domingo, 15 de dezembro de 2024

Vereda da Poesia = 179


Trova de
CYRO ARMANDO CATTA PRETA
Orlândia/SP

Todo livro, quando aberto,
é pólen, é flor, é fruto…
fechado: é sombra, é deserto,
é silêncio, é campa, é luto.
= = = = = =

Soneto de
ANTERO DE QUENTAL
Ponta Delgada/Portugal, 1842 – 1891

Uma Amiga

Aqueles que eu amei, não sei que vento
Os dispersou no mundo, que os não vejo...
Estendo os braços e nas trevas beijo
Visões que a noite evoca o sentimento...

Outros me causam mais cruel tormento
Que a saudade dos mortos... que eu invejo...
Passam por mim... mas como que tem pejo
Da minha soledade e abatimento!

Daquela primavera venturosa
Não resta uma flor só, uma só rosa...
Tudo o vento varreu, queimou o gelo!

Tu só foste fiel - tu, como dantes,
Inda volves teus olhos radiantes...
Para ver o meu mal... e escarnece-o!
= = = = = = = = = = = = = =  

Trova de
NEIDE ROCHA PORTUGAL
Bandeirantes/PR

Tua cantiga de amor
adormece em tempos idos,
mas o vento, a meu favor,
vem soprá-la em meus ouvidos!
= = = = = = 

Poema de
MYRTHES MAZZA MASIERO
São José dos Campos/SP

Duelo íntimo

Esta noite
Fora do meu costume,
Eu me nego a me deitar nessa cama vazia
Enrolada nos restos de tua ausência
Prolongada
E sempre impune...

Esta noite
Prefiro dormir sozinha e encurralada
Neste abandono
Sob a coberta pesada
De minhas emoções extenuadas,
No chão frio do meu sono...

Prefiro qualquer coisa
Que ficar nesta noite sem fim,
A esperar que tua ausência
Tão presente e contínua,
Estenda sobre mim,
Neste corpo sem dono,
Os restos mortais de um amor
Desgastado, esfarrapado
E em ruína!
= = = = = = 

Trova de
NARCISO DA SILVA NERY
Santa Inês/BA

Em minha porta bem larga
nunca passou a ventura,
e passa a tristeza amarga
no friso da fechadura...
= = = = = = 

Soneto de
EUCLIDES DA CUNHA
Cantagalo/RJ, 1866 – 1909, Rio de Janeiro/RJ

Dedicatória

Se acaso uma alma se fotografasse
de sorte que, nos mesmos negativos,
A mesma luz pusesse em traços vivos
O nosso coração e a nossa face;

E os nossos ideais, e os mais cativos
De nossos sonhos... Se a emoção que nasce
Em nós, também nas chapas se gravasse
Mesmo em ligeiros traços fugitivos;

Amigo! tu terias com certeza
A mais completa e insólita surpresa
Notando - deste grupo bem no meio -

Que o mais belo, o mais forte, o mais ardente
Destes sujeitos é precisamente
O mais triste, o mais pálido, o mais feio.
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

A poesia se engalana,
mas só se torna completa,
quando se faz soberana
na voz do próprio poeta!
= = = = = = 

Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

Herança

Eu vim de infinitos caminhos,
e os meus sonhos choveram lúcido pranto
pelo chão.

Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos,
essa vida, que era tão viva, tão fecunda,
porque vinha de um coração?

E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos,
do pranto que caiu dos meus olhos passados,
que experiência, ou consolo, ou prêmio alcançarão?
= = = = = = 

Trova de 
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG

Alegrias coleciono
neste meu tardio amor.
É na colheita do outono
que os frutos têm mais sabor.
= = = = = = 

Poema de 
GUILHERME DE ALMEIDA 
Campinas/SP, 1890-1969, São Paulo/SP

Nós, I

O pequenino livro, em que me atrevo
a mudar numa trêmula cantiga
todo o nosso romance, ó minha amiga,
será, mais tarde, nosso eterno enlevo.

Tudo o que fui, tudo o que foste eu devo
dizer-te: e tu consentirás que o diga,
que te relembre a nossa vida antiga,
nos dolorosos versos que te escrevo.

Quando, velhos e tristes, na memória
rebuscarmos a triste e velha história
dos nossos pobres corações defuntos,

que estes versos, nas horas de saudade,
prolonguem numa doce eternidade
os poucos meses que vivemos juntos.
= = = = = = 

Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Das estações, a mais triste,
a que mais me causa dor,
é a primavera que existe
num coração já sem flor!
= = = = = = 

Hino de
TUPÃSSI/ PR

Na planície verdejante e ondulada
Na paisagem mais linda que há
Tu nasceste Tupãssi adorada
Filha altiva do gigante Paraná
Na clareira da floresta então aberta
Na marcha rumo à civilização
Implantaram esta cívica oferta
Que será eterna em nosso coração.

Quanto amor na ideal trajetória
Da lavoura eclodindo no chão
A mostrar que o labor traz a vitória
Dos que lutam com fé e união
Terra da mãe de Deus, Tupãssi.
Minha vida e meu bem querer
Outra igual juro que nunca vi
Sou teu filho e por ti vou viver.

Os verdes campos de riquezas colossais
Nos garantem um futuro alvissareiro
Com ajuda de braços leais,
Nós seremos um grande celeiro
Um amanhã radiante este é o tema
Desta terra de paz e esplendor
Pois unidos venceremos, eis o lema.
De um povo capaz e lutador.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Tiro a máscara e ouço aflita,
de um mar de farsas sem fim,
meu outro eu que ainda grita
por vida dentro de mim.
= = = = = = 

Poema de
MARTINS FONTES
Santos/SP, 1884 – 1937

O que se Escuta numa Velha Caixa de Música

Nunca roubei um beijo. O beijo dá-se,
ou permuta-se, mas naturalmente.
Em seu sabor seria diferente
se, em vez de ser trocado, se furtasse.

Todo beijo de amor, longo ou fugace,
deve ser u prazer que a ambos contente.
Quando, encantado, o coração consente,
beija-se a boca, não se beija a face.

Não toquemos na flor maravilhosa,
seja qual for a sedução do ensejo,
vendo-a ofertar-se, fácil e formosa.

Como os árabes, loucos de desejo,
amemos a roseira, olhando a rosa,
roubemos a mulher e não o beijo.
= = = = = = = = =  

Trova de
ADOLFO MACEDO
Magé/RJ

Condeno toda arbitragem
que muda as regras da história...
- Vencer no grito é vantagem,
mas sem gosto de vitória.
= = = = = = = = = 

Nenhum comentário: