sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 06

 
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José Erigutemberg Meneses de Lima nasceu em Fortaleza/CE, radicou-se em Blumenau/SC. Advogado aposentado do Banco do Brasil, com graduação em Ciências Econômicas e Direito pela FURB - Fundação Universidade Regional de Blumenau, dedica-se às letras, escrevendo prosa na forma de crônicas, contos, ensaios, textos jurídicos e poesia, especialmente, sonetos. Publicou “Raptos Líricos” - Sonetos, 2005; Portas da Solidão pela Fundação Cultural de Blumenau, 1996. 

Humberto de Campos (A derradeira "morada")

O administrador do cemitério de S. Geraldo, Alfredo Costa Ximenes, residia, há anos, à rua Real Grandeza, quando, em março último, forçado a mudar de casa, foi alugar um prédio de segunda ordem, de que era proprietário o comendador Augusto Gonçalves Teixeira, que lhe foi dizendo, logo, sem circunlóquios:

- O aluguel da casa é quinhentos e vinte mil réis, fora a pena d'água e a taxa sanitária. Além disso para que eu lhe dê a chave, o senhor terá de pagar-me seis contos de réis de "luvas".

Debalde o honrado funcionário da Morte chorou, suplicou, implorou; o comendador mostrou-se inabalável na sua exigência, e ele teve de arranjar, mesmo, as "luvas", para se não ver, de uma hora para outra, lançado à rua com a família.

Dois meses depois desse episódio, estava o administrador, uma tarde, no seu posto, na secretaria da necrópole, quando parou ao portão, buzinando e rolando, um cortejo funerário. Levada às suas mãos a papeleta fúnebre, o funcionário viu pelo nome, que o morto era, nada mais, nada menos, do que o seu senhorio, o comendador Gonçalves Teixeira e teve, de repente, a ideia de uma represália: chegou ao portão, onde o esquife já repousava, agaloado, na carreta do cemitério, e, recebendo da família a chave do caixão, mandou rodar o ataúde no rumo da sepultura.

Terminadas, ali, entre lágrimas e vertigens, as angustiosas despedidas da praxe, um filho do defunto mandou chamar o administrador, a quem havia dado a chave do esquife, para que fosse identificar o morto, e fechar o caixão.

- Pronto! - apresentou-se Ximenes, apertado na sua sobrecasaca preta. - Que desejam?

- A chave, - explicou um parente do defunto.

- Suspendam a tampa do esquife, - ordenou o administrador.

Um amigo abriu o caixão funerário, onde jazia, inteiriçado, vestido de preto o corpo do desventurado capitalista.

Ximenes passou, meticuloso, a vista sobre o cadáver, e, vendo-lhe as mãos nuas, cruzadas sobre o peito bojudo, reclamou, severo:

- E as "luvas"? Querem, então, que ele desça à derradeira "morada" sem as "luvas"?

E não entregou a chave!
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Humberto de Campos Veras nasceu em Miritiba/MA (hoje Humberto de Campos) em 1886 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1934. Jornalista, político e escritor brasileiro. Aos dezessete anos muda-se para o Pará, onde começa a exercer atividade jornalística na Folha do Norte e n'A Província do Pará. Em 1910, publica seu primeiro livro de versos, intitulado "Poeira" (1.ª série), que lhe dá razoável reconhecimento. Dois anos depois, muda-se para o Rio de Janeiro, onde prossegue sua carreira jornalística e passa a ganhar destaque no meio literário da Capital Federal, angariando a amizade de escritores como Coelho Neto, Emílio de Menezes e Olavo Bilac. Trabalhou no jornal "O Imparcial", ao lado de Rui Barbosa, José Veríssimo, Vicente de Carvalho e João Ribeiro. Torna-se cada vez mais conhecido em âmbito nacional por suas crônicas, publicadas em diversos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras, inclusive sob o pseudônimo "Conselheiro XX". Em 1919 ingressa na Academia Brasileira de Letras. Em 1933, com a saúde já debilitada, Humberto de Campos publicou suas Memórias (1886-1900), na qual descreve suas lembranças dos tempos da infância e juventude. Após vários anos de enfermidade, que lhe provocou a perda quase total da visão e graves problemas no sistema urinário, Humberto de Campos faleceu no Rio de Janeiro, em 1934, aos 48 anos, por uma síncope ocorrida durante uma cirurgia. Além do Conselheiro XX, Campos usou os pseudônimos de Almirante Justino Ribas, Luís Phoca, João Caetano, Giovani Morelli, Batu-Allah, Micromegas e Hélios. Algumas publicações são Da seara de Booz, crônicas (1918); Tonel de Diógenes, contos (1920); A serpente de bronze, contos (1921); A bacia de Pilatos, contos (1924); Pombos de Maomé, contos (1925); Antologia dos humoristas galantes (1926); O Brasil anedótico, anedotas (1927); O monstro e outros contos (1932); Poesias completas (1933); À sombra das tamareiras, contos (1934) etc.

