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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Márcia Lígia Guidin (Machado de Assis: Por que lê-lo)

Machado de Assis nasceu em 1839 e morreu em 1908. Foi um escritor do tempo de dom Pedro II. Por que, então, ler as obras de alguém que morreu há quase cem anos? Na verdade, poderíamos dar muitas razões acadêmicas e culturais: ele é o maior símbolo do realismo brasileiro, movimento que introduziu no país; fundou a Academia Brasileira de Letras, era genial, veio das classes baixas etc.

Mas o fato é que a melhor razão as pessoas não dizem: ler Machado é muito engraçado. Suas histórias são irônicas, reveladoras de coisas que todo mundo sabe, mas não comenta… Elas falam de valores morais que todos criticam, mas têm.

Quando alguém diz que Machado é “cético”, é disso que está falando: esse ótimo escritor não acreditava nas boas intenções, na bondade, na generosidade, no amor romântico, na eterna lealdade.

Máscaras da sociedade

Machado desmascarou com sutileza a falsidade de homens e mulheres de sua época de, sua cidade, de nosso país. Só que as situações e temas de que trata em sua obra são tão universais (amor, adultério, egoísmo, cinismo, apadrinhamentos, pobres e ricos, casamentos por interesse etc.), que nosso escritor pode ser lido em qualquer outro país. Ou seja, temos um escritor brasileiro (na época em que havia poucos), tão importante quanto Eça de Queirós, Dostoiévski, Flaubert.

Machado de Assis não imitava outros escritores, era original. A personalidade desse autor era tão irônica, tão observadora da realidade, que temos o riso de canto de boca a cada frase em que prestamos melhor atenção.

Essa conversa de que só entenderemos Machado depois de adultos é besteira. O que existe é falta de ajuda de outros leitores (professores, pessoas mais velhas) para começarmos a ler e apreciar esse escritor universal.

O defunto Brás Cubas

Por exemplo, um de seus mais famosos personagens, o solteirão Brás Cubas, do romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881) resolve contar sua vida e seus amores depois da sua morte. Ele está entediado na eternidade, não tem o que fazer, é um defunto que vira autor (é, portanto, um defunto autor e não um autor defunto). Como Cubas quer ser original, diz que vai começar sua história narrando sua morte e não o nascimento. Moisés, o grande Moisés, começou pelo começo, diz ele; para ser original, então, vai começar pelo fim.

Perceba: só esse início (a primeira página do romance) já é suficiente para notarmos que esse defunto quer debochar de nós, leitores. E ele vai em frente: diz que havia poucas pessoas em seu enterro, mas um amigo fez um belo discurso à beira de sua cova. Depois, como se não percebesse o que diz, afirma: “Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei”. Nós, leitores, rimos ao ler a frase, pois está claro que o amigo só fez o discurso (aliás, ridículo, vá ler!) porque havia recebido uma pequena herança. Sugerir o contrário do que de fato diz (ou seja, construir a ironia) é uma especialidade machadiana.

Ironia e linguagem

E nós continuamos a ler o tal romance; com um pouco de irritação com esse narrador estranho e arrogante, mas continuamos.

Adiante, Brás Cubas, contando sua juventude (era na verdade um playboy rico e desocupado), apaixona-se por uma prostituta de luxo, com quem gasta muito dinheiro (do pai, é claro). Este ficará furioso, mas Brás Cubas, fingindo certa ingenuidade, nos conta: “Marcela amou-me por quinze meses e onze contos de réis”. Esta curta frase é maravilhosa, pois, sem denegrir a moça diretamente, o protagonista nos afirma que o amor dela era profissional, interesseiro, por dinheiro. Marcela não o amava: o autor construiu outra ironia, sugerindo que entendêssemos o contrário do que disse.

E esse romance, tão famoso, vai por aí afora. É só diversão, embora, é claro, com um vocabulário do século XIX, o que nem sempre é simples para nós. Na verdade, o tal Brás Cubas se exibe até no uso do vocabulário, ele é pedante. Se prosseguirmos na leitura, conseguimos rir muito, pensando que os vários episódios vividos naquela sociedade (por ele e por todos), são os mesmos nos tempos de hoje. E muitas ações sociais e morais são as mesmas… O pai de Brás Cubas, por exemplo, era um exibicionista. Dava festas muito ricas para ‘fazer barulho’, para aparecer na sociedade. Quanta gente faz isso ainda hoje, não? Existem até revistas especializadas nessa exibição de ricos e famosos…

Acabamos percebendo que as pessoas são as mesmas, que o mundo da hipocrisia e farsa social não mudou. Esta sensação é parte do pessimismo machadiano de que tanto nos falam os livros Não gargalhamos, apenas rimos em silêncio, com o canto da boca, para nós mesmos. E este sinal é o famoso humor inglês de que falam os estudiosos: as piadas, as ironias são todas assim, inglesas; o defunto diz o que quer, fingindo não dizer.

Um dos momentos mais cruéis (sim, a ironia às vezes é cruel com os personagens) se chama “A flor da moita”. Sabe por quê? Quando pequeno, Brás havia presenciado um beijo às escondidas que um poeta casado dava numa dama solteirona atrás de uma moita da mansão de seus pais. Pois bem, anos depois, conheceu a filha bastarda dessa mesma senhora, a menina Eugênia. Era linda, educada, pura, mas coxa (manca). Eugênia ficou então sendo “a flor da moita” porque concebida no amor ilícito. Por isso teria defeitos. Perceba que Brás é grosseiro, vulgar e deseducado. Mas quem vai punir um defunto? Quem?

Quem inventou Brás Cubas?

Porém: Quem inventou Brás Cubas, que narra em primeira pessoa toda sua história? O verdadeiro autor da obra é Machado de Assis. Pensando melhor, vemos que esse Joaquim Maria Machado de Assis, fluminense, mulato, epilético, casado com Carolina, sem filhos, e muito famoso no Rio de Janeiro inventou um modo muito original de pôr na ” boca” de um defunto inventado coisas que ele, Machado, queria dizer. Quer dizer: o narrador Brás Cubas não é nem nunca será Machado. Mas Machado, usando seu personagem, ironiza a sociedade em que viviam os ricos no Rio de Janeiro.
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MÁRCIA LÍGIA DIAS DI ROBERTO GUIDIN nasceu em São Paulo, em 1950. Graduada em Música (piano) pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.  Cursou para Letras na FFLCH da USP, onde cursou a graduação em Letras Anglo-Germânicas. Licenciou-se pela Faculdade de Educação da USP.  Deu aulas em Ensino Médio regular, nas escolas do Estado, mas logo passou a lecionar em cursos de Madureza e Supletivo. No curso Santa Inês, trabalhou 8 anos como professora de língua portuguesa e literatura, e foi coordenadora de unidade. Em 1985, iniciou o mestrado em Literatura Brasileira na FFLCH da USP tendo produzido uma tese sobre as relações entre feminino e morte em obras de Clarice Lispector, com destaque para a última obra da escritora, A hora da estrela. Em 1990, inicia o doutorado na mesma faculdade, tendo então estudado a velhice na obra de Machado de Assis, numa tese chamada Armário de vidro, depois transformada em livro em 2000. Construiu sua carreira acadêmica como professora de Teoria Literária e Literatura Brasileira, na UNIP, onde se aposentou em 2006, como Professora Titular. Foi professora de graduação e pós-graduação da Universidade são Marcos e Docente Convidada do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP, onde lecionou Edição de Texto e Literatura Brasileira (até 2002). Trabalhou também na Folha de S. Paulo (2000), onde foi professora Consultora da Redação. Exerceu simultaneamente a atividade de editora externa para algumas casas editorias paulistas, como Ática e Martins Fontes. Editou, traduziu e várias obras,  e coordena algumas coleções de obras paradidáticas no mercado editorial paulistano. Palestrante e editora  executiva da Miró Editorial, faz  coach para  escritores e integra a Comissão Organizadora do Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, da qual faz parte sua empresa. Tem um programa da Radio USP-FM “Que tal seu português?”,  onde  comenta questões de língua  portuguesa e literatura brasileira. É crítica literária do Jornal Rascunho.

