Joaquim Saraiva era um pacato cidadão. A sua vida era uma perfeita rotina: levantava-se às 7.30 horas para apanhar o Metro às 8.15 horas para estar no emprego sempre às 8.55 horas, altura em que picava o cartão de presença na firma onde trabalhava. Os colegas, por graça, alcunharam-no de “relógio suíço”. De regresso a casa, entretinha-se a fazer o seu jantar, para depois ver a televisão quando lhe interessava ou ler um livro ou revista enquanto o sono não chegava.
Já há mais de um ano que não ia a um cinema ou teatro. Ah, também gostava de ver futebol na televisão ou ouvir pela rádio o relato do seu clube favorito.
Um dia, ao chegar a casa encontrou na caixa do correio uma carta do Tribunal Distrital, a convocá-lo para comparecer em determinado dia para prestar declarações e com multa por ter faltado à primeira convocatória. Ficou muito admirado com o que leu, pois, em consciência não tinha faltado a nenhuma convocatória e nem sabia porque tinha sido convocado.
Na data e hora marcada pela convocatória, o Joaquim (Quim, para os amigos) entrou no Tribunal. Passou pela Secretaria onde o mandaram esperar numa sala de espera, onde já se encontrava um militar da GNR, pois, a Delegada do Ministério Público queria falar com ele. Esperou mais de uma hora e por fim chamaram-no. Já em frente da Delegada, esta perguntou-lhe:
- O seu nome é Joaquim Saraiva?
- Sim, Srª. Doutora. Só não sei porque estou aqui, pois, em consciência nada fiz.
- É a desculpa que todos dão… Está aqui como testemunha de um embate de carros e, também, para se justificar a sua ausência na primeira convocatória.
- Perdão Sr. Doutora, em não testemunhei (felizmente) nem faltei à primeira convocatória, pois, não a recebi.
- Vamos ver se nos entendermos: seu nome é Joaquim Saraiva e mora em Leiria, na rua Almirante Reis, nº 1233: Certo?
- Certíssimo. Moro nessa morada, há mais de 22 anos. Numa casa…
- Vamos ver: onde estava você, na madrugada do dia 22 de Novembro. Pelas 2.40 horas?
- Sem receio de me enganar, estava em minha casa e a essa hora a dormir. Não tenho hábito de sair à noite nem de fazer madrugadas. Não tenho ninguém que possa confirmar, pois, vivo sozinho.
- Não queira criar confusão (que eu nem aceito confusões). Rosa, chame o militar da GNR…
GNR: - v. Exª., posso entrar?
Delegada: - Entre – respondeu-lhe a Delegada, que continuou – Conhece ou lembra-se deste senhor?
GNR: - Saiba V. Exª, que não conheço nem me lembro de alguma vez o ter visto. Nem sei a que processo se refere.
Delegada: - O processo é referente àquele embate entre dois carros, na Batalha, em Novembro último que provocou ferimentos ligeiros numa senhora. O Sr. Tomou conta da ocorrência…
GNR: - Deve haver qualquer engano, pois, o indivíduo que provocou esse acidente, era estrangeiro e mal falava o português. Além de ser mais alto que este senhor, tinha o cabelo louro e olhos azuis.
Delegada: - Já vamos ver o que está a acontecer. Rosa, vá à Secretaria e traga-me todo o processo nº 222233/11. Não demore por favor.
Poucos minutos depois, a secretária da Delegada entrou no gabinete com dois dossiers debaixo do braço. “Aqui tem todo o Processo, Srª. Delegada”
Delegada: - Vamos ver… até aqui tudo bem: nome e morada…
Quim: - A Srª Delegada pode dizer-me a data em que o Tribunal mandou a primeira convocatória?
Delegada: - Foi no dia, foi no dia, 3 de Janeiro. Seu nome está correcto, mas a morada não… O Sr. Joaquim Saraiva morou (ou esteve alguns dias) na cidade de Setúbal?
