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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Jornais e Revistas do Brasil (Jornal de Timon)


Período disponível: 1852 a 1858 
Local: MA 
  
O Jornal de Timon foi fundado em 25 de junho de 1852, em São Luiz, no Maranhão pelo jornalista e historiador João Francisco Lisboa. Inicialmente uma publicação mensal, impressa na “Typographia Const. de I. J. Ferreira”, no nº 23 da rua da Paz, tratou especialmente de história política, não só do Maranhão mas também da Europa, seja, no caso desta última, na Antiguidade, Idade Média ou Idades Moderna e Contemporânea. Tomando de empréstimo o nome do filósofo grego conhecido por sua misantropia (Timon), João Lisboa acabou assumindo a alcunha de “o Timon Maranhense”, tendo entrado para história intelectual brasileira como o patrono da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras (ABL).

No formato pequeno predominante na época, próximo ao de livros, o Jornal de Timon trazia na página de rosto a epígrafe “Periculum dicendi non recuso” [“Não recuso tratar do que é perigoso”], frase do filósofo romano Cícero. O prospecto da edição inicial, de 25 de junho, expunha as razões do estilo crítico que João Lisboa iria imprimir ao seu jornal:

"O obscuro canto do mundo que habitamos não podia escapar á sorte commum, e a epocha que nos coube atravessar, é uma daquellas em que o mal tem decidida preponderancia; (...) o mal vil e despresível, o lodo, a baixeza, a degradação, a corrupção, a immoralidade, toda a casta de vicios enfim, tormento inevitavel dos animos generosos que os cegos caprichos do acaso designaram para espectadores destas scenas de opprobio e de dor. Timon, antes amigo contristado e abatido, do que inimigo cheio de fel e desabrimento, emprehende pintar os costumes do seu tempo, encarando o mal sobretudo, e em primeiro logar, senão exclusivamente, sem que nisso todavia lhe dê primazia, ou mostre gosto e preferencia para a pintura do genero. Ao contrario, faz uma simples compensação, porque o mal, nas apreciações da epocha, ou é esquecido, ou desfigurado."

Essa edição trazia uma avaliação das experiências eleitorais ao longo da história. Na parte inicial, tratava das eleições na Antiguidade, especificamente em Atenas, Esparta e na Roma republicana e imperial. Na parte seguinte, tratava das eleições na Idade Média e na Idade Moderna, atendo-se à Roma católica, Inglaterra, Estados Unidos, França e Turquia. 

Nas três edições seguintes, publicadas em 1852 e 1853, o foco era dirigido para a história política da Província do Maranhão. Em estilo pungente e, em não poucas vezes, irônico, mas sempre fundado em ótica liberal, o jornal do “Timon Maranhense” teceu duras críticas aos costumes políticos de sua época, tendo por objeto os processos eleitorais e a atuação dos partidos políticos e da imprensa. Não lhe escaparam as cerimônias oficiais, as relações entre o governo e a Igreja, entre a imprensa e o governo, as instalações e logística oficiais, particularidades dos partidos políticos locais, atuação dos líderes locais, articulações e dissoluções partidárias, questões econômicas maranhenses, perseguições a quilombos, rivalidades e tumultos de ordem política, a opressão violenta do poder público com espancamentos e mortes, festejos populares, corrupção eleitoral, relações da província com o poder imperial, o desenvolvimento do indivíduo e do país por meio do trabalho e da produção de riqueza etc.

Na quinta edição, o Jornal de Timon iniciou uma longa série, que duraria até o último número, intitulada “Apontamentos, notícias e observações para servirem á História do Maranhão”. O número pareceu dividido em três livros. O primeiro abordou o Descobrimento da América e do Brasil, o início da colonização do Maranhão, particularidades de antigos exploradores e cronistas do Descobrimento, a divisão do Novo Mundo por Portugal e Espanha e, por fim, o sistema de capitanias hereditárias. O segundo tratou da invasão francesa no norte do Brasil (incluindo a ocupação francesa no Maranhão), expedições portuguesas visando à extirpação dos franceses, batalhas e tréguas e o fim da invasão francesa no Brasil. E o terceiro livro focalizava a invasão holandesa no norte brasileiro, com a tomada do Maranhão pela armada holandesa, saques e deportações de importantes habitantes de São Luís, a insurreição popular contra o domínio estrangeiro, o cerco português à capital maranhense, atrocidades e devastações durante os conflitos, batalhas e conflitos cruciais até o fim da presença holandesa no Brasil.

Após a quinta edição, a publicação de João Francisco Lisboa passou a reunir várias edições em um único volume. Ainda em 1853, um único volume, com 420 páginas, publicava os números 6, 7, 8, 9 e 10. Este volume 6-10 dava prosseguimento à publicação dos “Apontamentos, notícias e observações para servirem á História do Maranhão”. Assim, o quarto livro trazia um “Parallelo das invasões franceza e holandeza”. O quinto e o sexto estudavam questões e particularidades ligadas aos povos indígenas brasileiros, com suas culturas e costumes, organização social e meios de subsistência, crenças espirituais e línguas, escravidão e relações gerais com os invasores europeus, o definhamento frente ao processo de colonização, a antropofagia de prisioneiros em algumas tribos, as impressões e interpretações de Pero Vaz de Caminha e do padre Antônio Vieira, a legislação portuguesa e bulas papais sobre os indígenas, além de particularidades de tribos e comunidades em toda a América setentrional. O sétimo e o oitavo livros, por sua vez, tratavam exclusivamente da relação entre indígenas e os jesuítas, abordando princípios gerais e doutrinas da ordem jesuítica, a figura de Ignácio de Loyola, a missão de São Francisco Xavier no Oriente, a chegada da ordem ao Brasil, lutas entre jesuítas e colonos pela libertação indígena, missões no Maranhão, a vida e a atuação do padre Antônio Vieira, episódios marcantes na história da atuação dos missionários na colônia etc. 

A periodicidade do Jornal de Timon não foi regular. De acordo com o verbete sobre João Francisco Lisboa no site da Academia Brasileira de Letras, “Os cinco primeiros números [do Jornal de Timon] circularam mensalmente. Somente em 1854 saíram, em volume [único] de 416 páginas, os fascículos de 6 a 10”. A pausa na publicação após 1854 deu-se pela transferência de João Lisboa para o Rio de Janeiro em 1855. Depois de curto período na capital brasileira, o maranhense “partiu para Lisboa, incumbido pelo Governo Imperial de coligir, em Portugal, documentos e dados elucidativos da história brasileira”. 

Depois de alguns anos sem circular, por volta de março de 1858 foi lançado o nº 11/12 do Jornal de Timon, em Portugal. A impressão foi na Imprensa União-Typographica, no nº 113 da rua dos Calafates. A edição vinha com um texto explicativo aos assinantes: 

"A regularidade da publicação (...) foi embaraçada por diversas circumstancias. Quando sahimos da província [do Maranhão] em 1855 faltavam ainda dous numeros (cento e sessenta a dusentas paginas) para completar-se o programma. Prevendo o quanto as nossas viagens ao Rio e á Europa poderiam retardar o pagamento desta divida, offerecemos desde logo restituir o importe correspondente das assignaturas; mas nem um só subscriptor se quiz aproveitar deste direito, e todos preferiram esperar. Penhorado por esta lisongeira prova de confiança e benevolencia, o auctor tem hoje a satisfação de apresentar-lhes os n.os 11 e 12 do Jornal de Timon, duplicando o numero das paginas devidas, como uma especie de compensação á longa demora."

Mesmo com o hiato na periodicidade, o nº 11/12 prosseguiu com os “Apontamentos, notícias e observações para servirem á História do Maranhão”, tratando de assuntos gerais relativos ao Maranhão e ao Brasil coloniais. Em perspectiva analítica, a edição abordou o regime absolutista, as primeiras tentativas de colonização do Maranhão, o governo de Ruy Vaz de Sequeira e de alguns de seus sucessores, a destruição de tribos indígenas locais, a legislação colonial, as questões acerca da fundação do governo geral da Bahia, a magistratura e o clero, questões concernentes às ordens religiosas no Brasil, instituições e figuras públicas maranhenses, organização social das capitanias, legislação criminal e para imigrantes, expedições militares, escravidão e liberdade de indígenas e povos africanos, questões ligadas a atividades econômicas (comércio, indústria, agricultura, navegação, monopólios, privilégios, legislação etc.), a Revolta de Beckman em 1684, administração pública imperial (inclusive os episódios de corrupção e incompetência), estatísticas provinciais e documentos oficias, usos e costumes maranhenses, entre outras coisas. A edição 11/12 foi a última.

