sábado, 23 de junho de 2012

Raquel Ordones (Queria Pintar Um Soneto)


Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 587)


 Uma Trova Nacional  

O que mais queres, querida, 
se já te dei tudo, enfim? 
Até minha própria vida 
não pertence mais a mim. 
–Clênio Borges/RS– 

 Uma Trova Potiguar  

O fogo faz seus horrores, 
queimada é devastação; 
onde havia vida e cores, 
há tristeza e solidão!... 
–Fabiano Wanderley/RN– 

 Uma Trova Premiada  

1999  -  Rio de Janeiro/RJ 
Tema  -  TREM  -  1º Lugar 

Partiste e, num desatino,
teimando em partir, também,
meu coração, clandestino,
viajou no mesmo trem... 
–Edmar Japiassú Maia/RJ– 

 ...E Suas Trovas Ficaram  

Quanta prodigalidade!… 
Em poucos meses, querida, 
gastamos felicidade 
que dava pra toda vida! 
–J. G. de Araújo Jorge/AC– 

Uma Poesia 

Quando a seca castiga o sertanejo
o fantasma da fome bate a porta,
um cachorro devora uma rês morta
que um abutre deixou como sobejo,
o matuto se muda num cortejo
revelando que ali a coisa é séria,
e a coruja zombando da matéria
sobre a cruz esquecida de um pagão;
palmilhando as veredas do sertão
deparei-me com cenas de miséria... 
–Hélio Crisanto/RN– 

 Soneto do Dia  

SILÊNCIO. 
–Sônia Sobreira/RJ– 

No silêncio de um momento encantado, 
onde o clarão dos astros conheci, 
vem a noite em seu vestido brocado 
lembrar-me um sonho lindo que vivi. 

Nesse momento belo e apaixonado, 
as lágrimas e as mágoas esqueci 
e o mistério do universo estrelado 
me traz a calma... então, adormeci. 

Mas quando o sol clareia os meus cabelos, 
a brisa sopra e teima em desprendê-los, 
o vento já não ri, o vento chora. 

Desperto então do instante apaixonado 
e os sonhos que voltaram do passado, 
ficam perdidos pelo mundo afora.

Mara Melinni (Você Não Se Lembra?)


Tanto tempo juntos...! Quantas vezes nos deixamos e, logo depois, corremos de volta para nós mesmos outra vez? Estou inquieta, não consigo conceber essa demora. Enquanto você se foi, sem nada dizer, fiquei aqui sozinha, em nossa casa, eu e a solidão, que me rouba todo o espaço. Faz frio, o inverno chegou intenso... Começou hoje... Lá fora... E eu já o sinto, também, em meu coração...! E onde está você, que não volta para mim...? Nenhuma palavra dita, nenhuma despedida... Estranhei, mas eu achei, sinceramente, que a nossa última discussão já havia sido esquecida. Tivemos momentos piores, contudo, a única vez em que dormimos separados foi na noite passada. Senti-me murchando como uma rosa que vai perdendo as pétalas devagar. Não sei o que se passa dentro mim... É confuso, sinto vontade de gritar o seu nome, de lhe ver à minha espera...!  O nosso amor sempre foi maior do que as nossas diferenças, sempre foi! Minha teimosia e sua paciência, meu bom humor e sua crítica incomparável, minha caretice e sua contemporaneidade... Tudo isso nos fazia complemento um do outro porque o que restava, no fim das contas, eram os nossos gostos, as nossas músicas, as nossas fotos... Nós dois e o nosso amor... Sempre ele. Por isso... Como dói esse silêncio, como amarga minha alma e malfere o meu corpo inteiro...! Por favor, mande notícias. Não consigo enxergar quem errou, se é que houve erro. A única coisa que eu lhe peço, nem que seja pela última vez, é... Que você se lembre das razões pelas quais me amou...! E se existir uma, ao menos uma razão ainda, eu irei lhe esperar aqui... Mais uma vez... Enquanto houver uma razão (E eu sinto... Que há!).