Fontes: Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  
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Vereda da Poesia = 192


Trova de
FRANCISCO JOSÉ PESSOA
Fortaleza/CE, 1949 - 2020

Nos quatro dias de momo
ante tanta bebedeira,
eu estarei, não sei como,
quando chegar quarta-feira!
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Poema de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Assim em suas mãos nos troca a vida
(Sophia de Mello Breyner Andresen in "Mar novo")

Assim, em suas mãos nos troca a vida
As sendas que escolhemos percorrer
Só porque ela quer, pode e tem prazer
Em ver a nossa sorte confundida.

Não vale a pena a um sonho dar guarida
Por no peito um desejo de viver
Que a vida tem o modo e o poder
De nos abrir na alma uma ferida.

Impotentes ficamos para dar
Outros rumos ao nosso caminhar
Sujeitos aos caprichos do destino.

Aos ombros carregando cruz tão má
Indo o Homem, por onde quer que vá
Será sempre um eterno peregrino.
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Trova de
MAURÍCIO FERNANDES LEONARDO
Ibiporã/PR

O pobre muito detesta
se o rico diz por chalaça:
“Arruaça de rico é festa, ...
festa de pobre é arruaça”!
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Prenúncios

Sensível, o olhar
Pousa na fonte
Repleta,
De falhas do plátano,
Sinto a poesia
E solidão do cântaro...

Distancia-se o pensamento,
O venta sussurra teu nome...
E, nas esmaecidas e diáfanas cores
De mais um por do sol -
Prenúncios de Saudade...
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Trova de
AUROLINA ARAÚJO DE CASTRO
Manaus/AM (1933 – 2004)

Ao reler o livro antigo,
grande emoção me tomou:
deu-me a impressão de um amigo
que de repente voltou.
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Poema de
CARLOS FERNANDO BONDOSO
Alcochete/ Portugal

Canto à flor

germinam sementes
e outras secam por incúria

nascem trepadeiras e uma flor 
que guardo no espaço
e no tempo
é o cheiro do mundo 
num momento de silêncio

é a flor da buganvília
que cresce sempre primeiro
histórias escritas
e rasuradas
contadas como contos verdadeiros

pinceladas
aquarelas
tintas trabalhadas
com cheiros de verdade

é a flor
que se solta no tempo
com a fúria do temporal
mas que não se quebra
nas asas do vento

é a tristeza e a dor
num canto simples e triste
que se funde na alma
onde só os sonhos podem morar

é este o meu canto à flor 
aqui nesta folha de papel
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Trova de
CAMPOS SALES
Lucélia/SP, 1940 – 2017, São Paulo/SP

Não gostou de ser cobrado,
no velório o Zé pirou,
foi tapa pra todo lado,
até o defunto apanhou.
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Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

Campo-Santo

Os anos matam e dizimam tanto
Como as inundações e como as pestes...
A alma de cada velho é um Campo-Santo
Que a velhice cobriu de cruzes e ciprestes
Orvalhados de pranto.

Mas as almas não morrem como as flores,
Como os homens, os pássaros e as feras:
Rotas, despedaçadas pelas dores,
Renascem para o sol de novas primaveras
E de novos amores.

