da passada emoção, uma madrugada, ao amanhecer, achando-me no interior da minha barraca, olhando para a luz vermelha, tornei a ver o espectro.

Guardou silêncio por um pouco e cravou em mim o seu olhar.
— Vamos a ver, ocorreu algum outro acidente depois dessa ressurreição?

Tocou-me várias vezes com a ponta dos dedos, movendo sempre a cabeça com uma lentidão de espectro que me gelava o sangue nas veias.
— Naquele mesmo dia, cavalheiro — continuou — à passagem de um trem que saía do túnel, observei num compartimento movimentos descompostos de mãos, de cabeças... numa palavra, uma agitação extraordinária. Dei sinal de parada; o maquinista deu imediatamente contravapor e apertou os freios; o trem, contudo, andou ainda cem ou cento e cinqüenta metros. Deitei a correr e ouvi, efetivamente, gemidos e lamentos desesperados. Uma linda mulher tinha sido assassinada num vagão. Trouxeram-na ao meu posto e deixaram-na aqui onde conversamos agora.

Involuntariamente, puxei minha cadeira para trás e não tirei dele os olhos.
— Cavalheiro, esta é a pura verdade. Conto-lhe o acontecimento com toda a precisão.

Já não conseguia falar nem pensar. Fora, o vento e os fios do telégrafo ajuntavam ao horror da narração o acompanhamento de sua voz lastimosa e prolongada. E o homem concluiu:
— Julgue o senhor se posso ter ânimo sereno; há uma semana reapareceu a visão e, de então para cá, não deixou de apresentar-se diante dos meus olhos, de quando em quando.
— Na luz vermelha?
— Sim, no sinal de perigo.
— E o que faz ali?
— Mais veementemente ainda, se é possível, repete os gestos de angústia, como que dizendo: Pelo amor de Deus, saia do caminho.
— Já conhece agora — acrescentou — a causa do meu desassossego. Não tenho trégua nem descanso. O desconhecido me chama por vários minutos consecutivos, empregando sempre o seu grito desesperado: Ouça cá, cuidado! — Agita o braço e dá alarma com a campainha...

Ao ouvir estas palavras, interrompi-o:
— Diga-me o senhor se a campainha tocou ontem à tarde, quando me aproximava daqui, à hora em que o senhor saiu.
— Duas vezes.
— Duas vezes? — repliquei. — Isso prova o quanto a sua imaginação está desorientada. Eu era todo olhos e ouvidos; pois bem, tão certo como eu estar vivo, a campainha não tocou essas duas vezes. Não, nem tocou dessa vez nem das anteriores, está claro que toca, mas quando se comunicam com o senhor dos postos vizinhos.

Meneou a cabeça.
— Não me engano nisso, cavalheiro — replicou. — Nunca confundi a chamada do fantasma com a de meus companheiros. A vibração daquela é especial, não se transmite pelos fios. Não digo que ele toque a campainha; mas que soa, não há dúvida. Não há nada de singular em que o senhor não a tenha ouvido. Eu, por minha parte, ouvia-a exatamente como a ouço sempre: muito bem.
— E quando saiu para fora, viu a aparição?
— Vi.
— As duas vezes?
— As duas — afirmou, com plena convicção.
— Quer sair comigo e olhar agora?

Mordeu os lábios, mas levantou-se.

Abri a porta, detendo-me um momento no limiar. Meu interlocutor ficou a alguma distância. Tudo permanecia no seu respectivo lugar: a luz do sinal, a abóbada do túnel, a parte enorme impregnada de umidade... tudo permanecia o mesmo, à luz das estrelas. — Vê qualquer coisa de anormal? — perguntei, fixando-lhe atentamente o rosto. — Tinha os olhos muito abertos, talvez não tanto como os meus, que ergui, ao mesmo tempo que ele, na direção temida.
— Não — respondeu — não vejo nada.
— Bem — disse eu. — Estamos de acordo!

