sexta-feira, 27 de julho de 2012

Machado de Assis (Badaladas – 20 de outubro de 1872, continuação)

Dois proprietários:

– Não há como as salas pequenas com seus tetos baixos e naturalmente pequenos. Eu não posso olhar para um teto grande e alto.

— Eu sou justamente o contrário; para mim, um teto deve ser um arquiteto.

No Jornal do Comércio de quarta-feira dá G. F. a Ti o seguinte aviso: “Ontem te passei uma carta dentro da grade: desejo saber se a recebeste.” Esperei ansioso o Jornal de quinta-feira para ver a resposta de Ti e ficar tranqüilo a respeito da sorte de G. F. Céus! Nem uma linha. Em compensação, se não achei a resposta que esperava, achei estas poucas linhas merecedoras de atenção: é uma despedida.
N.

Não te posso mais escrever, apanhei agora este meio para te dizer que decididamente temos que nos separar para sempre, esquece o meu juramento, não desejo dar desgosto a minha mãe, quando eu tenha idade e tu saúde e emprego honesto, então veremos.
M.

Peço desculpa à menina M.

S. Excia. parece-me extremamente fácil em despedir o namorado. Em primeiro lugar participa aos leitores do Jornal que ele é doente e tem um emprego desonesto. Que emprego será?! Isto é o menos: O mais é isto: A menina M jurou ao seu N amá-lo eternamente como essas coisas se juram. Devo crer que falava com toda a sinceridade do coração. Mas sua mãe opõe-se ao casamento; o caso é grave; ela é sua mãe; viu naturalmente que o emprego do namorado é desonesto e que este de mais a mais não tem saúde.

Que faz a menina M?

Diz ao namorado: “esqueça o meu juramento.” E dadas tais circunstâncias, “Então veremos!” Pedir-lhe que esqueça o juramento é já muito; mas o “então veremos” permita-me S.

Excia. que lhe diga, e que lhe diga a francesa: c'est raide. Equivale a dizer: “Se daqui até lá eu não tiver outro namorado, e se você já estiver curado e honestamente empregado, então pode ser que a plausibilidade de uma esperança vaga e toda conjectural nos reúna outra vez.”

Queira perdoar se me engano. Acabava de escrever estas linhas quando me caiu à mão o Jornal do Comércio de ontem.

N aceita a despedida; declara, porém, que não se esquecerá dela nem do juramento. Com razão; vê-se que ama. Poderia acrescentar que a primeira a não esquecer o juramento devia ser ela.

Em todo o caso desejo que sejam felizes, que volte a saúde ao namorado, que nela não se apague a lembrança dele, e que, vencida a repugnância da mãe, ambos se casem e vivam muitos anos.

Fonte:
Obra Completa, Machado de Assis, Rio de Janeiro: Edições W. M. Jackson,1938. Public
ado originalmente na. Semana Ilustrada, Rio de Janeiro, de 22/10/1871 a 02/02/1873.

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