Mostrando postagens com marcador notas biográficas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador notas biográficas. Mostrar todas as postagens

sábado, 14 de outubro de 2023

Márcia Wayna Kambeba (Poemas “Tana Tuiuca*”)

(Tana Tuiuca = “Nossa Terra”, no idioma Kambeba)


Márcia Wayna Kambeba é indígena, do povo Omágua/Kambeba do Alto Solimões (AM). Nasceu na aldeia Belém do Solimões, do povo Tikuna. Mora hoje em Belém (PA) e é mestra em Geografia pela Universidade Federal do Amazonas. Atualmente, está cursando doutorado em Linguística na UFPA. Escritora, poeta, compositora, fotógrafa e ativista. Em sua luta na literatura e na música, aborda, sobretudo, a identidade dos povos indígenas, territorialidade e a questão da mulher nas aldeias. Em 2013, lançou o seu primeiro livro "Ay Kakyri Tama", que reúne textos poéticos e fotografias da vivência do seu povo dentro das cidades.

= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

ÁRVORE DA VIDA

Vem água, banha nossa alma Kambeba!

No despertar da aurora,
No mito de criação,
Na gota que traz a vida,
De um povo, de uma nação.

Batendo na samaumeira
Caindo feito algodão,
Pro colo do grande rio
Que num sopro de criação,
Dá vida ao “índio” guerreiro,
E a mulher, sua paixão.

Assim para o povo Omágua
A samaumeira tem a função,
De mãe das grandes árvores,
De cura e proteção,
E pelo indígena é cultuada,
Essa gigante, mãe amada,
Na dança nativa, dos povos irmãos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

AY KAKUYRI TAMA
(Eu Moro na Cidade)


Eu moro na cidade
Esta cidade também é nossa aldeia,
Não apagamos nossa cultura ancestral,
Vem homem branco, vamos dançar nosso ritual.

Nasci na Uka* sagrada,
Na mata por tempos vivi,
Na terra dos povos indígenas,
Sou Wayna, filha da mãe Aracy.

Minha casa era feita de palha,
Simples, na aldeia cresci
Na lembrança que trago agora,
De um lugar que eu nunca esqueci.

Meu canto era bem diferente,
Cantava na língua Tupi,
Hoje, meu canto guerreiro,
Se une aos Kambeba, aos Tembé, aos Guarani.

Hoje, no mundo em que vivo,
Minha selva, em pedra se tornou,
Não tenho a calma de outrora,
Minha rotina também já mudou.

Em convívio com a sociedade,
Minha cara de “índia” não se transformou,
Posso ser quem tu és,
Sem perder a essência que sou,

Mantenho meu ser indígena,
Na minha identidade,
Falando da importância do meu povo,
Mesmo vivendo na cidade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

CABOCLO RIBEIRINHO

Ao som do banzeiro do rio
As canoas vem, as canoas vão.

É o caboclo ribeirinho,
Que luta pelo seu sustento, pelo seu pão
Ele rema, joga a sua malhadeira
Esperando pegar um bom pirarucu
Ou um grande pirabutão.

Ao som da melodia dos pássaros,
Que voam em sua direção,
Ele segue o seu caminho,
Observando o horizonte,
que está além do alcance de sua mão.
Ao som do banzeiro do rio

As canoas vem, as canoas vão.

É o caboclo ribeirinho,
Que vive a vida com emoção,
Em meio ao verde e à margem do rio,
Cultiva a vida, sem muita preocupação.

Seu convívio em meio a natureza,
Fez dele um grande conhecedor,
Sabe os segredos da fauna e da flora,
Dom de Deus, o nosso criador,
Que se revela no entardecer da aurora.

Ao som do banzeiro do rio
As canoas vem, as canoas vão!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

NATUREZA EM CHAMA

Na terra sagrada
Que Tupã criou,
Do seio materno
Se ouve o clamor,
Da mãe natureza
Sofrendo de dor.

O fogo ardente,
Ao longe se vê,
Queimando a mata
Sem quê, nem porquê,
As folhas se torcem
Querendo viver.

