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terça-feira, 18 de novembro de 2025

O Trovadorismo no Brasil (Introdução)

                                                            (organização e pesquisa por José Feldman)
O trovadorismo é um dos movimentos literários mais antigos e marcantes da história, surgido na Europa medieval, especialmente no sul da França, por volta do século XII. No entanto, no Brasil, o trovadorismo não surgiu como um movimento literário formalizado e alinhado às características do trovadorismo europeu, mas foi reinterpretado e adaptado ao longo do tempo. Aqui, as manifestações poéticas com características trovadorescas emergiram principalmente através da influência portuguesa e se desenvolveram de maneira singular, conectando-se tanto à tradição oral quanto à escrita.

INFLUÊNCIAS PORTUGUESAS NO BRASIL COLONIAL

O trovadorismo como movimento literário original não existiu no Brasil colonial, pois ele já havia declinado na Europa antes mesmo da descoberta do país em 1500. Contudo, sua herança foi transmitida ao Brasil por meio da cultura portuguesa. O trovadorismo europeu, caracterizado pelas cantigas de amor, cantigas de amigo e cantigas de escárnio e maldizer, influenciou a literatura oral e popular trazida pelos colonizadores. No Brasil, essas formas de poesia ganharam novos contornos, misturando-se com a cultura indígena e africana, o que deu origem a manifestações poéticas híbridas.

No período colonial, os jesuítas desempenharam um papel importante na difusão da poesia lírica e religiosa, que incorporava traços do trovadorismo. Um exemplo notável é a obra do padre José de Anchieta, que utilizava versos para catequizar os índios. Embora sua produção literária fosse mais voltada para a poesia religiosa e pedagógica, alguns de seus textos apresentavam traços líricos que lembravam as cantigas trovadorescas, com sua musicalidade e simplicidade.

O SÉCULO XVIII E O NEOTROVADORISMO TROPICAL

No século XVIII, com o advento da escola literária conhecida como Arcadismo, alguns poetas brasileiros retomaram elementos do trovadorismo em suas obras. O Arcadismo, com sua valorização da simplicidade, da natureza e do bucolismo, abriga certa afinidade com a poesia trovadoresca, especialmente nas cantigas de amor e amigo. 

Entre os principais nomes desse período está Tomás Antônio Gonzaga, autor de “Marília de Dirceu”. Embora sua obra esteja mais alinhada ao Arcadismo, ela contém elementos líricos que ecoam o espírito trovadoresco, sobretudo na expressão do amor idealizado e na musicalidade dos versos. Outro destaque é “Cláudio Manuel da Costa”, cujos poemas líricos apresentam uma sensibilidade que dialoga com a tradição trovadoresca medieval.

SÉCULO XIX: O ROMANTISMO E A REINTERPRETAÇÃO DO TROVADORISMO

No século XIX, com o Romantismo, o Brasil viveu um momento de forte resgate e reelaboração das tradições literárias do passado. O trovadorismo inspirou muitos poetas românticos, especialmente no que diz respeito à exaltação do amor, da natureza e da melancolia. A poesia romântica brasileira muitas vezes ecoava o lirismo trovadoresco, com sua musicalidade e idealização amorosa.

Entre os principais expoentes desse período, destaca-se Gonçalves Dias, cuja obra poética apresenta traços líricos que remetem ao trovadorismo, especialmente na idealização da mulher e na musicalidade dos versos. Em poemas como “Seus Olhos” e “Canção do Exílio”, percebe-se o uso de uma linguagem simples e direta, com forte apelo emocional e musical.

Outro poeta que dialoga indiretamente com o trovadorismo é Álvares de Azevedo, com sua poesia marcada pela melancolia, pelo amor idealizado e, frequentemente, por um tom confessional. Embora inserido no contexto do Ultra-Romantismo, seu lirismo intenso e sua sensibilidade podem ser associados à tradição trovadoresca.

SÉCULO XX: O RESSURGIMENTO DO ESPÍRITO TROVADORESCO

O século XX trouxe novas formas de manifestações poéticas no Brasil, mas o espírito trovadoresco continuou a se manifestar em diferentes contextos. Durante esse período, o trovadorismo foi reinterpretado e reinventado, especialmente por movimentos literários que valorizavam a tradição oral e a cultura popular brasileira.

Um exemplo marcante é o movimento modernista, que, embora fosse essencialmente vanguardista, resgatou aspectos da poesia popular e da tradição medieval, adaptando-os para um contexto contemporâneo. Poetas como Mário de Andrade e Manuel Bandeira incorporaram em suas obras elementos da oralidade, da musicalidade e da simplicidade que remetem ao trovadorismo.

Além disso, o século XX assistiu ao fortalecimento da literatura de cordel, que, de certa forma, pode ser vista como uma herdeira do trovadorismo. Os cordelistas, com suas histórias rimadas e sua musicalidade, mantiveram viva a tradição de criação poética ligada à oralidade e à cultura popular. Autores como Leandro Gomes de Barros e Patativa do Assaré revitalizaram o espírito trovadoresco, adaptando-o à realidade nordestina e às questões sociais do Brasil.

MODERNISMO E A GERAÇÃO DE 45 (SÉCULO XX)

O Modernismo brasileiro, em suas diferentes fases, buscou a nacionalização da arte e a valorização da cultura popular. Embora a primeira fase fosse de ruptura, a terceira fase modernista, ou Geração de 45, viu um retorno à métrica e à forma fixa, o que ajudou a resgatar a estrutura da trova.

Expoentes desse período:

J. G. de Araújo Jorge: Poeta popular de grande sucesso na metade do século XX, organizou concursos de trovas ("Jogos Florais") na TV Rio em 1959, popularizando o gênero e incentivando novos trovadores.

Adelmar Tavares: Conhecido como o "Rei da Trova", foi um grande expoente e pioneiro na organização do movimento trovadoresco no Brasil, ajudando a fundar a União Brasileira de Trovadores (UBT).

Luiz Otávio: Outro nome importante na organização e difusão da trova no Brasil, também envolvido na promoção dos Jogos Florais.

O TROVADORISMO NAS DÉCADAS RECENTES

Nas últimas décadas, o trovadorismo tem sido reinterpretado por poetas contemporâneos e artistas que buscam resgatar a musicalidade e a simplicidade lírica características do movimento original. Em tempos de globalização e cultura digital, muitos artistas têm se inspirado na tradição trovadoresca para criar obras que dialogam com o passado e o presente.

O trovadorismo também se manifesta em movimentos artísticos ligados à música popular brasileira, onde a poesia e a musicalidade encontram terreno fértil. Compositores como Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Caetano Veloso podem ser vistos como "trovadores modernos", cujas obras combinam lirismo, musicalidade e uma profunda conexão com a tradição poética.

EUROPA E BRASIL , DIFERENÇAS

O trovadorismo europeu e o brasileiro apresentam diferenças marcantes, especialmente porque o trovadorismo, como movimento literário formal, não surgiu de maneira autônoma no Brasil. 