Doublé de jornalista e historiador, João Lisboa enfrentou certa resistência da Academia Brasileira de Letras, sobretudo por causa de seu jornal. Ainda de acordo com o verbete da ABL, o intelectual "Atacou, entre outros, [Francisco Adolfo de] Varnhagen, pelo método que empregou na História do Brasil. Apareceu, então, em Lisboa o panfleto Diatribe contra a timonice. Seu autor, disfarçado sob o pseudônimo de Erasmo, era o cunhado do próprio Varnhagen, Frederico Augusto Pereira de Moraes. Também Varnhagen replicou no opúsculo Os índios bravos e o senhor Lisboa."

Em 1995, a editora Companhia das Letras publicou o livro Jornal de Timon: partidos e eleições no Maranhão, organizado por José Murilo de Carvalho, que transcreve o segundo e o terceiro volumes do jornal Em 2004, o vol. 28 das Edições do Senado Federal republicou os números 1, 2, 3 e 4. Esse volume encontra-se disponível para consulta no site da Biblioteca Digital do Senado Federal: http://www2.senado.gov.br/bdsf/item/id/1098

Bibliografia

 1. João Francisco Lisboa. Academia Brasileira de Letras. Disponível em: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=891&s... Acesso em 3 jul. 2012.
 2. Jornal de Timon - Partidos e eleições no Maranhão. Companhia das Letras. Disponível em: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=10528 Acesso em 3 jul. 2012.
 3. LISBOA, João Francisco. Jornal de Timon. Eleições na Antiguidade. Eleições na Idade Média. Eleições na Roma Católica, Inglaterra, Estados Unidos, França, Turquia. Partidos e eleições no Maranhão. Edições do Senado Federal – Vol. 28. Brasília: Senado Federal, 2004. Disponível em: http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/1098/4/714621.pdf Acesso em 3 jul. 2012.

Fonte
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/jornal-de-timon

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Jornais e Revistas do Brasil (Jornal das Famílias)


Período disponível: 1863 a 1878 
Local: Rio de Janeiro, RJ 
Continuação de: Revista popular

Hoje, mais corajosos do que d’antes, (...) resolvemos sob o novo título de Jornal das Famílias, melhorar a nossa publicação. O Jornal das Famílias, pois, é a mesma Revista Popular, d’ora avante mais dedicada aos interesses domésticos da família brasileira.

São os seus collaboradores os mesmos distinctos cavalheiros a quem tanto deve a Revista, accrescendo outros a quem tivemos a honra e a fortuna de angariar.

Mais do que nunca dobraremos os nossos zêlos na escolha dos artigos que havemos de publicar, preferindo sempre os que mais importarem ao paiz, á economia doméstica, á instrucção moral e recreativa, á hygiene, n’uma palavra, ao recreio e utilidade das famílias.” 

Assim o editor francês Baptiste Louis Garnier – criador no Rio de Janeiro, em 1844, em sociedade com seus irmãos na França, da “Garnier Irmãos”, logo depois denominada apenas “B. L. Garnier” ou apenas “Garnier” – apresentava, no primeiro número, o Jornal das Famílias. A publicação sucedia à Revista Popular, também por ele editada, que circulara de 1852 a 1862. 

Enquanto esta última tratava de assuntos diversos, como ciência e agricultura, para um público amplo, o alvo da nova publicação eram as mulheres de classe média e alta, público que crescia acompanhando o processo de urbanização do país.

Contos, poesias, romances, culinária, moda, higiene eram os assuntos dominantes. E selecionados de modo a não ferir os valores das famílias da “boa sociedade”: no 16º volume da Revista Popular, ao anunciar a mudança pela primeira vez, os editores tranquilizavam os assinantes, informando que eles passariam a receber a nova publicação, e também às “mães de família [que] não devem recear que ele penetre em seu santuário. Haverá todo o cuidado, como na Revista Popular, para a escolha dos artigos.”1 Impresso em Paris, o que lhe conferia melhor qualidade gráfica, era bem mais ilustrado que a anterior. De Paris também vinha grande parte das matérias, especialmente aquelas sobre moda. Mas seu principal e um dos mais frequentes colaboradores foi o carioca Machado de Assis, que ali publicou de 60 a 70 textos, em sua maioria contos. 

A Biblioteca Nacional tem 183 edições deste periódico, todos eles disponíveis nesta Hemeroteca Digital.

Nota
 1. MELLO, Kátia Rodrigues. Jornal das Famílias e Machado de Assis: Um perfil do Periódico de Garnier e seu principal colaborador. 

Fonte
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/jornal-das-famílias

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Jornais e Revistas do Brasil (Idade d’Ouro do Brazil)


Período disponível: 1811 a 1823 

Local: Salvador/BA

Segundo periódico publicado no Brasil, o jornal Idade d’Ouro do Brazil foi lançado no dia 14 de maio de 1811, em Salvador, sob a proteção do então governador geral da Bahia, Marcos de Noronha e Brito, o conde dos Arcos. Assim como a pioneira Gazeta do Rio de Janeiro, aparecida em 1808, o periódico baiano era uma espécie de diário oficial da época, feito para dar publicidade aos atos oficiais e defender os interesses da Coroa portuguesa no Brasil. A diferença entre ele e a Gazeta feita na corte é que o Idade d’Ouro do Brazil (também conhecido como “Gazeta da Bahia”) era fruto da iniciativa privada. O jornal era impresso em tipografia fundada pelo comerciante, livreiro, editor e tipógrafo português Manuel Antônio da Silva Serva.

Como revela a nota explicativa “Com permissão do governo”, que era impressa ao final de cada número, a "Gaazeta Baiana" surgiu numa época em que a impressão e a publicação de livros e periódicos eram privilégios de agentes da Coroa portuguesa e sofriam uma série de restrições editoriais. 

A circulação do periódico foi autorizada sob a condição de que fosse nomeado um revisor oficial, cargo inicialmente assumido pelo próprio conde dos Arcos, que elaborou regras de redação. Exemplo de uma dessas regras: o jornal “deverá contar as notícias políticas sempre de maneira mais singela, anunciando simplesmente os fatos, sem interpor quaisquer reflexões que tendam direta ou indiretamente a dar qualquer inflexão à opinião pública”. Certamente por corresponder à expectativa real, o editor Manuel Antônio Serva conseguiu em 1815 um empréstimo do governo para aumentar e aprimorar sua oficina.

Além de notas oficiais, o periódico publicava notícias nacionais e informações relativas ao comércio, às artes, às ciências e, eventualmente, à agricultura. Trazia também notícias internacionais reproduzidas de periódicos estrangeiros. Por chegarem ao Brasil com dias de atraso, sua publicação entre nós estava quase sempre defasada. 

O jornal era pequeno, com quatro páginas de 17,5 x 10 cm. Ao final havia a seção “Aviso”, com anúncios no valor de 100 réis a linha, referentes a chegadas e partidas de embarcações, comércio de escravos, sociedades mercantis, vendas de mercadorias etc. Desde sua criação, a gazeta tinha que passar pela censura, como tudo o que se publicava no Brasil, mas a seção “Aviso” só passou a ser submetida a tal crivo em 1819. 

Os estudos apontam a identidade de dois redatores ao longo da história da publicação, ambos pertencentes à elite culta da época: Gonçalo Vicente Portela, professor de gramática latina, e o padre Inácio José de Macedo, presbítero secular, professor de filosofia e pregador régio. O jornal tinha como epígrafe os versos do poeta português Sá de Miranda: “Falei em tudo verdades/ a quem em tudo as deveis” e circulava às terças e sextas-feiras, com eventuais edições extras.

Maria Beatriz Nizza da Silva, que estudou profundamente o Idade d’Ouro do Brazil - assim como Renato Berbert de Castro, estudioso da imprensa baiana - observou que há uma lacuna referente ao ano de 1820, creditada, provavelmente, à interrupção temporária da publicação após a morte do proprietário, em 1819. O jornal reapareceu em 1821 com novo formato e periodicidade diária (excetuados os domingos), passando mais tarde a circular apenas duas vezes por semana.

Inicialmente, a assinatura podia ser anual (8$000 réis), semestral (4$000 réis) ou trimestral (2$400 réis), paga antecipadamente. O exemplar avulso custava 60 réis. A análise do público-leitor feita por Nizza da Silva demonstra que a gazeta não chegava a ter 200 assinantes em uma população, a baiana, calculada, à época, em 18 mil habitantes. Houve, portanto, considerável esforço ao longo da vida do periódico em obter mais assinantes. 

