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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Nilto Maciel (Poemas Escolhidos 2)

MINHA CANÇÃO DO EXÍLIO

Minha terra não tem nada,
palmeiras nem sabiás.

Minha terra é feia, é triste,
como tristes são seus filhos.

Minha terra tem ruelas,
por onde não passam carros.

Minha terra tem subidas,
tem calvários, tem descidas.

Minha terra é tão distante,
que nem sei onde ela fica.

Minha terra não tem nada,
a não ser minha saudade.

CANTIGA DO POEMA PERDIDO

O verso que não escrevi,
levado em bolhas pelo vento,
coitado do meu pensamento!

O poema que se perdeu,
desbaratado pela fome
do despeito qualquer, sem nome.

Apenas pedaços de mim,
instantes fugidios, vãos,
mero abanar de minhas mãos.

Um verso a menos, nada mais,
poema desaparecido,
palavra sem nenhum sentido.

Serei o mesmo sonhador,
do mesmo jeito morrerei,
com a mesma dimensão irei.

Se o verso tal não rabisquei,
vivi o instante, o tempo, a vida
– e ela pra mim não foi perdida.

Ninguém nada perdeu com isso,
se o verso desapareceu
– coitado dele que morreu!

E quando eu desaparecer,
levado em bolhas pelo vento,
coitado do meu pensamento!

ACALANTO

Teus olhos me espreitam vazios
pelos punhos puídos da rede
- são aranhas tecendo teias
para o pesadelo de minha sede.

O range-range deste balanço
não me vem do pêndulo do corpo
- é teu desastre indo e vindo
no galho da velha mangueira.

E o medo que me acalanta
corre o espaço de tua loucura
- da cozinha, da fúria e da faca
ao sol de intensa brancura.

Em teus ombros cobertos de anos
pousavam as mesmas luzes
que te desenhavam gigante
ao chão repleto de cruzes,

e em tuas roupas esfarrapadas
o vento zunia o mapa e as eras
da terra dos antepassados,
das tribos, das matas e das feras.

És espantalho de muitas feições:
há das moscas da morte o rasto
enquanto voam por tua coroa
os nunca esperados urubus do repasto.

Primeiro a faca e a fúria comuns
com que iniciaste a terrível balada
- e já eras o predestinado que vai
para além da corda comprada.

Era uma faca de muito tamanho
com que se cortava o osso
da sopa de após o banho
e o mato que cobria o quintal.

E o peito que incendiaste
com ódios tão inclementes
era o mesmo que amamentava
o choro de teus descendentes.

Depois foi tua vez chegada
- a cozinha já não te cabia,
a faca já não te servia,
a fúria para ti se voltava.

A corda de fibra tesa
dos que morrem serenamente
- a alma como fogueira acesa
queimando os campos de junho.

E as mãos que a sustentavam
as mesmas das frutas colhidas
- a disposição de só se cansarem
depois de as forças perdidas.

Despedida nenhuma nos bolsos
pois que de fins sabias somente
o lado pobre e selvagem
- matar e morrer impunemente.

Agora me acordas e embalas
com teus olhos sanguinolentos
- as mãos rompendo os nós e os calos;
o corpo um pêndulo podre.

NAVEGADOR

Meus olhos cegos, que não veem naves,
navegam pelos mares das tormentas
– perdidos barcos, rotos, sem timão.

Meus olhos mudos só vislumbram vagas,
doida babel de tempestades feita,
monstros marinhos, oceano largo.

Meus olhos surdos só conseguem ver
cantos de dor, de morte e solidão,
a minha própria imensidão de ser.

SAUDADES

Tudo passa, tudo passa.
Até as paredes largas,
as janelas e as portas.

Passam porteiras, portais,
altas portas de madeira
e as calçadas cimentadas.

Escadas de musgo feitas,
de escorregadio verde,
lembranças de chuvas, ventos.

Passa a lâmpada na praça,
e o busto do herói exposto
ao sol e à solidão.

Jardins, flores e beleza,
margaridas, açucenas,
rosas vermelhas - perfumes.

Tudo passa, tudo passa.
Tempo de medo e espanto,
de crescer, ser gente grande.

Passa até essa tristeza,
passa até essa saudade
– quando eu nem sequer passava.

IMAGENS

Eu olhava para a Lua
e via São Jorge
e um dragão em luta.
Faz tanto tempo aquilo
que ate penso
ser nova a lua de agora.

Olho de novo para o céu.
Ha nuvens, muitas nuvens,
como se fosse desabar
uma tempestade.
E faz frio, muito frio,
ao meu redor.