Quim: - Nunca vivi nessa cidade e há mais de 25 anos que não vou a Setúbal, e, quando ia lá era para apanhar o barco para Tróia.
Delegada: - Que confusão… vamos ver a participação da ocorrência feita aqui pelo Sr. da GNR … pois, o nome que aqui está é Joaquim (com letra “n”) Swart, com residência em Setúbal. Este engano foi feito aqui na Secretaria. Vou tratar do caso…
Rosa: - Srª Delegada, chegou a D. Isabel Rosa, a vítima desse acidente. Posso mandar entrar?
Delegada: - Mande entrar. – D. Isabel Rosa, conhece este senhor?
Isabel: - Não sei, Srª. Delegada…
Delegada: - Não se lembra se foi este senhor que abalroou o seu carro e provocou-lhe ferimentos?
Isabel - : - Pode ser… não sei… pela altura e corpulência…talvez…
Delegada: - Talvez, nunca foi certo: É ou não é – responda por favor.
Isabel: - Eu estava no chão e não o via bem… Talvez seja…
Delegada: - Estou elucidada. O Sr. Joaquim Saraiva pode retirar-se em paz, assim como o Sr. da GNR. Quanto a D. Isabel, tenho que fazer-lhe mais umas perguntas.
Na saída do Tribunal, Quim suspirou profundamente. Psicologicamente, não se sentia capaz de ir trabalhar (o que era muito raro nele). Apanhou um táxi e foi para casa: deitou-se na cama e só acordou à noite.
O tempo passou e o caso foi esquecido.
Uma manhã, quando o Quim saia do Metro e a caminho do trabalho, um carro parou junto dele e uma voz, depois de baixar o vidro, gritou-lhe:
Isabel: - Olhe lá seu homezeco, o carro que você abalroou, como vê, já está arranjado. Mas você vai-mas pagar – isso vai…
O Quim não lhe respondeu, mas pensou para si: “Ai que o dia me vai correr mal!”
Poucos minutos de se sentar à sua secretária da companhia de seguros onde trabalhava, um colega foi ter com ele:
Vitor - o Abel hoje não vem e está no balcão uma senhora que quer saber em que ponto está o processo de um acidente que teve. Tu que trabalhas em colaboração com ele, vai atendê-la. Mas já te vou avisar que essa senhora, é muito bonita mas tem cá uma língua de víbora, que não é brinquedo nenhum. Não te demores muito pois senão ela é bem capaz de invadir as instalações!
Com pouca vontade, o Quim levantou-se e dirigiu-se ao balcão para atender a cliente. Quando chegou ao balcão, ouviu logo a “saudação” com que a cliente o presenteou:
Quim – Em que lhe posso ser útil? … Mas você aqui?!
Isabel – O mesmo direi eu: que faz você aqui? Até parece que me anda a perseguir depois de ter amachucado meu carro!
Quim – Perdão, primeiro, não tenho carro e já há muito que não conduzo (dirijo). Portanto e como ficou amplamente demonstrado que não fui eu que provoquei o acidente. Disto isto, diga-me por favor, em que lhe posso ser útil?
Isabel – Sempre a mesma desculpa… Olhe, quer saber quando esta seguradora me paga os prejuízos que tive?
Quim – Só lhe posso dizer que esta firma lhe pagará tudo a que tem direito quando receber o processo que o Tribunal nos vai. Só não lhe sei dizer quando isso acontecerá.
Isabel – Oxalá que você não atrase essa comunicação, por simples vingança…
Algumas semanas depois.
O Quim e os colegas estavam na pausa da tarde para tomar café, perto da seguradora, quando junto ao balcão, quando uma voz de mulher pediu em alta voz “Tire-me um café bastante forte, pois estou com muita pressa”.