Assim, às vezes, na amplidão silente,
No sono fundo, na terrível calma
Do Campo-Santo, ouve-se um grito ardente:
É a Saudade! é a Saudade!... E o cemitério da alma
Acorda de repente.

Uivam os ventos funerais medonhos...
Brilha o luar... As lápides se agitam...
E, sob a rama dos chorões tristonhos,
Sonhos mortos de amor despertam e palpitam,
Cadáveres de sonhos...
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Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Inimigo do trabalho,
é meu primo, o “Paraíba;” 
seu emprego é no baralho: 
buraco, truco e biriba.
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Poema de 
MÁRIO JSL LOUREIRO
Ourém/ Portugal

Amo-te como quem ama uma trajetória lunar
como quem mata a sede na areia do deserto
Amo-te como à luz do sol que aquece a terra
sempre terno e empenhadamente marítimo 
E como não haveria eu de amar dos teus lábios
a mais eloquente poesia
Dos teus olhos encantados risos 
e os mais coloridos sonhos de amor
Amo-te nua
sem outra decoração que a do teu coração
Sólida sensual como um axioma que é livre
pedra filosofal da alegria ou de uma lágrima
que repousa funda na verdade que nunca foi dita
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

O pai da moça, que é mau, 
chega em casa e acaba o "baile"...
É que o Zé, "cara de pau", 
tava namorando em..."braile"!!!
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Poema de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Pombos Mensageiros

Transformados em pombos cor de neve,
Entraram-me a cantar pela janela,
A tua carta delicada e leve
E o beijo amigo que envolveste nela.

Ó que alegria para o coração
Onde a Saudade, sempre em flor, renasce!
A carta leve me pousou na mão
E o beijo amigo acarinhou-me a face.

E então, a rir, ó pomba idolatrada!
Eu transformei meu coração em ninho:
Nele repousa a tua carta amada
E canta o beijo a ária do carinho.
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Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Morre a flor na flor da idade,
padece a planta de dor;
a ausência deixa saudade,
até na morte da flor!
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Hino de
RONDONÓPOLIS/MT

Quão rebento brotastes radiantes, 
como estrela de raro fulgor
Tão sonhada na força que emana, 
fruto terno de nosso suor
Neste solo de seiva gigante, 
esta linda cidade floriu
Dando brilho as cores que marcam, 
a bandeira do amado Brasil.

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente

Nas belezas das matas e montes, 
nas entranhas de vales e rios
Na nobreza do denso cerrado, 
foi assim que este sonho seguiu
Brasileiros de plagas distantes, 
cá vieram trazer seu labor
E na luta perene e vibrante, 
construímos solene penhor

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente

Rio vermelho e majestoso, 
lenda viva que a todos encanta
Onde a balsa Rosa Bororo, 
navegou transportando esperança
Foi sustento do índio que viu, 
tudo isso gestar e nascer
E o presente nos passa o comando, 
pra fazer essa terra crescer

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente

Todos que precederam essa história, 
salve, salve a nobre missão
Pois sabiam que a nossa vitória, 
era certa na força do chão
E cantamos tuas maravilhas, 
em memória do marechal
Novos passos teu povo palmilha, 
pelas trilhas do seu ideal.

Rondonópolis, Rondonópolis
Surgiste oh... brasão imponente
Praza Deus que em ti paire a graça
Que envolve de amor tua gente
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Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

A última vez

Nunca soube
quando seria a última vez
que te beijava,
que te abraçava,
que te tocava.

Nunca soube…
Vivi tudo tão intensamente,
pensando apenas no presente
e nunca num futuro fugidio.
Porque, se soubesse
que seria a última vez,
tudo teria sido diferente.

Mas nunca soube,
nunca me despedi,
levaram-te os ventos,
fiquei sem ti.
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Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Eu juro, mas com loucura, 
minha emoção num relance, 
abre a porta, quebra a jura 
e a ti concede outra chance.
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Grinalda de Trovas de
FILEMON MARTINS
São Paulo/ SP

Vive sem paz, meu amigo, 
sem cultivar a harmonia 
sem pressentir o perigo 
quem aos outros calunia. 

Quem aos outros calunia 
sem procurar a verdade, 
tem a vida mais vazia 
por interesse ou maldade. 