O trovadorismo europeu, datado entre os séculos XII e XIV, foi uma manifestação cultural e literária característica da Idade Média, enquanto no Brasil ele foi reinterpretado e adaptado, influenciando diferentes formas de expressão poética ao longo do tempo. 

ORIGEM HISTÓRICA

Europa:
O trovadorismo surgiu na Europa medieval, mais precisamente no sul da França, com os trovadores provençais. Ele se desenvolveu como uma arte poética e musical ligada às cortes feudais, com forte influência dos valores da Cavalaria e do Amor Cortês. Era um movimento literário bem definido, marcado pelas cantigas de amor, amigo, escárnio e maldizer.

Brasil:
O trovadorismo não existiu como um movimento literário formal. Ele chegou indiretamente, por meio da colonização portuguesa, como uma herança cultural. Elementos da poesia trovadoresca foram transmitidos através da tradição oral, da literatura popular e das influências líricas trazidas pelos jesuítas e colonizadores. Aqui, ele foi reinterpretado em diferentes períodos e estilos literários, como o Arcadismo, o Romantismo e a Literatura de Cordel.

CONTEXTO CULTURAL

Europa:
O trovadorismo europeu estava diretamente ligado à cultura das cortes feudais e aos ideais cavaleirescos, como o amor platônico e a exaltação à dama. Era uma expressão elitista e aristocrática, pois os trovadores compunham para as classes nobres, que eram os principais mecenas das artes.

Brasil: 
No Brasil, a poesia com elementos trovadorescos não estava vinculada a uma aristocracia feudal. Ela foi incorporada à cultura popular e adaptada às realidades locais, como o ambiente rural, a religiosidade e as influências indígenas e africanas. Essa adaptação tornou o "espírito trovadoresco" mais democrático e acessível, manifestando-se especialmente na oralidade e nas tradições populares, como a literatura de cordel.

TEMAS E LINGUAGEM

Europa:
Os temas do trovadorismo europeu eram bastante específicos e formalizados:
  - Cantigas de Amor: Amor cortês, idealizado, geralmente com o eu lírico masculino exaltando uma dama inatingível.  
  - Cantigas de Amigo: Relacionadas à saudade e ao lamento amoroso, com o eu lírico feminino.  
  - Cantigas de Escárnio e Maldizer: Sátiras diretas ou indiretas, com críticas sociais ou pessoais.  

  A linguagem era sofisticada, repleta de metáforas e simbolismos, e seguia normas rígidas de composição (versificação, rimas e métrica).

Brasil:  
Os temas ganharam um caráter mais popular e regional. A poesia influenciada pelo trovadorismo brasileiro incorporou o cotidiano, o amor simples, a religiosidade e as realidades locais. A linguagem, em geral, tornou-se mais direta e menos formal, com forte influência da oralidade. Exemplos disso aparecem na literatura de cordel e na poesia popular, que muitas vezes preservam a musicalidade e a métrica, mas com um tom mais acessível e próximo do povo.

MÚSICA E ORALIDADE

Europa:  
O trovadorismo europeu estava profundamente ligado à música. Os trovadores não apenas escreviam poesia, mas também as cantavam, acompanhados de instrumentos musicais, como o alaúde e a viela. A poesia trovadoresca era essencialmente uma arte performática, destinada a ser ouvida nas cortes.

Brasil:  
Embora a poesia trovadoresca europeia tenha influenciado a tradição musical e oral brasileira, a música se desvinculou do poema escrito. No entanto, a literatura de cordel, que pode ser vista como uma herança indireta do trovadorismo, manteve a oralidade ao ser recitada ou cantada pelos cordelistas, especialmente no Nordeste. A música popular brasileira também incorporou o lirismo trovadoresco em canções de amor e sátira.

ESTRUTURAS POÉTICAS

Europa:  
A poesia trovadoresca seguia formas fixas e rígidas, como a balada, a canção e a tenson (debate poético). As cantigas tinham uma métrica específica (geralmente redondilhas maiores ou menores) e apresentavam esquemas de rima bem definidos, com uso de paralelismos e refrãos.

Brasil:  
Embora houvesse influência das formas fixas, a poesia brasileira adaptou-se às características locais. No Arcadismo, por exemplo, a métrica clássica (decassílabos e redondilhas) foi herdada do trovadorismo. Na literatura de cordel, predominam a redondilha e a rima simples, mas com mais liberdade na composição e maior foco na narrativa.

EXEMPLOS DE PRODUÇÃO

Europa:  
Entre os principais trovadores europeus estão:
  - Bernart de Ventadorn (cantigas de amor);  
  - Martim Codax (cantigas de amigo);  
  - João Garcia de Guilhade (cantigas de escárnio e maldizer).  

  Suas obras eram curtas, líricas e altamente estilizadas, voltadas para o entretenimento e a admiração nas cortes.

Brasil:  
Tomás Antônio Gonzaga (Arcadismo), Gonçalves Dias (Romantismo) e os cordelistas nordestinos (como Leandro Gomes de Barros e Patativa do Assaré) mantiveram vivo o espírito trovadoresco. Eles adaptaram o lirismo, a musicalidade e a crítica social ao contexto brasileiro.

CONTEXTO SOCIAL E LITERÁRIO

Europa:  
O trovadorismo europeu surgiu em um contexto de feudalismo, onde a arte era patrocinada pelos nobres e estava diretamente associada à vida nas cortes. Era uma literatura elitista, voltada para um público específico e restrito.

Brasil:  
A poesia influenciada pelo trovadorismo brasileiro se desenvolveu em um contexto muito mais amplo e heterogêneo. Ela foi incorporada à cultura popular, sendo usada como uma forma de expressão coletiva e muitas vezes ligada à luta social, como acontece na literatura de cordel ou na música popular.

A REALEZA DO MOVIMENTO TROVADORESCO NO MODERNISMO NO BRASIL

Adelmar Tavares e Luiz Otávio desempenharam papéis fundamentais na modernização e revitalização do trovadorismo no Brasil. Eles foram figuras centrais no movimento que trouxe o espírito trovadoresco para o século XX, resgatando e adaptando as características medievais do gênero para o contexto contemporâneo. Seus títulos de "Rei da Trova" e "Príncipe da Trova" refletem o reconhecimento de suas contribuições poéticas e de seus esforços para popularizar a trova no Brasil.

ADELMAR TAVARES: O REI DA TROVA

Adelmar Tavares (1888–1963) é uma das figuras mais importantes da poesia brasileira no período moderno. Ele foi um poeta, jurista e membro da Academia Brasileira de Letras. Recebeu o título de "Rei da Trova" pelo seu excepcional talento em construir trovas e pela sua dedicação à forma poética, que o tornou um mestre incontestável no gênero.

CONTRIBUIÇÕES E DESTAQUE NO TROVADORISMO

Resgate da Forma Tradicional: 
Adelmar Tavares destacou-se por revitalizar a trova, trazendo-a de volta à cena literária brasileira em um momento em que a poesia moderna, com suas formas mais livres, dominava o cenário. Ele manteve a estrutura tradicional da trova (quatro versos, redondilhas maiores, rimas rigorosas e musicalidade), conectando-se às raízes do trovadorismo medieval europeu.
  
