terça-feira, 31 de julho de 2012

Sexteto em Sextilhas (Parte 7)

181 – Assis
Se lá bem distante eu visse
meu eu-menino, veria
em volta dele a cidade
onde reinava a alegria
da qual sinto imensa falta
porque inexiste hoje em dia.

182 – Ademar
Se eu também voltasse um dia
novamente a ser menino,
eu faria sem demora
mais um ato em desatino;
tentaria a todo custo
mudar de vez meu destino.

183 – Delcy
Um desejo  repentino,
às vezes, me vem à mente,
é voltar a ser criança,
ao seu mundo diferente,
mas me arrependo em seguida:
melhor é o  tempo presente!
 
184 – Prof. Garcia
Na verdade, o que se sente
depois da terceira idade,
são momentos de atropelos
lembranças da mocidade,
e um mundo cheio de sonhos
carregado de saudade!

185 – Gislaine
Vivemos na dubiedade
do presente e do passado,
e o sonho agora faz parte
desse viver angustiado,
pois temos dentro de nós,
sempre um menino guardado!

186 – Zé Lucas
Regessar para o passado
é coisa que ninguém faz.
Se mergulhei na velhice,
adeus, vigor de rapaz,
porque a vida não reverte
e o tempo não volta atrás!
 
187 – Assis
O tempo, o que ele mais faz
é agregar idade à gente.
Porém não me esquenta a cuca,
porquanto sigo contente,
curtindo as minhas saudades,
mas sempre olhando pra frente.

188 – Ademar
Eu sempre tiro da mente
o que diz meu coração...
E para fazer meus versos
carregados de emoção,
abro o cofre de saudades
que eu trouxe do meu Sertão!!

189 – Delcy Canalles
A minha grande emoção
é  regressar  ao passado,
relembrar a  meninice,
com meus irmãos do meu lado,
e, então, voltar  ao  presente,
com meu desejo alcançado!

190 – Prof. Garcia
Que desejo consagrado,
para o sonho de um esteta.
Ver o passado outra vez,
de uma forma tão completa,
depois voltar ao presente
sem deixar de ser poeta!  

191 – Gislaine
Sendo nossa arma secreta,
vivemos nessa emoção,
vamos poetando a vida,    
com carinho e devoção,
sem pararmos de sonhar,
levando as rimas na mão!

192 – Zé Lucas
No mundo da inspiração
não há limites pra nada.
Podemos pedir aos céus
uma noite iluminada,
e os anjos vêm derramar
estrelas em nossa estrada.

193 – Assis
Nesta semana sagrada,
em silêncio sobe ao trono
a lua mais decantada:
primeira cheia do outono,
tão faceira e recatada,
que aos poetas rouba o sono.

194 – Ademar
Peço a Deus, Pai e Patrono,
nesta semana sagrada,
que essa minha inspiração
seja sempre abençoada,
para que minha poesia
não seja crucificada!

195 – Delcy
Nesta semana sagrada,
a  Páscoa, se comemora...
Os cristãos fazem jejum
e  o  povo mais horas, ora!
Então,  eu  peço ao Senhor:
-Dai-nos a Paz,  sem demora!

196 – Prof. Garcia
Todo cristão comemora
a passagem de Jesus,
que apesar do sacrifício
de ter morrido na cruz;
amou toda a humanidade
e encheu o mundo de luz!
 
197 – Gislaine
Que a paz chegue, é o que traduz
o desejo do planeta,
e que exista para sempre
voando uma borboleta,
colorindo o céu anil,
em majestosa mareta!

198 – Zé Lucas
Praza a Deus que este planeta
mantenha o claro da luz
que pôs fim à grande treva
após a prova da cruz
e se abasteça no amor
da mensagem de Jesus!

199 – Assis
Sortudo mesmo de truz
é o bom parceiro Ademar,
que na sextilha duzentas
vai o seu nome assinar,
registrando o belo marco
que estamos hoje a saudar.

200 – Ademar
Que eu possa comemorar
“os duzentos” na verdade,
com versos cheios de amor,
sem discórdia, sem maldade;
fugindo dos sentimentos:
tristeza, dor e saudade!

201 – Delcy
Amigo, em minha ansiedade,
" as duzentas",  esperei...
Teus versos cheios de encantos
me  envolveram e eu gostei.
Pela  sextilha  enviada,
na  hora, me apaixonei!

202 – Prof. Garcia
Neste debate eu cantei
meus sonhos de muitos anos.
Falei do céu e da terra,
dos lagos, dos oceanos,
da natureza divina,
e até dos meus desenganos!

203 – Gislaine
É normal, somos humanos,
e as tristezas fazem parte      
da vida que nós levamos...
Sonhando, vamos a Marte,
e o que é triste, conseguimos
esquecer, com nossa arte.

204 – Zé Lucas
Tenho andado em toda parte,
por matas, serras e rios,
às vezes pisando em pedras
e espinhos, pelos desvios,
só por amor à beleza
dos melhores desafios.

205 – Assis
Os desafios, curti-os
bem mais quando era criança.
Hoje ainda às vezes ouso
atirar alguma lança,
porém com certo cuidado,
pois a idade pesa... e cansa.

206 – Ademar
Quem tem fé em Deus não cansa
e eu sou um homem de Fé;
não me cansarei na estrada
e nem voltarei de ré,
pois a fé que eu tenho em Deus
é quem me mantém de pé.

207 – Delcy
Ver-se um homem que tem fé
é  uma  riqueza  tamanha.
Neste  mundo em que vivemos,
chega, a crença, a ser estranha.
Pra quem tem fé e acredita,
a  vida eterna está ganha!

208 – Prof. Garcia
Na vida, a maior façanha,
para um pobre pregador,
é plantar frutos do bem
entre os espinhos da flor,
colher a essência mais pura
e encher o mundo de amor!

209 – Gislaine
Sendo um grande  sonhador, 
segue o poeta plantando           
versos, que cantam a paz,
e vai ao mundo levando
com amor no coração,
os sonhos que vai sonhando!        

210 – Zé Lucas
Eu sinto, de vez em quando,
a vibração da poesia
nas cordas do coração,
dando-me nova energia
para decantar as coisas
bonitas que a mente cria.

Machado de Assis (Badaladas – 1º. de junho de 1873)

Hoje a minha primeira palavra é de agradecimento. Agradeço ao Sr. deputado Araripe o haver perfilhado a reflexão que fiz acerca do nome da nova província, e proposto na câmara outro nome menos sujeito a confusões.

Não sei se passará a emenda; mas ao menos se algum dia ouvirmos na câmara um
destes rasgos de eloqüência:

— Senhores com orgulho o digo: um franciscano não receia comparações. Se algum dia um presidente da nova província, em caso de guerra, chamar os seus povos com este melodioso verso:

“Franciscanos, surgi! eia! sus!”

Se algum dia um tradutor francês, levado pelo equívoco do nome, exclamar espantado:
“C’est à ne pas y croire! Le Brésil compte encore quatre-vingt-dix-neuf-mille franciscains. Combien faut-il des couvents pour tous ces gens-là? ”

Se tudo isto acontecer, e mais alguma coisa, nem o Sr. deputado Araripe nem eu temos culpa ambos demos aviso do mal.

Espero que o leitor nada me peça acerca do tumulto do Recife, que provavelmente condena, sobretudo se é maçom. Se a vitória da maçonaria estava longe de ser segura, creio que agora é ainda mais duvidosa.

Demais, o pau como pau é sólido, ou pode ser sólido; como argumento, é fraco.

O soco não é um silogismo perfeito; o cascudo é uma demonstração profundamente
medíocre.