Entramos novamente e tomamos lugar junto ao fogo. Pensava eu em como tirar melhor partido do bom êxito obtido, se assim podia chamar-se o resultado negativo de nossa inspeção ocular, quando o nosso homem reatou a sua narrativa no mesmo ponto em que a havia interrompido, convindo na afirmação de que os fatos repetidos, objeto de nossa narrativa, não podiam seriamente constituir base para um alarma. Foi um novo embaraço para mim.
— Isso aumenta, cavalheiro, a espantosa confusão em que me acho. Não cesso de perguntar-me: o que quererá anunciar o fantasma?
— Não sei — disse — se compreende claramente...
— Contra que risco vou prevenir-me? — continuou dizendo com ar pensativo, cravando o olhar ora no fogão, ora em mim. — Que perigo está ameaçando? Onde acontecerá? Porque, sem dúvida nenhuma, está-se aproximando da linha um perigo qualquer. Uma terceira desgraça nos ameaça... quem poderá negá-lo, dados os precedentes dos fatos anteriores! Assim, ao que parece, o senhor me julga meio doido! Posso, acaso, evitá-lo? Que devo resolver? Que fazer?

Tirou o lenço e enxugou o suor da fronte.
— Se telegrafo para baixo ou para cima, ou em ambos os sentidos, que fundamento posso alegar? acrescentou, enxugando as palmas das mãos como tinha enxugado a fronte momentos antes. — Só criarei confusão, a mesma que experimento eu, sem vantagem nenhuma em favor do próximo. E hão de julgar-me louco... Veja o senhor! dar-se-ia o seguinte. Telegrama: “Perigo, atenção.” Resposta: “Que perigo? Onde?” Telegrama: “Não sei; mas pelo amor de Deus, estejam de sobreaviso.” Despedir-me-iam do emprego. Poderia suceder outra coisa?

Causava dó a agitação do infeliz. Ao vê-lo assim entendi que, por uma questão de caridade e por assim o exigir a segurança do público, o que havia a fazer, em primeiro lugar, era acalmar o pobre homem. Deixando, pois, para outra ocasião discutirmos se era real ou ilusória essa necessidade, procurei persuadi-lo de que todo empregado fiel e perito no cumprimento de seus deveres procede sempre corretamente e que, tendo ele perfeita consciência de sua obrigação, devia ficar tranqüilo e sem inquietar-se pelo inexplicável das aparições. Minha tática deu melhor resultado que a oposição às suas supersticiosas convicções. Acalmei-o. As exigências do serviço e os incidentes próprios de tais ocasiões reclamavam-lhe todo cuidado. Eram duas horas da madrugada. Deixei-o então, não sem haver-me oferecido antes para ficar em sua companhia até o amanhecer, mas ele não consentiu nisso.

No dia seguinte, estava tão linda a tarde que me apressei a sair, depois do jantar, para aproveitar-lhe a beleza. Ia caindo o sol quando tomei o caminho que, através dos campos, levava até à encosta que dava acesso à via férrea. “É questão de mais uma hora”, pensei. “Em trinta minutos chegarei até ali e em outros trinta terei regressado do meu passeio, que não terá durando grande coisa. Conto falar com o meu guarda-chaves no momento mais propício.”

Antes de terminar o meu caminho, assomei ao parapeito da trincheira e olhei maquinalmente para o fundo, exatamente no mesmo lugar em que interpelei, pela primeira vez, tão estranha personagem. Como descrever o sentimento de horror que me petrificou ao observar que um ser homem ou fantasma, colocado rente à entrada do túnel, agitava vivamente o braço direito, enquanto com o esquerdo escondia o rosto! O indizível espanto que esta visão me produziu durou um momento só; pois não demorei em ver que não era ilusão nenhuma, como o dava a entender um grupo de indivíduos, aos quais se dirigia a personagem que primeiro avistei; esta, naturalmente, com os seus gestos, pretendia explicar-lhes o acontecido. Ainda não se percebia o luzir vermelho do sinal. Divisava vagamente do lado do poste uma espécie de barriquinha construída com espeques de madeira e uma tela de lona embreada. O seu vulto não era maior que uma cama pequena.

O rápido pressentimento de uma desgraça cruzou-me pela mente. Corri para a vereda em ziguezague e desci por ela, com toda a precipitação que pude.
— Que aconteceu? — perguntei.
— Um guarda-chaves, cavalheiro, que foi morto esta manhã.
— Não será o desta casinha?
— Sim, senhor.
— Aquele que eu conhecia?
— Fácil lhe será reconhecê-lo — disse o homem que respondia às minhas perguntas.

Tirou gravemente o chapéu e levantando uma ponta da tela:
— Não está desfigurado — acrescentou.
— Deus meu! Mas como aconteceu a desgraça? Que se passou aqui? — Repeti, indo de um lado para outro, apenas caiu o negro sudário.
— Cavalheiro, a máquina o feriu. Ninguém conhecia nem desempenhava melhor suas obrigações; mas hoje, sabe-se lá por quê? não soube acautelar-se. Era já dia claro; trazia ainda o farol aceso. Um trem saía do túnel; o guarda estava ali, de costas. Foi derrubado. É este o maquinista. Ele lhe dirá o que aconteceu, com todos os pormenores... — Tom, dê a este cavalheiro todos os detalhes...