Por interesse ou maldade 
é burrice e covardia 
quem age sem humildade 
não pode ter alegria. 

Não pode ter alegria, 
quem vive sem amizade. 
Não há luz, sabedoria, 
nem paz e felicidade.
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Estante de Livros (7 livros de Júlio Verne: resumos)

1. Keraban, o cabeçudo (1883)

Keraban é um rico comerciante turco que se recusa a pagar um imposto para atravessar um rio. Determinado a não ceder, ele opta por uma jornada difícil e cheia de aventuras, que o leva a explorar a natureza e a cultura da região. Durante sua travessia, Keraban enfrenta desafios e perigos, ao mesmo tempo em que aprende sobre a importância da amizade e da solidariedade. 

Combina humor e crítica social, refletindo sobre a teimosia e a obstinação do protagonista.

2. Norte contra Sul (1887)

Neste romance, Verne retrata a rivalidade entre o Norte e o Sul dos Estados Unidos durante a Guerra Civil. A história acompanha um grupo de personagens que, em meio ao conflito, se deparam com dilemas morais e questões de lealdade. 

Verne utiliza a narrativa para explorar os efeitos da guerra nas vidas das pessoas comuns, mostrando suas esperanças e desilusões. A trama é marcada por uma crítica à guerra e à busca por um futuro melhor.

3. Os Filhos do Capitão Grant (1866)

A história começa quando um grupo de amigos encontra uma mensagem em uma garrafa, que pertence ao Capitão Grant, desaparecido em uma expedição. Com a ajuda dos filhos do capitão, eles embarcam em uma aventura marítima para resgatar Grant. A jornada os leva a diferentes partes do mundo, repleta de perigos e descobertas. 

Ao longo da história, temas de coragem, lealdade e a busca pela verdade são explorados, enquanto os personagens enfrentam desafios inesperados.

4. Robur, o Conquistador (1886)

Robur é um inventor brilhante que cria um gigantesco aeróstato, desafiando a ciência e a tecnologia da época. Ele sequestra membros da elite científica para provar sua invenção e demonstrar que a aviação pode revolucionar o transporte. 

A história mistura aventura e reflexão sobre o progresso tecnológico, à medida que Robur enfrenta seus opositores e luta por reconhecimento. O conto também explora a ambição e a visão de futuro do protagonista.

5. A Ilha da Hélice (1895)

Um grupo de cientistas e aventureiros se une para explorar uma misteriosa ilha que aparece em mapas antigos. A ilha é cercada por mistérios e perigos, revelando segredos sobre civilizações perdidas e tecnologias avançadas. 

À medida que os personagens se aprofundam na ilha, eles enfrentam desafios físicos e morais, levando a reflexões sobre a ambição humana e o desejo de conhecimento. A narrativa combina elementos de ficção científica com aventuras emocionantes.

6. O Farol do Fim do Mundo (1905)

A história se passa em um farol isolado na costa da Patagônia, onde um grupo de faroleiros enfrenta a ameaça de piratas. Com coragem e determinação, eles lutam para proteger o farol e a comunidade local. 

A obra explora temas de heroísmo e sacrifício, revelando a importância da união em tempos de crise. Verne descreve a vida no farol com detalhes vívidos, criando uma atmosfera de tensão e aventura.

7. Miguel Strogoff (1876)

Miguel Strogoff é um mensageiro do czar que recebe a missão de atravessar a Rússia até a Sibéria para entregar uma mensagem crucial. Durante sua jornada, ele enfrenta muitos perigos, incluindo inimigos e adversidades naturais. 