Fontes:
UOL Educação Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação. Acesso em 28.12.2013.
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/machado-de-assis-1-por-que-le-lo.htm
Imagem = http://www.naniesworld.,com

domingo, 10 de agosto de 2025

A Crônica

Na literatura e no jornalismo, uma crônica (do latim "chronica": "relato em ordem cronológica") é uma narração curta, produzida essencialmente para ser veiculada na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal ou mesmo na rádio. Possui assim uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o leem.

A palavra crônica se origina do latim Chronica e do grego Khrónos (tempo). O significado principal neste tipo de texto é precisamente o conceito de tempo, ou seja, é o relato de um ou mais acontecimentos em um determinado período. Significava, no início do Cristianismo, o relato de acontecimentos em sua ordem temporal (cronológica). Era, portanto, um registro cronológico de eventos.

O número de personagens é reduzido ou até pode não haver personagens. É a narração do cotidiano das pessoas de forma bem humorada, fazendo com que se veja de uma forma diferente aquilo que parece óbvio demais para ser observado.

No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Ela apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal des Débats, publicado em Paris.

A crônica literária, surgida a partir do folhetim, na França, tomou características próprias no Brasil.

A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado em jornais e revistas. Assim, o fato de ser publicada nesses meios já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições.

Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se inspira nos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém.

Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o jornalismo e a literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia a dia. A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam

ORIGEM

Características

Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.

Em resumo, podemos determinar quatro pontos:

1– Seção ou artigo especial sobre literatura, assuntos científicos, esporte etc., em jornal ou outro periódico;

2– Pequeno conto que relata de forma artística e pessoal fatos colhidos no noticiário jornalístico e cotidiano;

3 – Normalmente possui uma crítica indireta;

4– Muitas vezes a crônica vem escrita em tom humorístico. Exemplos de autores deste tipo de crônica no Brasil são Fernando Sabino, Leon Eliachar, Luis Fernando Verissimo e Millôr Fernandes, e, em Portugal, Ricardo Araújo Pereira.

TIPOS DE CRÔNICAS

Crônica Descritiva
Ocorre quando uma crônica explora a caracterização de seres animados e inanimados em um espaço vivo como uma pintura, precisa como uma fotografia ou dinâmica como um filme publicado.

Crônica Narrativa
Baseia-se em uma história, o que a aproxima do conto. Pode ser narrado tanto na 1ª quanto na 3ª pessoa do singular. Texto lírico (poético, mesmo em prosa). Comprometido com fatos cotidianos ("banais", comuns).

Crônica Dissertativa
Opinião explícita, com argumentos mais "sentimentalistas" do que "racionais" (por exemplo, ao invés de se escrever "segundo o IBGE a mortalidade infantil aumenta no Brasil", escreve-se "vejo mais uma vez esses pequenos seres não alimentarem sequer o corpo"). Exposto tanto na 1ª pessoa do singular quanto na do plural.

Crônica Narrativo-descritiva
É quando uma crônica explora a caracterização de seres, descrevendo-os. E, ao mesmo tempo mostra fatos cotidianos ("banais", comuns) no qual pode ser narrado em 1ª ou na 3ª pessoa do singular. Ela é baseada em acontecimentos diários.

Crônica Humorística
Deve ter algo que chame a atenção do leitor assim como um pouco de humor. É sempre bom ter poucos personagens e apresentar tempo e espaços reduzidos. A linguagem é próxima do informal. Visão irônica ou cômica de fatos apresentados

Crônica Lírica
Apresenta uma linguagem poética e metafórica. Nela, predominam: emoções, os sentimentos (paixão, nostalgia e saudades ), traduzidos numa atitude poética.

Crônica Poética
Apresenta versos poéticos em forma de crônica, expressando sentimentos e reações de um determinado assunto.

Crônica Jornalística
Apresentação de notícias ou fatos baseados no cotidiano. Pode ser policial, desportiva, etc..

Crônica Histórica
Baseada em fatos reais, ou fatos históricos. Uma boa crônica é rica nos detalhes, descritos pelo cronista de forma bem particular, com originalidade.

A partir do século XV, com Fernão Lopes, a crônica passou a ser uma perspectiva individual ou interpretativa. Até então, resumia-se a relatos de acontecimentos históricos, registrados por ordem cronológica. A crônica de teor crítico surgiu com os periódicos (folhetins e jornais), evoluindo até adentrar de vez ao jornalismo e à literatura.

A crônica histórica busca sempre relatar a realidade social, política ou cultural, avaliada pelo autor quase sempre com um tom de protesto ou de argumentação.

Existem duas formas de crônica: a crônica narrativa, relatando fatos do cotidiano, com personagens, enredo, etc. e a crônica jornalística, uma forma mais moderna, que não narra e sim disserta, defende ou mostra um ponto de vista diferente do que a maioria enxerga. As semelhanças entre elas são o caráter social crítico, o humor, a ironia, até mesmo com um tom sarcástico. A crônica conta fatos cotidianos comuns da vida real das pessoas. Não se deve confundir crônica com conto ou fábula, que contam fatos inusitados e irreais.

DIFERENÇAS ENTRE CRÔNICA E CONTO

A crônica tem pontos em comum com o conto, como serem narrativas curtas. No entanto, a crônica se diferencia do conto pela intenção do autor e pelo tipo de narrativa.

