sexta-feira, 15 de abril de 2011

Marcelo Spalding (História da leitura) III - A Imprensa de Gutenberg

Exemplar da Biblia de Gutemberg
Johannes Gutenberg, apesar de ser considerado o inventor da imprensa, não foi propriamente o primeiro a desenvolver tal tecnologia. Hoje se sabe que os chineses haviam desenvolvido tipos móveis por volta de 1045 e que os coreanos utilizavam caracteres metálicos em vez de blocos de madeira por volta de 1230. Ao contrário das inovações surgidas no Extremo Oriente, porém, foi a invenção de Gutenberg que se propagou de forma avassaladora.

A impressão por tipos móveis, ou imprensa, é um método industrial de reprodução de textos e imagens sobre papel ou materiais similares que consiste em aplicar uma tinta, geralmente oleosa, sobre peças metálicas chamadas de tipos, que a transferem para o papel por pressão. Ainda que fosse um método artesanal, pois era preciso compor com os tipos móveis palavra a palavra, página a página, mostrou-se muito veloz e prático para seu tempo, permitindo a produção de diversos exemplares com o mesmo molde.

O primeiro livro impresso por Gutenberg foi a Bíblia, conhecida hoje como a Bíblia de Gutenberg ou a "Bíblia de 42 linhas". A data mais provável para a publicação é entre 1452 e 1455 (não há nenhuma data no colofão, isto é, na nota informativa encontrada nas últimas páginas dos livros antigos). Uma cópia dessa Bíblia completa tem 1282 páginas e a maioria foi encadernada em pelo menos dois volumes. Acredita-se que tenham sido impressas 180 cópias, 45 em papiro e 135 em papel, e depois de impressas elas foram rubricadas e ilustradas à mão por especialistas, uma a uma, o que faz com que cada cópia seja única, um incunábulo de valor inestimável .

Há uma cópia da Bíblia de Gutenberg na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Além disso, a Universidade do Texas, em Austin, digitalizou cada página de sua cópia e disponibilizou as 1300 imagens digitais no site http://www.hrc.utexas.edu/exhibitions/permanent/gutenberg/project/, acessível a qualquer internauta.

Em geral, se atribui à invenção da imprensa o marco de mais importante revolução nos suportes para a leitura, sendo que alguns chamam de livro apenas os códices impressos a partir dessa tecnologia. Roger Chartier, entretanto, em A aventura do livro, afirma que "a transformação não é tão absoluta como se diz: um livro manuscrito (sobretudo nos seus últimos séculos, XIV e XV) e um livro pós-Gutenberg baseiam-se nas mesmas estruturas fundamentais - as do códex". Evidentemente que, com a nova técnica, "o custo do livro diminui, através da distribuição das despesas pela totalidade da tiragem. (...) Analogamente, o tempo de reprodução do texto é reduzido graças ao trabalho da oficina tipográfica".

É interessante percebermos, nesse sentido, que por muito tempo o códice manual tenha coexistido com o códice impresso, o que não nos permitiria falar, realmente, em uma ruptura. Nas palavras de Chartier:

"Com Gutenberg, a prensa, os tipógrafos, a oficina, todo um mundo antigo teria desaparecido bruscamente. Na realidade, o escrito copiado à mão sobreviveu por muito tempo à invenção de Gutenberg, até o século XVIII, e mesmo o XIX. Para os textos proibidos, cuja existência devia permanecer secreta, a cópia manuscrita continuava sendo a regra. O dissidente do século XX que opta pelo samizdat, no interior do mundo soviético, em vez da impressão no estrangeiro, perpetua essa forma de resistência. De modo geral, persistia uma forte suspeita diante do impresso, que supostamente romperia a familiaridade entre o autor e seus leitores e compreenderia a correção dos textos, colocando-os em mãos "mecânicas" e nas práticas do comércio"

Mais do que uma revolução na forma de ler, a imprensa representou uma popularização jamais vista do livro. Foi apenas com a imprensa, por exemplo, que A Divina Comédia, de Dante Alighieri, escrita entre 1307 e 1321, tornou-se conhecida e forjou o idioma italiano.

Fora dos domínios da arte, porém, a nova técnica logo se mostrou uma ameaça ao domínio da Igreja Católica. Martinho Lutero, padre e professor de teologia alemão, em torno de 1500 d.C. começa a promover a tradução da Bíblia para outros idiomas que não o latim, e chega a dar Bíblia aos fiéis, provocando uma verdadeira convulsão na Igreja e iniciando a Reforma Protestante.

Como parte da reação da Igreja, é criado em 1559, no Concílio de Trento, o Index Librorum Prohibitorum, um catálogo de livros proibidos pela Igreja (tal catálogo foi atualizado regularmente até a trigésima-segunda edição, em 1948), evidenciando a importância que o livro já havia adquirido naquela sociedade menos de cem anos após a impressão da primeira Bíblia de Gutenberg.

Vale salientar que este tipo de catálogo é a primeira ocorrência sistemática e ordenada alfabeticamente de nomes de autores e livros, numa época anterior à valorização do trabalho do autor e muito anterior aos direitos autorais, o que significa que "antes de ser detentor de sua obra, o autor já encontra-se exposto ao perigo pela sua obra", lembra Chartier.

Uma imagem dessa época tornou-se emblemática na história dos livros e, infelizmente, é repetida até os dias de hoje: a fogueira de livros, onde não se queimam mais (apenas) pessoas, mas suas ideias, registros e representações. Miguel de Cervantes, no célebre Dom Quixote, de 1605, tematiza tanto a ânsia pela queima de livros que assola sua época como a leituromania que toma conta de parcela da população.

Lembremos, nesse sentido, as palavras do capítulo inicial de Dom Quixote:

"Em suma, tanto naquelas leituras se enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os dias de escuro em escuro, e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de encantamentos, como pendências, batalhas, desafios, feridas, requebros, amores, tormentas, e disparates impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de sonhadas invenções que lia, que pare ele não havia história mais certa no mundo."

A seguir, no sexto capítulo, é narrada a limpeza que o padre-cura, o barbeiro e a sobrinha de Quixote fizeram na sua biblioteca enquanto ele dormia, com diálogos interessantíssimos que evidenciam inclusive o desconhecimento e o caráter ocultista que o livro trazia para a parcela mais pobre da população, algo que em algum momento nossa geração também vivenciou em relação às tecnologias digitais.

"Pediu à sobrinha a chave do quarto em que estavam os livros ocasionadores do prejuízo; e ela a deu de muito boa vontade. Entraram todos e com eles a ama; e acharam mais de cem grossos e grandes volumes, bem encadernados, e outros pequenos. A ama, assim que deu com os olhos neles, saiu muito à pressa do aposento, e voltou logo com uma tigela de água benta e um hissope, e disse:

- Tome Vossa Mercê, senhor licenciado, regue esta casa toda com água benta, não ande por aí algum encantador, dos muitos que moram por estes livros, e nos encante a nós, em troca do que nós lhes queremos fazer a eles desterrando-os do mundo.

Riu-se da simplicidade da ama o licenciado, e disse para o barbeiro que lhe fosse dando os livros a um e um, para ver de que se tratavam, pois alguns poderia haver que não merecessem castigo de fogo.

- Nada, nada - disse a sobrinha -; não se deve perdoar a nenhum, todos concorreram para o mal. O melhor será atirá-los todos juntos pelas janelas do pátio, empilhá-los em meda, e pegar-lhes o fogo; e senão, carregaremos com eles para o quintal e ali se fará a fogueira, e o fumo não incomodará."

O célebre romance de Cervantes, considerado por muitos como o primeiro romance moderno da literatura, ainda revela em sua segunda parte, publicada em 1615, uma outra faceta da produção livresca desse período: a pirataria. Já no prólogo, Cervantes, dirigindo-se ao leitor, acusa a existência de continuações à revelia de sua criação, ainda que usem o nome de seu protagonista:

"(...) Mas como a virtude dá alguma luz de si, ainda que seja pelos inconvenientes e vestígios de estreiteza, vem a ser estimada pelos altos e nobres espíritos e, portanto, favorecida. E não lhes diga mais, eu quero dizer-te mais a ti, senão advertir-te que esta segunda parte de Dom Quixote que te ofereço é cortada pelo mesmo oficial e no mesmo pano que a primeira, e que te dói nela Dom Quixote dilatado, e finalmente morto e sepultado, para que ninguém se atreva a levantar-lhe novos testemunhos, pois já bastam os passados, e basta também que um homem honrado desse notícia destas discretas loucuras, sem querer de novo entrar com elas; que a abundância das coisas, ainda que sejam boas, faz com que se não estimem, e a carestia ainda das más, alguma coisa se estima."

Nesse sentido é interessante lembrarmos que hoje, com a internet, fala-se muito do problema de confiabilidade sobre os textos, pois eles podem ser alterados facilmente por erro ou intenção de quem o publica, mudando inclusive o nome do autor. Esse problema, entretanto, não é novo, e na época do surgimento da imprensa foi extremamente grave.