Bem sei que em certos casos a gente perde as estribeiras. Felizes os pachorrentos que nunca se abalaram por nenhuma coisa neste mundo. Mas, em suma, a razão devia dominar os fiéis de Pernambuco; eles deviam esperar até o fim.

E já, que, sem querer, dei opinião acerca dos amotinados, quero ser justo dizendo o que penso do Sr. bispo naquela ocasião.

S. Excia. fugiu para Olinda. Pois perdeu uma ocasião única de comentar brilhantemente o seu zelo, que era ficar no lugar do perigo, cair defendendo as prerrogativas do cargo, confessar a fé, mostrar-se ainda mais digno do nome de cristão. O fugir é vulgar, é ordinário, é nimiamente terrestre, é João Antonio, é qualquer coisa, é o leitor, é este seu criado.

Que iam fazer os amotinados a Soledade? Iam desforrar-se de uma decisão espiritual do prelado. Era ocasião única de mostrar a sinceridade do zelo e a tranqüilidade da fé. Por isso, do mesmo modo que estranho o movimento, estranho a fuga; e deixo este ponto para apresentar aos leitores o Sr. Carvalho.

O Sr. Carvalho é poeta, e poeta religioso. Até aqui tudo vai bem. Não direi que seja tão grande como o padre Caldas; não é, mas por causa do gênero. O Sr. Carvalho cultiva um gênero mais seu que de ninguém.

Acho-me aqui diante de uma saudação a Pio IX, cuja primeira estrofe acaba assim:

Pensai, maçons; tremei, ímpios!
Tremei, malditos ateus!

Toda poesia revela que os sentimentos de piedade do poeta são sinceros, mas que as leis poéticas da obra são. . . um tanto especiais. Esta estrofe, por exemplo, é galante:

Salve! constância divina
Circunscrita ao Vaticano!
Vítima santa imolada
Ao ímpio furor humano!
Salve, Pontífice excelso,
Prodígio?. . .divino arcano!. . .

O principal é o fim; a chave é de ouro. Estou que o Santo Padre não aceita a idéia do poeta. Sabe o leitor católico, que Jesus Cristo perdoou aos judeus que o crucificaram, exemplo de misericórdia e mansidão, que o poeta duvida se pode ser dado por Pio IX.

Para melhor entender a coisa, transcrevo a estrofe:

E perdoa, se é possível,
Aos vis, aos novos judeus,
Que em ti não reconhecem
Um enviado dos céus!

Se é possível!

Estou convencido de que o Papa não aceita o condicional. Reclama naturalmente contra os invasores dos seus Estados; mas perdoar-lhes, quem poderá duvidar disso?

Os versos do Sr. Carvalho levam-me a pensar na mentira que todos os dias anda nos nossos lábios.

Nós dizemos: perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores. Peta! Ninguém perdoa aos seus devedores. O meu alfaiate não me perdoa um fio de pano; o sapateiro não me perdoa um tacão de bota. Ninguém perdoa nada.

Será das dívidas morais, as ofensas? Isso é dívida que não prescreve. Um credor ainda perdoa. . . quando o devedor lhe não paga ou morre sem herança. Mas o sujeito a quem chamei tolo, a moça que me ouviu dizer que era vaidosa, esses rezam o seu padrenosso, mas não me cumprimentam.

Nós temos todos assim uma humildade de liturgia, uma singeleza de vocábulo. É por isso que eu entro em dúvida se ainda há cristãos neste mundo. Penso que, se os há, estão escondidos, ou pelo menos andam incógnitos.

Agora, vamos fechar isto com a chave de ouro do costume.

Conhece o leitor o Sr. Pedreira Braga? É um poeta, um poeta nestes dias de prosa. Tem escrito versos mui apreciados, entre outros uns em louvor das bibliotecas, obra de rara energia e harmonia.

Seus versos não são esses versos chatos, incolores, amarelos com que nos andam a amolecer os ouvidos alguns aspirantes ao petrarquismo. Pelo contrário, são fortes e duros como o bronze, vastos como a amplidão, revelando a cada instante uma novidade de idéia, uma originalidade de vocábulo, o que tudo prova a altura do seu talento e o grande futuro da sua inspiração.

Aqui tenho diante de mim três estrofes, três pérolas, três diamantes da melhor água. A um poeta morto é o título; e vale a pena morrer para inspirar tão gentis pensamentos. O Sr. Pedreira Braga não é certamente o nosso Victor Hugo, mas sente-se que aspira a alar-se às alturas do poeta das Contemplações.

Quem já compôs entre nós estrofe semelhante a esta?

Poeta: eras eleito! Com a essência de um arcanjo
Em ti Deus misturara o espírito de um Vagre:
Respira, pois, que a glória é a mesma: é sempre o anjo
Que a cada Cristo oferta um cálice de vinagre.

Vinagre é um vocábulo pouco suscetível de rimar em poesia elevada; o Sr. Braga, porém, o fez com admirável tento. Foi buscar Vagre, rima natural, adequada ao assunto, séria e perfeita.

2.a estrofe:
Chegaste ... E de momento medindo a longa estrada...
Lançaste após a idéia a caça da, verdade :
Mas, se cedo caíste . . . Da morte na jornada
Bateste numa porta... abriu-se a Eternidade.

Aqui se pode dizer que, indo o poeta na jornada da morte, e batendo numa porta, era difícil que se lhe abrisse outra que não fosse a eternidade. Mas essa razão, excelente na prosa, não vale nada na poesia.

3.a estrofe:
E Deus em tua campa afunda um horizonte!
E é sobre campas tais que o seu esplendor vela!
Se além, como um cometa esfera-se uma fronte,
Do caos sai uma esponja e apaga a enorme estrela.

Esta última estrofe, melhor direi estes dois últimos versos, não os recusaria Victor Hugo. O próprio Milton, o próprio Dante, apesar de autores de grandes imagens, deixariam de invejar esta.

Vê-se daqui: a fronte esfera-se; é um cometa. Mas há lá no caos uma esponja, a terrível esponja do infinito; essa esponja sai, cai sobre a estrela, que a enorme, e apaga-se. Tudo isto é rápido, como a idéia que exprime.

Poetas juvenis, imitai versos destes. Deixai essa poesia desmaiada, essa poesia de soro de leite; sede fortes, altivos, grandes, desafiai as esponjas do caos. Não há esponjas do caos quando se escreve um nome nas Tábuas do Infinito, com a Penna enorme do Querer. Subir é a aspiração suprema da ave Mocidade; o Gênio é a Asa multicor da inspiração ; nada vale Nada, por que Tudo é tudo.

Dr. Semana.
––––––––––––––
Nota:
Dr. Semana é o pseudonimo que Machado usava nestas cronicas


Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Publicado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 624)

Uma Trova de Ademar 

Sinto que aquela criança
que nunca usou um fuzil,
traz nas mãos toda esperança
no futuro do Brasil...
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Todo indivíduo que é tolo
mas que de sábio se arvora,
é tal o pão sem miolo...
só tem a casca por fora!
–Francisco José Pessoa/CE–

Uma Trova Potiguar 


Os meus carnavais partiram,
levando os tempos risonhos
e as fantasias fugiram
no delírio dos meus sonhos!...
–Rodrigues Neto/RN–
Uma Trova Premiada 

2012  -  Caxias do Sul/RS
Tema  -  UVA  -  1º Lugar


Sou como as uvas pisadas
pra fazer vinho e licor,
que mesmo sendo esmagadas
dão de presente o sabor.
–Manoel Cavalcante/RN–

...E Suas Trovas Ficaram 


Não é quando vais embora
que tenho ciúmes assim.
É quando estás como agora,
pensativo, junto a mim...
–Carolina A. de Castro/PE–

Uma  Poesia 


Quando avisto uma nuvem carregada
avisando que o céu já tá se pondo,
bem do oco do mundo ouço um estrondo
de um corisco ou trovão pai da coalhada;
vem a chuva enfermeira dedicada
pra curar as feridas do verão,
onde Deus o maior cirurgião
recupera o sertão tão castigado;
quando o tempo se fecha, o céu nublado
é sinal que vem chuva pra o sertão.
–Júnior Adelino/PB–

Soneto do Dia 

AS MÃOS DE VITALINO.
–Rafael dos Santos Barros/PE–


Vitalino com mãos sujas e santas
modelava em barro os nordestinos
e transportava a dor e os desatinos
para os bonecos tantas vezes, tantas.