É como se a lua fosse
uma imagem
dentro de outra imagem.
E eu a imagem
da grande imagem
de mim mesmo.

ASTRONOMIA


E a minha mágoa de hoje é tão intensa
Que eu penso que a Alegria é uma doença.
Augusto dos Anjos


Morreu meu derradeiro sonho vão
naqueles olhos cor de tempestade,
naquele adeus que naufragou meu ser.

Minha ilusão partiu pela janela
e se perdeu nos céus da escuridão,
fugido pássaro de si criado,
anjo talvez, noturna sombra informe.

Agora sou apenas cidadão,
mero sujeito do objeto mundo,
olhos abertos para me viver.

Porém, persiste ao meu redor a noite
– escuro céu, estrelas apagadas –
e um som de dor ou de loucura vibra
nos meus ouvidos, sem nenhum sentido.

TESTAMENTO

Deixo meus teres, meus haveres todos,
minhas migalhas, trastes, bugigangas
para os museus de minha terra pobre.

Deixo meus livros, meus cadernos velhos
para as crianças, quem quiser viver
as emoções que a vida me ofertou.

Deixo meus versos, minhas rimas pobres
pros namorados mais apaixonados
e pros desesperados mais sinistros.

Deixo meu próprio desespero inútil
para abalar o dia-a-dia fútil
dos sossegados mais amordaçados.

Deixo o amor mais amoroso e puro
para a mulher mais bela e mais difícil
– a ninfa branca de meu bosque escuro.

Minha amargura deixo repartida
em cada taça reluzente ou baça
dos tristes seres que jamais gargalham.

A solidão mais minha deixo dada
para os que nunca sós viveram, foram;
para a ciranda, a festa, o carnaval.

Minha descrença lego piamente
aos pobres e iludidos pela santa
igreja madre do menino-deus.

E finalmente deixo minha vida
para os mortais iguais a mim, e aos vermes
– a doce vida amarga que adorei.

Fonte:
MACIEL, Nilto. Navegador. Poemas. Brasília/DF: Ed. Códice, 1996.

Nilton da Costa Teixeira (Ano Novo, Acenos Novos)

Nilton da Costa Teixeira (Monte Alto/SP, 3 de maio de 1920 – Ribeirão Preto/SP, 5 de novembro de 1983) 
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Ano novo chegou,
o ano velho partiu,
a fé que vicejou
aonde a dor existiu.
doze meses se foram,
alegres, talvez não,
uns riem, outros choram,
dias que foram, que vão,
no fim de ano o espetáculo
da folhinha termina,
consulto o meu oráculo
E ele não desanima;
promete-me venturas,
dinheiro, amor, saúde,
O progresso, as farturas,
nada disso me ilude,
pois o último dia do ano,
passei em casa sozinho,
contando os desenganos,
pondo-os num papelzinho,
vi tantos e a última hora,
de contá-los demovo,
rezo à Nossa Senhora,
não os quero de novo;
e agora o ano se foi,
só espero o porvir,
pois, o passado dói,
com o futuro a sorrir...
alguém bate na janela,
levanto e vou abrir,
eu pensei que fosse ela,
vejo o vento a bramir;
hoje, do ano, primeiro,
deixo os meus desenganos,
estou fazendo planos,
que eu farei o ano inteiro,
a casa para morar,
boa saúde, animação,
são planos a exaltar,
constante o coração,
eu quero uma cabocla,
singela e recatada
que me tire a ânsia louca,
na louca caminhada;
pois a vida oferece
sonhos acolhedores,
quem seu caminho esquece,
magoado terá dores.
Eu indago o horizonte,
confio na imensidão,
encontro numa ponte,
vazio, desolação...
são os anos que passaram
na vida de cada um,
os sonhos que vicejaram,
sem proveito nenhum,
por isso começo o ano,
com o meu plano estudado,
não quero os desenganos,
iguais do ano passado.

Fonte:
Nilton Manoel

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Oriza Martins / SP (Solidão a Dois)



Manoel Santos Neto (Universo Poético da Cidade de São Luís do Maranhão V)

Canção de Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Coimbra, julho de 1843)
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|| LARGO DOS AMORES ||

A memória do amor e da humilhação do poeta maior

Antigo Largo dos Amores, depois Largo dos Remédios, a Praça Gonçalves Dias já foi o cenário de uma das festas religiosas mais importantes do Maranhão: a Festa dos Remédios, que é descrita no enredo de O Mulato, de Aluísio Azevedo (1857-1913), e na prosa de diversos cronistas, mas nenhum o fez de modo tão evocador e pitoresco como João Lisboa, observa Domingos Vieira Filho, no livro Breve História das Ruas de São Luís.