O livro é uma emocionante história de coragem, lealdade e sacrifício, à medida que Miguel luta para cumprir sua missão e proteger sua família. Verne explora a resiliência humana em tempos de desafio, transformando a viagem em uma épica aventura.
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Júlio Gabriel Verne nasceu em 1828, em Nantes, na França. Fez faculdade de Direito, em Paris, mas não exerceu a profissão, optou por não seguir esse rumo profissional e investiu na carreira de escritor. Em 1855 foi acometido por uma paralisia facial. Disposto a se casar com Honorine de Viane (1831–1910), ele se tornou corretor da bolsa de valores em 1857, até atingir grande sucesso como escritor, a partir da publicação de seu livro Cinco semanas em um balão, em 1863. Para sobreviver, foi secretário do Teatro Lírico. Foi eleito vereador em Amiens. Em 1892, se tornou oficial da Legião de Honra. Mas, com a morte de seu irmão Paul, em 1897, os problemas de saúde do escritor se agravaram. Ele morreu em 1905, na cidade de Amiens, é tido como o pioneiro da ficção científica. Assim, seus principais livros são direcionados ao público infantojuvenil e apresentam narrativas que também trazem conceitos científicos. 
Algumas obras, além das acima citadas: Cinco semanas em um balão (1863); Viagem ao centro da Terra (1864); Da Terra à Lua (1865); Vinte mil léguas submarinas (1870); A volta ao mundo em oitenta dias (1872); A ilha misteriosa (1874); A escola dos Robinsons (1882); A estrela do Sul (1884), etc.

Fonte: José Feldman (org.). Estante de livros. Maringá/PR: Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 13 *

 

José Feldman nasceu na capital de São Paulo. Formado técnico de patologia clínica, não conseguiu concluir o curso superior de psicologia. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; trovador da UBT São Paulo e membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, Hermoclydes S. Franco, e outros. Casado com a escritora, poetisa e tradutora professora Alba Krishna mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, radicou-se definitivamente em Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras e de trovas, fundador da Confraria Brasileira de Letras e Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, com cerca de 20 mil publicações. Atualmente assina seus escritos por Campo Mourão/PR. Publicou mais de 500 e-books. Em literatura, organizador de concursos de trovas, gestor cultural, poeta, escritor e trovador. Dezenas de premiações em trovas e poesias.

José Luiz Ricchetti (Caminhos do Tempo)

“Há um silêncio que chega com os anos, e ele não é feito apenas da ausência de ruídos, mas da transição suave entre o que éramos e o que nos tornamos. 

Aos 60, você começa a sentir a sutileza do distanciamento. A sala que antes pulsava com suas ideias agora parece cheia de vozes que não pedem mais sua opinião. Não é uma rejeição, é o ritmo da vida. É quando aprendemos que nossa contribuição não está no presente imediato, mas nos rastros que deixamos nos corações e mentes ao longo do caminho.

Aos 65, você percebe que o mundo corporativo, outrora tão vital, é um fluxo incessante. Ele segue, indiferente ao que você fez ou deixou de fazer. Não é uma derrota, é a libertação. Esse é o momento de olhar para si mesmo, despir-se do ego e vestir a serenidade. Não se trata mais de provar, mas de ensinar, de compartilhar, de ser mentor. A verdadeira realização não é a que se exibe, mas a que inspira.

Aos 70, a sociedade parece lhe esquecer, mas será mesmo? Talvez seja apenas um convite para reavaliar o que realmente importa. Os jovens não o reconhecerão pelo que você foi, e isso é uma bênção disfarçada: você pode agora ser apenas quem você é. Sem máscaras, sem títulos, apenas a essência. Os velhos amigos, aqueles que não perguntam “quem você era”, mas “como você está”, tornam-se joias preciosas, diamantes que brilham no crepúsculo da vida.

E então, aos 80 ou 90, é a família que, na sua correria, se afasta um pouco mais. Mas é aí que a sabedoria nos abraça com força. Entendemos que amor não é posse; é liberdade. Seus filhos, seus netos, seguem suas vidas, como você seguiu a sua. A distância física não diminui o afeto, mas ensina que o amor verdadeiro é generoso, não exigente.

Quando a Terra finalmente chamar por você, não há motivo para medo. É a última dança de um ciclo natural, o encerramento de um capítulo escrito com suor, lágrimas, risos e memórias. Mas o que fica, o que realmente nunca será eliminado, são as marcas que deixamos nas almas que tocamos.

Portanto, enquanto há fôlego, energia, enquanto o coração bate firme, viva intensamente. Abrace os encontros, ria alto, desfrute os prazeres simples e complexos da vida. Cultive suas amizades como quem cuida de um jardim. Porque, no final, o que resta não são as conquistas, nem os títulos, nem os aplausos. O que resta são os laços, os momentos partilhados, a luz que espalhamos.

