sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Marcos Antonio Campos (A aurora e o crepúsculo)

Um titã chamado Prometeu roubou o fogo do Olimpo. Sem saber o que fazer com ele, entregou-o a Claude Monet. O pintor, ainda, um discípulo na arte, sem o domínio completo da técnica, borrou completamente o céu de Veneza. Os venezianos, encantados com o pôr do sol laranja, correram à Praça de São Marcos para verem o espetáculo, de lá partiram em suas gôndolas, cantando "O Sole Mio". Estava criada a mania de se observar o pôr do sol.

Eu gosto de escrever e hoje fazendo um soneto, comecei a pensar que as pessoas não dão o valor necessário à aurora. A aurora parece os meus poemas, ninguém os lê e quase ninguém a ver. Não é cantada em verso e prosa, mas é ela que dá o primeiro bom dia, quando o galo canta em sua homenagem. É para ela que cantam os passarinhos quando você acorda. É para ela que sorriem as flores e é para ela que o orvalho dança, oscilando pelas folhas e flores, até explodirem em cristais que irrigam e engravidam a mãe terra. O que faz de tão extraordinário o crepúsculo, além de borrar o céu e mergulhar no mar, para merecer tantos olhares?

- Amigo! Você vai encontrar o mesmo problema entre o sol e a lua. Todos a amam. Ela tem menos brilho do que o sol. É volúvel, tem quatro faces e só anda acompanhada de um séquito de estrelas, e quando ela está naqueles dias, não aparece. Ora é gorda, ora é magra, vaidosa e bela como uma mulher. Cantada em verso e prosa é apaixonada pelo mar. O crepúsculo indica o fim do dia e lhe traz o ócio, encanta sua visão e o mais importante, instiga você a amar. Ele ilumina suas veredas, indicando-lhe o caminho de casa ou do bar. Quando o dia amanhece, surge a aurora e o sol lhe apresenta a fatura, você vai pagá-la com seu trabalho e o gosto salgado do suor de seu rosto.

Meus versos são frutos da árvore da vida e em tempos de pandemia eles são perversos no despertar dos sentidos. Não busco apenas o belo, mas o elo que fará sentido. Procuro a persistência da memória e o grito retorcido em ondas sonoras. Procuro a noite estrelada e a tempestade numa casca tênue bailando sobre o mar. A aurora é o início da jornada, mas você só vencerá o dia se chegar ao crepúsculo, quando você meditará sobre a beleza da vida e fará a conexão com sua fé.
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* O autor é de Natal/RN

(esta crônica obteve o Menção Honrosa no Concurso de Crônicas Adulto Nacional “Foed Castro Chamma”, em 2020, com o tema Aurora)

Fontes: Luiza Fillus/ Bruno Pedro Bitencourt/ Flávio José Dalazona (org.). III Concurso Literário “Foed Castro Chamma 2020”. Ponta Grossa/PR: Texto e Contexto, 2021. 
Livro enviado por Luiza Fillus.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

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