Nove anos após a morte de Gonçalves Dias, foi inaugurada a estátua do poeta, em 7 de setembro de 1873. Posteriormente, a Câmara Municipal de São Luís aprovou, em 1900, a Resolução nº 13, passando a denominar a parte norte do Largo dos Amores, de Praça Gonçalves Dias, e a parte oeste, de Praça dos Remédios.

Com a estátua de Gonçalves Dias (1823-1864) voltada para o mar, lá se tem uma das mais belas vistas de São Luís: por cima dos telhados e dos mirantes, o campanário inconfundível das velhas igrejas, sobressaindo as duas torres da Sé. Em redor, circundando a ilha, o mar. À esquerda, a ponte que liga a cidade velha à cidade nova, na Ponta de São Francisco. As ruínas do Forte da Ponta d’Areia. O encontro dos dois rios que banham São Luís. E sob o céu estriado de azul e rosa, o recorte triangular dos barcos e das igarités de pesca.

Há, no Largo dos Remédios, as palmeiras que ali foram plantadas em homenagem ao poeta que as celebrou na Canção do exílio e que, na hora do cair da tarde, agitam os leques verdes com a viração que sopra da Baía de São Marcos. Ao centro, a estátua de Gonçalves Dias, voltada para os baixios em que o poeta foi tragado pelas ondas em 1864, no naufrágio do Ville de Boulogne, que o trazia de volta da França.

A História do Maranhão conta que Gonçalves Dias, por ser mestiço e bastardo, foi vítima de um preconceito brutal. O poeta, amigo íntimo de Teófilo Leal, apaixonou-se por uma cunhada deste, Ana Amélia Ferreira Vale, e a pediu em casamento à dona Lourença Vale, mãe da moça. Já àquela época, Gonçalves Dias não era um homem qualquer; era o maior poeta do Brasil e amigo pessoal do Imperador. O Maranhão não tinha glória mais alta, mas nada disso teve o menor significado para dona Lourença, diante deste fato, de que Gonçalves Dias não tinha culpa: ser ele mestiço e filho bastardo. E respondeu ao poeta, numa carta seca, com um não redondo. Não dava a filha a um mestiço.

O infortúnio do poeta aparece numa das cenas capitais do romance Os tambores de São Luís, de Josué Montello, que sustenta a tese de que Gonçalves Dias, se quisesse, podia vir a São Luís, e levar Ana Amélia, que estava disposta a fugir com ele.

Mas não foi isso que ele fez. Humilhado, guardou a mágoa. E, ao chegar ao Rio, casou numa das mais importantes famílias da Corte. Ana Amélia, coitada, não perdoou a família. E quando Domingos Porto, que é também bastardo e mestiço, lhe arrastou a asa, não hesitou em casar com ele, amparada pela Justiça. O casamento dela, em São Luís, foi um deus-nos-acuda. Parecia que o mundo estava vindo abaixo. As amigas de dona Lourença passaram a andar de preto, solidárias com o luto fechado da família Vale. O pai da Ana Amélia, instigado por dona Lourença, foi ao cartório do Raimundo Belo e deserdou a filha, sob a alegação de que a moça tinha casado com o neto da negra Eméria, antiga escrava do coronel Antônio Furtado de Mendonça. Domingos Vale deserdou a filha, por escritura pública, apenas porque o genro, vice-presidente da Província e comandante da Guarda Nacional, é neto de uma escrava.

A família Vale não se deu por satisfeita. Fez mais. Decidiu levar Domingos Porto à ruína, na sua casa de comércio. De um dia para o outro, Domingos Porto se viu com todos os seus créditos cortados. Ninguém quis mais negociar com ele. O resultado foi a falência, tendo sido obrigado a sair do Maranhão às pressas, para não cair nas unhas de seus perseguidores. Nem o presidente da Província pôde fazer nada para ampará-lo. Só encontrou negativas. Era a cidade inteira contra um homem. E tudo isso porque Domingos Porto, que era um homem de primeira ordem, culto, educado, finíssimo, teve a desgraça de ser neto de uma escrava.