O maquinista, foi até a boca do túnel.
— Vou explicar-lhe como se passou, cavalheiro. Da curva que faz a via, ali dentro, vi o guarda-chaves junto à saída como se vê um homem por um binóculo. Não havia tempo para apertar os freios; mas não me inquietei por isso. Tive-o sempre por homem cauteloso. Contudo, como me pareceu que não o preocupava o silvo da locomotiva, soltei vapor... Estávamos já em cima dele... Chamei-o com toda a força dos pulmões.
— Que foi que o senhor disse?
— Gritei: “Olha lá! Oh! Oh! Fuja, fuja! Saia da linha!”

Estremeci.
— Ah, senhor! Foi um rude transe! Não parei de chamá-lo. Ocultei o rosto com este braço e nem um momento deixei de agitar nervosamente o outro. Nada consegui!

Assim terminou, com essa morte trágica, tão extraordinária aventura, cujo mistério jamais consegui decifrar.

Fonte:
As obras-primas do conto universal. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1942.
http://paginas.terra.com.br/arte/ecandido/mestr131.htm

Colóquio Sobre Padre Antonio Vieira

Em São Paulo, Brasileiros e portugueses em Colóquio sobre Pe. Antonio Vieira

Entre os dias 22 e 23 de abril, o Memorial da América Latina em São Paulo sediou o Colóquio Internacional "400 anos de Pe. Antônio Vieira, Imperador da Língua Portuguesa".

As comemorações estenderam-se até o dia 24, em colóquio na Casa de Portugal de São Paulo, em conjunto com o Encontro Cultural de Língua Portuguesa, e dia 26, marcado pela apresentação do Coral Baccarelli no Salão Nobre do Hospital Beneficência Portuguesa São Paulo.

Aberto pelo presidente do Memorial, Fernando Leça, o colóquio contou com especialistas brasileiros e portugueses, como o advogado e professor Dr. Ives Gandra Martins e o escritor Antonio Machado. Para tanto, os conferencistas abordaram a vida e obra do padre sob diversas perspectivas, entre outros temas como lusofonia, Fernando Pessoa e José Saramago, e a vinda da corte portuguesa ao Brasil.

Entre os participantes, estiveram os professores Tereza Rita Lopes, da Universidade Nova de Lisboa, Carlos Carranca, da Escola Superior de Teatro - Portugal, e o historiador Hernâni Donato, além do coordenador acadêmico do evento João Alves das Neves, presidente do Centro de Estudos Fernando Pessoa.

O professor Neves destacou a importância e a influência do jesuíta na formação e no estilo de grandes escritores da língua portuguesa ao longo do tempo. O próprio Fernando Pessoa, por exemplo, considerava Vieira o “imperador da língua portuguesa”.

A professora Regina Anacleto, da Universidade de Coimbra, apresentou a palestra “A Arte no Tempo de Vieira”, discorrendo sobre a criação dos primeiros colégios jesuítas e franciscanos em Portugal e no Brasil. Segundo ela, a arquitetura e a arte portuguesa no tempo de Vieira estava a meio caminho entre o Renascimento e o Barroco.

Um dos destaques da noite foi a apresentação do grupo A Quatro Vozes. Com percussão e cordas, o grupo executou repertório indo de “Kuenda”, composição do séc. XVII, época de Vieira, à “Cantiga do Pastor” do grupo contemporâneo português Madredeus, passando por “Araruna”, tema indígena recolhido por Marlui Miranda, “Vila Rica”, composição de Lula Barbosa que alude à barroca Minas Gerais, e terminando com “Planeta Sonho” de Cláudio Venturini.

Imperador da Língua

Para relembrar o escritor português e sua obra nos seus 400 anos, diversos eventos estão sendo promovidos durante este ano em algumas capitais brasileiras. Nascido em Lisboa em 6 de fevereiro de 1608, o padre Antônio Vieira veio para o Brasil aos seis anos, onde estudou e missionou durante a maior parte da sua vida; escreveu cerca de 200 sermões e mais de 500 cartas.

Destacou-se, não somente como literato, mas no campo da política e economia. Defendeu o direito dos “cristãos-novos” (judeus que eram obrigados a adotar a religião católica para fugir da inquisição) de permanecer em terras portuguesas numa época marcada pela intolerância. Era também contra a escravização indígena.