Características da crônica 
– Intenção de relatar fatos e histórias do dia a dia
– Tem um tom humorístico ou crítico
– Pode incluir piadas ácidas e críticas
– É um gênero discursivo ligado ao jornal
– O narrador é o próprio autor, e o próprio autor também pode ser a personagem

Características do conto 
– Narrativa curta com um único conflito
– Intenção de contar uma história
– Estilo minimalista, com elementos narrativos
– Pode incluir elementos fantásticos ou sobrenaturais
– O clímax ocorre no final da história

Fontes:
Imagem criada com Microsoft Bing 

sábado, 9 de agosto de 2025

Como funcionam os jornais

 texto por Bob Wilson*

Introdução

Os jornais foram a primeira forma de comunicação de banda larga. Muito antes dos computadores, televisão, rádio, telefones e telégrafo, os jornais eram a maneira mais barata e eficiente de atingir as massas populares com notícias, comentários e anúncios. Os jornais, desde o tempo em que eram apenas uma grande folha de papel impressa à mão, têm sido um meio de comunicação de acesso aleatório, pois os leitores podem passar fácil e rapidamente pelas diferentes seções de um jornal, voltando a elas dias ou semanas depois. Além disso, pelo fato de seu "software" possuir uma linguagem comum, ele é universal e eterno. Por exemplo, um jornal publicado antes da Revolução Americana pode ser lido hoje como foi lido em 1775.

Neste artigo, vamos dar uma olhada nos bastidores de um complexo negócio em crescimento, que é a administração de um jornal, usando o The Herald-Sun (em inglês), de Durham, na Carolina do Norte, como exemplo real. Vamos examinar como as notícias são cobertas e descritas, como chegam ao jornal, como o jornal chega na gráfica e finalmente é distribuído, chegando às bancas e à sua casa. Também daremos uma olhada no jornal como uma empresa e discutiremos como ocorre o equilíbrio entre lucratividade e as funções de prestação de serviço e comunicação na sociedade.

O papel do jornal nos Estados Unidos tem mudado com o passar do tempo?

Embora o jornal de 1775 ainda seja legível, existe uma grande diferença entre ele e seu equivalente moderno. Em 1775, o jornal era publicado sob os caprichos de um governo colonial britânico, com pouca tolerância para a livre expressão de ideias, principalmente ideias políticas radicais. A Primeira Emenda à Constituição (em inglês), parte da Declaração dos Direitos dos Cidadãos Americanos (Bill of Rights) adicionada à Constituição Americana em 1791, proibiu leis que restringissem a liberdade de imprensa. Em uma era de reis e imperadores, isso significou um enorme passo rumo à liberdade individual e uma afronta à autoridade do Estado.

Os princípios e práticas que regem os jornais de hoje (objetividade jornalística, escrita concisa, notícias nacionais e internacionais) surgiram depois da Guerra Civil americana. Esta era a Idade de Ouro dos jornais diários, não somente pelo grande número de jornais então em circulação, mas também pelos lucros que eles geravam, permitindo a magnatas da imprensa como William Randolph Hearst e Joseph Pulitzer (em inglês) viverem em um patamar suntuoso. Nunca antes os jornais haviam exercido tanta influência na política e na cultura americana. Hearst, cujo império, ou melhor, parte dele, ainda existe até os dias de hoje, era tão poderoso que foi responsabilizado (ou culpado) pela explosão da guerra contra a Espanha em 1898.

O crescimento do telejornalismo

Com o crescimento do telejornalismo na década de 60, os jornais se confrontaram com seu primeiro grande concorrente. Hoje, a ABC News (em inglês) declara que mais americanos ficam informados através da ABC do que de qualquer outra fonte - e isso é provavelmente verdade. Os 1600 jornais diários americanos continuam servindo milhões de leitores, mas não são mais o meio de comunicação de massa dominante do país. O que mais se questiona nesse inicio de século é como fazer para sobreviver e progredir na indústria do jornal com a cultura atual mais sintonizada nos meios eletrônicos de comunicação que na tinta de impressão.

Os jornais vão sair de circulação?

Podemos dizer com certeza que os jornais não vão cair no esquecimento, como aconteceu com o Código Morse. Eles são um meio de comunicação portátil e conveniente. Ninguém leva o monitor do computador para a mesa do café da manhã para ler as notícias matinais. Além disso, os jornais têm provado estar dispostos a se renovar para os leitores de hoje, enfatizando bom design, fotos coloridas e histórias detalhadas que relatam ou interpretam acontecimentos atuais.

Pessoas e departamentos diferentes contribuem para um processo que lembra um rio com inúmeros afluentes. Entre eles estão cinco com grande importância para os leitores de um jornal: notícias, editorial, anúncios, produção e distribuição.

O que são notícias e como funcionam?

Curiosamente, para uma publicação denominada jornal, ninguém jamais criou uma definição padrão para o que é uma notícia. Mas o termo tem normalmente uma significação ampla: coisas anormais (falhas humanas, falhas mecânicas e desastres naturais são frequentemente "notícia").

Repórteres são os olhos e os ouvidos do jornal. Eles colhem informações de muitas fontes: algumas públicas, como registros na polícia, e outras privadas, como um informante do governo. Às vezes um repórter prefere ser preso do que revelar o nome de uma fonte confidencial. Os jornais orgulhosamente se consideram o Quarto Poder, que expõe o mal comportamento do Legislativo, Executivo e Judiciário.

Alguns repórteres são responsáveis pelos furos de reportagem ou por uma área de cobertura, como tribunais, prefeitura, educação, negócios, medicina e assim por diante. Outros são chamados repórteres gerais, o que significa que ficam de plantão para qualquer tipo de acontecimento, como acidentes, eventos cívicos e histórias interessantes. Dependendo das necessidades de um jornal durante o ciclo diário de notícias, repórteres especializados mudam facilmente do furo de reportagem para notícias gerais (novos repórteres eram chamados de focas, mas o termo não é mais usado).

Nos filmes, os repórteres têm trabalhos emocionantes, agitados e perigosos, vivendo de acordo com a famosa declaração sobre a vida nos jornais: "confortar os aflitos e afligir os confortados". Embora alguns jornalistas já tenham acabado mortos devido a investigações, o trabalho em um jornal é rotina para a grande maioria dos repórteres. Eles são nossos cronistas da vida diária, filtrando a realidade e trazendo um senso de ordem para um mundo desordenado.

Todos os repórteres atendem, em última instância, a um editor. Dependendo de seu tamanho, um jornal pode ter inúmeros editores, começando com um editor-executivo, responsável pelo setor de notícias. Subordinado ao editor-executivo está o editor-geral, que inspeciona o trabalho diário do setor de notícias. Outros editores das áreas de esportes, fotografia, estadual, nacional, coluna e óbitos, por exemplo, também podem ser subordinados ao editor-geral.

No entanto, o editor mais conhecido - e de alguma forma o mais crucial - é o editor-chefe. Os repórteres trabalham diretamente para este editor, que determina histórias, reforça prazos e é o primeiro a ver os rascunhos dos repórteres no sistema de composição ou na rede de computadores. Estes editores são chamados de gatekeepers (guardião/porteiro), pois controlam quase tudo o que deve ou não entrar na próxima edição do jornal. Normalmente trabalhando sob o estresse das notícias de última hora, suas decisões são traduzidas diretamente no conteúdo do jornal.

