domingo, 29 de julho de 2012

Camilo Martins (Caderno de Sonetos)

PRIMAVERA INCERTA
À minha amiga Camila Rocha

Em que braços viestes parar, amada de outrora...
Logo tu que desprezastes o maior amor do mundo!
Lograstes êxito em tua investida, na doce aurora,
Da minha vida! Invadiu o sentimento num segundo!

Hoje te tenho nos braços e não te quero como antes...
Posto que a desventura vivida em mim se eternizou!
Me abraçavas e não me querias, éramos amantes...
E eu nem sabia! Beijavas-me e nada sentias! Amou?

Quando foi que cultivastes esse dom maravilhoso?...
O tempo passou, não me reconhecestes, foi um engano!
Confessa-me! Tu és cruel... O coração ainda orgulhoso...

Vida minha, Deus do céu, olhai-nos hoje aqui, juntos!
Não nos imputes essa falta, sou pecador, sou profano!
Confesso, não resisti à primavera incerta, como muitos.

II

Hoje apenas olho o passado e fico a sorrir do destino!
O que éramos, o que somos e o que seremos um dia...
Por onde andastes, que não mudastes esta alma fria?!
O peito feito muralha gélida, mesmo o astro sol à pino!

Não, não me peças pra voltar e começar outra vez...
Nem olvidastes em arriscar a vida em outros braços!
Mesmo eu te mostrando no coração os tristes laços...
Que me unia a ti, meu sabiá! Culpa da tua altivez!

Nos rasgou em trapos, nos separou todos os sonhos...
Dividiu nossos desejos... Nossos, não, meus somente!
Pois que já estavas em outro mundo! Ah! Medonhos,

Fantasmas me atormentaram por séculos e a semente,
Que plantastes em mim, ficou! Mas, hoje, eu me liberto...
Pra sempre! Tenho agora a confiança no caminho certo.

QUAL O PREÇO?

Quanto vale um amor que se aprofunda em prantos,
Numa infinda madrugada, gélida, insana e infeliz?
Insólitos goles de amarguras em taças pelos cantos,
Ainda a desventura da procura de minha flor-de-lis...

Sombrios ais que me invadem a mente em melancolia,
E esta incerteza de te encontrar, amor, em liberdade!
Os pensamentos turvos, a vontade e a alma, vazia...
Eu cá, cambaleante e sóbrio, ainda grito: Igualdade!

Para os nossos sentimentos de desilusão, e, a ilusão,
Penetra novamente em meu ser e sinto tremores...
Ao léu, no céu... Sem calma, perdi todos os amores!

É o choque entre o preço a pagar e a pura confusão...
Do que vivi e ainda o que virá! Posto que é incógnita,
Pois sei que levarei para a eternidade, essa dor infinita!

SPLASH

À minha amiga Camila Viana

Em qual constelação habitas hoje, sonho meu,
Onde fica a estrela que repousas docemente?
Por anos luz, meu coração procura o teu!...
Nessa imensidão de sóis do universo quente!

És, no meu verso, a luz que irradia e fascina,
Num fervilhar de intensos brilhos siderais...
Neste mundo de paixões eternas, minha sina,
É olhar o céu nas madrugadas primaverais!

Para sentir dentro da própria alma saudosa,
O calor do teu peito em pulsação e descompasso!
Posto que meu sentimento, feito árvore frondosa,

Segue o brilho dos meus olhos, mesmo em cansaço!
A água que encontrarei em teus lábios, será orvalho,
Que restaurará meu pobre sentimento, já em retalho!

SHIKOBA

Não reparas na minha mágoa, na minha dor?
Onde estavas, que me deixaste partir, onde?
O que fazias, enquanto eu apenas chorava, flor?
É nesse vazio que minha triste alma se esconde...

Intransponível túnel, na via láctea do coração,
Que sentimentos teus não alcançam, minha bela!
Quantas vezes disse: Sawabona! Minha canção!
Esperei de ti: Shikoba! Não, só o olhar pela janela!

Mergulhei profundamente em tua África selvagem,
Na intenção de descobrir o segredo dessa indiferença,
Mas era tão escuro o âmago e densa tua folhagem...

Que me perdi em fluidos e sons... Fugiu toda a crença!
Quis, sem mais nada esperar, apenas escapar com vida,
Ubuntu! Carrego neste meu peito, uma grande ferida.

FRIO

Noutros tempos, teu rio era menos tempestuoso,
Nadei em ti, amor, em águas tranqüilas e mansas...
Temperatura amena, sob um brilho, majestoso!
Me aliviava as tensões, alimentava me esperanças.

Não houve um dia em que em ti não me deleitava!
O mergulho em ti, era tudo em minha pobre vida,
Por horas ficava pensando em ti, quando me deitava!
Rio da minha alma, mesmo longe, depois da partida.

