sábado, 9 de fevereiro de 2008

As Lendas Árabes

As histórias de Fadas sempre foram contadas pelas mães a seus filhos e depois a seus netos. Ninguém sabe quão velhas elas são ou quem as contou primeiro. Os netos de Noé podem tê-las ouvido na Arca, durante o Dilúvio. Heitor pode tê-las ouvido na Cidade de Tróia e é quase certo que Homero as conheceu. Algumas delas podem ter surgido no Egito, no tempo de Moisés. Pessoas em países diferentes contam-nas de forma diferente, mas são sempre as mesmas histórias. As mudanças só são percebidas em matéria de usos e costumes, como o tipo de roupa usada, títulos e locais.

Há sempre muitos reis e rainhas nos contos de fadas, simplesmente porque, no passado, havia bastante reis e países. Um cavaleiro, porém, poderia ser um escudeiro ou um rei, dependendo de onde a história era contada. Essas histórias antigas, nunca esquecidas e sempre recontadas, foram escritas em tempos diferentes e em lugares diferentes e em todos os tipos de línguas, formando o conteúdo do Grande Livro dos Contos de Fadas.

As Lendas Árabes, em sua maioria, são contos de fadas do Oriente, compreendendo Ásia, Arábia e Pérsia, escritas no seu próprio modo de narrar, não para crianças, mas para adultos. Não havia romances então, nem qualquer livro impresso, mas havia pessoas cuja profissão era divertir os homens e mulheres contando contos. Eles recontavam essas histórias, destacando personagens pelos seus valores muçulmanos. Os acontecimentos ocorriam freqüentemente no reino do grande Califa Haroun al Raschid, que viveu em Bagdá do ano de 786 ao de 808. O vizir que acompanhava o Califa também era uma pessoa real da grande família dos Barmecidas. Ele foi condenado à morte pelo Califa de um modo muito cruel e ninguém nunca soube o motivo.

As histórias devem ter sido contadas por um longo tempo, depois que o Califa morreu, quando ninguém mais sabia o que realmente tinha acontecido exatamente. Contadores de histórias, finalmente, escreveram os contos, fixando-os em sua forma definitiva, isto é, narrados a um cruel Sultão pela sua esposa.

Pessoas na França e Inglaterra não souberam quase nada sobre As Noites Árabes nos reinados da Rainha Anne e do Rei George I, até que fossem traduzidos em francês por Monsieur Galland. Adultos eram então muito apaixonados por contos de fadas, que julgavam essas histórias árabes as melhores que tinham lido. Eles se deliciavam com os Ghouls, que viviam entre as tumbas, com Gênios, com Princesas que faziam feitiços mágicos e com Peris, as fadas árabes. Simbad viveu aventuras que talvez tenham sido inspiradas pela Odisséia, de Homero, da mesma forma que histórias narradas na Bíblia podem ter sido contadas e recontadas, assumindo a forma de um conto de fada, depois de muito tempo. Há estreitas ligações, por exemplo, entre a história narrada no livro de Ester e a história de Sherazade, em Mil e Uma Noites.

Nada impediu, também, que ao longo do tempo essas histórias destinadas aos adultos sofressem mudanças e acabassem se tornando histórias para crianças. Após o surgimento do livro impresso e da proliferação de uma nova literatura, retratando valores locais e resgatando aspectos do passado dos povos, o interesse gradativamente se voltou para esses novos títulos. As Lendas Árabes, no entanto, jamais perderam seu encanto e até hoje fascinam, pela criatividade e pela imaginação, leitores de todas as partes do mundo.

Fonte:
BAÇAN, L. P.
Lendas Árabes - E-book Virtual
Pérola, PR: Ed. do Autor, 2007.

Lenda Árabe: O Falcão do Rei de Furs

Contam que o rei de Furs era grande amigo de divertimentos, de passeios e de todo tipo de caça. Possuía um falcão treinado por ele próprio que não o abandonava nenhum momento. Mesmo durante a noite, o rei o trazia preso ao seu punho. Quando ia à caça, levava consigo. No pescoço dessa ave, tinha mandado pendurar uma vasilha de ouro, onde lhe dava de beber. Um dia, em seu palácio, o rei viu, subitamente, chegar o encarregado dos bosques e florestas.

Disse-lhe esse encarregado:
— Ó rei, estamos de novo na época das caçadas!
— Isso me deixa muito feliz! — exultou o rei e começou a fazer os preparativos para a partida.

No dia seguinte, com o falcão em seu punho, partiram, rumando para um vale, onde estenderam as redes de caça. Repentinamente, uma gazela ficou presa na rede.

Então o rei alertou:
— Matarei aquele que deixá-la escapar!

Começaram a puxar a rede em torno da gazela, que se acercou do rei, ergueu-se sobre as patas traseiras, encolhendo junto do peito as patas dianteiras. Nisso o rei bateu as mãos uma contra outra, espantando a gazela, que saltou e fugiu, passando-lhe por cima da cabeça e desaparecendo no meio das árvores.

O rei se voltou para os guardas e viu que eles piscavam os olhos uns para os outros, referindo-se a ele, o rei. Percebendo isso, perguntou ao grão-vizir:
— Que têm os soldados?

O grão-vizir respondeu:
— Eles dizem que tu juraste matar quem quer que deixasse escapar a gazela!

Falou o rei, em seguida:
— Pela minha cabeça, precisamos perseguir aquela gazela e trazê-la de volta!

Começou a galopar, seguindo a pista do animal. Libertou o falcão, incitando-o a perseguir a presa. O falcão rapidamente a localizou e, num vôo rasante e certeiro, atirou-se sobre a gazela, enterrando-lhe o bico aguçado nos olhos, cegando-a. O rei apanhou seu bastão, bateu no animal, fazendo-o rolar. Desceu resolutamente, degolou-a, esfolou-a e prendeu a caça a sua sela.

Fazia calor e o local era árido e sem água. O rei teve sede e cavalo também. Olhando ao redor, o monarca viu uma árvore de onde escorria um líquido parecido com manteiga. O rei tinha a mão coberta com uma luva de pele, onde pousava o falcão. Apanhou a vasilha do pescoço da ave, encheu-a com aquele líquido e colocou-a diante do falcão. Inesperadamente, o animal, com um golpe de uma de suas garras, entornou-a. O rei apanhou a taça pela segunda vez, encheu-a, imaginando que a ave também tinha sede, mas o falcão, pela segunda vez, entornou-a.

O rei ficou enraivecido com o falcão e deu-lhe o líquido pela terceira vez. O falcão novamente o entornou e o rei disse:
— Que Alá te enterre, ave infernal!

Dizendo isso, feriu o falcão com sua espada, cortando-lhe as asas. O falcão ergueu a cabeça e sinalizou para o rei:
— Olha o que há sobre a árvore! — queria ele dizer.

O rei levantou a cabeça e viu uma serpente monstruosa na árvore. O que escorria era seu veneno. O rei, arrependido de ter cortado as asas do falcão, levantou-se, tornou a montar a cavalo e partiu levando a gazela. Mandou o cozinheiro preparar a gazela, depois se sentou no seu trono, tendo o falcão no punho. Percebeu, então, que a luva que vestia estava empapada de sangue. Imaginou que fosse da corça, mas, ao observar o falcão, percebeu as pelas coladas a pele pelo sangue que escorria dos ferimentos.
— Meu amigo, você não pode morrer! — lamentou o rei, apertando a ave junto ao peito.

O falcão, às portas da morte, apontou a taça que trazia ao pescoço e fez sinais para que o rei a enchesse de vinho. Aflito, o rei assim o fez, aproximando-a do bico da ave. Novamente o falcão fez sinais, dando a entender ao rei que desejava que este tomasse o primeiro gole. O rei o atendeu, bebendo um gole do vinho, depois voltou a oferecer o vinho ao falcão, que soltou um longo soluço e morreu. Vendo aquilo o rei soltou gritos de luto e aflição por ter matado o falcão que o salvara da morte. Sentiu um aperto no coração, mas estava por demais concentrado em seu sofrimento para perceber que o resto do veneno da serpente, que ficara na taça, o estava matando.

Fonte:
BAÇAN, L. P.
Lendas Árabes - E-book Virtual
Pérola, PR: Ed. do Autor, 2007.

Lenda Árabe: A História do Burro, do Boi e do Comerciante

Havia, no tempo do grande Califa Haroun al Raschid, que viveu em Bagdá, um comerciante, senhor de muitas posses, casado e pai de muitos filhos. Alá, o Altíssimo, lhe deu o dom de entender a língua dos animais. Esse comerciante morava numa região fértil à margem de um rio e tinha um burro e um boi.

Certo dia o boi chegou ao lugar que era ocupado pelo burro e o encontrou varrido e regado de água. No cocho havia cevada bem joeirada e palha desfiada. O burro estava deitado, em repouso, como se fosse uma figura importante. Indignado, o boi se lembrou que, quando seu senhor montava o burro, era apenas para uma curta viagem, quando havia urgência, pois o burro voltava logo ao seu repouso. Protestou, então, sem perceber que o comerciante o ouvia.
— Comes do bom e do melhor e que isso te seja saudável, proveitoso e de fácil! Eu estou fatigado e tu, repousado. Tu comes a cevada bem joeirada, a palha desfiada e és bem cuidado em seu estábulo. Se às vezes, por alguns momentos, teu senhor te monta, bem depressa te traz de volta! Quanto a mim, sirvo apenas para a labuta e para o trabalho pesado do moinho!

Então o burro disse em resposta:
— Ó pai do vigor e da paciência, em vez de te lamentares, faze o que vou te dizer. Digo-te isso por amizade, simplesmente pelo gosto de Alá. Quando saíres para o campo e meterem o jugo no teu pescoço, atira-te por terra e não te levantes, mesmo que te batam. Quando te levantares, deita-te depressa pela segunda vez. Se te fizerem voltar ao estábulo e te apresentarem favas, não as coma. Finge-te de doente e esforça-te por não comer nem beber por uns três dias. Dessa maneira, repousarás da fadiga e do trabalho e te trarão da melhor palha e da melhor cevada para tua alimentação.

O comerciante, escondido, ouviu aquelas palavras. Quando o tratador foi para junto do boi para lhe dar forragem, viu que o animal comia muito pouco. No dia seguinte, pela manhã, quando foi buscá-lo para o trabalho, encontrou-o doente. Foi depressa e comunicou o fato ao seu senhor, que lhe disse em resposta:
— Leva o burro e faze com que ele trabalhe no lugar do boi, durante o dia todo!

O tratador assim fez e levou o burro no lugar do boi, fazendo-o trabalhar durante o dia inteiro. No fim do dia, quando o burro voltou para o estábulo, o boi lhe agradeceu a benevolência, que permitiu que ele, o boi, repousasse de sua fadiga durante aquele dia. Arrependido, o burro não respondeu.

Na manhã seguinte, um semeador foi buscar o burro e o fez trabalhar o dia inteiro. O burro voltou com o pescoço esfolado e vencido pela fadiga. O boi, vendo-o naquele estado, agradeceu efusivamente, glorificando o amigo com louvores.

Disse o burro, então:
— Antes, eu estava muito tranqüilo. A minha esperteza me condenou. Mas é preciso que eu lhe diga que ouvi nosso amo dizer que o boi não se levantar de seu lugar, será dado ao magarefe para que o mate e faça de sua pele um couro para a mesa. Eu ouvi e tive muito medo por ti. Aviso-te, portanto, para tua salvação.

Ao ouvir as palavras do burro, o boi agradeceu-lhe e disse:
— Amanhã mesmo irei livremente com o tratador, cuidar de minhas ocupações.

Na mesma hora começou a comer toda a forragem. Nenhum dos dois percebeu, no entanto, que o comerciante, escondido, ouvia cada uma das palavras deles. Quando o dia amanheceu, o comerciante saiu com a esposa para onde ficavam os bois e as vacas e ali sentaram. Veio o tratador, tomou o boi e saiu. Como não estava acostumado com a comida que havia ingerido durante aquele tempo de inatividade, inesperadamente e à vista de seu amo, o boi começou a agitar a cauda e a soltar ventos ruidosamente, girando como doido de um lado para outro. O comerciante foi tomado de tal ataque de risos que caiu de seu assento. Sua esposa quis saber:
— De que te ris tanto?

Ele respondeu:
— De uma coisa que vi e ouvi, mas que não posso divulgar sem morrer.

Ela insistiu:
— Eu exijo que me contes a razão de teu riso, mesmo se devesses morrer por isso.

Ele replicou:
— Não posso divulgar isso, porque tenho medo da morte.

Ela lhe disse:
— Mas então estás rindo de mim!

Concluindo isso, não cessou de discutir com ele e de o atormentar com palavras, teimosamente. Tanto fez que, por fim, ele se sentiu obrigado a lhe contar. Fez vir seus filhos a sua presença e mandou chamar o cádi e testemunhas, pois queria fazer seu testamento, antes de revelar o mortal segredo à esposa, a quem ele amava e com quem tinha vivido um tempo considerável de sua vida. Ao saberem da exigência da mulher, amigos e parentes disseram:
— Por Alá! Deixa de lado essa história pelo temor que morra teu marido, o pai dos teus filhos!

Mas ela lhes disse:
— Não lhe darei paz enquanto não me tiver dito seu segredo, mesmo que deva morrer!

Então cessaram de falar com ela. E o mercador se levantou de junto deles e se dirigiu para o lado do estábulo, no jardim, a fim de fazer suas abluções e voltar para contar o segredo e morrer. Ocorre que ele tinha um galo valente, capaz de satisfazer cinqüenta galinhas. Tinha também um cão muito valente. Ele ouviu, naquele momento, o cão que chamava o galo, insultava-o, dizendo:
— Não tens vergonha de te mostrares alegre quando nosso senhor vai morrer?

E o galo disse ao cão:
— Como é isso?

O cão contou toda a história e o galo disse:
— Por Alá! Nosso senhor é bem pobre de inteligência. Eu, que tenho cinqüenta esposas, sei me desembaraçar delas, agradando uma e ralhando com outra! Ele tem uma só e não sabe nem o bom meio nem a maneira de tratar com ela! Ora, é bem simples! Não tem senão que cortar, em intenção dela, algumas boas varas de amoreira, entrar bruscamente em seu reservado e bater-lhe até que ela morra ou se arrependa: e nunca mais ela tornará a importuná-lo com qualquer pergunta que seja!

Ao ouvir aquelas palavras, o comerciante sentiu a luz voltar a sua razão e ele resolveu espancar a esposa. Assim, ele entrou no quarto reservado de sua esposa, depois de ter cortado em sua intenção as varas de amoreira e de as ter escondido.

Disse-lhe, chamando-a:
— Vem até o quarto reservado para que eu te diga o segredo e ninguém me possa ver morrer depois!

Ela entrou com o marido e ele fechou a porta do quarto reservado sobre ambos e caiu-lhe em cima a golpes dobrados, até vê-la desmaiar.

Exclamou ela em altos brados, então:
— Eu me arrependo! Eu me arrependo! — e se pôs a beijar as mãos e os pés do marido, demonstrando que estava verdadeiramente arrependida.

Depois, saiu com ele e toda a assistência se regozijou. O casal viveu no estado mais feliz e afortunado até a morte. O burro jamais tentou ser mais esperto que seu amo e o boi jamais lamentou sua sorte novamente. Como gratidão, o comerciante dobrou a quantidade de galinhas aos cuidados de seu galo.

Às vezes, quando o comerciante, sozinho a um canto, começava a rir, lembrando daquilo que não podia contar, sua esposa imediatamente se lembrava da surra de varas de amoreira e espantava toda a curiosidade de seu coração.

Fonte:
BAÇAN, L. P.
Lendas Árabes - E-book Virtual
Pérola, PR: Ed. do Autor, 2007.

Lenda Árabe: A História do Jovem Rei das Ilhas Negras

(Ao redor da fogueira, na tenda do sultão, que estava de passagem por aquelas terras, fazendo justiça, todos prestavam atenção à história que o jovem contava. Ele escondia o corpo num manto longo. Seu rosto estava parcialmente coberto por um turbante cujas abas pendiam sobre uma de suas faces. O fogo, no entanto, provocava naquela parte de seu rosto estranhos reflexos, como chamas se refletindo no mármore polido.)

Saibam vocês que meu pai era Mahmoud, o rei das Ilhas Negras, assim chamadas por causa de quatro pequenas montanhas que um dia foram ilhas. A capital era no lugar onde agora há o grande lago e o deserto. Minha história lhes contará como estas mudanças ocorreram. Meu pai morreu quando tinha sessenta e seis anos e eu o sucedi. Casei-me com minha prima, a quem amei ternamente e acreditei que me amava também.

Mas uma tarde, quando eu estava meio adormecido, e estava sendo abanado por duas de suas escravas, ouvi uma dizer à outra:
— Que pena que nossa ama já não gosta de nosso senhor! Eu acredito que ela gostaria de matá-lo, se pudesse, porque ela é uma feiticeira.

Eu logo acabei concordando com elas. Quando seu escravo favorito ficou gravemente ferido num acidente, ela implorou que a deixasse construir um palácio no jardim, onde o chorou e o lamentou durante dois anos, cuidado e conservando seu corpo. Eu lhe implorei, então, que deixasse de lamentá-lo, pois ele não podia falar nem se mover e somente era mantido conservado daquela forma graças aos encantamentos que ela usava. Ela se virou contra mim furiosa e proferiu algumas palavras mágicas e eu me tornei imediatamente como vocês me vêem agora, meio homem e meio mármore. Essa feiticeira má transformou a capital, uma populosa e florescente cidade, no lago e no deserto que há agora. E não há um só dia que ela não venha a minha procura e me bata com um chicote feito de couro de camelo.

Quando o rei jovem terminou sua triste história triste, o Sultão demonstrou ter ficado sensibilizado com seu destino.
— Conte-me — ordenou ele, — onde está essa mulher má?
— Onde ela vive agora que eu não sei — respondeu o infeliz príncipe infeliz, — mas ela vai diariamente, ao amanhecer, ver se o escravo fala com ela, depois de me bater.
— Rei desgraçado! — exclamou o Sultão. — Serei sua vingança!

Consultou o rei jovem qual seria o melhor modo para agir, traçando um plano para o dia seguinte. O sultão foi descansar, prometendo ao jovem rei que tudo se resolveria favoravelmente. Quando o dia começou a nascer, o sultão entrou no palácio do jardim onde o escravo jazia. Sacou a espada e destruiu a pouca vida que permanecia nele, depois lançou o corpo num poço. Ele se deitou, então, na cama onde estava o escravo e esperou pela feiticeira. Ela primeiro procurou o jovem rei, em quem aplicou cem chibatadas. Em seguida, ela foi para o quarto onde pensava que o escravo ferido estava, mas o Sultão ocupava seu lugar.

Ela chegou até perto do leito e disse:
— Está melhor neste dia, meu querido escravo? Fale pelo menos uma palavra para mim.
— Como eu posso estar melhor — respondeu-lhe o Sultão, imitando a língua do escravo, — quando eu nunca posso dormir por causa dos gritos e gemidos de seu marido?
— Que alegria ouvi-lo falar! — exclamou a rainha. — Quer que eu devolva a ele a forma normal? Peça o que quiser e lhe concederei.
— Por favor! — disse o Sultão. — Livre-o de sua maldição e lhe dê liberdade para que eu não ouça mais os gritos dele.

A rainha saiu imediatamente, levando uma xícara de água. Disse algumas palavras que fizeram o conteúdo ferver como se estivesse no fogo. Então ela lançou isso em cima do príncipe, que imediatamente recuperou sua forma totalmente humana. Ele ficou feliz com isso, mas a feiticeira lhe disse:
— Suma daqui imediatamente e não volte nunca mais. Se não fizer isso agora mesmo, eu o matarei!

O jovem rei fingiu que fugia em desabalada carreira, mas foi ele se esconder para ver o fim do plano do Sultão. A feiticeira voltou ao Palácio das Lágrimas e disse:
— Eu fiz o que você desejou!
— O que você fez — disse o Sultão, — não é o bastante para me curar. Vá agora mesmo e liberte todas as pessoas que enfeitiçou até agora. Vá e lhes devolva a forma humana.

A feiticeira saiu apressadamente e disseram algumas palavras na direção do lago. Os peixes se transformaram em homens, mulheres e crianças. Tudo voltou ao normal. As ruas estavam cheias novamente e as casas e lojas fervilhavam como se nada tivesse acontecido. Assim que ela terminou de desfazer seus encantamentos, a rainha regressou ao palácio.
— Você está bem melhor agora? — indagou.
— Venha para bem perto de mim — disse o Sultão. — Mais próximo ainda.

Ela obedeceu. Então ele pulou sobre ela e com um assobio, sua espada cortou-a a meio, matando-a.

Então ele procurou e encontrou o príncipe.
— Regozije-se — disse ele. — Seu cruel inimigo está morto.

O príncipe não sabia o que fazer para agradecer o sultão.
— Vá governar seu país com justiça e igualdade. Para que sua felicidade e a minha sejam completas, mandarei vir de Bagdá Suleima, minha sobrinha favorita, para que se case com você e o faça feliz para sempre. Ela será o símbolo da nossa aliança. De agora em diante, você é um protegido meu e nenhum mal acontecerá com você ou com seu reino.

Algum tempo depois, a graciosa princesa, sobrinha do sultão, chegou às Ilhas Negras, onde se casou com o jovem rei, numa festa que durou noventa dias.

Foram felizes para sempre!

Fonte:
BAÇAN, L. P.
Lendas Árabes - E-book Virtual
Pérola, PR: Ed. do Autor, 2007.

O Conto de Fadas


Considerado no seu sentido literal, o termo refere-se somente a histórias fantásticas sobre fadas, seres de tamanho muito reduzido que habitavam o reino da fantasia e que fizeram parte integrante das crenças populares da Antiguidade greco-latina e da cultura medieval européia. São seres imaginários, míticos, representados geralmente por mulheres dotadas de poderes sobrenaturais usados para o Bem (Fadas Madrinhas) ou para o Mal (Bruxas ).

Atualmente, o termo engloba uma variedade de narrativas, sobretudo histórias que por regra possuem elementos "atemporais" e que normalmente recorrem a heróis (ou heroínas) quase sempre jovens, corajosos e habilidosos que passam por aventuras estranhas, por vezes mágicas, que lhes servem de teste para um eventual destino feliz, e madrastas malévolas (ou padrastos) cuja função é dificultar-lhes a vida ao longo da narrativa. Toda a história se desenrola no sentido de demonstrar um princípio moral que ou aparece em apêndice (como no caso dos contos de Perrault) ou é construído ao longo do texto (como no caso dos contos de Grimm). Exemplos de histórias como estas encontram-se em muitos países. Apesar das suas características ditas "universais", o conto de fadas tem sofrido alterações ao longo do tempo, de acordo com os gostos conscientes ou inconscientes de cada geração. Tal como o mito, também o conto de fadas apresenta seres e acontecimentos extraordinários, mas, em contrapartida e tal como a fábula, tende a desenrolar-se num cenário temporal e geograficamente vago, iniciando-se e terminando quase sempre da mesma forma: "Era uma vez..." e "Viveram felizes para sempre." Entre os muitos exemplos destacam-se; "A Cinderela"; "A Branca de Neve e os Sete Anões"; "A Bela Adormecida"; "O Capuchinho Vermelho"; "João e o Feijoeiro Gigante", etc.