Uma vez que o editor metropolitano termina de editar o rascunho de um repórter, a história vai do sistema de composição até outra parte do setor de notícias, a mesa de redação, através da rede de computadores. Aqui, os vice-editores verificam a ortografia e outros erros. Eles também procuram nos artigos tudo aquilo que pode confundir o leitor ou deixar perguntas sem respostas. Se necessário, eles podem verificar fatos na biblioteca do jornal, que mantém uma coleção de livros de referência, microfilmes e cópias online de edições antigas.

A chefe da mesa de redação manda as histórias concluídas para outros editores, que ajustam histórias locais, as manchetes (escritas pelo editor, não pelo repórter!) e as fotos digitais nas páginas. Os jornais fazem cada vez mais este trabalho, chamado de paginação, com computadores pessoais, usando programas disponíveis em qualquer loja de artigos para computador. Microsoft Windows, Word e Quark Express são três programas que, apesar de não serem específicos para produção de jornais, são facilmente adaptados para isso. Antes de vermos o que ocorre com as páginas eletrônicas feitas pela mesa de redação, é útil entendermos como outros setores do jornal contribuem com o ciclo de produção.

O que são os editoriais?

Um jornal publica sua visão sobre fatos atuais, regionais ou nacionais, nos editoriais. O editorial é um texto opinativo não assinado que reflete a posição coletiva da redação do jornal. Editoriais não são notícias, são opiniões baseadas em fatos. Por exemplo, os editoriais podem criticar a atuação de autoridades públicas como o prefeito, o chefe de polícia ou o conselho de alunos local. Por outro lado, podem também elogiar pessoas por suas contribuições. Seja qual for o assunto, jornais esperam que seus editoriais aumentem o nível de discussão na comunidade.

Isto ocorre de duas maneiras que são familiares para o leitor: as cartas ao editor e os artigos de opinião editorial. As cartas estão sempre entre as seções mais lidas de um jornal, pois é onde os leitores expressam suas opiniões. Alguns jornais limitam as cartas a um determinado número de palavras, 150, 250 ou até 300, enquanto outros publicam cartas de qualquer tamanho. Os artigos de opinião editorial normalmente têm de 850 a 1000 palavras. Os jornais têm espaço para cartas ao editor e artigos de opinião editorial, disponíveis como parte de sua contribuição para o diálogo.

O editorial é dirigido por um redator que não trabalha no setor de notícias. Pessoas que trabalham em jornais chamam isso de "separação entre a Igreja e o Estado", o que significa que há uma linha que não deve ser ultrapassada entre notícia e opinião. Se esta linha for ultrapassada, o jornal perde seu bem mais valioso, a credibilidade. Por este motivo, os redatores em alguns grandes jornais são subordinados ao editor, que é o diretor-geral da empresa, e não ao editor-executivo. Em outros jornais ele pode ser. Seja qual for o modelo da organização, nenhum dos dois departamentos pode dizer um ao outro o que publicar no jornal.

Por que os anúncios são importantes para um jornal?

O número de páginas é determinado não pelo setor de notícias, mas pela quantidade de anúncios vendidos para aquele dia (além de cadernos especiais devido a grandes eventos ou acontecimentos, como tornados, campeonatos esportivos ou outros acontecimentos importantes). O setor correspondente coloca os anúncios nas páginas antes de serem liberados para o setor de notícias. Como regra, os jornais imprimem um pouco mais de anúncios do que notícias. Os anúncios correspondem a 60% ou mais das páginas semanais, mas na edição de domingo é comum que as notícias tomem mais espaço do que os anúncios. A proporção de anúncios com relação a notícias deve ser alta porque os jornais não conseguem sobreviver sem os ganhos que os anúncios proporcionam. Os editores chamam este espaço deixado de "buraco na notícia". O setor de anúncios e o de notícias não influenciam no conteúdo um do outro.

Três tipos de anúncios dominam os jornais modernos:

1 – anúncios de exibição - com fotos e gráficos, estes anúncios podem custar milhares de dólares, dependendo do tamanho. Estes anúncios, normalmente de lojas de departamento, cinemas e outros negócios, podem ser preparados por uma agência de publicidade ou pelo próprio departamento de anúncios. São chamados de carro-chefe e são responsáveis pela maior parte da renda;

2 – anúncios classificados - normalmente chamados de classificados, são publicados em caracteres miniatura chamados de ágatas. Estes anúncios são de pessoas que querem comprar ou vender produtos, empresas procurando funcionários ou comerciantes oferecendo serviços. Os classificados têm preço acessível, são populares e eficazes, atingindo milhares de prováveis consumidores;

3 – folhetos - o terceiro tipo de anúncio é feito por grandes cadeias de lojas. Estes folhetos coloridos são colocados no meio do jornal para serem distribuídos com a edição de domingo. Os folhetos trazem ganhos menores do que os anúncios carro-chefe. Os jornais cobram para distribuir os folhetos, mas não tem controle sobre seu conteúdo ou qualidade de impressão.

Como é produzido um jornal?

O setor de produção faz o trabalho pesado. Nestes departamentos há especialistas que operam e fazem a manutenção das prensas, fotocompositoras, digitalizadores de imagens e máquinas de impressão fotográfica. Alguns funcionários trabalham no turno diurno, enquanto outros no noturno.

Com início em torno de 1970, os setores de produção de jornal iniciaram um movimento histórico longe da tecnologia de trabalho intenso das máquinas fotocompositoras Linotype e outras "de última geração" usadas em impressão em relevo. Esta foi a mesma técnica usada por Johannes Gutenberg no século XIV: imprimir uma página de papel diretamente em um bloco. A invenção da fotocomposição, baseada em processos fotográficos, acelerou a produção e reduziu os altos custos de despesas gerais da impressão em relevo. Além disso, a fotocomposição funcionava melhor com as novas prensas em offset que estavam começando a ser usadas.

A maioria dos jornais diários mudaram para alguma forma de impressão em offset. Este processo grava a imagem de uma página de jornal em chapas finas de alumínio (páginas com fotos ou letras coloridas precisam de mais chapas). Estas chapas, agora com a imagem positiva revelada a partir do negativo de uma página, vão para outros especialistas para colocação na prensa. Este processo é denominado offset porque as chapas de metal não encostam no papel que entra na máquina. Em vez disso, as chapas transferem a imagem feita com tinta para um rolo de borracha que imprime a página.

Embora as máquinas para impressão de jornais sejam grandes e barulhentas, são delicadas com o papel de imprensa, o papel de que é feito o jornal. Estas máquinas precisam ser delicadas pois o papel de imprensa é caro e deve passar por esses rolos enormes sem serem rasgados. Estas complexas máquinas de três andares, que podem custar mais de US$ 40 milhões, são chamadas de prensas rotativas, pois usam papel contínuo em vez de folhas individuais.