Em seu livro, a autora transcreveu o folheto raro Prospecto da Gazeta da Bahia, publicado um dia antes do lançamento de Idade d’Ouro do Brazil e no qual encontramos as inspirações para o nome do periódico: 

"As ciências diariamente se promovem, a agricultura se dilata, as artes se estendem, as fábricas se erigem, o comércio floresce e as quinas portuguesas são consideradas com respeito nos mares do novo e velho mundo. As riquezas afluem de toda a parte, as comodidades aumentam-se cada dia, a justiça e a paz deram-se amigavelmente as mãos para nossa felicidade. Podemos dizer sem receio que esta é a Idade d’Ouro do Brazil. Nem a crítica mais severa tem que repugnar à bem merecida aplicação dum nome tão especioso. Paralelizemos o dourado século de Augusto com a presente idade do Brasil e não temos susto de que se taxe de lisonjeira a alusiva comparação, principalmente na Bahia. Sem descer a detalhes minuciosos, mediremos no complexo de virtudes propriamente reais, que adornam o sublime ânimo do nosso vigilantíssimo soberano e que têm caracterizado todos os atos da sua admirável e providentíssima regência. E nós não vemos, em toda a antiguidade, nem outro tempo, nem outro príncipe que se assemelhe ao que a providência suscitou em nossos dias para fundador deste império brasílico. Esta observação assídua faz que, tendo nós de coordenar uma folha periódica nesta cidade e desejando que o seu título só por si seja a mais firme recomendação para os que a lerem, demos à nossa gazeta da Bahia a denominação adequada: IDADE D’OURO." (A primeira gazeta da Bahia: Idade d”Ouro do Brazil. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 2ª ed., 2005, ps. 36-7)

Exemplares de Idade d’Ouro do Brazil estão espalhados por várias bibliotecas, podendo ser consultados aqui na Biblioteca Nacional, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, na Biblioteca Nacional de Lisboa, no Arquivo Público e no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, onde pode ser encontrado o seu primeiro número.

Fonte
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/idade-d’ouro-do-brazil

sábado, 5 de janeiro de 2013

Jornais e Revistas do Brasil (Hierarchia)

Período disponível: 1931 a 1932
Local: Rio de Janeiro, RJ

Hierarchia foi uma revista de política, economia, cultura e questões sociais lançada no Rio de Janeiro (RJ) em agosto de 1931, tendo Lourival Fontes como diretor e Rodolfo Carvalho como diretor-comercial e diretor-secretário. A redação era na rua Teophilo Ottoni, passando depois para o nº 110 da Avenida Rio Branco (uma sala no prédio do Jornal do Brasil), e, já em 1932, para o nº 23 da praça Marechal Floriano, onde então funcionava a Casa Allemã.

Lourival Fontes se tornaria mais tarde diretor do Departamento de Propaganda e Difusão Cultural – que mais tarde se tornaria o famoso Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão responsável também pela censura durante a ditadura do Estado Novo – e chefe do Gabinete Civil da Presidência da República. Admirador, tal como muitos quadros do governo Vargas, do Estado fascista, Lourival Fontes imprimiria à publicação um conteúdo nacionalista, antiliberal e anticomunista, o mesmo atribuído a sua congênere Política, também por ele fundada.

Em formato de livro e com 128 a 166 páginas, a revista era feita em duas colunas e dividida em seções. "Artigos Especiaes", a seção principal, tratava de temas como ensino religioso e ensino leigo, fascismo, diretrizes sociais do Brasil, família e divórcio, centralização e federação, economia, architetura, organisação nacional e defesa militar, democracia. Algumas de suas seções permanentes eram "O mez internacional" e "Revista dos llvros". Os artigos eram, em geral, longos e densos.

Entre os temas mais explorados estavam os rumos políticos do Brasil, a identidade nacional, questões relativas ao fascismo (concepção de Estado, relação com o catolicismo, organização sindical etc), economia e finanças do país, nacionalismo, democracia e corporativismo, política internacional, paz mundial, educação, ensino moral e religioso, família (ver "A família e o divórcio", no nº 2), relações entre Igreja e Estado, estudos sociológicos sobre o Brasil, questões militares, conflitos armados no mundo, eugenia e “limpeza étnica” (como o artigo "A primazia da educação hygienica e eugenica escolar", de Belisário Penna, no nº 2), cultura brasileira, literatura, belas artes (como o artigo de Cândido Portinari no nº 5, mar. e abr., 1932), paralelos entre o Brasil e a Rússia soviética, industrialismo, crise econômica mundial, direitos do operariado, federalismo no Brasil, saúde pública, arquitetura, figuras políticas de destaque, questões agrárias, direitos políticos femininos (nº 5), liberdade de imprensa, turismo etc.

Colaboram nas poucas edições da revista: Antônio José Azevedo Amaral, anos depois responsável pelas revistas Diretrizes e Novas Diretrizes, Sérgio Buarque de Hollanda, Plínio Salgado, Alceu Amoroso Lima (que assinava Tristão de Athayde), Cândido Portinari, Christóvam de Camargo, José Maria Bello, Oliveira Vianna, Octavio de Faria, Heráclito Sobral Pinto, Hélio Vianna, Bezerra de Freitas, Moacyr Pompéa, Alberto Gonçalves, Reis Carvalho, o padre Galdino Moreira, padre Leonel Franca, Mattos Pimenta, José Augusto, Luiz Schnoor, Mendes Fradique, Ildefonso Albano, Fábio Sodré, Povoas de Siqueira, Samuel Torres Videla, Saboya de Medeiros, Ribas Carneiro, Gilberto Amado, Belisário Penna, Anísio Teixeira, Fernando Magalhães, Francisco de San Tiago Dantas, Gustavo Lessa, A. Carneiro Leão, Gennaro Vidal, Pandiá Calógeras, Madeira de Freitas, Pantoja Leite, Bernardo Lichtenfels Júnior, Osório Lopes, Belmiro Valverde, Lino Piazza, Ítalo Balbo, Rego Lins, Geraldo Vieira, Basílio de Magalhães, Everardo Backheuser, João Neves da Fontoura, Levi Carneiro, Agenor de Roure, Vital Brasil, Vicente Licínio Cardoso, Arthur Torres Filho, Aguinaldo Rocha Lima, Graccho Cardoso, Ronald de Carvalho, Nicanor Nascimento, Sebastião Pagano, Daniel de Carvalho, João Prestes, Américo Silvado, Arthur Guimarães, R. P. Motta Lima, Hermínio Conde, Olbiano de Mello, Mesquita Pimentel, Paulo da Silveira, Arlindo de Assis, Waldir Niemeyer, Azevedo Lima, George Readers, Janine Boissounouse, além de Rodolfo Carvalho e Lourival Fontes.

A periodicidade oscilou entre bimestral e irregular. O nº 1 foi lançado em agosto de 1931, ao passo que o nº 2 data de outubro de 1931, o nº 4 de janeiro-fevereiro de 1932 e o nº 5, o último publicado, de março-abril de 1932. Esta 5ª edição foi a última.


Fonte
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/hierarchia

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Jornais e Revistas do Brasil (Folha do Acre)

Período disponível: 1910 a 1946
Local: Rio Branco, AC

O jornal Folha do Acre começou a circular em 14 de agosto de 1910, quando se declarou “órgão das aspirações e dos ideaes do povo acreano”. Era editado em “Cidade da Empresa”, cidade que daria origem à atual Rio Branco, capital do atual Estado do Acre.

O Acre era então território federal (criado em 1904), dividido em três departamentos: Alto Acre – com sede na cidade da Empreza (hoje Rio Branco), onde o jornal impresso; Alto Purus – sede em Sena Madureira e Alto Juruá – sede em Cruzeiro do Sul. Este último departamento foi desmembrado em 1912 para formar mais um, o Alto Tarauacá.

Esta organização administrativa prevaleceu até 1920, quando os departamentos foram extintos. Até então, cada departamento era administrado por prefeitos, nomeados pelo presidente da República. Com a extinção, o Território Federal do Acre passou a ter um governador, também designado pelo presidente da República.

A falta de autonomia política e econômica (o Acre não tinha controle sobre o recolhimento dos impostos oriundos da sua produção de borracha, importante geradora de riqueza para o país até a década de 20) e o sentimento de abandono por parte do governo federal provocaram crescente insatisfação da população acreana, que tentou, algumas vezes, reivindicar e até mesmo se rebelar contra a situação do território. Essa mobilização da população ficou conhecida como Movimento Autonomista.

O primeiro movimento, chamado de Revolta dos Cem Dias, ocorreu já em 1910, quando o prefeito do departamento do Juruá, o coronel João Cordeiro, foi deposto por comerciantes da cidade de Cruzeiro do Sul, e a região passou ao governo de uma junta autonomista durante cem dias. A revolta foi controlada pelo Exército e, dois anos depois, o departamento perdeu ainda mais autonomia e poder ao ser desmembrado. Na primeira página do número inicial da Folha do Acre podem-se ler notícias sobre a luta pela autonomia do Acre:

"No intuito de prestarmos aos nossos leitores as mais amplas informações sobre o movimento autonomista que nesse departamento se levantou triumphante no dia 1 de junho ultimo, extrahimos os seguintes tópicos da longa e circumstanciada noticia que a respeito estampou o nosso illustre colega Cruzeiro do Sul sentindo não a podermos reproduzir na integra, attendendo á absoluta falta de espaço em nossa folha.