Tal como acontece com as nursery rhymes, também o conto de fadas sobreviveu à custa da tradição oral até ser compilado e fixado num texto por escritores e não foi, na sua origem, concebido para crianças pois tratava-se de narrativas complexas que descreviam o reino das fadas e duendes e que culminavam em finais infelizes. Gradualmente, este tipo de narrativas simplificou-se introduzindo-se nos domínios da leitura infantil. O conto Dwarf da Condessa d' Aulnoy é disso um bom exemplo: o fim trágico que apresentava no século XVIII foi substituído por um happy end no século XIX.

Os contos mais modernos devem a sua origem a Charles Perrault e aos seus Contes du Temps Passé ou Contes de ma Mère l'Oie (1697) e à Condessa d' Aulnoy com os Contes des Fées (4 vols. publicados entre 1710 e 1715). Entre os contos de Perrault, encontram-se "A Bela Adormecida", "A Cinderela " e "O Gato das Botas", por exemplo. O autor recupera contos populares esquecidos e apresenta versões modernas, usando um estilo simples e natural, cujo objetivo único é o de entreter as crianças. Apesar da pedagogia do Iluminismo condenar o mundo imaginário apresentado às crianças, os contos de Perrault ganham enorme projeção internacional.

Tal como aconteceu em França, também na Alemanha os pedagogos do Iluminismo denegriram a imagem do conto de fadas, defendendo que se tratava de histórias contadas por mulheres ignorantes, desprovidas de intelecto e que afastavam a criança da realidade. No entanto, encorajados por um espírito de nacionalismo romântico, que influenciou a Europa no século XIX afetando fortemente a literatura infantil, os irmãos Grimm [Jakob Ludwig Karl (1785- 1863) e Wilhelm (1786-1859)] compilaram contos de fadas alemães a partir de histórias contadas por amigos, parentes e aldeões. A sua obra intitulada Kinder und Hausmärsmarchen foi publicada sob a forma de volumes sequenciais em 1812, 1815 e 1822 e tornou-se famosa por toda a Europa, sendo traduzida para inglês em 1823 como German Popular Stories.

Na Inglaterra, o Puritanismo condenava os ideais religiosos e cristãos divulgados por alguns contos de fadas, mas o gosto popular sobrepôs-se e quando Tales of the Fairies foi publicado e Mille et Une Nuits (12 vols. 1704-1717) de Gallant foi traduzido para inglês, os "chapmen" rapidamente compraram as obras e colocaram-nas no mercado. Em 1729, Robert Samber traduz os contos de Perrault como Histoires or Tales of Past Times, mais conhecidos por Tales of Mother Goose, não se limitando apenas a traduzir os contos franceses mas adaptando-os, atribuindo por exemplo às personagens nomes de personalidades inglesas.

Em meados do século XVIII, a literatura infantil renova-se e o conto de fadas passa a ser encarado como um veículo essencial de transmissão de lições morais, elaboradas especificamente para crianças, assistindo-se à sua introdução nos programas escolares como exercício de leitura. Contudo, a controvérsia que se gerou em torno do conto de fadas vai marcar a literatura infantil do século XIX. Por um lado, surgem os defensores do seu valor educacional que, devido ao caráter fantasioso induz nas crianças o gosto pela leitura, por outro, aqueles que defendem que a leitura destes mesmos contos reduz a capacidade criativa das crianças e ilude-as porque as afasta da realidade. No entanto, estas divergências não impediram que, por volta de 1846, os contos de Hans Christian Andersen (1805-1875), Eventyr, fossem traduzidos para inglês e se popularizassem por toda a Europa. Andersen foi considerado por muitos o mestre na arte dos contos de fadas. O seu engenho, sensibilidade e forte sentido do maravilhoso atribuíram às suas histórias um apelo perpétuo e universal. Entre os seus contos destacam-se "O Patinho Feio", "A Pequena Sereia" e "As Roupas Novas do Imperador".

A popularidade de Andersen foi tal que deu origem ao aparecimento de outro tipo de contos na literatura infantil inglesa, tais como Mopsa the Fairy (1869) de Jean Ingelow; The Princess and the Goblin (1872) de George MacDonald; The Happy Prince (1888) de Oscar Wilde, merecendo real destaque Alice's Adventures in Wonderland (1865) e through the Looking-Glass (1872) de Lewis Carroll. As duas últimas obras são extremamente complexas, repletas de jogos lógico-matemáticos e lingüísticos. Muitos autores encontraram nelas códigos secretos que sugerem uma sátira política e social. Independentemente da intenção de Carroll, o fato é que são obras que ganharam o estatuto de clássicos, que têm como ponto de partida uma Alice que se desloca no mundo dos adultos (descrito como um mundo de "malucos"), tornando-se o exemplo de uma criança que se afirma no mundo Vitoriano repressivo. Os livros de Carroll popularizaram-se sendo traduzidos para a maior parte das línguas.

Em Portugal, devido ao rígido sistema religioso e de imprensa, a publicação de contos de fadas foi proibida entre o século XVII e o início do século XIX. Só após essa data, se assiste à tradução destes contos para Português e, à semelhança do que aconteceu nos outros países, também eles foram adaptados à realidade nacional, sofrendo alterações com o passar dos anos.

No século XX, surgiu uma tentativa por parte de alguns psicólogos, tais como Sigmund Freud, Carl Jung e Bruno Bettelheim de interpretar determinados elementos dos contos de fadas como manifestações de desejos e medos. Bettelheim, no seu livro Psicanálise dos Contos de Fadas (1975) defende que a leitura de contos de fadas não só oferece à imaginação da criança novas dimensões que seria impossível ela descobrir por si só, como também contribui para o seu crescimento interior. Para este psicólogo, os contos de fadas são verdadeiras obras de arte plenamente compreensíveis para as crianças, como nenhuma outra forma de arte o consegue ser.

Fonte:
Sónia Jacinto e Carlos Ceia. Conto de Fadas.

Armando Oliveira Lima (1934)

Nasceu em Sorocaba aos 30/10/1934 e é funcionário público aposentado.

- Professor formado em Filosofia pela FAFI ), lecionou na Organização Sorocabana de Ensino, no Instituto de Educação “Ciências e Letras” e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Tatuí.
- Presidiu a Academia Sorocabana de Letras. Membro da Associação Sorocabana de Imprensa, do Núcleo de Cultura Afro-brasileira e da Fundação Cafuné.
- Membro Efetivo da ASL- Academia Sorocabana de Letras.
- Foi Membro do Conselho Municipal de Cultura em Sorocaba.
- Foi colunista durante muitos anos no Jornal O Diário de Sorocaba.

- Atualmente preside o Instituto Darcy Ribeiro. Autor de várias peças teatrais. Foi co-fundador do Teatro dos Três e presidente da Federação de Teatro Amador da Baixa Sorocabana (FETABAS).
- É escritor e autor dos seguintes livros:
- Pés no Chão .
- A Luta pela Independência .
- Ave, Cristo .
- Emília no Mundo dos Livros .
- Impróprios Culturais

- É o criador e organizador do concurso de poesia “Depoesia” de Sorocaba que atualmente encontra-se em sua sétima edição.
- Foi também co-fundador do Gabinete de Leitura Sorocabano e da Academia Sorocabana de Música. Por curto período foi patrono do Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia de Sorocaba.
- Co-fundador do MUE – Movimento Universitário Espírita e da Revista “A Fagulha”. Nessa época foi difusor do espiritismo, proferindo palestras e escrevendo artigos sobre o tema.
- Detém o título de Cidadão Emérito, outorgado pela Câmara Municipal de Sorocaba.
- Grande incentivador da criações culturais dos mais diversificados grupos artísticos.
- Admirador profundo do escritor Monteiro Lobato, desenvolveu importantíssimos trabalhos voltados a ele, tornando-se um expert em Monteiro Lobato.
- Com espírito sempre inovador, editou o livro intitulado “Impróprios Culturais “, que contém 400 novas palavras, criadas por ele a apartir da junção de outras duas.

Fonte:
http://www.sorocult.com/

Armando Oliveira Lima (Diálogos Imaginários...)

Pai, a sabedoria é fruto da velhice?
- A sabedoria, filho, é fruto da experiência, do viver intenso. Se deseja chegar à sabedoria, viva! Intensamente.

Pai, você tinha, como eu, inveja do seu pai? Vejo-o falando dele amiudadamente sempre com carinho e admiração.
- Tinha filho. Não tenho mais. Aprendi que cada vez que queria ser ele, deixava de ser eu mesmo. Quando era eu mesmo me parecia com ele.

Pai, o que você sente ao ver uma árvore florida?
- Sinto, filho, o divino prazer de dar flores multicoloridas e produzir frutos sazonais.

Pai, o que é poetar?
- Poetar, filho não é ato vão. Poetar é fazer a limpeza no nosso próprio porão.

Pai, às vezes tenho imensa vontade de morrer. E só tenho quinze anos ...
- Pois eu, filho, tenho imensa vontade de viver. E só tenho sessenta e quatro anos...

Pai, como você se comportaria se eu, nos meus quinze anos, lhe dissesse que um dia tive uma experiência sexual?
- Não sei, filha. É difícil prever comportamentos futuros, trabalhar sob hipóteses. O que sei é que felicidade se transmite, às vezes, pela vida sexual. A tragédia também. Portanto é preciso cuidar-se.

Pai, responda: você traiu mamãe alguma vez?
- Ô, filho! Isso é pergunta que se faça?
- Fique tranqüilo, velho. É segredo nosso...

Pai, você me ama?
- Muito.
- Mas não demonstra, né?
- Você é que não percebe, filha.

Pai, meu chefe não gosta de mim. Ele me persegue. O que posso fazer?
- Nada, se não olhar fundo nos olhos dele, sem rancor. Será o bastante. A linguagem dos olhos, como a lixívia, lava. As almas.

Pai, meu grande sonho é ser alguém amanhã.
- Filho, pessoa alguma será alguma será alguém no futuro senão a partir de considerar-se alguém agora. O futuro é hoje!

(Partes do trecho total)

Fonte:
http://www.sorocult.com/

George Orwell (Resumo: 1984)

No mais famoso romance de George Orwell, a história se passa no "futuro" ano de 1984 na Inglaterra, ou Pista de Pouso Número 1, parte integrante do megabloco da Oceania. É comum a confusão dos leitores com o continente homônimo real. O megabloco imaginado por Orwell tem este nome por ser uma congregração de países de todos os oceanos. A união da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), Reino Unido, Sul da África e Austrália não parece estar tão distante da realidade.

E a transformação da realidade é o tema principal de 1984. Disfarçada de democracia, a Oceania vive um totalitarismo desde que o IngSoc (o Partido) chegou ao poder sob a batuta do onipresente Grande Irmão (Big Brother).

Narrado em terceira pessoa, o livro conta a história de Winston Smith, membro do partido externo, funcionário do Ministério da Verdade. A função de Winston é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido. Nada muito diferente de um jornalista ou um historiador. Winston questiona a opressão que o Partido exercia nos cidadãos. Se alguém pensasse diferente, cometia crimidéia (crime de idéia em novilíngua) e fatalmente seria capturado pela Polícia do Pensamento e era vaporizado. Desaparecia.

Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 30 e 40, o livro não se resume a apenas criticar o stalinismo e o nazismo, mas toda a nivelação da sociedade, a redução do indivíduo em peça para servir ao estado ou ao mercado através do controle total, incluindo o pensamento e a redução do idioma. Winstom Smith representa o cidadão-comum vigiado pelas teletelas e pelas diretrizes do Partido. Orwell escolhera este nome na soma da 'homenagem' ao primeiro-ministro Winston Churchill com o uso do sobrenome mais comum na Inglaterra. A obra-prima foi escrita no ano de 1948 e seu titúlo invertido para 1984 por pressão dos editores. A intenção de Orwell era descrever um futuro baseado nos absurdos do presente.