Por ocasião do I Centenário da morte de Gonçalves Dias, no ano de 1964, o escritor Mário Meireles (1915-2003) publicou o livro Gonçalves Dias e Ana Amélia, com o propósito de esclarecer controvérsias relacionadas ao grande amor do poeta maior. Nesta obra, o professor Mário Meireles chega à conclusão de que o casamento de Ana Amélia com o comerciante Domingos Porto foi uma deliberada represália ao matrimônio de Gonçalves Dias, a quem quis dar, então, uma vez que já era impossível insistir em qualquer esperança, a certeza cruel de que era muito capaz do que lhe propusera e tanto que o fazia com outro, a quem não amava, e como ele mestiço e bastardo! Ao mesmo tempo, desforrava-se da família, que a este outro também se opôs, e com muito mais fereza porque no caso nem laços de amizade existiam. Neste livro Mário Meireles sustenta a tese de que Ana Amélia casou-se com Domingos Porto por “capricho ofendido”. E é o romancista Josué Montello, com Os tambores de São Luís, quem retrata esse drama de forma magistral, traduzido pelo próprio poeta Gonçalves Dias, num de seus mais célebres poemas:

–––––––––-
Continua…

Fonte:
Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante
Edição 119. 20 de janeiro de 2006

Euclides Riquetti (Entrevista e Poema: O Voo da Garça)

O professor Euclides Riquetti recebeu, no auditório do Praia de Palmas Beach Resort, em Governador Celso Ramos, na região da Grande Florianópolis, a Medalha do Mérito de Literatura professor Lauro Junckes e uma placa em sua homenagem pela conquista do 10º lugar no concurso nacional de poesias Prêmio Mário Carabajal.

O Tempo - Como foi isso?

Riquetti - Bem, Eu compus um poema denominado O Voo da Garça, em 1997, que já foi publicado em O Tempo – e ainda na capa do jornal O Balainho, da Unoesc, de Joaçaba. Quando tomei conhecimento do concurso, mesmo sabendo que ia concorrer com escritores habilidosos, apostei neste poema, pois acreditava que ele iria ficar entre os 100 primeiros colocados, que poderiam ser selecionados. Mas, sinceramente, sentia que ele tinha condições de ficar entre os dez melhores, e isso acabou acontecendo. É um poema que foge da linha convencional, em suma, é um poema diferente. Se eu fosse cantor, diria que seria minha "música de trabalho". Mas é apenas um poema, mas que tem seu valor, lá isso tem.

O Tempo - Há quanto tempo compõe?

Riquetti - Componho poemas desde minha adolescência. Lia muito e admirava Olavo Bilac, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e muitos outros, principalmente os românticos. Isso levou-me a optar pelo curso de Letras/Inglês. Estudei muito as Literaturas Portuguesa, Brasileira, Inglesa e Norteamericana. Na juventude, época de faculdade, lia pelo menos um romance em português e dois ou três em inglês por semana. Eu era fanático por literatura. Houve semana em que cheguei a ler cinco romances, de mais de 100 páginas cada um, em inglês. Admirava Júlio Verne, Charles Dickens, Camilo Castelo Branco, Shakespeare, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz e outros grandes. Mas também li muitos brasileiros, de Machado de Assis a José de Alencar. Bem, isso significa que para compor é preciso conhecer. E, para conhecer, é preciso ler, mergulhar no maravilhoso mundo dos livros.

O Tempo - Tem poemas publicados?

Riquetti - Nunca fui muito dado publicar, embora contribuí com dois poemas no livro Primas, volume IV, da Coleção Vale do Iguaçu, em União da Vitória, Paraná, ainda em 1976. No ano passado emplaquei cinco poemas na coletânea "Santa Catarina Meu Amor". Há outras publicações em jornais, inclusive em O Tempo.

O Tempo - Pretende publicar livros?

Riquetti - Tenho poemas prontos para editar dois ou três livros. Mas, com o passar do tempo, vou ficando mais exigente comigo mesmo. Tenho algumas crônicas e tenho, praticamente, a História do Município de Ouro. Tenho, também, uma visão das questões dos limites à época do Contestado. Mas, História, é compromisso, você não pode sair aí escrevendo aquilo de que não tem comprovação, só porque alguém falou... Mas pretendo escrever uma história meio leve, não com cunho épico, nem demagógico...

O Tempo - Como foi receber uma homenagem lá em outra cidade?

Riquetti - Bem, recebi a medalha, das mãos do presidente da Academia de Letras de Santa Catarina, professor Miguel Simão, juntamente com outros cerca de 50 escritores presentes. Mas minha emoção maior foi ter recebido do Doutor Mário Carabajal a placa pela conquista do décimo lugar no concurso em homenagem a ele. Foi um concurso em que os dez primeiros colocados são das cidades de Itararé (SP), São Vicente (SP), Divinópolis (MG), Florianópolis (SC), Petrópolis (RJ), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Pirapetinga (MG), Congonhal (MG) e Ouro (SC), no meu caso.