Fonte:
http://melinni.blogspot.com.br/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 586)


 Uma Trova de Ademar 

A vida escreve-me enredos 
com finais que eu abomino. 
Meus sonhos viram brinquedos 
nas mãos cruéis do destino.. 
–Ademar Macedo/RN– 

 Uma Trova Nacional  

Acreditei no amor: 
vivi derrotas sem fim. 
Porém , só fui vencedor 
quando tive fé...em mim! 
–Eliana Palma/PR– 

 Uma Trova Potiguar  

Quando a aurora esconde o enredo, 
de um despertar tão bonito, 
esconde um grande segredo 
dos mistérios do infinito! 
–Eva Garcia/RN– 

 Uma Trova Premiada  

2002  -  Campos de Goytacazes/RJ 
Tema  -  LIVRO  -  4º Lugar 

O livro é o portão de acesso
à liberdade e ao saber.
E nem sequer cobra ingresso:
basta abri-lo, entrar... e ler!
–A. A. de Assis/PR– 

 ...E Suas Trovas Ficaram  

Traí no amor... e, depois, 
nenhum de nós teve vez... 
e o perdão, que era de dois, 
foi dividido por três! 
–Lavínio Gomes de Almeida/RJ– 

Uma Poesia 

É a ternura da poesia 
de uma beleza tamanha, 
que parece com a ternura 
do orvalho, quando a flor banha; 
da mãe dando ao filho a luz, 
com a ternura de Jesus, 
lá no sermão da montanha!!! 
–Luiz Dutra/RN– 

 Soneto do Dia  

PAPEL AMARROTADO. 
–Humberto Soares/PRT– 

Um passo em frente e é tempo de futuro. 
Dou mais um passo e saio do presente 
saltando do passado para a frente, 
seguindo passo a passo rumo ao escuro. 

Sigo pra um final que não procuro. 
Não quero mas avanço lentamente 
como a sombra... que acaba de repente 
logo que o Sol se esconde atrás do muro. 

Vou perdendo a memória das memórias 
que reencontro a pairar por todo o lado !... 
Alegrias!... pesares !... Muitas histórias 

são sonhos !... Ilusões do meu passado. 
Algumas tão pequenas !... são as glórias 
que guardo num papel amarrotado !

Vivaldo Terres (Fim de um Romance)


O fim de um romance é de tristeza e dor, 
Eu conheço bem isto, porque já perdi, 
Na vida um amor. 

Como a gente sofre, como a gente luta, 
Para esquecer o amor perdido, que infelizmente, 
Já partiu pra longe, mas que sempre, 
Fica no peito escondido. 

Este amor que amei e que pelo qual, 
Ainda sofro, me traz o conforto, 
Por tê-la amado tanto, quantas, e quantas vezes, 
Eu também chorando, enxugava beijando, 
Dos seus olhos o pranto. 

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 585)

Imagem por Gregory Colbert
 Uma Trova de Ademar

Quando se perde quem ama, 
além de mágoa e queixume, 
fica nos lençóis da cama 
o cheiro do seu perfume!... 
–Ademar Macedo/RN– 

 Uma Trova Nacional  

Neste instante derradeiro 
em que nada mais restou 
sou errante marinheiro 
que na saudade afundou... 
–Ester Figueiredo/RJ– 

 Uma Trova Potiguar  

O poeta é sonhador,
e tudo que pensa, cria;
da poesia faz o amor
e do amor faz poesia. 
–Tarcísio Fernandes/RN– 

 ...E Suas Trovas Ficaram  

Na rua, quando ela passa,
a rebolar, bem feliz,
sua vaidade ultrapassa
a moldura dos quadris!...
–Analice Feitoza de Lima/SP– 

 Uma Trova Premiada  

2012  -  Curitiba/PR 
Tema  -  JUSTIÇA  -  1º Lugar 

Que a lei, com todo o seu porte, 
seja um escudo do bem... 
E que a justiça do forte 
seja a do fraco também! 
–Mara Melinni/RN– 

Uma Poesia 

Já está fazendo um tempo
Que eu um verso não faço
Mas, hoje tirei um tempo
Estiquei o espinhaço
E escrevi estas linhas
Senão nas saudades minhas
Fica faltando um pedaço. 
–Brás Ivan Costa/PE– 

 Soneto do Dia  

PERGUNTAS. 
–Benedicta de Mello/PE– 

Eu queria saber o que era amor 
e a todos quantos via perguntava: 
ao velho, ao jovem que na vida entrava, 
ao inocente, ao justo, ao pecador. 