Temas Universais e Populares: 
Suas trovas exploravam temas como o amor, a saudade, a fé e a vida cotidiana, mas com uma sensibilidade que transcendia os limites da poesia popular. Ele conseguia equilibrar simplicidade e profundidade, atingindo tanto o público erudito quanto o popular.

Reconhecimento Nacional: 
Sua maestria no gênero o levou a ser chamado de "Rei da Trova", um título que reflete o respeito que ele conquistou entre seus pares e leitores. Ele foi celebrado como o maior representante da trova em sua época, sendo uma referência para as gerações posteriores.

Influência no Movimento Trovadoresco: 
Adelmar Tavares influenciou diretamente o renascimento do trovadorismo no Brasil ao demonstrar que a trova, mesmo com suas raízes medievais, podia continuar relevante na literatura moderna. Seu trabalho serviu como inspiração para outros poetas, que passaram a valorizar e explorar essa forma poética em suas obras.

LUIZ OTÁVIO: O PRÍNCIPE DA TROVA

Luiz Otávio (1916–1977), pseudônimo de Gilson de Castro, foi outro grande nome da trova no Brasil. Ele recebeu o título de "Príncipe da Trova" por sua habilidade poética e pelo esforço em organizar e promover o trovadorismo como um movimento literário e cultural no século XX.

CONTRIBUIÇÕES E DESTAQUE NO TROVADORISMO

Luiz Otávio é conhecido como o fundador de uma organização trovadoresca que reunia poetas de todo o país, em 1966, promovendo concursos, eventos e publicações dedicados exclusivamente à trova.  Essa organização foi fundamental para a consolidação da trova como um gênero poético reconhecido no Brasil. 

Divulgação e Valorização da Trova: 
Luiz Otávio não apenas produziu trovas de alta qualidade, mas também dedicou sua vida a divulgar essa forma poética. Ele acreditava no poder da trova como uma expressão artística acessível, capaz de tocar tanto os letrados quanto o público em geral.

Estilo Poético: 
Suas trovas destacavam-se pela perfeição técnica e pela sensibilidade. Ele abordava temas como o amor, a amizade, a natureza e a espiritualidade, sempre com uma linguagem clara e musical. Sua habilidade em capturar sentimentos profundos em apenas quatro versos o tornou um modelo para outros trovadores.

Influência no Movimento Trovadoresco:
Luiz Otávio consolidou o trovadorismo moderno no Brasil, não apenas como poeta, mas como organizador e incentivador de outros trovadores. Seu título de "Príncipe da Trova" reconhece tanto sua produção literária quanto seu papel como líder do movimento trovadoresco no século XX. Ele foi o responsável por transformar a trova em um gênero vivo e ativo, com uma forte base de seguidores e praticantes.

OS TÍTULOS DE REI E PRÍNCIPE DA TROVA

Os títulos de "Rei da Trova" para Adelmar Tavares e "Príncipe da Trova" para Luiz Otávio não foram meramente simbólicos, mas um reconhecimento de seus papéis fundamentais na preservação, revitalização e popularização da trova no Brasil. Enquanto Adelmar Tavares foi celebrado como o maior trovador de sua época, Luiz Otávio foi reconhecido como o principal articulador e organizador do movimento trovadoresco moderno.

Adelmar Tavares: Rei pela excelência técnica e sensibilidade poética, ele foi o maior expoente do gênero em sua geração.

Luiz Otávio: Príncipe por sua liderança e pelo papel central na criação de uma comunidade organizada de trovadores, garantindo a continuidade e o reconhecimento da trova como forma literária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As diferenças entre o trovadorismo europeu e o brasileiro refletem as realidades históricas e culturais de cada contexto. Enquanto o trovadorismo europeu foi um movimento aristocrático e formalizado, o brasileiro reinterpretou essa tradição de forma mais popular e democrática, adaptando-a às influências locais e à diversidade cultural do país. No Brasil, a musicalidade, o lirismo e a simplicidade típicos desse movimento continuam a ecoar em várias manifestações artísticas e literárias.

Embora o trovadorismo não tenha surgido de forma autônoma no Brasil, ele deixou marcas profundas na literatura e na cultura do país. Desde a influência portuguesa no período colonial até as reinterpretações modernas, o espírito trovadoresco continua a inspirar poetas, músicos e artistas. Seja nas cantigas medievais adaptadas pelos jesuítas, na poesia lírica do Arcadismo e do Romantismo, ou na literatura de cordel e na música popular brasileira, o trovadorismo permanece vivo e relevante, ecoando sua musicalidade e lirismo ao longo dos séculos.

Adelmar Tavares e Luiz Otávio foram os pilares do trovadorismo moderno no Brasil. Enquanto o primeiro resgatou o lirismo e a musicalidade da trova, o segundo institucionalizou o movimento, ampliando sua prática e alcance. Ambos não apenas revitalizaram um gênero poético de raízes medievais, mas também demonstraram que a trova, com sua simplicidade e profundidade, podia ser uma forma de arte viva e relevante, capaz de conectar gerações e públicos diversos. Seus títulos, de "Rei" e "Príncipe", são uma justa homenagem ao impacto duradouro de suas obras e ações.
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JOSÉ FELDMAN, poeta, trovador, escritor, professor e gestor cultural. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas de São Paulo. Devido à situação financeira insuficiente não concluiu a Faculdade de Psicologia, na FMU, contudo se fez e ainda se faz presente em mais de 200 cursos presenciais e online no Brasil e no exterior (Estados Unidos, México, Escócia e Japão), sendo em sua maioria de arqueologia, astronomia e literatura. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais. Morou na capital de São Paulo, onde nasceu, em Taboão da Serra/SP, em Curitiba/PR, em Ubiratã/PR, em Maringá/PR. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Confraria Brasileira de Letras, Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras Brasil/Suiça, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia de Letras de Teófilo Otoni, etc, possui os blogs Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria, Voo da Gralha Azul (com trovas do mundo). Assina seus escritos por Floresta/PR. Dezenas de premiações em crônicas, contos, poesias e trovas no Brasil e exterior.
Publicações de sua autoria “Labirintos da vida” (crônicas e contos); “Peripécias de um Jornalista de Fofocas & outros contos” (humor); “35 trovadores em Preto & Branco” (análises); “Canteiro de trovas”; “Pérgola de textos” (crônicas e contos), “Caleidoscópio da Vida” (textos sobre trovas), “Chafariz de Trovas” e “Asas da poesia”.


Fontes:  Chafariz de Trovas. Floresta/PR: Plat.Poe. Voo da Gralha Azul.
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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Pernas, pra que te quero?”


As expressões idiomáticas estão presentes em todas as línguas e culturas. Como tal, caracterizam-se por não ser possível identificar seu significado pelo sentido literal das palavras que as compõem, e sim pelo que querem dizer ou o que significam, após a consolidação do uso no nosso português de cada dia. 