Bonecos mudos, quantas vezes quantas,
Minha alma cega por meus olhos viu?
A tua dor meu coração sentiu
no canto triste que ainda hoje cantas.

Soprou a vida num boneco mudo
que sem falar, assim, dizia tudo
dos nordestinos, dos desatinos seus,

advertência dos que nascem pobres
pelas mãos rudes que ficaram nobres,
abençoadas pelas mãos de Deus.

Mia Couto (A Carteira de Crocodilo)

A Senhora Dona Francisca Júlia Sacramento, esposa do governador-geral, excelenciava-se pelos salões, em beneficentes chás e filantrópicas canastas. Exibia a carteirinha que o marido lhe trouxera das outras Áfricas, toda em substância de pele de crocodilo. As amigas se raspavam de inveja, incapazes de disfarce. Até a bílis lhes escorria pelos olhos. Motivadas pela desfaçatez, elas comentavam: o bichonho, assim tão desfolhado, não teria sofrido imensamente? Tal dermificina não seria contra os católicos mandamentos?

-  E com o problema das insolações, o bicho, assim esburacado, apanhando em cheio os ultravioletas...

-  Cale-se, Clementina- .

Mas o governador Sacramento também se havia contemplado a ele mesmo. Adquirira um par de sapatos feitos com pele de cobra. O casal calçava do reino animal, feitos pássaros que têm os pés cobertos de escamas. Certo dia, uma das nobres damas trouxe a catastrágica novidade. O governador-geral contraíra grave e irremediável viuvez. A esposa, coitada, fora comida inteira, incluído corpo, sapatos, colares e outros anexos.

-  Foi comida mas... pelo mando, supõe-se?

-  Cale-se, Clementina- .

Mas qual marido? Tinha sido o crocodilo, o monstruoso carnibal. Que horror, com aqueles dentes capazes de arrepiar tubarões.

-  Um crocodilo no Palácio?

-  Clemente-se, Clementina- .

O monstro de onde surgira? Imagine-se, tinha emergido da carteira, transfigurado, reencarnado, assombrado. Acontecera em instantâneo momento: a malograda ia tirar algo da mala e sentiu que ela se movia, esquiviva. Tentou assegurá-la: tarde e de mais. Foi só tempo de avistar a dentição triangulosa, língua amarela no breu da boca. No resto, os testemunhadores nem presenciaram. O sáurio se eminenciou a olhos imprevistos.

E o governador, sob o peso da desgraça? O homem ia de rota abatida. Lágrimas catarateavam pelo rosto. O dirigente recebeu o desfile das condolências. Vieram íntimos e ilustres. A todos ele cumprimentou, reservado, invisivelmente emocionado. Os visitantes se juntaram no nobre salão, aguardando palavras do dirigente. O governador avançou para o centro e anunciou não o luto mas, espantem-se cristãos, a inadiável condecoração d crocodilo. Em nome da protecção das espécies, explicou. A bem da ecologia faunística, acrescentou.

No princípio, houve relutâncias, demoras no entendimento. Mas logo os aplausos abafaram as restantes palavras. O que sucedeu, então, foi o inacreditável. O governador Sacramento suspendeu a palavra e espreitou o chão que o sustinha. Pedindo urgentes desculpas ele se sentou no estrado e se apressou a tirar os sapatos. Entre a audiência ainda alguém vaticinou:

-  Vai ver que os sapatos se convertem em cobra...

-  Clementina!-

Sucedeu exactamente o inverso. O ilustre nem teve tempo de desapertar os atacadores. Perante um espanto ainda mais geral que o título do governador, se viu  o honroso indignitário a converter-se em serpente. Começou pela língua, afilada e bífida, em rápidas excursões da boca. Depois, se lhe extinguiram os quase totais membros, o homem, todo ele, um tronco em flor. Caiu desamparado no mármore do palácio e ainda se ouviu seu grito:

-  Ajudem-me!-

Ninguém, porém, avivou músculo que fosse. Porque, logo e ali, o mutante mutilado, em total mutismo, se começou a enredar pelo suporte do microfone. Enquanto serpenteava pelo ferro ele se desnudava, libertadas as vestes como se foram uma desempregada pele. O governador finalizava elegâncias de cobra. O ofídio se manteve hasteado no microfone, depois largou-se. Quando se aguardava que se desmoronasse, afinal, o governador encobrado desatou a caminhar. Porque de humano lhe restavam apenas os pés, esses mesmos que ele cobrira de ornamento serpentífero.

-  Não aplauda, Clementina, por amor de Deus!

Falas do velho tuga

Quer que eu lhe fale de mim, quer saber de um velho asilado que nem sequer é capaz de se mexer da cama? Sobre mim sou o menos indicado para falar. E sabe porquê? Porque estranhas névoas me afastaram de mim. E agora, que estou no final de mim, não recordo ter nunca vivido.

Estou deitado neste mesmo leito há cinco anos. As paredes em volta parecem já forrar a minha inteira alma. Já nem distingo corpo do colchão. Ambos têm o mesmo cheiro, a mesma cor: o cheiro e cor da morte. Morrer, para mim, sempre foi o grande acontecimento, a surpresa súbita. Afinal, não me coube tal destino. Vou falecendo nesta grande mentira que é a imobilidade.

Também eu amei uma mulher. Foi há tempo distante. Nessa altura, eu receava o amor. Não sei se temia a palavra ou o sentimento. Se o sentimento me parecia insuficiente, a palavra soava a demasiado. Eu a desejava, sim, ela inteira, sexo e anjo, menina e mulher. Mas tudo isso foi noutro tempo, ela era ainda de tenrinha idade.

Este lugar é a pior das condenações. Já nem as minhas lembranças me acompanham. Quando eu chamo por elas me ocorrem pedaços rasgados, cacos desencontrados.  Eu quero a paz de pertencer a um só lugar, a tranquilidade de não dividir memórias. Ser todo de uma vida. E assim ter a certeza que morro de uma só única vez. Mas não: mesmo para morrer sofro de incompetências. Eu deveria ser generoso a ponto de me suicidar. Sem chamar morte nem violentar o tempo. Simplesmente deixarmos a alma escapar por uma fresta.

Ainda há dias um desses rasgões me ocorreu por dentro. É que me surgiu, mais forte que nunca, esse pressentimento de que alguém me viria buscar. Fiquei a noite às claras, meus ouvidos esgravatando no vão escuro. E nada, outra vez nada. Quando penso nisso um mal-estar me atravessa. Sinto frio mas sei que estamos no pico do Verão. Tremuras e arrepios me sacodem. Me recordo da doença que me pegou mal cheguei a este continente.

África: comecei a vê-la através da febre. Foi há muitos anos, num hospital da pequena vila, mal eu tinha chegado. Eu era já um funcionário de carreira, homem feito e preenchido. Estava preparado para os ossos do ofício mas não estava habilitado às intempéries do clima. Os acessos da malária me sacudiam na cama do hospital apenas uma semana após ter desembarcado. As tremuras me faziam estranho efeito: eu me separava de mim como duas placas que se descolam à força de serem abanadas.