Fernando Pessoa refere-se a ele em seu livro “Mensagem” como o “Imperador da Língua Portuguesa”. Sua obra tem como característica marcante o jogo de conceitos por meio do uso do raciocínio lógico e da retórica aprimorada. Padre Antônio Vieira morreu aos 89 anos, na Bahia.

Presenças

Os eventos contaram ainda com Raul Francisco Moura, escritor e museólogo no Rio, Carlos Francisco Moura, escritor e arquiteto da Real Gabinete Português de Leitura, e professores José Eduardo Franco, da Universidade Lusófona - Lisboa, Maria Beatriz Rocha-Trindade, da Universidade Aberta de Lisboa, e Teodoro Koracakis, da Universidade Estadual do Rio, escritoras Rita de Cássia Alves e Dalila Teles Veras, e pesquisador Teodoro Antunes Mendes Tamen.

Outros nomes participantes foram professores Paulo de Assunção (USJT/ Unifai/ Inicapital e FAENAC), Beatriz Alcântara (Universidade Estadual do Ceará), Odete da Conceição Dias (Universidade Ibirapuera), Márcia Arruda Franco, Flavio Vichinski, Anísio Justino da Silva Filho, Vera Helena Amatti, Luiz Antônio Lindo, Cristiane Prando Martini Simeoni e Eduardo Navarro (da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP).

O evento teve apoio Fundação Calouste Gulbenkian, Biblioteca Nacional de Portugal, Real Associação Portuguesa de Beneficência, Numatur Turismo e Banco Banif, Secretaria de Estado da Cultura.
.
Fonte:
Jornal Mundo Lusíada
http://www.mundolusiada.com.br/

O Nosso Português de Cada Dia (Palavras e Expressões que Apresentam Dúvidas)

A / HÁ (em função do espaço de tempo).
A (preposição): "Ela voltará daqui a meia hora." (tempo futuro)
(verbo HAVER): "Ela saiu há dez minutos." (tempo decorrido)

A PAR / AO PAR
A par:
Significa "bem informado", "ciente"
Exemplo:
Estou a par da situação.

Ao Par:
Indica relação de equivalência ou igualdade entre valores financeiros.
Exemplo:
Algumas moedas mantêm o câmbio praticamente ao par.

AONDE / ONDE / DE ONDE.
Aonde: com verbos que indicam movimento, um destino, como o verbo IR.
Exemplos:
Aonde você vai?
Aonde você quer chegar?

Onde: com verbos que indicam permanência, como o verbo estar.
Exemplos:
Onde você está?
A casa onde moro é muito antiga.

De Onde ou Donde: com verbos que indicam procedência.
Exemplos:
De onde você saiu?
Donde você surgiu?

AS PARTÍCULAS "ATÉ" E "NEM".
"Até" é uma partícula que traz a idéia de inclusão.
Exemplo:
Até o diretor estava presente no show dos alunos.

"Nem" deve ser usado quando houver idéia de exclusão.
Exemplo:
"Nem mesmo os jornalistas credenciados puderam entrar no camarim da Madona."

BASTANTE / BASTANTES.
Esta palavra, que originalmente é um advérbio, somente varia em número (singular ou plural) quando empregada como pronome adjetivo para concordar com o substantivo que a acompanha.
Exemplos:
Os candidatos estavam bastante (advérvio) confiantes.
Aquela livraria possui bastantes (pronome) livros raros.

Bastante é palavrinha bivalente. Ora é advérbio; ora, pronome indefinido. Como advérbio, ela se mete na vida de verbos, adjetivos ou dos próprios advérbios. Fica invariável. Não quer saber de plural:
Estudei bastante.
Trabalho bastante.
Maria anda bastante.
Diana era bastante querida.
Maria é bastante crescidinha para saber distinguir entre o bom e o mau.
Depois do tombo, o garoto ficou bastante mal.

Macete: o advérbio é sempre substituível por muito. Assim, sem plural.
Estudei bastante (muito).
Diana era bastante (muito) querida.
Depois do tombo, o garoto ficou bastante (muito) mal.

Como pronome, o bastante acompanha o substantivo. E concorda com ele.
É substituível por muitos ou muitas:
Tenho bastantes (muitos) amigos.
Recebeu bastantes (muitos) foras ao longo da vida.
Teve bastantes (muitas) oportunidades na vida.