Há muito que os habitantes do Alto Juruá anciavam a sua libertação do regimem prefeitural que não se retribuía de nenhum modo as suas aspirações de liberdade. 

A nomeação do exmo. Sr. Coronel João Cordeiro, para prefeito do Alto Juruá veio implantar no espírito popular a convicção de que o governo não concederia tão cedo a nossa tantas vezes solicitada autonomia.

A população continuava onerada pelo pezado gravame dos impostos; a verba que o governo concedia á Prefeitura era escassa e mal satisfazia as mais urgentes necessidades; a instrução publica estava ameaçada de desapparecer, pelas reduções dos ordenados dos professores; todos finalmente experimentavam a negra sensação de um eclipse que viesse obumbrar todas as nossas aspirações.

Com recurso supremo foi decidida a proclamação da autonomia do Território do Acre. 

O governo seria forçado a nos conceder o que até então nos havia recuzado.

Anuciou-se a vinda á vinda a esta cidade do venerando e prestimoso chefe do Partido Autonomista, exmo. Sr. Coronel Francisco Freire de Carvalho, e, de fato, á 29 do mez passado a população do Cruzeiro do Sul, assistia comovida a mais solene e expotanea consagração feita a um vulto político."

Dois anos depois, no departamento do Alto Purus, o prefeito também foi deposto pela população. No entanto, nos dois departamentos, a prefeitura foi retomada pelo governo federal.

A insatisfação popular não diminuiu com a extinção dos departamentos em 1920 e a questão autonomista continuou em pauta até a criação do Estado do Acre, em 1962.

Foi este o contexto histórico em que circulou a Folha do Acre, um período de tensão (e conflitos) na história do Acre, que se estendeu por mais de cinquenta anos.

Lançado com quatro páginas, o jornal era propriedade de uma “Associação”, de origem não identificada. Seus primeiros diretor e redator foram respectivamente Teophilo Maia e Nelson Noronha. Em 1911 o jornal passou ao controle do Partido Constructor Acreano – “Órgão do Partido Constructor Acreano”, segundo passou a informar a edição número 50, de 14 de agosto de 1911. Nota na mesma edição informava que o jornal continuaria defendendo “os interesses do povo” e apoiando à administração municipal de Deocleciano de Souza.

No número 102, de 20 de dezembro de 1912, a Folha do Acre noticiou a primeira reforma do Território do Acre, ao publicar decreto, datado de 28 de outubro de 1912, criando o novo departamento de Tarauacá. Em 23 de novembro de 1920, no número 339, o jornal publicou decreto de 1 de outubro de 1920, que extinguia os departamentos unificando o território. Dois números depois, já no ano de 1921, o local de publicação informado não é mais o “Departamento do Alto Acre”, mas sim o “Território do Acre – Brasil”, enquanto a primeira página noticiava a chegada do primeiro governador do território unificado, Epaminondas Jacome.

No início as assinaturas anuais custavam 50$000 e semestrais 30$000. Era impresso em máquina “Marinoni” em oficina própria, na rua General Olimpio da Silveira, na Cidade da Empreza.
Fonte
Morais, Maria de Jesus. “Acreanidade”: invenção e reinvenção da identidade acreana. 2008. 301f. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2008.
Disponível em http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/folha-do-acre

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Diário do Maranhão)


Período disponível: 1855 a 1911 
Local: São Luis, MA 
  
Criado por empresários locais e dirigido por Antônio Rego, o Diário do Maranhão foi lançado em 1855, na cidade de São Luís. Veio à luz poucos anos após a lei que extinguiu o tráfico intercontinental de escravos para o Brasil (1850), apresentando-se como um “jornal do commercio, lavoura e industria”. Sua circulação foi suspensa em 1858, para reaparecer em 1873, com pequenas modificações.

Até 1858 as edições eram diárias, continham quatro páginas em formato grande, divididas em três colunas. Compunha-se de quatro partes: a oficial, com matérias referentes ao expediente da província; folhetim, espaço destinado a romances e novelas francesas; marítima, sobre o movimento de entrada e saída de embarcações no porto de São Luís, e notícias, com assuntos diversos, como festas, propagandas de mercadorias e serviços, comércio de escravos, de bebidas e leilões. Também publicava fatos ocorridos em outras cidades que não a capital, como Alcântara e Caxias, e notícias internacionais. Defendia a discussão de princípios e se declarava imparcial nas questões públicas ou particulares.
 O jornal oferecia assinaturas anuais por 12$000 réis, semestrais por 6$000 réis e trimestrais por 3$500 réis. Os anúncios para assinantes eram gratuitos (até três vezes com dez linhas, custando o excedente 40 réis por linha). Não assinantes pagavam 60 réis por linha em “typo comum” e 180 réis em “typo diferente”. As assinaturas deveriam ser pagas adiantadas e começavam em qualquer dia, finalizando nos meses de março, junho, setembro ou dezembro. A tipografia ficava na rua dos Barbeiros, 8.

A partir de 1874 o jornal experimentou algumas mudança. Continuou com quatro páginas, porém divididas em cinco colunas. Havia a secção geral, na qual se discutiam temas variados, e a secção de notícias, dividida em anúncios – com ofertas de serviços em geral, de profissionais do ensino, de mão-de-obra escrava em fazendas e construção civil, além de amas (de leite e para serviços domésticos) e mercadorias, como alimentos, bebidas, louças, roupas, remédios e escravos – e secção comercial, com o movimento da alfândega, do tesouro provincial e do setor financeiro.

A assinatura tinha valores diferenciados para capital e interior. Quem morasse em São Luís poderia assinar o jornal por seis meses (8$000 réis) ou por três meses (4$000 réis). Quem morasse no interior só tinha a opção da assinatura semestral (9$000 réis).

A publicação continuou diária, matutina, deixando de sair apenas às segundas-feiras e nos dias seguintes a datas santificadas e feriados. A redação e tipografia do Diário do Maranhão ficavam, então, na rua das Palmas, 6.

No acervo da Fundação Biblioteca Nacional há edições digitalizadas de 11.150 números, publicados entre 1855 e 1911.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/diário-do-maranhão

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Diário de Notícias)


Período disponível: 1870 a 1872 
Local: Rio de Janeiro, RJ 

Houve pelo menos três jornais com o título Diário de Notícias no Rio de Janeiro: o de A. Clímaco dos Reis, que começou a circular em 1870; o Diário de Notícias republicano, no qual escreveram Rui Barbosa, Lopes Trovão, Medeiros e Albuquerque, Aristides Lobo e outros notáveis da literatura e política nacionais, e o Diário de Notícias fundado em 1930 por Orlando Ribeiro Dantas e que circulou até meados da década de 1970. Este verbete trata do primeiro deles.

Lançado em 2 de agosto de 1870, uma terça-feira, com tiragem de 6 mil exemplares, era um diário de quatro páginas, vendido ao peço popular de 40 réis e assinatura mensal 1$000 réis. Cobrava 80 réis a linha para anúncios e publicações literárias e 100 réis para a publicação de outras matérias de interesse particular. Era impressoem tipografia situada na rua Gonçalves Dias, 60. 

Embora surgisse num momento em que se iniciava a campanha republicana, com a criação, em 1870, do Partido Republicano do Rio de Janeiro e o lançamento do jornal A República – cujo primeiro número publicou o Manifesto Republicano que iria guiar, dali em diante, a bem-sucedida luta antimonárquica –, o jornal se auto definia por sua “índole inofensiva”, o que significava, nas palavras do seu redator, “sua indiferença absoluta ao movimento dos partidos que se gladiam”. A apresentação revela, além de intenções e expectativas de seu proprietário, algumas das dificuldades, na época, para se fazer um jornal: 

“Surge hoje o primeiro número do Diário de Notícias, tão anciosamente esperado pelo publico que acolheu da forma a mais lisongeira o programma que fizemos distribuir. (...)
 Ninguém ignora quanto são dispendiosas as emprezas desta ordem, e que ellas sem a proteção valiosa do publico não podem progredir na sua marcha civilisadora, por isso esperamos que tendo todos [...] attenção a índole inofensiva do Diário, a sua indiferença absoluta ao movimento dos partidos que se gladiam, o receberão com aquella benignidade que caracterisa um povo essencialmente laborioso e honrado.(...)

Já foi publicado o nosso programma, mas cumpre-nos reproduzilo como lei fundamental que temos de seguir e respeitar.

 O Diário de Noticias, extranho completamente a facções, não deixará de dar conta de todos os movimentos da política, da governação e do estado; publicará todas as occorrencias do mundo, descrevendo com exactidão e minuciosidade todos os successos da corte e os do vasto império do Brasil.; não enserira em suas columnas artigos offensivos a dignidade e honra de qualquer, fazendo manter a maior sisudez nas correspondencias particulares e nos assumptos a pedido; publicara o movimento commercial, festividades religiosas e ephemerides, assim como diversos materiais sobre hygiene, instrucção e recreio; dará uma resenha de todos os espetáculos, apreciando o desempenho das diversas peças que se representarem; publicara romances em folhetins, assim como, chistosos folhetins typicos, locaes e phantasiosos. (...)

