segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Vereda da Poesia = 185


Trova Humorística de
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

Teve um chilique tão forte
que logo tomou vacina
e se mandou para o norte
temendo a gripe sulina ...
= = = = = =

Soneto de
LEANDRO BERTOLDO SILVA
Padre Paraíso/ MG

Esperança

Quero fazer dos meus olhos mentira
Para acordar igual a um passarinho
Ouvindo ao longe, bem longe do ninho
O que o cansaço fadiga e suspira.

Oh, mar de gente, de sangue e de ira!
Torpe desejo de espúrio caminho.
Faça-me livre de seu escarninho.
Não me embandeire; seu ardil não me inspira.

E nesta febre que (se)invade - há jeito?
Saudades tenho as que me recordo
Quando, feliz, dormíamos no leito.

Há de chegar o dia em que a bordo,
Mesmo a noite sendo em meu peito,
Desta cingida nau outro me acordo. 
= = = = = = = = =  

Trova de
ADELIR MACHADO
São Gonçalo/RJ (1928 – 2003) Niterói/RJ

A empregada de hoje em dia
quando vai para o fogão,
cozinha em banho-maria
as cantadas do patrão!!!
= = = = = = 

Poema de
CRISTINA CAMPO
Bolonha/Itália, 1923 – 1977

Teu Nome…

Amor, hoje teu nome
a meus lábios escapou
como ao pé o último degrau…

Espalhou-se a água da vida
e toda a longa escada
é para recomeçar.

Desbaratei-te, amor, com palavras.

Escuro mel que cheiras
nos diáfanos vasos
sob mil e seiscentos anos de lava
Hei de reconhecer-te pelo imortal
silêncio.

Ficou para trás, quente, a vida,
a marca colorida dos meus olhos, o tempo
em que ardiam no fundo de cada vento
mãos vivas, cercando-me…

Ficou a carícia que não encontro
senão entre dois sonos, a infinita
minha sabedoria em pedaços. E tu, palavra
que transfiguravas o sangue em lágrimas.

Nem sequer um rosto trago
comigo, já traspassado em outro rosto
como esperança no vinho e consumado
em acesos silêncios…

Volto sozinha
entre dois sonos lá ’trás, vejo a oliveira
rósea nas talhas cheias de água e lua
do longo inverno. Torno a ti que gelas
na minha leve túnica de fogo.  
= = = = = = 

Poetrix de
LUIZ GONDIM DE ARAÚJO LINS
Rio de Janeiro/RJ

Procura

Averiguara portas e janelas,
percorrera todas as telas
do perímetro da solidão
= = = = = = 

Soneto de
HILDEMAR CARDOSO MOREIRA 
São Mateus do Sul/PR, 1926  – 2021, Contenda/PR

Lagrimas e risos

Você chorou quando aportou na terra,
E nós choramos de alegria imensa,
Por isso cremos que em teu peito encerra
Toda a pureza que o amor condensa.

 E foi grande a euforia que sentimos
Naquele lindo vinte e um de julho,
Que então choramos e então sorrimos
Num misto de alegria e de orgulho.

 Você é o fruto de um amor bendito.
O pranto e o riso assim se misturaram
Ao contemplar o teu perfil bonito.

 E hoje existe com mais intensidade
Aquele amor dos dias que passaram
Porque ele aumenta quanto avança a idade.

= = = = = = = = = 

Trova do
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Esta dor que em mim persiste
e não me deixa dormir!...
é "aquela" lembrança triste
do que deixou de existir!
= = = = = = 

Poema de
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Itabira do Mato Dentro (1902 – 1987) Rio de Janeiro/RJ

Poema patético

Que barulho é esse na escada?
É o amor que está acabando,
é o homem que fechou a porta
e se enforcou na cortina.

Que barulho é esse na escada?
É Guiomar que tapou os olhos
e se assoou com estrondo.
É a lua imóvel sobre os pratos
e os metais que brilham na copa.

Que barulho é esse na escada?
É a torneira pingando água,
é o lamento imperceptível
de alguém que perdeu no jogo
enquanto a banda de música
vai baixando, baixando de tom.

Que barulho é esse na escada?
É a virgem com um trombone,
a criança com um tambor,
o bispo com uma campainha
e alguém abafando o rumor
que salta do meu coração.
= = = = = = 

Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Da Bebida fiquei farto, 
bebendo, perdi quem amo; 
hoje bebo no meu quarto 
as lágrimas que eu derramo.
= = = = = = 

Poema de 
MÁRIO A. J. ZAMATARO
Curitiba/PR

Lances

Às margens do acaso,
um lance de sorte!

De calar contido:
Aguardado lance
em lúcido olhar
em úmida boca
em túmida carne
em único afeto
em cínico corpo...
A falar revanche,
dado sem sentido:

No acaso das margens,
a sorte de um lance!
= = = = = = 

Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP

Enquanto a guerra inundar 
num dilúvio, a Terra inteira, 
onde a pomba irá buscar 
outro ramo de oliveira?!…
= = = = = = 

Hino de
PUXINANÃ/ PB

Enchei de orgulho vossos corações
para o nosso torrão exaltar!
"Cidade dos Lagedos" imponentes,
que ostenta como marco singular.
Outrora, foi a nobre e boa fonte
que a sede de tantos matou;
por isso, ao espelho das águas
gente amiga teu núcleo formou.

Puxinanã, a nossa fé desponta
na tua gente brava e sem temor!
Hás de crescer por nossas mãos,
fiéis que somos, pelo vosso amor!

Ó terra mãe por crença de teus filhos,
rua independência se fez!
Joaquim Limeira e Zoroastro
erguerão o pavilhão, com altivez,
da luta pelo Desenvolvimento
com teu Trabalho e União.
No campo, mostra tua riqueza,
na Cultura, também na Educação.

Já inspiraste a musa do Poeta
com "As flores de Puxinanã",
que evoca o vigor da juventude:
a tua esperança do amanhã..
"Lagoa da Pedras", foste no começo,
amada pelos ancestrais;
agora, mais do que outrora,
os teus filhos te adoram muito mais.
= = = = = = 

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/ SP

Felicidade, abre a porta 
vem logo ressuscitar 
minha esperança já morta 
cansada de te esperar.
= = = = = = 

Soneto de 
ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO
Ouro Preto/MG, 1870 – 1921, Mariana/MG

Quando eu disser adeus...

Quando eu disser adeus, amor, não diga
adeus também, mas sim um "até breve";
para que aquele que se afasta leve
uma esperança ao menos na fadiga

da grande, inconsolável despedida...
Quando eu disser adeus, amor, segrede
um "até mais" que ainda ilumine a vida
que no arquejo final vacila e cede.

Quando eu disser adeus, quando eu disser
adeus, mas um adeus já derradeiro,
que a tua voz me possa convencer

de que apenas eu parti primeiro,
que em breve irás, que nunca outra mulher
amou de amor mais puro e verdadeiro.
= = = = = = = = =  

Trova Humorística de
NEWTON MEYER
Pouso Alegre/MG (1936 – 2006)

Verão assim, credo em cruz?
– Foi tanto calor na cuca,
que uma porca deu à luz
três leitões à pururuca!!!
= = = = = = = = = 

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