No solo desnudo,
Os restos mortais,
Do verde da vida
E dos animais,
Queimados, sofridos
Em cinzas reais.

Dos gritos agudos
Se ouve o clamor,
Do fruto ardendo
Na chama, no calor,
Ceifado, perdido,
O fogo o calou.

Dos olhos tristes,
Uma lágrima cai,
O lamento de dor
Com o vento se vai,
Varrendo o chão,
Varrendo o chão!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

SER INDÍGENA – SER OMÁGUA

Sou filha da selva, minha fala é Tupi.
Trago em meu peito,
as dores e as alegrias do povo Kambeba
e na alma, a força de reafirmar a
nossa identidade
que há tempo fico esquecida,
diluída na história
Mas hoje, revivo e resgato a chama
ancestral de nossa memória.

Sou Kambeba e existo sim:
No toque de todos os tambores,
na força de todos os arcos,
no sangue derramado que ainda colore
essa terra que é nossa.
Nossa dança guerreira tem começo,
mas não tem fim!
Foi a partir de uma gota d’água
que o sopro da vida
gerou o povo Omágua.
E na dança dos tempos
pajés e curacas*
mantêm a palavra
dos espíritos da mata,
refúgio e morada
do povo cabeça-chata.

Que o nosso canto ecoe pelos ares
como um grito de clamor a Tupã,
em ritos sagrados,
em templos erguidos,
em todas as manhãs!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

TANA KANATA AYETU
(Nossa Luz Radiante)


Tuyuca com sua magia,
Um canto se faz ecoar,
Com a orquestra dos passarinhos
A música paira no ar,
Mas, é preciso sensibilidade,
Para a melodia escutar.

Nas escala musical
O rouxinol vem nos mostrar,
Sua voz graciosa,
Que unida ao sabiá,
Formam uma dupla harmoniosa,
E com suavidade, nossa vida vem alegrar.

E diante de tanta beleza,
Deste solo verde e marrom,
Convivem os povos indígenas
Dividindo os bens em comum,
E com a força da natureza,
Deus mostra sua realeza,
Na presença de Tana Kanata Ayetu.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

UNIÃO DOS POVOS

Nós, povos indígenas,
Habitantes do solo sagrado,
Mesmo sem nossa aldeia,
Somos herdeiros de um passado.

Buscamos manter a cultura,
Vivendo com dignidade,
Exigimos nosso respeito,
Mesmo vivendo na cidade.

Somos parte de uma história,
Temos uma missão a cumprir,
De garantir aos tanu muariry*,
Sua memória, seu porvir.

Vivendo na rytama* do branco,
Minha uka* se modificou,
Mas, a nossa luta pelo respeito,
Essa ainda não terminou.

Pela defesa do que é nosso,
Todos os povos devem se unir,
Relembrando a bravura,
Dos Kambeba, dos Macuxi,
Dos Tembé e dos Kocama,
Dos valentes Tupi Guarani

Assim, os povos da Amazônia,
Em uma grande celebração,
Dançam o orgulho de serem,
Representantes de uma nação,
Com seu canto vem dizer:
Formamos uma aldeia de irmãos.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =
* Vocabulário:
Curacas = caciques;
Rytama = aldeia;
Tanu muariry = nossos netos;
Uka = casa.


Fonte: Márcia Kambeba. "Ay kakyri Tama - Eu moro na cidade". Manaus/AM: Grafisa Gráfica e Editora, 2013

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Atílio Andrade (Poemas Avulsos)

CAMINHEIRO


Caminheiro! Abanca-te, descansa!
Depois , segue,
Teu doloroso caminho.

Olha a poeira ao longo da estrada!
É  fina... impura...
E tu vagueias por ela.

Respiras d'uma só  vez
Todo o ar da tua vida.
Agora para e sinta o deleite
Deste teu desconhecido.

