terça-feira, 19 de abril de 2011

António Botto (1897 - 1959)


António Tomás Botto (Concavada, Abrantes, 17 de Agosto de 1897 — Rio de Janeiro, 16 de Março de 1959) foi um poeta português.

António Botto nasceu em Concavada, freguesia do conselho de Abrantes, Portugal, às 8h00[1], filho de Maria Pires Agudo e de Francisco Thomaz Botto. O seu pai trabalhava como "marítimo" no rio Tejo. Em 1908 a sua família mudou-se para o bairro de Alfama em Lisboa, onde cresceu no ambiente popular e típico desse bairro, que muito influenciou a sua obra. Recebeu pouca educação formal e trabalhou em livrarias, onde travou conhecimento com muitas das personalidades literárias da época, e foi funcionário público. Em 1924 - 25 trabalhou em Santo António do Zaire e Luanda, na então colônia de Angola.

António Botto tinha um sentido de humor sardónico, incisivo, uma mente e língua perversos e irreverentes, e era um conversador brilhante e inteligente. Era amigo do seu amigo, mas ferozmente ruim se sentia que alguém antipatizava com ele ou não o tratava com a admiração incondicional que ele julgava merecer. Este seu feitio criou-lhe um grande número de inimigos.

Era visitante regular dos bairros boêmios de Lisboa e das docas marítimas onde desfrutava a companhia dos marinheiros, tantas vezes tema da sua poesia. Apesar de ser sobretudo homossexual, António Botto foi casado até ao final da sua vida com Carminda Silva Rodrigues.

Em 9 de Novembro de 1942 António Botto foi demitido do seu emprego na função pública (escriturário de primeira-classe do Arquivo Geral de Identificação) por fazer versos e recitá-los durante as horas regulamentares do funcionamento da repartição, prejudicando assim não só o rendimento dos serviços mas a sua própria disciplina interna.

Ao ler o anúncio publicado no Diário do Governo, Botto ficou profundamente desmoralizado e comentou com ironia: "Sou o único homossexual reconhecido no País..."

Para se sustentar passou a escrever artigos, colunas e crítica literária em jornais, e publicou vários livros, entre os quais "Os Contos de António Botto" e "O Livro das Crianças", uma coleção de sucesso de contos para crianças (que seria oficialmente aprovada como leitura escolar na Irlanda, sob o título The Children’s Book, traduzido por Alice Lawrence Oram). Mas tudo isto se revelou insuficiente.

A sua saúde deteriou-se devido a sífilis terciária que ele recusava tratar e o brilho da sua poesia começou a desvanecer-se. Era alvo de troça quando entrava nos cafés, livrarias e teatros. Por fim, cansou-se de viver em Portugal e em 1947 decidiu emigrar para o Brasil. Para juntar dinheiro para a viagem organizou, em maio desse ano, recitais de poesia em Lisboa e no Porto, que resultaram em grandes sucessos, com elogios por parte de vários intelectuais e artistas, entre os quais Amália Rodrigues, João Villaret e o escritor Aquilino Ribeiro.

A 17 de Agosto partiu finalmente para o Brasil com a sua mulher.

No Brasil residiu em São Paulo até 1951 quando se mudou para a cidade do Rio de Janeiro. Sobreviveu escrevendo artigos e colunas em jornais Portugueses e Brasileiros, participando em programas de rádio e organizando récitas de poesia em teatros, associações, clubes e, por fim, botequins.

A sua vida foi-se degradando de dia para dia e acabou por viver na mais profunda miséria. A sua megalomania agravada pela sifílis era gritante e não parava de contar histórias delirantes das visitas que André Gide lhe teria feito em Lisboa ("Se não foi o Gide, então foi o Marcel Proust..."), de ser o maior poeta vivo e de ser o dono de São Paulo. Em 1954 pediu para ser repatriado, mas desistiu por falta de dinheiro para a viagem. Em 1956 ficou gravemente doente e foi hospitalizado por algum tempo.

Em 4 de Março de 1959, ao atravessar a Avenida Copacabana, no Rio de Janeiro, foi atropelado por um automóvel do governo. 16 de Março de 1959, no Hospital da Beneficência Portuguesa, Botto expira, abraçado pela sua inconsolável mulher.

Em 1966 os seus restos mortais foram trasladados para Lisboa e, desde 11 de Novembro do mesmo ano, estão depositados no Cemitério do Alto de São João.

O seu espólio seria enviado do Brasil pela sua viúva Carminda Rodrigues a um parente, que o doara, em 1989, à Biblioteca Nacional.