HAJA VISTO ou HAJA VISTA?
Deve-se empregar a expressão "haja vista", já que a palavra "vista", neste caso, é invariável. Haja vista significa "por causa de, devido a, uma vez que, visto que, já que, porque, tendo em vista". Compare: quando se usa a expressão "tendo em vista", ninguém diz "tendo em visto". Então, não esqueça: haja vista = tendo em vista.
Exemplos:
Haja vista o grande evento deste domingo.
Haja vista os concursos deste ano.

HUM / UM.
Em português, o numeral é "um", e não "hum". "Hum" é interjeição: palavra ou expressão usada para expressar uma reação (dor, alegria, espanto, irritação, admiração, etc).
Exemplos:
"Comprei um relógio de ouro para dar à minha namorada."
"Hum... você deve estar mesmo muito apaixonado!"
Observação: Assim também, o extenso de R$1.000,00 não é nem "um mil reais", nem "hum mil reais". É "MIL REAIS".

MAS / MAIS
Mas: indica idéia contrária.
Conjunção adversativa, equivalendo a "porém"
Ex.: Fui, mas não queria ir.

Mais:
a) Pronome:
Exemplo:
Há mais meninos do que meninas na sala.

b) Advérbio de intensidade
Exemplo:
Não fale mais!

MAL / MAU
Mal:
a) Advérbio (opõe-se a "bem")
Exemplo:
Ele agiu mal

b) Substantivo (opõe-se a "bem")
Exemplo:
Ele só pratica o mal.

c) Conjunção, indicando tempo
Exemplo:
Mal cheguei, você saiu.

Mau:
É adjetivo
Exemplo:
Quem tem medo do lobo mau?

MEIO / MEIA.
Meio: Como advérbio, modifica o adjetivo com o qual se relaciona, sendo invariável; equivale à "um tanto", "um pouco".
Exemplos:
Os alunos estavam meio cansados.
Daniela ficou meio preocupada com a sua viagem de avião.

Meio: como numeral fracionário adjetivo, sofrerá as flexões de gênero e número, concordando com o substantivo ao qual se refere e que geralmente vem depois dele.
Exemplos:
Pegue aquela meia garrafa de vinho e encha meio copo para mim.
Ela só sabe dizer meias verdades.
Nossa reunião ficou marcada para meio-dia e meia (MEIA por causa
da concordância com HORA que está implícita na expressão.)

A palavra "MEIO" pode ainda se apresentar como um substantivo, significando "MANEIRA, MODO, CAMINHO". Neste caso, ela sofrerá apenas a flexão de número, pois sempre será empregada no masculino.
Exemplos:
Acho o metrô o melhor meio de transporte de massa.
"Os fins justificam os meios." (Maquiavel)

NA MEDIDA EM QUE / À MEDIDA QUE
Na medida em que:
Equivale a "porque", "já que", "um vez que", exprimindo relação de causa.
Exemplo:
Na medida em que a prefeitura não faz nada, a população carente sofre.

À medida que:
Equivale a "à proporção que"
Exemplo:
À medida que escurecia, crescia o meu medo.

QUE / QUÊ
Que: monossílabo átono
Pode ser:
A - Pronome:(O) que você faz aqui?
B - conjunção:Pedi que ele viesse
C - partícula expletiva:Quase (que) morri de susto.

Quê: monossílabo tônico
Pode ser:
A - pronome no final da frase, antes de ponto (final, interrogação ou exclamação) ou reticências.
Você precisa de quê:
B - substantivo (= alguma coisa, certa coisa)
Ele tem um quê de especial.

POR QUE

Por que : tanto nas orações interrogativas diretas quanto nas indiretas.
Exemplos:
Por que você fez isso?
Quero saber por que você fez isso.
Por que você não foi à festa?
Gostaria de saber por que você não foi à festa.

O "QUE" pode ser ainda um pronome relativo, podendo ser substituído por "O QUAL", "A QUAL", "OS QUAIS", "AS QUAIS".
Exemplos:
A razão por que (pela qual) não fui à sua festa, você logo saberá.
"Só eu sei as esquinas por que (pelas quais) passei."
É um drama por que (pelo qual) muitos estão passando.

Observação: também quando houver a palavra "motivo" antes, depois ou subentendida.
Exemplos:
Desconheço os motivos por que (pelos quais) a viagem foi adiada.
Não sei por que motivo ele não veio.
Não sei por que (por que motivo) ele não veio.