Seja luz, seja presença, e você será eterno.

Dedico a todos que entendem que o tempo não apaga, mas apenas transforma.”

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José Luiz Ricchetti é natural de São Manuel/SP, 1952.  Formado em engenharia mecânica, com pós-graduação pela FGV de SP, em Administração de Empresas e Comércio Exterior e MBA em Gestão de TI e Telecom pelo INATEL-UCAM - RJ. Atuou por mais de 40 anos, como executivo de grandes empresas brasileiras e multinacionais no Brasil e no exterior. Posteriormente fundou suas próprias empresas, com escritórios nos Estados Unidos, Portugal e Peru. Residiu no exterior por vários anos e realizou inúmeras viagens pelo mundo, onde teve a oportunidade de entrar em contato com as várias culturas, nos três continentes, América, Europa e Ásia.  Retornou ao Brasil em 2003 e fixou residência em São Paulo. Em 2017 se mudou para a cidade de São Carlos/SP, onde encerrou sua carreira de executivo para se dedicar a escrever livros de crônicas, contos.

Fontes: 
Texto enviado por Elisa Alderani.
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Aparecido Raimundo de Souza (De saia justa)


ELLEN, minha neta de treze anos se desentendeu feio com a mãe dela e gritou, para todos os demais presentes que estavam na sala que iria embora. 

Subiu para seu quarto, como um foguete, pegou uma mochila da Barbie, colocou um amontoado de roupas, calçou os tênis novos que lhe dei e sem perder o pique, desceu as escadas na mesma afoiteza com a qual subiu. 

Escancarou a porta da sala que dava acesso à rua. Antes de cruzar definitivamente o umbral, olhou para trás e mandou vê:

— Mãe, pai, tio, tia, primos Heitor e João Eduardo, nesta droga de casa eu não fico nem mais um segundo. Tchau. Fui!

Ensaiou dois passos à frente, espiou para a galera que seguia sentada no sofá vendo televisão, e, de soslaio, as vistas grudadas em sua nuca. 

Por fim, com o rostinho choroso, pegou na minha mão e inquiriu muito séria e compenetrada: 

— Vô, vovozinho, você vem comigo?
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Aparecido Raimundo de Souza, natural de Andirá/PR, 1953. Aos doze anos, deu vida ao livro “O menino de Andirá,” onde contava a sua vida desde os primórdios de seu nascimento, o qual nunca chegou a ser publicado. Em Osasco, foi responsável, de 1973 a 1981, pela coluna Social no jornal “Municípios em Marcha” (hoje “Diário de Osasco”). Neste jornal, além de sua coluna social, escrevia também crônicas, embora seu foco fosse viver e trazer à público as efervescências apenas em prol da sociedade local. Aos vinte anos, ingressou na Faculdade de Direito de Itu, formando-se bacharel em direito. Após este curso, matriculou-se na Faculdade da Fundação Cásper Líbero, diplomando-se em jornalismo. Colaborou como cronista, para diversos jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, como A Gazeta do Rio de Janeiro, A Tribuna de Vitória e Jornal A Gazeta, entre outras.  Hoje, é free lancer da Revista ”QUEM” (da Rede Globo de Televisão), onde se dedica a publicar diariamente fofocas.  Escreve crônicas sobre os mais diversos temas as quintas-feiras para o jornal “O Dia, no Rio de Janeiro.” Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Reside atualmente em Vila Velha/ES.

Fonte:
Texto enviado pelo autor. 
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Vereda da Poesia = 191


Trova de
SELMA PATTI SPINELLI 
São Paulo/SP

Com tanta delicadeza,
um regato a serra desce...
E eu tenho quase certeza
que a própria serra agradece!
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Um salgueiro que espiava sobre o rio
Mario Quintana in "A rua dos Cataventos", p. 50

Um salgueiro que espiava sobre o rio
Viu passar meu barquinho de papel
De lágrimas tão cheio, mas de mel
E de sonhos seguia tão vazio.