Ao ouvir aquela voz, o Quim voltou-se e viu a moça que o acusava de ter amachucado seu carro, ao mesmo tempo que ela também o via. Ela, já com a chávena (xícara) na mão, sem quer fez um movimento brusco e entornou o café por cima do Quim.
Isabel – Desculpe sr (não sei quantos), não foi por mal. Mas estou disposta a pagar a lavagem da camisa…
Quim – Como lhe posso perdoar, se estou todo sujo de café? E não é só a camisa como as calças e roupa interior até às meias? Como posso voltar ao escritório neste estado?
Isabel – Já lhe disse que pago tudo!
Quim – Recuso essa opção. Você, é que tem de lavar tudo e passar a ferro, senão…
Isabel – Eu lavo tudo pois até me fica mais barato. Quer boleia até sua casa para mudar de roupa?
Quim – Se não me der boleia, também paga o táxi!
No Domingo seguinte, logo pela manhã, a campainha da casa onde morava o Quim, tocou. Com grande admiração sua, quando abriu a porta encontrou uma linda moça com as suas calças e camisa na mão e um pequeno saco com as meias e cuecas. Estafado pela situação, só pode balbuciar:
Quim – Não sei seu nome? Eu sou o Quim…
Isabel – E eu sou a Isabel!
Quim – Fico-lhe muito agradecido pela sua gentileza de vir entregar-me a roupa. Pode entrar…
Isabel: - Não entro não!
Quim – Então, como já são horas do almoço, convido-a para almoçar comigo. Você dá a boleia e eu pago-lhe o almoço?
Isabel – Bem… Então despache-se pois, eu com fome só impossível de aturar. E já agora, onde vamos almoçar? Olhe que não gosto de peixe com muitas espinhas…
Quim – Contava ir almoçar uma pizza ao Colombo…
Isabel – Não se demore. Olhe que só espero 8 minutos!
O almoço correu bem, com conversa de nível elevado, principalmente, quando o Quim lhe disse que a indenização da seguradora estava pronta para ser entregue e o que o verdadeiro culpado do acidente tinha sido apanhado pela polícia quando se preparava para sair do país. A partir desse dia, começaram a tomar o café depois do jantar, em princípio uma vez por semana, depois duas vezes até que chegaram a tomar o café todos os dias e ao domingo almoçavam juntos quase sempre.
Num sábado, ela atrasou-me na hora marcada para o café depois do jantar. Desculpou-se que tinha ido ao veterinário com seu gato, para este fazer uma “pequena” cirurgia (castração), pois, as vizinha se queixavam que o gato andava sempre atrás de suas gatas.
Quim – Coitadinho, nem gato se pode ser nesta terra!
Isabel – Também tive pena, mas teve de ser…
Num sábado de Lua Cheia, o parzinho depois do jantar no restaurante onde costumavam frequentar, resolveram ir a uma discoteca perto de uma praia. A discoteca estava cheia e o barulho era muito. Por essa razão, resolveram sair e ir admirar a lua (que estava linda) numa falésia junto à praia. A conversa era banal e em determinada altura, num movimento natural e brusco de suas cabeças, seus lábios se colaram num longo e lânguido beijo. Naquela situação, começaram a aliviar a roupa um ao outro, esquecendo de admirar a Lua…
Algum tempo depois, Isabel começou a ver uma luz que se dirigia para o carro, e exclamou:
Isabel – Quim, será que a Lua descesse à Terra?
Quim – Estou a vê-la lá em cima…
Isabel – Então o que será aquele foco de luz?
Quim – Não faço a menor ideia do que seja. Talvez seja um extraterrestre. Mas pelo sim pelo não, vamos enrolar a roupa em volta dos nossos corpos.
Segundos depois, a tal “luz” bateu no vidro do carro e pediu para abrir. Era uma guarda-florestal que andava a passar a ronda:
Guarda – Que estão aqui a fazer a esta hora?
Muito atrapalhados e sem saberem qual a melhor justificação a dar ao guarda-florestal, disseram ao mesmo tempo:
- Estamos a admirar a Lua que está belíssima!