Em minha cabeça, se formavam duas memórias. Uma, mais antiga, se passeava em obscura zona, olhando os mortos, suas faces frias. A outra parte era nascente, reluzcente, em estreia de mim. Graças à mais antiga das doenças, em dia que não sei precisar, tremendo de suores, eu dava à luz um outro ser, nascido de mim.

Fiquei ali, na enfermaria penumbrosa, intermináveis dias. Uma estranha tosse me sufocava. Da janela me chegavam os brilhos da vida, os cantos dos infinitos pássaros. Estar doente num lugar tão cheio de vida me doía mais que a própria doença.

Foi então que eu vi a moça. Branca era a bata em contraste com a pele escura: aquela visão me despertava apetites no olhar. Ela se chamava Custódia. Era esta mesma Custódia que hoje está connosco. Na altura, ela não era mais que uma menina, recém-saída da escola. Eu não podia adivinhar que essa mulher tão jovem e tão bela me fosse acompanhar até ao final dos meus dias. Foi a minha enfermeira naqueles penosos dias. A primeira mulher negra que me tocava era uma criatura meiga, seus braços estendiam uma ponte que vencia os mais escuros abismos.

Todas as tardes ela vinha pelo corredor, os botões do uniforme desapertados, não era a roupa que se desabotoava, era a mulher que se entreabria. Ou será que por não ver mulher há tanto tempo eu perdera critério e até uma negra me porventurava? Me admirava a secura daquela pele, 0 gesto cheio de sossegos, educado para maternidades. Enquanto rodava pelo meu leito eu tocava em seu corpo. Nunca acariciara tais carnes: polposas mas duras, sem réstia de nenhum excesso.

Os dias passavam, as maleitas se sucediam. Até que, numa tarde, me assaltou um vazio como se não houvesse mundo. Ali estava eu, na despedida de ninguém. Olhei a janela: um pássaro, pousado no parapeito, recortava o poente. Foi nesse pôr do Sol que Custódia, a enfermeira, se aproximou. Senti seus passos, eram passadas delicadas, de quem sabe do chão por andar sempre descalço.

-  Eu tenho um remédio- , disse Custódia. - _É um medicamento que usamos na nossa raça. O Senhor Fernandes quer ser tratado dessa maneira?

-  Quero.

-  Então, hoje de noite lhe venho buscar- .

E saiu, se apagando na penumbra do corredor. Como em caixilho de sombra a sua figura se afastava, imóvel como um retrato. Na janela, o pássaro deixou de se poder ver. Adormeci, doído das costas, a doença já  tinha aprisionado todo meu corpo. Acordei com um sobressalto. Custódia me vestia uma bata branca, bastante hospitalar.

-  Onde vamos?

-  Vamos- .

E fui, sem mais pergunta, tropeçando pelo corredor. Dali parei a tomar fôlego e, encostado na umbreira da porta, olhei o leito onde lutara contra a morte. De repente, estranhas visões me sobressaltaram: deitado, embrulhado nos lençóis, estava eu, desorbitado. Meus olhos estavam sendo comidos pelo mesmo pássaro que atravessara o poente. Gritei - _Custódia, quem está na minha cama?-  Ela espreitou e riu-se:

-  É das febres, ninguém está lá- .

Fui saindo, torteando o passo. Afastámo-nos do hospital, entramos pelos trilhos campestres. Naquele tempo, as palhotas dos negros ficavam longe das povoações. Caminhava em pleno despenhadeiro, o pequeno trilho resvalava as infernais e desluzidas profundezas. Me perdi das vistas, mais tombado que amparado nesse doce corpo de Custódia. Voltei a acordar como se subisse por uma fresta de luminosidade. Aquela luz fugidia me pareceu, primeiro, o pleno dia.

Mas depois senti o fumo dessa ilusão. O calor me confirmou: estava frente a uma fogueira. O calor da cozinha da minha infância me chegou. Escutei o roçar de longas saias, mulheres mexendo em panelas. Saí da lembrança, dei conta de mim: estava nu, completamente despido, deitado em plena areia.

-  Custódia!- , chamei.

Mas ela não estava. Somente dois homens negros baixavam os olhos em mim. Me deu vergonha ver-me assim, descascado, alma e corpo despejados no chão. Malditos pretos, se preparavam para me degolar? Um deles tinha uma lamina. Vi como se agachava, o brilho da lamina me sacudiu. Gritei: aquela era a minha voz? Me queriam matar, eu estava ali entregue às puras selvajarias,  candidato a ser esquartejado, sem dó na piedade. Me desisti, desvalente, desvalido. De nada lucrava recusar os intentos do negro. O homem cortou-me, sim. Mas não passou de uma pequena incisão no peito. Sangrei, fiquei a ver o sangue escorrer, lento como um rio receoso.

Um dos homens falou em língua que eu desconhecia, seus modos eram de ensonar a noite, a voz parecia a mão de Custódia quando ela me empurrava para o sonho. Voltei a deitar-me. Só então reparei que havia uma lata contendo um líquido amarelado. Com esse líquido me pintavam, em besuntação danada. Depois, me ajeitaram o pescoço para me fazerem beber um amargo licor. Choravam, pareceu-me de início. Mas não: cantavam em surdina. Dores de morrer me puxavam as vísceras. Vomitei, vomitei tanto que parecia estar-me a atirar fora de mim, me desfazendo em babas e azedos. Cansado, sem fôlego nem para arfar, me apaguei.

No outro dia, acordei, sem estremunhações. Estava de novo no hospital, vestido de meu regulamentar pijama. Qualquer coisa acontecera? Eu tinha saído em deambulação de magias, rituais africanos? Nada parecia. Verdade era que eu me sentia bem, pela primeira vez me chegavam as forças. Me levantei como uma toupeira saída da pesada tampa do escuro. Primeira coisa: fui à janela. A luz me cegou. Podia haver tantas cores, assim tão vivas e quentes?

Foi então que eu vi as árvores, enormes sentinelas da terra. Nesse momento aprendi a espreitar as árvores. São os únicos monumentos em África, os testemunhos da antiguidade. Me diga uma coisa: lá fora ainda existem? Pergunto sobre as árvores.

Quer saber mais? Agora estou cansado. Tenho que respirar muito. Há tanto tempo que eu não falava assim, às horas de tempo. Não vá ainda, espere. Vamos fazer uma combinação: você divulga estas minhas palavras lá no jornal de Portugal --  como é que se chama mesmo  o tal jornal? -- e depois me ajuda a procurar a minha família. É que sabe: eu só posso sair daqui pela mão deles. Senão, que lugar terei lá no mundo? Traga-me um qualquer parente. Quem sabe, depois disso, ficamos mesmo amigos. Você sabe como eu confirmo que estou ficando velho? É da maneira que não faço mais amigos. Aqueles de que me lembro são os que eu fiz quando era novo. A idade nos vai minguando, já não fazemos novas amizades. Da próxima vez venha com um parente. Ou faça mesmo o senhor de conta que é meu familiar.

Fonte:
Mia Couto. Contos do Nascer da Terra. Vol.1. Porto: CPAC, 1998.

Cândida Vilares Gancho (Como Analisar Narrativas) Parte 7 – Discurso Indireto Livre e Parte 8 – Algumas questões práticas de análise de narrativas

Discurso indireto livre

       É um registro de fala ou de pensamento de personagem, que consiste num meio-termo entre o discurso direto e o indireto, porque apresenta expressões típicas do personagem mas também a mediação do narrador. Veja as diferenças entre o discurso direto, o indireto e o indireto livre no quadro abaixo:

Discurso direto
Ela andava e pensava:- Droga! Estou tão cansada!
Discurso indireto
Ela andava e pensava que (a vida) era uma droga e que estava cansada
Discurso indireto livre
Ela andava (e pensava). Droga! Estava tão cansada.