Robert Darnton relata, por exemplo, diferenças importantes encontradas na obra de Shakespeare, com trechos distintos de uma edição para a outra: "qual escolher? Não podemos saber a intenção de Shakespeare, pois nenhum manuscrito de suas peças sobreviveu". Segundo o autor, a solução era identificar trechos deturpados nas primeiras versões impressas, e assim foi identificado determinado tipógrafo que "compôs outros nove quartos de peças shakespearianas ou pseudoshakespearianas, usando edições mais antigas como base. Ao encontrar uma frase que considerava deficiente, ele a 'melhorava'".

Não que esse tipo de problema não acontecesse no tempo dos escribas. Como lembra Chartier, "a mão do escriba pode falhar e acumular os erros". Na era do impresso, entretanto, "a ignorância dos tipógrafos ou dos revisores, como os maus modos dos editores", trazem riscos ainda maiores: "de modo geral, persistia uma forte suspeita diante do impresso, que supostamente romperia a familiaridade entre o autor e seus leitores e compreenderia a correção dos textos, colocando-os em mãos 'mecânicas' e nas práticas do comércio".

De qualquer forma, com ou sem erros dos tipógrafos, o livro se consolida como um objeto importante para a sociedade moderna que se forma, com seus povos e línguas próprios, acumulação de riquezas estatais e particulares, lutas por espaços e exploração dos mares, perda da hegemonia católica, efervescência cultural renascentista, consolidação das Universidades e expansão da alfabetização. Mais do que registrar a cultura e as ideias de sua época, o livro impresso permite a propagação dessas ideias, e a quantidade de suas edições fez com que alguns exemplares se conservassem até os séculos seguintes, criando aos poucos um cânone fundamental para se pensar numa literatura ocidental.

Não por acaso, Harold Bloom, ao listar os cem maiores escritores de todos os tempos no seu polêmico Genius: a mosaic of one hundred exemplary creative minds, cita apenas onze autores anteriores à invenção da imprensa de Gutenberg, incluindo Dante, Maomé, o apóstolo Paulo, Platão e Homero e oitenta e nove posteriores ao livro impresso. Poderíamos afirmar que foi o livro impresso que forjou a figura do escritor, e ainda precisariam mais alguns séculos para forjar também a profissão de escritor.

Chegamos, assim, no alvorecer da era das máquinas, símbolo central do período histórico que ficou conhecido como Revolução Industrial, tema de nossa próxima coluna.
==============
Continua… IV – A Ascenção do Romance
–––––––––––
I - As Tábuas da Lei e o Rolo/ II - O Códice Medieval
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/03/marcelo-spalding-historia-da-leitura.html

===========
Fonte:
Colaboração do autor.
Artistas Gaúchos

Roberto Pinheiro Acruche (Meus Poemas Nº 11)


SONHOS NAUFRAGADOS

Um peixinho prisioneiro
fora do seu hábitat
sofre no cativeiro
olhando as águas do mar.

Vendo a sua sombra
em outro plano a nadar
imagina não estar só
preso naquele lugar.

Ao vê-lo assim, imagino,
para onde irão levá-lo
e quantos sonhos ficaram
lá no fundo do mar.

Assim vive tanta gente
pelo mundo a lamentar
em aparente liberdade,
prisioneira... e na verdade,
sem o direito de sonhar!

A PRIMEIRA VISTA

Quando a vi, pela primeira vez,
os meus olhos traduziram: é ela...
Não havia mais dúvidas... nem talvez...
Apaixonei-me pelo seu encanto,
pelo porte, pela alegria que irradiava.

Foi o amor que deflagrou, como um raio
que se arroja durante a tempestade;
invadindo-me o peito,
se alojando no coração.

Procurei viver esse amor... e vivi!
Nele encontrei a explosão da felicidade.
Era como ver toda a beleza do universo
ao mesmo tempo; sonhar o sonhos mais lindos,
descobrir todos os mistérios da magia,
mergulhar num mar de flores,
de poesias e fascinação.

Agora, tudo está acabado,
estou pagando os meus pecados
e o que detona dentro do peito,
é a saudade!

INDAGAÇÕES

Por que chora em meus braços
perdida nos abraços
quando mais intenso
é o nosso enlace?

Por que esta lágrima sentida,
sofrida, que encharca o seu rosto
precisamente no momento
que o prazer atinge e
invade todo o seu ser?

Por que arrasta o lençol
se cobrindo parcialmente
e anda para disfarçadamente
continuar a enxugar
as lágrimas incontidas?

De maneira dissimulada
esboçando um sorriso,
volta a me abraçar
e responde: Nada não, bobagem!

IPÊ AMARELO

Postado na janela
da casinha onde morava,
de longe eu olhava
para uma árvore seca,
morta, entre tantas outras
de folhagem espessa e exuberante.
Admirava cada uma daquelas
com seus contornos e ramagem multiverde
que instituíam um quadro fascinante,
primorosamente desenhado pela natureza...
E apiedava daquela cujo tronco,
aparentemente infecundo
e galhada totalmente desfolhada,
feia, desfigurada,
que certamente seria cortada,
em lenha transformada,
para alimentar o forno de alguma bolandeira.
Outro dia,
quando voltava à vista para a mesma direção,
um novo visual me chamou a atenção;
deparei-me com uma aquarela;
e aquela árvore de galhada seca, estava florida,
unicolorida, totalmente amarela...
Encantadoramente bela!
Os meus olhos em princípio,
diante da admiração,
ficaram nela fixados;
depois buscavam em todas as direções
algo que pudesse ser comparado
com tamanha perfeição.
O seu brilho parecia reluzir
como se fosse ela
uma estrela entre as outras espécies.
A sua cor destacava-se,
a beleza refletida era tão fascinante e divina,
que por bucólica sina
acreditei, entre os devaneios meus,
estar assistindo mais do que uma obra prima da natureza;
e que ali, só poderia estar repousando,
a sublime luz de Deus!

Fonte:
Colaboração do Autor

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XIII – A Fonte das Três Comadres


Havia um rei que cegou. Por mais que os médicos o tratassem com quanto remédio havia, não recobrava nem um pingo de vista. Certa vez bateu no palácio uma mendiga, a pedir esmola; sabendo da cegueira do rei, disse que desejava ensinar-lhe um bom remédio.

O rei a recebeu.

— Saiba S. Majestade que só existe no mundo uma coisa capaz de curar a cegueira, e é banhar os olhos com água da fonte das Três Comadres. Mas é muito difícil obter essa água. Quem for buscá-la tem que entreter-se com uma velha que mora por lá; só essa velha pode dizer se o dragão que toma conta da fonte está acordado ou dormindo.

E contou o caminho para chegar à fonte. O rei agradeceu-lhe a informação e presenteou-a com um saco de moedas de ouro. Em seguida ordenou que uma esquadra saísse com seu filho mais velho em busca da tal água milagrosa, e recomendou ao príncipe que não se distraísse com coisa nenhuma, e que estivesse de volta dentro de um ano.

O príncipe partiu. Depois de muito navegar, chegou a um reino muito rico, onde saltou em terra e caiu na folgança com as lindas moças que lá havia. Gastou todo o seu dinheiro, fez dívidas e ao esgotar-se o prazo nem coragem teve de voltar para casa.

O rei, muito aborrecido, mandou aprestar outra esquadra, que partiu levando o filho do meio. Esse moço foi também .ao tal reino, onde igualmente se enfeitiçou pelas moças bonitas, esquecendo o pai cego e a água milagrosa.

Mais um ano se passou sem que ele voltasse. O rei quase morreu de desgosto.

Foi então que o filho mais novo se apresentou dizendo:

— Meu pai, deixe-me ir, que juro trazer a água maravilhosa.

O rei riu-se.

— Como? Não vês que és uma criança? Se teus irmãos, homens feitos, nada conseguiram, que esperas conseguir, tu que ainda estás tão perto dos cueiros?

Mas tanto o principezinho insistiu que o rei cedeu, pensando lá consigo que donde menos se espera é que as coisas vêm. Deu-lhe uma esquadra e o menino partiu.

Também essa esquadra foi ter ao reino das moças perigosas, onde os dois príncipes se achavam encarcerados por dívidas. O principezinho pagou as dívidas deles, único meio de os restituir à liberdade. Esses maus príncipes, porém, deram-lhe maus conselhos — que ficasse ali, que desistisse de achar a tal água, etc. Mas o principezinho não cedeu. Tocou a esquadra para diante.

Chegou por fim ao reino onde era a fonte, e tanto fez que descobriu a velha do dragão. Vendo aquele meninote com uma garrafa vazia debaixo do braço, a velha espantou-se.

— Que vem fazer aqui, meu netinho? Não sabe que o perigo é grande e ninguém escapa ao dragão? Esse monstro não passa duma princesa encantada, que devora todas as criaturas que se aproximam da fonte.
Mas o principezinho contou sua história e insistiu para que a velha o ajudasse.

— Está bem — disse ela. — Aproxime--se do dragão sem ser visto e espie se está de olhos abertos ou fechados. Se estiver de olhos abertos é que está dormindo, e se estiver de olhos fechados é que está acordado. Por não saber disto muita gente foi devorada pelo monstro.