Além de colocar tinta no papel, a prensa também monta as páginas do jornal na sequência correta. Tudo ocorre tão rápido que uma prensa em offset consegue produzir 70 mil cópias por hora na correia transportadora, que por sua vez manda as cópias para o setor de distribuição que já está aguardando.

Como são distribuídos os jornais?

A responsabilidade de levar o jornal da gráfica até o leitor é do setor de distribuição. Jornais grandes publicam dois, três ou até quatro edições, todas devendo estar prontas para deixar a gráfica em um horário determinado. A primeira edição, às vezes chamada de edição "buldogue", vai até os locais mais distantes da área de circulação. Isto pode significar vários municípios ou até mesmo um estado inteiro. As edições posteriores contêm notícias mais frescas e chegam até áreas menores. A edição final, que vai para impressão depois da meia-noite, contêm as notícias mais recentes, mas cobre uma área geográfica menor, normalmente uma cidade.

Qualquer assinante de um jornal diário sabe que ele é jogado em sua porta ainda de madrugada. Empresas terceirizadas chamadas de transportadoras compram os jornais com desconto e fazem a entrega, usando veículos próprios. Quando jornais vespertinos eram comuns, os veículos usados eram bicicletas. O primeiro emprego de muitos jovens americanos era como entregador de jornais pela vizinhança.

O departamento de circulação determina as rotas que os entregadores devem seguir. Este departamento também é responsável pelas vendas em máquinas de moedas. Ele mantém um registro de faturamento dos assinantes, interrompe e inicia as entregas mediante solicitação e usa mensageiros para entregar jornais que possam ter sido esquecidos.

Devido à circulação do jornal, o número de pessoas que o recebem tem grande impacto nos índices de anúncios. A Audit Bureau of Circulations, agência independente de aferição de tiragens, examina e autoriza as quantidades para circulação. Isto assegura ao setor de anúncios e aos anunciantes que a demanda de circulação é válida.

Em 18 horas de trabalho bem coordenado, realizado por vários setores, o que as pessoas que trabalham em jornais chamam de "um rascunho da história" passa por sistemas de computador, máquinas de tratamento de imagens e impressões (que deixariam Gutenberg perplexo) indo até seu destino final, os leitores. Depois das 3h30 da manhã, poucas pessoas ficam na gráfica. Os funcionários de todos os outros setores já foram para casa. As prensas ficam silenciosas, talvez em manutenção pelo restante da noite. O silêncio repentino não dura muito. Em menos de quatro horas, o jornal desperta e começa tudo de novo.
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* Bob Wilson é autor, escritor e redator de editorial no The Herald-Sun em Durham, N.C. Ele é formado pela University of Missouri School of Journalism e fez mestrado na Duke University. Ele também é autor de "Landing Zones: Southern Veterans Remember Vietnam" (1990, Duke University Press).

Fonte:
Imagem criada com Microsoft Bing

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Raquel Amélia dos Santos (Ler com a Alma)

 Ler é muito mais do que simplesmente decifrar o código escrito. A leitura plena e eficaz de qualquer tipo de texto, só acontece quando o que se dispõe a fazê-lo, assume-se participante do objeto da leitura no sentido de utilizar mais do que seus conhecimentos sobre o código.

É uma atividade complexa e carregada de possibilidades de criação, interação e interpretação entre indivíduos e contextos.

O leitor aplica ao ato de ler, conhecimentos linguísticos e gramaticais, que são internalizados durante sua trajetória e vivência com a linguagem escrita.

Além desses conhecimentos, ainda pode e deve contar com a imaginação, o raciocínio, a vontade, e uma flexibilidade suficiente para deslocar-se para o ponto de vista do escritor.

Esse deslocamento acontece mesmo que seja inconsciente e provisório.

Vale lembrar também, que nem escritor, nem leitor estão neutros diante de uma produção textual, seja ela literária ou não.

Escritor e leitor são portadores de uma história e de uma bagagem cultural que acabam por determinar e porque não dizer, personalizar os modos de leitura, interpretação e aplicação do objeto lido.

Saber-se participante de uma produção textual, pode ser um bom caminho na construção da necessária flexibilidade que deve permear o ato de ler.

Por meio da leitura é possível conhecer novas e antigas idéias, rever, elaborar e reelaborar pensamentos, informações e conhecimentos.

O que é escrito em papel, numa tela de computador ou em qualquer outro portador, não traz consigo uma verdade absoluta e irrevogável. Um texto escrito, comporta apenas parte de modos de pensar, parte de uma filosofia, parte de crenças e até parte da imaginação e fantasia de alguém.

O texto escrito, tem suas limitações. A linguagem escrita não pode contar com todos os elementos contextuais, com gestos, expressões faciais, movimentos ou expressões corporais. Apesar de seus limites, mobiliza tanto o que escreve como o que lê o que foi escrito.

Leitor e escritor fazem uma espécie de trabalho em equipe. E neste trabalho, há constante movimento.

O leitor lê, pode ler, reler, fazer anotações, pensar, comparar, parar a leitura, continuar e utilizar-se dela de várias maneiras. O escritor também conta a mobilidade de reelaborar, rever, repensar e reeditar suas produções. E em muitos casos, o faz em decorrência do retorno e interação gerados pelo público alvo de seu trabalho.

A mobilidade da qual escritor e leitor utilizam-se, promove aprendizagem mútua e aciona mais que a habilidade de reconhecer o código escrito e decifrá-lo, pois a relação que se estabelece entre esses agentes, é permeada de elementos pessoais, emocionais, sociais, intelectuais, culturais e até afetivos.

Vendo por este ângulo, pode-se afirmar que é possivel escrever e ler com a alma. Ler com a alma é ler com a plenitude do ser. O ser é o que se é de fato, a essência. O que há de permanente na personalidade ou no caráter de cada pessoa.

É certo que há um estar sendo, uma parte de atitudes e pensamentos de cada pessoa, que é transitória. É o ser é quem decide sobre a parte transitória que há em cada um.

Pode ser que a leitura seja em alguns momentos motivada pelo ser, em outros momentos pelo estar sendo e as vezes pelos dois.

Um tema sobre o qual algum escritor decide escrever pode servir como alimento do ser ou do estar sendo.

Na perspectiva de alimentar a alma ou o intelecto por exemplo, a leitura é sempre motivada pelo desejo ou necessidade de cada pessoa, que são regidos pelo Ser.

No entanto, a necessidade por si só, nem sempre tem força para acionar o desejo. Já o desejo, atua com mais eficácia sobre o ser que o porta. Este atua mesmo não havendo necessidade.

O desejo é mais poderoso que a necessidade em muitos casos. Uma pessoa tem a necessidade de alimentar-se, mas pode não sentir fome ou vontade de comer. Neste caso, a necessidade pura e simples, não é suficiente para provocar a ação. Já o desejo, busca seus interesses, mesmo não havendo uma real necessidade.