O Tempo - O que tem a dizer para outras pessoas que escrevem?

Riquetti - Vejo que há, em nossas cidades, muitas pessoas que escrevem anonimamente, e que não costumam, por alguma razão, expor o que escrevem. Mas temos pessoas, de todas as idades, que escrevem muito bem. Mas, também, há muitos publicando em jornal. A Internet é um meio barato de propagar a literatura. Tenho poesias, comentários e crônicas em meu blog na internet: www.blogdoriquetti.blogspot.com . Quem acessar, clica nos números que estão à sua direita e vai encontrar minhas postagens. E até podem postar comentários.
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O VOO DA GARÇA 

A garça voa o voo leve da alma
Voa a garça
Voa como a branca pluma, com graça
Voa a garça.

E no voo breve, voa lenta, calma
Voa com toda a graça a garça.

Voa o infinito, voa por instinto
Voa sobre o monte a garça...
E pousa na torre da igreja
Ou na árvore da praça
Voa pousa a garça.

E seu voo atrai o disperso
O menino, o esperto
O velhinho, o passante
E voa de novo a garça.

Vai, seguindo os trilhos dos raios de sol
Cortando o azul, a garça.

E pousa suavemente sobre a nuvem
Uma nuvem feita branco lençol...
E descansa outra vez a garça!

(A garça povoa os meus sonhos, orienta minha vida.
A garça é meu ser, é você, sou eu...
A garça é meu norte seguro, é minha inspiração...
É minha emoção transmitida no papel...
Euclides Riquetti)

Fonte
Jornal O Tempo

Soares de Passos (O Canto do Livre)

Ao meu amigo Alexandre Braga.

Gema embora a terra inteira
Acurvada a iníquas leis;
Esta fronte sobranceira
Jamais de rojo a vereis.
Oh! ninguém, ninguém a esmaga,
Que eu sou livre como a vaga,
Que sacode sobre a plaga
O jugo d'altos baixéis.

Liberdade é o mote escrito
No céu, na terra, e no mar!
Di-lo a fera no seu grito,
E as aves cruzando o ar;
Di-lo o vento da procela,
A vaga que se encapela,
E nos espaços a estrela
Em seu contínuo girar.

Di-lo tudo! mas ainda
Mais livre me criou Deus
Que os astros da altura infinda,
Os ventos, e os escarcéus.
Eu tenho mais liberdade
Desta alma na imensidade,
Pois tenho nela a vontade,
Tenho a razão, luz dos céus.

Eu sou livre! erguendo a fronte
Diz-mo uma voz na amplidão,
Quando de pé sobre o monte
Me elevo rei da soidão;
Quando além do firmamento
Alçando meu pensamento,
Solto nas asas do vento
Meu canto d'inspiração.

Eu sou livre! eis minha crença,
Nem força contra ela vale.
Que um tirano enfim me vença –
Triunfarei por seu mal.
Triunfarei, que algemado
E diante dele arrastado,
Sou livre! será meu brado
Té ao momento final.

E que importa que o tirano,
Jurando vingança atroz,
Faça erguer, sorrindo ufano,
Um cutelo à sua voz?
Minha fronte sempre erguida
Há-de encará-lo atrevida,
E só cair abatida
Ao rolar aos pés do algoz.

Mas nunca! pois fora um preito
Dar os pulsos ao grilhão.
Tenho um ferro, e neste peito
Tenho um livre coração!
Não! jamais serei cativo!
Se vencido restar vivo,
Cairei, sorrindo altivo,
Sob o punhal de Catão!

Fonte:

Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

domingo, 30 de dezembro de 2012

Soares de Passos (Infância e Morte)

«Ó mãe, o que fazes? em cama tão fria

«Não durmas a noite... saiamos daqui...
«Acorda! não ouves a pobre Maria,
«Pequena, sozinha, chorando por ti?

«Porque é que fugiste da nossa morada,
«Que alveja saudosa no monte dalém?
«Depois que tu dormes na terra gelada,
«Quão só ficou tudo, mal sabes, ó mãe.

«A nossa janela não mais foi aberta,
«O fogo apagou-se na cinza do lar,
«As pombas são tristes, a casa deserta,
«E as flores da Virgem se vão a murchar.

«Oh! vamos, não tardes... mas tu não respondes...
«Em vão todo o dia meu pranto correu;
«No fundo da cova teu rosto me escondes,
«Não ouves, não falas... que mal te fiz eu?

«Escuta! na torre de frestas sombrias
«O sino da ermida começa a tocar...
«Acorda! que o toque das Avé-Marias
«À imagem da Virgem nos manda rezar.