O principezinho agradeceu o aviso e partiu. Aproximou-se cautelosamente do dragão. Espiou. Estava de olhos abertos. "Bem — disse ele consigo — o dragão está dormindo" — e avançou com a garrafa na direção da fonte para enchê-la. Mas o monstro fechou os olhos e saltou sobre ele. O principezinho não teve medo. Puxou da espada e enfrentou-o. Luta que luta, de repente conseguiu dar-lhe um golpe certeiro. O sangue espirrou do dragão, que imediatamente se transformou na mais linda princesa que se possa imaginar.

— Tu me desencantaste, principezinho — disse ela — e minha sorte me manda casar contigo. Dou-te um ano para voltares. Se não voltares irei em tua procura. Toma este lenço como sinal. Adeus

O príncipe regressou, muito alegre, para o reino de seu pai. Em caminho apanhou os irmãos no reino das moças bonitas e levou-os também. Mas esses maus irmãos armaram-lhe uma boa peça. Com o fim de roubarem a água milagrosa, que ele guardava num baú cuja chave trazia num fio ao peito, prepararam um grande banquete a bordo, com muito vinho. E tanto fizeram que o embebedaram, e lhe tiraram a chave, trocando lá no baú a garrafa de água milagrosa por água à-toa do mar.

Quando a esquadra chegou ao reino do rei cego, os príncipes foram recebidos com grandes festas. O principezinho contou toda a sua viagem e entregou ao pai a garrafa de água milagrosa. O efeito, porém, foi um desastre. Em vez de curar a cegueira, deixou-a ainda pior. Os maus príncipes, então, adiantaram-se e disseram que o principezinho não passava dum impostor, pois trouxera água do mar em vez de água milagrosa. O rei que experimentasse a que eles haviam trazido — e mostraram a garrafa de água da fonte. O rei experimentou-a e imediatamente sarou da cegueira.

Houve grandes festas em todo o reino, mas o principezinho foi condenado à morte pela sua impostura. Os carrascos, entretanto, tiveram dó dele, e em vez de matá-lo, como ordenara o rei, apenas lhe cortaram um dedo como prova, soltando-o em seguida na floresta.

O pobre moço foi ter à casa de um lenhador, a quem pediu emprego. Foi ajustado como escravo e muito judiado. E o prazo de um ano concedido pela princesa chegou ao fim sem que o coitadinho pudesse pensar em ir procurá-la tão longe. Vendo que o seu desencantador não vinha, a princesa mandou aparelhar uma esquadra e partiu em sua procura, conforme prometera.

Quando a esquadra chegou ao reino, a princesa mandou um emissário, ricamente vestido, dizer ao rei que tinha combinado casamento com o príncipe que a desencantara, e agora estava ali para dar cumprimento à promessa. E que mandasse a bordo o príncipe, sob pena de seus navios abrirem fogo contra a cidade, incendiando-a.

O rei, muito agoniado, teve de ceder, e o príncipe mais velho apresentou-se a bordo como sendo o desencantador da princesa.

— Homem atrevido! — gritou esta — como ousa fingir ser quem não é? Onde está o lenço que dei ao meu desencantador?

O príncipe voltou para terra, muito triste. O rei então mandou o do meio. O resultado não foi melhor, e a princesa, furiosa, fez outra intimação ao rei. Ou mandava o príncipe verdadeiro ou os seus canhões bombardeavam a cidade, destruindo tudo.

O rei ficou aflitíssimo, porque o príncipe mais novo havia sido executado por sua ordem. Estava a arrancar as barbas no maior desespero, quando os carrascos vieram dizer que não o tinham matado, mas apenas se limitado a cortar-lhe um dedo. Suspirando de alívio, o rei deu ordem para que procurassem o principezinho, com grandes recompensas a quem o descobrisse.

O lenhador que conservava o príncipe como escravo ficou mais morto do que vivo quando soube de tudo. Botou-o às costas e lá se foi ao palácio do rei, chorando de alegria e medo.

Estava o pobre príncipe em miserável estado de sujeira, vestido de andrajos. Tiveram de lavá-lo e vesti-lo com as suas roupas deixadas no palácio, por sinal que curtas e apertadíssimas. Enquanto faziam esses preparativos, o prazo dado pela princesa, de bombardear a cidade, ia chegando ao fim. Os canhões já estavam apontados. Mas tudo correu bem. O principezinho entrou no navio da princesa e mostrou-lhe o lenço.

— Agora sim — disse ela — reconheço em ti o meu desencantador — e seguiu com ele para o seu reino, onde se casaram e foram muito felizes. Os príncipes maus, esses tiveram o castigo merecido. Foram amarrados à cauda de cavalos bravos para morrerem despedaçados.
––––––––––––
— Continua o negócio do número três — disse Emília. — Tudo tem que ser três! O povo não passa sem um rei e três príncipes, dois maus e um bom. E o bom é sempre o mais criança.

— E o castigo dos maus — ajuntou Narizinho — também é sempre o mesmo: amarração em cauda de cavalo ou burro bravo. Acho muito bárbaras essas histórias.

-- É que vêm de muito longe — disse dona Benta. — Se fossem histórias de hoje, teríamos automóveis em vez de forcas, e não veríamos nunca esse horrendo castigo do despedaçamento por burros bravos. O povo, muito conservador, repete hoje as mesmas histórias contadas na Idade Média, tempo em que enforcar gente correspondia a um divertimento público, como hoje ir ver fitas.

— Mas se os contadores vão alterando as histórias — disse Pedrinho — por que conservam essas barbaridades?

— As alterações são só na cor local, em detalhes superficiais. Na essência, no fundo, as histórias não são alteradas. Por isso aparecem tantos príncipes, tantos reis, tanta forca e tanto burro bravo — explicou dona Benta.

— E os dragões e encantamentos?

— Também coisas da Idade Média. Naquele tempo a imaginação popular andava povoada de monstros. Um dia havemos de ler o poema de Ariosto, Orlando Furioso, no qual vocês verão que delírio de pesadelo era a cabeça da gente medieval. As histórias que correm entre o nosso povo são reflexos da era mais barbaresca da Europa. Os colonizadores portugueses trouxeram essas histórias e soltaram-nas por aqui — e o povo as vai repetindo, sobretudo na roça. A mentalidade da nossa gente roceira está ainda muito próxima da dos primeiros colonizadores.

— Por que, vovó?

— Por causa do analfabetismo. Como não sabem ler, só entra na cabeça dos homens do povo o que os outros contam — e os outros só contam o que ouviram. A coisa vem assim num rosário de pais. a filhos. Só quem sabe ler, e lê os bons livros, é que se põe de acordo com os progressos que as ciências trouxeram ao mundo.
–––––––––––––
Continua… XIV – A Rainha que Saiu do Mar
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 186)


Uma Trova Nacional

Resgatei o meu passado
e a noite outonal de abril
ao ver no espelho embaçado,
a sombra do teu perfil!
–LISETE JOHNSON/RS–

Uma Trova Potiguar

Amor é afeto, é verdade,
entrega, companheirismo...
Tudo junto - e lealdade -
bem dosados com lirismo.
–GONZAGA DA SILVA/RN–

Uma Trova Premiada

1988 - São Paulo/SP
Tema: LIVRO ; M/H

Cada página que é escrita
para o livro de nós dois
diz que é ainda mais bonita
a história que vem depois.
–VANDA FAGUNDES QUEIRÓZ/PR–

...E Suas Trovas Ficaram

Traí no amor... e, depois,
nenhum de nós teve vez...
e o perdão, que era de dois,
foi dividido por três!
–LAVÍNIO G. DE ALMEIDA/RJ–

Simplesmente Poesia

–ZÉ REINALDO/AL–
Ao Meu Filho.

Não me deixes só, meu filho,
sozinho não te deixei.
Quando eras pequenino,
eu ao teu lado fiquei,
agora deves me dar
toda atenção que te dei.

Depressa passou o tempo
roubando todo o meu brilho,
me sinto tão indefeso
que fiz esse trocadilho:
- Ontem eu era o teu pai,
hoje sou como teu filho.

Estrofe do Dia

Relembrando o meu tempo de criança
A saudade tornou-se companheira
Quando alegre, papai ia pra feira
E voltava com as compras na tardança
Eu menino, nutrido de esperança
A espreita de um brinde como agrado
Esperava meu pai todo animado
Quando o carro parava eu já corria
Vou no trem da saudade todo dia
Visitar o lugar que fui criado
–HÉLIO CRISANTO/RN–

Sonetos do Dia

–PROF. GARCIA/RN–
Sentimentos

Quando o dia se apressa e vai embora,
num silêncio que fere e que angustia,
a tristeza me invade e me devora,
nas horas sepulcrais, do fim do dia.

Como quem diz adeus e triste chora,
vai-se o sol delirando de agonia,
e a cortina da noite, Deus decora,
com luz tênue, de vã melancolia.

Distante, bem distante, muito além,
a tristeza me acena, como quem
se despede de alguém, que já morreu,

foi apenas a luz de um dia lindo,
que cansada, acenou quase dormindo
e nos braços da noite adormeceu!