O lançamento foi bem acolhido por O Mosquito, o jornal de Cândido Aragonês Faria, na edição de 7 de agosto de 1870, ao vaticinar que o jornal “tornar-se há (...) em breve (...) indispensável a todas as classes da sociedade, já pela extraordinária variedade das suas noticias, já pela barateza da assignatura.” E na edição seguinte, de 14 de agosto, quando, depois de observar que “Começa a tomar notável incremento entre nós a imprensa jornalística”, volta a anunciar a chegada do Diário de Notícias e de outra publicação, a Tribuna do Povo, de Emílio Zaluar, “jornal interessantíssimo e de grande utilidade para o povo, pela sua doutrina democrática, mais (sic) logo virá, outro e outro, e assim chegaremos ao desideratum a que é preciso que cheguemos; mas convém que a imprensa não se torne escrava de interesses sórdidos. Para se facilitar a leitura do povo é preciso não a por pelo preço d’água em occasião de secca.” 

A observação final de O Mosquito, não obstante os elogios aos dois novos jornais, provocou, no entanto, o protesto surpreendente do proprietário do Diário de Notícias, um sinal das ingênuas e personalizadas questões que permeavam o universo jornalístico na época. Dizia a carta protesto de A. Clímaco a O Mosquito:
 Amigo e collega do Mosquito

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/diário-de-notícias

domingo, 23 de dezembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Diário de Minas)


Período disponível: 1866 a 1875 
Local: Ouro Preto, MG 

Lançado em 1º de junho de 1866, o Diario de Minas é considerado o primeiro jornal informativo da província de Minas Gerais, o que lhe confere lugar especial na história da imprensa mineira. O primeiro jornal desta província, de 1823, foi o Compilador Mineiro, publicação voltada para o apoio ao governo imperial. 

Jairo Faria Mendes, na tese “O Silêncio das Gerais: O nascimento tardio e a lenta consolidação dos jornais mineiros”, baseia-se na periodização da história da imprensa brasileira proposta por Nelson Werneck Sodré: Colonial (1808 a 1822) , Publicista (1823 a 1885), Informativa (1885 a 1927) e Grande Imprensa (a partir de 1927). Mendes insere a imprensa mineira nessa divisão da seguinte forma: Imprensa Colonial – fase que Minas não viveu; Imprensa Publicista – fase de interiorização da imprensa mineira e fortalecimento do publicismo; Imprensa Informativa e Literária – fase em que ocorre o surgimento de uma imprensa mineira informativa consistente; e Grande Imprensa – fase em que surge em Belo Horizonte o Diário da Manhã, considerado a primeira grande empresa jornalística do estado. 

Observa-se, assim, que o Diario da Manhã, embora considerado o primeiro jornal informativo de Minas Gerais, não inaugurou a fase chamada de Imprensa Informativa (inaugurada pelo jornal O Pharol), mas sim surgiu em uma fase que a imprensa mineira era basicamente publicista, ou seja, as notícias eram mais de interesse comercial e político, como informações sobre chegada e partida de navios nos portos, sobre guerras ou revoluções e, principalmente, com frequentes artigos escritos pelos próprios editores, que comandavam o jornal segundo suas opiniões ou dos grupos políticos a que estavam ligados. 

Considerado informativo por fugir do publicismo, o Diario de Minas trazia informações diversas, além das de caráter político e opinativo, e também empresarial. O proprietário, J. F. de Paula Castro, contou com ajuda do governo provincial, então ligado ao Partido Liberal, para comprar a tipografia onde era impresso, no Rio de Janeiro, uma vez que em Minas os prelos que existiam estavam em mau estado. Segundo Mendes,

Com os novos equipamentos foi possível fazer um jornal em um formato bem maior dos que circulavam na Província. Assim começou a circular o Diario de Minas, com quatro páginas standard diárias, que continham as seguintes sessões: a Parte Oficial (que era paga), Diário de Minas (o editorial), Exterior (notícias internacionais, que eram tiradas de jornais do Rio de Janeiro, principalmente o Jornal do Commercio), Interior (notícias locais), Noticiário (notas e informações variadas), Publicações a Pedido (textos literários, cartas, etc.), editais e Folhetim. Era comum algumas sessões ficarem de fora nas edições, assim como serem criadas outras. Também havia muitos anúncios, alguns bem trabalhados graficamente e com textos bem apelativos. Eles ocupavam de uma a duas páginas, ou seja, grande parte do jornal, e eram em sua grande maioria de produtos farmacêuticos. (...)
 Com o decorrer do tempo ganhariam mais espaço os anúncios de compra e venda, além dos de escravos fugidos. Também surgiam esporadicamente anúncios de peças teatrais, perfumes (...), cosméticos (...).
 A primeira edição do jornal dedicou dois terços da 1ª e 2ª páginas para falar de seu compromisso liberal.” (pág. 102 – 104)

Embora dedicado principalmente a informar, o jornal dependia das receitas provenientes das publicações oficiais, o que o levou a mudar a linha editorial quando o Partido Conservador assumiu a frente do governo provincial em 1868, dessa forma garantindo o recebimento de receitas advindas das publicações oficiais. Dez anos depois, no entanto, o Partido Liberal retornou ao poder e rescindiu o contrato com o Diario de Minas. 

Em boa parte por essa razão, gradualmente o jornal diminuiu sua periodicidade, deixando de ser diária, e os anúncios diminuíram. Em março de 1878, circulou o último número. A tipografia foi vendida e nela passou a ser impresso, no ano seguinte, A Província de Minas (1879 a 1889). 

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/diario-de-minas

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Diário Carioca)


Período disponível: 1928 a 1965
Local: Rio de Janeiro, RJ

Criado para fazer oposição ao governo Washington Luís e a seu candidato à sucessão presidencial, Júlio, o Diário Carioca (DC), desde os seus primórdios, participou de momentos decisivos da história da República, exercendo considerável influência na cena política brasileira. Seu fundador, José Eduardo de Macedo Soares, era natural de São Gonçalo (RJ) e descendia de influente família latifundiária na hoje denominada Região dos Lagos.

O primeiro jornal de Macedo Soares foi O Imparcial, periódico civilista, fundado por ele logo após deixar a Marinha, que fez dura oposição aos governos do marechal Hermes da Fonseca, Epitácio Pessoa e Artur Bernardes. Preso por ordens do primeiro, Macedo Soares promoveu, em O Imparcial e ao lado do Correio da Manhã, Época e A Noite (cujos diretores também haviam sido detidos), intensa campanha em favor da liberdade de imprensa. Em 1922, por ocasião da primeira rebelião tenentista (episódio conhecido como “Os 18 do Forte”), já no governo de Epitácio Pessoa, José Eduardo voltou a ser preso. Solto meses depois, seu jornal seria novamente fechado por ordem do novo presidente, Artur Bernardes, a quem também fazia oposição. José Eduardo então se exilou na Europa com a mulher e filhas para retornar alguns anos depois, já durante o governo de Washington Luís, e fundar o Diário Carioca. Uma de suas filhas, a urbanista e paisagista Lota (Carlota) Macedo Soares, se destacaria anos depois por administrar a construção, no Rio de Janeiro, do Parque do Flamengo, considerado o maior aterro urbano do mundo.

Logo que foi criado, o jornal apoiou a Aliança Liberal, liderada por Getúlio Vargas (e derrotada nas eleições de março de 1930) e o subseqüente movimento revolucionário de outubro de novembro desse mesmo ano. Uma apaixonada cobertura da Revolução de 30 exaltou, em sucessivas manchetes – “A redempção brasileira. Victoriosa, em todo o paiz, a Cruzada Santa da Libertação Nacional” (24 out.); “A maior epopea da historia brasileira” (27 out.) etc. – a ação “regeneradora” dos aliancistas, ao mesmo tempo em que fazia as mais duras acusações ao governo deposto, chamando Washington Luís de “o último tirano da República”.

Em 1932, porém, o Diário Carioca aderia à campanha pela Assembleia Constituinte, cuja convocação o governo provisório de Vargas retardava, sendo por isso empastelado por simpatizantes do presidente. Em 1935, o DC ficou do lado do governo na insurreição comunista de novembro e, em 1937, pareceu apoiar o golpe do Estado Novo, mas não sem antes manifestar preocupação com o perigo de suspensão das garantias constitucionais. Como no editorial “Pânico”, escrito por Macedo Soares no início de outubro de 1935, pouco mais de um mês antes do golpe:

Cabe inteira responsabilidade aos chefes do Exército e da Marinha da nova viagem que vamos empreender no túnel da suspensão das garantias constitucionais. Mas não esqueçam as ilustres autoridades militares que nos regimes discricionários é sempre muito mais fácil entrar do que sair. (...) No passado, as medidas excepcionais só haviam servido para jugular os jornais, ocultando escândalos e abusos administrativos, e para permitirem prisões injustas, brutalidades, extorsões, e outras imoralidades cometidas por funcionários subalternos.