Características do discurso indireto livre

1. Geralmente é usado para transcrever pensamentos.

2. Mantém as expressões peculiares do personagem (por exemplo, “droga!”) e a correspondente pontuação: interrogação, exclamação.

3. Não apresenta o “que” e o ‘‘se”, típicos do discurso indireto.

4. Não apresenta geralmente verbo de alocução.

5. A fala ou pensamento do personagem segue tempos verbais, adjuntos adverbiais e pronomes como no discurso direto (3ª pessoa).

(...) Ouviu o falatório desconexo do bêbado, caiu numa in ‘ J decisão dolorosa. Ele também dizia palavras sem sentido, conversava à toa. Mas irou-se com a comparação, deu marradas na parede. ( NARRADOR)

Era bruto, sim Senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se Estava preso por isso? Como era? Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele? Vivia trabalhando como um escravo. Desentupia bebedouro, consertava as cercas, curava os animais — aproveitava um casco de fazenda sem valor. Tudo em ordem, podiam ver. Tinha culpa de ser bruto? Quem tinha culpa? (...) ( personagem – discurso indireto livre)
(RAMOS, Graciliano Vidas secas. Rio de Janeiro, Record, 1982. p. 35-6.)

Algumas questões práticas de análise de narrativas

Questões gerais

1. Comandos diferentes: você pode se ver frente a questões (exercícios, perguntas, testes etc.) que suponham análise de texto (qualquer tipo de texto); neste caso saiba distinguir:

Identificar: é reconhecer, achar um elemento entre outros;

Comentar: é geralmente tecer comentários gerais sobre o conteúdo do texto, o que supõe uma leitura atenta;

Relacionar/Comparar: é estabelecer os pontos comuns e diferentes entre dois elementos do texto ou entre ele mentos do texto e da realidade (do autor, do leitor etc.);

Analisar: é separar as partes, compará-las e tirar conclusões lógicas, coerentes com o texto;

Interpretar: pode significar comentar ou analisar, dependendo do contexto; de qualquer forma, é uma tarefa que deve se ater aos limites do texto, evitando-se, sempre que possível, misturar as afirmações do texto com aquilo que achamos;

Dar opiniões: é posicionar-se criticamente frente ao texto, ou a algum aspecto dele, emitir idéias pessoais, desde que comprovadas com argumentos lógicos ou com passagens do texto.

2. Como citar: nem sempre é necessário citar o texto que se analisa para responder a uma questão sobre ele; você pode (e até deve) resumir “com suas palavras” o que o texto diz para explicar algum aspecto do texto. Mas há casos em que é necessário citar, ou porque isso foi solicitado (com comandos do tipo: retire do texto, transcreva etc.), ou porque quer provar com as palavras do texto uma opinião sua a respeito de uma questão polêmica suscitada pela leitura. Assim, para citar, use:

aspas: sempre que for citar o texto integralmente ou parte dele;

reticências entre parênteses: para abreviar a citação, isto é, pular um pedaço da seqüência do texto.

Por exemplo: “xxxxxxxxxxxxx (...) xxxxxxxx”

Obs.: Se você necessitar citar outros textos de outros autores para fundamentar suas posições na análise de um texto, proceda como foi mencionado acima e não se esqueça de dar a fonte bibliográfica: autor, obra, edição, cidade, editora, ano, torno, volume, capítulo e página.

Questões específicas (do texto narrativo)

       Vamos tomar como base o texto a seguir para esclarecer alguns problemas específicos da análise das narrativas que costumam apresentar dificuldades:

       1º p.     Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando empostação de voz, a música quadrafônica do quarto do meu filho. Você não vai largar essa mala? perguntou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar.

       2° p.     Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o volume de pesquisas sobre a mesa, não via as letras e números, eu esperava apenas. Você não pára de trabalhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem a metade e ganham a mesma coisa, entrou a minha mulher na sala com o copo na mão, já posso mandar servir o jantar?

       3° p.     A copeira servia à francesa, meus filhos tinham crescido, eu e minha mulher estávamos gordos. E aquele vinho que você gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha mulher na da pediu, nós tínhamos conta bancária conjunta.

       4º p.     Vamos dar uma volta de carro? convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da novela. Não sei que graça você acha em passear de carro todas as noites, também aquele carro custou uma fortuna, tem que ser usado, eu é que cada vez me apego menos aos bens materiais, minha mulher respondeu.

       5° p.     Os carros dos meninos bloqueavam a porta da garagem, impedindo que eu tirasse o meu carro. Tirei os carros dos dois, botei na rua, tirei o meu, botei na rua, coloquei os dois carros novamente na garagem, fechei a porta, essas manobras todas me deixaram levemente irritado, mas ao ver os pára-choques salientes do meu carro, o reforço especial duplo de aço cromado, senti o coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na ignição, era um motor poderoso que gerava a sua força em silêncio, escondido no capô aerodinâmico. Saí, como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser uma rua deserta, nesta cidade que tem mais gente do que moscas. Na Avenida Brasil, ali não po dia ser. muito movimento. Cheguei numa rua mal iluminanda, cheia de árvores escuras, o lugar ideal Homem ou mulher? realmente não fazia grande diferença, mas não aparecia ninguém em condições comecei a ficar tenso, isso sempre acontecia, eu até gostava o alivio era maior. Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher fosse menos emocionante, por ser mais fácil. Ela caminhava apressadamente, carregando um embrulho de papel ordinário, coisas de padaria ou de quitanda, estava de saia e blusa, andava depressa, havia árvores na calçada, de vinte em vinte metros, um interessante problema a exigir uma grande do se de perícia. Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu que eu ia para cima dela quando ouviu o som da borracha dos pneus batendo no meio-fio. Peguei a mulher acima dos Joelhos, bem no meio das duas pernas, um pouco mais sobre a esquerda um golpe perfeito, ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões dei uma guinada rápida para a esquerda passei como um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantando de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em onze segundos Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar, colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casa de Subúrbio.

6.° p. Examinei o carro na garagem. Corri orgulhosamente a mão de leve pelos pára-lamas, os Pára-choques sem marca. Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha habilidade no uso daquelas máquinas.

7.° p. A família estava vendo televisão. Deu a sua Voltinha, agora está mais calmo? perguntou minha mulher, deitada no sofá, olhando fíxamente o vídeo. Vou dormir, boa noite para todos, respondi, amanhã vou ter um dia terrível na companhia.
(FONSECA Rubem Passeio noturno
In:________Feliz Ano Novo. Rio de Janeiro, Artenova, 1975. Parte i, p. 49-50.)