«A lâmpada exausta de Nossa Senhora
«Ficou apagada, precisa de luz:
«Oh! vem acendê-la, e à Mãe que se adora
«Ali rezaremos, e ao Filho na cruz.

«Depois à costura, sentada a meu lado,
«Tu hás-de contar-me, bem junto de mim,
«Aquelas histórias dum rei encantado,
«De fadas e mouras, dalgum querubim.

«A d'ontem foi triste, pois triste falavas
«De vida e de morte, dum mundo melhor;
«E o rosto cobrias, e muda choravas,
«Lançando teus braços de mim ao redor.

«Depois em silêncio teus olhos fechaste,
«Tão pálida e fria qual nunca te vi;
«Chamei-te era dia, mas não acordaste,
«E enquanto dormias trouxeram-te aqui.

«Oh! vamos, não tardes, que as noites sombrias.
«Sem ti a meu lado, me causam pavor!
«Acorda! que o toque das Avé-Marias
«Nos diz que rezemos à Mãe do Senhor.»

Tais eram as queixas da pobre Maria...
O sino da ermida cessou de tocar...
E a mãe entretanto dormia, dormia;
Do sono da morte não pôde acordar.

Três dias, três noites a filha sozinha
No adro da igreja por ela chamou...
Ao fim do terceiro já forças não tinha;
Da mãe sobre a campa, gemendo, expirou.

Fonte:
Poesias de Soares de Passos. 1858 (1ª ed. em 1856). http://groups.google.com/group/digitalsource

sábado, 29 de dezembro de 2012

Raquel Ordones (Poemas em Gotas)


NOVO ANO

Momentos não esperam por mim, nem por ninguém
A carga perante a vida é individual, é intransferível
Você é capacitado para escrever sua história, além
Respeitando os demais, sem julgar,e sendo flexível.

Ame sempre, sem esperar que o dígito do ano mude
A vida é processo contínuo, não faz pausa nesse dia
Olhe a sua volta sempre,em caso de precisão, ajude
Não tenha esperança que o “ano novo” traga alegria

As perspectivas do novo ano podem começar agora
A esperança é sua,está dentro de você não nos dias
Se obrigue a ser feliz,buscando esse feito toda hora.

“Ano novo” é fábula, afinal os algarismos só sobem
É só um “novo ano” que vem para dividir os tempos
Os dígitos dizem: Serão menos os seus momentos!

QUERO FUGIR COM AS FLORES

Ao passar pelo jardim, que as flores me acompanhasse
Que todas elas sorrissem e que juntas fugissem comigo
Fizessem em volta de mim uma roda, que eu a olhasse
No fundo da pétala onde o perfume se deita em abrigo!

Que todas as flores dançassem ao vento ao meu redor
Que exalassem por toda minha alma a sua fragrância
Fizessem com que eu degustasse um toque de amor
E deliciar-me nesse momento de abissal importância!

Que as flores fujam comigo, quero fugir com as flores
E as borboletas não ficam fora da minha imaginação
E essa imagem está tatuada em cores no meu coração.

Quero flores; do jardim do lado e do jardim da frente
Quero as flores da alma dos seres em nuança de amor
Quero fugir com as flores no outono, inverno e calor!

ABISMAL

Há fundura insondável na solidão
Ruína que assola o corpo e a alma
É um habitar sem fim na escuridão
Oceano de aflição que não acalma.

O coração se descobre em alcantil
Há caos, despenhadeiro de tristeza.
Um matiz preto toma conta do anil
Toda fé é trucidada pela incerteza.

Noites contínuas do ser, falta de luz
Estrelas de emoções boas se apagam
É pregar-se transitoriamente na cruz.

Buraco bolado pela fraqueza interior
Há uma precisão de se jogar a pá fora
Agarrar pelas cordas firmes do amor!

O PODER DA PALAVRA

Feita em poesia a palavra se modifica
Inventa, relata, surpreende, faz sorrir.
Vem e traz agrado que no coração fica.
Verse o verbo na boa palavra a proferir!

O domínio da palavra descreve a carícia
Ouvida ou lida na hora correta traz paz
Pela veia se mistura ao ser; uma delícia.
Pelas profundezas, de tocar ela é capaz.

A palavra cantada aformoseia, até cura
Lida com a alma é parte do nosso mundo
Dita com o cerne para sempre se perdura.

Palavras acariciam, sustentam seu poder
Mas pode ser artilharia que abre a ferida
Algo que dá vida ou algo faz vida fenecer!