E no acalanto  deste tugúrio,
Silencioso, procures  ouvir
O doce  murmúrio,
Das correntes que vozeiam:

- Não, não  vás  agora!
Primeiro encontre teu caminho,
Depois jornadeie tranquilo
Nas sendas da vida.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

MANHà DE SOL

A manhã  sorria, risonha e perfumada.
Na cascata da encosta
As águas límpidas e cristalinas...
Chicoteavam o silêncio.
As árvores balançavam, verdes e orvalhadas.
O vento enlaçava - as...
Soprando o perfume perfumado das manhãs...
Era manhã.  E por detrás da encosta
Vermelho... Vivo...
Crescia o sol.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

PORTAS

Todo dia se abrem portas.
Mas,
Portas se fecham todo dia.
Também.
Porque fechamos ou abrimos
Se nunca estiveram lá.
Nós,  é  que  colocamos
E,
Procuramos dificultar...
O acesso na avestruz "cidade"
Que povoa nossa mente
E partilhamos  o imponderável  
Que necessitamos, no controlar
Das portas de nossa vivência,
Escorada, apenas
na bengala de nosso fraquejar.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

QUEIMA

O fogo,
cor do inferno...
consumiu tudo
no inverno.

A chuva veio e,
tudo lavou e levou.
A cinza do enleio
ao pó retornou.

A sábia natureza
que nunca mente,
fez brotar a beleza
da mais profunda  "semente "

E o verde, cresceu novamente!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

VALE

Rompe  veloz  
e assassina....
A mancha da Vale
que mina.
E acima de tudo,
se foram,
os sonhos....
construidos.
Num estrondo
medonho....
A Vale que era doce
amarga o luto ,
que espelha o mundo
da vergonha repetida....
Ceifando vidas...
na lama...   
que envergonha,
a montanha,
que minera...
O homem altera,
explora...admira...
um dia a natureza,
carrancuda  e severa
a conta, espera.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

VALSA DA LUA

A lua fria e sozinha
Vagava
Valseando
No
Espaço
Vazio...
Tão  perto de nós
Tão  longe de tudo
Prateava os céus...
Brilhando sozinha
A virgem dos vates.
Por cima de tudo
Pairava
Zombando
Zombando de nós.
Incendiava olhares
Brincando nos céus...
Brilhante  prateava,
Do alto os amantes
Perplexos
Que a viam
Tão  branca
Nos céus.
E toda orgulhosa
A noiva do sol
Plácida,  serena,
Valseava nos céus.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

Atílio Andrade é  filho de Joaquim Andrade e Ema Gusso, nascido em 1949, em Tomazina/PR. Família de 12 irmãos. Em 1969, foi para Curitiba com o intuito de arrumar um trabalho e, ingressar em uma faculdade. Até então, com seus 19 anos era lavrador onde sonhava em meio aos cafezais, de Tomazina,  dias melhores. Trabalhou na Impressora Paranaense, Bamerindus, Petrobrás  Distribuidora e também foi professor  de português primeiro e segundo graus. Em 1999 aposentou-se  pela Petrobrás Distribuidora.

Em 1973 iniciou o curso de letras português na PUC,  licenciando-se em 1976. Em 1986 licenciou-se em Ciências  Contábeis.

Em 1977 publicou seu primeiro livro "Passarela", editado pelo jornal e editora Esquema Oeste de Guarapuava/PR. Participou de diversas coletâneas  e teve poemas publicados em alguns jornais, por esse Brasil afora.

Em 2015, com auxílio da filha Stely, participou dum processo seletivo da Fundação  Cultural de  Curitiba onde seus poemas foram aprovados e com o apoio financeiro da lei de inventivo  à cultura,  voltou a escrever e publicou "Passarela um novo olhar", onde a maioria dos poemas são do livro Passarela, agora, sob um novo olhar.

A chama de escrever voltou  mais forte e hoje tem  livros de poemas, contos ou crônicas  do dia a dia que pretende  em breve desengavetá - los.


Fonte:
Biografia enviada por Isabel Furini.
Poemas obtidos do livro Passarela Um novo olhar, enviados por Isabel Furini e alguns obtidos no facebook com o mesmo nome do livro.

domingo, 8 de janeiro de 2023

Mara Garin (Existem borboletas em mim)


Dia destes conversando com uma amiga, ela olhando minhas couves na horta, exclamou:

– Tem lagartas comendo as couves, não vai matá-las? Que nojo!!