Nesse passo – e sem intuito de trocadilho - "PERNAS, PRA QUE TE QUERO?" é uma delas, tipicamente brasileira que significa correr, se mandar, se colocar a salvo, fugir de algo ou alguém ameaçador ou perigoso, para um lugar seguro.

Sua origem não é clara, permanecendo do campo do indefinido, mas a frase se tornou popular ao longo do tempo, como uma forma de dizer: "me ajudem a fugir", "me ajudem a correr" ou ainda, “se eu tenho pernas, é para correr”. 

Não há um registro específico que aponte um autor ou um momento exato da sua criação ou como teria ela surgido, que ao longo do tempo passou a ser repetida por jovens, adultos e idosos, para evidenciar que “vazaram” da cena que se mostrava perigosa, sinistra ou potencialmente ameaçadora. 

A ideia central é de que as pernas, úteis e indispensáveis para caminhar, também servem para a fuga, para correr em direção a um lugar onde alguém não se sente vulnerável. É uma forma de traduzir o valor da agilidade, a necessidade de se locomover, para livrar-se de algo incômodo ou arriscado.

Dúvida não resta que é uma forma coloquial e humorística de dizer que alguém precisa se afastar rapidamente de uma situação embaraçosa. A expressão é frequentemente usada em contextos como “ele viu o meliante e saiu correndo!”, ou “pulei o muro da prisão e pensei: pernas, pra que te quero?”...

Além de chistosa, ela pode ser usada em diferentes situações, com a mesma conotação de fuga, de evasão. Em relatos de medo ou exigindo retirada estratégica, às vezes ela está subentendida, nem precisando ser pronunciada: “De volta a Belém e morando na CEUP (...), presidida à época pelo notável santareno José Gumercindo Rebelo, por 3 anos fui mais um entre os 75 universitários que batalhavam em busca da graduação, precariamente albergados naquele conhecido endereço da Av. 16 de Novembro, de muitos cômodos e um grande incômodo - pois o casarão era tido como mal assombrado. Encerrado o “FANTÁSTICO” da Rede Globo a cada domingo, todos corriam desarvorados, atropelando-se, para se confinar nos dormitórios, deixando ligada a TV da sala de estar. Era o invariável momento da aparição de uma diáfana figura feminina, envolta numa túnica alvacenta e com fama de “saliente”, pois surgia da penumbra dos corredores tentando sofregamente abraçar os retardatários. Eu nunca tive receio das coisas do além, mas... pelo sim pelo não, ficava trancado no meu quarto...” (APL, meu discurso de posse).

A capital paraense é conhecida por suas lendas, e o saudoso escritor Walcyr Monteiro as abordou exaustivamente em seu livro “Visagens e Assombrações de Belém” (Smith Editora, 2007) verdadeiro repositório de crenças, lendas e mitos urbanos, incorporadas ao acervo da cultura da Amazônica. Nesse clássico da assombração, a cada arrepiante episódio narrado por Walcyr, vem à mente o quão oportuno se mostra essa expressão, considerando que ninguém é suficientemente corajoso para as coisas do além. 

A língua é o maior legado cultural de um povo e reflete, além de seus traços comportamentais, o modo de viver da sociedade onde é cultivada. Sabemos que alguns aspectos linguísticos estão arraigados ao vernáculo e fazem parte da maneira de falar da população. Não existe possibilidade, ainda que remota, de tentar modificá-los em busca de uma adaptação ao chamado “padrão culto”. 

“PERNAS, PRA QUE TE QUERO?” ultraja a gramática porque não existe concordância entre o vocativo “pernas” e o pronome que o retoma (te). Imagine-se em informal roda de conversa, alguém dizendo “PERNAS PRA QUE VOS QUERO?” (ou, “PERNAS, PARA QUE QUERO VOCÊS”?) como seria gramaticalmente correto. Restaria evidente a arrogância intelectual, senão o esnobismo do infeliz interlocutor. Falando nisso, o único que pode usá-la sem medo de errar é o Saci-Pererê, pois tem somente uma perna, conforme a icônica imagem popularizada por Monteiro Lobato, nos idos de 1918.

“Bahia Batuque Orixá”, de Saulo Fernandes, exalta o orgulho de ser da Bahia e a vibração singular do carnaval soteropolitano. A canção passeia por bairros emblemáticos de Salvador e, pelo título e pelo refrão, ressalta sua carga espiritual ao invocar o “batuque” e os “orixás”, referências históricas e religiosas da tradição africana no Brasil. Em alguns trechos da música o autor enfatiza a expressão “PERNAS, PRA QUE TE QUERO?”, importante para pular o carnaval.

“Sou da Avenida Sete Portas
Pernas, pra que te quero?
Pra pular, balançar
Pra ferver
Sou da Avenida Sete Portas
Pernas, pra que te quero?
Pra pular, balançar
Pra ferver”

É patente que essa expressão do nosso cotidiano não poderá jamais ser modificada para o “falar culto”, produto raro ao alcance de requintada minoria, pois ela se consolidou exatamente desse modo trivial, destoante das regras e dos círculos literários, fulcrada no linguajar falada pelo povo em geral. Mas não deixa de ser uma curiosidade gramatical merecedora de registro, haja vista que para a maioria, ela passa completamente despercebida. 
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Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras, em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.
Fonte:
Enviado pelo autor
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quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Marcelo Spalding (Dicas de escrita) Como criar bons finais para suas histórias

Nota: No nome dos contos clique sobre o nome para acessa-los.
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Criar um bom final é uma das partes mais difíceis na construção de qualquer narrativa - seja um conto, romance, filme ou série. Por isso, é fundamental entender os diferentes tipos de finais e como usá-los para que a história fique satisfatória para o leitor ou espectador.

Uma boa maneira de entender os finais é compará-los com dois tipos clássicos de conto: o conto de acontecimento e o conto de atmosfera.

No conto de acontecimento, o final é o mais importante e justifica toda a história. Um exemplo clássico é o conto Pai contra Mãe, de Machado de Assis, em que o desfecho revela o significado de toda a trama.

Já no conto de atmosfera, o final não é o ponto principal. O foco está na tensão e no clima construídos ao longo da narrativa, como no conto A Missa do Galo, também de Machado de Assis.

Estes contos de atmosfera têm o que podemos chamar de um final aberto. O final aberto é aquele que não oferece uma conclusão definitiva para a história. Ele deixa questões no ar, convidando o leitor ou espectador a refletir, interpretar e imaginar o que pode acontecer depois.

Um exemplo marcante no cinema é o filme Magnólia, que termina com uma chuva de sapos - uma imagem metafórica e intrigante, que não fecha a narrativa de maneira tradicional, mas provoca múltiplas interpretações e reflexões sobre a vida e seus conflitos. O final aberto não significa desistir de contar a história; pelo contrário, é uma forma de mostrar que a vida continua e que os conflitos apresentados seguirão existindo.

No entanto, é fundamental diferenciar o final aberto do final interrompido. O final interrompido acontece quando o autor não sabe como encerrar a história e simplesmente para no meio da tensão, deixando o público frustrado.