SEJA NATAL

Enfeite a árvore do seu viver
Mostre que o seu brilho reluz
Deixe o coração transparecer
Acenda seu pisca-pisca Jesus.

Decore o seu olhar com fulgor
Laço branco de paz na alma
Revele na expressão toda cor
Estenda sua mão que acalma.

E desembrulhe o seu coração
Doe presentes a todo mundo
Carinho, bondade e o perdão!

Dê amor, cace a reconciliação.
Use os estoques por toda vida
Vibre em guirlandas de oração!

...E A PRIMAVERA PARTE

A primavera se despede e o céu dança
Algumas pétalas continuarão a colorir
É eterna essa estação, jamais se cansa
Os raios de sol permanecerão a sorrir!

O cheiro se exalará por todos os ares
Odorante o verão que agora se inicia
Escrita na alma irá a todos os lugares
Primavera é perene musa da poesia!

Flores nascem e moram nos corações
Era que entra e sai leva e deixa pétala
Graça que é essência, exala emoções.

Nuanças e entretons; ornam ocasiões
Presente que nos toca a profundeza
No imo; viagem. Gosto de inspirações.

APENAS DESCULPAS

Sentada a porta: espero
Com o olhar a distância
Emoção pura, sem mero
Sentindo tua fragrância.

Sentada a porta: sonho
Com a tua volta, enfim
Cerne quase fica risonho
Vendo-te vir para mim.

Parada à porta da vida
Vejo escusa, nada mais
Desculpas são os sinais

O amor é sem desculpas
Quem ama somente ama
Justificação só engana!

VIOLETAS NA JANELA

Tons lilases eu vejo através da janela
Com um verde se mistura a paisagem
Combinam-se em matizes da aquarela
Vejo borboletas voando nessa imagem.

O ar toca a tez da pétala, voa cortina.
Um sopro de vento que adentra e beija
Encanta e causa o sorriso da menina
Uma delicada fragrância por ali adeja

Violeta em tons violeta me dá bom dia
Enfeita a janela e atinge minh’alma
Vejos-as; delas vêm algo que acalma.

Violetas fazem do meu imo um jardim
Expostas à janela são olhos da casa
Uma admiração que invade e dá asa!

SOU BARDA

Talvez isso já venha da concepção
Eu não me rememoro muito bem
Sinto que desde lá tive inspiração
E ela desde sempre comigo vem.

Quem sabe deixei alguma prova
Nas paredes do útero rabisquei
Uma palavra, um verso ou trova
Na alma um coração eu gravei?

Sou barda, sou poesia inacabada
Sou a escrevedora da minha vida.
No ato do verbo amar, concebida.

De Deus eu sou fruto exclusivo
Uma pluralidade única... Afinal
Escrevo: em mim é incondicional.

SER FORTE

Ser forte é chorar e a sua lágrima assumir
É manter-se de pé com imo em ventania
É sentir consternação e ainda assim sorrir
É enfrentar um combate e faz dele poesia.

Ser forte é abrir para qualquer um a mão
É dividir com saber aquilo de que possui
Ouvir em silêncio o que vem do coração
É renovar-se e acompanhar o que evolui.

Ser forte é deitar-se a espera do amanhã
No fim da tarde trazer o dever cumprido
Respeitar de cada um o espaço deferido.

Vestir-se de Deus e expor o amor de fato.
Usar menos físico e mais finura é ser forte
Viver feliz ciente do encontro com a morte!

SEMEAR-TE-EI AMOR

Em meu coração há uma semente
Que semeada em ti nasce uma flor
É simples, satisfaz-te ter em mente
Que adubes tua terra para o amor!

Arranque do cerne o que te faz mal
Comece a sorrir, sinal de solo bom
Abrace todo carinho incondicional
Apoie em quem avaliares ter dom!

Teu coração tornar-te-á um jardim
Perfumará a essência de tua alma
E tua beleza far-te-á ser de calma!

Em meio às pétalas e a fragrância
Saberá desvencilhar-te de espinhos
E serenará a dor dos teus caminhos!

CONVERTENDO-ME

O momento é esse; esse é o tempo certo.
De fazer um novo arranjo em minha vida
Tirar poeiras da minh’alma de imo aberto
Abraçar-me, me tornar mais esclarecida.

Rever conceitos sem perder a identidade
Acomodar os meus princípios ao mundo
Com respeito e acima de tudo a verdade
Não permitindo que me invada o imundo

Limpar os armários e gavetas do meu ser
Coloca-los em disposição mais confortante
O momento é esse, é esse o exato instante.

Deixar em minha bagagem o que preciso
Introduzir o hoje sem jogar o ontem fora
Arrumar-me ao novo no sempre do agora.