Lá estavas tu, em meu sonho! Deslizando em leito...
Eterno. E eu em qualquer parte do universo infinito,
Juntando à tua água, a que rola dos olhos, no peito!

Onde foi, amor, que tudo mudou? Este é o meu grito!
A qual oceano fostes se ajuntar, que águas estranhas?!
Não encontro teu delta, estou louco! Vem, me banhas..

NÃO CREIO

Esfrego os olhos, disfarço as lágrimas, pergunto a mim mesmo,
Onde errei, Deus, para que fosse assim ficando ao léu, louco?
E meu sentimento, onde estava, num inferno, andando a esmo?
Maravilhosa ilusão, indescritível visão, só cegueira... É pouco!

Quem me dera o poder de me aproximar da boa amiga lua...
Ficaria de lá apenas a observar os teus inevitáveis castigos!
Eu que sempre te declarei com amor: Minha vida é toda tua!
Ah! Como fostes cruel! Eu Imaginei que fôssemos amigos...

Íntimos assim, como a árvore e a seiva, o néctar e o beija flor!
Não posso crer que durante toda a vida, apenas me enganaste,
Onde estava teu coração, nunca pesastes minha eterna dor?!

Cada vez que me recordo, é um pedaço de mim que se vai...
Não sou hoje, mais que uma triste flor que tu despetalaste!
Sim, minha mágoa segue para o espaço infinito e nunca cai.

ATENAS

Foi se, o vigor da minha juventude, em plena primavera,
Passou veloz feito estrela cadente, em noite enluarada!
Embebedei me em fantasias loucas e em vão eu quisera,
Beber o calix da vaidade, da felicidade, na madrugada...

Ah! O destino sorriu de mim, zombou de minha decepção,
Calou, no fundo de minha alma, o desejo que me consumia!
E a verdade, logo engoli, seco, perdi em segundos o chão.
Jamais senti tanto pavor! Pés, mãos, o corpo todo tremia!

Deus, clamei em alta voz, tirai-me deste pesadelo infernal!
Por que, se me deste a vida, deixai-a ir sem que eu a viva?
Oh, não! No auge de minha florada... Vida sem rumo, banal.

Elevo os pensamentos em alucinações profundas... Soltas!
Profecia?! Quero que você, neste mundo, para nada sirva!?
Sempre, desgraças vêm a galope e alegrias em conta gotas.

MISTERY

Ao amigo Aquino Tomaz

Pergunto a mim mesmo, louco, em alucinação,
De que universo surgiste, lindo e doce encanto?
Tiraste do teu mundo o prazer desta fascinação?
Irrompeu-me cascata de lágrimas no meu canto.

Viva o planeta que te enviou! Deusa da beleza...
Salve, salve, santo buraco negro, que adentrastes!
Se minha alma não abraçasse a tua, que tristeza!
Mas o maior amor se revela, eu sei, nos contrastes.

Eternizarei teus belíssimos e perfeitos traços, amor,
Nos magistrais fractais Aquinianos! Onde o irreal,
Toma vida nas sensitivas mãos do artista e o clamor

 Que se ouve desde a constelação de órion, em côro...
Em uníssono! Fica, me envolve como aurora boreal!
Enxuga minha lágrima, pára pra sempre meu choro.

ANTES DE AMANHÃ

Eu já chorei demais! Pobres olhos de agonia!
Já formaram até arco íris nas pupilas d’água!
Ah! Manso riacho, ouço aquela brisa que caía,
E o pranto, a interromper... No peito a mágoa...

Oh! Feliz foi mesmo o dia, antes de amanhã...
Os olhos embasados pela lágrima e eu só via,
Pela rota fresta do empalidecido coração e vã
Foi minha certeza de que eu ainda te merecia!

A fonte secou e não chorarei! Já chorei demais,
O sofrimento, a dor... E minha visão se renova,
Preciso viver o dia antes de amanhã e jamais

Deixarei que o oceano me afogue na lua nova!
Feliz dia antes de amanhã! Luz da minha vida...
Louvado seja o bem viver! Sem adeus na partida.

O SABIÁ

Frágil sabiá que no galho pende,
Dias de inverno e o frio forte...
Os fracos pés que firme prende,
Um débil corpo que teme a morte.

Que cena marcante, Deus do céu!
Pombinhas voam aos magotes...
Enquanto abelhas fazem seu mel,
O lindo sabiá protege os filhotes.

Sou tal qual esse sabiá, cansado,
Nas asas conto o tempo já voado...
No peito as histórias do passado!

Meu coração de amores povoado...
E ainda canta o sabiá, feliz da vida!
Felicidade é ter a mágoa esquecida.

Fonte:
http://camilomartins.zip.net/

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