Por quê: seguido de um sinal de pontuação forte (pontos de interrogação, de exclamação, final, reticências).
Exemplos:
Você vai sair a esta hora da noite por quê?
Ele não viajou por quê?
Se ele mentiu, eu queria saber por quê!
"Mãe, preciso de cem reais?"
"Por quê?"

PORQUE
Porque: equivale à "PORQUANTO", "POR CAUSA DE".
Exemplos:
Não saí ontem porque estava chovendo muito (causal)
Ele viajou, porque foi chamado para assinar o contrato. (explicativa)
Ele não foi porque estava doente. (causal)
Abra a janela, porque o calor está insuportável. (explicativa)
Ele deve estar em casa, porque a luz está acesa. (explicativa)

Porquê: artigos "O" ou "UM". equivale à "a razão".
Exemplos:
Não estou entendendo o porquê de tanta alegria em você hoje.
Quero saber o porquê da sua decisão.
Estamos esperando que você nos dê um porquê para tal atitude.

DICA DE PORQUE E PORQUÊ

A conjunção porque sabe das coisas. Conhece a causa de tudo. Por isso se chama causal:
Maria se atrasou porque perdeu o ônibus.
Vera Michel se internou porque quer desintoxicar-se das drogas.
A Encol foi pro beleléu porque tinha administração pouco profissional.

Quando a gente faz uma pergunta começada com por que, a resposta pede sempre uma causa. A conjunção porque responde na bucha:
Por que precisamos beber muita água?
Porque a umidade do ar está baixa.

PORQUÊ


Quando usar porquê? Só se a palavrinha for substantivo. Aí significa causa. Tem plural. E geralmente vem acompanhada de artigo, numeral ou pronome.
Não sei o porquê da decisão da juíza.
Há muitos porquês sem resposta.
Ficou intrigado com dois porquês.

Fonte:
Apostila da Caixa Econômica Federal. Instituo Padre Reus, 2004.

Graça Maria Fragoso (Biblioteca na Escola)

São muitas, mas invariavelmente distorcidas, as visões que se costuma ter de uma biblioteca. Ora é lugar sagrado, onde se guardam objetos também sagrado, para desfrute de alguns eleitos. Ora, sob uma ótica menos romântica, é apenas uma instituição burocratizada, que serve para consulta e pesquisa, assim como para armazenar bolor, cupins e traças. Para muito poucos, aqueles que a freqüentam assiduamente, ela constitui o local do encontro com o prazer de ler, conhecer, informar-se.

O fato é que, quando se trata de Brasil, a maioria das pessoas desconhece o verdadeiro papel de uma biblioteca em suas vidas e, portanto, na vida da comunidade. E esta afirmação se aplica tanto aos usuários potenciais quanto àqueles que de um modo ou outro têm responsabilidade pelo seu funcionamento. Como, por exemplo, as escolas. Por inúmeras razões, as bibliotecas escolares brasileiras estão ainda longe de cumprir sua importantíssima função no sistema educacional. Poucas instituições dispõem dos recursos e da visão necessários (duas condições que nem sempre andam juntas...) para manter uma biblioteca digna desse nome. E raros são os profissionais empenhados em prestar serviços que realmente dêem suporte ao aprendizado e à vida cultural da escola.

ZELO e RABUGICE

Neste século, as mudanças têm sido profundas e muito mais velozes, em relação ao ritmo de desenvolvimento da vida humana na Terra até cem anos atrás. Os meios de comunicação se aperfeiçoaram e continuam a se transformar numa progressão cada vez mais vertiginosa, já que, em matéria de tecnologia, o novo torna-se obsoleto praticamente a toda hora. No terreno da leitura, os CD-ROM - ou "livros audiovisuais", se assim se pode defini-los - parecem ameaçar o futuro do livro convencional.

No Brasil - como, de resto, em todo o chamado "Terceiro Mundo" - a questão não é apenas o quê se lê atualmente, mas quantos estão lendo. A pouca leitura pode ser efeito da concorrência com outros meios de comunicação, porém, entre nós, ela é principalmente o reflexo de um sistema educacional que há várias décadas vem se deteriorando. Por isso costumamos dizer que a invenção da imprensa gerou um número quase ilimitado de leitores: sem planos e ações educacionais solidamente estruturados, ainda que se façam grandes esforços para reduzir o analfabetismo - e, no caso brasileiro, com resultado -, ainda assim não se cria uma população leitora. E nem, é óbvio, cidadãos conscientes e atuantes.