–JOÃO BATISTA XAVIER/SP–
O Amanhecer da Esperança.

Quando a esperança dorme em plena aurora
fico pensando... o que será da vida:
---corpo dormente ou alma entorpecida.
(indiferença que a penumbra adora)

As flores refulgentes da avenida
em sendas se dissolvem sem demora;
a brisa breve em lágrima evapora
a dádiva em delírio amanhecida.

Sem esperança nada tem sentido.
O amor maior é o céu ao mar unido;
universo de abraços fraternais.

Se a estrada é longa e a dor é consistente
DEUS nos anima em paz onipresente:
sem esperança amanhecer jamais!

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Paulo Leminski (Esta Vida é uma Viagem)


esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem


Fonte da Imagem:
http://viverepensar.wordpress.com

Poesia do Cabo Verde


Oswaldo Alcântara
FILHO

Nicolau, menino, entra.
Onde estiveste, Nicolau,
que trazes a arrastar
o teu brinquedo morto?

Nicolau, menino, entra.
Vem dizer-me onde foi que tu estiveste
e a estrela fugiu das tuas mãos.

Tens comigo o teu catre de lona velha.
Deita-te, Nicolau, o fantasma ficou lá longe.

Dorme sem medo.
Porão, roça, medos imediatos,
tudo ficou lá longe.

Quando acordares a jornada será mais longa.

Nicolau, menino,
onde foi que deixaste
o corpo que te conheci?
Deus há-de querer que o sono te venha depressa
no meu catre.

Terêncio Anahory
NHA CODÊ

Tiraram o lume dos teus olhos
e fizeram braseiro
para aquecer a noite fria;
noite de qualquer dia.
Roubaram o teu riso
e encheram de gargalhadas
de luz e de música
as suas reuniões frustradas.
Da tua pele fizeram tambor
para nos ajuntar no terreiro!
Dondê nha Codê?
Não
não mataram o meu filho
que eu sei que o meu filho não morre.

(Se choro
são saudades de nha Codê...)

Nha Codê vive
na evocação de um mundo distante
no riso e no choro das ervas rasteiras
na solidão dos campos
nas pândegas de marinheiros
na vida que nasce e morre
em cada dia que passa!

... E em mim
essa saudade de nha Codê!

Pedro Corsino Azevedo
CONQUISTA

Trás!...
Explodiu a Verdade,

Agora sou capaz
De tudo
Indiferente e quedo e mudo
Deixarei escangalhar o brinquedo
Que temi na Infância,
Rasgou-se o céu em mil fatias lindas,

Ricos
Fanicos
Que recolhi na mão.

Desilusão!
Cristal, cristal, cristal!

E eu a namorar o mal...

Pedro Corsino Azevedo
GALINHA BRANCA

Sol de Agosto.
Raios a prumo.
Nem dá gosto
Viver.

Litoral ardente.
Montes nus.
Pó vermelho,
Na valsa doida do vento leste.
Meio-dia.
Nem pinga de água...
O céu plasmando infernos.
A agonia
Da gente pobre
- Pobre de tudo -,
O olhar mudo
Que sufoca gritos
Que não partem.

Mas:

Noite de luar,
Vento amainado.
Depois da ceia,
Brincam crianças
Ao canto da varanda:

Galinha
Branca
Que anda
Por casa
De gente
Catando
Grão
De milho.
E mais:
É mim
É bô
É Carlos
É Valério
É Fêdo.

Somos todos, todos,
Catando
Grão
De milho
Em anos de crise,
E mais...

- Não!...

Canivetinho
Canivetão


França.

Galinha branca
O espectro da morte
A sorte
De todos.

Olha pra mim!
Assim.

Canivetinho
Canivetão


França.
- A única esperança...

França lendária
Terra longínqua
De onde os meninos
Costumam vir em cestos
E para onde
Em anos de crise
Num cesto de pau
(Mácabra nau!)

Canivetinho
Canivetão

Coitadinhos
Vão!...

Pedro Corsino Azevedo
TERRA-LONGE

Aqui, perdido, distante
das realidades que apenas sonhei,
cansado pela febre do mais-além,
suponho
minha mãe a embalar-me,
eu, pequenino, zangado pelo sonho que não vinha.

"Ai, não montes tal cavalinho,
tal cavalinho vai terra-longe,
terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente"

A doce toada
meu sono caía de manso
da boca de minha mãe:

"Cala, cala, meu menino,
terra-longe tem gente gentio
gente-gentio come gente".

Depois vieram os anos,
e, com eles, tantas saudades!...
Hoje, lá no fundo, gritam: vai!
Mas a voz da minha mãe,
a gemer de mansinho
cantigas da minha infância,
aconselha ao filho amado:

"Terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente".
Terra-longe! terra-longe!...
- Oh mãe que me embalaste
- Oh meu querer bipartido!

Jorge Barbosa
CANÇÃO DE EMBALAR


"Dorme Maninho
pra não vir Ti Lobo..."

Maninho
volta-se e dorme
no colchão de saco vazio
sobre a terra batida.

Ao lado no chão dormindo também
o naviozinho de lata
que fez com suas mãos...

Apaga-se a luz.
Maninho acorda depois
por causa da voz falando baixinho
segredando
no meio escuro...

Não fala de mamãe...
Ti Lobo talvez...
Mas nhô Chico Polícia há dias contava:
"Ti Lobo não tem..."

Essa voz nocturna segredando...
O homem branco talvez
que lá vai de vez enquando...

"Dorme Maninho
pra não vir Ti Lobo..."

Volta-se e torna a dormir...

Amanhã cedo vai correr o naviozinho de lata
nas poças da Praia Negra...

Jorge Barbosa
PRELÚDIO


Quando o descobridor chegou à primeira ilha
nem homens nus
nem mulheres nuas
espreitando
inocentes e medrosos
detrás da vegetação.
Nem setas venenosas vindas no ar
nem gritos de alarme e de guerra
ecoando pelos montes.

Havia somente
as aves de rapina
de garras afiadas
as aves marítimas
de voo largo
as aves canoras
assobiando inéditas melodias.

E a vegetação
cuja sementes vieram presas
nas asas dos pássaros
ao serem arrastadas para cá
pelas fúrias dos temporais.

Quando o descobridor chegou
e saltou da proa do escaler varado na praia
enterrando
o pé direito na areia molhada
e se persignou
receoso ainda e surpreso
pensando n'El-Rei
nessa hora então
nessa hora inicial
começou a cumprir-se
este destino ainda de todos nós.

Fontes:
PEREIRA, Carlos Pinto (organizador). Autores Africanos - Do Rovuma ao Maputo
Imagem = http://radioatlantico.blogspot.com

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XII – O Bom Diabo


Houve um rei que tinha um filho de dezoito anos.
Justificar
"Meu filho — disse a rainha — é tempo de eu ler a tua sina" — e leu a sina do moço. Oh, bem triste! O moço tinha a sina de morrer enforcado. A rainha caiu numa grande tristeza, mas nada contou ao filho. "Que abatimento é esse, minha mãe?" — perguntava ele, e a rainha suspirava.

Mas tanto ele insistiu com sua mãe para que lhe contasse a causa da tristeza, que ela contou. "Meu filho, é que tua sina é morreres enforcado."

O rapaz procurou consolá-la, dizendo que morrer todos morriam, e que tanto fazia morrer disto como daquilo. Mas já que sua sina era aquela, só desejava uma coisa: licença para correr mundo e ser enforcado longe dali, de modo que não desse maior desgosto aos seus. A rainha sentiu mas concedeu a licença pedida.

No dia da partida o rei deu-lhe uma grande soma de dinheiro para a viagem — e lá se foi ele pelo mundo afora. Correu cidades e reinos, até que por fim chegou a um sítio onde havia uma capela de S. Miguel, com a imagem deste santo e a figura do diabo, mas tudo em ruínas. O príncipe parou ali, com a idéia de reconstruir a capelinha e restaurar as imagens.

Chamou operários e pôs mãos à obra. Deixou tudo novinho em folha, uma beleza. Quando o pintor veio receber o seu dinheiro, contou que sobrara um pouco de tinta porque havia deixado de pintar a figura do diabo.

— Por que o não pintou? Pinte o diabo também — ordenou o príncipe. E o pintor pintou o diabo.

Concluída aquela tarefa, o príncipe continuou sua viagem pelo mundo. Certo dia foi dar à casa duma velha, à qual pediu pouso. Entrou, jantou, e depois começou a contar o dinheiro que ainda lhe restava. Vendo aquilo, a velha foi correndo dizer às autoridades que estava em sua casa um ladrão, contando o dinheiro que lhe havia roubado.

Veio uma escolta, que prendeu o príncipe. Foi processado, julgado e condenado à morte na forca. Mas no dia em que tinha de ser morto, lá na capelinha de S. Miguel o santo pôs-se a conversar com o diabo.

— Então, estás agora bonito, hein diabo?

— É verdade. Pintaram-me inteirinho.

— E não sabes quem consertou esta capela e nos pintou?