Continua…

Fonte:
Cândida Vilares Gancho . Como Analisar Narrativas. 7. Ed. Editora Ática. http://groups.google.com.br/group/digitalsource/

Nilton Manoel (São Paulo é Esperança Todos os Dias)

homenagem aos 450 anos de São Paulo
1
No meu antigo toca discos,
ouço com muita atenção,
lindas canções de outrora:
- "São Paulo  Quatrocentão",
da "Rapaziada do  Brás"...
O "Trem das Onze me traz",
saudade e muita emoção.
2
O trem pelos velhos trilhos,
a história do povo escreve!
e a cidade em seu cenário
sempre arrojada se atreve
a plantar modernidade;
sofra a gente com a saudade,
o progresso não é breve.
3
São Paulo, não perde tempo,
inova, protege, acolhe,
quer sua gente contente
não há garoa que molhe,
o entusiasmo dessa sina;
quem vence sua rotina
dá vida aos sonhos que escolhe.
4
O povo quer movimento,
quer cenário, quer ação,
quer futuro e conforto
pela glória da nação...
Todo mundo quer ter paz,
como é bom sonhar no Brás,
há poesia nesse chão!
5
Sou paulista do interior
e passo a vida na estrada,
quem gosta de movimento
quer vida facilitada:
- ao modernismo dou fé,
por todo lado dá pé,
se a cidade é bem cuidada...
6
Quando estou na capital
tenho eficiente o transporte;
seguro, rápido, alegre,
em toda estação o bom porte
que, nem posso imaginar
sem metrô pra trabalhar...
Ser pontual é ser forte!
7
A inspiração não me falta
e até me lembro que, a gente,
há trinta e cinco anos tem,
esse serviço excelente
que movimenta a cidade
e dá ao povo a vontade,
de viver mais... felizmente!
8
São estações variadas
espalhadas pela cidade,
elevados, com plataformas
e na sua versatilidade,
põe no cenário, poesia,
integra-se com a ferrovia,
caminho de prosperidade.
9
Entre fixas e rolantes,
gente que faz movimento
no ganha pão habitual...
páro, olho e  meu pensamento
cola imagens que, resumo
para as falas de consumo...
Reportagens do momento!
10
Quem tem vida solidária
dá valor à cortesia:
por favor... muito obrigado...
dá licença... que poesia,
nas convenções sociais;
todos nós somos serviçais,
pelo pão de cada dia.
11
Jânio Quadros fez história
melhorou a imagem do Brás.
com novas edificações
e o povo cheio de paz,
se orgulha a todo o instante,
por ser sempre o Bandeirante,
de eras que não voltam mais...
12
Nossa vida que é cíclica,
deve a Anchieta, o jesuíta,
que nem sabia, Senhor!
a vida rica e catita
que sua instalação
da história da fundação,
seria plena e bonita.
13
Na seqüência do transporte
o tempo não segue à toa
e o cenário num instante
de São Paulo da garoa
vai e volta com o metrô
rápido como um alô
de celular... Coisa boa!
14
Na integração, a saudade
que traz Maria Fumaça
é recompensa gostosa
é vida cheia de graça
é tempo cheio de glória
é povo que faz a história
nas estações em que passa.
15
Sertanejo, deslumbrado,
da capital do Interior,
Paro e olho como poeta
e fotografo com amor,
a cidade velha e a nova...
Faço haicai, cordel e trova,
São Paulo em tudo tem cor.
16
Fora e dentro da paisagem
do metrô, pelas estações,
a moda que inventa moda
tem espaço de emoções,
nos projetos culturais,
além de artes visuais
concertos e belas canções
17
Viajando, cheio de sonhos,
o usuário com vigor,
faz a vida mais contente,
tem no metrô, o esplendor,
do minuto brasileiro.
Sabe que tempo é dinheiro
e dinheiro é vida e valor.
18
Nestes bons trinta e cinco anos
dos quais dez Companhia
de Trens Metropolitanos.
São Paulo que é poesia.
tem seus pontos cardeais
movimentos cordiais,
na vida do dia a dia...
19
Entre túneis e superfícies.
neste cenário bacana,
paz pelas quatro estações
com as vitrines de Ikebana...
Esculturas e poesia...
O jornal de todo o dia...
É obra que de Deus emana.
20
Nesse progresso incomum
de terra quatrocentona
dos cafezais à indústria
ao comércio em maratona
o povo que se desdobra...
O imigrante tudo cobra
da cidade que emociona.
21
Cenário amigo é o Metrô!
solidário,  nada esconde...
Relembre através da história
a vida dura do bonde,
no meu relógio de ponto...
Todo mês quanto desconto!
A rapidez corresponde.
22
"São Paulo dos meus amores"
treze listras das bandeiras
progressista a todo o instante
de vida gentil de ordeira
cidade que se desdobra,
urbanidade que sobra
pela pátria brasileira.
23
Nesta vida, coisa boa,
meu trem das onze, é fulgor,
corre até a meia-noite;
é transporte de valor
é segurança de fé
é sorriso que dá pé
é verso de cantador...
24
Vai-e-volta, gente bonita,
da pátria do bom cidadão
em sua faina diária,
carteira assinada ou não
que, São Paulo que é formiga
também é cigarra e abriga
a saga da Educação.
25
Neste  mundo transversal
temas escolares tantos,
em seu cenário tem vida...
Num programa, com encantos
comunitários, o fascínio,
dá a todos tirocínio
da grandeza em todos cantos.
26
No "Ação Escolar" projeta
a influência, positiva,
do metrô pela cidade...
Movimento que motiva,
no urbanismo, novos lares,
é nos bancos escolares,
consagra-se em voz ativa.
27
Os conceitos cidadãos
são plenos em toda parte
faz da cultura de então
dar vivas a vida com arte
que o visual é fartura
que encanta, fascina e apura,
É saber que se reparte...
28
Como patrimônio público
paisagístico e de transporte
Metrõ é riqueza da história,
trouxe à vida a melhor porte,
é tudo que o povo queria...
Foguete de todo o dia
do meu trabalho, o suporte.
29
São Paulo é renovação,
canteiro da arquitetura,
pátria de nossos estados
onde se sonha fartura...
Ambição a luz do dia
de noite sonho e poesia...
Vive-se bem... A vida é dura!
30
Por todas as linhas que passo,
por todos sonhos que planto
a trabalho ou a passeio
O metrô tem seu encanto
viajo em paz, sossegado,
feliz e cheio de agrado
e meus limites suplanto.
31
Recordo dos velhos tempos
do transporte e nossa história...
Museu Gaetano Ferolla
têm muito da trajetória...
O bondinho da novela
se à saudade dá trela?
Metrô é conforto e glória!
32
Salve os metroviários. Viva!
gente amiga e de paz!
quem trabalha por São Paulo,
é ordeiro em tudo que faz.
Viva minha gente de fé,
em Sampa tudo da pé!...
Viva o Metrô!  Viva o Brás!
 -------------------
NILTON MANOEL
Pedagogo (hab/ supervisão. direção; PCP  1996 / 2002 ), professor de Língua Portuguesa, Jornalista (MTb), Contabilista (CRCsp), Escritor, Ativista Cultural, 3 gestões de Conselho Municipal de  Cultura; autor de Cem anos de jornalismo escolar, Didática da Trova, Trovas da Juventude, Poetas de Ribeirão Preto.

Fonte:
O Autor

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A. A. de Assis (Revista Virtual Trovia n. 152 - agosto de 2012)

Inesquecíveis

Na carta, ao dizer-te quanto
a saudade me consome,
as reticências do pranto
quase apagaram meu nome.
Carlos Guimarães

Saudade de tal maneira
esta noite me abraçou,
que eu ontem dormi solteira,
mas hoje... não sei se sou...
Jesy Barbosa
Ora é brando, ora é demais:
assim o amor da mulher:
– Ela o gradua à vontade,
nunca como a gente quer...
Jorge Beltrão

São as mulheres formosas
como os rosais dos caminhos:
de longe, mostram as rosas;
mostram, de perto, os espinhos.
Leonardo Henke

Para ajustar meu vestido,
não quero fitas nem laços,
mas um cinto, meu querido,
formado pelos teus braços!
Lola de Oliveira

Longe de ti, triste eu passo
(se vivo mesmo, nem sei...).
É cada trova que faço
um beijo que não te dei...
Luiz Otávio

Brincantes

Tem muita trova que choca,
e é natural que aborreça...
Exemplo: a trova-minhoca,
que não tem pé nem cabeça!
Antônio da Serra – PR

Contrariando o que se diz,
sempre na mais alta “estima”,
no futebol, mãe de juiz
é a única que tem rima.
Dorothy J. Moretti – SP