O guarda deu uma enorme e sonora gargalhada, antes de responder:
Guarda – E para admirar a Lua, é preciso estarem meios nus?
A situação era embaraçosa. A Isabel teve então uma “brilhante” ideia:
Isabel – Senhor guarda, nós pertencemos a um grupo de adoradores da Lua Cheia e, para melhor a adorámos, temos que tirar a roupa…
Perante tal resposta, o guarda-florestal voltou a dar uma sonora gargalhada e aconselhou-os:
Guarda – Bem, bem… vistam-se que a noite está fresca e regressem a casa. Boa Noite!
Os meses foram passando e cada vez a amizade crescia, embora por vezes com umas discussõezinhas à mistura. Durante um jantar, o Quim pediu a mão a Isabel. Ela sorriu.
Isabel – Mas só a mão, pois não podemos esquecer aquela Lua Cheia, aquela luz e sobretudo o guarda-florestal. Mas prometo-te que vou pensar muito bem e com muito cuidado na tua proposta. Por fim, pensou a aceitou.
Meses depois, na véspera do casamento, Isabel telefonou a seu noivo.
Isabel – Quim, sempre vais à despedida de solteiro com os teus colegas?
Quim – Sim vou. Vais ser uma pequena festa num restaurante…
Isabel – Num restaurante? Olha, antes dessa despedida, convido-te a acompanhar-me ao veterinário.
Quim – Ao veterinário? O que vais lá fazer? O gato está doente?
Isabel – O gato está de boa de saúde. Quero ir lá para o veterinário te fazer a operação que fez ao gato – recordas-te?
Quim – Deixa-me rir! Podes ter confiança em mim, para mais, hoje não é dia de Lua Cheia!
Ano e meio depois, numa maternidade, Isabel acaba de dar à luz um lindo bebé. Depois do parto, Quim aproximou-se da mulher.
Quim – Como estás minha querida? Ainda tens muitas dores?
Isabel – Já sinto menos dores, mas, continuo a pensar que devia ter-te levado ao veterinário… Olha, desde já fica combinado que se tivermos mais algum filho, será tu que o tens…
Fontes:
Colaboração de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
Já há mais de um ano que não ia a um cinema ou teatro. Ah, também gostava de ver futebol na televisão ou ouvir pela rádio o relato do seu clube favorito.
Um dia, ao chegar a casa encontrou na caixa do correio uma carta do Tribunal Distrital, a convocá-lo para comparecer em determinado dia para prestar declarações e com multa por ter faltado à primeira convocatória. Ficou muito admirado com o que leu, pois, em consciência não tinha faltado a nenhuma convocatória e nem sabia porque tinha sido convocado.
Na data e hora marcada pela convocatória, o Joaquim (Quim, para os amigos) entrou no Tribunal. Passou pela Secretaria onde o mandaram esperar numa sala de espera, onde já se encontrava um militar da GNR, pois, a Delegada do Ministério Público queria falar com ele. Esperou mais de uma hora e por fim chamaram-no. Já em frente da Delegada, esta perguntou-lhe:
- O seu nome é Joaquim Saraiva?
- Sim, Srª. Doutora. Só não sei porque estou aqui, pois, em consciência nada fiz.
- É a desculpa que todos dão… Está aqui como testemunha de um embate de carros e, também, para se justificar a sua ausência na primeira convocatória.
- Perdão Sr. Doutora, em não testemunhei (felizmente) nem faltei à primeira convocatória, pois, não a recebi.
- Vamos ver se nos entendermos: seu nome é Joaquim Saraiva e mora em Leiria, na rua Almirante Reis, nº 1233: Certo?
- Certíssimo. Moro nessa morada, há mais de 22 anos. Numa casa…
- Vamos ver: onde estava você, na madrugada do dia 22 de Novembro. Pelas 2.40 horas?