Winston Smith e todos os cidadãos sabiam que qualquer atitude suspeita poderia significar seu fim. E não apenas sair de um programa de tv com o bolso cheio de dinheiro, mas desaparecer de fato. Os vizinhos e os próprios filhos eram incentivados a denunciar à Polícia do Pensamento quem cometesse crimidéia. Fato comum nos regimes totalitários.

Algo estava errado, Winston não sabia como mas sentia e precisava extravassar. Com quem seria seguro comentar sobre suas angústias? Não tendo respostas satisfatórias, Winston compra clandestinamente um bloco e um lápis (artigos de venda proibida adquiridos num antiquário).

Para verbalizar seus sentimentos, Winston atualiza seu diário usando o canto "cego" do apartamento. Desta forma ele não recebia comentários nem era focalizado pela teletela de seu apartamento. Um membro do Partido (mesmo que externo como Winston) tinha de ter um teletela em casa, nem que fosse antiga. A primeira frase que Winston escreve é justificavel e atual: Abaixo o Big Brother!

A vida de repressão e medo nem sempre fora assim na Oceania. Antes da Terceira Guerra e do Partido chegar ao poder, Winston desfrutava uma vida normal com os seus pais.

Mesmo Winston tinha dificuldades para lembrar das recordações do passado e da vida pré-revolucionária. Os esforços da propaganda do Partido com números e duplipensamento tornavam a tarefa quase impossível já que o futuro, presente e passado eram controlados pelo Partido.

O próprio ofício de Winston era transformar a realidade. No Miniver (Ministério da Verdade), ele alterava dados e jogava os originais no incinerador (Buraco da Memória) de tudo que pudesse contradizer as verdades do Partido. A função de Winston é uma crítica à fabricação da verdade pela mídia e da ascenção e queda de ídolos de acordo com alguns interesses.

O Partido informa: a ração de chocolate semanal aumenta para 20g para cada cidadão. O trabalho de Winston consistia em coletar todos os dados antigos em que descreviam que a ração antiga era de 30g e substitui-los pela versão oficial. A população agradece ao Grande Irmão pelo aumento devido aos propósitos midiáticos do poder. Winston entendia que adulterava a verdade, por muito tempo ele encobria a verdade para si, mas, aos poucos, ele começava a questionar calado e solitariamente. O medo de comentar algo era um dos trunfos do Partido para o controle total da população. Winston tinha esperança na prole. Na sua ingênua visão, que confunde-se com a biografia de Orwell em sua visão durante a guerra civil espanhola, a prole é a única que pode mudar o status quo.

Winston lembra dos "Dois minutos de ódio", parte do dia em que todos os membros do partido se reunem para ver propaganda enaltecendo as conquistas do Grande Irmão e, principalmente, direcionar o ódio contido contra os inimigos (toteísmo usado amplamente pelo ser humano: odeie o seu inimigo e se identifique com o seu semalhante). Durante este ato, Winston repara num membro do Partido Interno, seu nome é O'Brien. Winston separou-se devido à devoção de sua esposa ao Partido. Ela seguia as determinação que o sexo deveria ser apenas para procriação de novos cidadãos. O sexo como prazer era crime. Ao ver uma bela mulher, lembrou-se da última vez que fizera sexo. Havia três anos e com uma prostituta repugnante. Boicotar o sexo, como pretendem os atuais donos-do-mundo é uma das forças-motrizes para dominar a mente. Winston anotava tudo o que se passava pela sua cabeça. Um exercício proibido mas necessário. Anotar e lembrar pode ser muito perigoso. O caso mais escandaloso que revoltava Winston era o de Jones, Aaronson and Rutherford, os últimos três sobreviventes da Revolução. Presos em 1965, confessaram assasinatos e sabotagens em seus julgamentos. Foram perdoados, mas logo após foram presos e executados. Após um breve periodo Winston os viu no Café Castanheira (Local mal-visto pelos cidadãos que não queriam cometer crimidéia). No ano do julgamento Winston refez uma matéria sobre os três 'traidores'. Recebeu através do tubo de transporte que eles estavam na Lestásia naqueles dias, mas ele sabia que eles confessaram estar na Eurásia (naquela época a Eurásia era a inimiga, mas num piscar de olhos, a Lestásia deixava de ser a aliada e passava a ser a inimiga).

Esta é uma crítica às alianças políticas, principalmente ao pacto de Hitler e Stalin. Os nazistas chegaram ao poder financiados também por setores dos EUA para combater o avanço do comunismo. Durante a vigoração do pacto, a aliança entre Moscou e Berlim sempre existiu para a população dos dois países. Eles não eram amigos, eles sempre foram amigos! No ano seguinte, rumo ao 'espaço vital alemão', os russos sempre foram os inimigos. Sempre tinham sido. Bastante atual se compararmos o apoio logístico e bélico dado aos estaduinedenses a Saddam Hussein e Osama bin Laden para combater o comunismo. Agora, eles são os inimigos eternos.

A mentira do Partido era a prova que Winston procurava para si. Havia algo podre na Oceania. Winston, que era curioso mas não era burro, joga o papel que podia incriminá-lo no buraco da memória. Revoltado, escreve no seu diário que liberdade é poder escrever que dois mais dois são quatro. As fábricas russas ainda contém placas com o lema: dois mais dois são cinco se o partido quiser.

Não era bem-visto que membros do Partido freqüentassem o bairro proletário. Winston estivera havia poucos dias no mesmo local para comprar seu diário. Depois de um costumaz bombardeio, Winston entrevista pessoas sobre como era a vida antes da guerra, mas os idosos não lembram mais, apenas futilidades e coisas pessoais. Ao voltar ao antiquário o propietário tem uma surpresa para o curioso por antiquidades. Winston esperava ver algum objeto anterior ao Partido, mas o que o sr. Carrrington lhe mostra é um quarto com arrumação e mobílias antigas. Sem teletelas.

Winston, ao sair do antiquário, vê uma mulher e desconfia que ela seja uma espiã da Polícia do Pensamento. No dia seguinte, a encontra no Ministério da Verdade, o que aumenta o seu temor em ser denunciado. Ao passar por Winston, ela simula uma dor para desviar a atenção das teletelas, e lhe passar um bilhete escrito: "Eu te amo".

As normas do Partido deixavam claro que membros do Partido, principalmente dos sexos opostos, não deveiam se comunicar a não ser a respeito de trabalho. Passaram-se semanas em conversas fragmentadas até conseguirem marcar um encontro num lugar secreto longe dos microfones escondidos. Winston só descobre seu nome após beijá-la. Júlia confessa que ficou atraída por Winston pelo seu rosto que parecia ir contra o partido. Estava na cara que Winston era perigoso à ordem e ao progresso.

Winston se surpreende ao saber que Júlia se 'apaixonava' com facilidade. O desejo dela era corromper o estado por dentro, literalmente. Para continuar seu romance com Júlia, Winston têm a idéia de alugar aquele quarto do antiquário.

Winston ficou impressionado e passou a acreditar que Júlia seria uma ótima companheira de guerra. Por enquanto, era a pessoa que Winston podia compartilhar seus sentimentos e secreções. Apaixonado, ele recupera peso e saúde. Enquanto isso, o partido organizava a "A Semana do Ódio " (paródia dos mega-eventos políticos, principalmente as Reuniões de Nuremberg promovidas pelo partido Nazista e das paradas militares comunistas) e algumas pessoas desapareciam. Syme, filologista que dedicava-se a finalizar a décima-primeira edição do Dicionário de Novilíngua, tornou-se impessoa. Seu nome não estava mais nos quadros. Nunca esteve.

Certo dia, O'Brien, um membro do Partido Interno, percebe também que Winston era diferente dos outros. O'Brien o convida, para despistar as teletelas, a ir ao seu apartamento ver a nova edição do dicionário de novilíngua. O convite de O'Brien era incomum e fez Winston se animar com a possibilidade de uma insurreição. Ele passa a crer que a Fraternidade não era apenas peça de propaganda, a organização anti-Grande Irmão responsável por todos os danos causados na Oceania tal qual Bola-de-Neve em a "Revolucão dos Bichos".

Winston leva Júlia ao encontro. Para espanto do casal, O'Brien desliga a teletela de seu luxuoso apartamento. Alguns integrantes do partido Interno tinham permissão para se desconectar de suas 'bandas-largas' por alguns instantes. Winston confessa seu desejo de conspirar contra o Partido, pois acreditava na existência da Fraternidade e para tal suas esperanças estavam depositadas em O'Brien. Os planos eram regados a vinho digno, artigo inviável para os integrantes do Partido Externo, e o brinde destinado ao líder da Fraternidade, Emanuel Goldstein. Dias depois, Winston recebe a obra política de Goldstein em seu cubículo.

Winston "devora" o livro enquanto Júlia não demonstra o mesmo interesse. Winston ainda acredita nas proles mesmo ao ver uma mulher cantando uma música pré-fabricada em máquinas de fazer versos. Nada muito distante da música atual. "Nós somos os mortos" filosofa Winston ao contemplar a vida simples da prole. A ignorância dos menos abastados não era perigo para o Partido e, portanto, não sofria tanta repressão quanto os membros, superiores e inferiores do Partido, a classe-média. "Nós somos os mortos" repete uma voz metálica. Sim, era uma teletela escondida atrás de um quadro. Guardas irrompem o quarto e Winston vai para uma cela, provavelmente, no Ministério do Amor.

Até as celas tinham teletelas que vigiavam cada passo de um Winston doente e faminto. Os prisioneiros têm a fisionomia dos do campo de concentração. Ao encontrar O'Brien, Winston que pensara que ele também fora capturado, escuta a frase mais enigmática do livro: "Eles me pegaram há muito tempo".

Winston vai para uma sala e O'Brien torna-se o seu torturador. O'Brien explica o conceito do duplipensar, o funcionamento do Partido e questiona Winston das frases de seu diário sobre liberdade. O'Brien não esquece o que o Winston escreveu. A liberdade é o tema para que O'Brien explique durante a tortura o controle da realidade. Se fosse necessário deveriam haver quantos dedos em sua mão estendida o partido quisesse. A verdade pertence ao Partido já que este controla a memória das pessoas. Winston, torturado e drogado começa a aceitar o mundo de O'Brien e passa ao estágio seguinte de adaptação que consiste em: aprender, entender e aceitar Winston sabia que já estava se adaptando e confessando que a Eurásia era inimiga e que nunca tinha visto a foto dos revolucionários. Mas ainda faltava a reintegração e este ritual de passagem só podria ser concluído no Quarto 101. Segundo O'Brien, o pior lugar do mundo.

O Quarto 101 é um inferno personalizado. Como Winston tem pavor de roedores, os torturadores colocaram uma máscara em seu rosto com uma abertura para uma gaiola cheia de ratos famintos separada apenas por uma portinhola. A única forma de escapar era renegar o perigo maior ao Partido, o amor a outra pessoa acima do Grande Irmão. "Pare. Faça isso com a Júlia." Grita Winston.

Winston, libertado, termina seus dias tomando Gim Vitória e jogando sozinho xadrez no Castanheira Café. Ao fundo, seu rosto aparece na teletela confessando vários crimes. Ele foi solto e teve sua posição rebaixada para um trabalho ordinário num sub-comitê. Trajetória de milhares de pessoas de regimes totalitários, como o tcheco Thomaz de "A Insustentável Leveza do Ser" de Milan Kundera, o caso do médico que vira pintor de paredes ao renegar as ordens do partido não é muito diferente daqueles que não se adaptam em suas profissões no mundo livre S/A.

Júlia escapa também do Quarto 101. O Partido os separou e os dois só voltaram a se encotrar ocasionalmente. Já não eram mais as mesmas pessoas. Tinham "crescido" e se traído. Winston, no Café Castanheira, sorri. Está completamente adaptado ao mundo. Finalmente ele ama o Grande Irmão.

