Numa Universidade, a sala de aula 006 tinha uma fama peculiar. Não era pela dificuldade das matérias, nem pelos professores excêntricos. Era pelo ar-condicionado, que, ao invés de refrescar, se tornou o centro das atenções.
No alto, junto ao teto, morava um casal de ratos, que decidiu fazer do ventilador seu lar.
Era uma manhã ensolarada, e a turma de Introdução à Teoria do Caos se preparava para mais uma aula com a Professora Rivalda, uma mulher de cabelo desgrenhado e uma paixão inabalável por teorias bizarras. Assim que os alunos se acomodaram, notaram algo incomum: os rabos dos ratos balançavam suavemente para frente e para trás, como se estivessem dançando ao som de uma música invisível.
— Olhem! — exclamou Ana, a aluna mais observadora da turma. — Tem ratos no ar-condicionado!
A sala toda virou os olhos para o teto. Os rabos dos ratos pareciam ter vida própria, e a atenção dos alunos se desviou completamente da palestra sobre o caos. A professora, sem perceber, continuou sua explicação sobre como o caos pode ser encontrado até nas coisas mais cotidianas.
— E como a teoria do caos nos ensina que pequenas mudanças podem ter grandes consequências… — ela disse, mas a turma só conseguia pensar nos ratos.
— Olha como eles se movem! — sussurrou João, o engraçadinho da turma. — Parece que estão fazendo uma coreografia!
Os alunos começaram a imitar os movimentos dos rabos com suas próprias mãos, enquanto a professora, sem entender o que estava acontecendo, continuava a falar sobre o efeito borboleta.
— Se uma borboleta bate suas asas na China… — começou, mas foi interrompida por um grito de Maria, que estava na janela.
— Eles estão se aproximando!
Na verdade, os ratos estavam apenas se espreguiçando, mas a turma entrou em pânico. Alguns alunos começaram a fazer piadas, enquanto outros tiravam fotos dos rabos balançantes. A sala virou um verdadeiro pandemônio.
— E se eles caírem? — perguntou Lúcia, com uma expressão de preocupação. — E se forem gigantescos?
— São apenas ratos comuns! — respondeu João, rindo. — Mas se eles caírem, pelo menos teremos um espetáculo ao vivo!
A professora finalmente percebeu a distração da turma e olhou para o teto. Com um olhar confuso, ela disse:
— O que vocês estão olhando? Isso não faz parte da aula!
Mas, ao olhar para os rabos balançando, ela também não pôde deixar de rir. O ar-condicionado tinha se tornado um cenário mais interessante do que sua aula sobre caos e desordem.
— Muito bem, vamos aproveitar a situação! — disse ela, com um brilho nos olhos. — Que tal uma discussão sobre o que o comportamento dos ratos pode nos ensinar sobre a ordem e o caos?
Os alunos começaram a debater animadamente, enquanto os ratos, sem saber que eram estrelas, continuavam sua dança acrobática. Um deles, que parecia mais ousado, desceu um pouco mais perto da borda do ar-condicionado, como se estivesse pronto para um salto.
— E se ele pular? — perguntou Ana, cheia de expectativa.
— Vai ser a primeira apresentação de ratos da história da universidade! — brincou João, fazendo todos rirem.
Finalmente, o ousado rato decidiu descer, mas, ao chegar na borda, hesitou. O silêncio na sala era palpável, todos segurando a respiração. Com um movimento súbito, ele pulou, mas, em vez de cair no chão, foi direto para o colo de um estudante que estava distraído mexendo no celular.
O grito do estudante ecoou pela sala, fazendo a professora quase perder o equilíbrio. O rato, assustado, correu de volta para o ar-condicionado, enquanto a turma explodia em risadas.
— Isso é caos! — gritou a professora, agora realmente empolgada. — Esse é o verdadeiro efeito borboleta!
A aula, que deveria ser sobre teoria, se transformou em um festival de risadas e histórias absurdas sobre ratos e suas aventuras. No final, todos concordaram que a sala 006 tinha se tornado um lugar mágico, onde até os ratos tinham o poder de transformar o tédio em diversão.
E assim, a fama dos ratos se espalhou pela universidade, fazendo com que todo semestre novos alunos se inscrevessem apenas para ver o espetáculo dos rabos balançantes. E quem diria que um ar-condicionado poderia ser o ponto de partida para tantas risadas e aprendizados sobre a vida?
E assim, entre risos e rabos balançantes, a aula sobre o caos se tornou um clássico da Universidade, eternizando os ratinhos da sala 006 na memória de todos.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com a escritora, poetisa, tradutora e atualmente professora pós-doutorada da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, morando atualmente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.
Fontes
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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