De minha mãe às vezes, indagava. 
Ela estranhando, repetia: "amor!" 
"Leia o vocabulário" me ordenava 
o meu velho e sozinho professor. 

Fui percorrer então o dicionário: 
amor... amor... amor... sentido vário 
de mil explicações em labirinto... 

Não cheguei a entender. E fiquei triste. 
Ou o amor em verdade não existe, 
ou só existe aquele amor que eu sinto.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 584)


 Uma Trova de Ademar 

Curitiba é provedora 
de mais um “Jogos Florais”, 
numa festa encantadora 
de Amor, Alegria e Paz! 
Ademar Macedo/RN– 

 Uma Trova Nacional  

A lua vive distante. 
Não chega perto porque 
não quer olhar seu semblante 
e a luz que vem de você. 
–Gilson Faustino Maia/RJ– 

 Uma Trova Potiguar  

A sombra das criaturas 
ao longo da caminhada 
passa por lamas escuras 
e sai limpa, imaculada. 
–José Anchieta (Juca)/RN– 

 Uma Trova Premiada  

2011  -  CTS-Caicó/RN 
Tema  -  PEGADA  -  3º Lugar 

Sigo as pegadas, cansado, 
transcendo tempo e distância: 
Vejo o tempo empoeirado 
dos sonhos da minha infância... 
–José Valdez C. Moura/SP– 

 ...E Suas Trovas Ficaram  

Quanto mais sofro, mais canto, 
sempre assim fui e hei de ser, 
que nestas águas de pranto 
ninguém afoga sofrer! 
–Júlio B. Maciel/CE– 

Uma Poesia 

MOTE : 
MORRE DE FOME OU DE SEDE, 
NO INVERNO MORRE AFOGADO. 

GLOSA : 
Um velho homem numa rede, 
sem comida e sem bebida, 
no Nordeste é esta a vida, 
morre de fome ou de sede, 
Enroscado na parede, 
de palha ou barro amassado, 
como que desesperado, 
molha os seus lábios com a língua; 
na seca ele morre à mingua, 
no inverno morre afogado. 
–Bob Mota/RN– 

 Soneto do Dia  

VAIDADE. 
–Antonio Juraci Siqueira/PA– 

Esta casa que habito não é minha,
tampouco os versos que te dou, são meus;
são como a chuva, o mar, a erva daninha:
frutos do mundo, dádivas de Deus. 

Quando o Sol rasga o céu, de manhãzinha,
iluminando réus, crente e ateus,
eu me sinto menor que uma andorinha
e a minha fé, maior que os Pirineus! 

Portanto, meus irmãos, a fama, o orgulho,
a arrogância, a vaidade, a ostentação
que turvam nosso humano entendimento, 

não passam de sandices, de ilusão,
essência de tambor, que faz barulho
mas nada tem por dentro além de vento.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Ademar Macedo (Agradecimento)


Feldman é um vencedor 
um mestre da alegria, 
um Poeta Trovador, 
um fazedor de Poesia. 

Não há em todo universo 
melhor fazedor de verso 
pois é um dom que ele traz! 

Pra Feldmam, em nada eu ganho, 
ele é grande no tamanho 
e nas Poesias que Faz.

(Ademar Macedo 
Natal/RN - 21.junho.2012)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 583)


Uma Trova de Ademar  

Entre sonos e cochilos, 
numa deslumbrante rota, 
meus sonhos voam tranquilos 
nas asas de uma gaivota... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Em sua gula de glória, 
de ter poder, força e nome , 
há gente que faz história 
com a própria história da fome. 
–Nilton Manoel/SP– 

Uma Trova Potiguar  

...E assim voltando ao passado 
revivi as alegrias... 
Transportei-me extasiado... 
“Velhos tempos, belos dias.” 
–Djalma Mota/RN– 

