quarta-feira, 6 de abril de 2011

Celina Figueiredo (Livro de Poesias)


A FLOR

Diante de mim a tela
que branca espera
da vida o retrato.
Das trêmulas mãos
o pincel escapa.
Lágrimas amargas
de dor e saudade
no espaço brotam
e no quadro vazio
com graça e magia
uma flor desabrocha.

ABANDONO

No borbulhar da taça de champagne
a solidão mergulha,
transborda o líquido
que derrama espumante
na branca toalha de linho.

Os olhos já vermelhos
sentem seu próprio sangue
a se esvair.

Sem consolo,
sem amigos,
Só.

À VIRGEM

Sonhei um dia
entregar-me a ti
e teu altar
adornar com brancas flores
colhidas no jardim
do meu amor.

Meu coração
guardarias junto a ti,
com teu manto
envolverias minha fronte,
em resposta
à promessa
que te fiz.

………………………………………..

No mundo louco
o meu sonho
se desfez.
Em teu altar nunca mais
flores depus.
A teus pés ,
só pode agora repousar
o coração perjuro
e tão magoado
da filha ingrata
que a promessa não cumpriu.

Mas tu, ó Virgem,
saberás compreender-me
e, bem sei, um dia
hás de acolher-me
e em teu regaço
embalar-me
para sempre.

ALMA DESNUDA

Quero agora
cantar amores,
chorar saudades,
beijar o vento,
abraçar o sol,
suspirar à aurora.

Chorar
não consigo.
Cantar
não posso.

Sou rio
sem vida,
sem margem florida,
sem brisa da tarde,
sem clarão da lua,
sem arrebol.

Sou alma perdida,
imagem nua
a vagar sem rumo
na noite escura.

APELO


Força que anima
meu viver sem vida,
doce miragem
a embalar meus sonhos,
deixa ao menos
eu seguir teus passos
e, na poeira que teus pés levantam,
sufocar o pranto de esperança,
matar para sempre esta paixão.

BUSCA INCESSANTE

Qual Ismália enlouquecida
vejo uma lua no céu,
vejo outra lua no mar.

Dividida vivendo,
não sou exceção.
Do universo binário,
da unidade de Deus,
sou parcela integrante.
Ser em conflito,
alma barroca,
de um lado a outro
tentando em vão
a mim mesma encontrar.

CHUVA


Nuvens negras
prenúncio de chuva…
Chuva que lava as folhas,
que molha o solo,
que leva o sonho…

Chuva que cai,
lava minh’alma,
leva pra longe
os sonhos passados,
as mágoas presentes,
e , no vasto oceano,
os deixa rolar..

FANTASIAS


Sobre o casario adormecido
O luar derrama lágrimas de prata.
No telhado, a silhueta de uma gato vadio
Completa a magia da noite.

Da matéria o espírito liberto
Em leve vôo foge
Na busca perene do amor.

Sonhos…
Ilusão…
Fantasias…
Madrugada de lua cheia…

IMAGENS DA VIDA

No adro de velha igreja
Já quase toda em ruínas
Crianças despreocupadas
Brincam a colher boninas.

Cuidadosamente tecem
As mãozinhas delicadas
Guirlandas de sonho e festa
Com as florinhas tosadas.

Da vida no seu verdor
Não pensavam as meninas
Nas coroas coloridas,
Roxas, brancas, sulferinas,
Que um dia ornariam
Sua eterna moradia.

NOITES DO PASSADO

Frias noites do passado,
fino nevoeiro envolve os corpos,
chamas da adolescência aquecem a alma…

Cruzam-se discretos os olhares,
disparam corações enamorados,
ao suave despertar do amor!…

Perdidas no tempo as noites frias…

No coração, soa o sino da saudade…
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Fontes:
Cultura Livre.
Recanto das Letras.

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