quinta-feira, 26 de julho de 2012

Mario Rezende / RJ (Sonetos dos Sete Pecados Capitais)

A PREGUIÇA

A primeira pedra poderá atirar
A pessoa que nunca comigo flertou
E deixou-se pelos meus encantos levar
Mesmo tendo consciência de quem sou

Com desânimo de se relacionar
De não ouvir o que os outros querem dizer
De sentir de pensar e de realizar
De deixar pra depois, não querer aprender

Lerdeza na vida, tédio de viver
Nunca será um herói ou um vencedor
Aquele que por mim se deixar convencer

Com lentidão no pensar e sem perceber
Sou pecado capital, lhe deixo assim
Não aproveita nem conquista, nunca vai ser

A INVEJA

Da história do homem eu faço parte
Desde o início da sua evolução
Em qualquer lugar sempre viverei com arte
Amiga do sofrimento e desilusão

Do ganho ou sucesso que qualquer outro obtém
Nem preciso que seja eu a desfrutar
Procuro reduzir sempre e com desdém
E minha mágoa eu consigo compensar

Meu trabalho, diz a crendice popular
É cobiçar, pôr olho gordo ou mal-olhado
Naquilo que o outro conseguiu conquistar

Eu sou o mal secreto, pecado capital
Muitos indivíduos comigo convivem
Mas poucos admitem. Isso é natural.

A SOBERBA

Se vive na certeza que é o máximo
Um símbolo de valor e importância
Nem admite ser comparar ao próximo
Esbanja orgulho, altivez e arrogância

Se você não admite a humildade
Venera a sua própria existência
Sem se conscientizar da realidade
Pensa que é centro e circunferência

Por mim, mais alguns vícios virão
Pois o pecado que a você domina
É, também, hipocrisia e ambição

De inocente sempre passo ilusão
Porém, da pessoa que contamino
Sou ainda seu algoz e perdição

A GULA

Assim como uma mulher linda de morrer
E de corpo escultural, sou bem desejada
Bela e harmoniosa pra você querer
E nunca pensar em me abandonar por nada

O que seus olhos vêem eu lhe faço querer
Muito mais do que necessita possuir
feito saco de vaidades você vai encher
E com voracidade mais vai consumir

Não admite que perdão você não merece
Para tudo que deseja, embora em excesso
E continua a obter o que apetece

Sou  pecado capital,  trabalho discreta
Transformado por impulso alheio à razão
Escravo do querer você será, na certa

A LUXÚRIA

Vivo para satisfazer uma paixão
Com a impulsividade desenfreada
para buscar a almejada satisfação
Que será, prazerosamente, conquistada

Procurando fugir do convencional
Desfruto do doce poder de dominar
Sou excêntrica, libertina e sensual
Pervertida é como eu sei de atuar

Desvirtuar o homem é o meu ofício
Paixão, amor, exacerbação de desejos
Sou a fuga do amor em compulsão, um vício

Pecado capital, falta de harmonia
Prazer que desordenadamente alucina
Sentimento intenso, mas pura fantasia

A IRA

Nascida de desgosto e desilusão
Permaneço no seu íntimo escondido
Posso causar sofrimento e aflição
Provocar a explosão do afeto contido

Eu sou o impulso que permite atacar
Paixão que incita agir contra alguém
Desejo descontrolado de se vingar
Ódio e raiva são forças que me mantém

Quem comigo vive muita intimidade
Deixa de controlar com rigor os impulsos
E sempre vai perder a racionalidade

Corrosiva e destrutiva emoção
Propulsora freqüente de más decisões
Firo sujeito e objeto da ação

A AVAREZA

O pecado sempre se opõe à virtude
Numa intricada trama inconsciente
Com habilidade a pessoa ilude
Agindo sempre de maneira diferente

Desordenado afã de ter e ter mais
Juntar incontrolavelmente para ser
E reter sem querer se desprender jamais
Como se para sempre pudesse viver

Quem comigo passa a vida a flertar
De pão-duro e de mesquinho é chamado
Pois nem consigo se atreve a gastar

Sofrendo a patologia do reter
Passará consumido por medos e culpas
Num poço de insegurança a viver

Fontes:
Recanto das Letras 
Indicação do poeta por Carlos Leite Ribeiro (Portal CEN)
Imagem = http://www.tuct.com.br

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