Uma Trova Premiada  

2005  -  ATRN-Natal/RN 
Tema  -  F É  -  8º Lugar 

Somente a Força Divina
promove graças tamanhas:
- O sol remove a neblina...
- A fé remove montanhas... 
–Ercy Maria M. de Faria/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Nos meus olhos divagando, 
eu vejo um contraste infindo: 
meus olhos tristes chorando, 
minha alma alegre sorrindo! 
–Clarindo Batista/RN– 

Uma Poesia 

Depois que a velhice vem 
o corpo humano se estressa. 
No motor da existência 
todo defeito começa, 
o difícil dessa máquina 
é o dono encontrar a peça. 
–Geraldo Amâncio Pereira/CE– 

Soneto do Dia  

NAQUELA TARDE… 
–Carmo Vasconcelos/PRT– 

Naquela tarde rubra de calor, 
embebedados de sol, mentes loucas, 
tu sorveste e eu sorvi desse licor, 
a degelar os frios nas nossas bocas. 

Não foram vãos, nem sequer coisas poucas, 
esses arroubos tensos, em tremor, 
lava de amor parindo em vozes roucas, 
sôfregos beijos mitigando o ardor. 

Agora a noite cai… Na escuridão 
me alumiam os teus olhos na lembrança 
do sonho que aqueceu meu coração 

Só peço, amor, de novo essa emoção 
de olhar teus olhos verdes de bonança 
ardendo em tempestades de paixão!

Olivaldo Junior (Último Adeus)


Eu, que não custo a voltar atrás, volto atrás e digo agora meu último adeus. Mas antes, não minto, queria ter seus olhos frente a mim, suas horas ora sim, não adeus. Adeus não combina quando há Deus. Deus, que me pega e me bota no colo quando choro (e faz tempo que não verto nem muitas nem poucas lágrimas por nada). Nem nada que eu lhe digo, nem tudo que lhe conto o fazem vir. Escrevo, e me escavo ao saber.

Saber que me ignora é como ver que não fui visto, não de perto. Perto de mim, longe de mim, não há problema: surge sempre um verso, e nasce mais um tema. A vida é feita de versos, não de universos. Sonho com sua vinda, mas é longe, é tarde, é noite. Entre as músicas, nem sinal de “ocê”, um dia, regressar. Rua acima, rua abaixo, prendo-me a velhos sonhos, sonho alto e me esborracho; esmagando a “flor”, não sinto dor.

Dói-me quando escrevo essas mensagens. Ajo sem saber que me delato. Lato e nunca escuta meu ganido. Outra vez sucumbo à dor. Estrelas dormem. Eu não durmo: apenas sonho. Sonho com sua volta, com sua voz, com seu silêncio. Escreve. Adeus.

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 582)


Uma Trova de Ademar  

Quem na mata acende a chama, 
suja o rio e a correnteza; 
joga um punhado de lama 
no rosto da natureza!... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Se amigo é quem ouve a queixa, 
seca o pranto e ajuda a rir, 
mais amigo é quem não deixa 
sequer o pranto cair! 
–Carolina Ramos/SP– 

Uma Trova Potiguar  

O outono da vida ingrata,
chega fazendo atropelos:
Joga tinta cor de prata,
na tinta dos meus cabelos!
–Prof. Garcia/RN– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Em meu livro de memórias,
que Maria ainda não leu,
quase todas as histórias
ela mesma é que escreveu…
–Waldir Neves/RJ– 

Uma Poesia 

Quando eu olho pro céu fico pensando 
se mereço ir pra lá quando morrer, 
Deus não gosta de abuso de poder 
e eu abuso do meu de vez em quando, 
quando os pobres me pedem soluçando 
mesmo tendo sobrando eu digo não; 
e nessa coisa de “ajuda teu irmão” 
eu ainda não quis acreditar; 
Jesus Cristo morreu pra me salvar, 
e eu nem sei se mereço a salvação! 
–RAIMUNDO CAETANO/PB– 

Soneto do Dia  

O CRISTO DE MARFIM. 
–Antero Bloem/SP–

Quando depões sobre o teu Cristo amado, 
- Esse Cristo que pende de teu peito,
ungido de ternura e de respeito –
um beijo de teu lábio imaculado,

Eu, sacrílego, sinto-me levado
- Ou seja por inveja, ou por despeito –
a arrebatar o Cristo do teu peito
e em teu peito morrer crucificado.