Fui obrigada a sorrir e questionar:

– Gostas de borboletas?? Eu gosto muito de borboletas no meu jardim, então tenho que alimentar as lagartas na horta e plantar muitos pés de couves, pois mesmo elas comendo muitas folhas, nós aqui de casa, não vencemos comer as que sobram, e, quando chega a primavera , as lagartas que alimentei com  couves, dão um espetáculo divino, cor, luz, brilho e polinização no jardim.

Assim é a vida, nem todos os amigos são borboletas sempre, tem dias em que preciso alimentá-los com muito verde, para que a cor volte a iluminar seus caminhos.

Bom dia aos amigos que estão na horta, bom dia aos que estão no casulo e bom dia aos que entenderam os ciclos e hoje são borboletas em meu jardim.
* * * * * * * * * * * * * * * * * *

Mara Garin, bruxa sempre, escritora às vezes. Professora Aposentada da Rede Pública, Membro da ACL - Academia Cachoeirense de Letras e UBT - União Brasileira de Trovadores. Faz Parte dos coletivos " Poetas do Vale" Cachoeira do Sul e "Poemas à Flor da Pele" Porto Alegre.

Formada em Arte Educação- ESASC-FUNVALE/ Gestão Pública-IFSC/ Letras - Língua Portuguesa e Literatura / Língua Espanhola  - UFSM. Cursando Filosofia - UFPel.

Um currículo sem sobressaltos, mas um coração transbordante de palavras e sentimentos.

Reside e espalha a escrita nas redes sociais em Cachoeira do Sul-RS.


Fonte:
Texto enviado pela autora.

quarta-feira, 18 de março de 2020

Carlos Augusto dos Santos Pinto (Baú de Trovas)

Santa Luzia/MG, 1873 – ????, Belo Horizonte/MG

 
A gente. enquanto não ama,
da vida vive contente;
chegando, porém, Cupido,
adeus sossego da gente!
- - - - - –

A vida é sonho fugaz,
é pura e mera ilusão,
é leve pluma, que voa,
batida pelo tufão.
- - - - - -

Duas portas se escancaram,
ao partir a mocidade:
por uma foge a alegria,
pela outra entra a saudade.
- - - - - –

Lá bem longe, ao pé da serra,
minha terra, toda assim
— feita de amor e carinhos,
vive a sorrir para mim!
- - - - - –

Minha alma não mais anseia
por tuas suavidades.
Lua branca — lua cheia —
lua cheia — de saudades!...
- - - - - –

Plena, desperta a natura,
de seduções peregrinas,
quando vem, rindo, a alvorada,
pelos altos das colinas.
- - - - - –

Sem conta são minhas mágoas...
Nem pode um peito contê-las.
Para contá-las, não chegam
do firmamento as estrelas!
- - - - - –

Se por acaso, sonhando,
sonho tivermos tristonho.
vem a razão consolar-nos:
— sonhos não passam de sonho...
- - - - - –

Se recordar é viver,
— pela quimera embalado,
irei alento beber
nos sorrisos do passado.
- - - - - –

Sonhei risonho o meu fado,
sonhei loucos ideais.
De tanto sonho sonhado
guardo apenas queixas e ais.
- - - - - –

Carlos Augusto dos Santos Pinto nasceu na tradicional Fazenda do Cipó, distrito de Jaboticatubas, município de Santa Luzia/MG, a 17 de dezembro de 1873. Filho de Carlos Augusto dos Santos Pinto e D. Isabel dos Santos Ferreira. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, no ano de 1910, pela Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais. Em 1902 casou-se com D. Maria da Conceição de Mendonça Pinto, Foi Promotor de Justiça em Queluz, Sete Lagoas e Santa Luzia. Exerceu vários cargos públicos. Publicou um livro de poesias intitulado ''Evocações e Saudades". Carlos é pai do consagrado trovador Paulo Emílio Pinto. Radicou-se em Belo Horizonte/MG.

Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva,

quarta-feira, 11 de março de 2020

Calazans Alves D’Araújo (Baú de Trovas)


Ao ver-te colhendo flores,
tive esse desejo vão:
transformar-me numa flor,
para estar em tua mão.
- - - - - –

É meu peito uma gaiola
vazia, sem passarinho.
Ah! Se eu pudesse, menina,
guardar nele o teu carinho!
- - - - - –

Este nosso velho mundo
já não está prestando mais:
rapaz querendo ser moça…
moça a querer ser rapaz...
- - - - - –

Eu sou como aquele ramo
da roseira, que ficou
muito triste, sem a rosa
que mão perversa arrancou.
- - - - - –

Eu sou seu, você é minha,
somos os dois – galho e flor
juntinhos, amando e rindo,
felizes no nosso amor.
- - - - - –

Invejei aquele feio
e miserável mendigo
que te pediu uma esmola…
(e eu nunca falei contigo!)
- - - - - –

Nasci no Brasil: me orgulho
de ser daqui do Nordeste,
onde as mulheres são lindas
e os homens cabras-da-peste.
- - - - - –

O beijo da nossa linda
morena pernambucana,
é gostoso como o mel
feito da cana-caiana.
- - - - - –

O vento desfolha as flores,
jogando-as no pó do chão.
Fez assim com os meus amores
a cruel ingratidão.
- - - - - –

Quando Ziza por mim passa,
eu me ponho a suplicar:
- Nossa Senhora da Graça
não deixe Ziza casar…
- - - - - –

Quanto mais galopa o tempo,
corre veloz, vai-se embora,
mais meu coração te ama,
busca e quer, muito te adora.
- - - - - –

Que desejo extravagante
este do meu coração:
querer ser o travesseiro
onde dorme Conceição!
- - - - - –

Quem fez o céu tão bonito,
a floresta, o campo, o mar,
não devia ter-me feito
para sofrer e chorar.
- - - - - –

Que tenho sido na vida?
No mundo, que tenho sido?
— Um velho barco perdido
numa enseada esquecida...
- - - - - –

São meus olhos dois mendigos,
dois miseráveis plebeus,
pedindo, ao bater-te à porta,
uma esmola aos olhos teus.
- - - - - –

— Tão longe! — disseste olhando
o céu. Eu disse: Tão perto!...
Falei do céu de teus olhos,
alegrando meu deserto...
- - - - - -

Tu gostas de minhas trovas,
eu gosto do teu olhar.
Foi por causa dos teu olhos
que eu aprendi a trovar.
 - - - - - –

Vendo da mulher o riso
Diz a feroz onça preta:
- Não torço esse meu sorriso
por essa horrível careta.
****************************************
Calazans Alves D'Araújo nasceu em 1902 e faleceu em 1976. Residia em Catende/PE. Poeta e trovador. Professor em diversas cidades do Pernambuco. Publicou em 1961 um livro intitulado "Ao Doce Embalo da Rede", trovas e em 1973, “Flauteio do Sabiá”.

Fontes:
– Aparício Fernandes (org.). Trovadores do Brasil. 2. Volume. RJ: Ed. Minerva.
– Calazans Alves D’Araújo. Ao doce embalo da rede.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Franccis Yoshi Kawa e Helena Douthe (Lançamento do livro Namida Taiko*)


Um livro esperado pela comunidade japonesa no Brasil é "Namida Taiko", dos romancistas Franccis Yoshi Kawa e Helena Douthe.

O livro será lançado em
29 de fevereiro,
a partir das 18 horas,
na NIKKEI de Curitiba,
rua  Padre Júlio Saavedra, 598 – Bairro Uberaba,
Curitiba - PR .