- Sem receio de me enganar, estava em minha casa e a essa hora a dormir. Não tenho hábito de sair à noite nem de fazer madrugadas. Não tenho ninguém que possa confirmar, pois, vivo sozinho.
- Não queira criar confusão (que eu nem aceito confusões). Rosa, chame o militar da GNR…
GNR: - v. Exª., posso entrar?
Delegada: - Entre – respondeu-lhe a Delegada, que continuou – Conhece ou lembra-se deste senhor?
GNR: - Saiba V. Exª, que não conheço nem me lembro de alguma vez o ter visto. Nem sei a que processo se refere.
Delegada: - O processo é referente àquele embate entre dois carros, na Batalha, em Novembro último que provocou ferimentos ligeiros numa senhora. O Sr. Tomou conta da ocorrência…
GNR: - Deve haver qualquer engano, pois, o indivíduo que provocou esse acidente, era estrangeiro e mal falava o português. Além de ser mais alto que este senhor, tinha o cabelo louro e olhos azuis.
Delegada: - Já vamos ver o que está a acontecer. Rosa, vá à Secretaria e traga-me todo o processo nº 222233/11. Não demore por favor.
Poucos minutos depois, a secretária da Delegada entrou no gabinete com dois dossiers debaixo do braço. “Aqui tem todo o Processo, Srª. Delegada”
Delegada: - Vamos ver… até aqui tudo bem: nome e morada…
Quim: - A Srª Delegada pode dizer-me a data em que o Tribunal mandou a primeira convocatória?
Delegada: - Foi no dia, foi no dia, 3 de Janeiro. Seu nome está correcto, mas a morada não… O Sr. Joaquim Saraiva morou (ou esteve alguns dias) na cidade de Setúbal?
Quim: - Nunca vivi nessa cidade e há mais de 25 anos que não vou a Setúbal, e, quando ia lá era para apanhar o barco para Tróia.
Delegada: - Que confusão… vamos ver a participação da ocorrência feita aqui pelo Sr. da GNR … pois, o nome que aqui está é Joaquim (com letra “n”) Swart, com residência em Setúbal. Este engano foi feito aqui na Secretaria. Vou tratar do caso…
Rosa: - Srª Delegada, chegou a D. Isabel Rosa, a vítima desse acidente. Posso mandar entrar?
Delegada: - Mande entrar. – D. Isabel Rosa, conhece este senhor?
Isabel: - Não sei, Srª. Delegada…
Delegada: - Não se lembra se foi este senhor que abalroou o seu carro e provocou-lhe ferimentos?
Isabel - : - Pode ser… não sei… pela altura e corpulência…talvez…
Delegada: - Talvez, nunca foi certo: É ou não é – responda por favor.
Isabel: - Eu estava no chão e não o via bem… Talvez seja…
Delegada: - Estou elucidada. O Sr. Joaquim Saraiva pode retirar-se em paz, assim como o Sr. da GNR. Quanto a D. Isabel, tenho que fazer-lhe mais umas perguntas.
Na saída do Tribunal, Quim suspirou profundamente. Psicologicamente, não se sentia capaz de ir trabalhar (o que era muito raro nele). Apanhou um táxi e foi para casa: deitou-se na cama e só acordou à noite.
O tempo passou e o caso foi esquecido.
Uma manhã, quando o Quim saia do Metro e a caminho do trabalho, um carro parou junto dele e uma voz, depois de baixar o vidro, gritou-lhe:
Isabel: - Olhe lá seu homezeco, o carro que você abalroou, como vê, já está arranjado. Mas você vai-mas pagar – isso vai…
O Quim não lhe respondeu, mas pensou para si: “Ai que o dia me vai correr mal!”