O diabo não sabia; o santo contou-lhe a história do príncipe que passara por ali, e disse mais que esse pobre moço fora preso, processado e julgado, e naquele mesmo dia ia ser erguido a uma forca por causa das intrigas de certa velha.

O diabo não quis ouvir mais. Pulou num cavalo e foi voando à casa da velha; agarrou-a e levou-a ao rei, fazendo-a confessar toda a sua maquinação contra o moço. O rei deu ordens para que soltassem o preso e o trouxessem à sua presença.

O diabo montou no cavalo e voou para a prisão onde o príncipe ia ser enforcado, e apresentou ao carrasco a ordem de soltura. O carrasco entregou-lhe o condenado, que lá se foi com o diabo para o palácio do rei.

O rei indagou do príncipe quem era ele e de onde vinha. Sabendo de tudo, condenou a velha a restituir-lhe o dinheiro e a ir para a prisão em lugar dele. Terminado o caso, q, moço partiu novamente a correr mundo.

Pelo caminho encontrou um fidalgo, ao qual contou tudo.

O fidalgo disse:

— E não sabes quem te valeu?

— Não sei de nada — respondeu o príncipe.

— Pois fica sabendo que foi o diabo da capelinha de S. Miguel, e esse diabo sou eu. No dia em que iam enforcar-te S. Miguel me contou tudo. Montei num cavalo e voei à casa da velha; agarrei-a e levei-a ao rei, para que tudo se esclarecesse.

— E a que devo eu tanta bondade? — perguntou o príncipe.

— Ah! — exclamou o diabo, rindo-se. — Tudo deves àquele bocadinho de tinta que mandaste aplicar sobre minha figura. Agora estás livres da má sina, porque a velha vai ser enforcada em teu lugar. Podes voltar sossegadamente ao reino de teu pai, que nada mais te acontecerá.

O príncipe assim fez. Antes, porém, voltou à capelinha de S. Miguel para agradecer ao bom santo — e enquanto rezava viu a figura do diabo muito contente da vida na sua pintura nova.
–––––––––––-
— Pois gostei! — gritou Emília. — Está aí uma historinha que descansa a gente daquelas repetições das outras. E mais que tudo gostei da camaradagem entre o santo e o diabo.

— Sim — disse dona Benta. — Como os dois vivessem na mesma capela, sozinhos, acabaram em muito bons termos, como se vê na história. O diabo é o símbolo da maldade, mas até a maldade amansa quando em companhia da bondade. De viverem juntos ali na capelinha, o santo e o diabo se transformaram em amigos, e os bons sentimentos de um passaram para o outro.

— Influência do meio! — gritou Pedrinho, que andava a ler Darwin.

Narizinho confessou que gostava muito das histórias com o diabo dentro, e disse que todas elas confirmavam o dito popular de que o diabo não é tão feio como o pintam.

— Credo! — exclamou tia Nastácia fazendo três benzeduras. — Como é que uma menina de boa educação tem coragem de dizer isso do canhoto?

Narizinho arregalou os olhos.

— Como? É boa! Pois você mesma não acaba de contar a história dum diabo bom?

— Mas isso é história, menina. História é mentira. O "cão" é "cão". Não muda de ruindade.

— Se o cão é cão, viva o diabo! — gritou Emília. — Não há animal melhor, nem mais nobre que o cão. Chamar ao diabo cão, é fazer-lhe o maior elogio possível.

— Dona Benta — exclamou tia Nastácia horrorizada — tranque a boca dessas crianças. Estão ficando os maiores hereges deste mundo. Chegam até a defender o canhoto, credo!...

— Olhe, Nastácia, se você conta mais três histórias de diabo como essa, até eu sou capaz de dar um viva ao canhoto — respondeu dona Benta.

Tia Nastácia botou as mãos e pôs-se a rezar.
–––––––––––––
Continua… XIII – A Fonte das Três Comadres
–––––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Sourc
e

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 185)


Uma Trova Nacional

Não sei viver de saudade...
o tempo nada me diz.
-Mesmo na terceira-idade
sou moça... alegre... e feliz!
–YEDDA MAIA PATRÍCIO/SP–

Uma Trova Potiguar

No trem, a vida é mesquinha.
Pare! Não tema empecilhos.
Não há quem ande na linha
neste planeta sem trilhos.
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2003 ; Amparo/SP
Tema : ESTRELA ; M/H

Desconfio que as estrelas
namoram... de forma arisca:
à noite é possível vê-las
num eterno pisca-pisca...
–HÉRON PATRÍCIO/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

Na vida sou inquilino...
Meu corpo é casa, de fato!
Meu senhorio destino
um dia rasga o contrato!
–PAULO CESAR OUVERNEY/RJ–

Simplesmente Poesia

–SÔNIA SOBREIRA/RJ–
O Amor

O amor acontece na ternura de um olhar,
no beijo carinhoso e apaixonado,
no mistério de uma noite de luar,
ou nos sonhos que voltam do passado.

No aconchego de um abraço delicado,
no perfume inebriante de um jardim,
nas palavras que trazem um recado
num contexto endereçado para mim.

Nas tardes frias, nas horas dolentes,
nas lembranças trazidas pelo vento,
no sorriso de crianças inocentes,
ou na grandeza de um vero sentimento.

O amor acontece assim, de repente,
chegando de mansinho, tentador.
Nas frases murmuradas suavemente,
ou nas rimas de um poeta sonhador.

Assim, quando o amor acontece entre as almas,
um elo de sonhos fica a envolvê-las.
As noites estreladas são mais calmas,
despetalando as luzes das estrelas.

Estrofe do Dia

Preferi amar na mata
sentindo o cheiro das flores
e escutando os rumores
da queda da catarata,
vendo a lua cor de prata
refletir no tabuleiro,
entre um carinho e um cheiro
perdi do tempo a noção;
o meu motel no sertão
foi um pé de juazeiro.
–ZÉ DE CAZUZA/PB–

Soneto do Dia

–DIAMANTINO FERREIRA/RJ–
Tesouro

Se alguém me perguntasse qual tesouro
eu mais cobiço e tanto mais almejo,
responderia, sem temor, sem pejo:
- o mais valioso – os teus cabelos de ouro...

Se não é meu e para meu desdouro
não conseguir a posse do que almejo,
não vou negar o rútilo lampejo
das esmeraldas de teu rosto louro...

A riqueza do mundo é ilusória...
a que possuis não tem rival na glória
e é bem maior, porque provém do Alto!

Nem minas são rivais de tuas prendas...
Da Roma antiga, as mais formosas lendas
morrem de inveja ante o esplendor que exalto!

Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Paulo Leminski (Moinho de Versos)


moinho de versos
movido a vento
em noites de boêmia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia

Fonte da Imagem:
Moinho das Letras

Poesia de Angola


João Melo
A LAGARTIXA FRUSTRADA


Um dia
a lagartixa
quis ser dinossauro

Convencida
saltou pra rua
montada em blindados
pra disfarçar a sua insignificância

Tentou mobilizar as formigas
que seguiam
atarefadas
pro trabalho

"Ó pobre e reles lagartixa
condenada
à fria solidão
das paredes enormes e nuas
tu não sabes que os dinossauros
são fósseis
pre-históricos?"

João Maimona
AS MURALHAS DA NOITE


A mão ia para as costas da madrugada
As mulheres estendiam as janelas da alegria
nos ouvidos onde não se apagavam as alegrias.

Entre os dentes do mar acendiam-se braços.

Os dias namoravam sob a barca do espelho.
Havia uma chuva de barcos enquanto o dia tossia.
E da chuva de barcos chegavam colchões,
camas, cadeiras, manadas de estradas perdidas
onde cantavam soldados de capacetes
por pintar no coração da meia-noite.

Eram os barcos que guardavam as muralhas
da noite que a mão ouvia nas costas
da madrugada entre os dentes do mar.

Geraldo Bessa Victor
"AS RAÍZES DO NOSSO AMOR"


Amo-te porque tudo em ti me fala de África,
duma forma completa e envolvente.
Negra, tão negramente bela e moça,
todo o teu ser me exprime a terra nossa,
em nós presente.

Nos teus olhos eu vejo, como em caleidoscópio,
madrugadas e noites e poentes tropicais,
- visão que me inebria como um ópio,
em magia de místicos duendes,
e me torna encantado. (Perguntaram-me: onde vais?
E não sei onde vou, só sei que tu me prendes...)

A tua voz é, tão perturbadoramente,
a música dolente dos quissanges tangidos
em noite escura e calma,
que vibra nos meus sentidos
e ressoa no fundo da minh'alma.

Quando me beijas sinto que provo ao mesmo tempo
o gosto do caju, da manga e da goiaba,
- sabor que vai da boca até às vísceras
e nunca mais acaba...

O teu corpo, formoso sem disfarce,
com teu andar dengoso, parece que se agita
tal como se estivesse a requebrar-se
nos ritmos da massemba e da rebita.
E sinto que teu corpo, em lírico alvoroço,
me desperta e me convida
para um batuque só nosso,
batuque da nossa vida.

Assim, onde te encontres (seja onde estiveres,
por toda a parte onde o teu vulto fôr),
eu te descubro e elejo entre as mulheres,
ó minha negra belamente preta,
ó minha irmã na cor,
e, de braços abertos para o total amplexo,
sem sombra de complexo,
eu grito do mais fundo da minh'alma de poeta:
- Meu amor! Meu amor!

António Cardoso
"ÁRVORE DE FRUTOS"


Cheiras ao caju da minha infãncia
e tens a cor do barro vermelho molhado
de antigamente;
há sabor a manga a escorrer-te na boca
e dureza de maboque a saltar-te nos seios.

Misturo-te com a terra vermelha
e com as noites
de histórias antigas
ouvidas há muito.

No teu corpo
sons antigos dos batuques á minha porta,
com que me provocas,
enchem-me o cerebro de fogo incontido.

Amor, és o sonho feito carne
do meu bairro antigo do musseque!

Viriato da Cruz
"NAMORO"


Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando
de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas

Sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seus seios, laranjas - laranjas do Loje
seus dentes... - marfim...
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo, rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigenia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

Levei á Avo Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, á porta da fabrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbudo, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
"-Não viu...(ai, não viu...?) não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile do Sô Januario
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso
as moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba - dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim !"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.

Arnaldo Santos
"A VIGILIA DO PESCADOR"


Na praia o vulto do pescador
É mais denso que a noite...

E enquanto espera
A sua ânsia solidifica em concha
E sonoriza os ventos livres do mar.

E enquanto espera
A sua ânsia descobre
os passos da maré na praia
e o sono do borco das canoas.

É manha
e o pescador
ainda espera

e enquanto o mar
Não lhe devolve o seu corpo de sonhos
Num lençol branco de escamas

Um torpor de baixa-mar
Denuncia algas nos seus ombros.

Fonte:
PEREIRA, Carlos Pinto (organizador). Autores Africanos - Do Rovuma ao Maputo

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XI – João e Maria


Houve uma vez um casal com tantos filhos que o remédio foi aliviar a família botando dois fora. Chamavam-se João e Maria os escolhidos como vítimas. Certa manhã o pai mandou que se aprontassem para irem com ele tirar mel na floresta.

Os meninos se aprontaram e foram. Lá no meio da mata o pai disse: "Agora fiquem aqui bem quietinhos enquanto eu me afasto. Assim que ouvirem um grito, dirijam-se do lado do som", e afastou-se para um ponto em direção contrária à sua casa, onde gritou — e depois deu uma volta e correu para casa. Ouvindo o grito, as duas crianças encaminharam-se do lado do som. Não encontraram o pai e perderam-se.

Veio a noite e os dois coitadinhos dormiram num oco de pau. No dia seguinte João subiu ao alto duma árvore para ver se enxergava alguma coisa. Viu muito longe uma fumacinha. Mandou que Maria ficasse esperando e dirigiu-se para lá.

Era a casa duma velha catacega que estava assando bolos ao forno. João, meio morto de fome, não resistiu ao cheiro daqueles bolos. Quebrou uma varinha de gancho na ponta e por um buraco da parede furtou dois bolinhos. A velha viu aquilo mal-e-mal e pensou que fosse o gato. "Chispa, gato, não me furtes meus bolinhos.

No dia seguinte veio João com o gancho furtar mais bolinhos e a velha novamente tocou o gato. No terceiro dia voltou, mas dessa vez Maria insistiu em vir com ele — e veio. Quando João pescou o primeiro bolinho e a velha ralhou com o gato, Maria não conteve uma gargalhada. A velha apareceu à janela e disse.

— Oh, são vocês, meus netinhos! Entrem. Venham morar comigo.

Os dois meninos entraram, e a velha, nhoc! agarrou-os e trancou-os numa arca, para engordá-los e comê-los assados. E para que engordassem depressa, dava-lhes muitos bolos todos os dias. De vez em quando dizia: "Bote para fora o dedinho para eu ver se já estão no ponto."

João não punha o dedo — punha um rabinho de lagartixa que encontrara na arca, e a velha rosnava: "Ainda estão bem magros", e aumentava a ração de bolos.

Assim por muitos dias, até que João perdeu o rabinho da lagartixa e teve de pôr o dedo. "Oh, disse a velha, agora sim estão no ponto," e abriu a arca. "Saiam e juntem bastante lenha. Vamos fazer uma fogueira para dançar em redor." Mas a idéia da coruja não era essa, e sim lançá-los no tacho de água que ia pôr em cima da fogueira.

Os meninos saíram para a floresta. Estavam amarrando os feixinhos quando Nossa Senhora lhes apareceu e disse: "A velha é uma feiticeira que devora crianças. Por isso façam o que eu vou dizer. Depois de acesa a fogueira, assim que ela mandar que vocês dancem, digam-lhe: "Avozinha, dance primeiro para vermos como é" — e assim que ela começar a dançar, empurrem-na para a fogueira e corram — e subam naquela árvore grande que há perto da casa e fiquem lá até ouvirem um estrondo: é a cabeça da velha arrebentando no fogo. Dessa cabeça vão sair três cães ferozes, mas vocês levarão no bolso três bolos. Quando aparecer o primeiro cão, gritem: Turco! e lancem-Ihe um dos bolos. A mesma coisa com o segundo, que se chamará Leão e a mesma coisa com o terceiro, que se chamará Facão. Façam isso que os três cães ferozes se transformarão em três guardas fiéis."

Os meninos assim fizeram. Levaram a lenha e armaram a fogueira. Quando a velha mandou-os dançar, pediram-lhe que começasse para verem como era — e a velha pôs-se a dançar e eles a empurraram para a fogueira. Em seguida treparam à árvore e ficaram à espera do estouro. Bum! — lá rebentou a cabeça da velha. Imediatamente os três enormes cães surgiram. Os meninos disseram-lhes os nomes e lançaram-lhes os bolinhos. Os cães viraram guardas fiéis, tudo exato como Nossa Senhora dissera.

Desceram então da árvore e ficaram morando na casa da feiticeira, onde viveram vários anos em companhia dos bons cães.

Maria, que estava mocinha, foi gostada por um rapaz das vizinhanças, que resolveu dar cabo de João. Mas os cães defendiam-no tão bem que isso se tornou impossível. O moço armou um plano. Aconselhou Maria a pedir a João que fosse à floresta e deixasse os cachorros na casa e João assim fez. O moço veio e entupiu os ouvidos dos cachorros com cera — e lá se foi com uma espingarda em procura de João. Se ele gritasse, os cães não ouviriam e não viriam em seu socorro.

Encontrou-o e disse: "Reza, amigo, pois vais morrer" — e apontou a espingarda. João pediu tempo para dar três gritos. O malvado respondeu, rindo, que podia dar até cem. João trepou a uma árvore e gritou de cima: "Turco! Leão! Facão!"

Os cães estavam de ouvidos tapados, mas mesmo assim ouviram alguma coisa e sacudiram violentamente as cabeças. João repetiu os gritos, duas, três vezes. A cera escapou dos ouvidos dos cães e eles vieram, velozes como relâmpagos, e agarraram o malvado e o estraçalharam.

João voltou para casa e disse a Maria: "Tu me atraiçoaste, irmã. Fica-te pois aqui que eu vou correr mundo", e lá se foi com os três cães fiéis.

Tocou para um reino onde havia um monstro de sete cabeças, comedor de gente. Todos os dias tinham de levar-lhe uma vítima. Ao chegar lá João viu uma linda princesa amarrada a uma pedra. "Que fazes aqui, princesa?" — perguntou. E ela respondeu: "Cá estou para ser devorada pelo monstro de sete cabeças. Ele não tarda. Foge depressa, senão serás devorado também."

Contou ainda que o rei a tinha prometido como esposa a quem matasse o monstro, mas que nunca apareceu no reino homem nenhum capaz de semelhante façanha.

João declarou que não fugiria dali, ao contrário, ficaria à espera do monstro para lutar com ele e vencê-lo — e como estivesse cansado, deitou a cabeça no colo da princesa, para dormir.

Momentos depois o monstro surgiu ao longe, e a princesa, na maior aflição, pôs--se a chorar. Uma lágrima caiu no rosto de João, despertando-o. "Foge! Foge, senão serás devorado também" — disse-lhe a princesa. Mas João não mostrou o menor medo. Ficou — e atiçou contra o monstro o cão Turco. Travou-se uma luta medonha, e quando o Turco já não podia mais, João atiçou o Leão. E quando o Leão já não podia mais atiçou o Facão. O monstro não agüentou: foi vencido e estraçalhado..

João Cortou a ponta das sete línguas do monstro e foi com a princesa ao palácio do rei. Mas um negro, que ia passando a cavalo, deu com o bicho morto e teve uma idéia. Cortou sete tocos das línguas do monstro e foi de galope ao palácio do rei, ao qual declarou que tinha matado o monstro.

Quando João chegou era tarde. O rei já tinha resolvido o casamento da princesa com o negro mentiroso, por mais que ela contasse a história dum modo diferente. Ninguém acreditou era suas palavras, julgando ser invenção para não casar-se com o negro.

No dia do casamento houve um grande banquete, mas no momento em que os criados serviram o negro, Turco entrou e arrebatou o que lhe haviam posto no prato. Ao ver aquilo, a princesa ficou alegríssima e contou ao pai que era um dos cães que haviam lutado contra o bicho de sete cabeças.

Os criados serviram o negro novamente, e desta vez foi Leão que entrou e levou-lhe o prato. A princesa explicou que era aquele o segundo cão que lutara contra o monstro. Por fim entrou Facão e arrebatou ò terceiro prato servido ao negro. O rei, muito impressionado, mandou que seguissem aquele cachorro para ver a quem pertencia.

Os guardas foram e voltaram com o herói verdadeiro.

— Eis aí quem me salvou e matou o monstro! — gritou a princesa, e João confirmou suas palavras, abrindo um lenço e mostrando as sete pontas de língua.

O rei compreendeu tudo. Mandou amarrar o negro num burro bem bravo e casou João com a princesa.
–––––––––––––––––
— Eu já li essa história em Andersen — disse Emília — e agora estou vendo bem claro como o nosso povo faz nela os seus arranjos. Foi Andersen quem a inventou.

— Não — disse dona Benta. — Andersen nada mais fez do que colhê-la da boca do povo e arranjá-la a seu modo, com as modificações que quis. Essas histórias são todas velhíssimas, e correm todos os países, em cada terra contada de um jeito. Os escritores o que fazem é fixar as suas versões, isto é, o modo como eles entendem que as histórias devem ser contadas.

— Na versão de Andersen — disse Narizinho — não há negro nenhum, nem nada de três cães. O povo aqui no Brasil misturou a velha história de Joãozinho e Maria com outra qualquer, formando uma coisa diferente. A versão de Andersen é muito mais delicada e chama-se Hansel e Gretel.

— O tal negro entrou aí — disse Pedrinho — porque no Brasil as histórias são contadas pelas negras, que gostam de enxertar personagens pretos como elas. Lá na Dinamarca Andersen nunca se lembraria de enxertar um preto porque não há pretos. Tudo gente loura.

— Onde o tal Sílvio Romero pegaria essa história? — perguntou Emília.

— No Rio de Janeiro e no Sergipe — respondeu dona Benta. — Ele fez um trabalho muito interessante, que publicou com o nome de Contos Populares do Brasil. Ouvia as histórias das negras velhas e copiava-as direitinho, com todos os erros de língua e os truncamentos. É assim que os folcloristas caçam a obra popular.
–––––––––––––
Continua… XII – O Bom Diabo
–––––––––––––-
Fonte: LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995. Este livro foi digitalizado e distribuído GRATUITAMENTE pela equipe Digital Source

Luiz Paulo Faccioli (O Escritor no Espelho)

Angustiado e angustiante, Um erro emocional trata do velho conflito da incomunicabilidade

Um erro emocional
Cristovão Tezza
Record

192 págs.


Vou contar o milagre sem contudo dar o nome do santo, e a razão é das mais prosaicas: simplesmente não lembro qual foi o autor que uma vez ouvi afirmar ter por objetivo, ao conceber um novo livro, criar sempre algo diferente por completo de tudo que houvesse escrito até então, pois não achava graça alguma em repetir o já feito. Noutras palavras, não se contentava em ser apenas um escritor, queria ser uma espécie de vários em um. Talvez o desejo do criador de se reinventar a cada nova obra não seja uma ocorrência assim tão rara, por isso minha dificuldade em identificar aquele autor. A afirmação, por exemplo, poderia muito bem ter partido de Cristovão Tezza. Pensei nessa possibilidade ao concluir a leitura de seu romance Um erro emocional, o primeiro depois de O filho eterno, que levou todos os prêmios literários mais importantes do país. E nesse caso não seria mera idiossincrasia a necessidade de romper de forma radical com o passado, pelo menos com o mais recente.

Tezza teve de enfrentar dois grandes desafios para gerar a nova obra. O primeiro foi o estrondoso sucesso do livro anterior, situação que muitas vezes eleva a um patamar inatingível a expectativa do público e do próprio autor em relação ao novo trabalho. O segundo, o fato de O filho eterno trazer uma história pessoal e comovente: a experiência do pai que se vê na condição de ter um filho portador da síndrome de Down. Não havia como repetir o tema ou buscar outro drama pessoal equivalente: O filho eterno nasceu para ser único. Era um caminho natural, por assim dizer, que ele procurasse vencer esses obstáculos pela via do contraponto ou mesmo da completa ruptura. Mas, ao invés de inovar totalmente, Tezza voltou no tempo e retomou uma fórmula por ele já exercitada: a história que se passa num curto período de tempo, com alternância sistemática do foco narrativo e onde o que mais importa é a ação interior dos personagens. Foi assim no elogiado O fotógrafo, de 2004, cuja trama se desenvolve num único dia.

Um erro emocional se passa em algumas horas da noite em que o veterano escritor Paulo Donetti bate à porta da jovem e bonita Beatriz, uma garrafa de vinho e uma pasta na mão, e anuncia ter cometido o tal erro. Ele é paulista e autor do bem-sucedido romance A foto no espelho, mas vive uma fase ruim na carreira; ela é sua leitora e fã. Os dois se conheceram um dia antes em Curitiba, onde mora Beatriz e aonde Paulo viajou para participar de um evento literário. O encontro fora casual. Beatriz jantava na companhia de um antigo desafeto de Paulo, Cássio, um também escritor que ele havia impulsionado no início de carreira e que mais tarde devolveu a gentileza criticando-o duramente numa resenha. Depois de conhecer Beatriz, Paulo decidiu prorrogar sua permanência na cidade. O erro emocional a que ele se refere é esclarecido logo em seguida à sua entrada em cena, quando declara ter-se apaixonado por ela. Contudo, após o preâmbulo melodramático e contrariando a expectativa do leitor, a conversa envereda por outro caminho, e Paulo revela, agora de um jeito menos abrupto, o verdadeiro objetivo daquela visita: ele quer que Beatriz digite, revise e organize os originais de um novo livro, e é isso justamente o que ele traz naquela pasta.

Estrutura complexa

Seria muito menos difícil listar o que o livro não conta do que resumir o que efetivamente acontece nessa noite, a começar pelo desfecho, que o leitor terá sozinho de imaginar. Paulo e Beatriz quase não falam, um mais contido que o outro. Ele fracassou em mais de um relacionamento, teve sua rebeldia adolescente domada pelo pai e se deixa levar em alguns momentos por aquela arrogância patética dos gênios decadentes. Beatriz, por sua vez, perdeu a família inteira - pai, mãe e irmão - num acidente de carro e tampouco teve sorte no casamento. Ambos estão divorciados e temem novas frustrações amorosas, por isso a ansiedade, a dúvida e a trava. Como não conseguem avançar no relacionamento, a história que constroem juntos é tênue, e o que existe de mais concreto no encontro é o que vai em suas cabeças. Resulta que o leitor fica sabendo muito mais dos personagens do que eles conseguem descobrir um sobre o outro.

A narrativa tem uma estrutura bastante complexa: um narrador em terceira pessoa costura a ação presente mesclando os dois pontos de vista principais, que emulam o diálogo interior de cada um dos personagens. O passado é construído com flashbacks que vêm da memória dos dois. Há ainda uma projeção de futuro: Beatriz imagina a todo momento como irá descrever à amiga Doralice a experiência que está vivendo nessa noite, solução que garante alguns momentos de humor e conseqüente descontração numa história de uma densidade que chega em alguns momentos a ser claustrofóbica.

A edição da Record vem numa bonita e sóbria capa em azul, num contraste talvez proposital com o vermelho usado em O filho eterno. O título, pinçado da frase de abertura, fica a meio caminho entre a sacada genial e um daqueles conceitos fabricados da auto-ajuda, o que reflete de certa forma a entressafra criativa de Paulo.

Em resenha de Um erro emocional para a Folha de S. Paulo, o jornalista e professor Felipe Pena usa dois conceitos aparentemente contraditórios para qualificar a prosa de Tezza. Ele afirma que o novo livro "traz de volta a narrativa delicada do escritor", para logo adiante ressaltar seu "discurso suntuoso". Ora, é difícil imaginar algo que seja a um só tempo "delicado" e "suntuoso", mas os dois adjetivos convivem harmoniosamente neste caso.

A suntuosidade do discurso é evidente. Tezza segue apostando nas frases longas e de ritmo lento, sua marca registrada e que já se observou estar na contramão de uma tendência atual. Mas essa característica, longe de se configurar um demérito, com ele se transforma em virtude estilística. Coordenar diferentes vozes de forma simultânea é outro luxo, um exercício que exige talento e competência narrativa, e isso Tezza tem de sobra. Há contudo uma dissonância: para emular um diálogo interior a duas vozes, Tezza usa uma pontuação mais livre, desafiando a ortodoxia gramatical, o que pode trazer alguma dificuldade ao leitor. Um bom exemplo são os travessões, como se pode ver no belo trecho escolhido para ilustrar esta resenha. A idéia talvez tenha sido mesclar as vozes de modo a que elas se confundissem e formassem uma unidade. Mas nem sempre o leitor consegue abstrair o tanto que o autor quer, e em vários momentos fica perdido.