O comportamento do jornal nos primeiros dias do Estado Novo é assim descrito por Cecília Costa, autora de rico estudo histórico sobre o jornal:

Foi exatamente em novembro (...) que o governo do Estado Novo impôs ao país a Constituição preparada por Francisco Campos, vulgo “A Polaca”, acabando com qualquer esperança dos dois irmãos [o irmão, diplomata José Carlos Macedo Soares, havia pedido demissão do cargo de ministro da Justiça] quanto a uma vindoura eleição. Sob o tacão da nova Constituição, José Eduardo de Macedo Soares escreveria menos editoriais, ou os teria integralmente censurados, com raríssimas exceções, como foi o caso de um artigo sobre a situação da imprensa no novo regime, escrito em dezembro, no qual denunciaria a triste volta da censura legalizada. Sendo obrigado a ficar mudo, suas primeiras páginas, nesses tensos dias de outubro e novembro de 37, seriam dedicadas quase que na íntegra à guerra interna no país, seus interventores, agentes de repressão e aos membros das Forças Armadas. O jornal, habitualmente brincalhão e combativo, ficaria funéreo e solene, como se vestisse uma armadura, mais parecendo um boletim editado pela Marinha ou pelo Exército.” (Costa, Cecília. Diário Carioca: o jornal que mudou a imprensa brasileira.Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2011.)

Foi nos últimos anos do Estado Novo que o DC, assim como outros jornais – muitos deles tendo sofrido a intervenção do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de propaganda e censura criado por Getúlio Vargas – retomaram a luta contra o regime ditatorial, reconquistando o direito à liberdade de expressão.

A partir de 1945, quando os ares da liberdade voltaram a reinar no país, entraria em choque frontal com Vargas e com o getulismo, aproximando-se das forças nucleadas em torno da União Democrática Nacional (UDN), principal partido de oposição no Brasil até o golpe de 1964.

Em 1954, após noticiar em primeira mão o atentado, em Copacabana, no Rio de Janeiro, a Carlos Lacerda - furo casual do então jovem jornalista Armando Nogueira, que morava nas proximidades – o DC engrossou a campanha, movida pela oposição e boa parte da imprensa (O Globo, Tribuna da Imprensa, Estado de S. Paulo) exigindo a renúncia de Getúlio Vargas. Até se extinguir, em 1965, o pequeno jornal carioca nunca deixaria de exercer influência na política brasileira.

Foi em 1932, após o empastelamento do seu jornal, que Macedo Soares, já com 50 anos, decidiu abandonar a sua direção, passando a exercer apenas o cargo de editorialista, no qual se destacou pela coragem e contundência de seus textos. Tendo alçado ao cargo de diretor-executivo o amigo dileto Horácio de Carvalho Jr., neto do barão de Amparo, manteve-se, no entanto, como eminência parda do periódico. (Horácio de Carvalho, que esteve à frente do jornal até o seu fechamento, teve como esposa, durante 45 anos, a francesa Lily de Carvalho, miss Paris em 1937, posteriormente casada, após a viuvez, com o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho.)

O papel mais relevante daquele pequeno grande jornal, no entanto, e que o faz ser relembrado até hoje, foi o de ter iniciado a reforma do jornalismo carioca, a bem dizer jornalismo brasileiro, já que em 1950 o Rio de Janeiro, capital federal, era ainda a caixa de ressonância política e cultural do país.

Foi em no começo da década de 1950 que o DC pretendeu dar o seu maior passo, tornando-se um grande jornal de circulação nacional. Inaugurou, na ocasião, na avenida Presidente Vargas, seu novo e bonito prédio sobre pilotis projetado pelo notável arquiteto Afonso Eduardo Reidy, e também a gráfica Érica, com o que havia de mais moderno no mundo em matéria de equipamento. O novo DC saiu no dia 28 de maio de 1950, um domingo, com 72 páginas e cinco cadernos, como o Carioquinha, a cores, e a Revista do DC, para o público feminino, além de páginas literárias com colaboradores de alto nível, como Antonio Candido, Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira e Sérgio Buarque de Holanda. Fizeram parte dessa reforma, que antecedeu em seis anos à do Jornal do Brasil, nomes que se consagraram na imprensa do país, como Pompeu de Souza, Luiz Paulistano e Prudente de Moraes, Neto.

Foi também o DC que criou o primeiro manual de estilo para seus redatores e repórteres e implantou o uso de lide e sublide no Brasil, acabando com o famigerado “nariz de cera” – texto longo (e dispensável) de introdução às reportagens, em voga na nossa imprensa desde o século XIX. Além disso, foi um dos grandes pioneiros de um jornalismo moderno e essencialmente carioca, destacando-se a cobertura com suíte, os títulos com siglas e até mesmo sem verbo, o que era uma revolução para a época.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/diário-carioca

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Corsario: periodico critico, satyrico e litterario)


Período disponível: 1880 a 1896 
Local: Rio de Janeiro, RJ 

Corsário! Eis, leitores, um nome para um periódico, que a primeira vista causará surpresa, se não temor. Mas, tudo se explica: Depois do descalabro enraizado que germina assombrosamente na nossa sociedade, correndo a escala social sem distincção de classes (...) Respeitador da intelligência que tem por apoio a honra, o Corsario só atacará os traficantes. Os delapidadores do erário, os parasitas que sugam a seiva da sociedade, os políticos que mentem ao povo e á nação, enfim, toda a casta de “piratas”, serão perseguidos, ainda que construam um novo Gibraltar e nelle se refugiem”.

 É nesse tom ameaçador que O Corsário: periódico critico, satyrico e chistoso se apresentava em sua primeira edição no dia 2 de outubro de 1880. Tratava-se de um dos muitos pasquins – aqueles pequenos jornais de pouquíssimas páginas surgidos no Primeiro Reinado, circulação efêmera, linguagem agressiva e primando por ataques pessoais, muitas vezes, sem identificar o proprietário – ainda em circulação no final do século XIX.

 Segundo Nelson Werneck Sodré , um dos primeiros a tipificar essa imprensa, O Corsário não passava de um “repositório de escândalos” e, por isso, seu editor, Apulco de Castro, acabaria pagando com a vida. Não poupava ninguém, desqualificando desde prostituas e seus cafetões até o imperador Pedro II e seus ministros.

 Como se revela o seguinte trecho da edição número 8 do dia 27 de outubro do mesmo ano de seu lançamento: “A S. M. O IMPERADOR... Senhor, tendes muitos defeitos, tantos como qualquer outro homem que fosse educado como Vossa Majestade, mas elses se tornam mais notáveis em Vós porque sois Soberano. Educado por padres, cercado só por aduladores e ambiciosos vulgares, Vossa Majestade circumscreveu o seu caráter em um estreito círculo e deu logo campo a qualidade que predomina em Vossa família – a hipocrysia. Tímido, fraco, puerilmente caprichoso, pouco esperto, muito pretencioso e ridiculo, eis o que é Vossa Majestade”.

 Em outro trecho desse mesmo número ataca as casas de prostituição: “Parece que a civilização e moralidade retiraram-se da cidade de Trampolinopolis [nome fictício para a capital] para dar lugar as acções torpes e vis. Uma cidade onde o progresso tem germens, e a moralidade asylo, não pode tolerar casas, cujo fim não esteja de acordo com a civilização. É de casas de alugar comodos por hora que nos referimos. A cidade está infestada por esses antros de prostituição”.

 Talvez por atacar sistematicamente diversas personalidades o Corsário não divulgou em seus primeiros números os nomes de seu editor. Somente em 10 de janeiro de 1881 o nome de Apulco de Castro, o editor e proprietário do jornal, apareceu. Conta Sodré que, ao atacar alguns oficiais do 1º Regimento de Cavalaria, 20 oficiais desse mesmo regimento invadiram e depredaram as oficinas do jornal. Apulcro de Castro conseguiu fugir, mas foi assassinado com sete facadas e dois tiros de revólver logo em seguida .

 O Corsário, sempre em quatro páginas e com quatro colunas, teve seu subtítulo alterado algumas vezes: "periódico critico, satirico e literário", depois “periódico e literário, "órgão devotado ao povo e aos seus interesses" e, a partir de 1882, "órgão de moralização social". O acervo da Biblioteca Nacional tem 310 edições do jornal.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/correio-de-são-paulo-diário-noticioso-e-informativo

domingo, 16 de dezembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Correio de São Paulo: diário noticioso e informativo)


Período disponível: 1932 a 1937 
Local: São Paulo, SP 
  
Em outubro de 1930, Getúlio Vargas, à frente de uma coligação de forças oligárquicas do Rio Grande do Sul, seu estado, Minas Gerais e Paraíba, depõe o presidente Washington Luís, político fluminense, porém ligado à oligarquia paulista. O episódio ficou conhecido como Revolução de 30 e marcava o fim da chamada política do café-com-leite, por meio da qual as oligarquias paulista e mineira vinham se revezando no poder, e início de não poucas e profundas mudanças na política e economia do país. Essas mudanças se iniciaram já governo provisório presidido por Vargas, que alijou a maioria da oligarquia paulista do poder, assim como retardava a convocação de uma assembléia constituinte destinada a reordenar o país em bases liberais e democráticas.

 Estes últimos fatos, sobretudo, motivaram a reação armada dos paulistas, a chamada Revolução Constitucionalista. Homens, mulheres, estudantes, políticos, industriais e operários se uniram às forças militares (Exército e Força Pública) do estado contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas, o que resultou num dos maiores conflitos armados da história nacional, marco, até hoje celebrado, da história de São Paulo. Sem poder contar com a adesão prometida de setores dissidentes das oligarquias mineira e gaúcha e enfrentando as tropas maiores e mais bem equipadas do Governo Federal, os paulistas foram derrotados. Mas não saíram de mãos vazias: ainda que Vargas continuasse no poder, em 1933 seria eleita a Assembleia Constituinte, que promulgaria no ano seguinte a nova Constituição do Brasil

 Foi nesse contexto que surgiu, no dia 16 de junho, o Correio de São Paulo, diário com notícias corriqueiras, mas também com forte apelo político liberal e regionalista. Como praticamente toda a imprensa paulista, o jornal assumiu os ideais constitucionalistas das oligarquias, empresários e classe média paulistas.

 Escrevia o jornal no dia 6 de agosto de 1932, quase um mês depois de eclodir a “Revolução”:“As senhoras paulistas [que?] bordaram a bandeira nacional, ofertada ao grande encouraçado ‘S.Paulo’, símbolo augusto da força, patriotismo e unidade da extremecida Pátria, conclamam a brava oficialidade e valentes marujos desse invicto vaso de guerra para que comunguem conosco na campanha dos sacros ideais de liberdade e justiça contra a nefasta, ditadura que enluta, desgoverna e divide a nação. Concitando-os a se baterem pela causa que, neste momento épico da nacionalidade, empolga a alma de S. Paulo, Mato Grosso e das populações livres dos outros Estados, só pensamos em Deus e na Pátria em cujo altar imolamos nossa oferendas e orações, porque a nossa luta e os nossos sacrifícios são pelo Brasil e para o Brasil”.

 Nesse mesmo número, havia a gravura de um homem que apresentava estampado em sua camisa as iniciais M.M.D.C, de Martins, Miragaia, Drausio e Camargo. O acrônimo homenageava os mortos pelas tropas federais em maio daquele ano. Lia-se também na gravura: “Você tem um dever a cumprir consulte a sua consciência!”, mais um apelo à mobilização contra as forças federais.

 Com a derrota dos paulistas, a rotina de notícias foi voltando ao normal. Seção esportiva, filmes e peças em exibição e até seção de quiromancia por correspondência compunham as páginas do jornal. Inicialmente era publicado em quatro páginas, aumentou para seis e, por fim, oito páginas.

 O Correio de São Paulo circulou de 1932 a 1937 e teve como diretores Rubens do Amaral, Lelis Vieria, Riba Marinho e Pedro Ferraz do Amaral. De início propriedade da Empresa de Correio de São Paulo Ltda, tempos depois passou à Empresa Paulista Jornalística Ltda.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/correio-de-são-paulo-diário-noticioso-e-informativo

sábado, 15 de dezembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Correio da Manhã)


Período disponível: 1901 a 1974 
Local: Rio de Janeiro, RJ 

Um dos mais respeitáveis e longevos periódicos do país, o Correio da Manhã nasceu bastante modesto. Sua primeira edição, de 15 de junho de 1901, tinha apenas seis páginas, sendo três ocupadas por anúncios. Com formato standard e periodicidade diária, não trazia manchetes, como boa parte dos jornais de sua época. A primeira página apresentava apenas um título grande e o texto se distribuía por oito colunas, além de não publicar fotogravuras, só desenhos.

 Na primeira página vinham assuntos nacionais, acontecimentos de destaque no Rio de Janeiro, críticas, editoriais e troças com a política e a sociedade cariocas. Na segunda página figurava o noticiário internacional (que passaria à primeira página nos períodos das grandes guerras), de conteúdo fornecido pela agência de notícias Havas. O diário apresentava ainda as editorias “Seção de Comércio”, “Letras e Artes”, “Dia Social”, “Teatro” e “Dia da Caserna”.

 Em 1906 o jornal se tornou o primeiro periódico brasileiro a apresentar um caderno especial aos domingos, agora já com fotogravuras. Em 1929, novas rotativas foram instaladas nas oficinas do Correio da Manhã, que em 1933 possibilitaram algumas inovações editoriais, como a criação de manchetes e de seções infantis, femininas, de rádio e de agricultura, entre outras. Em 1959, o jornal passou a ter um segundo caderno em definitivo, e em 1962 edições impressas a cores, como os cadernos de quadrinhos destinados ao público infanto-juvenil. Nos seus melhores momentos, as tiragens diárias do Correio da Manhã foram superiores a 200 mil exemplares.

 Fundado por um jovem advogado idealista chamado Edmundo Bittencourt, o Correio da Manhã é considerado hoje um dos mais importantes jornais brasileiros do século XX, introdutor de uma ética própria e de refinamentos textuais que se transformariam na sua marca. Nascido numa época em que a imprensa costumava fazer sempre o jogo do poder, o periódico primava por seu caráter independente, liberal e doutrinário, dentro de uma linha editorial combativa. Identificava-se com a classe média do Rio de Janeiro e apresentando muitas vezes aos leitores textos de forte carga emocional. Ao longo do tempo desenvolveu também certa preocupação estética inovadora, marcada pela crescente valorização de ilustrações e fotos. Ademais, o Correio da Manhã sempre se posicionava a favor de medidas modernizadoras e contra as oligarquias que, aliadas às forças governamentais, bloqueava na sua opinião o acesso do povo a alguns de seus direitos fundamentais.

 Desde a primeira edição o Correio da Manhã caracterizou-se, nas palavras de Nélson Werneck Sodré, por um “ferrenho oposicionismo, de extrema virulência”, em contraste, ainda segundo o historiador, com o “extremo servilismo” adotado por jornais concorrentes. O jornal manteve-se fiel a essa linha inicialmente fazendo oposição ao governo Campos Salles, e mais tarde à ditadura de Getúlio Vargas, ao governo de João Goulart e, por fim, ao regime civil-militar instaurado em 1964. Por outro lado, posicionou-se favoravelmente diante de históricos que testemunhou, como ao engajamento brasileiro na Primeira e na Segunda Guerras Mundiais, instando os diferentes governos a se aliarem a causas que considerava patrióticas.

 Mesmo os seus eventuais equívocos teriam sido no sentido de defender os direitos dos cidadãos. É o caso da histórica campanha que o jornal moveu contra a vacinação obrigatória contra a varíola imposta pelo governo federal por inspiração do médico sanitarista Oswaldo Cruz. O Correio da Manhã condenou de forma veemente a vacinação em massa, e sua posição pode ter insuflado a Revolta da Vacina, que entre os dias 10 e 16 de novembro de 1904 transformou a centro da antiga capital federal numa praça de guerra, deixando o saldo de 30 mortos. O que chegou a ser visto com uma atitude reacionária e obscurantista do Correio da Manhã, já que se conhecem os benefícios da vacinação, especialmente para aquela época, quando o Rio de Janeiro era uma cidade das mais insalubres, hoje historiadores tendem a considerá-la como uma questão de princípios. O que o jornal se negava a admitir era aquela invervenção do poder central que considerava radical na vida pessoal dos brasileiros.

 Por essas e outras, o Correio da Manhã foi sempre muito visado pelo poder. Em 31 de agosto de 1924, o jornal chegou a ser fechado pelo presidente Artur Bernardes, sob a acusação de estar imprimindo clandestinamente o folheto Cinco de Julho, em apoio aos 18 do Forte. Em 20 de maio de 1925 o periódico foi reaberto, sob a direção provisória do senador Moniz Sodré. Poucos anos depois, Edmundo Bittencourt passava a direção e a propriedade do jornal ao seu filho, Paulo Bittencourt, que assumiu a 17 de março de 1929. Em 2 de agosto de 1963, com o falecimento de Paulo Bittencourt, Niomar Moniz Sodré (sua esposa e filha do senador Moniz Sodré) passou a ocupar o cargo de diretora-presidente do jornal. Desde 16 de julho daquele ano, uma grande reforma gráfica já estava em curso. O Correio da Manhã passava a ter menos blocos de texto, privilegiando os espaços em branco (sobretudo no segundo caderno) e emprego maior da fotografia, esta última com legendas mais instigantes e criativas, iniciando uma nova tendência na imprensa carioca. Pouco depois de iniciada essa nova fase, o Correio da Manhã, passaria a sofrer com a interferência do poder militar.

 No impasse que se seguiu à renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, o Correio da Manhã posicionou-se coerentemente a favor da posse do vice-presidente, João Goulart, que lideranças militares não queriam aceitar. Pouco tempo depois, outra vez por questão de princípios, o jornal pôs-se contra o governo de João Goulart, por considerar que ele estimulava atitudes que iam contra a Constituição e a ordem pública, como, por exemplo, o suposto estímulo à quebra de hierarquia nas Forças Armadas. Ficaram famosos pelo estilo e contundência seus dois editoriais – “Basta!”, de 31 de março de 1964, e “Fora!”, de 1º de abril – que denunciavam desmandos do governo de Jango e anunciavam sua derrubada pelo golpe civil-militar.

 O que o Correio da Manhã e outros jornais que apoiaram o golpe esperavam era que o novo presidente da República imposto pelos conspiradores, marechal Humberto Castello Branco, convocasse eleições e entregasse o governo a uma liderança civil. Mas os militares, uma vez instalados, preferiram manter-se no poder. O Correio da Manhã começa então a denunciar as arbitrariedades do regime militar. Nenhum outro jornal do Rio de Janeiro deu tanto espaço às manifestações de rua contra os governos de Castello Branco e Costa e Silva, quando policiais e estudantes de confrontavam em embates violentos nas ruas das principais cidades do país. As posições – tanto do regime quanto do jornal – se radicalizariam após a publicação do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968, que cassou os direitos fundamentais de cidadania e fez o país submergir por mais de duas décadas nas sombras de uma ditadura agora declarada.

 No pouco tempo que lhe restou de vida a partir daí, o Correio da Manhã continuou fiel a seus princípios, denunciando na medida do possível, apesar da censura, prisões arbitrárias, torturas e outras violências praticadas pelo regime. Após um obscuro período marcado por boicotes de anunciantes (temerosos de retaliações do governo), um atentado à bomba ocorrido na sua redação, em 7 de dezembro de 1968, e uma série de perseguições, prisões e cassações dos direitos políticos contra jornalistas e administradores que lá militavam, o Correio da Manhã acabou por ser arrendado, em 1969, à Editora Comunicações Sistemas Gráficos, de propriedade de Maurício Nunes de Alencar. Nesta última fase, o jornal voltaria a incomodar o regime militar, mas acabou extinto definitivamente em julho de 1974. Somava-se a isso o drama pessoal da antiga proprietária do Correio da Manhã, vítima de uma série de ataques supostamente promovidos por agentes da repressão política ou por simpatizantes da ditadura, que incluíram um incêndio em sua coleção particular de documentos e livros e até tentativas de assassinato.

 Nos seus últimos momentos, o Correio da Manhã parecia ter voltado ao seu estado inicial de penúria, saindo com edições de apenas oito páginas, em tiragens que variavam em torno de três mil exemplares por dia.

 Em sua trajetória, o jornal contou com contribuições de personalidades brasileiras do campo político e cultural, como Rui Barbosa, José Veríssimo, Coelho Neto, Artur Azevedo, Afonso Celso, Medeiros e Albuquerque, Evaristo de Morais, Carlos de Laet, Alberto de Oliveira, Antonio Salles, Leão Veloso Filho (que usava o pseudônimo de Gil Vidal), Álvaro Lins, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Carlos Lacerda, Aurélio Buarque de Holanda, Franklin de Oliveira, Antônio Callado, Rubem Braga, Antonio Moniz Vianna, Carlos Heitor Cony, Otto Maria Carpeaux, Luis Alberto Bahia, Nelson Rodrigues, Oswaldo Peralva, Fernando Pedreira, Márcio Moreira Alves, Hermano Alves, Paulo Francis, Newton Carlos, Paulo de Castro, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Decio Pignatari, Oliveira Bastos, José Lino Grünewald, Ferreira Gullar, entre outros. Muitos destes últimos eram colaboradores frequentes do denso “4º Caderno”, suplemento dominical do final dos anos 1960, em que se discutiam política nacional e internacional, literatura, artes plásticas e filosofia.

Fontes consultadas:
 Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro: Secretaria Especial de Comunicação Social. Correio da Manhã – Compromisso com a verdade. Cadernos da Comunicação. Série Memória, vol. 1: Rio de Janeiro, 2005.
 ANDRADE, Jéferson Ribeiro de. Um jornal assassinado: a última batalha do Correio da Manhã. José Olympio: Rio de Janeiro, RJ, 1991
 SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Civilização Brasileira, RJ, 1966.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/correio-da-manhã

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Jornais e Revistas do Brasil (Conferências Populares)


Período disponível: 1876 a 1876 
Local: Rio de Janeiro, RJ 
  
Lançado em janeiro de 1876 na capital do Império, Conferências Populares foi um periódico científico criado e editado pelas Conferências Populares da Glória. Iniciadas em 23 de novembro de 1873, sob a coordenação do senador e conselheiro imperial Manoel Francisco Correia, as “ Conferências Populares” eram realizadas por intelectuais e estudiosos em escolas públicas da freguesia carioca da Glória, com a finalidade de despertar o interesse público para temas e debates variados e difundir o campo das ciências no Brasil. Apesar da intenção principal ser a democratização do conhecimento, a iniciativa – que ficou conhecida também como “Tribuna da Glória”, por seus intensos debates e polêmicas – acabou formando um público seleto, composto pela família real, a aristocracia da corte, profissionais liberais e estudantes.

Dirigido pelo próprio Manoel Francisco Correia, o órgão de divulgação das palestras teve periodicidade mensal e formato pequeno, com mais de cem páginas por edição. Era impresso na Typographia Imperial e Constitucional de J. de Villeneuve & Cia., no nº 65 da rua do Ouvidor.

Do nº 1 ao nº 10, Conferências Populares publicou estudos sobre disciplinas e assuntos ao mais diversos: ciências naturais, ciências sociais e políticas, gestão pública e da cultura, educação, evolucionismo, instrução da mulher e papel feminino na sociedade, indústria, literatura (sobretudo história da poesia), teatro, história e historiografia brasileira, história medieval, história de Portugal, legislação (inclusive a que concerne à área científica), saúde pública, biologia, mineralogia, espiritualismo e materialidade, adaptação a mudanças climáticas, peculiaridades de províncias brasileiras, ensino moral, positivismo, bases para um sistema de tradução de línguas no Brasil, marinha mercante nacional, menores abandonados, sistemas penitenciários, sociedades de socorro mútuo e outros. Estima-se que o conteúdo destas edições tenha sido composto de palestras proferidas nas Conferências entre 1873 e 1876.

O periódico publicou estudos de Manoel Francisco Correia, João Manoel Pereira da Silva, A. C. de Miranda Azevedo, Affonso Celso Júnior, Tristão de Alencar Araripe, Joaquim José Teixeira, Nuno de Andrade, Antônio Felício dos Santos, João Pizarro Gabiso, Manoel Jesuíno Ferreira, José Martins da Cruz Jobim, José Liberato Barroso, José Thomaz da Porciúncula, Antônio Limoeiro, Misael Ferreira Penna, Luiz Corrêa de Azevedo, Francisco Ignacio de Carvalho Rezende, Hermann Luiz Gade, Bento Gonçalves Cruz, Joaquim Monteiro Caminhoá, Feliciano Pinheiro Bittencourt, Cunha Ferreira e Rodrigo Octávio.

Apesar de as Conferências Populares da Glória terem ocorrido entre 1873 e 1888, com breve retomada em 1891, a publicação científica, aparentemente, só circulou até a décima edição, datada de outubro de 1876. 

O Jornal do Commercio publicava semanalmente anúncios das palestras programadas pelas Conferências Populares da Glória e transcrevia resumos de cada uma. Algumas conferências foram publicadas na íntegra e separadamente pelos próprios autores.

Referencias
 1. Conferências Populares da Glória. Brasiliana – A divulgação científica no Brasil. Fundação Oswaldo Cruz. Disponível em: http://www.museudavida.fiocruz.br/brasiliana/cgi/cgilua.exe/sys/start.ht... Acesso em 20 ago. 2012.
 2. FONSECA, Maria Rachel Fróes da. As 'Conferências Populares da Glória': a divulgação do saber científico. História, ciências, saude-Manguinhos vol.2 no.3, Rio de Janeiro, nov./feb. 1996. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59701996000400007&script=sci_a... Acesso em 20 ago. 2012.
 3. FONSECA, Maria Rachel Fróes da. Contato via e-mail, em 20 ago. 2012.

Fonte:
http://hemerotecadigital.bn.br/artigos/conferências-populares