Por exemplo, imagine uma história de assalto a banco que termina com um tiro, mas não revela quem foi atingido nem o que aconteceu depois - isso deixa o público incomodado. Por outro lado, se a narrativa for centrada em outro foco narrativo, como a relação de um casal na fila do banco durante o assalto, o final aberto pode funcionar bem, pois o foco está nos personagens, não nos acontecimentos externos.

Outro tipo de final muito usado é o final surpreendente ou plot twist, como em O Sexto Sentido. O desafio é garantir que o final tenha bases na narrativa e não seja um artifício forçado, que deixe o leitor frustrado.

Além disso, existem os finais fechados, que encerram bem todas as pontas da história, como na série Breaking Bad, onde o arco do personagem principal se conclui de forma satisfatória. Já os finais trágicos mostram a queda do protagonista por um erro ou excesso, gerando um impacto emocional profundo (a famosa catarse aristotélica).

Vale lembrar que não existe um único tipo de final correto, mas sim o final que melhor serve ao propósito da narrativa e ao efeito desejado. Seja com um desfecho fechado que amarra todas as pontas, um final aberto que convida à reflexão ou um plot twist que surpreende e transforma a história, o importante é que o final seja intencional e coerente com o que foi construído.
(do livro “Formação de escritores”, de Marcelo Spalding)
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Marcelo Spalding é jornalista, professor, escritor e editor, com 10 livros individuais publicados e mais de 150 livros editados. Professor de oficinas de Escrita Criativa presenciais e online desde 2007, fundou e dirige a Metamorfose Cursos. É pós-doutor em Escrita Criativa pela PUCRS, doutor e mestre em Letras pela UFRGS e formado em Jornalismo e Letras. Ex-professor universitário, atuou como professor de Escrita Criativa e Jornalismo na graduação e no PPG Letras da UniRitter, além de coordenar o Pós-graduação em Produção e Revisão Textual e a Editora UniRitter. É idealizador do Movimento Literatura Digital, editor dos sites minicontos.com.br e escritacriativa.com.br e autor do livro Escrita Criativa para Iniciantes, além de ter criado o primeiro jogo de tabuleiro de Escrita Criativa do Brasil.

Fontes:
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quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Dicas de escrita para escritores, pelos famosos

Dicas de escritores renomados revelam que o caminho para uma boa escrita envolve disciplina, leitura constante e um olhar atento para a vida e a linguagem. Embora não haja uma fórmula exata, é possível extrair orientações valiosas de autores como Stephen King, Ernest Hemingway e George Orwell. 

O QUE SE DEVE DAR ÊNFASE

Leia muito e escreva muito: 
Stephen King, por exemplo, defende que não há tempo para escrever se não houver tempo para ler. A leitura constante expõe o escritor a diferentes estruturas, ritmos e vozes, enquanto a prática diária aprimora a técnica e a disciplina.

Mostre, não conte: 
Em vez de simplesmente dizer que um personagem estava triste, descreva as ações e gestos que demonstram essa tristeza. O autor Anton Tchekhov resumiu essa ideia: "Não me diga que a lua está brilhando; mostre-me o brilho da luz em cacos de vidro".

Foque na história e nos personagens: 
Stephen King enfatiza que o ponto de partida deve ser a história, e não uma preocupação temática. O parágrafo, não a frase, é a unidade básica da escrita, onde a coerência começa. É crucial desenvolver personagens completos e cativantes, com traços e hábitos distintos.

Conflito único para contos: 
Para contos, a dica é focar em um conflito singular. Não é necessário construir um mundo complexo. Às vezes, a ambiguidade torna a história mais envolvente, deixando algumas respostas para a imaginação do leitor. 

O QUE SE DEVE EVITAR

Evite o "floreio" linguístico: 
George Orwell aconselhava a preferência por palavras curtas em vez de longas e a eliminação de palavras desnecessárias. A clareza e a simplicidade tornam a escrita mais impactante.

Não abuse de advérbios e voz passiva: 
Stephen King sugere evitar o uso excessivo de advérbios e, sempre que possível, utilizar a voz ativa, que torna a escrita mais direta e concisa.

"Mate seus amados": 
Essa expressão, popularizada por William Faulkner, significa que é preciso ter coragem de cortar partes do texto — mesmo aquelas que você ama — se elas não servirem à história.

Não espere a inspiração: 
A inspiração nem sempre surge por conta própria. Jack London disse: "Você não pode esperar pela inspiração, você tem que ir atrás dela com um porrete". O ritual de escrita disciplinado faz a musa aparecer. 

COMO PREPARAR UM TEXTO

Faça um primeiro rascunho sem se preocupar: 
A escritora Anne Lamott encoraja os autores a aceitarem que o primeiro rascunho pode ser ruim, e isso é normal. A perfeição virá nas reescritas.

Reescreva e revise: 
John Steinbeck sugeria que, se uma cena não estiver fluindo, é melhor deixá-la de lado e continuar, pois talvez ela nem devesse estar ali. A reescrita é a etapa onde a história realmente ganha forma.

Leia em voz alta: 
A leitura em voz alta ajuda a identificar o ritmo e a melodia do texto. Como o escritor Gabriel García Márquez, muitos autores se preocupavam com a sonoridade da prosa.

Confie no seu leitor: 
Nem tudo precisa ser explicado. A escritora Esther Freud defende que, se você realmente domina o seu tema e dá vida a ele, o leitor sentirá isso. 

COMO SE INSPIRAR

Escreva sobre o que conhece e o que te move: 
Gabriel García Márquez acreditava que o tema certo é aquele que realmente interessa ao escritor. O trabalho se torna mais fácil e a paixão transparece.

Observe o mundo e as pessoas: 
Ernest Hemingway aconselhava a observar atentamente o que acontece ao redor, usando todos os sentidos. Também é útil tentar se colocar no lugar dos outros para construir personagens mais complexos.

Tenha um ritual de escrita: 
Muitos autores famosos tinham rotinas consistentes, como Ernest Hemingway, que escrevia todas as manhãs. A consistência é fundamental.

Use suas emoções: 
Maya Angelou incentivava os escritores a usarem suas emoções fortes, como a raiva, para enriquecer a narrativa.

MAIS DICAS

1.
“Se você estiver usando um diálogo, diga-o em voz alta enquanto o escreve. Só assim ele terá o som da fala.” - John Steinbeck
John Steinbeck, vencedor do Prêmio Pulitzer e Nobel, escreveu uma profusão de sabedoria. Mesmo que você não seja um leitor ávido, provavelmente conhece as obras mais significativas de Steinbeck. Seus romances, As Vinhas da Ira e Ratos e Homens, marcaram a Grande Depressão americana. 

Ler o texto em voz alta para si mesmo ajuda a garantir que ele flua como uma conversa.

2.
“Proteja o tempo e o espaço em que você escreve. Mantenha todos longe, mesmo as pessoas mais importantes para você.” - Zadie Smith
Como escritores, é crucial protegermos nosso espaço pessoal da infinidade de distrações que enfrentamos todos os dias. Colegas de quarto, amigos, família, trabalho e o cachorro do vizinho podem dificultar a produção do seu melhor trabalho. Se você estiver disponível para tudo e todos, se sentirá esgotado e fatigado. Quando se trata do seu trabalho, você não está errado em proteger seu espaço pessoal.