Mas quando vejo, do teu lábio crente,
cair sobre Jesus a prece ardente,
talvez por nosso amor, talvez por mim,

ardo na chama intensa dos desejos
de, arrependido, sufocar meus beijos
nesse teu alvo Cristo de Marfim.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 581)


Uma Trova de Ademar  

Do fogo no matagal, 
na fumaça que irradia, 
vejo um câncer terminal 
no pulmão da ecologia!... 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Juventude, o procurar
permanente de viver,
enquanto a busca durar
ninguém vai envelhecer.
–Olympio Coutinho/MG– 

Uma Trova Potiguar  

É meu frágil coração 
um salão velho de estudo, 
um templo de confissão; 
um baú de guardar tudo. 
–Rodrigues Neto/RN– 

Uma Trova Premiada  

2003  -  Amparo/SP 
Tema  -  PEDRA  -  1º Lugar 

Deus reprova os arrogantes
pois, para o espanto de alguns,
sempre esconde os diamantes
entre as pedras mais comuns!
–Gerson Cesar Souza/PR– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Sempre que a vida me nega 
segurança nos meus passos, 
minha esperança me pega 
e me carrega nos braços! 
–Aloísio Alves da Costa/CE– 

Uma Poesia 

A certeza da morte não se nega, 
é tão clara que a vida até aceita; 
é tão lógica, certa e sem suspeita 
que a nossa consciência não renega; 
mas é dura e tirana se nos pega 
de surpresa sem dar nenhum aviso; 
simplesmente chegando de improviso. 
Só a crença que a gente tem em Deus 
faz vencer o momento desse adeus 
e seguir, pois viver ainda é preciso. 
–Tarcísio Fernandes/RN– 

Soneto do Dia  

V O L T E I.
–Divenei Boseli/SP– 

Rasguei o teu retrato em pedacinhos,
também as cartas, sem as ler de novo,
sem rumo, fiz das ruas meus caminhos
e caminhei, sem medo, junto ao povo.

Eu, que de um sonho nunca me demovo,
domei meus sentimentos mais mesquinhos:
ramada seca a espera de um renovo
que superasse a sanha dos espinhos.

Tudo ilusão! Ninguém secou meu pranto
enquanto andei por uma eternidade:
Voltei sem fé nenhuma, em nenhum Santo...

Voltei? Não era eu... Na realidade,
morri em cada rua, em cada canto...
Quem volta é só um fantoche da saudade. 

Irmãos Grimm (Os Músicos de Bremen)


“Um homem tinha um burro que, há muito tempo, carregava sacos de milho para o moinho. O burro, porém, já estava ficando velho e não podia mais trabalhar. Por isso, o dono tencionava vendê-lo. O pobre animal, sabendo disso, ficou muito preocupado, pois não podia imaginar como seria seu novo dono... e então, para evitar qualquer surpresa desagradável, pôs-se a caminho da cidade de Bremen. 

“Certamente, poderei ser músico na cidade”, pensava ele. 

Depois de andar um pouco, encontrou um cão deitado na estrada, arfando de cansaço. 

- Por que estás assim tão fatigado? perguntou o burro. 

- Amigo, já estou ficando velho e, a cada dia, vou ficando mais fraco. Não posso mais caçar; por isso meu dono queria me entregar à carrocinha. Então, fugi, mas não sei como ganhar a vida. 

- Pois bem, lhe disse o burro. Minha história é bem semelhante à sua. Vou tentar a vida como músico em Bremen. Venha comigo. Eu tocarei flauta e você poderá tocar tambor. 

O cão aceitou o convite e seguiu com o burro. Não tinham andado muito, quando encontraram um gato, muito triste, sentado no meio do caminho. 

- Que tristeza é essa, companheiro? lhe perguntaram os dois. 

- Como posso estar alegre, se minha vida está em perigo? respondeu o gato. Estou ficando velho e prefiro estar sentado junto ao fogo, em vez de caçar ratos. Por esse motivo, minha dona quer me afogar. 

- Ora, venha connosco a Bremen, propuseram os outros. Seremos músicos e ganharemos muito dinheiro. 

