quarta-feira, 6 de abril de 2011

Celina Figueiredo (Caderno de Trovas)


TROVAR

Não sei se vivo a trovar
Ou se trovar é viver.
Só sei que não sei ficar
Sem minha trova escrever.

TROVAS (avulsas)

Somente um nada ficou
Do amor que nos uniu.
Só a saudade restou
Depois que você partiu

A mulher é um mistério
Para o homem desvendar.
Não a leve tão a sério
Pra você não se acabar.

Pálido outono, confesso,
Há tempos já me deixou;
Só a saudade restou
Do tempo que não mais meço.

TROVINHA

Passarinho mal cantou
Violeta já sorriu.
Rosa branca desfolhou
E do amor se despediu.

SERÁ OUTONO?

Sem folhas secas ao vento
E um céu azul , puro anil,
Nem dourado nem cinzento,
É o outono no Brasil

RENÙNCIA

Ao mergulhar no vazio
Sinto no peito uma dor
É para mim desafio
Abandonar este amor.

O BEIJO

Beija-flor vem à janela,
Suga o mel da flor-de-seda,
Olha bem e diz pra ela:
_Sempre um beijo me conceda.

PALHAÇO

Coração guarda absinto
Mas nos lábios tens o mel.
Deixo aqui tudo o que sinto:
Eis, Palhaço, o teu papel.

FRIO AZUL

Devagar, devagarinho.
Vem o frio lá do sul;
Vai chegando de mansinho
Com um alegre céu azul.

PALAVRAS AO VENTO

Palavra lançada ao vento
Nas ondas sempre a girar;
Não há na vida lamento
Que a faça um dia tornar.

BOM DIA

Bem-te-vi me visitou,
Bem depressa e sem demora.
Da janela me olhou,
Deu "Bom Dia" e foi-se embora.

DÁLIA

Rosa, branca ou sulferina
Sempre linda em sua cor
Sem perfume , eis a sina,
Que atormenta a bela flor.

TROVA

Meu jardim tem tantas flores
Que nem sei a preferida:
Se são rosas multicores
Ou a branca margarida.

INFINITO AMOR

Sentir o tempo que passa
Ligeiro diante de mim
Lembrar o amor que ultrapassa
Distância e mágoa sem fim

INCÊNDIO

Fogo no alto da serra
Lua cheia indiferente
Tórrido calor na terra
Vandalismo inconseqüente

POR VOCÊ

Por você eu corro os mares
Das montanhas subo ao cume
Vou buscar em outros ares
Lindas flores com perfume

SAUDADE

Rasgando o véu da vaidade
Mostra a verdade na face
Que ostenta a cor da saudade
Na dor que dos olhos nasce

O ORVALHO E A FLOR

Chora lágrimas a flor
Pelo orvalho da manhã
De tristeza ou de amor
Esta luta é sempre vã

PEGADAS

Não caminhes pela estrada
Sem deixar dos pés a marca
Teu viver sem fazer nada
Não conduz pro céu a barca

NA ESTRADA DA VIDA...

Na estrada da vida eu sigo,
na busca do infinito.
Aos céus eu sempre bendigo,
por este mundo em que habito.

O ESPINHO

Entre as flores do jardim
Um espinho me feriu.
Logo, logo, um jasmim
Com um beijo me acudiu..

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