3. 
“Na fase de planejamento de um livro, não planeje o final. Ele precisa ser conquistado por todos os que virão antes dele.” - Rose Tremain
Muitos escritores discordarão desta citação. Se você começa com o fim em mente, e isso funciona para você, então talvez este conselho não seja para você. Rose Tremain, a romancista inglesa, sugere que você defina o final com base no que desenvolveu previamente.

4.
“Sempre carregue um caderno. E eu quero dizer sempre. A memória de curto prazo só retém informações por três minutos; a menos que elas sejam registradas no papel, você pode perder uma ideia para sempre.” - Will Self
Will Self é autor de dez romances, cinco contos, três novelas e cinco coletâneas de não ficção. O romancista inglês não é o único a carregar um caderno o tempo todo. Nunca se esqueça daquela ideia fugaz que pode ser o seu próximo grande romance. Sem anotá-la, esses pensamentos esquecidos só voltarão para distraí-lo e aprisionar sua mente.

5.
"A simplicidade é a sofisticação máxima." – Leonardo Da Vinci
Você pode encontrar centenas de escritores que optam por usar uma linguagem mais direta para transmitir sua mensagem. Às vezes, presumimos que um vocabulário mais amplo significa uma escrita melhor, mas isso simplesmente não é verdade.

“Escrever não é usar palavras para impressionar. É usar palavras simples de forma impressionante.” - Sierra Bailey

“Se você não consegue explicar algo a uma criança de seis anos, você mesmo não entende.” - Albert Einstein

6.
“Esqueça os livros que você quer escrever. Pense apenas no livro que você está escrevendo.” - Henry Miller
Quantos romances inacabados você tem no seu disco rígido, envelhecendo como bons vinhos?

Todos nós fazemos isso.

Tenha uma ideia brilhante, escreva algumas milhares de palavras sobre ela e seja levado pela próxima distração.

Todos nós gostamos de pensar que somos multitarefas capazes. No entanto, diversos estudos mostram que lidar com várias tarefas ao mesmo tempo não prejudica apenas o cérebro, mas também a carreira. Dedique toda a sua energia criativa a um projeto de cada vez.

7.
"Nunca use uma palavra longa quando uma curta serve." -  George Orwell
Eric Arthur Blair, mais conhecido pelo pseudônimo George Orwell, foi um escritor inglês famoso pelos romances 1984 e A Revolução dos Bichos . Na falta de habilidade, usar palavras longas faz você parecer pretensioso. Elas também são difíceis de ler e interrompem o fluxo do leitor.

8.
“Leia, leia, leia. Leia tudo – lixo, clássicos, bons e ruins, e veja como eles fazem. Assim como um carpinteiro que trabalha como aprendiz e estuda o mestre. Leia! Você vai absorver. Depois, escreva. Se for bom, você descobrirá. Se não for, jogue pela janela.” - William Faulkner
Se eu pudesse lhe dar apenas um conselho para se tornar um escritor melhor, sugeriria este: leia e escreva muito. À medida que você lê e escreve mais, desenvolve uma melhor compreensão do que é uma escrita boa e ruim. William Faulkner, escritor americano e ganhador do Prêmio Nobel, tinha uma vontade insaciável de continuar escrevendo e nunca estava completamente satisfeito com seu trabalho.

9.
“Quando você estiver travado e tiver certeza de que escreveu um lixo absoluto, force-se a terminar e DEPOIS decida consertar ou descartar - ou você nunca saberá se consegue.” - Jodi Picoult
Jodi Picoult, escritora americana, vendeu mais de 14 milhões de cópias de seus 24 romances. Até que você ultrapasse os próprios limites, nunca saberá até onde pode ir.

10.
“Você precisa escrever de verdade. Sonhar acordado com o livro que você vai escrever um dia não é escrever. É sonhar acordado. Abra seu processador de texto e comece a escrever.” -  Andy Weir
Les Brown, um palestrante motivacional mundialmente famoso, tem em minha mente uma das citações mais inspiradoras de todos os tempos.

“O cemitério é o lugar mais rico da Terra, porque é aqui que você encontrará todas as esperanças e sonhos que nunca foram realizados, os livros que nunca foram escritos, as músicas que nunca foram cantadas, as invenções que nunca foram compartilhadas, as curas que nunca foram descobertas, tudo porque alguém teve muito medo de dar o primeiro passo, de continuar com o problema ou de estar determinado a realizar seu sonho.” - Les Brown

Se você quer ser escritor, precisa escrever, escrever e escrever. Começa com um. Um personagem, uma palavra e depois uma página. O segredo é começar.

Fontes:
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quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Célio Simões (O nosso português de cada dia) “Do Arco-da-Velha”

Atualmente essa expressão serve para qualificar uma narrativa ou alguma coisa que é extemporânea, absurda, improvável, extraordinária e que não parece verdadeira. Quem não conhece as histórias do “arco-da-velha” ou as coisas do “arco-da-velha", para indicar algo remoto, muito antigo, do tempo do ronca. Mas como surgiu essa expressão tão corriqueira? 

Ainda do século XIX, “arco-da-velha” era empregado para descrever o arco-íris. E a própria Bíblia narra como surgiu o primeiro arco-íris. Em Gênesis 9:16, Deus afirma que o arco-íris “serve como lembrança de uma aliança feita por Deus com o homem, aliança que indicava que Ele não voltaria a enviar um dilúvio para destruir a vida na Terra”. 

E “velha”, qual seria o motivo? O que uma senhora em idade provecta tem a ver com esse fenômeno meteorológico? Ainda é a Bíblia que subentende que o termo “velha” representa a velha e indissolúvel aliança que Deus firmou com o homem, razão pela qual o arco-íris também é conhecido como arco-da-aliança. 

Em suas origens portanto, “arco-da-velha” não queria dizer que algo ou um episódio é muito antigo, mas que é incrível, fantástico, surreal, pois abstraindo sua explicação bíblica, o arco-íris, com sua incrível e multifária (multiforme) beleza, sempre se cercou de fabulações delirantes, como a do pote de ouro, ou que ele está bebendo água - quando seus extremos tocam a superfície do mar, de um rio ou de um lago - ou até a suposta e fantasiosa mudança instantânea de sexo de quem o vê bem de perto, resultando dessa última assertiva, sua utilização como símbolo mundialmente aceito das opções sexuais do ser humano.

Há quem especule no sentido de que o correto seria “arca-da-velha” porque “arca” e “baú” possuem o mesmo significado, bastando lembrar que nossas avós e bisavós guardavam seus pertences, suas relíquias e os seus tesouros pessoais ou familiares em suas arcas de madeira, “fechadas a sete chaves”. 