A obra poética

"A vasta obra poética de Botto, em parte ainda dispersa ou não-recoligida, apesar de e também pelo muito que ele publicou, republicou, reorganizou em volumes dispersos ou suprimia de volumes anteriores, etc., poderá repartir-se em quatro fases: a juvenil, em que continua o tom da quadra dita popular, conjugando-o com aspectos da dicção simbolista que poetas como Correia de Oliveira, Augusto Gil, e sobretudo Lopes Vieira haviam introduzido nela; a simbolistico-esteticista, em que a juvenilidade tradicionalizante se literaliza dos requebros esteticísticos que marcaram, nos anos 20, muita poesia simultaneamente da tradição saudosista e modernista (é a das primeiras edições das Canções e breves plaquetes seguintes, em que todavia a personalidade do poeta já figura inteira em diversos poemas); a fase pessoal e original, nos anos 30, desde as edições de 1930-32 das Canções (em que ele ia incorporando seleções de coletâneas anteriores) até a Vida Que Te Dei e Os Sonetos (fase que é também a dos seus excepcionais contos infantis que tiveram realmente as edições estrangeiras que se julgava ser uma das mentiras megalomaníacas do poeta, da «novela dramática» António, e da peça Alfama); e a última fase, nos anos 40 e 50, até à morte que é a de uma longa e triste decadência, com poemas desvairadamente oportunistas, revisões desastrosas afetando nas reedições alguns dos melhores poemas anteriores [...]" em Líricas Portuguesas, de Jorge de Sena.

A tempestade desencadeada por Canções e por "Sodoma Divinizada", bem como por outras obras e artigos que apareciam nas livrarias e jornais da época de que importa destacar "Decadência" de Judite Teixeira, foi tremenda, e a Federação Acadêmica de Lisboa, tendo como porta-voz Pedro Teotónio Pereira, denuncia no jornal "A Época", em fevereiro de 1923, a "vergonhosíssima desmoralização, que sob os mais repugnantes aspectos, alastra constantemente".

A Federação Acadêmica de Lisboa estaria com grande probabilidade apenas a servir de face pública das vontades do poder instituído da época porque pouco depois, em Março, é ordenada pelo Governo Civil de Lisboa a apreensão dos já mencionados livros de Botto, Raul Leal e Judite Teixeira.

Fernando Pessoa e Álvaro de Campos protestam contra o ataque dos estudantes a Raul Leal: "Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. (...) Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte. Mas quanto ao resto, calem-se. Calem-se o mais silenciosamente possível". Mas com pouco efeito. O impulso censório, moralista, obscurantista e homofóbico, ganha força com o regime do Estado Novo e a revista "Ordem Nova" declara-se "antimoderna, antiliberal, antidemocrática, antibolchevista e antiburguesa; contra-revolucionária; reaccionária; católica, apostólica e romana; monárquica; intolerante e intransigente; insolidária com escritores, jornalistas e quaisquer profissionais das letras, das artes e da informação". António Botto acaba por se ver forçado a emigrar para o Brasil e Raul Leal será vitíma de espancamentos e deixará de escrever para jornais durante 23 anos.

Obras

Poesia

Trovas (1917)
Cantigas de Saudade (1918)
Cantares (1919)
Canções (várias edições, revistas e acrescentadas pelo autor, entre 1921 e 1932) (eBook)
Canções do Sul
Motivos de Beleza (1923)
Curiosidades Estéticas (1924)
Pequenas Esculturas (1925)
Olimpíadas (1927)
Dandismo (1928)
Ciúme (1934)
Baionetas da Morte (1936)
A Vida Que te Dei (1938)
Sonetos (1938)
O Livro do Povo (1944)
Ódio e Amor (1947)
Fátima - Poema do Mundo (1955)
Ainda Não se Escreveu (1959)

Ficção

António (1933)
Isto Sucedeu Assim (1940)
Os Contos de António Botto (1942) - literatura infantil
Ele Que Diga Se Eu Minto (1945)

Teatro

Alfama (1933)

Esgotada desde há muitos anos, a obra completa de António Botto começou a ser reeditada, em 2008, pelas Quasi Edições (Lisboa), a cargo do crítico literário e escritor Eduardo Pitta.

Homenagens

Prémio António Botto = Prémio atribuído pela Câmara Municipal de Abrantes a autores de literatura infantil, desde 1996.

José Régio = Em 1938 é publicado no Porto o ensaio António Botto e o Amor da autoria de José Régio, considerado como uma arrojada análise psico-poética do poeta das Canções.

Fonte: Wikipedia

Um comentário:

Unknown disse...

O triste é nós não sabermos fazer uma diferenciação entre a pessoa e a sua escolha sexual. Antonio Botto é maravilhoso, é o homem sensível que toda mulher deseja (risos), ele é simplesmente divino de uma sensibilidade que excede o imaginável. Creio que só passado muito tempo nós seres humanos conseguiremos finalmente compreender o que significou uma pessoa dessas. E te digo não importa se foi megalomania pois não o foi, pois ele é tudo uma síntese do amor e do belo.



http://youtu.be/E_MXEab4028