O gato, depois de pensar um pouco, aderiu e acompanhou-os. Foram andando até que encontraram um galo, cantando tristemente, trepado numa cerca. 

- Que foi que lhe aconteceu, amigo? perguntaram os três. 

- Imaginem, respondeu o galo, que amanhã a dona da casa vai ter visitas para o jantar. Então, sem dó nem piedade, ordenou ao cozinheiro que me matasse para fazer uma canja. 

Os outros, então, lhe propuseram: 

- Nós vamos a Bremen, onde nos tornaremos músicos. Você tem boa voz. Que tal se nos reuníssemos para formar um conjunto? 

O galo gostou da ideia e juntando-se aos outros seguiram caminho. 

A cidade de Bremen ficava muito distante e eles tiveram que parar numa floresta para passar a noite. O burro e o cão deitaram-se em baixo de uma árvore grande. O gato e o galo alojaram-se nos galhos da árvore. 

O galo, que se tinha colocado bem no alto, olhando ao redor, avistou uma luzinha ao longe, sinal de que deveria haver alguma casa por ali. Disse isso aos companheiros e todos acharam melhor andar até lá, pois o abrigo ali não estava muito confortável. 

Começaram a andar e, cada vez mais, a luz se aproximava. Afinal, chegaram à casa. O burro, como era o maior, foi até a janela e espiou por uma fresta. À volta de uma mesa, viu quatro ladrões que comiam e bebiam. Transmitiu aos amigos o que tinha visto e ficaram todos imaginando um plano para afastar dali os homens. Por fim, resolveram aproximar-se da janela. O burro colocou-se de maneira a alcançar a borda da janela com uma das patas. O cão subiu nas costas do burro. O gato trepou nas costas do cão e o galo voou até ficar em cima do gato. 

Depois, a um sinal combinado, começaram a fazer sua música juntos: o burro zurrava, o cão latia, o gato miava e o galo cacarejava. A seguir, quebrando os vidros da janela, entraram pela casa a dentro, fazendo uma barulhada medonha. 

Os ladrões, pensando que algum fantasma havia surgido ali, saíram correndo para a floresta. Os quatro animais sentaram-se à mesa, serviram-se de tudo e procuraram um lugar para dormir. O burro deitou-se num monte de palha, no quintal; o cão, junto da porta, como a vigiar a casa; o gato, junto ao fogão, e o galo encarrapitou-se numa viga do telhado. Como estavam muito cansados, logo adormeceram. 

Um pouco além da meia noite, os ladrões, verificando que a luz não brilhava mais dentro da casa, resolveram voltar. O chefe do bando disse aos demais: 

- Não devemos ter medo! 

E mandou que um entrasse primeiro para examinar a casa. Chegando à casa, o homem dirigiu-se à cozinha para acender um vela. Tomando os olhos do gato, que brilhavam no escuro, por brasas, tentou neles acender um fósforo. O gato, entretanto, não gostou da brincadeira e avançou para ele, cuspindo-o e arranhando-o. Ele tomou um grande susto e correu para a porta dos fundos, mas o cão, que lá estava deitado, mordeu-lhe a perna. O ladrão saiu correndo para o quintal, mas, ao passar pelo burro, levou um coice. O galo, que acordara com o barulho, cantou bem alto: - Có, có, ró, có!!!! 

Sempre a correr, o ladrão foi se reunir aos outros, a quem contou: 

- Lá dentro há uma horrível bruxa que me arranhou com suas unhas afiadas e me cuspiu no rosto. Perto da porta, há um homem mau que me passou um canivete na perna. No quintal, há um monstro escuro, que me bateu com um pedaço de pau. Além disso tudo, no telhado está sentado um juiz, que gritou bem alto: 

“- Traga aqui o patife!!!”... Acho que não devemos voltar lá... é muito perigoso!! 

Depois disso, nunca mais os ladrões voltaram à casa, e os quatro músicos de Bremen sentiam-se muito bem lá, onde faziam suas músicas e viviam despreocupados. De vez em quando alguém das redondezas os chamavam e lá iam eles, felizes e contentes, tocar a sua música....”

Fonte: