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Criar um bom final é uma das partes mais difíceis na construção de qualquer narrativa - seja um conto, romance, filme ou série. Por isso, é fundamental entender os diferentes tipos de finais e como usá-los para que a história fique satisfatória para o leitor ou espectador.
Uma boa maneira de entender os finais é compará-los com dois tipos clássicos de conto: o conto de acontecimento e o conto de atmosfera.
No conto de acontecimento, o final é o mais importante e justifica toda a história. Um exemplo clássico é o conto Pai contra Mãe, de Machado de Assis, em que o desfecho revela o significado de toda a trama.
Já no conto de atmosfera, o final não é o ponto principal. O foco está na tensão e no clima construídos ao longo da narrativa, como no conto A Missa do Galo, também de Machado de Assis.
Estes contos de atmosfera têm o que podemos chamar de um final aberto. O final aberto é aquele que não oferece uma conclusão definitiva para a história. Ele deixa questões no ar, convidando o leitor ou espectador a refletir, interpretar e imaginar o que pode acontecer depois.
Um exemplo marcante no cinema é o filme Magnólia, que termina com uma chuva de sapos - uma imagem metafórica e intrigante, que não fecha a narrativa de maneira tradicional, mas provoca múltiplas interpretações e reflexões sobre a vida e seus conflitos. O final aberto não significa desistir de contar a história; pelo contrário, é uma forma de mostrar que a vida continua e que os conflitos apresentados seguirão existindo.
No entanto, é fundamental diferenciar o final aberto do final interrompido. O final interrompido acontece quando o autor não sabe como encerrar a história e simplesmente para no meio da tensão, deixando o público frustrado.
Por exemplo, imagine uma história de assalto a banco que termina com um tiro, mas não revela quem foi atingido nem o que aconteceu depois - isso deixa o público incomodado. Por outro lado, se a narrativa for centrada em outro foco narrativo, como a relação de um casal na fila do banco durante o assalto, o final aberto pode funcionar bem, pois o foco está nos personagens, não nos acontecimentos externos.
Outro tipo de final muito usado é o final surpreendente ou plot twist, como em O Sexto Sentido. O desafio é garantir que o final tenha bases na narrativa e não seja um artifício forçado, que deixe o leitor frustrado.
Além disso, existem os finais fechados, que encerram bem todas as pontas da história, como na série Breaking Bad, onde o arco do personagem principal se conclui de forma satisfatória. Já os finais trágicos mostram a queda do protagonista por um erro ou excesso, gerando um impacto emocional profundo (a famosa catarse aristotélica).
Vale lembrar que não existe um único tipo de final correto, mas sim o final que melhor serve ao propósito da narrativa e ao efeito desejado. Seja com um desfecho fechado que amarra todas as pontas, um final aberto que convida à reflexão ou um plot twist que surpreende e transforma a história, o importante é que o final seja intencional e coerente com o que foi construído.
(do livro “Formação de escritores”, de Marcelo Spalding)
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Marcelo Spalding é jornalista, professor, escritor e editor, com 10 livros individuais publicados e mais de 150 livros editados. Professor de oficinas de Escrita Criativa presenciais e online desde 2007, fundou e dirige a Metamorfose Cursos. É pós-doutor em Escrita Criativa pela PUCRS, doutor e mestre em Letras pela UFRGS e formado em Jornalismo e Letras. Ex-professor universitário, atuou como professor de Escrita Criativa e Jornalismo na graduação e no PPG Letras da UniRitter, além de coordenar o Pós-graduação em Produção e Revisão Textual e a Editora UniRitter. É idealizador do Movimento Literatura Digital, editor dos sites minicontos.com.br e escritacriativa.com.br e autor do livro Escrita Criativa para Iniciantes, além de ter criado o primeiro jogo de tabuleiro de Escrita Criativa do Brasil.
Fontes:
Biografia = Plataforma de escritores
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing
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