Tive tantas namoradas...
Tantas... Tantas... Que castigo!
Hoje estão todas casadas;
nenhuma delas comigo!
Hélio de Castro – PR

Severino tem oitenta!
Raimundinha, vinte e dois!
Mas, quando o velhinho esquenta,
fica o forró pra depois!…
Jaime Pina da Silveira – SP

Se queres testar o amigo,
em grana não fales não.
Como diz ditado antigo,
perdes o amigo e o carvão...
Jair Amaral – RJ

Certo cupim se deu mal
pois um dia aconteceu:
era tão “cara-de-pau”,
que outro cupim o comeu!
José Ouverney – SP

Constipado, dor de tédio,
piriri, bichim-de-pé...
melhor que qualquer remédio
é um gostoso cafuné...
Osvaldo Reis – PR

Ao vir “de fogo” recua
gritando, após a topada:
– Que faz um poste na rua
às duas da madrugada?!
Therezinha Brisolla – SP

Líricas e filosóficas

Dentre os bens que o filho espera
receber por transmissão,
tesouro nenhum supera
o exemplo que os pais lhe dão.
A. A. de Assis

Na gaveta do meu peito
tranquei a dor da saudade,
para ela saber direito...
o que é sofrer de verdade!
Ademar Macedo – RN

Eu sou poeta da vida,
do bem, do amor, da verdade;
da fé sentida e vivida,
da santa e eterna saudade!
Aloísio Bezerra – CE

É híper minha saudade,
é súper minha emoção;
tão grande é minha vontade,
que quase perco a razão!
A.M.A. Sardenberg – RJ

Frente al mar te estoy pensando,
que te regrese le pido;
sentada estoy recordando
lo que contigo he vivido.
Ángela Desirée – Venezuela

Cobriste-me com teu manto
de amor e dedicação.
Hoje me restam o pranto
e exemplos de doação.
Angela Stefanelli – RJ

Na distante mocidade,
só taperas construí...
Pela vida, na verdade,
eu passei, mas não vivi.
Angélica Villela Santos – SP

Cai a tarde... a alma descansa,
vendo o mar de calmas águas...
– Ah! se essa maré, tão mansa,
pudesse lavar-me as mágoas!!!
Carolina Ramos – SP

Se o encanto de viver
propicia tal vivência,
o que mais vale é o saber
que nos traz a experiência.
Cidinha Frigeri – PR

Praia...  Sentado na areia,
sem nuvens de tempestade,
enquanto a mente vagueia
alguém chora de saudade!
Diamantino Ferreira – RJ

Beleza é ter a prudência
de uma vida pura e calma,
onde a nossa consciência
não cria rugas na alma!
Dilva Moraes – RJ

Igual à chuva torrente
que corre ocupando espaços,
sinto meu desejo ardente
à procura dos teus braços.
Djalma da Mota – RN

Felicidade almejada
no meu futuro eu diviso:
– Em teus olhos, a alvorada;
no teu corpo, o paraíso.
Eliana Jimenez – SC

Vivo em constante conflito,
entre o delírio e a razão:
– meu sonho alcança o infinito...
meus pés... tropeçam no chão.
Elisabeth Souza Cruz – RJ

Neste instante derradeiro,
em que nada mais restou,
sou errante marinheiro
que na saudade afundou...
Ester Figueiredo – RJ

Faz da vida uma lavoura
e semeia com fervor,
que, em vez de milho e cenoura,
colherás feixes de amor!
Flávio Stefani – RS

Pelas manhãs vou buscando
minha esperança perdida.
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!
Francisco Garcia – RN

Com a visão embaciada
e o caminhar pouco ereto,
vejo o esplendor da alvorada
pelos olhos do meu neto.
Francisco Pessoa – CE

Quanta gente nos ilude
e julgamos ser verdade
aquela máscara rude
que finge sinceridade.
Gabriel Bicalho – MG

Meu verso é meu companheiro
no cenário da ilusão
e o universo, imenso, inteiro,
se torna pequeno então!
Gislaine Canales – SC

Lembra a lágrima um gemido
de ternura e redenção,
que não chega ao nosso ouvido,
mas comove o coração.
Humberto Del Maestro – ES

O bilro, velho instrumento,
que entrelaçou tantas rendas,
tece, agora, num momento,
as rimas de minhas lendas.
Ieda Lima – RN

Alvorada... e um desalinho
numa cor acinzentada
mostra o vazio de um ninho
no silêncio da queimada!
J. Batista Oliveira – SP

Meu pai nada me falava
quando me via nervoso.
Aprovava ou reprovava
num olhar doce e bondoso.
J. B. Xavier – SP

Em vez de mel, chocolate,
restou-me um outro sabor:
nos meus lábios, mertiolate
"curando" beijos de amor...
Jeanette De Cnop – PR

Parecendo estar brincando
no céu, em formações várias,
as nuvens vão desenhando
figuras imaginárias...
Jesse Nascimento – RJ

Quero um relógio, querida,
cujo mágico processo
atrase a tua partida
e abrevie o teu regresso.
João Costa – RJ
Floresta amiga, perdoa
o fogo, a serra, a agressão:
a humanidade ainda é boa,
certos homens é que não!
João Freire Filho – RJ

Mostrarão progressos falsos,
as cidades adiantadas,
enquanto houver pés descalços,
em suas ruas calçadas...
José Fabiano – MG

No teu corpo perfumado,
no brilho do teu olhar,
tem um castelo encantado,
castelo do eterno amar.
José Feldman – PR

Por estar na solidão, / tu de mim não tenhas dó. / Com
 trovas no coração, / eu nunca me sinto só. Luiz Otávio

O tempo riscou-me a face,
causou-me danos medonhos,
porém, por mais que tentasse,
não me envelheceu os sonhos.
José Lucas de Barros – RN

Quando vens, só de passagem
no escasso tempo, mas pleno,
o amor faz grande a coragem
e o medo fica pequeno!...
Lucília Decarli – PR

Eu, você: todo um amor.
Reinava a felicidade!
Partiste... e agora sou dor...
sou solidão... sou saudade!
Luiz Antonio Cardoso – SP

Tudo ele faz com amor
e traz o céu na bagagem;
na verdade, o trovador
de Deus na Terra é a imagem
Luiz Carlos Abritta - MG

O sorriso de uma criança
enche de paz nosso mundo;
é prenúncio de esperança,
tesouro de amor profundo.
Luíza Nelma Fillus – PR

Nas entrelinhas do fim,
sou poema inacabado;
êxtase final de mim
sem ter a ti do meu lado.
Marcos Medeiros – RN

Volto pela mesma estrada,
a trilha nem foi desfeita...
Solidão me fez calada,
ante a saudade à espreita!
Mª Conceição Fagundes – PR

Transformar piada velha em quadrinha rimada
é um recurso que empobrece demais a trova.