A leitura é uma atividade que muitas vezes é tratada como mera necessidade. Como em muitos casos nos processos de ensino/aprendizagem na educação formal, em que a ação de ler é tratada unicamente objetivando a apreensão de conteúdos propostos em uma disciplina que compõe o currículo.

O desejo de ler, nem sempre apoia-se em razões bem claras e definidas. Mas também pode surgir por várias razões. Até por “razões mágicas”, afirma Rubem Alves: “Ler é um ritual antropofágico. (…) A antropofagia não se fazia por razões alimentares.

Fazia-se por razões mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam no seu corpo. (…) Cada leitura é um ritual mágico.”

Desejo e necessidade, nem sempre andam juntos. Mas são elementos impulsionadores da alma humana.

Quando criança deleitava-me com uma professora que lia histórias em voz alta para a turma. A leitura feita por ela, continha aspectos singulares como, entonação de voz, ritmo e uma musicalidade que lhe eram próprias, fez toda diferença para minha formação como leitora.

Uma de minhas irmãs, Rute, lia para mim e para meus irmãos. Lia trechos da bíblia, histórias do livro “As mil e uma noites” e outros. Ela também me ensinou a ler. Quando entrei para a escola, já sabia ler.

Sua voz, postura e visão sobre os textos lidos nunca saíram da minha memória. Ela despertou em mim disposição e desejos por “rituais mágicos”, que são realizados através da poder proporcionado pela leitura.

Hoje assumo a ação de ler como necessidade movida pelo desejo.

Aprender a ler com a alma, é mais que uma necessidade, é ler com a plenitude do ser, tomando emprestado o desejo da alma de alguém, aliando-o ao próprio desejo. Pode ser forma mais flexível de viver e estar no mundo.

Fontes:
Texto enviado pela autora em 30.09.2011.
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quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Vestir a carapuça”

Vestir o que mesmo, parente? Afinal, o que vem a ser “carapuça”? 

Segundo o “pai dos burros”, é uma espécie de barrete ou capuz de forma cônica e remonta ao período da Inquisição, em que os condenados eram obrigados a vestir trajes ridículos ao comparecer aos julgamentos. 

Além de usarem uma túnica com o formato de poncho, os acusados precisavam colocar sobre a cabeça um chapéu longo e pontiagudo, conhecido como carapuça. Daí a expressão "vestir a carapuça" ter se incorporado ao português escrito e falado, com o exclusivo sentido de alguém implicitamente assumir a culpa ou colocar-se como culpado, mesmo por algo não expressamente admitido. É como se a pessoa reconhecesse que uma crítica se lhe aplica, embora não lhe sendo sido diretamente dirigida. 

Nesse passo, quando alguém "veste a carapuça" – em sentido figurado e não literal – reconhece que uma responsabilidade ou acusação é procedente em relação a si mesmo. De uso rarefeito na atualidade, os adestradores de falcões ainda colocam carapuças para manter a calma nessas aves de rapina, antes que alcem voos para combater outras aves, principalmente as que adejam nos aeroportos, colocando em risco a segurança da navegação aérea. 

Famosa no universo infantil se tornou a carapuça do Saci-Pererê, o diabinho sapeca de uma perna só, imortalizado na série de livros infantis do Sítio do Pica Pau Amarelo, criação do genial escritor Monteiro Lobato, personagem que vaga solto pelo mundo aprontando das suas, com seu famoso cachimbo aceso na boca e a carapuça vermelha na cabeça.

Na musica popular surgiu o rap “Veste a Carapuça”, onde no texto poético uma dupla viola aos gritos os padrões aceitos da moralidade pública, por isso transcrevemos somente o trecho em que a expressão é mencionada:

 “Bicho sem postura e conduta no rolê,
com esses cinco mango que cê tem,
Só arruma um cd, ouve, veste a carapuça,
Vem falar bonito, finge que gostou,
Fico com a grana e finjo que acredito!..."

Em certos casos, incisivamente se pode interpelar alguém usando a contrário sensu mas com o mesmo objetivo a expressão “Se a carapuça serviu, vista!”... Dá no mesmo, pois em vez de deixar flutuando no ar para ser usada por quem de direito, nessa hipótese, já há um destinatário pré-determinado da acusação, embora continue ele agindo como se não tivesse “culpa no cartório”. 

Em outro contexto usar a expressão “Vestir a carapuça” pode ser oportuno e interessante quando a fala não tem a menor intenção de fazer crítica a outrem, ainda mais quando o dito cujo eventualmente se encontra numa reunião de amigos, mas outra pessoa resolve tomar as dores do suposto acusado. Ouvirá, possivelmente dos demais participantes: - E porque você está vestindo a carapuça, se nada tem a ver com isso?

Sobram exemplos sobre o uso dessa expressão, seja de modo expresso, seja de modo implícito. Maneco era um moleque precoce do interior, que nos anos 40 pegou o vício de fumar escondido dos pais. Juntava suas moedas para comprar cigarros a retalho nas bibocas da rua da beira. Tinha predileção pelo “Terezita”, um mata rato feito com tabaco de Bragança, cuja fábrica, na época, ficava na antiga avenida 1.º de Maio n.º 210 em Belém, famoso pela fortidão, capaz - diziam - de derrubar muriçoca a dois metros numa única baforada. 

Depois do almoço, quando a família se entregava ao deleite da sesta, furtivamente ele se trancava no banheiro e lá dava suas tragadas, em estado de pura catarse. Até que alguém dedurou e o Conselho Familiar resolveu dar um basta naquela situação. Certo dia, fingindo que ressonavam, viram quando ele se escondeu para curtir o vício, oportunidade em que se postaram à frente do improvisado fumódromo, aguardando o fim do espetáculo. Dez minutos depois, ao sair do cubículo, deu de cara com os pais, que sem nenhuma palavra ou gesto de reprovação, se limitaram a fitá-lo duramente e à densa fumaça que foi liberada com a abertura da porta. E sem poder negar o óbvio, Maneco instintivamente “vestiu a carapuça”:

- Vocês vão querer dizer que eu estava fumando aí dentro...

Há pessoas que se sentem ofendidas em face de uma conversa, por entender que o “recado” é para ela. O que podemos fazer, se a carapuça lhes serviu, por se terem identificado com o que foi dito por outrem? Qual o grande problema com as críticas, ciente que somos das nossas falhas? Ninguém nasce com o estigma da perfeição. Resta convencionado que temos 15 minutos por dia para fazer bobagens, pisar na bola, falar o que não devemos, comprar o que não precisamos e a vida toda para se arrepender. Mas convenhamos que só através das críticas, quando procedentes, é que modificamos a nós mesmos.  

Os que, encastelados em posições de mando, se julgam pequenos césares, achando-se inalcançáveis e imunes a quaisquer críticas, ainda que justas, vão sempre “vestir a carapuça” toda vez que surgirem protestos profligando suas arbitrariedades, embora sem se aperceberem que o ato de criticar se assemelha a uma auditoria gratuita ofertada, visando corrigir os excessos. 