Uma história do arco-da-velha seria, portanto, uma narrativa tirada “do baú de uma anciã”. O conhecido “conto da carochinha” era usado com essa mesma intenção, neste caso, derivado de “carocha”, expressão do regionalismo português que significa feiticeira, uma mulher velha e assustadoramente feia. Daí o sentido de muito antigo, com que se invoca “Arco-da-Velha”, que oscila entre a Bíblia e o paganismo, sem que se possa atribuir a sua origem a um, com exclusão completa do outro. Mas é induvidoso que ambas as fontes contribuíram no decorrer do tempo, para o absoluto sucesso dessa expressão.

Existe uma copiosa produção literária, principalmente de livros infantis, contando as histórias do “arco-da-velha”, sendo uma das mais antigas o livro editado em 1913 pela Quaresma e Cia. Livreiros Editores, do escritor Viriato Padilha, assim como denominações em músicas, livrarias, brechós, antiquários, cafés e demais estabelecimentos comerciais onde se vendem antiguidades, encontrados em qualquer cidade brasileira.

Arco da Velha dá nome a uma das melhores bandas de fado portuguesas e isso demonstra a popularidade da expressão, aqui e na terra de Camões. Mas o que melhor se extrai da expressão são mesmo as muitas histórias “do arco-da-velha” que contam por aí, algumas com pouca ou nenhuma verossimilhança com a realidade. 

Quem já foi a Caxias do Sul teve a possibilidade de visitar a excelente Livraria e Café “Do Arco da Velha” um local muito bonito, famoso pelo atendimento impecável e pela infinita variedade de livros, temas e gêneros, tudo isso com a possibilidade de saborear um excelente café, desses ambientes acolhedores e convidativos, onde o cliente é capaz de passar o dia todo.

Na música, o Grupo Arco da Velha é um sucesso com seu repertório de consagrados cantores da MPB com o CD do mesmo nome e a playlist da Kboing com famosos interpretes internacionais. É algo que vale a pena ouvir. Finalmente, o livro infantil da escritora Elida Ferreira denominado “Histórias do arco-da-velha” (Bagaço, 3.ª edição, ano 2019), ricamente ilustrado, dá conta que dona Iaiá, que transformava tudo que chegava às suas mãos em brinquedo, encantava a todos contando lindas e antigas histórias. Quem de nós não ouviu tantas delas, na nossa saudosa infância? 
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CÉLIO SIMÕES DE SOUZA é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. É membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras (Floresta/PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing 

Dicas de escrita para escritores, pelos famosos (Luís Fernando Veríssimo)


Luís Fernando Veríssimo, renomado escritor, cronista e humorista brasileiro, é conhecido por sua escrita leve, criativa e cheia de humor. Embora não tenha um manual formal para novos escritores, suas entrevistas, textos e obras oferecem lições valiosas para quem está começando na escrita. Aqui estão algumas dicas extraídas do estilo e das ideias de Veríssimo, com base em sua abordagem literária:

1. Leia muito e de tudo

Veríssimo frequentemente destaca a importância da leitura como base para a escrita. Ele é um leitor ávido e diversificado, o que enriquece sua obra.

Leia autores diferentes, de gêneros variados, para expandir seu vocabulário, seu estilo e sua visão criativa.

“A leitura é essencial. Não há escritor que não seja antes de tudo um leitor.” (LFV)

2. Escreva sobre o que você conhece

Ele acreditava que escrever sobre o que você conhece (seja experiências, comportamentos ou situações) torna o texto mais autêntico e envolvente. Ele usava muito do cotidiano em suas crônicas.

Observe pessoas, situações e diálogos reais ao seu redor. Transforme o comum em algo interessante.

“O humor está no cotidiano, no que vivemos todos os dias. Basta saber olhar.” (LFV)

3. Use o humor como ferramenta

O humor é a marca registrada dele. Ele usava o humor para criticar, questionar e até emocionar. O humor não precisa ser escancarado; pode ser sutil ou irônico.

Experimente inserir humor em situações inesperadas, como em uma conversa banal ou em um momento de tensão.

“O humor é uma forma de olhar o mundo. Às vezes, ele é o único jeito de suportá-lo.” (LFV)

4. Seja simples e direto

Veríssimo evitava floreios desnecessários. Sua escrita é clara, acessível e fluida, o que o torna compreensível para leitores de todas as idades.

Evite palavras complicadas ou frases muito longas. Priorize a clareza e a naturalidade.

“O mais difícil é escrever simples.” (LFV)

5. Observe e capture o comportamento humano

Muitas das histórias e crônicas de Veríssimo são baseadas no comportamento humano, com descrições precisas e engraçadas de situações do dia a dia.

Preste atenção em como as pessoas falam, se movem e reagem. Isso pode inspirar personagens e diálogos autênticos.

“O ser humano é fascinante, porque ele é previsível e imprevisível ao mesmo tempo.” (LFV)

6. Experimente diferentes gêneros e formatos

Sua escrita transita entre crônicas, contos, romances, quadrinhos e roteiros. Essa versatilidade o ajudou a alcançar públicos diferentes.

Se você escreve contos, experimente crônicas. Se escreve prosa, tente poesia. Expandir suas habilidades pode surpreender você.

“Eu gosto de experimentar. Às vezes funciona, às vezes não. Mas o importante é tentar.” (LFV)

7. Não se leve tão a sério

Veríssimo acreditava na leveza e no prazer de escrever. Ele não tentava ser pretensioso ou “literário” demais.

Escreva com naturalidade, sem se preocupar excessivamente com perfeição. Divirta-se no processo.

“Escrever é como contar uma boa piada: tem que fluir, senão perde a graça.” (LFV)

8. Cultive a curiosidade

Ele era curioso por natureza e usava isso para criar histórias e personagens. Ele observava o mundo com olhar atento e questionador.

Pergunte-se “e se?” com frequência. Por exemplo: “E se esse vizinho estranho fosse um espião?” ou “E se o mundo acabasse amanhã?”

“A curiosidade é o que move o escritor.” (LFV)

9. Não tenha medo de reescrever

Ele mencionava que reescrever faz parte do processo de escrita. Nem sempre o primeiro rascunho será perfeito.

Depois de escrever, deixe o texto descansar. Volte a ele com um olhar crítico e faça ajustes.

“Escrever é reescrever.” (LFV)

10. Seja um observador do tempo em que vive

Veríssimo usava suas crônicas para refletir sobre questões sociais, políticas e culturais. Ele transformava o contexto em ficção ou humor.

Olhe ao redor e escreva sobre o que está acontecendo no mundo – com crítica, ironia ou emoção.

“A crônica é um reflexo do tempo em que vivemos.” (LFV)

11. Não tenha pressa para encontrar sua voz

Segundo Veríssimo, o estilo de um escritor surge com o tempo e a prática. Não se preocupe em ser original no início; a autenticidade virá.

Escreva todos os dias, mesmo que seja apenas um parágrafo. Aos poucos, você encontrará seu próprio jeito de contar histórias.

“O estilo é uma consequência, não um objetivo.” (LFV)

12. Divirta-se escrevendo

Acima de tudo, ele acreditava que a escrita deve ser prazerosa, tanto para o autor quanto para o leitor.