AMOR... ACESSO LIVRE!

Comecei a escrever um poema
Imaginei que já o havia escrito
Enleei-me; vi-me num dilema
Até que o contexto era bonito.

O poema falava do livre acesso
Do amor, inda resistido instala
Não acata nem aceita processo
Sem regra, grita e também cala.

É força além de nós; é soberano
Tem fragrância, rima com tudo
Tem sorriso largo feito oceano.

Capaz de fazer a tez suar paixão
É capaz de guilhotinar a guerra
Capaz de dividir meado do pão.

QUE SAUDADE DA FAZENDA!

A estrada, a poeira
Os empreiteiros na roça
O burro e a carroça
Sabiá na laranjeira
Na cerca uma parreira
Que saudade da fazenda
A mamãe tecia renda
Os porcos lá no chiqueiro
As galinhas no poleiro
Fim de semana na venda!

De manhã lá no curral
Leite direto na caneca
De sabugo a boneca
Uniformes no varal
Pendurado o avental
Que saudade da fazenda
A mamãe tecia renda
Papai plantava feijão
Dedilhava violão
Fim de semana na venda!

Bem acima um açude
As vacas fazem aguada
O chapéu, a cavalgada
Azul bolinha de gude
Aquele mascate rude
Que saudade da fazenda
A mamãe tecia renda
Cavalo e ferradura
Garapa e rapadura
Fim de semana na venda!

Pela manhã à escola
Ovo cozido e pão
Já feita toda a lição
Cadernos e a sacola
Recreio: jogo de bola
Que saudade da fazenda
A mamãe tecia renda
Fogão de lenha, o rango!
Quiabo, molho de frango
Fim de semana na venda!

Sol descia no horizonte
Luzinhas de vagalumes
As flores e os perfumes
Papai vindo lá na ponte
Trazendo água da fonte
Que saudade da fazenda
A mamãe tecia renda
A lua linda lá no céu
Brincava passando anel
Fim de semana na venda!

Tínhamos todo espaço
O boizinho de abacate
Cachorro que sempre late
Manga corria no braço
No cabelo aquele laço
Que saudade da fazenda
A mamãe tecia renda
Ao deitar a oração
Família é religião
Fim de semana na venda!

VIVER EM POESIA

Posso tentar explicar: viver em poesia é assim
Ter uma vida normal similar à de todo mundo
Estar ciente dos espinhos e apreciar o jasmim
Deixar fluir pela caneta sentimento profundo.

Viver em poesia é fazer de um verbo um verso
Converter esse verso em uma história sem fim
É percorrer com a imaginação todo o universo
Trafegar muito além dos limites visíveis, enfim.

Viver em poesia é mirar com olhos do coração
Mesmo sabendo que existe o mau e ele judia
É possuir alma inquieta em constante euforia.

Viver em poesia é gritar na grafia os segredos
É sentir sua verdade sendo tomada pelo leitor.
É se declarar. É pôr nas palavras todo o calor!

SOSSEGO

Não me importa que os raios do sol nasçam um por um
Que as manhãs cheguem taciturnas, bem de mansinho.
Não me implico com o silêncio matinal de jeito nenhum
Não me importa que antes das flores nasça um raminho!

Não me amola o tempo com o andamento que ele tem
Não me apoquenta a sequência tradicional das estações
O vento em seu ritmo manso aborda-me, só me faz bem.
Gosto da assiduidade com que me chegam às emoções!

Nada me influi que a manhã troque de turno com a tarde
Que os anoiteceres declinam singulares logo em seguida
Existe nisso tudo um encantamento, uma razão de vida!

Existe uma quietude que se perdeu no ambiente externo
Que tenta danificar nossa alma por mais que gritemos não
Não há sossego maior do que aquele que jaz no coração!

SER POETA

Ser poeta é permanecer em conexão
De todos os sentimentos e imaginação
De todas as senhas e suas revelações
De todos os arquivos e suas extensões

Ser poeta é tirar o sonho do anonimato
Não se importando com o seu formato
É digitar os versos, as estrofes e fatos
Em desenhos de rima e enviar relatos.

Ser poeta é ser real virtual, encantado
É digitar, e da mente não ser deletado.
É entusiasmo criador na vida anexado

Ser poeta é hakear o backup do coração
Em um clique, copiar e colar a expressão
Fazer da palavra aos olhos, uma emoção!

Fontes:
- http://raquelordonesemgotas.blogspot.com.br/2012_12_01_archive.html
- Formatação sobre imagem obtida em Orkugif.