Em entrevista concedida para a Revista Cazemek os autores falam sobre a criação da história do livro:

Durante viagem ao norte do Paraná em junho deste ano, visitamos a Colônia Esperança que fica no município de Arapongas. De início foi difícil imaginar que pudesse surgir uma aventura, um romance, algo mirabolante que pudesse dar sustentação à narrativa, sem ofender ou incomodar os ex moradores e moradores da colônia. Apesar de todos os personagens serem fictícios, sempre há alguém que tenta associar a alguém ou vincular a algo que aconteceu. Helena como sempre, deu uma chacoalhada com suas ideias. Criamos quatro personagens que não fazem parte da colônia, chegam disfarçados de agricultores e se transformam em protagonistas de um enredo cheio de aventura, drama, amor e fantasia.”

“Tudo é muito contido para se manter dentro do comportamento de moradores de uma colônia japonesa. O capítulo mais difícil foi imaginar o que seria a vida nos anos 40.”

Franccis e Helena apresentam uma história recheada de bom humor, drama, amor e dor, onde o taiko deixa de ser apenas um simples instrumento de percussão. Uma trama complexa baseada em honra e disciplina, conta a saga de uma jovem lutando até as últimas consequências para conquistar seu sonho.
__________________________________
 Sobre os Autores

Franccis Yoshi Kawa é brasileiro, natural de Arapongas, Paraná. Formado em Ciências Contábeis pela UFPR.  Participou da Oficina "Como Escrever Livros", da escritora Isabel Furini. Publica no site Recanto das Letras. É autor do romance “Ajoelhar jamais” - em parceria com Helena Douthe. Cadeira n. 38 da AVIPAF.
 
Helena Douthe é brasileira, natural de Curitibanos, Santa Catarina. Graduada em Administração pela PUC-PR. Sempre teve inclinação para a literatura e a música. Compositora, escritora de poesias e romancista. Helena escreve seus livros em parceria com Franccis Yoshi Kawa. Helena também escreve para o público infantil. Cadeira n. 39 da AVIPAF.
____________________________________

Glossário do Blog:
* Taiko é a denominação usualmente dada ao instrumento de percussão japonesa que surgiu há mais de 2000 anos e que já serviu a propósitos militares, religiosos, teatrais, musicais e práticos, devido ao seu som vibrante, vigoroso e místico. 

Contudo, Taiko não é, unicamente, a simples tradução para tambor japonês. A palavra carrega um significado mais amplo e profundo, de forma que serve para definir tanto o gênero dos instrumentos japoneses de percussão quanto a prática dessa arte, que não se resume a simplesmente bater tambores, mas sim, a incorporar e expressar sentimentos, além de por em prática valores morais e sociais em busca de um constante aperfeiçoamento do ser.

A Arte do Taiko é a arte do aprimoramento diário, da esmerilhação da alma, e para exercê-la é necessária força física, mental e espiritual, bem como disciplina, rigor, força de vontade, energia, união e harmonia. É uma arte normalmente coletiva que exige a comunhão espiritual daqueles que a buscam. 

Existem diversos tipos de taiko, variando em tamanho, formato, material, método de fabricação, método de afinação, origem e forma de uso.

* Namida: literalmente significa lágrimas.

Fontes:
- Texto do lançamento enviado por Isabel Furini
- Sobre a criação do livro: Revista Cazemek 
- Sobre os autores: site da AVIPAF (Academia Virtual Internacional de Poesia, Artes e Filosofia) 
- Sobre o Taiko no site Ishindaiko 
- Foto do livro: Editora Insight 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Sylvio Magellano (Poemas Diversos)


CASA DA BOCAINA

Serração desce ao pé da montanha,
cobrindo toda a campina.

Pássaros cantam um trinado fino,
na copa das árvores do pomar,
anunciando a alvorada.

Fogão à lenha acorda a casa da Bocaina.

Pela janela vejo cavalos
andando pelo pasto
******************************* 

COM A BRISA DA MANHÃ

Tiras de luz penetram pelas frestas da neblina,
Como um devaneio a alma se liberta no ar
E passeia com a brisa da manhã.

Um doce aroma de frutos
Vem dos pessegueiros do pomar.
Contemplo o silêncio, a sinfonia,
Do nascer de um novo dia.

Ao lado, hortênsias florescem,
Margaridas amarelas,
Ainda com gotas de orvalho,
Sorriem para mim.