Fonte:
Leonardo Silvino - Resumo do Livro 1984 de George Orwell. Publicado em 24.07.2004 in
http://www.duplipensar.net/

George Orwell (Resumo: A Revolução dos Bichos)

George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair - 1903 - 1950)
A história, desde a expulsão de Jones até a "transformação completa de Napoleão em "humano" durou aproximadamente 6 anos. Na Granja do Solar, situada perto da cidade de Willingdon (Inglaterra), viviam bichos, que como dono tinham o Sr. Jones. O Velho Major (porco) teve um sonho, sobre uma revolução em que os bichos seriam auto-suficientes, sendo todos iguais. Era o princípio do Animalismo.

O Major morreu, mas mesmo assim os animais colocaram em prática a idéia do líder, fazendo a Revolução dos Bichos. Depois da Revolução, a Granja passou a se chamar Granja dos Bichos, e quem a administrava era Bola-de-Neve (porco). Bola-de-Neve seguia os princípios do Animalismo, e mesmo sendo superior (em quesitos de inteligência e cultura) em relação aos outros animais, sempre se considerou igual a todos, não tendo privilégios devido à sua condição. Bola-de-Neve tinha um assistente, Napoleão (porco), que na ânsia pelo poder, traiu o amigo, assumindo a administração da Granja.

Napoleão mostrou-se competente e justo no começo, mas depois passou a desrespeitar os Sete Mandamentos, os quais firmavam as idéias animalistas. Depois de aproximadamente 5 anos, Napoleão já ocupava a casa do Sr. Jones, bebia álcool, vestia as roupas do ex-dono , andava somente sobre duas pernas e convivia com seres humanos, enfim agia em benefício próprio, instalando um regime ditatorial, dominando e hostilizando os demais animais, considerados seres inferiores e sem direitos. Por essa época, já não era possível distinguir, quando reunidos à mesa, o porco tirano e os homens com quem se confraternizava. Napoleão conseguiu sair vitorioso graças à ajuda de Garganta, porco servil e obediente e que, através de bons argumentos, convencia os animais de que tudo o que acontecia era para o bem deles.

Os Sete Mandamentos do Animalismo eram os seguintes:
1 - Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo;
2 - Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo;
3 - Nenhum animal usará roupas;
4 - Nenhum animal dormirá em cama;
5 - Nenhum animal beberá álcool;
6 - Nenhum animal matará outro animal;
7 - Todos os animais são iguais.

Napoleão, aos poucos, alterou todos os mandamentos. Foi Bola-de-Neve quem escreveu os Sete Mandamentos. A Revolução dos Bichos é um livro de extrema importância para entendermos o funcionamento de sociedades comandadas por diferentes tipos de governo, além de mostrar de forma genial a ambição do ser humano, o "sonho do poder". O Senhor Jones era o dono da Granja e, como tal, explorava o trabalho animal em benefício próprio, para acumular capital. Em troca dos serviços prestados, ele pagava com a alimentação, que nem sempre era boa e suficiente. Temos aí o retrato de uma sociedade capitalista: quem mais trabalha é quem menos ganha. A Revolução que se deu por idéia do "Major", tinha por princípio básico a igualdade; sendo assim, o Animalismo corresponde ao Socialismo, regime em que não existe propriedade privada e em que todos são iguais, e todos trabalham para o bem comum. A princípio, houve um socialismo democrático, em que todos participavam de assembléias, dando idéias e sugestões, liderados por Bola-de-Neve, bem aceito pelos animais em geral. Napoleão representa o desejo da onipotência, do poder absoluto e, para conseguir seus objetivos, tudo passa a ser válido: mentiras, traições, mudanças de regras. Tempos depois instaurava-se na Granja uma verdadeira Ditadura, o regime em que não há liberdade de expressão, direito a opiniões etc. Na sede pelo poder e pela riqueza, Napoleão entra em contato com os homens para com eles negociar, comprar, vender, enfim, acumular riquezas e tudo graças ao trabalho dos animais, verdadeiros empregados mal – remunerados, ajudando o "patrão" a ter regalias, bens materiais, capital. A situação fica mais crítica do que quando Jones era o dono da Granja porque, mais do que nunca, os direitos humanos, ou seja, dos animais foram violados de forma cruel e tendo conseqüências gravíssimas como a morte de alguns, o desaparecimento de outros e muita tortura. Com base nos fatos ocorridos podemos concluir que a história nos mostra os dois tipos de dominação existentes – a dominação pela sedução: Garganta persuadia os animais com seus argumentos convincentes e eles aceitavam pacificamente as mudanças efetuadas, e a dominação pela força bruta: quem se rebelasse contra as ordens era punido fisicamente, torturado por cães treinados e levados até à morte.

Fonte
http://www.coladaweb.com/

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Rainer Maria Rilke (Carta a um jovem poeta)

RAINER MARIA RILKE Poeta alemão / 1875 - 1926
Paris, 17 de fevereiro de 1903

Meu estimado senhor:

Recebi sua carta há poucos dias. Quero lhe agradecer a grande e amável confiança que esta representa. Mas pouco mais posso fazer. Não examinarei os seus versos, pois sempre fui alheio a qualquer intenção crítica. Para penetrar uma obra de arte, nada pior do que as palavras da crítica, que somente levam a mal-entendidos mais ou menos infelizes. Nem tudo se pode saber ou dizer, como nos querem fazer acreditar. Quase tudo o que sucede é inexprimível e decorre num espaço que a palavra jamais alcançou. E nada mais difícil de definir do que as obras de arte - seres misteriosos cuja vida imperecível acompanha nossa vida efêmera.

Após isso, apenas acrescento que os seus versos não revelam uma maneira própria. Possuem, é certo, sinais de personalidade, porém ainda tímidos e ocultos. Senti-o no seu último poema, "Minha Alma". Neste, qualquer coisa peculiar procura achar solução e forma. E em toda a formosa poesia "A Leopardi" se sente uma espécie afinidade com este príncipe, este solitário. Entretanto, as suas poesias não têm existência própria, nem mesmo a última, nem mesmo a que é dedicada a Leopardi. Na sua missiva encontrei a explicação de certas insuficiências que, ao lê-lo, já havia percebido, mas a que não me foi possível dar nome. Indaga-me se os seus versos são bons. Pergunta a mim, depois de Ter perguntado a várias pessoas. Manda-os para as revistas, compara-os a outros versos e alarma se quando certos jornais repelem os sus ensaios poéticos. Doravante (já que me permite aconselhá-lo) peço-lhe que renuncie a tudo isso. O seu olhar está voltado para o exterior. Eis o que não deve tornar a acontecer. Ninguém pode dar-lhe conselhos nem ajudá-lo - ninguém! Só existe um caminho: penetre em si mesmo e procure a necessidade que o faz escrever. Observe se esta necessidade tem raízes nas profundezas do seu coração. Confesse à sua alma: "Morreria, se não me fosse permitido escrever?" Isso, principalmente. Na hora mais tranqüila da noite, faça a si esta pergunta: Sou de fato obrigado a escrever?"Examine-se a fundo, até achar a mais profunda resposta. Se ela for afirmativa, se puder fazer face a tão grave interrogação com um forte e simples "Sou", então construa a sua vida em harmonia com essa necessidade. A sua existência, mesmo na hora mais indiferente e vazia, deve tornar-se sinal e testemunho de tal impulso. Aproxime-se então da natureza. Depois procure como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite, de início, os temas demasiado comuns: são os mais difíceis. Nos assuntos em que tradições seguras, às vezes brilhantes, se mostram em grande número, o poeta só pode realizar obra pessoal na plena maturidade de sua força. Fuja dos grandes assuntos e aproveite aqueles que o dia-a-dia lhe oferece. Fale de suas tristezas e dos seus desejos, dos pensamentos que o tocam, da sua fé na beleza. Diga tudo com sinceridade calma e humildade. Utilize, para se exprimir, os objetos que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos, as suas lembranças. Se o quotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador nada é pobre, não há lugares mesquinhos e indiferentes. Mesmo num cárcere cujas paredes abafassem todos os ruídos do universo, não lhe ficaria sempre a sua infância, essa preciosa, essa esplêndida riqueza, esse tesouro de recordações? Volte, para esta direção, o seu espírito. Procure fazer regressar à superfície as impressões submersas desse longínquo passado. A sua personalidade fortificar-se-á, a sua solidão povoar-se-á, tornando-se, nas horas incertas do dia, uma espécie de moradia fechada aos sons exteriores. E se lhe vierem versos deste regresso a si próprio, deste mergulho no seu cosmo, não pensará em indagar se são bons ou não, não tentará conseguir que periódicos se interessem pelos seus trabalhos, porque desfrutará deles como de uma posse natural, como de uma de suas formas de vida e expressão. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade: é a natureza da sua origem que a julga. Por isso, meu prezado senhor, apenas me é possível dar-lhe este conselho: mergulhe em si próprio e sonde as profundidades de onde jorra a sua vida. Só desta maneia encontrará resposta à pergunta: "Devo criar?" De tal resposta recolha o som, sem desvirtuar o sentido. Talvez chegue à conclusão de que a Arte o chama. Neste caso, aceite o seu destino e siga-o, com o seu peso e a sua majestade, sem jamais exigir uma recompensa que possa vir de fora. O criador deve ser um mundo para si próprio, tudo encontrar em si e nesse pedaço de natureza com que se identificou. Pode suceder que, depois dessa descida em si mesmo, ao âmago solitário de sim mesmo, tenha de renunciar a ser poeta. (Basta, no meu entender, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo.) Mesmo assim, a introspecção que lhe peço não terá sido inútil. A sua vida, desde aí, encontrará caminhos próprios. Que estes sejam bons, ricos e largos, é que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.

Que poderei acrescentar? Acredito ter abordado o essencial. No fundo, apenas fiz questão de aconselhá-lo a progredir segundo a sua lei, de modo grave e sereno. Não lhe seria possível perturbar mais violentamente "para fora", do que esperando "de que fora" as respostas que apenas o seu sentimento mais secreto, na hora mais silenciosa, poderá talvez proporcionar-lhe.

Gostei de encontrar na sua carta o nome do professor Horacek. Dediquei a esse sábio uma grande estima e uma gratidão que já duram anos. Quer transmitir-lhe isso da minha parte? É bondade dele, que muito aprecio, lembrar-se ainda de mim.

Restituo-lhe os versos que me confiou tão amigavelmente e mais uma vez lhe agradeço a cordialidade e a amplitude da sua confiança.

Procurei, nesta reposta sincera, feia o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, na minha qualidade de estranho.

Com toda a dedicação e toda a simpatia.

Rainer Maria Rilke

Fonte:
http://www.portrasdasletras.com.br/

História em Quadrinhos

QUADRINHOS

É a arte de narrar uma história através de seqüências de imagens, desenhos ou figuras impressos. Os diálogos entre os personagens, seus pensamentos e a própria narração aparecem sob a forma de legendas ou dentro de espaços irregulares delimitados, chamados de balões.
São conhecidos como histórias aos quadradinhos em Portugal, comics nos Estados Unidos, bandes dessinées na França, fumetti na Itália, tebeos na Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em Cuba, mangás no Japão. No Brasil são chamados também de histórias em quadrinhos (HQs).

Origem
Remonta à pintura rupestre da Pré-história. Desenhos que mostram aventuras de caça são encontrados nas grutas de Lascaux, na França, e Altamira, na Espanha. Hieróglifos e desenhos contando a vida dos faraós aparecem em baixos-relevos egípcios. Narrativas figuradas são comuns à via-sacra, aos estandartes chineses, às tapeçarias medievais, aos vitrais góticos e aos livros ilustrados de diversas épocas. Os filactérios, faixas com palavras escritas junto à boca dos personagens, usadas em ilustrações européias desde o século XIV, são considerados a gênese dos balões. A partir do século XIX, o texto acompanha sistematicamente o desenho.