Conseqüência direta ou indireta desse quadro, na grande maioria das escolas brasileiras, quando há bibliotecas, prevalece um sistema arcaico de utilização e aproveitamento do acervo e não apenas por indigência material.

Mesmo aquelas que podem se dar o luxo de algum aparato tecnológico e de práticas mais modernas relutam em investir nos recursos humanos, deixando que alguns velhos cacoetes culturais perdurem. Por exemplo, o de improvisar um guardião que terá como missão, de fato, guardar o geralmente precário material bibliográfico. E o fará, geralmente também, com um zelo e uma rabugice de burocrata. Os leitores da assim chamada biblioteca - crianças e adolescentes, em sua maioria - irão freqüentá-la com igual despreparo e desinteresse, subutilizando sempre os possíveis recursos. E o contato prazeroso com a leitura - já de si tão problemático nestes tempos de cultura visual -, este sim, passa por metamorfose definitiva: ler se torna mais um entre os deveres escolares.

DE NORTE A SUL

A situação da biblioteca escolar no Brasil é reflexo do contexto em que ela tem existência, qual seja, o da educação. Portanto, não é grande surpresa a dificuldade em se obterem dados atualizados sobre essa situação - quantas escolas possuem bibliotecas, o porte de seus acervos, quais têm profissionais especializados em seu comando e daí por diante. Assim, para se ter uma visão panorâmica do quadro, vamos recorrer aqui a informações de 1987, reunidas numa ampla reportagem da revista Escola.

"De norte a sul do País", constata o artigo, "as escolas enfrentam inúmeras dificuldades para organizar uma biblioteca, manter - mesmo precariamente - as que existem ou ainda para tentar integrá-las no processo educacional.”.

Com isso, os 25 milhões de alunos do 1º grau (à época, 18 % da população brasileira) ficavam privados de material de pesquisa, leitura e de outras fontes de informação além do próprio professor e do material didático. Em última análise, então como agora, os estudantes sem acesso a uma biblioteca em sua própria escola correm mais o risco de ficar à margem de um ensino democratizado.

Como não existe um órgão nacional que cuide especificamente de bibliotecas escolares, as questões relativas a elas têm que ser administradas pelas secretarias estaduais e municipais de educação. E mesmo estas não dispõem, em sua maioria, de dados precisos e atuais sobre a situação das bibliotecas escolares.

AS DUAS FUNÇÕES

Embora tão marginalizada de nosso sistema educacional, a biblioteca escolar, tem funções fundamentais a desempenhar e que podem ser agrupadas em duas categorias - a educativa e a cultural.

Na função educativa, ela representa um reforço à ação do aluno e do professor. Quanto ao primeiro, desenvolvendo habilidades de estudo independente, agindo como instrumento de auto-educação, motivando a uma busca do conhecimento, incrementando o gosto pela leitura e ainda auxiliando na formação de hábitos e atitudes de manuseio, consulta e utilização do livro, da biblioteca e da informação. Quanto à atuação do educador e da instituição, a biblioteca complementa as informações básicas e oferece seus recursos e serviços à comunidade escolar de maneira a atender as necessidades do planejamento curricular.

Em sua função cultural, a biblioteca de uma escola torna-se complemento da educação formal, ao oferecer múltiplas possibilidades de leitura e, com isso, levar os alunos a ampliar seus conhecimentos e suas idéias acerca do mundo. Pode contribuir para a formação de uma atitude positiva, prazerosa frente à leitura e, em certa medida, participar das ações da comunidade escolar, servindo-lhes de suporte.

Nessas funções, por assim dizer, "ideais" de uma biblioteca escolar, estariam implícitos seus objetivos como instituição, que relacionamos a seguir:

- cooperar com o currículo da escola no atendimento às necessidades dos alunos, dos professores e dos demais elementos da comunidade escolar;

- estimular e orientar a comunidade escolar em suas consultas e leituras, favorecendo o desenvolvimento da capacidade de selecionar e avaliar;

- incentivar os educandos a pensar de forma crítica, reflexiva, analítica e criadora, orientados por equipes inter-relacionadas (educadores + bibliotecários);

- proporcionar aos leitores materiais diversos e serviços bibliotecários adequados ao seu aperfeiçoamento e desenvolvimento individual e coletivo;

- promover a interação professor-bibliotecário-aluno, facilitando o processo ensino-aprendizagem;

- oferecer um mecanismo para a democratização da educação, permitindo o acesso de um maior número de crianças e jovens a materiais educativos e, através disso, dar oportunidade ao desenvolvimento de cada aluno a partir de suas atitudes individuais;

- contribuir para que o educador amplie sua percepção dos problemas educacionais, oferecendo-lhe informações que o ajudem a tomar decisões no sentido de solucioná-los, tendo como ponto de partida valores éticos e cidadãos.