Escreva sobre temas que você gosta ou que o divertem. Isso transparecerá no texto e cativará o leitor.

“Se você não se diverte escrevendo, o leitor não vai se divertir lendo.” (LFV)

Resumo das dicas de Luís Fernando Veríssimo

- Leia muito e observe o mundo ao seu redor.

- Escreva com simplicidade, autenticidade e leveza.

- Inclua humor e ironia sempre que possível.

- Reescreva e experimente novos formatos.

- Não tenha pressa: a prática e a consistência são essenciais.

Essas lições mostram que a escrita é tanto uma arte quanto um ofício – e, como Veríssimo demonstrava em sua obra, ela pode ser ao mesmo tempo inteligente e divertida.

Luís Fernando Veríssimo é mestre em usar o humor em suas crônicas para criticar, refletir ou simplesmente entreter. Seu estilo é marcado por uma combinação de ironia, observações do cotidiano, diálogos engraçados e situações aparentemente banais que ele transforma em algo hilário. Aqui estão alguns exemplos de como ele usa o humor em suas crônicas, com explicações sobre as técnicas empregadas:

1. Observação do Cotidiano

Veríssimo transforma situações comuns em algo cômico ao destacar o absurdo ou a ironia escondida no dia a dia.

Exemplo: “A Dieta”
Nesta crônica, Veríssimo brinca com a obsessão por dietas e o comportamento contraditório das pessoas que tentam emagrecer. Ele narra a história de alguém que segue uma dieta rigorosa durante o dia, mas à noite devora um bolo inteiro escondido na cozinha.

Humor: A graça está no exagero e na identificação do leitor com o comportamento descrito. Quem nunca tentou enganar a própria dieta?

Trecho:
“A dieta é questão de honra. Você toma só suco no café da manhã, come só salada no almoço, recusa a sobremesa, mas, à noite, o bolo de chocolate começa a cochichar seu nome na cozinha.”

2. Humor Autodepreciativo

Ele usa a si mesmo ou narradores fictícios como alvos da piada, criando empatia com o leitor.

Exemplo: “Academia”
O narrador conta sua experiência desastrosa ao entrar em uma academia de ginástica, fazendo piada sobre a falta de preparo físico e o desconforto em meio a pessoas saradas.

Humor: A graça está no contraste entre o narrador comum (fora de forma) e os frequentadores da academia, além da ironia com a própria situação.

Trecho:
“Eu sabia que estava fora de forma, mas não sabia que a forma era tão fora de mim. No primeiro exercício, quase desmaiei. No segundo, desmaiei mesmo.”

3. Diálogos Bem-Humorados

Cria diálogos rápidos e engraçados, muitas vezes absurdos ou carregados de ironia.

Exemplo: “O Analista de Bagé”
O Analista de Bagé, um dos personagens mais famosos de Veríssimo, é um psicanalista gaúcho que mistura o rigor da análise freudiana com a rusticidade e a franqueza típicas do interior do Rio Grande do Sul.

Humor: O contraste entre o cenário sofisticado da psicanálise e a simplicidade gaudéria cria situações hilárias.

Trecho:
Paciente: “Doutor, eu tenho um problema com a minha mãe...”
Analista: “Problema com a mãe? Pois te atira de joelhos no chão e pede perdão pra velha, tchê!”
Paciente: “Mas ela está morta!”
Analista: “Então pede perdão mais alto, que ela há de ouvir, vivente!”

4. Ironia e Crítica Social

Usa o humor para criticar comportamentos, preconceitos ou aspectos da sociedade, mas de forma leve e acessível.

Exemplo: “A Mulher Ideal”
Ele descreve o que seria a mulher ideal de acordo com os padrões absurdos da sociedade, brincando com os estereótipos de beleza e comportamento.

Humor: A ironia está em exagerar os padrões irreais, tornando-os absurdos e, portanto, engraçados.

Trecho:
“A mulher ideal é aquela que acorda maquiada, tem o corpo de atleta olímpica, nunca reclama e ainda acha graça das piadas do marido. Em resumo, não existe.”

5. Exagero e Situações Surreais

Veríssimo leva situações cotidianas ao extremo para torná-las cômicas.

Exemplo: “A Guerra do Lanche”
A crônica narra uma discussão entre amigos sobre quem vai pagar a conta de um lanche, que acaba escalando para uma guerra literal, com batalhas e exércitos.

Humor: O exagero transforma algo trivial (dividir a conta) em uma situação épica e absurda.

Trecho:
“No início, era só um argumento: ‘Eu pago.’
Depois, começaram os insultos: ‘Você pagou da última vez, então deixa que eu pago agora!’
Em minutos, estávamos armados com os canudos e os guardanapos como bandeiras.”

6. Troca de Expectativas

Surpreende o leitor ao subverter o desfecho esperado de uma situação.

Exemplo: “Amor”
Um homem vê uma mulher maravilhosa no trânsito e sente que é amor à primeira vista. Ele fantasia sobre como seria a vida ao lado dela, mas, quando finalmente decide segui-la, descobre que ela está dando carona para o marido.

Humor: O final inesperado quebra o clima romântico e traz o leitor de volta à realidade.

Trecho:
“Ela era perfeita, e eu já imaginava nossos filhos, nossa casa e nosso cachorro. Mas então ele apareceu, e eu me perguntei: ‘Será que o marido dela também é perfeito?’”

7. Paródias e Referências Culturais

Usa paródias para brincar com obras literárias, filmes ou eventos históricos.

Exemplo: “Romeu e Julieta às Avessas”
Ele reconta a história de Romeu e Julieta, mas com um final cômico e invertido: os dois sobrevivem e, anos depois, estão entediados no casamento.

Humor: A graça está na desconstrução de uma história clássica e no contraste entre o romance idealizado e a realidade.

Trecho:
“Romeu e Julieta sobreviveram e se casaram. Dez anos depois, Julieta gritava: ‘Deixa de ser dramático, Romeu, e vai lavar a louça!’”

8. Personagens Cômicos

Cria personagens marcantes e engraçados, como o Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté (que acreditava cegamente no governo) ou Ed Mort (um detetive atrapalhado).

Exemplo: “Ed Mort”
Ed Mort é um detetive particular que sempre se mete em confusões absurdas. Seu humor vem da mistura de autoconfiança e incompetência.

Humor: A graça está nas situações ridículas que Ed Mort enfrenta e na forma como ele tenta resolvê-las.

Trecho:
“Ela entrou no meu escritório com um vestido vermelho e um problema. Eu estava com fome e sem dinheiro. Era o início de um caso perfeito!”

Luís Fernando Veríssimo usava o humor de maneira inteligente e versátil, explorando ironias, exageros, diálogos bem-humorados, críticas sociais e situações do cotidiano. O segredo do seu sucesso está na leveza com que ele aborda temas sérios e banais, sempre criando identificação e risadas no leitor. Seu humor é uma aula de como usar a simplicidade para criar textos memoráveis!

Fontes:
José Feldman (org.) Como escrever? Floresta/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
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