Era de ouro
O abandono da sátira e do lirismo, a partir de 1930, e a criação de heróis caracteriza a era de ouro. Outros gêneros também ganham espaço. A malícia feminina aparece no vestido colante e na cinta-liga de Betty Boop, de Max Fleischer, e na pouca roupa de Jane, de Norman Pett. Al Capp revoluciona com Li'l Abner (Ferdinando, 1934), protagonista da série mais controvertida dos EUA, por satirizar violentamente os mitos do american way of life. Henry (Pinduca, 1932), o menino careca e sem boca de Carl Anderson, é um precursor de crianças travessas como Dennis, o pimentinha.
Al Capp (1909-1979), pseudônimo de Alfred Gerald Caplin, cartunista americano. Na infância é atropelado por um bonde e perde uma perna. Durante a 2a Guerra Mundial faz shows em hospitais para mutilados. Em 1934 cria Li’l Abner (Ferdinando), uma sátira às family strips: a mãe é matriarca e briguenta, o pai frouxo, e o cachorro é substituído por uma porquinha. O uso que Al Capp faz da língua é tão revolucionário que o escritor John Steinbeck o indica para o prêmio Nobel de literatu. A história vira musical da Broadway (1957) e ganha versão cinematográfica. Durante o macarthismo lança Shmoo, personagem-símbolo do socialismo.

Dirty comics - Deboche e sexo explícito atravessam a década de 30 nas dirty comics: revistas clandestinas escritas por autores anônimos. A sátira e o senso de humor influenciam a revista Mad, na década de 50, e os underground comics, nos anos 60.

Primeiros heróis- Dick Calkins retrata o século XXV com o primeiro herói de ficção científica: Buck Rogers. Baseado nos romances de Edgar Rice Burroughs, Hal Foster desenha Tarzan. Mas é a partir de 1936 que o traço pormenorizado de Burne Hogarth dá o visual definitivo ao homem-macaco. O Chicago Tribune, constatando que suspense e ação agradam aos leitores, encomenda as histórias do detetive Dick Tracy (1931) a Chester Gould, cujo traço influenciará cineastas como Alain Resnais e Jean-Luc Godard. Para concorrer com Buck Rogers, a King Features lança Flash Gordon (1933), de Alex Raymond.

A utilização de jogos de luz e sombra e enquadramentos insólitos, influência o cinema expressionista alemão, faz de Raymond e seus colegas Milton Caniff (Terry e os piratas, 1934) também influenciado por Hitchcock e John Ford e Hal Foster (O príncipe valente, 1937) mestres do gênero. Outro destaque é o escritor Lee Falk, parceiro de Phil Davis, no mágico Mandrake (1934), e de Ray Moore, no misterioso Fantasma (1936).
Alex Raymond (1909-1956), pseudônimo de Alexander Gillespie Raymond, desenhista americano. Com a quebra da Bolsa de Nova York perde o emprego de office-boy e resolve investir no talento para o desenho.
Torna-se desenhista assistente na King Features Syndicate, desenhando histórias assinadas por outros. Ganha um concurso interno e, em 1934, produz simultaneamente Jim das Selvas, Flash Gordon e Agente secreto X-9. Jim das Selvas não suplanta Tarzan na preferência do público, mas o Agente secreto X-9, escrito por Dashiell Hammett, bate Dick Tracy, e o visual de Flash Gordon é tão visionário que a NASA o usa como referência para resolver problemas de aerodinâmica, suplantando Buck Rogers.

Hal Foster (1892-1982), ilustrador canadense, trabalha como guia florestal, garimpeiro e lutador de boxe. Em 1921 viaja mil milhas de bicicleta até Chicago, onde trabalha como ilustrador publicitário. Atravessa a crise de 1929 ilustrando Tarzan. Em 1937 cria sua própria história, O príncipe Valente, obra-prima de desenho e texto que utiliza legendas e não balõezinhos. Editada pela King Features Syndicate é publicada em mais de 180 jornais americanos e traduzido para outros países. É o primeiro quadrinho a virar superprodução hollywoodiana.

Os super-heróis - Em meio à inflação de heróis surgidos no início da década de 30, aparecem outros com superpoderes para tentar resgatar a atenção do público.

Os comic books (revistas em quadr), surgidos em 1934, consolidam-se com a série do Super-homem (1938), de Joe Shuster e Jerry Siegel: o personagem, que esconde seus superpoderes atrás do tímido jornalista Clark Kent, torna-se um mito. Bob Kane serve-se também da dupla identidade para elaborar Batman (1939). Em sua luta contra o crime em Gotham City, o homem-morcego é auxiliado, a partir de 1940, pelo garoto prodígio Robin. Em contrapartida, surge The Spirit (1940), herói sem superpoderes, criado por Will Eisner, que realiza uma das maiores revoluções plásticas e literárias nos quadrinhos.
Durante a 2a Guerra Mundial, os super-heróis fazem propaganda da ideologia aliada. Escrito por Joe Simon (depois por Stan Lee) e desenhado por Jack Kirby, o Capitão América (1941) veste a bandeira norte-americana para combater o nazismo.

Joe Shuster (1914-1992) nasce em Toronto, Canadá. Quando sua família muda-se para Ohio, torna-se amigo de Jerry Siegel, também apaixonado por quadrinhos e histórias de ficção. Em 1933 criam o Super-homem, recusado a princípio por ser fantástico demais. Cinco anos depois, a primeira aventura do Super-homem sai na revista Action comics, e logo se torna um dos principais personagens da National, mais tarde conhecida como DC Comics. Apesar do sucesso mundial, os dois lucram pouco e durante anos brigam com a National pela posse dos direitos do Super-homem.

Pioneiros
Os primeiros nomes dos quadrinhos são Rudolf Töpffer artista e escritor suíço considerado um dos mais importantes ilustradores do mundo, com O sr. Vieux-Bois (1827); Henrique Fleiuss, com Dr. Semana (1861); Wilhelm Busch, com os garotos travessos Max e Moritz (1865) Juca e Chico na tradução de Olavo Bilac e Christophe (pseudônimo de Georges Colomb), com A família Fenouillard (1895). Esses artistas aliam qualidades literárias ao desenho e, freqüentemente, mostram situações cômicas. As primeiras histórias apresentam desenhos divididos em quadros acompanhados de legendas, que dão continuidade às ações.

Nascimento da linguagem
Os primeiros comics americanos fazem rir explorando cenas da vida cotidiana.
Em 1895, Richard Fenton Outcault desenha, pela primeira vez para um jornal, as histórias bem-humoradas de Yellow Kid (1895), o menino que vive nos becos e ruas da cidade.
O personagem de camisolão amarelo cor escolhida por oferecer menos problemas de secagem torna-se uma vedete lucrativa. Da cor também nasce o termo "jornalismo amarelo", para designar a imprensa sensacionalista. Outcault introduz os balõezinhos contendo as falas dos personagens e a ação fragmentada e seqüenciada, iniciando nova forma de expressão.

Onomatopéias e novos sinais gráficos aparecem nas aventuras de Os sobrinhos do capitão (1897), de Rudolph Dirks, que já utiliza quadrinhos pretos em volta da ação.

Richard Fenton Outcault (1863-1928), artista americano, nasce em Ohio. Seu talento para as artes é incentivado pelos pais. Começa como ilustrador e passa a publicar nas revistas satíricas Life e Judge. Em 1894, no jornal New York World, com Yellow Kid, cria o primeiro personagem fixo semanal, que faz grande sucesso. Troca o World pelo New York Journal, do magnata Hearst. Ataques de grupos conservadores, que não aceitam o menino de rua, fazem Outcault desistir de sua criação. Em 1902 faz grande sucesso com Buster Brown (Chiquinho).

Crise
Com o final da 2a Guerra, os quadrinhos passam por uma fase difícil, tanto na Europa quanto nos EUA. Alguns países europeus, apesar de enfrentarem racionamento de papel e tinta, cancelam a importação de revistas dos EUA para barrar a influência americana e valorizar a produção nacional. A censura, a transferência de alguns autores para agências de publicidade e as diretrizes políticas dificultam a produção.

EUROPA
A crise se agrava com o crescimento das críticas de entidades políticas e religiosas. Uma delas apresenta projeto de lei para impedir a entrada de HQs na França. A resistência surge na Bélgica, com Lucky Luke (1946), de Maurice de Bevère e René Goscinny, sátira a todas as histórias de cowboy. Goscinny, juntamente com o desenhista Albert Uderzo, cria Asterix (1959), cujas histórias se passam na Gália durante a conquista romana. As tiras são publicadas na revista Pilote que, juntamente com a francesa Vaillant e as belgas Tintin e Spirou, é responsável pelo renascimento dos quadrinhos europeus.

René Goscinny (1926-1977), roteirista, desenhista, editor e diretor de imagens, nasce em Paris. Aos 2 anos, muda-se com a família para a Argentina. Em 1945 transfere-se para os Estados Unidos e colabora na revista Mad. Na década de 50, lança Lucky Luke, o índio Umpá-Pá e a série Le petit Nicolas. Em 1959, junto com o desenhista Albert Uderzo, cria Asterix, o divertido gaulês sempre em luta contra os romanos, traduzido em mais de 40 idiomas. Com a morte de Goscinny, em 1977, Uderzo acumula as funções de roteirista e desenhista. Uma briga com a editora Dargaud por direitos autorais leva Uderzo a ameaçar, em 1994, que pode se aposentar.

ESTADOS UNIDOS
A rigorosa censura do período macarthista (1950-1954) paralisa a indústria dos comics. Intelectuais culpam os quadrinhos pela crescente delinqüência juvenil. Assustados, os editores submetem os artistas ao Código de Ética, que proíbe violência, terror e sexo. A reação à censura acontece nas revistas Pogo (1949), de Walter Kelly, em que os animais contestam os seres humanos e Mad, violentamente satírica. Na mesma época, Charles Schulz, chamado de "o Freud dos comics", se consagra com Peanuts (Minduim, 1950).

Charles Schulz (1922- ), um dos desenhistas de quadrinhos mais bem pagos do mundo, nasce em Minneapolis, EUA. Filho de um barbeiro, estuda desenho por correspondência. Suas primeiras tentativas de vender Li’l Folks não dão certo. Em 1950, a United Features Syndicate lança a tira, mudando o nome para Peanuts. Baseado em suas falhas e lapsos de menino, o fracassado Charlie Brown e sua turma aparecem em centenas de jornais e revistas do mundo inteiro, viram série de TV, longa-metragem e musical da Broadway.

Revista Mad
No fim do governo de Dwight Eisenhower (1953-1960), as 15 editoras que sobreviveram ao período de caça às bruxas, dentre as 50 que existiam, publicam apenas historinhas insossas, satirizadas por Harvey Kurtzmann que, desafiando o Código de Ética, cria a revista Mad (1952), onde arrasa o estilo de vida americano.

Evolução dos heróis
Ao lançar, em 1961, o Quarteto fantástico, pela editora Marvel Comics, Stan Lee renova o conceito de super-herói. Ao contrário das personagens anteriores, as suas apresentam fraquezas humanas que as aproximam do leitor. Surgem heroínas femininas emancipadas que se contrapõem às frágeis namoradas dos heróis, como Jane (Tarzan) e Olívia Palito (Popeye).

Revistas underground
Nos EUA, os Zap Comix (1968) misturam sexo, drogas e política e fazem coro à contracultura movimento que utiliza valores diferentes dos da sociedade tradicional. Robert Crumb desenha "anti-histórias em quadr", como Fritz the cat, e lidera o movimento das revistas underground (subterrâneo, em inglês) ao lado de Gilbert Shelton, criador dos Freak brothers.

