sábado, 22 de março de 2008

Ariano Suassuna: O criativo e polêmico mestre das Letras no Nordeste

"Eu vi a Morte, a moça Caetana,/ com o manto negro, rubro e amarelo./ Vi o inocente olhar, puro e perverso,/ e os dentes de Coral da desumana// Eu vi o Estrago , o bote, o ardor cruel(...) Ela virá, a Mulher aflando as asas,/ com os dentes de cristal , feitos de brasas (...) só assim verei a coroa da Chama e Deus, meu Rei, / assentado em seu trono do Sertão".
Ariano Suassuna (Sonetos: "A Moça Caetana" e "A Morte")

Uma análise da obra teatral de Ariano Suassuna nos faz mergulhar nas nossas origens culturais. Num recuo positivo em direção às sucessivas fontes que nos fizeram quem somos hoje: misto de regional e universal.

Os primeiros colonizadores trouxeram para cá a cultura européia, transmitida oralmente. Assimilada pelos nordestinos, desenvolveram-se as influências ibéricas e mediterrâneas.

Uma das influências que Ariano sofreu foi a dos escritores Gil Vicente, português, e do espanhol Calderón, ambos homens de teatro na época das grandes descobertas. Suassuna pratica o entrecruzamento de textos, adaptando várias obras populares (do cordel ao teatro europeu) ao seu modo. Conserva a língua popular, mas, com grafia e correção gramatical eruditas. Prepara o espectador para uma moral conforme o cristianismo. É muito comum em suas peças a cena de um "juízo final"(juiz-acusador-defensor-réu).

Além de usar textos alheios, recriando-os, Ariano pratica a intertextualidade , refazendo cenas de suas peças(exemplo: "O auto da Compadecida") e enxertando-os em outras (em "A pena e a lei").

Suas fontes vão de Shakespeare até a Bíblia. A intertextualidade ( "comunicação entre textos") era prática comum desde a Idade Média. Ariano a mantém, utilizando o cordel, o bumba-meu-boi, o mamulengo e também mistura o popular ao erudito(Cervantes, Moliére), fazendo tudo às claras, muito bem explicado em prefácios , palestras e aulas.

PEÇAS PRINCIPAIS:

O AUTO DA COMPADECIDA(1955): Como sabemos, um "AUTO" é o teatro medieval de alegorias(pecado, virtude, etc.) . Personagens como santos, demônios. É um teatro de construção simples ,ingenuidade na linguagem, caracterização exacerbada e intenção moralizante, podendo conter o cômico. Para escrever esta peça, Suassuna baseou-se em folhetos populares - primeiro e segundo atos baseiam-se em, respectivamente, " O Enterro do Cachorro" e "A História do Cavalo que defecava dinheiro ", textos de Leandro Gomes. O terceiro ato é uma mistura de "O castigo da sabedoria", de Anselmo Vieira e "A peleja da alma", de Silvino Pirauá Lima. A invocação de João Grilo à Maria e o nome "Compadecida" também são inspirados em textos populares. João Grilo é o herói picaresco, passou fome e mente para ganhar o que quer, seu amigo Chicó também é mentiroso. A infidelidade da mulher do padeiro, a mesquinhez deste, o anticlericalismo e o cangaço são analisados por Suassuna num julgamento presidido por Maria, Jesus (negro) e atiçado por uma figura diabólica. No final, João Grilo volta à vida depois de morto.

A FARSA DA BOA PREGUIÇA(1955): Escrita em versos livres, tem trechos cantados. Cita a Bíblia e Camões, poeta da Renascença portuguesa. Cada ato tem uma certa independência um do outro ("O peru do cão coxo", "A cabra do cão caolho" e "O rico avarento"). A inspiração de Suassuna desta vez recai sobre a arte do mamulengo, teatro de bonecos do Nordeste, com suas pancadarias e mestres, sua trama simples , como por exemplo, o patrão sempre é culpado. A história do diabo que quer levar uma mulher e um homem para o inferno. A exploração do homem pelo homem. A falta de caridade , a preguiça, a prova imposta à mulher, a vitória, seres celestiais disfarçados de pedintes e seres infernais oferecendo o pecado são temas que mais uma vez nos remetem à referida simplicidade medieval que apontamos no início deste estudo.

O CASAMENTO SUSPEITOSO(1957) : É uma comédia de costumes. Trata do tema casamento por dinheiro. A ação se passa na casa da matriarca de uma família, dona Guida. Travestimentos, cenas de pancadaria e sátira aos membros da igreja e da justiça compõem esta peça. Cancão (figura tomada emprestada do bumba-meu-boi) é o empregado esperto e também faz lembrar alguns personagens das comédias de Molière (autor de comédias, francês).

O SANTO E A PORCA(1957), o casamento da filha de um avarento. O "santo " em questão é Santo Antônio e a "porca" é um cofrinho, símbolo do acúmulo de dinheiro (tão protetor quanto o santo).

A PENA E A LEI(1959) : Aqui Suassuna reaproveitou cenas de seus textos "Torturas de um Coração" e da "Compadecida", numa encenação que vai do boneco irresponsável ao ser humano pleno diante de Deus (Benedito, Mateus, Cheiroso e Cheirosa intensificam o cômico). A peça diverte mas também analisa as questões sociais: trabalho na usina, reivindicações dos trabalhadores, companhias estrangeiras, fome, prostituição em cenas curtas e de muita movimentação. A preocupação com a moral está sempre presente e o trágico é diluído pelo cômico . São personagens estereotipados . Suassuna também se utiliza das cantorias nordestinas.

RESUMINDO: a comédia da antigüidade, o teatro religioso, a arte popular do Nordeste e seus folguedos são as salutares influências deste mestre das letras que é o paraibano Ariano Suassuna, Ex-aluno do Colégio Americano Batista do Recife (dos 10 aos 15 anos, uma fase de sua vida que sempre recorda com saudade), professor de Filosofia, foi secretário de cultura do governo Arraes e que também é autor de três romances: "Fernando e Isaura" (sobre um amor impossível", ) , "Romance d´A pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e Volta" .(Ed. José Olympio. RJ. 1970), sobre um poeta que na década de 30 sonha em escrever um épico nordestino e acaba preso como comunista e "História d´O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: Ao sol da onça Caetana", suas lembranças de infância e do pai, mescladas num sertão mítico.

Ariano é fundador do MOVIMENTO ARMORIAL , reafirmando no nordeste a influência ibérica, africana e indígena.

A musicalidade dos textos de Ariano é agreste. Sua poesia rebrilha à luz ardente do Nordeste.

"Não faço distinção entre a cultura popular e a erudita. A cultura brasileira, a cultura popular brasileira, não está ameaçada . Ela é resistente. Estão tentando matá-la, mas não conseguirão" , diz Ariano e nos convida ao deleite com pérolas do cancioneiro ibérico, a arquitetura africana, as cores da África, textos de José de Alencar, de Aluízio Azevedo. E é no Romanceiro popular que Ariano mais se inspira. Nas novelas de cavalaria, nos amores incríveis, nos heróis picarescos (zombeteiros) que permeiam as histórias que o povo conhece. Ele chega a usar um mesmo texto várias vezes como base para sua recriação. "A novela da Renascença é picaresca. O personagem principal é a Fome". Emigra para o Brasil o herói pícaro ibérico, o astucioso que difere do opressor que é o lado ruim . Ao comentar o Brasil antes de Cabral, Ariano reafirma nossa cultura milenar : "Existia teatro indígena antes da chegada dos jesuítas . É absurdo centralizar a origem do teatro. O teatro japonês não nasceu na Grécia. Tem outra origem. O teatro indígena é um teatro de máscaras e excelentes figurinos e enredos fascinantes que envolvem sua religiosidade. Eu queria que um cineasta brasileiro fizesse com este tipo de teatro brasileiro o que o cineasta japonês Kurosawa fez com o antigo teatro japonês, o teatro Nô e com o Kabuki . Injustiça social não é base para a arte popular. Ela também não é primitiva. Os violeiros vêem televisão, os artistas populares transformam as informações universais em linguagem com temática local. Temos que fortalecer nossa cultura". Para isso, Ariano usa seus conhecimentos de Filosofia, História e Literatura, trabalhando o belo de forma dialética, unindo-o ao cômico misturando o espírito intelectual com a esperança no homem, fundindo nossa herança barroca com um espírito neoclássico .

Análise do "Romance d´A Pedra do Reino" (1970) : Ariano recheia seu livro "Romance d´ A Pedra do Reino" com humor malicioso e exibe sua perícia na selva das palavras. Mistura nobres e pobres num processo criativo ímpar. Os colonizadores do Brasil aparecem como bravos que tiveram coragem de matar para estabelecer novos rumos. Ariano traz para a narrativa suas experiências com o teatro e a poesia, brinca com a metalinguagem, expõe os "mistérios" da criação. O tema central do romance são as artimanhas de Quaderna e a trágica história dos seus antepassados na cidade de São José do Belmonte, interior de Pernambuco. Ariano, através da narração em primeira pessoa (Quaderna), descreve paisagens e situações alucinantes, reinventa a cronologia, adapta fatos históricos à sua ficção ( a magia das grandes navegações, as cruzadas, os romances de cavalaria, as revoluções. Se Alencar foi exuberante mas não ousou exibir um herói picaresco, Ariano, com seu Regionalismo natural, busca as interseções entre o popular e o erudito, misturando a poética aristotélica com Romantismo e buscando o êxtase criativo num realismo que alguns intelectuais rotulam de mágico, fantástico. O encatatório, o mítico, o exótico vão delineando o espaço criativo que traça o painel do sonho de uma monarquia de esquerda , sonho que Ariano alimentou durante algum tempo. Obcecado em criar uma epopéia nordestina, o narrador torna- se cômico e o recurso Deus ex machina (sobrenatural) surge para resolver as inquietações da alma que perturbam a raça humana. Outro mito recorrente é o sebastianismo.

Podemos até arriscar em julgar o discurso de Ariano como um discurso maniqueísta que recusa a polifonia. Mestre na arte literária, ele criou um herói bufão numa espécie de circo fantasioso e hedonista em busca de um sentido , de dignidade, num emaranhado de "causos" alinhados por uma escrita competente que se utiliza do pictórico (xilogravuras) para reforçar seu discurso que, no fundo, transforma o interior de Pernambuco numa espécie de Camelot da caatinga, onde humor e malícia unem-se ao ingênuo, à lenda do cavaleiro que enfrenta as instituições (representadas no texto pelo Corregedor) e o imaginário supera o racional na reinvenção do passado histórico, através da alquimia verbal típica de Suassuna que rompe a linearidade, enxertando a todo instante várias tramas secundárias à narrativa central, numa colagem que redimensiona a obra em pequenos contos. O julgamento de Quaderna é a espinha dorsal do texto que vai buscar nos poetas populares (cordel e emboladores ) suas referências. Depois de trair seus amigos covardes, Quaderna busca a imortalidade através da Literatura , quer ser fidalgo. Quer louvar sua estirpe. Tenta reiventar Homero , a sua Odisséia é através do Atlântico nordestino e sua Ilíada tem como palco o sertão, ali está a Onça Caetana( a morte, a vida , o amor, a nacionalidade). Seres fantásticos pululam ao lado de personagens estilizados numa narrativa explosiva recheada de situações absurdas .
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Fonte:
Moisés Neto
Professor com pós-graduação em Literatura, escritor, membro da diretoria do SATED
http://www.moisesneto.com.br/estudo05.html

Leon Eliachar ( 1922 - 1987)

Leon Eliachar nasceu na cidade do Cairo, no Egito, no dia 12 de outubro de 1922. Veio muito pequeno para o Brasil e se tornou um dos melhores jornalistas de humor da imprensa falada e escrita, após ter atingido a idade
da razão — ou do disparate, como costumava dizer. Era tão brasileiro como qualquer brasileiro, embora conste que nunca tenha se naturalizado.

Jornalista desde os 19 anos de idade, trabalhou em diversos jornais e revistas, fixando-se, por último, na "Ultima Hora", onde, seguindo o exemplo de Aporelly (o Barão de Itararé) nos tempos de "A Manhã" com "A Manha", mantinha uma página, às vezes reduzida a meia, com o título de "Penúltima Hora". Justificava o nome da página com a legenda "Um jornal feito na véspera".

Colaborador (arrependido, segundo o autor) dos argumentos de dois filmes carnavalescos, foi autor de programas de rádio e secretário da revista "Manchete".
Em 1956 foi laureado com o primeiro prêmio ("Palma de Ouro) na IX Exposição Internacional de Humorismo realizada na Europa — Bordighera, Itália, por sua definição de humor acima citada, e uma historieta, "O Judeu" (leia em "Contos", no Releituras), sobre o qual afirmou ter podido escrever sem parecer anti-semita, pois ele próprio era judeu.

Há pouquíssimo material sobre o biografado. A maior parte são artigos escritos por ele e por amigos, todos muito bem humorados, cheios de nonsense, o que bem demonstra o espírito do biografado.

Leon Eliachar foi assassinado na cidade do Rio de Janeiro, em 29 de maio de 1987. Segundo o noticiário da época, a mando de um rico fazendeiro paranaense com cuja esposa o autor vinha mantendo um romance.

POR ALTO, BIOGRAFIA

Nasci no Cairo, fui criado no Rio; sou, portanto, "cairoca". Tenho cabelos castanhos, cada vez menos castanhos e menos cabelos. Um metro e 71 de altura, 64 de peso, 84 de tórax (respirando, 91), 70 de cintura e 6,5 de barriga.

Em 1492, Colombo descobriu a América; em 1922, a América me descobriu. Sou brasileiro desde que cheguei (aos 10 meses de idade), mas oficialmente, há uns dois anos; passei 35 anos tratando da naturalização. Minha carreira de criança começou quando quebrei a cabeça, aos dois anos de idade; minha carreira de adulto, quando comecei a fazer humorismo (passei a quebrar a cabeça diariamente). Tive vários empregos: ajudante de balcão, ajudante de escritório, ajudante de diretor de cinema, ajudante de diretor de revista, ajudante de diretor de jornal. Um dia resolvi ajudar a mim mesmo sem a humilhação de ingressar na Política: comecei a fazer gracinhas -- fora da Câmara. Nunca me dei melhor. Meu maior sonho é ter uma casa de campo com piscina, um iate, um apartamento duplex, um corpo de secretárias, um helicóptero, uma conta no banco, uma praia particular e um "short". Por enquanto já tenho o "short".

Sou a favor do divórcio, a favor do desquite e a favor do casamento. Sem ser a favor deste último não poderia ser dos primeiros. Sou contra o jogo, o roubo, a corrupção e o golpe; se eu fosse candidato isso não deixaria de ser um grande golpe.
O que mais adoro: escrever cartas. O que mais detesto: pô-las no Correio. Minha cor preferida é a morena, algumas vezes a loura. Meu prato predileto é o prato fundo. O que mais aprecio nos homens: suas mulheres - e nas mulheres, as próprias. Acho a pena de morte uma pena.

Não sou supersticioso, mas por via das dúvidas, evito o "s" depois do "r" nessa palavra. Se não fosse o que sou, gostaria de ser humorista. Trabalho 20 horas por dia, mas, felizmente, só uma vez por semana; nos outros dias, passo o tempo recusando propostas -- inclusive de casamento. Acho que a mulher ideal é a que gosta da gente como a gente gostaria que ela gostasse -- isso se a gente gostasse dela. Para a mulher, o homem ideal é o que quer casar. Mas deixa de ser ideal logo depois do casamento, quando o ideal seria que não deixasse. Mas isso não impede que eu seja, algum dia, um homem ideal.

Leon Eliachar, no livro “O Homem ao Quadrado”, Livraria Francisco Alves/Editora Paulo de Azevedo Ltda., Rio de Janeiro, 1960 (orelhas da capa e contracapa.)

AUTOBIOGRAFIA DE UM FÔLEGO SÓ

Meu nome é esse mesmo, Leon Eliachar, tenho 44 anos, mas me orgulho de já ter tido 43, 42, 41, 40, 39, idades que muitas mulheres de 50 jamais atingiram, sou humorista profissional peso-leve, pois detesto as piadas pesadas, consegui atingir o chamado "preço teto" da imprensa brasileira, quer dizer, cheguei a ganhar um salário com o qual nunca pude adquirir um teto, sou a favor do casamento, sou a favor do divórcio, sou a favor do desquite e sou a favor dos que são contra tudo isso que eles devem ter lá os seus motivos, fui fichado com dificuldade no Instituto Félix Pacheco não pelo atestado de bons antecedentes, mas pelas dificuldades com que se tira um atestado, já fiz de tudo nessa vida, varri escritório, fiz entrega de embrulho, crítica de cinema, crônica de rádio, comentário de televisão, secretário de redação, colunismo social, reportagem policial, assistente de direção, peça de teatro, show de boate, relações públicas, corretagem de anúncios, script de cinema, entrevista política, suplemento feminino, até chegar ao humorismo, ainda não sei se o humorismo foi o princípio ou o fim da minha carreira, acho que ninguém faz nada por necessidade mas por vocação, isto é, por vocação da necessidade, tenho experiência bastante pra saber que não sou experiente, minha capacidade de compreensão chega exatamente no ponto em que ninguém mais me pode compreender, as mulheres tiveram forte influência na minha vida desde a minha mãe até à minha mulher, com escalas naturalmente, tive duas grandes emoções na vida, a primeira quando minha mulher disse "sim" e a segunda quando seus pais disseram "não", sou a favor das camas separadas, principalmente pra quem se casou com separação de bens, não guardo rancor por absoluta falta de espaço, uma das coisas que mais aprecio é Nova York coberta de neve - quando estou em Copacabana tomando sol, o melhor programa do mundo é ir ao dentista - pelo menos para o dentista, não vou a casamento de inimigo, muito menos de amigo, desde criança faço força pra ser original e o máximo que consigo é ser uma cópia de mim mesmo, meu grande complexo é não saber tocar piano, mas muito maior deve ser o complexo de outros homens que também não sabem tocar e são pianistas, meus autores favoritos são os que me caem nas mãos, escrevo à máquina com vinte dedos porque minha secretária passa a limpo, gosto de televisão às vezes quando ligo às vezes quando desligo, num enterro fico triste por não saber fingir que estou triste, aprecio as quatro estações, mas prefiro o verão no inverno e o inverno no verão, passei fome várias vezes e agora estou de dieta, acho a rosa uma mensagem definitiva porque custa menos que um telegrama e diz muito mais, sou a favor da pílula anticoncepcional porque ela resolve o problema da metade da população do mundo, acho que deviam inventar a pílula concepcional pra resolver o problema da outra metade, cobrador na minha casa não bate na porta perguntando se pode entrar, eu é que bato perguntando se posso sair, sou um homem pobre porque toda vez que batem à minha porta mando dizer que estou, meu cartão de visitas não tem nome nem telefone, assim ninguém sabe quem sou nem onde posso ser encontrado, prefiro o regime da ditadura porque não tenho trabalho de ensinar meu filho a falar, posso dizer com orgulho que sou um humilde, sou o único sujeito do mundo que dá o salto mortal autêntico, mas nunca dei, leio quatro jornais por dia e a única esperança que encontro são os horóscopos cercados de desgraças por todos os lados, acredito mais nos inimigos do que nos amigos porque os inimigos estão sempre de olho, minha maior alegria foi quando venci num concurso internacional de humorismo, em Bordighera, Itália, obtendo o primeiro e o segundo prêmios entre os participantes de 16 nações concorrentes, fiquei sabendo que havia humoristas piores do que eu, procuro manter sempre o mesmo nível de humor, mas a culpa não é minha: tem dias que o leitor está mais fraco.

LEON ELIACHAR, em “O Homem ao Zero”. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1968.

RETRATOS 3 x 4 DE AMIGOS 6 x 9

Por mais que procure ser excêntrico, Leon é concêntrico. Pois em matéria de conclusões consigo próprio ele confia apenas em consigo mesmo. Carioca cairoca (nasceu no Cairo, capital de Tel-aviv), tem uma idade indefinível, entre os 25 e os 250 anos. Uns dizem que ele nasceu depois da Segunda Guerra Mundial, outros afirmam que foi no momento em que ele nasceu que a briga começou. Promotor nato, veio ao mundo por uma gentileza especial do Todo-poderoso e só pretende sair com a Bomba, isto é, numa queima geral de todo o estoque. Dizem que ele não só sugeriu ao Criador a idéia dos dois sexos (a idéia do terceiro sexo foi do Sérgio Porto) como insistiu ainda para que o sexo masculino fosse feito em gás néon, coisa que o Senhor achou de um exibicionismo excessivo (Que pena!).

Aos três anos de idade Leon queria ser Presidente da República. De lá pra cá sua ambição não parou. Jogador de pôquer, para combater o típico pocker-face, ele inventou a própria cara, tão enigmática que ficou conhecida como Leonfauce. A verdade é que nele a natureza colocou o primeiro olho com zoom. Aliás, muitos consideram sua cara a sua maior piada; mas parece que a piada saiu sem querer numa noite em que papai e mamãe Eliachar estavam de bom humor. É o único escritor brasileiro que conseguiu ter um livro anunciado no Maracanã, junto com a irradiação da renda. Com isso a renda do livro ultrapassou a do estádio. Sua famosa campanha “Ponha um Leon na sua estante” deixou o tigre da Esso com a pulga entre as pernas e o Leon da Metro com o rabo atrás da orelha. Este ano Leon fez um programa pro Chico Anísio que acabou fazendo parte do programa. Ator de cinema, teatro e televisão, acredita que a água do mar é salgada e só não vende mais que a água potável por falta de promoção. Acha que todo mundo deve se promover até atingir a própria importância. Aliás, gosta tanto de gente importante que só lê Enciclopédia, porque ali gentinha não entra. Organizadíssimo, fez até seguro contra milicianos transviados e, seguríssimo, só vai a médico quando este está realmente em estado grave. Sua conversa ao telefone é tão interessante, que determinadas autoridades já gravaram várias. É o primeiro a rir das próprias piadas; antes que algum infeliz o faça. Os inimigos o consideram o maior humorista do Oriente Médio, mas a verdade é que sem o seu humorismo nenhum gabinete dentário pode se considerar completo. Os admiradores acham que, quando ele morrer, deixará uma lacuna impreenchível. Conhecendo Leon como conheço, garanto que não vai deixar lacuna alguma — leva a lacuna com ele.

Millôr Fernandes, que tem, dentre outras qualidades, a de ser o melhor profissional de humor brasileiro, escreveu uma série de artigos denominados “Retratos 3x4 de alguns amigos 6x9”. Publicado originalmente na Revista Veja, em 1969, o texto acima foi extraído de seu livro “Trinta anos de mim mesmo”, Editora Nórdica – Rio de Janeiro, 1972, pág.181.

APRESENTAÇÃO

Leon Eliachar de Aljubarrota nasceu na quinta do Alverde, casa 5, lado esquerdo. Cresceu em meio às benesses da primavera. Aos 14 anos de idade, sofreu um acidente de velocipídico, machucando o dedão do pé esquerdo. Mais tarde, escreveria uma ode a esse respeito.

Leon Eliachar de Aljubarrota custou muito a encontrar a rota. Mas acabou encontrando, isto aos quarenta e sete anos (mais ou menos), no quilômetro 46 da estrada Rio—São Paulo. Encontrou e não devolveu. Sendo assim, publicou os seguintes livros: O Homem ao Quadrado (1927), O Homem ao Cubo (416 a.C.), Por que me ufano do meu país (1870, com a colaboração do Conde de Afonso Celso), O Homem ao Zero (1939, infelizmente destruído pelas hordas paraguaias que nessa data fatídica invadiram o Uruguai); Quarup, by Antônio Callado; Os Sertões, de Euclides da Cunha; Listas Telefônicas Brasileiras, de vários autores e assinantes; Brás, Bexiga e Barra Funda, de Vinícius de Moraes; A Nova Constituição Brasileira, 1964, autor desconhecido; Leon Eliachar par lui même, by Leon Eliachar; Os Olhos Dourados de Ódio, edição conjunta (digo bilíngüe) com Rubem Braga; O Homem Nu, variação de O Homem ao Cubo; e assim por diante. Maiores detalhes, biblioteca do Museu da Imagem e do Som, Rua Bartolomeu Mitre, 16, sobreloja.

José Carlos Oliveira fez esta apresentação (um exemplo de nonsense) do biografado no livro "10 em Humor", Editora Expressão e Cultura, Rio de Janeiro, 1968, pág. 24.

NECROLÓGICO

O meu quem faz sou eu, que não sou bobo. Detesto a pressa dos jornalistas que querem fechar a página do jornal de qualquer maneira e acabam enchendo o espaço com os lugares-comuns do sentimentalismo. Nada de “coitadinho era um bom rapaz” nem que “era tão moço”, porque há muito deixei de ser um bom rapaz e nem sou tão moço assim. Quero que o meu necrológio seja sincero, porque de nada me valerá a vaidade depois de eu morrer - a não ser a vaidade de estar morto. Fui mau filho, mas isso não quer dizer que meus pais fossem melhores filhos que eu se fosse eu o pai. Não fui mau marido e acredito que seja porque não tivesse chance de ser, vontade não me faltou. Nunca roubei, nunca menti: esses os meus piores defeitos. Minha grande qualidade era ter todos os outros defeitos. Fui egoísta toda vida, como todo mundo, mas nunca revelei nada a ninguém, como todo mundo. Passei a vida tentando fazer os outros rirem de si mesmos: é possível que agora riam de mim. Fui valente e fui covarde, só tive medo de mim mesmo o que prova a minha valentia. Nunca amei ao próximo como a mim mesmo, em compensação nunca ninguém me amou como eu mesmo. Tive milhões de complexos e venci-os todos, um por um, com exceção do complexo de morrer: esse morre comigo. Nunca dei nem tomei nada de ninguém, mas faço questão de deixar tudo o que não tenho para os que têm menos do que eu. Nunca cobicei a mulher do próximo: só a do afastado. Jamais entendi perfeitamente o que era o “bem” e o “mal”, embora a maioria das pessoas me achasse um homem de bem e este era o mal. Defendi a minha vida como pude, mas nunca arrisquei a vida para defendê-la. Nunca me preocupei com dinheiro, pois sempre tive pouco. Acreditei mais nos inimigos do que nos amigos, porque os amigos nem sempre se preocupam com a gente. Jamais tive um segredo, passei todos adiante Conquistei muitas mulheres, algumas com os olhos, outras com os lábios e outras com o braço. Tive pavor dos médicos, porque eles sempre descobrem as doenças que a gente nem sabia que tinha há tanto tempo. Me orgulho de ter vivido oitenta anos em apenas quarenta: finalmente me livrei dessa maldita insônia.
Leon Eliachar em “O Homem ao Cubo”, José Álvaro Editor - Rio de Janeiro, 1964, (orelhas da capa e da contracapa.)

No dia 21/06/2007, Leon Eliachar foi homenageado pela Casa de Rui Barbosa, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde estão os arquivos do humorista. Participaram do evento o cirurgião plástico Ivo Pitanguy e o cartunista Jaguar, amigos de Leon, e Sérgio Eliachar, filho do escritor.

BIBLIOGRAFIA:
- O Homem ao Quadrado (1960) - capa e desenhos de Cyro del Nero.
- O Homem ao Cubo (1963) - capa e paginação de Fortuna.
- A Mulher em Flagrante (1965) - capa executada por Juarez Machado; desenhos e paginação de Fortuna.
- O Homem ao Zero (1967) - capa de Gian.
- 10 em Humor (1968) - em conjunto com Millôr Fernandes, Stanislaw P. Preta, Fortuna, Ziraldo, Jaguar, Claudius, Zélio, Henfil e Vagn.

Fonte:
http://www.releituras.com/leoneliachar_bio.asp

Leon Eliachar (O Homem ao Quadrado)

Definição de Humorismo:

- Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico de se fazer.

Dicionário de bolso:

- ADIAR - é essa atitude que estamos sempre tomando daqui a pouco.

- BUZINA - é esse ruído que irrita o motorista da frente quando o de trás já está irritado.

- CABOTINO - é esse sujeito que consegue transformar qualquer assunto numa auto-biografia.

- TÉCNICO - sujeito que se especializa em não entender nada de apenas uma matéria.

- ZAROLHO - sujeito que tira uma pequena para dançar e saem as duas.

- Datilógrapha conservadora é a que não se conphorma com a ortographia moderna.

- Dalitófraga estrábica é a que passa o dia inreito trocadno as lestra e as síbalas.

- Datilgfa pregç n/ precis nem compl as plavras.

- Datilógrafa de kolunixta çossial tem de comtar mezmu é com a revizãu.

Cartas:
— Sou branca, meu marido é branco e tivemos um filho preto. Como o senhor explica isso?
(Jandira - Ceará)

— Lamento muito, mas quem tem de se explicar é a senhora. Vocês que são brancos que se entendam.

Acidente:
Leocádia era dessas que tinha verdadeira alucinação por "lingerie". Pra ela, o mais importante na linha da elegância era a roupa de baixo. Todos os dias, chegava em casa, abria os embrulhos na frente do marido, exibia calcinhas com bordadinhos e rendinhas de todas as cores e de todas as qualidades de tecidos. O marido não entendia:

— De que adianta tudo isso, se ninguém vê?

Ela sorria orgulhosa:

— É o que você pensa. Pode dar um ventinho na rua, sabe lá?

Um dia ele estava no escritório, quando o chamaram ao telefone. Era do Hospital dos Acidentados, pra lhe comunicar que a sua mulher havia sofrido um desastre. Correu pra lá e assim que fez a descrição da mulher, um enfermeiro disse pro outro:

— Ei, você aí. Leve este senhor naquele quarto. Está procurando aquela senhora sem calça.

Teve um troço, foi medicado ali mesmo. Duas semanas depois de Leocádia ter alta, ele continuou no Hospital, em convalescença.

Fonte:
O Homem ao Quadrado
http://www.releituras.com/leoneliachar_homem.asp

Leon Eliachar (Conheça-se a si mesmo)

VOCÊ É NERVOSO?

1 - Você buzina uma fração de segundo após abrir o sinal, porque acha que o carro da frente não quer andar?

2 - Você acha que o sujeito de trás é um imbecil, quando se dá o inverso: isto é, quando você está na frente e ele buzina atrás?

3 - Você tem vontade de sair do carro e massacrar o motorista de cada táxi que lhe dá uma "fechada"?

4 - Você acha realmente que todo pedestre que atravessa na frente de seu carro é um idiota?

5 - Você tem vontade de abandonar o carro pro resto da vida, quando fura um pneu no meio da estrada?

CONCLUSÃO: Se respondeu "sim" a todas as perguntas, você não é, absolutamente, um nervoso, mas simplesmente um motorista. Se respondeu "não" a qualquer das perguntas, siga este conselho: por que não compra um carro?

VOCÊ É MEDROSO?

1 - Quando alguém fica batendo com o pé na sua poltrona, num cinema você evita reclamar por que aí mesmo é que o sujeito pode insistir?

2 - Quando o elevador enguiça entre dois andares e a campainha de emergência não funciona, você grita por socorro ou senta calmamente e espera que o porteiro descubra que o elevador enguiçou?

3 - Quando o dono da casa abre a porta pra você entrar, você vai logo perguntando se tem cachorro?

4 - Quando você está acompanhado de uma moça, evita passar no meio de um grupo de rapazes, com receio que dêem piadinhas para ela e você tenha de tomar uma atitude?

5 - Quando você vai à praia e vê, no posto, uma bandeirinha vermelha, deixa de cair n'água?

CONCLUSÃO: Se você respondeu "sim" a todas estas perguntas, desculpe, mas é muito chato. Se respondeu "não” é mais chato ainda, parque demonstrou que não teve nem coragem pra responder "sim".

VOCÊ TEM COMPLEXO DE INFERIORIDADE?

1 - Quando você vê na praia um atleta, pensa intimamente que, amanhã vai começar a fazer ginástica?

2 - Quando sua calça rasga-se na rua, fica constrangido por que podem pensar que você já saiu com ela assim de casa?

3 - Quando você vê uma mulher muito bonita, pensa logo na sua - que não é tanto - mas fica satisfeito mesmo com a que tem, por que acha que não pode ter melhor?

4 - Quando você se olha no espelho, de manhã, procura se justificar de que a que vale mesmo é a simpatia?

5 - Se você é casado, deixa de confessar isso, num grupo de solteiros, com vergonha que pensem que você é otário, ou se é solteiro, também esconde, com receio que pensem que você não conseguiu casar?

CONCLUSÃO: Se você respondeu "não" a todas estas perguntas, não se preocupe, você não tem complexo de inferioridade; se respondeu "sim", pode começar a se preocupar, porque se você não tinha complexos vai começar a ter, agora.

VOCÊ TEM BOA MEMÓRIA?

1 - Você se lembra em que dia da semana conheceu sua mulher?

2 - Você se lembra do número do telefone da sua primeira namorada?

3 - Você se lembra do número de páginas que tinha o primeiro livro que você leu?

4 - Você se lembra com quantos dias de atraso recebeu o seu primeiro ordenado?

5 - Você se lembra de que cor era o vestido de sua tia mais velha, no dia em que você caiu da bicicleta pela primeira vez?

CONCLUSÃO: Respondeu-se "sim" a todas as perguntas, esteja certo: você é um fenômeno. Mas se você argumentar que não pôde responder por que nunca leu um livro, sempre recebeu em dia e nunca levou tombo de bicicleta, então esteja mais certo ainda: Você é um fenômeno muito maior.

VOCÊ É DISTRAÍDO?

1 - Você costuma reparar quando sua mulher, noiva ou namorada põe um vestido novo?

3 - Você costuma se lembrar, exatamente, em que pedaço do filme chegou ou tem que ver mais um pedacinho?

5 - Você costuma, todo ano, cair no dia primeira de abril?

2 - Você tem o hábito de atravessar a rua sem olhar para os dois lados?

4 - Você costuma conversar com uma pessoa durante horas, sem prestar atenção, tentando descobrir de onde é mesmo que você a conhece?

CONCLUSÃO: Se você respondeu "sim" ou "não" a qualquer destas perguntas, isso não tem a menor importância; mas se você não reparou que a numeração deste último teste está completamente alterada, então, meu caro, você não é um distraído, é mais que isso: é um ceguinho. E daí, vai bater?

Fonte:
Conheça-se a Si Mesmo
http://www.releituras.com/leoneliachar_conheca.asp

Deonisio da Silva (Expressões e Suas Origens L - M - N)

Lamber os dedos
As origens desta expressão prendem-se ao costume de dispensar talheres para as refeições. Tomando os alimentos nas mãos, alguns lambiam os próprios dedos, para aproveitar os últimos restinhos do sabor. Usamos a frase para indicar estado de grande satisfação, recordando na prática antiga de prolongar os prazeres da boa mesa. O dramaturgo Gil Vicente (1465-1536), fundador do teatro português, foi um dos primeiros a registrá-la, na Farsa dos físicos. Outro português, Garcia de Resende (1470-1536), também a transcreveu nuns versos em que alude a uma mulher "que lambeu o dedo depois de gostar". Em antigas cortes muitos foram os soberanos que recusaram o uso de talheres, em nome do paladar.

Ler nas entrelinhas
Esta frase dá conta de uma das mais sutilezas da escrita, indicando que num texto até o que não está escrito deve ser lido, pois o sentido vai muito além das palavras, situando-se no contexto, para que não se perca o espírito da coisa, expressão criada para identificar uma lacuna de interpretação. Entre os que primeiro registraram a frase está o escritor francês Charles Augustin Saint-Beuve (1804-1869) que depois de publicar vários poemas e apenas um romance, dedicou-se inteiramente à crítica literária, gênero em que se consagrou como um dos maiores de todos os tempos, lendo nas entrelinhas os autores que comentou.

Levou um puxão de orelhas
A origem desta frase, expressão que significa repreender, está ligada a antigas tradições populares, que a recolheram de usos e costumes nem sempre vagos, já que inspirados também em documentos jurídicos. As Ordenações Afonsinas prescrevem que os ladrões tenham as orelhas cortadas. O grande navegador português Vasco da Gama (1469-1524) relatou o corte de 800 delas. E Gomes Freire de Andrade, o conde de Bodadela (1685-1763), governador e capitão-geral do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, personagem do filme Xica da Silva, de Carlos Diegues, recebeu 7800 delas. Depois as orelhas deixaram de ser cortadas e foram somente puxadas. Por fim, tudo virou apenas metáfora de admoestação.

Libertas quae sera tamen
Os escritores envolvidos no primeiro projeto de Independência do Brasil, a Inconfidência Mineira, em 1792, três anos depois da Revolução Francesa, cunharam o lema Libertas quae sera tamen, tirado de um verso da Primeira Égloga, do poeta latino Virgílio: Libertas quae tamen respexit inertem (a liberdade que tardia, todavia, apiedou-se de mim em minha inércia. O lema, como foi adaptado, é esdrúxulo: a liberdade que tardia, todavia...sic). Para o que queriam os inconfidentes, bastava Libertas quae sera. Ainda assim, o lema, com este erro de transcrição e de tradução, continua nas bandeiras de Minas Gerais e do Acre.

Livre nasci, livre vivo, livre morrerei
O autor desta frase famosa, Pietro Aretino (1492-1556), tornou-se célebre por seus versos satíricos, licenciosos e cheios de erotismo. Apesar de ter escrito e publicado muito, apenas duas de suas obras passaram à posterioridade: os Diálogos e os Sonetos luxuriosos. Aretino era filho de um sapateiro de Arezzo, na Itália. Foi contemporâneo de célebres renascentistas, entre os quais o pintor Ticiano Vercellio (1490-1576), que o imortalizou numa tela, hoje exposta na famosa Galeria Pitti, em Florença. Um dos maiores poetas de seu tempo, o escritor, como tantos outros que tomaram a sexualidade com tema preferencial, foi perseguido por causa da audácia de suas críticas aos poderosos.

Mas isto fala!
Exclamação atribuída a Dom Pedro II ao experimentar o aparelho apresentado pelo físico e professor de surdos-mudos Alexandre Grahan Bell (1847-1922), um dos inventores do telefone, em 1876. Nosso último monarca e também o derradeiro da América costumava dar uma curiosa atenção às novas tecnologias, ciências e letras no meio século em que governou e reinou no então Império do Brasil. Mas ficou com o telefone quase só para ele, de tão interessante que o considerou.

Mateus, primeiro aos teus
Esta frase, mandando aos importunos e chatos que se ocupem primeiro de suas próprias coisas, para só depois nos amolar a paciência, tem sua origem nos Evangelhos. Mateus, antes de tornar-se discípulo de Jesus, era odiado por ser cobrador de impostos em Cafarnaum. A profissão já era hostilizada naquele tempo, e o povo abominava esses funcionários do fisco romano que, conquanto judeus, serviam aos dominadores estrangeiros, além de extorquir taxas pessoais dos contribuintes. Na literatura oral de quase todos os países fixada está esta repulsa, depois recolhida por escritores, como nos versos de um sátira de Gustavo Barroso (1888-1959) no livro Ao som da viola, dando conta de que na vida eterna eles serão condenados.

Meu reino por um cavalo
O dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare (1564-1616) criou um teatro cheio de reis dramáticos. Em suas peças, o poder está sempre presente e os elementos políticos cumprem funções decisivas. São célebres muitas frases proferidas por seus personagens, como "Ser ou não ser, eis a questão" , "Há algo de podre no reino da Dinamarca" e "Meu reino por um cavalo". Esta última é pronunciada duas vezes pelo rei usurpador, em suas duas únicas falas na cena quatro do quinto ato da peça Ricardo III, ao perder seu cavalo e ser derrotado pelo duque de Richmond na batalha de Bosworth.

Misturar alhos com bugalhos
Frase que sintetiza confusão, é de uso corrente na linguagem coloquial desde os tempos dos primeiros cultivos do alho, erva de que se aproveita o bulbo, principalmente como tempero. Os namorados, entretanto, procuram evitar pratos com tal condimento, já que o beijo fica mais adequado ao trato com vampiros e não com os amados, dado ao cheiro pouco agradável advindo de sua metabolização no organismo. Com o sentido de coisas desconexas e trapalhadas, foi registrada por João Guimarães Rosa num de seus contos: "O senhor pode às vezes distinguir alhos de bugalhos, e tassalhos de borralhos, e vergalhos de chanfalhos, e mangalhos... Mas, e o vice-versa?" Com sua escrita plena de complexidades e sutilezas, o maior escritor brasileiro do século XX misturou muito mais do que alhos com bugalhos, criando novas palavras ao manter alho como sufixo de diversas outras, aproveitando a coincidência fonética de ‘bugalho’, do celta bullaca (conta grande de rosário, noz), rimar com alho, além de designar coisa parecida na forma.

Morro pela minha pátria com a espada na mão
Última frase pronunciada pelo estadista, ditador e militar paraguaio Francisco Solano López (1826-1870), à beira do riacho Aquidabam, ferido de morte pelo soldado brasileiro Chico Diabo e antes de receber o tiro de misericórdia, disparado pelo gaúcho João Soares, contrariando ordens de seu superior, que ordenou a seus comandados que a capturassem vivo. A frase foi pronunciada no dia 1º de março de 1870 e marcou o fim da Guerra do Paraguai. A espada de Solano López estava com a ponta quebrada, curiosidade que foi registrada pelo comandante-chefe das operações, o Conde d’Eu (1842-1922), em carta enviada a Dom Pedro II (1825-1891), de quem era genro, pois era casado com a princesa Isabel (1846-1921). Curiosidade maior marcou o fim dos vencedores: o pai, a filha e o genro morreram no exílio, sem espadas na mão e desprezados pela pátria que haviam adotado, o Brasil.

Morro porque não morro
Esta frase tornou-se famosa por muitos motivos, entre os quais está o de sintetizar em poucas palavras o estado de espírito dos místicos. É de autoria do mais famoso deles, João da Cruz (1542-1591), patrono dos poetas espanhóis, doutor da Igreja e autor dos deslumbrantes poesias em que extravasa sua união mística com Deus, desconcertantes para leitores não-cristãos, dadas as redes de metáforas, paradoxos e outras figuras de linguagem cujo valor ultrapassa o literário. Ele reformou a ordem dos carmelitas e foi por isso perseguido e aprisionado por seus irmãos de hábito. Suas obras, traduzidas para muitas línguas, têm sido objeto de muitos estudos e foram transpostas para o cinema e o teatro muitas vezes.

Nada temos a temer, exceto as palavras
O escritor Rubens Fonseca (72) não era ainda o admirável romancista, autor de tantos livros de sucesso, quando incrustou esta frase em seu romance de estréia, O caso Morel, publicado em 1973. Até então ele tinha publicado apenas livros de contos, muito elogiados pela crítica. A frase está repetida insistentemente ao longo de uma narrativa marcada por violência e erotismo combinados, sobretudo nas relações amorosas de alguns personagens. Parecia premonição, pois seu livro seguinte, de contos, intitulado Feliz Ano Novo, e publicado em 1975, ficou proibido 13 anos, de 1976 a 1989. Inconformado com o veto do então ministro da Justiça do presidente Ernesto Geisel, o autor foi aos tribunais. O processo arrastou-se até 1989, quando em grau de recurso, no Tribunal Regional Federal, o livro foi finalmente liberado. Houve muitas cópias piratas e edições clandestinas em fac-símile enquanto o livro estava proibido.

Não entendo patavina
Esta frase, que significa declaração de ignorância total sobre determinado assunto, originou-se em certos descuidos gramaticais do historiador romano Tito Lívio (59 ou 64 a.C.-17 d.C.), nascido em Pádua, em italiano Padova, e em latim, Patavium. Outros escritores latinos, tidos por mais cultos, reprovaram suas expressões, próprias do dialeto da região em que o historiador viveu, o que dificultava o entendimento. Alguns estudiosos dão como explicação o fato de os portugueses terem dificuldade para entender os mercadores e os frades franciscanos patavinos, isto é, originários de Pádua. O próprio Santo Antonio de Lisboa (1195-1231) é o mesmo Santo Antonio de Pádua. Quem não compreende bem certos usos e costumes religiosos, não entende patavina disso também.

Não foi para isso que eu o inventei
Frase lendária que teria sido pronunciada por Alberto Santos Dumont, ao ver, em São Paulo, o uso do avião nos combates fratricidas da Revolução Constitucionalista de 1932. Seu engenho mais famoso foi o 14-Bis, a bordo do qual realizou o seu primeiro vôo documentado na história da aviação. Foi Marechal-do-ar, é patrono da Aeronáutica e da força Aérea Brasileira, além de imortal da Academia Brasileira de Letras. A única homenagem que de nada lhe serviu foi a efígie na antiga nota de dez mil cruzeiros. A inflação, como fez com outras figuras célebres, liquidou essa homenagem à sua memória.

Não lamento morrer, mas deixar de viver
Esta frase foi dita e escrita pelo célebre piloto francês François Mitterrand (1906-1995), que levou o socialismo ao poder na França, por meios democráticos, em 1981, tornando-se presidente da República em eleições livres. Ele foi um dos grandes personagens políticos deste século, tendo destacada atuação também durante a Segunda Guerra Mundial. Na sua gestão como presidente da República, a educação e a cultura receberam atenção especial e boas dotações orçamentárias. Um dos marcos foi a construção de um novo prédio para a Biblioteca Nacional, que custou cerca de 11 bilhão de dólares. Por obras como essa é que ele não será esquecido, esta outra forma que temos de morrer.

Não me cheira bem
A intuição está presente nesta frase, muito comum no Brasil, dando conta de que há uma compreensão para além das palavras. Neste caso, afora o sentido da audição, entra o do olfato, posto que em forma de metáfora, para aguçar nosso entendimento. Os cristão primitivos criaram a expressão odor de santidade para caracterizar o estado de uma pessoa virtuosa, já santa em vida. Mas seu contrário, muito mais freqüente, seria um odor desagradável, exalado de pessoas desonestas ou de situações inconvenientes. Um dos que a registraram literalmente foi o escritor português Camilo Castelo Branco, em diálogo onde um personagem comenta um famoso impostor.

Não posso interpretar um perdedor: não me pareço com um.
Frase pronunciada muitas vezes por Rock Hudson (1925-1985), famoso galã romântico de Hollywood, diante de roteiristas, diretores, colegas e jornalistas. Depois de servir na Marinha dos Estados Unidos, de 1944 a 1946, tornou-se ator, estrelando vários filmes na década de 50, como Sublime Obsessão, Assim caminha a humanidade e Confidências à meia-noite, em que contracenou com a linda e pura Doris Day. Nas décadas seguintes, fez jus ao grande prestígio que tinha juntado ao público feminino, desempenhando sempre papéis de rapaz namorador e divertido. O que as fãs não sabiam é que Rock Hudson, na vida real, preferia os homens. Poucos antes de morrer, o ator anunciou que havia contraído o vírus da Aids.

Não sabe nem o dó, ré, mi
Para tachar alguém da analfabeto, diz-se que "não sabe nem o ABC". A frase serve para designar quem nada entende de música. As denominações para as notas foram dadas pelo musicólogo italiano Guido D’Arezzo (990-1050), que se inspirou nas primeiras sílabas de um hino a São João, o Evangelista, composto em latim por um cantor de igreja que estava resfriado. Nele o cantor pedia ao santo que lhe devolvesse a voz. Os seis versos começavam com ut, re, mi, fa, sol, la. A primeira nota mudou para dó, permanecendo ut apenas para os eruditos. E a última, si, foi formada com as iniciais do nome do santo em latim: Sancte Joannes. Em latim, o ‘jota’ tem som de ‘i’. A oração tem o seguinte teor: "Ut queant laxis/ Resonare fibris/ Mira gestorum/ Famili tuorum/ solve polluti/ Labii reatum/ Sanctre Joannes" ("Purifica os nossos lábios culpados, a fim de que teus servos possam celebrar a plena voz as tuas maravilhas, ó São João").

Não se pode governar um país que tem 246 variedades de queijo
Esta frase foi pronunciada pelo general Charles de Gaulle (1890-1970), notável militar na Segunda Guerra Mundial e célebre estadista francês. Foi por duas vezes presidente da República, renunciando a 28 de abril de 1969. Atribui-se também a De Gaulle uma outra frase famosa: "o Brasil não é um país sério", mas a autoria desta última não pôde ser comprovada, como ocorrem com outras verdades sobre nosso país, atacado de tempos em tempos por ufanismo contagioso ou pessimismo sem motivos claros, a não ser, evidentemente, aqueles patrocinados por nossos governantes. Pode ser difícil governar um país com tantas variedades de queijo, mas os franceses, famosos pela atenção que dão à culinária, reclamaram muito de De Gaulle e pouco dos queijos que sempre produziram. No resto do mundo, De Gaulle e os queijos franceses foram sempre mais elogiados do que criticados.

Não suba o sapateiro acima da sandália
Apeles (século IV - século III a.C.), o famoso pintor grego que retratou Alexandre, o Grande, costumava expor suas pinturas em praça pública, escondendo-se atrás dos quadros para ouvir a opinião dos que por ali passavam. Concordando com as críticas, retirava suas obras, refazia-as e voltava a exibi-las para novos comentários. Certa vez um sapateiro notou um defeito na chinela de uma figura principal. Apeles corrigiu seu quadro. No dia seguinte, vendo que havia sido atendido, o mesmo sapateiro atreveu-se a criticar também a perna da figura. Apeles saiu de trás do quadro e pronunciou a frase memorável, dando conta de que há limites para a crítica. O padre Manuel Bernardes, um dos melhores estilistas da língua portuguesa, está entre os que registraram a frase famosa.

Não verás país nenhum
Esta frase tem origem num verso de Olavo Bilac: "criança, não verás país como este!" Mas foi o escritor Ignácio de Loyola Brandão quem a resgatou, em 1981, com o lançamento de um romance cujo título reduziu o verso para Não Verás país nenhum. Antecipando os graves problemas que adviriam da destruição ecológica, o livro foi bem aceito por crítica e público. Depois de numerosas edições brasileiras, foi traduzido para mais de dez línguas e seguido de um outro, documental, intitulado O verde violentou o muro (1984), em que o escritor aludia à queda do muro de Berlim, que só veio a ocorrer em 1989, quando os alemães deixaram de ver um outro país, a Alemanha Oriental.

Nas revoluções, o difícil é salvar a porcelana
Esta frase é de autoria do político francês Georges Clemenceau (1841-1929), deputado-chefe da esquerda radical a partir de 1875, senhor de uma eloqüência arrebatadora. No primeiro decênio deste século, já presidente do conselho de ministro, rompeu com os socialistas. Era temido também por ser um derrubador de ministério e, dada a sua notável valentia, recebeu o apelido de Tigre. Deposto, voltou ao poder em 1917, dedicando-se à continuação da Primeira Guerra Mundial. Depois da vitória, tornou-se muito popular e negociou o Tratado de Versalhes. A frase indica que em mudanças radicais, como é o caso das revoluções, alguma coisa muito preciosa se perde. Em geral, a porcelana é a liberdade.

Navegar é preciso, viver não é preciso
A expressão já foi creditada a Caetano Veloso, porque muitos de nossos jovens iletrados, mas bons de ouvido, somente a aprenderam da boca de seu ídolo. Entretanto, o próprio baiano já admitiu que a leu em Fernando Pessoa. A autoria não cabe, porém, nem ao poeta português, nem ao compositor baiano. Quem a tornou famosa foi o general romano Pompeu (106 a.C.-48 d.C.) para persuadir marinheiros a zarpar com os navios carregados de alimentos, mesmo em meio a uma tempestade, porque havia muita fome em Roma. Somente o circo, como sabiam os imperadores, não era suficiente para conter rebeliões, se faltasse o pão. Pompeu a pronunciou num latim desjeitoso, segundo nos informa Plutarco: navigare necesse, vivere non necesse, mas a frase já existia também em grego

Noblesse Oblige
Esta frase, nascida de um trecho do filósofo, estadista e poeta latino Anício Mânlio Severino Boethius (480-524), mais conhecido como Boécio, está presente em muitas línguas, incluindo a portuguesa, segundo a síntese elaborada pelos franceses, sem alteração na grafia e do significado: nobreza obriga, isto é, a aristocracia e a boa educação devem levar o indivíduo a comportar-se como um cavalheiro. Se não a primeira, a segunda. Originalmente, a frase foi escrita em latim e está embutida num período mais longo, usual no estilo de Boécio, de seu livro O consolo da filosofia.

Nós, as mulheres, não somos tão fáceis de conhecer!
Esta frase ficou famosa por seu conteúdo e por sua autoria. As mulheres sempre desconcertaram e surpreenderam os homens. Sigmund Freud (1856-1939), o fundador da psicanálise, reconheceu não saber o que queriam as mulheres. Ocorre, porém, que a frase é de autoria de uma mulher formosa, culta e apaixonada, Santa Teresa de Ávila (1515-1582). Sua sabedoria foi ainda mais admirada depois que o papa Paulo VI (1897-1978) a declarou doutora da Igreja. A santa morreu a 4 de outubro e foi enterrada no dia seguinte, 15. Não é erro de data. No dia de sua morte foram subtraídos 10 dias de ano civil para adequá-lo ao ano solar. Os que lêem a vasta obra da santa, porém, podem mais facilmente entender as mulheres.

Fonte:
SILVA, Deonísio da. Expressões e suas origens.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Literatura em Luto (Falecimento de Arthur C. Clarke)


ARTHUR CHARLES

CLARKE

( 1917 - 2008)




O escritor e inventor britânico Arthur C. Clarke morreu aos 90 anos, em sua casa em Colombo, capital do Sri Lanka, em 19 de março de 2008, onde será enterrado, sem rito religioso, a seu pedido.

"Ele teve um ataque cardiorrespiratório", disse Rohan de Silva, secretário pessoal de Clarke, segundo a Reuters.

Sir Arthur Charles Clarke morreu à 1h30 de quarta-feira (18h de Brasília desta terça-feira, 19 de março de 2008) de insuficiência respiratória.

Entre suas obras, "A Sentinela" é um grande destaque. O texto serviu de inspiração para o roteiro do filme "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (1968), dirigido por Stanley Kubrick (1928-1999). O roteiro do filme é assinado por Kubrick e Clarke.

Clarke escreveu mais de 80 livros e centenas de contos e artigos durante sua carreira. O escritor mencionou nos anos 40 que o homem chegaria à Lua por volta do ano 2000, algo que especialistas afirmaram ser um absurdo na época.

Quando Neil Armstrong pisou no satélite em 1969, os Estados Unidos divulgaram que Clarke providenciou a direção intelectual que levou o país à Lua.

No último dezembro, Clarke afirmou que gostaria de ver sinais de extraterrestres ainda enquanto estivesse vivo. O escritor nasceu em 16 de dezembro de 1917.

Últimos desejos

Em dezembro de 2007, o escritor listou três desejos para o seu aniversário de 90 anos: que o mundo adotasse fontes de energia limpas, que a paz fosse estabelecida no lugar onde ele vivia, o Sri Lanka, e que fossem apresentadas evidências de seres extraterrestres.

"Eu sempre acreditei que nós não estamos sozinhos no universo", disse ele na época, em um discurso para um pequeno grupo de cientistas, astronautas e oficiais, na cidade de Colombo, no Sri Lanka. Os humanos estão à espera de que seres extraterrestres "nos chamem ou nos dêem um sinal", disse o escritor. "Não temos como adivinhar quando isso vai acontecer. Espero que aconteça antes que seja tarde demais."
Clarke também é creditado como um dos pioneiros no uso do conceito de satélites de comunicação, falando deles em 1945, anos antes de a tecnologia ter sido inventada. Ele se juntou ao jornalista Walter Cronkite como comentarista da expedição lunar da Apollo no final dos anos 60.

Arthur Charles Clarke (1917 – 2008)

Arthur Charles Clarke nasceu em Minehead em Somerset, Inglaterra em 16 de dezembro de 1917. Em 1936 junto com a família mudou para Londres, onde ingressou na Sociedade Interplanetária Britânica (BIS-British Interplanetary Society), no BIS ele começou seus experimentos com astronáutica e tudo que envolvia o assunto espaço e comunicações, ele também começou a escrever boletins para a Sociedade Interplanetária, tanto científicos como de ficção.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi oficial da RAF (Força Aérea Real), e foi encarregado do primeiro radar de transmissão de rádio , ele tinha o cargo de controlador e era responsável por seu funcionamento, durante os experimentos com esse radar ele desenvolveu paralelamente seu dom de escrever e criou uma tese científica em forma de novela chamada (Glide Path) "Trajeto do Planador", inspirado nestes anos de trabalho com o radar de comunicação terra-ar.

Em 1945 volta a Londres e ao BIS, onde foi presidente de 1946 a 1947 e depois em 1950 a 1953. Ele publica nesta época (Extraterrestrial Relays), "Reles Extraterrestres", que fala sobre o papel técnico dos princípios da comunicação de satélites com órbitas geoestacionárias numerosas, ele estudou muito este assunto e foi um dos pioneiros em criações de satélites de comunicação deste tipo esta sua descoberta lhe rendeu várias honras científicas. Hoje a órbita geoestacionária em 42.000 km é nomeada a Órbita de Clarke pela União de Astronômica Internacional.
Cronologia de sua vida:

1927 - Faz seu primeiro vôo com sua mãe em um biplano British Avro 504.
1930 - Construiu um transmissor de ondas junto com seu Tio George.
1931 - Seu pai morre em um hospital em Bristol.
1934 - Entra para o BIS fundado por Phillip E. Cleator e outros em Liverpool.
1941 - Engajado na RAF (Royal Air Force) (Segunda Guerra Mundial)
1945 - Em março deste ano ele escreve "Rescue Party", que apareceria em maio de 1946 na Astouding Science.
1948 - Obteve honras de primeiro aluno no King's College em Londrês em sua turma de Física e Matemática , se formando com méritos.
1953 - Casou-se com Marilyn Mayfield em 15 de junho deste ano, para se separar seis meses depois, isso era prova para ele dizer que não era homem de casar.
1954 - Clarke visita pela primeira vez o Sri Lanka conhecendo a capital, Colombo onde vive atualmente.
Neste ano também ele troca sua paixão pelo espaço se entregando ao mar com sessões de mergulho e descobertas submarinas.
1961 - Passa um final de semana em Boston em companhia de Jacques Cousteau. Neste ano também em dezembro recebe a visita de Yury Gagarin em sua casa no Ceilão atual Sri Lanka.
1962 - Escreve (Profiles of the future), "Perfis do Futuro", neste livro ele descreve suas três leis científicas.
Primeira lei : Quando um distinto e experiente cientísta diz que algo é possível, ele está praticamente certo, quando ele diz que algo é impossível, ele esta muito provavelmente errado.
Segunda lei: O único caminho para desvendar os limites do possível e através do impossível.
Terceira lei : Qualquer avanço tecnologico é indistinguível da mágica.
1964 - Neste ano começa a trabalhar com Stanley Kubric em um filme que revolucionária a Ficção Científica no cinema. 2001: Uma Odisséia no Espaço.
1985 - Publicou a sequência de 2001. 2010 a Odisséia II e trabalhou com Peter Hyams na versão do filme, mas não obteve tanto sucesso quanto 2001.
Clarke é famoso por muitas outras obras de Ficção Científica e também é considerado um dos Grandes Mestres da Ficção Científica junto com Asimov, Heinlein e Herbert. Suas obras mais famosas são "Childhood's End", "2001: A Sapce Odyssey" e "The Nine Billion Names of God". Foi ganhador dos prêmios Hugo em 1956, 1974, 1980 e Nebula em 1972,1973, 1979 e Ganhador do Prêmio Nebula para os Grandes Mestres em 1985.

Bibliografia apenas das obras de Ficção.

1951 - As Areias de Marte.
1952 - Ilhas no Céu.
1953 - O Fim da Infância (Childhood's End)
1953 - Contra a Sombra da Noite.
1953 - Expedição para a Terra.
1955 - Luz terrestre
1956 - Cidade das Estrelas.
1956 - Ao alcance do amanhã.
1957 - Caminho Profundo.
1958 - O outro lado do céu.
1959 - Através de um mar de Estrelas.
1961 - A queda da poeira lunar.
1962 - Do oceano e das Estrelas.
1962 - Lendas de dez mundos.
1963 - Ilha do Golfinho.
1964 - 2001 : Uma Odisséia no Espaço (Início da obra)
1965 - Prelúdio Marciano (Prelúdio Espacial e As areias de Marte)
1967 - Nove Bilhões de Nomes de Deus.
1972 - O tempo e as Estrelas.
1972 - O Vento do Sol (revisada em 1987)
1973 - Rendezvous com Rama (Hugo e Nebula)
1975 - Terra Imperial
1979 - As fontes do paraíso (Hugo e Nebula)
1982 - 2010: A Odisséia II
1983 - O Sentinela.
1986 - As músicas da Terra Distante.
1988 - Encontro com Medusa.
1988 - 2061: Odisséia III
1990 - Lendas do Planeta Terra.
1991 - O fantasma que vem da grande barreira.
1991 - Mais do que um Universo.
1993 - O Martelo de Deus.
1997 - 3001: A Odisséia Final.

Arthur C. Clarke (Entrevista para a Revista Veja)

Entrevista com Arthur C. Clarke na Revista Veja de 13/11/96

O Futuro Está Aí
por Fabíola de Oliveira

Aos 78 anos, o inglês Arthur C. Clarke é um dos mais populares autores de ficção científica deste século. Já escreveu cerca de oitenta livros. O mais novo, 3001 - A Odisséia Final, chega às livrarias no começo do ano. É uma seqüência do roteiro do filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, dirigido por Stanley Kubrick, que o tornou mundialmente famoso em 1968. Entre os cientistas, Clarke é respeitado por um outro motivo. Em 1945, com apenas 28 anos, ele escreveu um artigo que é considerado a base teórica para os modernos satélites de comunicação.

Clarke vive no Sri Lanka, antiga colônia britânica ao sul da Índia, para onde se mudou há quarenta anos em busca de sossego. Não conseguiu. Sua casa vive sitiada por turistas. O escritor paga 1000 dólares mensais só de fax recebidos e enviados para o mundo todo. "Sou um recluso fracassado", diz. Hoje sofre de uma doença conhecida como síndrome de pós-polio, que o obriga a andar em cadeira de rodas. Semanas atrás, ao participar de uma conferência em Pequim, ele falou a VEJA:
Veja - Na época em que o senhor escreveu 2001 - Uma Odisséia no Espaço, parecia que na virada do século as viagens interplanetárias seriam uma rotina. O que deu errado com seu futuro?

Clarke - Em primeiro lugar, eu nunca previ o futuro. Tudo o que fiz foi escrever ficção. Seis de minhas histórias tratam do fim do mundo. Ainda bem que esse futuro não aconteceu, não é? As viagens interplanetárias só não ocorreram até hoje por culpa de eventos como a Guerra do Vietnã, o caso Watergate e tantas outras crises políticas e econômicas que têm destruído o desejo americano de investir mais na exploração do espaço. Além disso, o fim da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, embora tenha sido um acontecimento bom para a humanidade, derrubou um elemento essencial na corrida ao espaço, que era a competição entre as duas potências. É inacreditável que tenhamos chegado à Lua e abandonado esse projeto cinco anos mais tarde.

Veja - A paz é ruim para o avanço da ciência e da tecnologia?

Clarke - Em alguns casos, sim. A I Guerra Mundial tornou a aviação possível e abriu caminho para que em pouco tempo ela se tornasse comercialmente viável. A II Guerra foi a porta de entrada para a conquista espacial. Os foguetes V1 e V2, desenvolvidos pelos alemães para o lançamento de bombas no início dos anos 40, antecederam os foguetes lançadores até hoje utilizados para a colocação de satélites em órbita da Terra. A Guerra Fria trouxe os satélites artificiais, as primeiras viagens de astronautas e cosmonautas e a chegada do homem à Lua.

Veja - O senhor quer dizer que um novo grande conflito mundial seria bom para a retomada das viagens espaciais?

Clarke - Absolutamente não. Agora, é preciso demonstrar que o espaço também pode trazer grandes retornos econômicos. Vôos espaciais custam muito dinheiro Por essa razão, a humanidade precisa ter um bom motivo para viajar para outros planetas. No passado, foi a competição entre as potências. Hoje, pode ser puramente econômico. Atualmente, as atividades que giram em torno dos satélites de aplicação comercial movimentam cerca de 50 bilhões de dólares por ano. É por isso que o mercado de satélites de uso civil cresce cada vez mais, enquanto o de satélites militares tende a ser desativado. No momento em que se descobrir que aplicações práticas podem resultar das viagens e pesquisas em outros planetas, a exploração espacial acontecerá num piscar de olhos.

Veja - Como será a exploração comercial do espaço?

Clarke - As possibilidades são quase infinitas. O problema por enquanto é o custo dos foguetes para a colocação de naves fora do campo gravitacional da Terra. A boa notícia vem da Finlândia e do Instituto Max Plank, da Alemanha, onde alguns cientistas conseguiram, quase por acaso, realizar um experimento que criou um campo antigravitacional. Os fãs da série Jornada nas Estrelas sabem que é essa a fonte de energia usada para deslocar a nave Enterprise. Se isso for confirmado, poderemos estar na trilha de um novo tipo de veículo que, em vez de usar combustível de propulsão, como os foguetes atuais, vença a barreira gravitacional e se desprenda da Terra com grande facilidade e a custos baixíssimos. Aí, tudo vai fluir automaticamente.

Veja - Que tipo de mudanças o senhor prevê?

Clarke - A principal é o advento do turismo espacial, algo inimaginável aos custos atuais. Acredito que isso acontecerá em algum momento do início do próximo século, e então teremos o envolvimento do público em geral com o espaço. Nas viagens espaciais, os foguetes lançadores representarão o mesmo papel que os balões tiveram no início da aviação. Antigamente, especulava-se sobre a possibilidade de levar passageiros em longas viagens com balões. Era comum no século passado as revistas publicarem desenhos malucos de balões enormes carregando centenas de pessoas, mas é claro que os aviões chegaram e acabaram com o sonho do balonismo comercial. Da mesma forma, algum tipo de veículo espacial apropriado para passageiros deverá surgir no início do século XXI, tornando as viagens espaciais acessíveis a quase todo mundo. Marte vai ser um grande destino turístico no próximo século.

Veja - Países em desenvolvimento, como o Brasil, devem investir em atividades espaciais ou deixar esse assunto para as potências mais ricas?

Clarke - Nações em desenvolvimento podem tirar proveitos até maiores da tecnologia espacial do que os países ricos. Investir em atividades espaciais não é só tentar ir à Lua ou a Marte. É também produzir melhorias concretas na vida das pessoas aqui na Terra mesmo. As aplicações espaciais são imprescindíveis nas áreas de comunicação, monitoramento de recursos terrestres e previsões meteorológicas. Os satélites já ajudaram a salvar milhares de pessoas em lugares como Bangladesh e outras regiões da Ásia e da África que sofrem com fenômenos da natureza. No caso das comunicações, sabemos que atualmente cinqüenta países com metade da população do planeta ainda não tem acesso a uma linha de telefone. No mundo de hoje é praticamente impossível o desenvolvimento cultural, educacional e comercial sem um sistema eficiente de comunicações. Para tanto, é preciso ter satélites.

Veja - Em agosto, cientistas da NASA anunciaram ter encontrado sinais de vida bacteriana num meteorito de Marte que caiu na Antártica. Qual sua opinião sobre essa descoberta?

Clarke - Estou levando essa pesquisa muito a sério. Certamente não é uma prova decisiva da existência de vida em Marte, mas é uma possibilidade bastante sugestiva. Se eu tivesse 1 dólar para apostar, colocaria 75 centavos na mesa. Esse índice de probabilidade é mais do que suficiente para que a descoberta seja investigada a fundo. Outra sugestão interessante seria observar os meteoritos oriundos de Europa, uma das luas de Júpiter, que é coberta por uma camada de gelo. A possibilidade de vida nos oceanos de Europa é um dos temas dos meus três livros sobre odisséias no espaço. Fico fascinado com as imagens maravilhosas desse satélite de Júpiter enviadas pelas sondas espaciais Voyager e Galileu.

Veja - Seu próximo livro vai-se chamar 3001 - A Odisséia Final. Por que final?

Clarke - Porque eu não quero continuar nesse assunto. A história se passa em Júpiter e suas luas. Lá encontramos velhos amigos, como o HAL 9000, o computador que, na primeira odisséia, a de 2001, enlouquece e mata os tripulantes da nave espacial Discovery. Na nova história, HAL aparece agora como um herói. Só não vou contar em que circunstâncias para não estragar a surpresa de meus leitores.

Veja - Por que 3001 e não uma outra data qualquer?

Clarke - A idéia original era escrever uma odisséia espacial para o ano 20001. O problema é que, mesmo no campo da ficção científica, fica difícil imaginar como estará o mundo até lá. Mas em 1000 anos acho que algumas coisas poderão ser reconhecidas. Eu me diverti bastante escrevendo esse livro.

Veja - O senhor acha que a ciência um dia será capaz de resolver mistérios como a origem do universo e da vida?

Clarke - No passado havia questões que pareciam jamais ter explicação e hoje estão bem respondidas pela ciência. Um bom exemplo é a forma como a vida evoluiu na Terra. A ciência também consegue explicar quase todos os fenômenos celestes e meteorológicos que antigamente eram considerados mistérios. Ainda assim, acredito que existem questões para as quais a ciência nunca terá respostas. Acho difícil, por exemplo, que um cientista consiga explicar por que o universo está aqui e qual é a razão da vida. Gosto muito de uma frase escrita por J.B.S. Haldane: "O universo não é apenas mais estranho do que imaginamos; ele é mais estranho do que podemos imaginar".

Veja - O senhor acredita em Deus?

Clarke - De um ponto de vista científico, acreditar em Deus é tão inócuo quanto não acreditar. É questão puramente de fé. O que posso dizer é que não rejeito por completo a idéia de Deus. Uma vez eu disse a um representante do Papa que não acredito em Deus, mas sou muito interessado Nela. Quem garante que Deus não seja uma entidade feminina?

Veja - para o senhor qual é o maior de todos os mistérios?

Clarke - Sem dúvida, os ETs. Não consigo imaginar nada mais desafiador do que investigar a possibilidade de vida extraterrestre. Se de fato nós estivermos sós, significa que não somos apenas os herdeiros do universo. Somos também os seus únicos guardiões. Seria inacreditável. Portanto, as duas possibilidades, a de estarmos sós ou não, são igualmente fascinantes.

Veja - O senhor se preocupa muito com a própria morte?

Clarke - É óbvio que, aos 78 anos, eu tenho pensado mais nesse assunto do que antes. Mas não é minha maior preocupação. Só espero que eu não sofra muito quando a hora chegar. Estou mais preocupado hoje com as pessoas e os animais que amo do que comigo mesmo.

Veja - Pelo que o senhor mais gostaria de ser lembrado?

Clarke - Fico muito feliz ao ver que hoje as pessoas chamam a órbita estacionária dos satélites de "Órbita Clarke", em razão de um artigo que escrevi em 1945. Para mim, já é mais do que suficiente.

Veja - O artigo a que o senhor se refere enunciava a teoria básica dos atuais satélites de comunicação. O senhor se arrepende de nunca ter patenteado essa idéia, que poderia fazê-lo milionário?

Clarke - Gosto muito de uma frase segundo a qual "uma patente é apenas uma licença para ser processado pela Justiça". E eu não gostaria de passar a vida correndo atrás de advogados. Além disso, se eu tivesse adquirido a patente, ela provavelmente já estaria caduca no ano em que foi lançado o primeiro satélite de comunicação, no início da década de 60, embora eu deva admitir que não imaginei que isto ocorreria tão cedo.

Veja - Depois dos satélites de comunicação, qual será o próximo grande passo tecnológico da humanidade?

Clarke - Ele já está acontecendo. É o telefone pessoal. O fim do telefone como um instrumento fixo vai provocar uma das maiores revoluções na vida das pessoas neste século. Começou com o celular, mas extrapolará todos os limites com a chegada do telefone que se comunica diretamente com o satélite não importa em que lugar do planeta a pessoa estiver.

Veja - Na semana passada, havia 60000 referências ao seu nome na Internet, a rede mundial dos computadores. Mas o senhor não gosta de divulgar seu endereço eletrônico. Por que?

Clarke - Eu tenho evitado entrar na Internet como se foge de uma praga. É como você tentar beber toda a água das Cataratas de Niágara. Diante de tantas informações e possibilidades, é preciso ser seletivo e controlar a ansiedade.

Veja - Se o senhor tivesse nascido depois da chegada do homem à Lua e fosse hoje um jovem de vinte e poucos anos, o que estaria fazendo?

Clarke - Eu provavelmente estaria ansioso para chegar a Marte. É uma viagem que, na minha idade, eu provavelmente nunca farei. Se tivesse nascido em 1970, talvez tivesse uma chance.

Veja - Na sua opinião, quais são os grandes problemas da humanidade atualmente?

Clarke - O maior de todos é o excesso de população. Já há pessoas demais para os recursos limitados do planeta. O resultado é a poluição e a rápida degradação do meio ambiente. Há bilhões de pessoas vivendo na miséria, sem acesso às mais elementares conquistas da ciência e da tecnologia neste século. Acredito que a população ideal do planeta seja inferior a 1 bilhão de pessoas. Outro problema que muito preocupa é o da educação.

Veja - O que está errado com a educação?

Clarke - No futuro, não muito distante, haverá poucos empregos para pessoas altamente educadas e bem-preparadas. Não haverá chances para todo mundo. A qualidade do ensino é precária no mundo inteiro e isso terá graves conseqüências. Em especial, a educação científica é deplorável. Em quase todo o mundo os professores ainda são mal remunerados e a qualidade do ensino de ciências é muito deficiente. Para mim, este é um dos piores problemas que enfrentamos atualmente, causador de muitas desgraças. No início deste século, o escritor H.G. Wells dizia que "o futuro será uma corrida entre a educação e a catástrofe". No momento, acho que estamos perdendo a corrida.

Fonte:
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Arthur C. Clarke (Previsões além de 2001)

NINGUÉM pode ver o futuro. O que tento fazer é esboçar "futuros" possíveis, embora invenções e acontecimentos completamente inesperados possam tornar absurdas as previsões depois de apenas alguns anos. Exemplo clássico é a declaração feita no fim dos anos 40, pelo então presidente da IBM, de o mercado mundial de computadores seria de apenas cinco unidades. Só no meu escritório, tenho mais do que isso.

Talvez eu não esteja em condições de criticar: em 1971, previ o primeiro pouso em Marte para 1994; hoje, será sorte se conseguirmos até 2010. No entanto, em 1951, achei que estava sendo muito otimista ao sugerir uma missão à Lua em 1978. Neil Armstrong e Edwin Aldrin me surpreenderam quase uma década antes. Mas me sinto orgulhoso pelo fato de os satélites comunicações terem sido postos nos locais que sugeri em 1945, e de nome "Órbita Clarke" ser empregado com freqüência (mesmo que apenas por ser mais fácil de dizer do que "órbita geostacionária"). Alguns dos episódios relacionados aqui - as missões espaciais, em particular - já estão programados. Acredito que todos os outros possam acontecer, embora muitos esperam que não.

AS PREVISÕES DE ARTHUR C. CLARKE
2001 - A sonda espacial 'Cassini' (lançada em 1977) começa a exploração dos satélites e anéis de Saturno. A sonda Galileu (lançada em 1989 continua as inspeções de Júpiter e suas luas. Parece cada vez mais provável que haja vida nos oceanos cobertos de gelo de uma delas, Europa.
2002 - O primeiro dispositivo comercial que gera energia limpa e segura por meio de reações nucleares de baixa temperatura entra no mercado, anunciando o fim da Era do Combustível Fóssil.
2003 - São concedidos cinco anos para que a indústria motriz substitua todos os instrumentos que queimam combustível pelo novo dispositivo energético. Neste mesmo ano, é lançada a nave Mars Surveyor, da NASA.
2004 - Primeiro clone humano (admitido publicamente).
2005 - Primeira amostra enviada à Terra pela Mars Surveyor.
2006 - Fechada a última mina de carvão.
2008 - Uma cidade num país do Terceiro Mundo é devastada pela explosão acidental de uma bomba atômica em seu arsenal. Após breve discussão na ONU, todas as armas nucleares são destruídas.
2009 - Criados os primeiros geradores de 'quantum' (para processar energia espacial). Disponíveis em modelos portáteis e domésticos - a partir de alguns quilowatts -, podem gerar eletricidade sem limite. Estações centrais de energia são fechadas: termina a era das torres de transmissão.
A monitorização eletrônica praticamente elimina da sociedade os criminosos profissionais
2011 - Filmado o maior animal vivo: um polvo de 75 metros, próximo às Ilhas Marianas. Por curiosa coincidência, animais ainda maiores são descobertos quando as primeiras sondas por controle remoto perfuram o gelo da lua Europa.
2012 - Aviões aeroespaciais começam a operar na área comercial.
2013 - O príncipe Harry é o primeiro membro da Família Real britânica a voar no espaço.
2014 - A construção do Hotel Hilton Orbital começa com a adaptação dos gigantescos tanques de combustível abandonados pelos ônibus espaciais - tanques que, originalmente, deveriam cair de volta na Terra.
2015 - Um subproduto inevitável do gerador de quantum é o controle absoluto da matéria no nível atômico. Em poucos anos, por serem mais úteis, o chumbo e o cobre passam a custar duas vezes mais do que o ouro.
2016 - As moedas vigentes são abolidas. O "megawatt-hora" torna-se a unidade de troca.
2017 - Ao completar 100 anos no dia 16 de dezembro, sir Arthur C. Clarke é um dos primeiros hóspedes do Hilton Orbital.
2019 - Ocorre um grande impacto meteórico na calota de gelo do pólo norte. As enormes ondas resultantes causam danos consideráveis nas costas da Groelândia e do Canadá. O tão discutido "Projeto Guarda Espacial", que serviria para indentificar e desviar cometas e asteróides potencialmente perigosos, é enfim ativado.
2020 - A inteligência artificial chega ao nível humano. De agora em diante, há duas espécies inteligentes na Terra, uma delas evoluindo de modo muito mais acelerado do que a biologia jamais permitiria.
2021 - O homem chega a Marte.
2023 - Fac-símiles de dinossauros são clonados a partir de DNAs criados em computador. Apesar de alguns lamentáveis acidentes iniciais, ferozes minidinossauros começam a substituir os cães de guarda.
2024 - São detectados sinais infravermelhos vindos do centro da Galáxia, produto evidente de uma civilização tecnologicamente avançada. Falham todas as tentativas de decifrá-los.
2025 - Pesquisas no campo neurológico enfim permitem compreender os nossos cinco sentidos, tornando possível a "ligação direta", que dispensa a intermediação de ouvidos, olhos, pele, etc. O resultado é um capacete metálico, o "chapéu cerebral". Qualquer pessoa que coloque na cabeça esse apertado capacete pode desfrutar de todo um universo de experiências - reais e imaginárias - e até interagir com outras mentes. O chapéu cerebral é uma dádiva para os médicos, que agora podem vivenciar (apropriadamente atenuados) os sintomas do paciente. Também é um avanço no campo jurídico, pois a mentira deliberada não é mais possível.
2040 - O 'replicador universal', baseado na nanotecnologia, é aperfeiçoado: qualquer objeto, por mais complexo que pareça, pode ser criado - desde que se disponha da matéria-prima necessária. Diamantes e delícias culinárias podem ser, literalmente, feitos do barro. Como resultado, a indústria e a agricultura chegam ao fim - assim como o trabalho. Há uma explosão nas artes, no lazer e na educação. Sociedades primitivas, baseadas na caça e na coleta, são recriadas, uma vez que enormes áreas do planeta - agora não mais necessárias para a produção de alimentos - podem retomar seu estado natural.
2045 - A casa móvel totalmente auto-suficiente (imaginada quase um século antes por Buckminster Fuller) é consumada. Qualquer suplemento de carbono necessário para síntese dos alimentos pode ser obtido extraindo-se gás carbônico do ar.
2050 - Entediadas com a vida nesses tempos de tanta paz, milhões de pessoas resolvem usar a preservação criônica com vistas a emigrar para o futuro em busca de aventura. Grandes "hibernáculos" são criados na Antártida e em regiões de noite eterna nos pólos lunares.
2057 - No dia 4 de outubro - centenário do Sputnik 1 -, a aurora da era espacial é comemorada pelo homem na Terra, na Lua, em Marte, Europa, Ganimedes e Titã, além de na órbita de Vênus, Netuno e Plutão.
2061 - O Cometa Halley volta e o homem pousa nele pela primeira vez. A sensacional descoberta de formas de vida tanto ativas quanto latentes comprova a centenária hipótese, de Wickramasinghe e Hoylem, de que existe vida no espaço.
2090 - A queima de combustíveis fósseis realizada em grande escala é retomada, a fim de restituir o gás carbônico extraído do ar e, por intermédio do aquecimento do planeta, tentar retardar a Era Glacial que se aproxima.
2095 - A criação de uma verdadeira 'força espacial' - um sistema de propulsão que reage contra a estrutura do espaço-tempo - torna obsoleto o foguete e garante velocidades próximas à da luz. Exploradores terráqueos partem para galáxias vizinhas.
2100 - Começa a História...

Fonte:
© 1999 ARTHUR C. CLARKE. CONDENSADO DE THE DAYLY TELEGRAPH (21 DE FEVEREIRO DE 1999
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Arthur C. Clarke (Resumo de Alguns Livros)


Expedição para a Terra

Durante a Segunda Guerra Mundial, Arthur C. Clarke trabalhou na operação dos primeiros radares desenvolvidos pelos Aliados e pouco mais tarde escreveu o artigo "Extraterrestrial relays", que lançaria a idéia por detrás do satélite de comunicações geosincrônico - uma das bases da moderna rede de telecomunicações. Ao mesmo tempo que ajudava ao Aliados a detectar a chegada dos foguetes V-2 do Eixo, ele sonhava com o desenvolvimento da viagem espacial. A mistura de conhecimento tecnológico prático, o sonho de explorar as Estrelas e a percepção aguda da época em que vivia daria origem na década de 50 aos contos que fazem parte de "Expedição para a Terra". Contos em que o pesadelo da guerra nuclear divide espaço com a esperança e os perigos da exploração espacial.

No primeiro conto, "Second Dawn (Segunda Aurora)", nós visitamos um mundo alienígena, onde a guerra entre duas raças inteligentes dotadas de grande inteligência e poderes mentais, os Atheleni e os Mithraneans, chegou ao fim com a vitória dos Atheleni... ao custo do desenvolvimento de uma técnica de destruição da mente tão poderosa e ao mesmo tempo tão simples que mais cedo ou mais tarde os antigos inimigos a descobririam e uma guerra definitiva ocorreria... a não ser que algo mudasse suas civilizações tão radicalmente que tornaria a própria guerra absurda. A resposta vêm de uma raça atrasada, os Pheleni, mas dotados de algo que as poderosas mentes dos dois povos não podem ter devido as limitações de seu próprio corpo: habilidade manual e a capacidade de moldar o mundo ao seu redor. Guiados pelos Atheleni, os Pheleni começam a desenvolver uma tecnologia surpreendente... mas será que a mesma capacidade de mudar o mundo para melhor não descobriria algo tão terrível quando a técnica da Loucura: o Poder Atômico?

Um garoto acompanha seu pai em uma peregrinação pela Lua no lírico "If I Forget Thee, Oh Earth ..." (Se eu esquece-la, Oh Terra…), quando a lembrança do antigo planeta, agora destruído por uma guerra nuclear, e o desejo de retornar para casa, se tornam a razão da humanidade continuar em frente.

Com uma temática parecida com o futuro "Maelstrom II", porém com desenvolvimento completamente diferente, "Breaking Strain" (filmado com o titulo de "Acidente Espacial" (Trapped in Space)) narra o duelo psicológico e emocional entre os dois tripulantes da nave Star Queen, o capitão Grant e o engenheiro de bordo McNeil, quando um meteoro atinge os reservatórios de oxigênio da nave, deixando com apenas 20 dias de ar, quando ainda faltam trinta dias para chegar em Vênus. As leis da mecânica celeste não permitem quaisquer mudanças no ritmo da viagem... ambos estarão mortos em vinte dias. Mas espere um pouco, o ar durará vinte dias para *dois* homens, mas se houve apenas *um*... A realização desse fato levará tanto o rigido Grant quanto o hedonistico McNeil a pensarem o impensável... e talvez tentarem o inconcebível.

Em "History Lesson" (Lição de História), Clarke narra o desaparecimento de nossa civilização devido a uma futura Era Glacial e as descobertas feitas por arqueólogos venusianos ao examinar talvez o único registro que eles poderiam entender: um rolo de filme... mas qual filme? Nós descobrimos isso ao final, numa tremenda brincadeira com as nossas tentativas de entender nosso próprio passado.

Um conto de space-opera que critica a lógica da Guerra Fria e a tendência humana de não questionar as conseqüências de suas tecnologias, "Superiority" (Superioridade) é o relato do comandante das forças armadas de um império estelar derrotado, explicando que sua derrota não ocorreu devido as virtudes de seu adversário, mas devido a própria superioridade militar de seu império. Como tal paradoxo é possível? O comandante explica muito bem, terminando com um pedido para Corte, que devido ao relato se torna hilário.

Em "Exile of the Eons", um ditador tenta fugir de seus inimigos usando a técnica da animação suspensa para restabelecer seu império cem anos no futuro. Porém com uma ajudinha da Lei de Murphy e de um filosofo com poderes telepáticos exilados nos últimos dias do Sistema Solar, a justiça tarda... mas não falha, ironizando a ambição e a sede de poder.

Após uma caçada, um homem começa a contar, em "Hide and Seek" (esconde-esconde) um caso que é rir para não chorar: quando o misterioso agente K.15, em uma roupa espacial, escapa da mais poderosa nave do inimigo, ao brincar uma versão planetária de esconde-esconde...

Cientistas de um império estelar que se destruindo encontram um planeta com seres idênticos a eles mesmos, se bem que em um estado extremamente primitivo. As questões que o contato traz, assim como se esses seres que só agora começam a erguer uma civilização, seram capazes de evitar os erros cometidos por seus visitantes dá a "Expedição para a Terra" um toque lírico e melancólico ao conto.

A civilização marciana percebe que os terráqueos começam a desenvolver a tecnologia espacial e o poder atômico. Preocupados que aqueles seres atrasados poderiam ser uma ameaça para sua civilização, os marcianos lançam um ultimato para que a humanidade abandone a pesquisa espacial... só que eles não contavam com uma brecha legal nas Leis da Fisica em "Loophole" (Fenda).

Em "Inheritance" (Herança), descobre-se a razão da confiança de um piloto de teste num fenômeno que lembra muito uma das peças do enredo de "O Fim da Infância"... só que talvez o piloto não tenha entendido muito bem o que sua visão queria dizer...

Durante as primeiras explorações lunares, um geólogo - ou melhor, um selenogista - encontra algo incrível, um artefato claramente artificial, uma pirâmide protegida por um campo de força. Obra de uma antiga civilização selenita ou de alienígenas bem mais antigos e avançados que nós? O descobridor da pirâmide nos conta as suas próprias idéias sobre a função da pirâmide... parece familiar?

Os contos do livro são claramente inspirados na space-opera que dominava o gênero da Ficção Científica na época, só que ao mesmo tempo, mostram um humor e uma critica sutil à sociedade e as tendências da humanidade, raramente vistas na space-opera de então. São contos escritos em uma época que um homem podia temer o amanhã e ao mesmo sonhar com as Estrelas...

A ESTRELA

A Estrela é um conto de ficção científica de Arthur Charles Clarke datado de 1956, que se desenrola depois de uma expedição em visita de uma estrela transformada em supernova milhares de anos antes.

Após observarem o astro percebem um planeta girando a sua volta numa órbita muito distante o que o teria preservado do pior da explosão, e notam os restos de algumas construções artificiais em sua superfície. Ao analisarem de perto estes restos, os pesquisadores concluem que são os últimos vestígios de uma antiga civilização que existia antes da estrela explodir e que, incapazes de escapar do destino fatal, deixaram no último planeta o máximo de informações possíveis a respeito de sua cultura.

Um padre que vai na expedição, se impressiona com a humanidade dos indivíduos daquela civilização e presume que estes seriam seres pacíficos que tiveram um cruel destino, sua compaixão porém se transforma em desespero quando, após vários cálculos, descobre que a estrela em questão era a estrela de Belém, fazendo com que o anunciamento do messias no qual ele acreditava e devotou a vida fosse um ato de genocídio de toda uma espécie inteligente. O conto foi considerado o melhor de 1956.

O SENTINELA
Publicada em 1951 que inspirou 2001 - Uma odisséia no Espaço.

O livro conta a história de uma estrutura piramidal descoberta na Lua que se revela ser uma espécie de radiotransmissor deixado por uma raça alienígena em tempos remotos, a qual havia percebido a possibilidade de se desenvolver na Terra vida inteligente e civilização. Devido à resistência de seus materiais, os terráqueos são obrigados a destruí-la para poderem analisá-la, o que faz com que ela pare de enviar sinais para seus construtores, revelando para estes a presença de mais uma espécie inteligente no universo: os seres humanos (VEJA O CONTO COMPLETO NA POSTAGEM ABAIXO)

A Muralha das Trevas
Escrito em 1949, que narra uma história passada num estranho universo composto de apenas um sol e um planeta.

Este planeta possui uma face tórrida eternamente voltada para o sol e outra, gelada, eternamente na escuridão, na fronteira entre os dois lados, numa estreita faixa de terra circundando o planeta, o clima possibilita a vida de uma civilização onde habita um homem intrigado desde a juventude com o maior mistério de seu mundo: uma imensa muralha negra que circunda todo o planeta impedindo sequer a visão do seu lado escuro, quanto mais o acesso a ele.

Durante toda sua juventude coletou histórias sobre o que existiria além da mesma e porque foi construída, mas encontrava apenas relatos míticos e lendários, como por exemplo, que lá era onde todos iriam após a morte ou onde ficavam antes de nascer, e ainda que fora feito para encerrar algum horror terrível. Já na idade adulta decide por fim junto com um amigo seu arquiteto, construir uma escadaria que levaria até o topo da muralha permitindo ver o que havia atrás dela. Após o término da construção ele chega ao alto da mesma e controlando o medo começa a caminhar em direção a outra borda, no caminho existe uma névoa que impede de ver além e faz com que com o seu avanço o sol atrás dele vá sumindo também até desaparecer de todo, mas quando isso acontece um outro sol idêntico ao que havia sido deixado para trás aparece na sua frente em meio a neblina e conforme vai andando, este novo astro fica mais nítido até aparecer por completo junto com o outro lado, e o protagonista para sua enorme surpresa descobre que é o mesmo lado de onde havia partido, o seu mundo na verdade é uma superfície de um lado só, mesmo sendo de três dimensões, não havendo portanto um outro lado da muralha, que foi construída para proteger da loucura todos os que fossem até aquele ponto, impedindo de verem diretamente um paradoxo espacial.

As Canções da Terra Distante
Conto onde narra o encontro entre os habitantes de uma isolada colônia terrestre no planeta Thalassa e os passageiros de uma imensa nave espacial que aporta no planeta devido a um defeito técnico.

Na história uma jovem de Thalassa apaixona-se de um dos ocupantes da nave, que promovem um choque cultural, porém seu amor é sem esperança por causa do comprometimento do rapaz com uma mulher que jaz congelada dentro da nave a espera do destino final da viagem, 200 anos-luz de distância.

2001: A Space Odyssey, ou 2001: Uma odisséia no espaço
É para muitos críticos, um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos. Foi realizado em 1968 pelo cineasta Stanley Kubrick, natural dos Estados Unidos da América.
Este filme, com uma duração total de 139 minutos e apenas 40 de diálogo, analisa a evolução do Homem, desde os primeiros hominídeos capazes de usar instrumentos, até à era espacial e para além disso. Foi baseado nas obras de Arthur C. Clarke The Sentinel e 2001: A Space Odyssey, esta última escrita simultaneamente com as filmagens.

Uma das personagens principais do filme é o computador inteligente HAL 9000, uma das máquinas mais famosas da História do Cinema. A crítica viu no nome do computador uma referência velada à IBM, pois as letras da sigla precedem em uma casa a denominação da conhecida empresa estado-unidense do sector informático. Kubrick, no entanto, desmentiu essa tese, dizendo que isso não passou de uma coincidência.

Outros destaques do filme são os seus efeitos especiais pioneiros, e a sua trilha sonora, composta entre outras por obras de Richard Strauss (Assim Falou Zaratustra), e Gyorgy Ligeti (Lux Aeterna), sendo este último repetente nos filmes de Kubrick. Uma curiosidade sobre a trilha sonora do filme: Kubrick solicitou ao seu colaborador em Spartacus, Alex North, que compusesse a trilha sonora para a película. Depois de escutar o resultado, o diretor de "2001..." não ficou satisfeito e optou pela música clássica para dar vida às famosas cenas no espaço. North só soube que sua trilha tinha sido jogada no lixo no dia da estréia do filme, e ficou furioso.

Posteriormente foi lançado o livro "Mundos Perdidos de 2001" (The Lost Worlds of 2001), no qual Clarke conta a história do filme, a do livro e outras inéditas. No Brasil foi lançado pela editora Expressão e Cultura em 1972. Em 1984 foi lançada a sequência 2010: O ano que faremos contato, baseado na obra homônima de Arthur C. Clarke, lançada em 1982.

2010 - Uma Odisséia no Espaço II (2010: Odyssey Two)
Também levado às telas. Com o título de 2010 - O Ano em que faremos contato, Na verdade uma continuação do filme e não do livro. O ambiente para a narração é uma missão binacional (soviéticos e americanos) a bordo da nave espacial Cosmonauta Alexei Leonov que parte em direção a Júpiter, a bordo encontra-se o cientista Heywood Floyd. Propõe-e a responder algumas das questões deixadas em aberto em 2001. Tais como: Quais são os objetivo ocultos por trás do monolito? O que aconteceu com a Discovery e sua tripulação? O que aconteceu em especial a David Bowman? Quem, ou o que, era a criança-estrela do final do filme? O climáx ocorre com a tranformação de Júpiter em um mini-sol e o início de um novo tempo para a Humanidade num mundo sem noite.

2061 - Uma Odisséia no Espaço III (2061: Odyssey Three)
Heywood Floyd, agora com 103 anos, volta a cena. Ele parte numa nave em missão turística ao Cometa de Halley, mas acaba indo parar em Europa, o satélite proibido quando uma nave cai alí com seu neto a bordo. O monolito volta a mostrar seu poder a serviço de uma suprema força alienígena que decidiu que a Humanidade terá que, forçosamente, desempenhar um papel fundamental na evolução da Galáxia.


3001 - A Odisséia Final. (3001 - The Final Odissey)
Lançado em 1997, é aquele que pretende encerrar a saga iniciada em 2001 e dar as respostas finais. Principia com a descoberta do corpo do astronauta Frank Poole, que havia sido abandonado no espaço por uma manobra do computador HAL-9000. Poole é ressuscitado com as técnicas da época, onde a rigor a morte não existe mais.


O fim da Infância (Childhood's End - 1953)
A chegada de seres alienígidas na Terra é seguida com o próximo passo na evolução humana em direção a "inteligência cósmica". Esta raça alienígena tem uma incrível semelhança com demônios (vermelhos, chifres, caudas em seta...) e vem para anunciar o fim da infância para a espécie humana.

O Outro Lado do Céu (The other side of the sky - 1958)
Coletânea de contos onde estão incluídos dois dos maiores clássicos em matéria de contos de ficção científica: Os Nove Trilhões de Nomes de Deus e A Estrela.

Os Náufragos do Selene (A Fall of Moondust - 1961)
Selene é uma nave de turismo que, devido a um acidente na poeira lunar, submerge no Mar da Sede. Em seu interior vinte pessoas lutam para sobreviver à custa de todas as possiblidades.


Sobre o Tempo e as Estrelas (Of Time and Stars - 1972)
Coletânea de contos que reune contos publicados entre 1949 e 1962.



Encontro com Rama (Rendez-vous with Rama - 1973)
No final do século XXI após uma tragédia ocorrida com a queda de um meteoro, a Terra cria um sistema de proteção que em 2130 a Terra, detecta uma nave espacial alienígena de 50 quilômetros de extensão penetrando no sistema solar e aproximando-se de nosso planeta. Uma nave é enviada com missão de interceptar e explorar a gigantesca nave e descobrir quais são os desígnios por trás de sua aparição. Serão hostis invasores ou arautos de uma nova era para a espécie humana? Mistério e beleza se fundem neste maravilhoso livro que nos leva a refletir sobre a importância do homem e da espécie humana como um todo na ordem do universo. Um clássico vencedor dos prêmios Hugo e Nebula.

O Enigma de Rama (Rama II)
Continuação de Encontro com Rama, narra as aventuras de uma nova expedição destinada a descobrir qual os propósitos ocultos atrás da segunda aparição de Rama.

O Jardim de Rama (The Garden of Rama)
Dando seguimento a saga de Rama, o livro narra a viagem dos tripulantes da segunda expedição (O Enigma de Rama) que são deixados para trás quando o resto da tripulação abandona Rama às pressas. Parte dos propósitos de Rama é finalmente revelado.

A Revelação de Rama
Último livro da série, aqui finalmente os propósitos dos construtores de Rama é decifrado.

O berço dos Super-Humanos (Cradle - 1988)
Escrito a duas mãos por Arthur C. Clarke e Gentry Lee, narra a história de três aventureiros em busca de um míssil secreto desaparecido encontram uma gruta submarina vigiada por baleias que parecem drogadas. Inicia-se assim uma aventura que o conduzirá pelos mistérios de um planeta com dois sóis, três luas, fantásticas criações e uma assombrosa revelação sobre o destino reservado para a humanidade.

Terra Imperial (Imperial Earth)
A narrativa se passa em Titã uma das luas de Saturno e colônia da terra e conta a história de um homem nascido na era interplanetária. Sua primeira peculiaridade é ter nascido sob um novo processo, já que não teve mãe, apenas pai. Já homem retorna à Terra. A ação de passa no século XXIII e decorre em ambiente cheio de enigmas e mistérios.

A Cidade e as Estrelas (The City and the Stars)
Passaram-se um bilhão de anos, o homem alcançou as estrelas, constituíu um império galático, mas vieram os invasores e o homem foi obrigado a abandonar todas as suas conquistas e refugiar no seu planeta de origem, e assim o homem volta e passa a habitar na última cidade do mundo, Diaspar. Uma sociedade fechada e imutável, com um bilhão de anos.

O Vento Solar
Coletânea de contos. Inclui o premiado conto Encontro com Medusa.

O Terceiro Planeta
Coletânea de artigos e crônicas, que se inicia com um conto bastante interessante e elucidativo quanto aos parâmetros que são adotados pela ciência, intitulado Relatório Sobre o Planeta Três, onde tal documento é encontrado numa expedição arqueológica a Marte, revelando as razões para a não existência de vida na Terra.

As fontes do paraíso
Considerado pelo próprio Arthur Clarke como seu melhor romance.