Quanto à delicadeza citada por Pena, ela tem origem na concorrência de vários outros fatores: sutileza, bom gosto, elegância, ourivesaria dos detalhes são alguns deles. Tezza não quer chocar o leitor, mas seduzi-lo. Para tanto, revela pouco e esconde muito. Ele não pretende ser transgressor, mantém o léxico num padrão elevado, está inclusive bem mais comedido no uso de palavrões (em contraste com a gratuidade com que eles aparecem em O fotógrafo). Toda sua força criativa está concentrada na história que quer contar da maneira mais original e melhor possível e buscando ao máximo a participação do leitor.

Um erro emocional é um livro angustiado e angustiante em cuja essência está o velho conflito da incomunicabilidade. Foi com ele que um dos melhores escritores brasileiros da atualidade conseguiu driblar um adversário difícil e retomar às suas origens.

O AUTOR
CRISTOVÃO TEZZA é catarinense de Lages e vive há muitos anos em Curitiba (PR). Tem formação em Letras, foi professor universitário nessa área e desde 2009 dedica-se exclusivamente à literatura. É autor de vários romances: Trapo, O fantasma da infância, Aventuras provisórias, Breve espaço entre cor e sombra, A suavidade do vento, O fotógrafo e O filho eterno, entre outros. Ganhou muitos prêmios importantes em sua carreira, em especial com O filho eterno, que levou o São Paulo de Literatura, o Portugal Telecom, o Jabuti, o Bravo!, o Zaffari & Bourbon e o APCA.

TRECHO - Um erro emocional - Esse trecho - e Beatriz abria outra vez aquele ramalhete amarelo de papéis querendo puxá-lo de volta à realidade e ao mesmo tempo lisonjeá-lo; ela queria falar daqueles versos avulsos sobre o poder da memória e ele entristeceu súbito porque não pode sair daqui sem explicar melhor o que disse quando entrou (e para Beatriz continuava sendo um jogo bem-humorado, ainda sem lastro, apenas a alegria de tê-lo por perto, o seu autor preferido, tão à mão e tão, quem sabe, frágil) - está muito bonito, e lembra a intensidade do A foto no espelho. Escute: Amanheceu -

Fonte: Rascunho

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 184)


Uma Trova Nacional

Tem a benção garantida
e a felicidade eterna
a família reunida
numa partilha fraterna.
–PAULO JOSÉ DE OLIVEIRA/MG–

Uma Trova Potiguar

A família alicerçada,
na fé, na paz e no estudo,
transforma o seu quase nada,
com amor, no quase tudo!
–FRANCISCO MACEDO/RN-

Uma Trova Premiada

2003 - Niterói/RJ
Tema : CONQUISTA; M/E

Meu Pai mostrou sempre em vida
quatro conquistas sagradas:
Honradez, Família unida
e as duas mãos calejadas...
–JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO/RJ–

...E Suas Trovas Ficaram

Veja, amada companheira,
este quadro, que beleza.
Temos a família inteira
ao redor de nossa mesa.
–ALYDIO C. SILVA/MG–

Simplesmente Poesia

–ADEMAR MACEDO/RN–
Família, Fé, Esperança e Cura...

Deus me fez um amante da poesia,
portador de profunda vocação,
agradeço a Deus Pai por minha vida,
vai pra Deus toda minha gratidão
pela minha família boa e pura,
pela fé, esperança e pela cura,
por meus versos... Por minha inspiração.

Estrofe do Dia

O mendigo que sofre só reclama
pede a bênção de Deus, nossa senhora
quando entra na loja vão embora
quando passa na rua ninguém chama
uma calça que veste é cor de lama
a camisa que usa é cor do chão
ele é mais humilhado que um cão
sem família, sem pão e sem abrigo
os fiapos das roupas do mendigo
são visíveis sinais de humilhação.
–NONATO COSTA/CE–

Soneto do Dia

–VINICIUS DE MORAES/RJ–
Soneto do Amor Total.

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 12 de abril de 2011

Paulo Leminski (Tenho Andado Fraco)

Imagem por Deyse Melo
tenho andado fraco

levanto a mão
é uma mão de macaco

tenho andado só
lembrando que sou pó

tenho andado tanto
diabo querendo ser santo

tenho andado cheio
o copo pelo meio

tenho andado sem pai

yo no creo en caminos
pero que los hay
hay

A. A. de Assis (Canto do Amanhã)

Pintura de Edgar Osterroht
(trecho da Avenida Brasil no
Maringá Velho na década de 50)

Escuta, meu irmão que estás distante,
esse sussurro universal de homens e mulheres
de todas as raças,
misturando sotaques, tradições,
suor, amor, coragem,
sangue e fé.

Escuta o ronco do serrote,
a bofetada do machado,
o chiado da foice e a percussão da enxada.

Escuta o ruído de botas esmagando espinhos,
a leve sinfonia de mãos que espalham sementes,
o poema de outras mãos abanando o café.

Escuta os aviões que se entrecruzam no azul,
caminhões e jipes trotando na trilha dos carreadores,
tratores que tombam, mexem, remexem a terra.

Escuta essa algazarra de operários
montando fábricas,
multiplicando casas,
machucando as nuvens com seus ousados arranha-céus.

Escuta a voz da estrada:
- eixo delirante que gira, gira, gira,
impulsionado por milhões de alavancas
que se sustentam na força do chão,
na fibra dos homens,
no empolgante otimismo das crianças
nascidas sob o signo das coisas verdes,
no meio de uma festa de esperança.

Escuta, meu irmão, que tudo isso
é o canto enorme do meu Paraná,
alegre e jovem, construindo
os alicerces do amanhã!

Fonte:
A. A. de Assis. Vida, verso e prosa. Maringá: EDUEM, 2010
.
Imagem obtida no Diário de Maringá.

A A de Assis, Cidadão Benemérito de Maringá


O poeta, jornalista e professor Antonio Augusto de Assis recebeu na última quinta-feira (7 de abril) o título de cidadão benemérito de Maringá, em solenidade realizada no plenário da Câmara Municipal.

O projeto de lei de homenagem a Assis foi apresentado em 2010 pelo então vereador Ton Schiavone, sendo aprovado por unanimidade. “Entendo que o importante é que as pessoas sejam homenageadas em vida. Assis tem levado o nome de Maringá para outros estados e países. É um pioneiro que representa nossa cidade através da poesia”, afirmou Schiavone, cuja família foi vizinha de Assis na década de 1950, na Zona 2. O autor do projeto de lei comentou ainda sobre os livros publicados por Assis, a sua atuação na imprensa e as atividades no Rotary Club.

Presidida pelo presidente da Câmara, vereador Mário Hossokawa, a sessão solene teve a presença de familiares do homenageado e amigos de entidades, clubes de serviços, instituições de ensino e imprensa. Autoridades do poder Executivo municipal, representantes da Assembleia Legislativa, Câmara Federal, do Exército e da Polícia Militar prestigiaram o evento.

A sessão solene foi marcada pela emoção dos discursos de Assis, do autor da propositura, da secretária municipal de Cultura, Flor Duarte, representando o prefeito Silvio Barros - que esteve no plenário do Legislativo cumprimentando o homenageado -, e da presidente da Academia de Letras de Maringá, Olga Agulhon.

É uma alegria muito grande representar a Academia de Letras de Maringá nessa homenagem a Assis, nosso presidente de honra. É uma justa homenagem a um maringaense que eleva o nome da cidade em muitos lugares. A vida de Assis é um presente para Maringá, para a sua família e para todos nós. As suas trovas são reflexos de uma vida bem vivida, de honradez e humildade”, afirmou a presidente da Academia.

A secretária Flor Duarte falou da importância dos escritores e da grande contribuição de Assis para Maringá: “É uma justa homenagem a um dos mais atuantes escritores da nossa cidade. O que seria da gente se os escritores não trabalhassem por nós, para o nosso deleite? Ao poeta Assis a nossa homenagem, a nossa gratidão.”

A homenagem a um dos maiores trovadores do Brasil coincidiu com o dia do seu aniversário. No dia 7, Assis completou 78 anos, o que aumentou ainda mais a sua emoção ao falar da tribuna. Ele fez um relato da sua vida, falou dos seus familiares, das primeiras amizades que fez em Maringá, dos amigos da imprensa, da Universidade Estadual de Maringá, da Academia de Letras de Maringá, do Rotary Club e da União Brasileira dos Trovadores.

Agradecendo a Deus em vários momentos, Assis disse que com o título de cidadão benemérito vai se sentir com muito mais direito de ser o representante de Maringá, “um embaixadorzinho da cidade”, como se autodefiniu. O trovador finalizou seu discurso de forma inusitada e criativa. Disse que iria cantar a música “Maringá, Maringá”, composição de Joubert de Carvalho e pediu que o público cantasse com ele. E assim foi feito. Encerrada a sessão, o público cantou o “parabéns a você” ao aniversariante e homenageado.

Fonte: Câmara Municipal de Maringá