sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Laé de Souza (O astronauta)

Aproximou-se da moça e perguntou-lhe o nome. Ela o olhou de cima a baixo antes de responder.

- Brigitte. Você é pessoa importante? Porque só converso com gente de renome. Ao meu lado sempre estão cantores famosos, costureiros de alta-costura, atores de teatro, cinema e TV, escritores de best-sellers, presidentes. Portanto, para preservar minha imagem, devo verificar bem quem são as pessoas com quem converso.

Ele, de olhos fixos nos dela, ficou por alguns instantes a admirar-lhe a beleza e admitia que poderia muito bem se chamar Brigitte.

- Sou importante, sim. Sou astronauta e aquela é a minha nave. Se achar agradável a sua companhia, posso levá-la a passear comigo. Somente grandes nomes nela navegaram. Chamo-me Gagarin. Conheço bem o espaço e já estive na lua... Agora, recordo-me que assisti a alguns dos seus filmes.

- Já ouvi falar de você - e olhava para ele e para a reluzente nave.

- Posso passar a mão?

Ele permitiu e ela alisava a nave boquiaberta. Os que passavam olhavam com inveja, ela percebia e se engrandecia. Depois, fez poses e encenações diversas para ele, que aplaudia. Ele apontava para o céu e, com a mão, fazia gestos de como a sua nave atravessava a barreira do universo. Correu em zigue-zague, de braços abertos.

- Deve ser gostoso - disse ela a sorrir.

No dia seguinte, encontraram-se novamente e falaram de arte e liberdade. Ele lhe confidenciou que era agradável estar com ela. Sentiu um frio de medo, quando ele a convidou para passear em sua nave.

- Não tenha receio, você está com o maior de todos os astronautas - ela assentiu, dando-lhe as mãos e caminhando em direção à nave.

- Segure firme. Se sentir medo, feche os olhos por alguns instantes; depois, abra-os para admirar a beleza do espaço - ela ouviu bem baixinho, embora ele gritasse para se sobrepor ao barulho dos motores. Viajaram por horas e horas, até retornarem.

- Gagarin, estou feliz. Sempre que for ganhar os espaços posso ir com você?

- Claro, Brigitte. Quer ir de novo numa viagem mais demorada? - ela balançou a cabeça afirmativamente.

- Me leva até a lua?

Entraram na nave e, sorrindo, tomaram rumo ao céu.

Um enfermeiro chamava a atenção do outro para a estranha posição em que se encontravam aquela feiosa e o cara esquisito que tinha se internado na semana anterior. Pareciam flutuar.

Sara, amiga e admiradora da Brigitte, ouviu a conversa dos dois e ficou perplexa, estranhando existirem pessoas que desconhecem uma nave no espaço.
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LAÉ DE SOUZA é cronista, poeta, articulista, dramaturgo, palestrante, produtor cultural e autor de vários projetos de incentivo à leitura. Bacharel em Direito e Administração de Empresas, Laé de Souza, 55 anos, unifica sua vivência em direito, literatura e teatro (como ator, diretor e dramaturgo) para desenvolver seus textos utilizando uma narrativa envolvente, bem-humorada e crítica. Nos campos da poesia e crônica iniciou sua carreira em 1971, tendo escrito para "O Labor"(Jequié, BA), "A Cidade" (Olímpia, SP), "O Tatuapé" (São Paulo, SP), "Nossa Terra" (Itapetininga, SP); como colaborador no "Diário de Sorocaba", O "Avaré" (Avaré, SP) e o "Periscópio" (Itu, SP). Obras de sua autoria: Acontece, Acredite se Quiser!, Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Espiando o Mundo pela Fechadura, Nos Bastidores do Cotidiano (impressão regular e em braille) e o infantil Quinho e o seu cãozinho - Um cãozinho especial. Projetos: "Encontro com o Escritor", "Ler É Bom, Experimente!", "Lendo na Escola", "Minha Escola Lê", "Viajando na Leitura", "Leitura no Parque", "Dose de Leitura", "Caravana da Leitura”, “Livro na Cesta”, "Minha Cidade Lê", "Dia do Livro" e "Leitura não tem idade". Ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil, cujo foco é o incentivo à leitura. "A importância da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano", dirigida a estudantes e "Como formar leitores", voltada para professores são alguns dos temas abordados nessas palestras. Com estilo cômico e mantendo a leveza em temas fortes, escreveu as peças "Noite de Variedades" (1972), "Casa dos Conflitos" (1974/75) e "Minha Linda Ró" (1976). Iniciou no teatro aos 17 anos, participou de festivais de teatro amador e filiou-se à Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Criou o jornal "O Casca" e grupos de teatro no Colégio Tuiuti e na Universidade Camilo Castelo Branco. 
Fontes:
Laé de Souza. Nos bastidores do cotidiano. 30a. edição. SP: Ecoarte, 2018.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

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