Anti-heróis
Fraquezas humanas aparecem no Homem-aranha (1962), adolescente tímido que tem de aprender a conviver com seus poderes, e no grupo de heróis X-Men (1963). Seguem-se, entre outros, personagens como Hulk (1962), mais monstro do que herói, o Demolidor (1964), que é cego, e o melancólico e filosófico Surfista Prateado (1966). A editora DC Comics, principal concorrente da Marvel, reformula seus super-heróis e inaugura a "Era de Prata" da HQ. Entre os mais importantes ilustradores da época estão Jack Kirby, Jim Steranko, Neal Adams, Berni Wrightson, Gil Kane e Barry Windsor Smith.

Personagens femininas
Os europeus antecipam a liberação feminina e criam os quadrinhos eróticos com Barbarella (1962), de Jean-Claude Forest. A compilação de suas aventuras é o começo das graphic novels, álbuns de grande apuro gráfico, e abre um filão adulto no mercado. No mesmo ano, Quino cria a intelectual Mafalda. Os cortes cinematográficos e clima onírico de Guido Crepax, seguidor de Godard, se revela com a fotógrafa Valentina Rosselli (1965), em desenhos bem elaborados e linguagem revolucionária. Nessa linha surgem Jodelle (1966), de Guy Pellaert, e Paulette (1970), de Georges Wolinski e Georges Pichard.

Quino (1932- ), pseudônimo de Joaquin Salvador Lavado. Filho de espanhóis, nasce em Mendoza, na Argentina. Após freqüentar a Academia de Belas Artes, começa a trabalhar com publicidade. Em 1954 muda-se para Buenos Aires. Em 1962 cria Mafalda a pedido de uma agência publicitária. O desenho é rejeitado e fica engavetado por dois anos, até que a revista Primera Plana solicita uma colaboração regular. A filósofa baixinha, de cabeça grande e enorme laço, que odeia sopa, se transforma num fenômeno internacional. Em 1973 desenha as últimas tiras de Mafalda e passa a dedicar-se aos cartuns e histórias curtas.

Entressafra dos quadrinhos
A crise econômica que tem início em 1973 provoca queda nos títulos. Algumas criações isoladas se destacam. Garry Trudeau recebe o prêmio Pulitzer pela sátira política Doonesbury. Os leitores de jornais se divertem com Hagar, o horrível, o viking de Dick Browne, e se apaixonam por Garfield, de Jim Davis (1978). Em 1974 Richard Corben tira os comic books do marasmo com trabalhos publicados em Heavy Metal. A clássica saga Lanterna Verde-Arqueiro Verde, de Denny O'Neil e Neal Adams, discute temas sociais e mostra super-heróis viciados em drogas. Wally Wood escandaliza ao fazer um pôster das personagens de Disney numa bacanal.
Em 1970 Hugo Pratt inaugura, com o marinheiro Corto Maltese, o romance em quadr. Seu desenho influencia Milo Manara em suas histórias eróticas. Temas fantásticos e poéticos definem o estilo de um dos desenhistas mais premiados do mundo: Moebius, pseudônimo de Jean Giraud, criador, entre outros, do Tenente Blueberry (1963).

Jim Davis nasce em Indiana, nos Estados Unidos e passa a infância numa fazenda, na companhia de 25 gatos. Desde criança gosta de desenhar. Forma-se pela Ball State University e trabalha em publicidade. Em 1969 cria sua primeira tira, o inseto Gnorm Gnat, publicado em um jornal local. Garfield, o gato gordo, preguiçoso e egoísta, surge em 1978, e logo se torna um fenômeno. A tira é publicada em mais de 2.400 jornais do mundo todo.

Quadrinhos contemporâneos
Na década de 80 os quadrinhos atingem cada vez mais o público adulto. As edições são mais luxuosas e as histórias, mais violentas. Os autores japoneses se tornam mais conhecidos no mercado ocidental.

ESTADOS UNIDOS
Em 1982 o judeu-sueco Art Spiegelman ganha, com Maus, os prêmios Yellow Kid, do Salone dei Fumetti, de Lucca, na Itália, o Editorial Playboy, nos EUA, e o Pulitzer de Literatura. Em 1985 surge O cavaleiro das trevas, de Frank Miller, que mostra um Batman violento e psicótico. Lançado em 1986, Watchmen, dos ingleses Alan Moore e Dave Gibbons, disseca o conceito de super-herói de uma forma visual e literária complexa. Moore é também o autor de Miracleman (1982), V de vingança (1988) e Batman: a piada mortal (1989). Artistas ingleses começam a publicar nos EUA: Dave McKean (Orquídea negra), Grant Morrison (Asilo Arkham), Peter Milligan (Skreemer) e Jamie Delano (John Constantine). Neal Gaiman é o autor de Violent cases (1988), Sandman (1989), sofisticada história de horror, além de Livros de magia (1991) e S ignal to noise (1992). Os álbuns de luxo tornam-se mais elaborados com o uso de técnicas como a aquarela e a colagem. Seus mestres são Dave McKean, Bill Sienkiewicz, Brian Bolland, George Pratt, Kent Williams, Jon Mutt e Duncan Fegredo. Leitores de todas as idades rendem-se às reflexões de Calvin e seu tigre Haroldo, de Bill Watterson.
Art Spiegelman (1948- ), um dos mais célebres cartunistas da vanguarda americana, nasce na Suécia e emigra com os pais para os Estados Unidos. Publica vários cartuns no New York Times e Playboy. Torna-se co-editor e colaborador da revista underground Raw. Sua obra-prima, Maus, em que os nazistas são gatos e os judeus ratos é inspirada na história de seu pai, um sobrevivente judeu dos campos de concentração.

Frank Miller (1957- ), desenhista e argumentista americano, é um dos maiores inovadores dos quadr. Sua carreira começa em 1979, quando trabalha em O Demolidor, criação dos anos 40 de Jack Cole. Fã dos mangás japoneses, Miller dá novo formato à série e introduz a personagem Elektra, que depois ganharia aventuras próprias. Em 1983 cria Ronin, um samurai do futuro que se torna um clássico internacional.

Bill Watterson nasce nos EUA. Em 1984 as tiras de Calvin, o garotinho que tem no tigre de pelúcia seu maior amigo, começam a ser distribuídas. Elas transformam-se num êxito internacional e são publicadas em cerca de 1.800 jornais. Bill Watterson detesta dar entrevistas e pouco se sabe sobre sua vida. O contato com os editores é feito por sua mulher, Melissa.

Jogos de marketing
No momento em que os super-heróis tornam-se novamente uma febre mundial, ocorre uma revolução no mercado americano: o sistema de venda direta. As editoras produzem tiragens exatas, com público assegurado pelo distribuidor. Em 1989 o americano Todd McFarlane vende 3 milhões de exemplares de seu Homem-Aranha, recorde apenas superado pelos 7 milhões de exemplares dos X-Men que o coreano Jim Lee comercializa em 1992, ambos pela Marvel. A DC Comics reage: mata o Super-homem, em 1992, e vende 3,5 milhões de exemplares. Em 1993 o ressuscita em novas aventuras. Da mesma forma aleija o Batman (1993), procurando atrair mais consumidores.

Nova editora
Atento ao mercado, McFarlane funda, em 1992, com Lee e outros desenhistas contemporâneos, a Image. Amparada por bons desenhistas, chama roteiristas famosos como Moore, Gaiman e Miller.

EUROPA
Na Itália, França e Espanha, aumenta a produção de álbuns luxuosos. Gaetano Liberatore lança o lascivo Ranxerox e Vittorio Giardino parodia Little Nemo nos sonhos eróticos da jovem Little Ego. O inglês Pat Mills faz, desde 1977, crítica social em Judge Dredd. A violência cínica de Torpedo, de Jordi Bernet, destaca-se em meio às histórias espanholas. Barcelona e Bruxelas firmam-se como os atuais grandes centros dos quadrinhistas europeus. Nos anos 90, o cineasta Federico Fellini, que tinha sido autor de HQ, publica, com Milo Manara, Viagem a Tulum. Sérgio Bonelli amplia sua influência com o faroeste Tex (sucesso desde 1948) e as histórias de terror de Dylan Dog. Na nova safra, destacam-se o iugoslavo Enki Bilal e o francês François Bourgeon, autores de HQs de fantasia e ficção cientí fica. Atualmente, França e Itália enfrentam uma crise de mercado.

AMÉRICA LATINA
A produção mais intensa está na Argentina, país onde o autor nacional tem grande reconhecimento do público. O mais importante roteirista é Hector Germán Oesterheld (Sargento Kirk, com desenhos de Hugo Pratt). José Muñóz e Carlos Sampayo, com o detetive Alack Sinner, e Carlos Trillo, com Alvar Mayor, um fidalgo espanhol que vive entre os índios, fazem sucesso na Europa. Uruguaio radicado em Buenos Aires, Alberto Breccia é internacionalmente admirado por Mort Cinder (1962) e suas personagens que viajam no tempo.

JAPÃO
Ao lado dos EUA, o Japão é um dos maiores produtores e consumidores de HQs. Os mangás atingem todas as idades com inigualável multiplicidade de gêneros. Kazuo Koike, Katsushiro Otomo, Kazuya Kudo, Ryoichi Ikegami e Sho Fumimura são alguns dos desenhistas mais bem pagos do mundo. Akira (1982), de Otomo, e o Lobo solitário (1980), de Koike, sucessos de vendas, influenciam Batman, de Frank Miller, nos EUA. Para penetrar na Europa, as editoras japonesas tentam contratar desenhistas europeus. Ikegami combina tradição e modernidade em Mai, a garota sensitiva, Crying freeman e Sanctuary.

HISTÓRIA EM QUADRINHOS NO BRASIL
A publicação de histórias em quadrinhos no Brasil começou no início do século XX. No país o estilo comics dos super-heróis americanos é o predominante, mas vem perdendo espaço para uma expansão muito rápida dos quadrinhos japoneses (conhecidos como Mangá). Artistas brasileiros têm trabalhado com ambos os estilos. No caso dos comics alguns já conquistaram fama internacional (como Roger Cruz que desenhou X-Men e Mike Deodato que desenhou Thor, Mulher Maravilha e outros).
A única vertente dos quadrinhos da qual se pode dizer que desenvolveu-se um conjunto de características profundamente nacional é a tira. Apesar de não ser originária do Brasil, no país ela desenvolveu características diferenciadas. Sob a influência da rebeldia contra a ditadura durante os anos 60 e mais tarde de grandes nomes dos quadrinhos underground nos 80 (muitos dos quais ainda em atividade), a tira brasileira ganhou uma personalidade muito mais "ácida" e menos comportada do que a americana.
Índice

1960 à atualidade

Em 1960 começou a ser publicado a revista O Pererê com texto e ilustrações de Ziraldo (mesmo autor de O Menino Maluquinho). O personagem principal era um saci e não raro suas aventuras tinham um fundo ecológico ou educacional.

Também na década de 60 o cartunista Henfil deu início a tradição do formato "tira" com seus personagens Graúna e Os Fradinhos.