Iluminando o meu ser,
o teu sorriso comprova
que com cada alvorecer
o meu amor se renova.
Mª Luíza Walendowsky – SC

Mamãe, tua idade avança
e eu, triste, não me consolo,
porque sou sempre a criança
que precisa do teu colo!...
Maria Nascimento – RJ

Um coração, sem amor,
um amor, sem se entregar,
são como... um vaso sem flor
e um barco... longe do mar...
Marisa Olivaes – RS

A vida é tênue fumaça,
é uma linha de retrós...
Dizem que é o tempo que passa,
mas quem passa somos nós!
Ma. Thereza Cavalheiro – SP

Trovador, de olhar atento,
repara no que acontece
e registra o sentimento
em versos que o sonho tece.
Mário Zamataro – PR

É de candeia em candeia
que clareio meus caminhos...
Tanta luz só me norteia
para encontrar teus carinhos.
Messody Benoliel – RJ

Criança não é brinquedo,
é inocente criatura;
se às vezes ela tem medo,
é por falta de ternura.
Neiva Fernandes – RJ

Separando nossas vidas,
um imenso abismo existe.
Mas, por pontes já caídas,
volta o amor e ainda existe.
Olga Agulhon – PR

Os trovadores, com certeza, têm um pedaço
de arco-íris preso na goela. – Cecy de Assis

Ao ver-te, só de passagem,
em minha vida vazia,
me sinto escrava da imagem
de uma louca fantasia.
Olga Maria Ferreira – RS

Pequenino, o Deus menino
trabalhava com seu pai.
Toda empresa, por destino,
nasce em casa, voa e vai...
Olivaldo Júnior – SP

Segredos... quem não os tem?
Os meus segredos bendigo:
os maus – não conto a ninguém;
os bons – eu guardo comigo!
Selma Spinelli – SP

Na beleza da alvorada
quando o sol desperta o dia,
no clarão da madrugada
minha alma canta em poesia.
Sônia Sobreira – RJ

Destino – senhor  medonho –
que, às vezes, com falso embalo,
mostra a magia de um sonho,
mas não nos deixa alcançá-lo!
Thereza Costa Val – MG

Assim é porque Deus fez,
será assim porque Ele quer.
A revolta não tem vez
nem força ou poder sequer.
Vidal Idony Stockler – PR

No grande palco da vida,
temos de ser bons atores,
pois a dureza da lida
não favorece amadores.
Wanda Mourthé – MG

Quanta vinda, quanta ida?
Quanta sombra e quanta luz?
Quanta morte em cada vida?
Quanta culpa, quanta cruz?
Wanderlino T. Leite Netto – RJ

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Sexteto em Sextilhas (Parte 6)

151 – Assis 
Quem não canta já levanta
espantando a freguesia,
pois que até na luz do sol
joga um balde de água fria,
dessa forma se fechando
para o encanto da poesia.

152 – Ademar
Não tenho sabedoria,
mas sei falar quase tudo;
não sou bom em português,
é fraco o meu conteúdo;
mas para fazer poesia
não é necessário estudo!

153 – Delcy
Ademar,  tu negas tudo
que o Senhor te deu de graça,
a  vida te fez um sábio,
mas a modéstia te abraça...
e  até a  própria   desdita,
com tua coragem,  passa!

154 – Prof. Garcia
Penso na vida que passa
ligeira como quem voa,
no amor que se faz presente
no lar de cada pessoa,
e em tudo quanto se alcança
na graça de quem perdoa!

155 – Gislaine
Perdão é como a lagoa,
bem profunda e em calmaria,
segue encantando em beleza,
proporcionando alegria             
aos que nela, então, navegam,
em seu barco de poesia!

156 – Zé Lucas
Se alguém me ofender, um dia
eu posso estender-lhe a mão,
porque sempre acreditei
na beleza do perdão,
que, além de agradar a Deus,
dá mais vida ao coração.

157 – Assis
Eu dou-lhes plena razão
e acrescento, do meu canto:
é quando a ofensa mais dói
que o perdão tem mais encanto,
pois, tendo a força do herói,
tem a grandeza do santo.

158 – Ademar
O meu perdão entretanto
sempre darei, de verdade;
para mim não custa nada,
nem mesmo vale a metade
das contas que eu vou pagar
no reino da eternidade!

159 – Delcy
Se eu tiver a honestidade
de sempre o bem praticar,
não me preocupa o futuro,
pois viver e poetar
garantirão a ventura
de um dia, no céu, entrar!
 
160 – Prof. Garcia
Eu vivo sempre a rezar
neste mundo em desatino,
peregrinando no tempo
igualmente a um beduino,
que leva o terço na mão
e a fé na luz do destino!
 
161 – Gislaine
Um grão de fé, pequenino,
move até uma montanha;
vamos ter fé, meus irmãos,  
por ela, fazer campanha,
e, num mundo,assim, melhor,
todo o ser  humano  ganha!

162 – Zé Lucas
Que a fé remove montanha,
o Santo de Nazaré,
pelo evangelho de Marcos,
disse em nome de Javé;
no entanto, nada remove
quem nega a força da fé. 

163 – Assis
Digo e repito, de pé,
e sei que também dirás:
que  hão de todos ir às ruas
tal qual Jesus manda e faz,
levando nas mãos - nas duas -
a fé e a esperança e a paz.

164 – Ademar
É num instante de paz,
que eu, humilde trovador,
sinto minha alma liberta
de mágoas, prantos e dor
buscando as inspirações
pra fazer versos de amor!

165 – Delcy
Para ser bom trovador,
buscamos inspiração
na fé, no amor, na amizade,
na  ternura  e  na  afeição,
e versejamos  melhor,
trovando com o coração!
 
166 – Prof. Garcia
É na força da oração,
que a inspiração nos convém.
Quando dobramos o orgulho
erguemos um grande bem,
vão-se as tristezas da vida
e os desenganos também!
 
167 – Gislaine
Inspiração todos têm,
basta só saber amar,
estando, as musas, presentes,
não nos deixarão chorar...
Faremos versos na vida
em nosso eterno sonhar!

168 – Zé Lucas
Já cheguei a me espinhar
pela beleza da flor;
buscando um lugar ao sol,
expus-me à chuva e ao calor
e, pela felicidade,
tornei-me escravo do amor.

169 – Assis
Tem tanta bondade a flor,
tanta ternura e carinho,
que por filho ela adotou
o feio e agressivo espinho,
ao qual, paciente, insiste
em botar no bom caminho.

170 – Ademar
Meu verso trilha o caminho
traçado com sutileza;
tem a leveza da pluma
e a força da correnteza,
a ligeireza de um gato
e o poder da natureza! 

171 – Delcy
Considero uma riqueza,
sempre que amanhece o dia,
ter  um  cardume de  versos
para  pescar  a  poesia,
e,  com eles,  realizar
uma  grande  pescaria!

172 – Prof. Garcia
No mar onde a poesia,
beijando as ondas passeia;
meu barco cheio de encanto
por todo canto vagueia,
buscando as ondas dos versos
para adormecer na areia!

173 – Gislaine
A minha musa é sereia,
pois, como eu, adora o mar,
nem a mais alta das ondas
 faz a gente fraquejar,
velejamos pelos mares
num eterno navegar!       

174 – Zé Lucas
Quando a Lua beija o mar,
declarando amor infindo,
o céu, como testemunha,
faz-se mais terno e mais lindo;
rola um poema nas ondas
que a praia espera sorrindo.

175 – Assis
Alô, outono, bem-vindo
ao nosso belo hemisfério.
É um tempo um tanto fechado,
cercado de algum mistério,
mas bom pra pensar na vida
quando a levamos a sério.

176 – Ademar
A poesia tem mistério
de um belo e perfeito enlace.
mesmo que derrame pranto
por sobre as rugas da face,
não põe tristeza nas rimas
do verso quando ele nasce.

177 – Delcy
Que a tua ideia eu abrace,
com  relação à  poesia,
que eu amo desde criança,
que só me traz  alegria!
Com ela, as tristezas fogem
na  vida do dia-a-dia!
 
178 – Prof. Garcia
Que bom na vida seria
um sono à luz do luar,
onde um poeta cantasse
linda canção de ninar,
e a lua beijasse os lábios
dos versos que vem do mar!
 
179 – Gislaine
Faz parte, o eterno sonhar,
da minha vida, é verdade,
a poesia mora em mim,
num viver só de irmandade;
nas tristezas e alegrias,
ela  traz tranquilidade!

180 – Zé Lucas
Quero cantar a saudade
da distante meninice,
num poema que atravesse
da mocidade à velhice,
faça tudo que não fiz
e diga o que eu nunca disse.