Poucos minutos de se sentar à sua secretária da companhia de seguros onde trabalhava, um colega foi ter com ele:
Vitor - o Abel hoje não vem e está no balcão uma senhora que quer saber em que ponto está o processo de um acidente que teve. Tu que trabalhas em colaboração com ele, vai atendê-la. Mas já te vou avisar que essa senhora, é muito bonita mas tem cá uma língua de víbora, que não é brinquedo nenhum. Não te demores muito pois senão ela é bem capaz de invadir as instalações!
Com pouca vontade, o Quim levantou-se e dirigiu-se ao balcão para atender a cliente. Quando chegou ao balcão, ouviu logo a “saudação” com que a cliente o presenteou:
Quim – Em que lhe posso ser útil? … Mas você aqui?!
Isabel – O mesmo direi eu: que faz você aqui? Até parece que me anda a perseguir depois de ter amachucado meu carro!
Quim – Perdão, primeiro, não tenho carro e já há muito que não conduzo (dirijo). Portanto e como ficou amplamente demonstrado que não fui eu que provoquei o acidente. Disto isto, diga-me por favor, em que lhe posso ser útil?
Isabel – Sempre a mesma desculpa… Olhe, quer saber quando esta seguradora me paga os prejuízos que tive?
Quim – Só lhe posso dizer que esta firma lhe pagará tudo a que tem direito quando receber o processo que o Tribunal nos vai. Só não lhe sei dizer quando isso acontecerá.
Isabel – Oxalá que você não atrase essa comunicação, por simples vingança…
Algumas semanas depois.
O Quim e os colegas estavam na pausa da tarde para tomar café, perto da seguradora, quando junto ao balcão, quando uma voz de mulher pediu em alta voz “Tire-me um café bastante forte, pois estou com muita pressa”.
Ao ouvir aquela voz, o Quim voltou-se e viu a moça que o acusava de ter amachucado seu carro, ao mesmo tempo que ela também o via. Ela, já com a chávena (xícara) na mão, sem quer fez um movimento brusco e entornou o café por cima do Quim.
Isabel – Desculpe sr (não sei quantos), não foi por mal. Mas estou disposta a pagar a lavagem da camisa…
Quim – Como lhe posso perdoar, se estou todo sujo de café? E não é só a camisa como as calças e roupa interior até às meias? Como posso voltar ao escritório neste estado?
Isabel – Já lhe disse que pago tudo!
Quim – Recuso essa opção. Você, é que tem de lavar tudo e passar a ferro, senão…
Isabel – Eu lavo tudo pois até me fica mais barato. Quer boleia até sua casa para mudar de roupa?
Quim – Se não me der boleia, também paga o táxi!
No Domingo seguinte, logo pela manhã, a campainha da casa onde morava o Quim, tocou. Com grande admiração sua, quando abriu a porta encontrou uma linda moça com as suas calças e camisa na mão e um pequeno saco com as meias e cuecas. Estafado pela situação, só pode balbuciar:
Quim – Não sei seu nome? Eu sou o Quim…
Isabel – E eu sou a Isabel!
Quim – Fico-lhe muito agradecido pela sua gentileza de vir entregar-me a roupa. Pode entrar…
Isabel: - Não entro não!
Quim – Então, como já são horas do almoço, convido-a para almoçar comigo. Você dá a boleia e eu pago-lhe o almoço?
Isabel – Bem… Então despache-se pois, eu com fome só impossível de aturar. E já agora, onde vamos almoçar? Olhe que não gosto de peixe com muitas espinhas…
Quim – Contava ir almoçar uma pizza ao Colombo…
Isabel – Não se demore. Olhe que só espero 8 minutos!
O almoço correu bem, com conversa de nível elevado, principalmente, quando o Quim lhe disse que a indenização da seguradora estava pronta para ser entregue e o que o verdadeiro culpado do acidente tinha sido apanhado pela polícia quando se preparava para sair do país. A partir desse dia, começaram a tomar o café depois do jantar, em princípio uma vez por semana, depois duas vezes até que chegaram a tomar o café todos os dias e ao domingo almoçavam juntos quase sempre.