Foi nesse formato de tira que estrearam os personagens de Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica ainda no fim de 1959.
Só mais tarde suas histórias passaram a ser publicadas em revistas, primeiro pela Editora Abril e depois pela Editora Globo.
Nos anos 60 o golpe militar e seu moralismo bateram de frente com os quadrinhos, em compensação inspirou publicações cheias de charges como O Pasquim que, embora perseguido pela censura, criticavam a ditadura incansavelmente.
A revista Balão, fundado pelo Laerte e pelo Luiz Gê e publicada por alunos da USP e com a curta duração de dez números, revelou autores consagrados até hoje, como os irmãos Paulo e Chico Caruso, entre outros. Angeli, Glauco e Laerte vieram ajudar a estabelecer os quadrinhos underground no Brasil durante os anos 80, desenhando para a Editora Circo em revistas como Circo e Chiclete com Banana. Juntos produziam as histórias de Los Três Amigos (sátira western com temáticas brasileiras) e separados renderam personagens como Rê Bordosa, Geraldão e Overman. Mais tarde juntou-se a "Los Três Amigos" o quadrinista gaúcho Adão Iturrusgarai. Estes quatro publicam até hoje na Folha de São Paulo e lançam álbuns por diversas editoras (mas principalmente pela Devir Livraria). A Folha também publica tiras de Caco Galhardo (Pescoçudos) e Fernando Gonsales (Níquel Náusea). Nesse período, muitas publicações independentes (fanzines) começaram a circular, aproveitando o boom das HQs em meados dos anos 80. Uma dessas publicações de grande sucesso foi o fanzine SAGA, que inovou na época, ao trazer impressão em profissional e capas coloridas, coisa totalmente anormal, para um fanzine, que por regra era feito em copiadoras comuns. Seus membros continuam ativos, como Alexandre Jurkevicius e seu personagem Peralta, A. Librandi atua na área de promoção e Walter Junior continua ilustrando.
Apesar de existirem diversas revistas voltadas estritamente para a HQ nacional, como "Bundas" (já extinta), "Outra Coisa" (com informações sobre arte independente) e "Caô", pode-se considerar que o gênero ainda não conseguiu se firmar no Brasil.
Na década de 90, a História em Quadrinhos no Brasil ganhou impulso com a realização da 1.a e 2.a Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro em 1991 e 1993, e a 3.a em 1997 em Belo Horizonte. Estes eventos, realizado em grande número dos centros culturais da cidade, em cada versão contou com público de algumas dezenas de milhares de pessoas, com a presença de inúmeros quadrinistas internacionais e praticamente todos os grandes nomes nacionais, exposições cenografadas, debates, filmes, cursos, RPG e todos os tipos de atividades.
No fim da década de 1990 e começo do século XXI, surgiram na internet diversas histórias em quadrinhos brasileiras, ganhando destaque os Combo Rangers, criados por Fábio Yabu que tiveram três fases na internet (Combo Rangers, Combo Rangers Zero e Combo Rangers Revolution, que ficou incompleta), uma mini-série impressa e vendida nas bancas (Combo Rangers Revolution, Editora JBC, 2000, 3 edições), ganhando, posteriormente, uma revista mensal pela mesma JBC (12 edições, Agosto de 2001 a Julho de 2002) e, posteriormente, pela Panini Comics (10 edições, Janeiro de 2003 a Fevereiro de 2004).
Os Guerreiros da Tempestade formam um grupo de super-heróis legitimamente brasileiros criados por Anísio Serrazul e começaram a ser publicados pela ND Comics no início de 2005, que está sediada em Goiânia. Tendo como diretor comercial o também roteirista Fábio Azevedo, o título segue a linha estética dos comics americanos. As suas aventuras são as primeiras a estar presentes em todas as bancas do país. Os personagens são legitimamente brasileiros, tendo como arquinimigos seres do futuro que desejam roubar as riquezas naturais da Terra para reconstruí-la.
Hoje em dia, do ponto de vista das grandes tiragens ha predominância das histórias em quadrinhos da Turma da Mônica, que fazem sucesso em outros lugares do planeta, mas conta-se com uma nova geração de quadrinistas, muitos que se projetam no cenário internacional.

Outcault, o pai dos quadrinhos
Richard Felton Outcault nasceu em 14 de Janeiro de 1863, em Lancaster, Ohio. Diplomou-se em Artes pela McMicken University e, logo depois de seu casamento com Mary Jane Martin – realizado em 25 de Dezembro de 1890 – mudou-se para Nova Iorque com o objetivo de desenvolver sua carreira de ilustrador.
Em Nova Iorque, Outcault fez ilustrações e charges para as revistas The Electrical World, Judge e, entre outras, Life (1883-1936). Entretanto, só foi ter sua grande oportunidade quando se tornou ilustrador do New Yourk World e criou Down Hogan’s Alley.
De gênero humorístico e realizada na forma de painéis semanais – às vezes esses painéis enchiam páginas inteiras do jornal -, Down Hogan’s Alley não contava uma história. Apenas mostrava os acontecimentos e os habitantes de um bairro pobre novaiorquino.
Todavia, ainda que nunca tenha contado uma história, Down Hogan’s Alley é de grande importância para a história em quadrinhos, pois deu origem àquela que muitos historiadores e pesquisadores dos quadrinhos consideram a primeira história em quadrinhos do mundo: O menino amarelo (The Yellow Kid, no original).

Pulitzer é um precursor das HQs
Aos 17 anos de idade, o húngaro Joseph Pulitzer (1847-1911) deixou sua terra natal e percorreu diversos países da Europa, à procura de um exército que o recrutasse. Como não conseguiu seu objetivo, foi para os EUA, onde se alistou no Exército da União. Depois de dar baixa, teve várias ocupações sem importância, até que, em 1868, se tornou repórter do Westliche Post, o principal diário em língua alemã de St. Louis, Missouri. Mas não ficou muito tempo nesse emprego, uma vez que, em 1869, elegeu-se deputado estadual. Depois, em 1883, quando já morava em Nova Iorque, comprou o New York World, um jornal que desde sua fundação lutava pela sobrevivência.
Logo após ter sido comprado por Pulitzer, o New York World passou por uma transformação completa – suas páginas foram tomadas por manchetes enormes, artigos sensacionalistas, seções esportivas e numerosas ilustrações –, a fim de atrair novos leitores.
Também com a finalidade de aumentar as vendas do New York World, Pulitzer concentrou seus esforços no suplemento dominical do jornal que, a partir de 1894, teve entre seus principais ilustradores Richard Outcault, criador de Down Hogan’s Alley, uma precursora das histórias em quadrinhos.

Duas versões para a mesma HQ
Do mesmo modo que ocorrera com The Yellow Kid, The Katzenjammer Kids originou uma disputa judicial. Em 1913, após fazer uma viagem pela Europa, Rudolph Dirks trocou o New York Journal, de William Randolph Hearst, pelo New York World de Joseph Pulitzer. Hearst não gostou nem um pouco dessa atitude e resolveu disputar judicialmente com Dirks a propriedade de Katzenjammer Kids.
Depois de uma longa batalha judicial, os tribunais decidiram que Dirks podia desenhar seus personagens para o World – ele deveria apenas trocar o título da história – e Hearst podia publicar no Journal a história com seu título original e seus personagens costumeiros. Assim, em novembro de 1914, surgiram duas versões para a mesma história em quadrinhos: uma publicada no World e realizada por Dirks, a outra publicada no Journal e produzida por Harold H. Knerr, que, entre 1903 e 1914, realizou para o jornal Philadelphia lnquirer as páginas dominicais de Die Fineheimer Twins, uma história em quadrinhos inspirada em The Katzenjammer Kids.

Little Nemo in Slumberland
Em 15 de outubro de 1905, mais ou menos um ano após o aparecimento de Sonhos de Um Comilão, Little Nemo In Slumberland (no Brasil essa história em quadrinhos foi publicada com os seguintes títulos: Little Nemo ln Slumberland, O Sonho de Carlinhos e Nemo Floresta no Pais da Sonolândia), a série quadrinística mais conhecida de Winsor McCay, surgiu nas páginas do jornal NewYork Herald, cujo proprietário era James Gordon Bennett.
Apresentadas sempre em páginas dominicais coloridas, as histórias de Little Nemo in Slumberland obedeciam a um esquema fixo: constantemente rodeado de pessoas, coisas e cenários singulares, Nemo, um menino de cerca de 7 anos de idade, vivia as mais exóticas e inesperadas aventuras. Depois, no último quadrinho da página, ele era mostrado despertando abruptamente (às vezes, era mostrado caído da cama; outras vezes, sendo chamado pela mãe ou pelo pai). Os leitores descobriam, então, que as peripécias vividas por Nemo não passavam de sonhos. E, nesses sonhos, ocorridos em Slumberland (numa tradução literal, Terra do Sono), os mágicos domínios do rei Morpheus e de sua filha, a Princesa, cujo nome nunca foi revelado, Nemo tinha como companheiros mais ou menos constantes: Flip, um anão de rostos verde; lmpy, um canibal arrependido; e o charlatanesco Dr. Pill.

Will Eisner (criador de The Spirit)
"Esta antiga forma artística, ou método de expressão, desenvolveu-se até resultar nas tiras e revistas de quadrinhos, amplamente lidas, que conquistaram uma posição inegável na cultura popular deste século. É interessante notar que apenas recentemente a Arte Sequencial emergiu como disciplina discernível ao lado da criação cinematográfica, da qual é verdadeiramente uma precursora. Arte Sequencial tem sido geralmente ignorada como forma digna de discussão acadêmica. Embora cada um dos seus elementos mais importantes, tais como o design, o desenho, o cartum e a criação escrita, tenham merecido consideração acadêmica isoladamente, esta &uacutenica combinação tem recebido um espaço bem pequeno (se é que tem recebido algum) no currículo literário e artístico."

Alex Raymond (1909-1956, criador de Flash Gordon, Jim of the Jungle e Nick Holmes)
"Estou sinceramente convencido de que a arte dos quadrinhos é uma forma de arte autônoma. Reflete sua época e a vida em geral com maior realismo e, graças a sua natureza essencialmente criativa, é artisticamente mais válida do que a mera ilustração. O ilustrador trabalha com máquina fotográfica e modelos; o artista dos quadrinhos começa com uma folha de papel em branco e inventa sozinho uma história inteira - é escritor, diretor de cinema, editor e desenhista ao mesmo tempo"

Picasso
"A grande mágoa da minha vida é nunca ter feito quadrinhos"

Scott McCloud (autor de Zot e Desvendando os Quadrinhos)
"Compreender os quadrinhos é um negócio sério. Hoje eles são uma das poucas formas de comunicação de massa na qual vozes individuais ainda têm chance de ser ouvidas. Hoje, as possibilidades do quadrinhos são, como sempre foram, ilimitadas. Os quadrinhos oferecem recursos tremendos para todos os roteiristas e desenhistas: constância, controle, uma chance de ser ouvido em toda parte, sem medo de compromisso... Oferece uma gama de versatilidade com toda a fantasia potencial do cinema e da pintura, além da intimidade da palavra escrita. É só necessário o desejo de ser ouvido, a vontade de aprender, e a habilidade de ver."
Dave Sim (criador de Cerebus)
"Quadrinhos são o único meio onde é possível produzir algo realmente idiossincrático e tê-lo largamente difundido a um custo muito baixo."

Richard Corben (criador de Den)
"A história em quadrinhos é, primordialmente, um meio visual. São os desenhos, o plano das páginas, a harmonia gráfica das imagens, cenas e personagens, o que atraem o leitor em primeiro lugar. Logo, o desenho deve estar também disposto de modo convencional para que forme uma narração. Certos desenhistas colocam mais ênfase na primeira tarefa, atração visual, enquanto outros trabalham mais minuciosamente os elementos descritivos e narrativos. Creio pertencer à segunda categoria, assim como a maioria dos desenhistas que admiro."

Frederico Fellini
"Histórias em quadrinhos são a fantasmagórica fascinação daquelas pessoas de papel, paralisadas no tempo, marionetes sem cordões, imóveis, incapazes de serem transpostas para os filmes, cujo encanto está no ritmo e dinamismo. É um meio radicalmente diferente de agradar aos olhos, um modo único de expressão. O mundo dos quadrinhos pode, em sua generosidade, emprestar roteiros, personagens e histórias para o cinema, mas não seu inexprimível poder secreto de sugestão que reside na permanência e imobilidade de uma borboleta num alfinete."


Fontes:
http://www.historiaemquadrinhos.hpg.ig.com.br/
http://pt.wikipedia.org/