Sentiu nesse momento um arrepio
Vendo que a dor ao leme do batel
Tinha traçado rugas a cinzel
No rosto refletido no baixio.

Fiquei parado à beira do destino
E vi que a brincadeira de menino
Não poderia mais ser repetida.

Mata-me o que de mim já me roubou
A vida que ao passar me transformou
Na barca que nas águas vai perdida.
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Trova de
JUNQUILHO LOURIVAL 
Natal/RN (1895 – ????)

Oh perfeita entre as perfeitas,
eu tenho invejas estranhas
da cama em que tu te deitas,
da água com que te banhas!
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Poético abandono

As folhas de hera cobrem tuas paredes,
Portas, janelas e varandas,
Lembrando verdes demãos
de tintas,
Afagos a protegê-la das
intempéries...
A escada com nove degraus, ainda,
Preserva parte do mármore,
A porta principal, já sem a dourada
Maçaneta é aberta com facilidade,

E a cada passo, sinto a solidão -
Um silêncio especial espreita-me
Nos gastos tapetes, no piano
Deixado à própria sorte,
Sonhando com Debussy...
A alma da casa abandonada
Refugia-se em imagens e sons
Do passado -
Continuo minha aventura -
Caminhada, sem pressa, com o olhar
E, curiosa, abro mais uma porta,
Encontrando, janelas sem vidros
Que deixam o canto dos pássaros
Mais próximos, fazenda parte
Da linda, mas esquecida, adega
As garrafas de vinho,
Sem rótulos e rolhas
(Nuas - vazias)
Ocupam prateleiras
Como se livros fossem -
Lunetas encantadas
Intocáveis,
Umas sobre as outras
Cobertas por camadas de poeira
Lembram uma segunda pele
Imagino diálogos entre
As garrafas e as partículas de pó,
E a sonolenta cadeira, sem palhas,
A observá-las...
Ah. esse aconchego da passagem
Do tempo, tatuando objetos e sonhos -
Tempo, que tudo desgasta, esmaece,
(Enferruja)
Leva os sorrisos e, aos poucos
Ávida desaparece...
Choro com ela, sinto
Na casa adormecida
Um poético abandono,
Quem sabe,
Ela despertará
Em uma futura aquarela,
Quem sabe?
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Trova de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

Aquele que sempre joga
o lixo em qualquer lugar
é o desleixado que roga:
“ – Venha, dengue,  me atacar!”.
= = = = = = 

Poema de
PAULO WALBACH PRESTES
Curitiba/PR, 1945 – 2021

Saudade

"Saudade, palavra triste...”
que tanto inspira a dura dor.
"Saudade não tem idade”,
não tem vaidade e não tem cor. 

Saudade nasce da vida ainda em flor...
A flor murcha e morre,
enquanto, o vento corre,
a ressuscita na mesma cor.

Saudade vive na alma,
que, ainda calma, transforma em dor.
Às vezes ela vem do nada,
do infinito ou de um grande amor. 
= = = = = = = = = 

Trova de
BENEDITO MADEIRA
Porto Alegre/RS

Um fato triste, por certo,
não convém ser relembrado…
Jamais conserve por perto
as tristezas do passado!
= = = = = = 

Poema de
OLAVO BILAC
Rio de Janeiro/RJ, 1865 – 1918

O Avô

Este, que, desde a sua mocidade,
Penou, suou, sofreu, cavando a terra,
Foi robusto e valente, e, em outra idade,
Servindo à Pátria, conheceu a guerra.

Combateu, viu a morte, e foi ferido;
E, abandonando a carabina e a espada,
Veio, depois do seu dever cumprido,
Tratar das terras, e empunhar a enxada.

Hoje, a custo somente move os passos...
Tem os cabelos brancos; não tem dentes...
Porém remoça, quando tem nos braços
Os dois netos queridos e inocentes.

Conta-lhes os seus anos de alegria,
Os dias de perigos e de glórias,
As bandeiras voando, a artilharia
Retumbando, e as batalhas, e as vitórias...