Em qualquer situação e para cada um de nós, vale refletir sempre sobre o que foi dito, antes de vestirmos a carapuça. Se a conclusão for de que não corresponde à verdade ou não nos atinge, o barrete na cabeça não nos cabe. Entretanto, se fizer sentido, procure melhorar naquele aspecto, pois só não mudam os inanimados, presente o fato da constante mutação dos seres vivos - e na grande maioria dos casos conhecidos, felizmente para melhor. 
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Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras, em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.
Fonte:
Texto e imagem enviados pelo autor

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Os Vampiros na Literatura

 Histórias de vampiros existem desde sempre. Mesopotâmia, Roma, Grécia… Todas as culturas antigas já apresentavam contos sobre os seres sobrenaturais que se alimentavam de sangue e tinham vida eterna. Mas o primeiro registro literário relacionado às criaturas trata-se de um poema alemão escrito em 1748 por Heinrich August Ossenfelder: Der Vampir. A partir disso temos várias obras com pelo menos alguma menção ao mito vampírico, entre elas The Bride of Corinth (1797) de Goethe e Christabel de Samuel Taylor Coleridge.

Anos e anos depois várias personagens desfilaram pela galeria dos vampiros literários, e mesmo atualmente o tema ainda rende obras variadas (e agora adaptações para o cinema também). E pensando justamente nessas obras que faço aqui uma lista de sugestões para você que gosta de histórias de vampiros, mas não quer ler Crepúsculo.

A hora do vampiro (Stephen King) – Publicado pela primeira vez em 1975, o livro conhecido como Salem’s Lot lá fora foi traduzido desse jeito no Brasil. Uma pena, porque acaba estragando a surpresa da história, já que a pessoa que compra uma obra assim obviamente já sabe que trata-se de uma história de vampiros. A questão é que Salem’s Lot começa narrando a volta do escritor Ben para a cidade onde viveu na infância, decidido a escrever um livro sobre uma mansão horripilante que preencheu seus pesadelos desde a infância. É em um momento bem adiantado do livro que o leitor tem a revelação de que a cidade está sendo tomada por vampiros – e a partir daqui a história pega fogo, sendo uma daquelas que você até pensa em dormir de luz ligada “só para garantir”.

Eu sou a Lenda (Richard Matheson) – Publicado em 1954, esse livro chegava com a idéia do vampirismo com um vírus. Por favor, esqueçam do filme que saiu com Will Smith. Em nada ele conseguiu captar o clima claustrofóbico e assustador dessa novela de Richard Matheson. Neville é aparentemente o único sobrevivente da epidemia de “vampirismo”, até porque ele é imune ao vírus. À noite ele se esconde, pela manhã ele sai para matar vampiros. O final está entre os favoritos não só das histórias de vampiros.

Entrevista com o Vampiro (Anne Rice) – A obra de 1976 conta com a tradução aqui no Brasil de ninguém mais, ninguém menos do que Clarice Lispector. Louis, o vampiro “entrevistado”, narra em sua história como tornou-se vampiro, sua vida com Lestat (o vampiro que o transformou) e com a pequena Claudia. Apesar de tender ao clichê do vampiro melancólico, o fato de apresentar Lestat como um predador que reconhece a abraça sua verdadeira natureza acaba equilibrando um pouco a história, que certamente vale a pena conferir. 

Prazeres Malditos (Laurell K. Hamilton) – em 1993 a escritora Laurell K. Hamilton deu um chega para lá na ideia do vampiro tristonho e da mocinha indefesa e criou Anita Blake, uma caçadora de vampiros bastante atípica. A narrativa toda é em primeira pessoa, e Anita tem um senso de humor ácido, o que diverte muito. A série fez tanto sucesso que já está no 17º livro. O fato de Anita Blake também ser o que eles chamam de “animator” (levanta mortos e controla zumbis) faz com que as histórias não sejam só sobre vampiros, o que também é bem interessante.

Morto até o Anoitecer (Charlaine Harris) – o livro foi publicado em 2001, mas sete anos depois, com a adaptação para a TV feita pela HBO (True Blood, começa dia 18 de janeiro aqui no Brasil) o título ficou mais “conhecido” aqui no Brasil, inclusive com traduções dos outros títulos previstas ainda para esse ano (pelo menos o segundo e o terceiro livro). Bastante sexo e muita ação, não é a toa que escolheram esse livro para transformar em série de tv. São todos divertidos da mesma maneira.

Curiosidades sobre Vampiros

1 -Lord Ruthven, o primeiro dos vampiros na literatura foi criado por John Polidori, na mesma noite e na mesma casa em que Mary Shelley iniciava Frankstein, numa singela brincadeira na casa de Lord Byron;

2 -O ex-vice-presidente da república Marco Maciel já foi vampiro, num dos livros pioneiros em terras brasileiras sobre vampiros, na obra O vampiro que descobriu o Brasil, de Ivan Jaf;

3 -Drácula, só recebeu este nome quando o livro estava quase pronto. Até então, ele se chamaria Wampyr;

4 – O inglês Kim Newman escreveu um livro [Anno Dracula] sob uma ótica em que Drácula não foi derrotado, e que nesse mesmo livro estão Dr. Jekyll e o Inspetor Lestrade;

5 – Dacre Stocker, tatarassobrinho de Bram lançou em 2009 uma sequência para o romance do Conde Drácula;

6 – Paulo Coelho não pode sequer ouvir falar em vampiros, e ele mesmo autocensurou seu livro escrito com Nelson Liano Jr., o Manual Prático do Vampirismo fazendo recolher todos os exemplares

7 – Anne Rice foi a primeira autora a por os vampiros de frente aos espelhos, que por segundo a autora, se eles habitam o mundo dos homens, devem respeitar as leis da física deste mundo;

8 – Que muito provavelmente, sem os vampiros de Rice, como Lestat e Louis, não existiriam os “vampiros” da saga Crepúsculo, já que foi na obra de Rice que os vampiros começaram a ser tratados como figuras poéticas e trágicas;

9 – A cidade de Forks, onde se passa a saga Crepúsculo realmente existe, e Stephenie Meyer a encontrou no google.

10 – O personagem Conde Drácula, é o segundo mais interpretado no cinema e na televisão, ficando atrás apenas de Sherlock Holmes, cuja única vez que sai a cata de uma vampira, nada tem a ver com vampirismo.

DEZ DOS MAIS FAMOSOS VAMPIROS (AS) DA LITERATURA

1 – Drácula, de Bram Stoker:
É disparado de longe o mais famoso dentre os sugadores de sangue. Se não o pai de todos os vampiros, ele foi o responsável pela popularização do mito. A criação do Irlandês em 1897 ganhou diversas adaptações para teatro e cinema, numa época em que vampiros metiam medo, sem virar purpurina;

2 – Lestat de Lioncourt, criado por Anne Rice em Crônicas vampirescas:
Lestat, é uma das mais populares criações de Anne Rice, e no narrador de Crônicas vampirescas o vampiro revela seu lado sedutor, outra das qualidades desde seres eternos.