Num sábado, ela atrasou-me na hora marcada para o café depois do jantar. Desculpou-se que tinha ido ao veterinário com seu gato, para este fazer uma “pequena” cirurgia (castração), pois, as vizinha se queixavam que o gato andava sempre atrás de suas gatas.
Quim – Coitadinho, nem gato se pode ser nesta terra!
Isabel – Também tive pena, mas teve de ser…
Num sábado de Lua Cheia, o parzinho depois do jantar no restaurante onde costumavam frequentar, resolveram ir a uma discoteca perto de uma praia. A discoteca estava cheia e o barulho era muito. Por essa razão, resolveram sair e ir admirar a lua (que estava linda) numa falésia junto à praia. A conversa era banal e em determinada altura, num movimento natural e brusco de suas cabeças, seus lábios se colaram num longo e lânguido beijo. Naquela situação, começaram a aliviar a roupa um ao outro, esquecendo de admirar a Lua…
Algum tempo depois, Isabel começou a ver uma luz que se dirigia para o carro, e exclamou:
Isabel – Quim, será que a Lua descesse à Terra?
Quim – Estou a vê-la lá em cima…
Isabel – Então o que será aquele foco de luz?
Quim – Não faço a menor ideia do que seja. Talvez seja um extraterrestre. Mas pelo sim pelo não, vamos enrolar a roupa em volta dos nossos corpos.
Segundos depois, a tal “luz” bateu no vidro do carro e pediu para abrir. Era uma guarda-florestal que andava a passar a ronda:
Guarda – Que estão aqui a fazer a esta hora?
Muito atrapalhados e sem saberem qual a melhor justificação a dar ao guarda-florestal, disseram ao mesmo tempo:
- Estamos a admirar a Lua que está belíssima!
O guarda deu uma enorme e sonora gargalhada, antes de responder:
Guarda – E para admirar a Lua, é preciso estarem meios nus?
A situação era embaraçosa. A Isabel teve então uma “brilhante” ideia:
Isabel – Senhor guarda, nós pertencemos a um grupo de adoradores da Lua Cheia e, para melhor a adorámos, temos que tirar a roupa…
Perante tal resposta, o guarda-florestal voltou a dar uma sonora gargalhada e aconselhou-os:
Guarda – Bem, bem… vistam-se que a noite está fresca e regressem a casa. Boa Noite!
Os meses foram passando e cada vez a amizade crescia, embora por vezes com umas discussõezinhas à mistura. Durante um jantar, o Quim pediu a mão a Isabel. Ela sorriu.
Isabel – Mas só a mão, pois não podemos esquecer aquela Lua Cheia, aquela luz e sobretudo o guarda-florestal. Mas prometo-te que vou pensar muito bem e com muito cuidado na tua proposta. Por fim, pensou a aceitou.
Meses depois, na véspera do casamento, Isabel telefonou a seu noivo.
Isabel – Quim, sempre vais à despedida de solteiro com os teus colegas?
Quim – Sim vou. Vais ser uma pequena festa num restaurante…
Isabel – Num restaurante? Olha, antes dessa despedida, convido-te a acompanhar-me ao veterinário.
Quim – Ao veterinário? O que vais lá fazer? O gato está doente?
Isabel – O gato está de boa de saúde. Quero ir lá para o veterinário te fazer a operação que fez ao gato – recordas-te?
Quim – Deixa-me rir! Podes ter confiança em mim, para mais, hoje não é dia de Lua Cheia!
Ano e meio depois, numa maternidade, Isabel acaba de dar à luz um lindo bebé. Depois do parto, Quim aproximou-se da mulher.
Quim – Como estás minha querida? Ainda tens muitas dores?
Isabel – Já sinto menos dores, mas, continuo a pensar que devia ter-te levado ao veterinário… Olha, desde já fica combinado que se tivermos mais algum filho, será tu que o tens…
Fontes:
Colaboração de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
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