E fica alegre quando vê que os netos,
Ouvindo-o, e vendo-o, e lhe invejando a sorte,
Batem palmas, extáticos, e inquietos,
Amando a Pátria sem temer a morte!
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Numa caminhada inglória, 
com minha alma enternecida; 
pude ver a minha história 
no retrovisor da vida.
= = = = = = 

Poema de 
CONSUELO TOMAS
Bocas del Toro/Panamá

Eu era uma casa

Eu era uma casa que quase se fechava
Antiga memória de beijos
Carícia no exílio
Mar calmo e já de volta

Então foste tu
abrindo minhas janelas
Colocando os passos da mirada
música da ternura em tua doce mão
espantando o pó do desengano
uma ou outra palavra e o abraço

ilusão imperfeita
um minuto de vida
oportunidade serena
para ensaiar o amor e suas rupturas

Agora tenho que esquecer-te e não sei como
Recuperar o mecanismo da calma, a música do mar
E sua cumplicidade imensa
O perfeito equilíbrio do que foi conquistado

De qualquer forma antes que a noite chegue
Aqui sempre haverá lugar para teu rosto
Um espaço vazio para que teus braços preencham ou a lembrança
Um silêncio estendido para que teu canto voe ao mais elevado
Aqui.
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

No seu biquini apertado, 
Maria me deixa mudo, 
pois nunca vi "tanto nada"
cobrindo, tão pouco ..."tudo"...
= = = = = = 

Poema de
AUTA DE SOUZA
Macaíba/RN (1876 – 1901) Natal/RN

Palavras Tristes
 
Quando eu deixar a terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
 
És a estrela gentil das minhas noites,
Noites que mudas no mais claro dia.
Não tenho medo aos gélidos açoites
Da escuridão se a tua luz me guia,
Ó estrela gentil das minhas noites!
 
Quando eu deixar a terra, dá-me flores
Boiando à tona de um sorriso teu;
Que os risos das crianças são andores
Onde os anjos nos levam para o céu...
Quando eu deixar a terra, quero flores!
 
Flores e risos me tecendo o manto,
Manto celeste feito de esperanças...
Quando eu daqui me for, não quero pranto,
Só quero riso, preces de criança:
Flores e risos me tecendo um manto!
 
Anjo moreno de alma cor de lírio,
Mais branca do que a estrela da Alvorada...
Meu coração na hora do martírio
Pede o consolo de uma prece amada,
Anjo moreno de asas cor do lírio!
 
Quando eu deixar a terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
= = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Este amor que em mim fervilha,
quando estamos sempre a sós...
se for bem feita a partilha,
será eterno entre nós!
= = = = = = 

Hino de
SÃO CAETANO/SP

São Caetano pequeno gigante
Sob um céu estrelado e de anil
És cidade, trabalho, és progresso
És infante do nosso Brasil.

Do passado nos resta lembrança
De heróis que souberam te erguer
Para frente, para frente
São Caetano, tu tens que crescer.

Do triângulo, joia rara
Dá exemplo de teu vigor
E tua luta não para
É grande o teu valor. (Bis)

Mais e mais chaminés se levantam
Apitos fazem-se ouvir
Do trabalho é tua glória
De grandeza será teu porvir.

No futuro será monumento.
Brasil saberá te eleger
Para frente, para frente
São Caetano, tu tens que crescer.

Do triângulo, joia rara
Dá exemplo de teu vigor
E tua luta não para
É grande o teu valor. (Bis)
= = = = = = = = =  

Poema de
YEDA PRATES BERNIS
Belo Horizonte/MG

Quando o amor se achega

Quando o amor se achega
e, no outro, não encontra
espaço aberto,
ele, humilde, se aconchega
a si mesmo. E descoberto
se agasalha com pesado manto
do temor, dúvida e espanto.

E a tempo pede
que o acalente,
à desventura
que o sustente
não mais que o prazo certo,
e a um vento
inexistente que o leve
em momento brando e breve.
= = = = = = = = =  = = = = 

Trova de
RITA MOURÃO
Ribeirão Preto/ SP

Mineira com mil louvores, 
Paulista por adoção,
dois estados, dois amores, 
dividindo um coração.
= = = = = = = = =