DE GUARDIÃO A MEDIADOR

De nada serviria uma bela biblioteca escolar, com espaço físico e acervo suficientes às necessidades do estabelecimento de ensino se, para exercer as funções e cumprir seus objetivos, não estiver em seu comando um profissional consciente, com sensibilidade e habilitações básicas para manter esse espaço de cultura e informação bem azeitado e atraente.

Entre as habilitações se incluem, claro, aqueles conhecimentos técnicos essenciais de organização do acervo, bem como dos mecanismos cotidianos para utilizá-lo - empréstimos e devoluções, dentre outros. É verdade que a maior parte das bibliotecas escolares brasileiras não conta com o bibliotecário a sua frente. Uma série de motivos podem ser apontados como causas desta situação.

Para atuar como bibliotecário escolar, o profissional deve ter noções mínimas de seu papel. Deve saber, por exemplo, que lhe compete oferecer oportunidades, materiais e atividades específicas, visando despertar o interesse da comunidade escolar pela biblioteca para, a partir daí, poder trabalhar no desenvolvimento da leitura.

A promoção de certas atividades - só requer um pouco de inventividade e gosto por parte do bibliotecário. Um exemplo: ao narrar histórias para crianças das primeiras séries, ele poderá abrir caminho à aquisição do hábito de ler. Neste ponto, é oportuna uma observação: quando falamos em hábito de ler, não nos referimos a uma atitude mecânica e obrigatória como, por exemplo, escovar dentes; estamos falando, sim, daquela "compulsão" de procurar e saborear determinado livro ou texto, daquela necessidade tão natural que se pode compará-la à de um gourmet que habitualmente antegoza e depois frui um belo prato.

Ler poemas, para despertar emoções e sentidos; realizar exposições, entrevistas; promover a leitura de textos teatrais; oferecer atividades em diversos campos da arte, como a mímica, a dramatização, a pintura; eis algumas das ações que bibliotecários escolares podem e devem empreender no recinto da biblioteca ou fora dela, mas sempre em consonância com o currículo e coadjuvando o trabalho do corpo docente.

Em síntese, sua grande tarefa é tornar a biblioteca da escola um lugar agradável, dinâmico, onde prevaleça um clima de harmonia entre ele e o público, seja qual for a faixa etária ou a posição deste na hierarquia da escola. No Brasil, a principal barreira a ser vencida nesse convívio parece ser a que tacitamente se ergue entre o educador e o bibliotecário. Este, por nem sempre estar bem entrosado com os problemas educacionais, costuma fechar-se em seus "domínios", tornando-se apenas mero entregador de livros.

O professor, por não saber desenvolver, na maioria dos casos, outro tipo de aula que não o discursivo, acha que prescinde do bibliotecário e não o procura. E assim se têm perdido ótimas oportunidades de um trabalho entrosado que propiciaria a aprendizagem baseada na indagação e na busca de conhecimentos mais amplos.

Apresentamos, a título de resumo, um rol das principais funções e atribuições que deveriam fazer parte do cotidiano do bibliotecário escolar:

- participar ativamente do processo educacional, planejando junto ao quadro pedagógico as atividades curriculares. E isso deve ser feito para todas as disciplinas, acompanhando o desenvolvimento do programa, colocando à disposição das comunidades escolar materiais que complementem a informação transmitida em classe;

- fazer da biblioteca um local prazeroso, descontraído, de modo a que os se sintam atraídos por ela;

- estimular os alunos, através de atividades simples, desde o maternal, a desenvolverem o "gostar de ler";

- proporcionar informações básicas que permitam ao aluno formular juízos inteligentes na vida cotidiana;

- oferecer elementos que promovam a apreciação literária, a avaliação estética e ética, tanto quanto o conhecimento dos fatos;

- favorecer o contato entre alunos de idades diversas.

O que se pretende, com tal comportamento profissional, é fazer com que a biblioteca escolar seja o agente de transformação do ensino, na medida em que provoque mudanças pedagógicas na escola. Isso, certamente, enquanto nossas instituições de ensino não atingem aquela sonhada maturidade, em que transformar seja apenas sinônimo de progredir e elas possam simplesmente exercer sua função primordial de formar.

Fonte:
Publicado em 1999.
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/