3 – Varney, o vampiro de James Malcolm Rymer:
Criado antes mesmo de Drácula, a grande arma desta criatura era a feiúra, de face pálida e mórbidos olhos de lata e o poder de hipnotizar.

4 – Edward Cullen, em Crepúsculo de Stephenie Meyer:
Discussões a parte, não dá pra negar que o vampiro de Meyer é diferente de tudo que se construiu sobre estes seres, e é famoso entre a galera jovem.

5 – Karmilla, criação de Joseph Sheridan Le Fanu:
Aqui está o vampirismo do bom. Karmilla precede o Conde Drácula, e esta deliciosa vampira cria de Le Fanu nos longínquos anos de 1872, com seus toques de lesbianismo sem dúvida era algo muito revolucionário para a época, e que até hoje mexe com a cabeça de nós.

6 – Sétimo, de André Vianco:
Dentre os vampiros brazucas é o mais famoso, estando presente em Os Sete, obra que iniciou o autor nas sagas vampirescas, e no homônimo em que Sétimo acorda para gerar suas crias com o intuito de dominar o Brasil.

7 – Damon Salvatore, de Diários de um Vampiro de L. J. Smith:
Bem antes de Meyer, em 1991, surgia mais um vampiro que não tomava sangue humano,: Stefan Salvatore, irmão de Damon, este sim um clássico senhor das trevas venerador de sangue e sem pudores ao matar. A saga dos livros se transformou na série de grande sucesso na TV americana.

8 – Kurt Barlow, em A hora do vampiro, de Stephen King:
Nem só de fantasmas e carros envenenados vive o mestre do terror. Em seu segundo livro King adentrou o mundo dos sanguessugas influenciado nas obras de Bram Stoker, Barlow não temia fazer o trabalho sujo, e pilhar novas vítimas aterrorizando para variar, o Maine.

9 – Lord Ruthven, de John Polidori:
Nasceu num desafio entre grandes mestres como Lord Byron e Mary Shelley e do próprio Polidori para escreverem uma história de terror. O enredo inclusive foi projetado e abandonado por Byron, no qual Polidori acabou dando continuidade, nascendo ao vampiro mais inglês de todos os sugadores de sangue;.

10 – Antonio Brás, o vampiro que descobriu o Brasil, de Ivan Jaf:
Impossível nominar este carismático vampiro – não tão cruel como deveria ser é verdade – que perdeu-se em Portugal ainda como Antonio Bras, e que na nova terra assumiu diferentes identidades, sempre muito próximo dos principais acontecimentos nacionais, entre ele, a descoberta, é claro.

Fontes:
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sábado, 2 de agosto de 2025

Lino Mendes (Baú de Memórias) A Serração da Velha

Trata-se de uma tradição muito antiga, datada possivelmente do século XVII e que se festejava  na noite de quarta-feira da terceira semana da “Quaresma”.

Era, como se deduz uma festa pagã, hoje quase desaparecida no nosso país, festejava-se de maneira diferente de terra para terra, tendo como ponto comum, o “testamento”.

Mas, o que simbolizava  a “Serração da Velha”?

Dizem uns que com a mesma se pretende” celebrar o renascimento da Natureza e a expulsão dos demônios do inferno”, enquanto outros referem tratar-se de “um rito de expulsão da morte,” ou mesmo de “ um ritual de passagem mercado pelo desejo simbólico de renovação”.

Terras havia onde as “serradas” eram as velhas que acabavam de ser “avós” ou solteironas que ainda” queriam casar”. Na maioria as pessoas de idade  nem apareciam à janela e quando o faziam era para lhes dar troco, atirando-lhes com um balde água e não poucas vezes urina. Mas também havia quem lhes abrisse a porta, lhes oferecia qualquer coisa, evitando assim a “serração”. Claro que o boneco que simbolizava a velha era queimado no final.

Talvez possamos definir a “Serração da Velha”— nalguns lados também chamada de “ Serra da Velha” e “Serra das Velhas”—“como  o enterro do  Inverno e o início da Primavera”, que marca um interregno lúdico no calendário religioso.

E em Montargil, como era?

Não temos muitos elementos, diremos mesmo que temos poucos. Que me  lembre, não havia “boneca”, recordo-me vagamente, de uma “serração”, feita   há uns cinquenta /sessenta anos. A garotada fazia barulho, com matracas ou batendo em tábuas, ao mesmo tempo que diziam os seguintes versos:

Serre-se a velha “Barrinha”
lá do outro lado da ribeira,
Onde está a comer perna de burro
Pensando que é farinheira.

Mas o Freitas. Mais velho uns anitos, diz-nos que batiam em latas fingindo que iam a serrar, e lembra-se ainda de duas quadras:

Serre-se a Angélica do Zé Mestre
que ela está a roer num pau;
deixou tudo aos Bexigas
não deixou nada aos carapaus.

 Serre-se a velha Maria Luísa,
serre-se e torne-se a serrar,
porque ela tem ossos tão duros,
que nem a serra quer entrar.

Como se pode ver pela segunda quadra, a “serração” incidia algumas vezes em casos da vida real. Mas o que mais uma vez é evidente, certo que desconhecendo os costumes das terras vizinhas, é a enorme diferença em relação a outras terras.

Não há boneca que no final seria queimada, o que aqui acontecia durante a queima dos “compadres”  e das “comadres”; não havia testamento, o que por aqui se verificava no final do “Enterro do Entrudo”. E por falar em testamento, e quando não se fazia o “enterro”, o senhor “António Júlio” também aparecia no Outeiro apregoando as “ deixas” que de maneira satírica” contemplavam algumas figuras da terra.
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Lino Mendes é folclorista de Montargil/ Portugal. Administrativo responsável durante vários anos da Segurança Social em Montargil. Vereador do Município de Ponte de Sor. Diretor da rádio  em Montargil. Músico executante nas Bandas de Montargil e Abrantes. Delegado Distrital da Associação Portuguesa de Teatro de Amadores. Colaborador de dezenas de jornais e colaborador de diversas rádios, tendo sido cronista de Rádio Renascença (Évora). Colaborador do jornal Folclore.  Conselheiro Técnico Regional para Alentejo da Federação do Folclore Português e da Associação de Folcloristas  do Alto Alentejo. Realizou a investigação etnocultural da freguesia de Montargil. Diploma e Medalha Grau Ouro— como reconhecimento pela dedicação e fidelidade ao Folclore Português – 2009. Medalha da Câmara Municipal de Ponte de Sor. Medalha da Casa Portuguesa de TROYS – França. Prémio Excelência  do jornalismo por Serviços prestados ao jornal SOL PORTUGUÊS Toronto Canadá – 2010;2011;2012;2013 e 2014. 

Fonte:
Texto enviado pelo autor. 06.04.2013
Dados Biográficos = Edições Vieira da Silva 
Imagem = Wikipedia