Caminho pelos campos, durante todo o meu dia,
Procurando a analogia entre todas as verdades.
O espaço e o tempo
Aprisionaram minha vontade.

Nada ao redor nota a minha presença.
Nuvens brancas
Dançam um fascinante balé,
No palco infinitamente azul.

coberto de geada.
******************************* 

O SILÊNCIO QUE VEM DE VOCÊ

Você passou por minha vida
E nada mudou.
No azul do mar espumas brancas batem à praia,
Numa incessante procura.
Na verde relva da mais alta montanha,
Num caminhar sem rumo,
Minha vista se perde na imensidão do nada.
Eu que sonhei tanto
Com aquela obstinada felicidade...
Em meu rosto o toque suave do vento,
Querendo conversar.
O sol brilha na manhã de sua ausência,
Sinto o silêncio que vem de você.
Preciso aprender a viver
Com o que tenho.
Por favor...
Deixe-me esquecê-la.
******************************* 

PARA ALGUÉM QUE NÃO QUIS ME SALVAR

O paredão de pedras eu não consigo escalar,
Minhas mãos feridas não conseguem mais lutar.
Logo outra onda, para águas profundas,
Vai me arremessar.

Em meu desespero suplico tua ajuda.
Segura minha mão com teu braço forte,
Me deixa enlaçar tua cintura,
Leva-me a uma praia segura.
Quero ver o sol brilhar novamente.
Deixa teus cabelos negros
Pousarem na minha fronte,
Aperta-me contra teu seio,
Beija-me profundamente.

Devolve outra vez minha vida,
Por favor, me salva, querida.
******************************* 

PRELÚDIO PARA UM ADEUS

Pela cortina de seda
Da janela do meu quarto,
Uma réstia de sol insuspeito
Invade nosso leito.

Com os cabelos em desalinho,
Toda tua beleza envolta em lençóis de linho.
Quantas madrugadas, nós dois,
E depois...
Correndo junto às ondas da praia.

Existia tanta vida em teu sorriso,
Até o mar indeciso
Não acreditava
Que a "doce ventura" acabava.
Os amantes não mais sorriam,
Não mais voltariam.

O "adeus" diante do mar
E, hesitante, a prece silenciosa:
"Não deixes o tempo apagar,
Pois um dia...
A vida foi tão maravilhosa".
******************************

Sylvio Álvares de Magalhães, Paulista de São José do Barreiro, no Vale do Paraíba, radicou-se em Curitiba. Casado com Ombretta Magalhães, teve dois filhos que nasceram em Londrina, onde residiu por dez anos. Participante da Oficina Permanente de Poesia, em que proferiu várias palestras sobre a poesia romântica brasileira. Suas crônicas literárias foram editadas pela revista do Centro de Letras do Paraná, ao qual pertence. Foi homenageado pela Câmara Municipal de Curitiba, com os diplomas "Dia da Comunidade Luso Brasileira" (em agosto de 2006) e também "Contribuição à Literatura Paranaense", ambos por indicação do vereador Ângelo Batista. Da mesma CMC, recebeu, em 2011, a Medalha de Mérito Fernando Amaro. Ocupa a cadeira n. 6 da Academia Paranaense de Poesia, tendo por patrono Leôncio Correia.

Fonte:
Lilia Souza (org.). Coletânea: Academia Paranaense de Poesia. Curitiba/PR: APP, 2012.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Hildeberto Barbosa Filho (Escritor Paraibano Constrói Panorama do Nordeste Literário)


Publicado em 5 de janeiro de 2006

Às voltas com a materialização simultânea de diversos projetos, o escritor paraibano Hildeberto Barbosa Filho fez uma rápida pausa na preparação de seus dois novos livros, para cumprir, na capital maranhense, mais uma etapa de sua peregrinação pelo Brasil. Ele esteve durante três dias em São Luís, no final do mês de maio passado, para vir apresentar, de corpo presente, a obra do poeta maranhense Nauro Machado. Além de autografar o livro Literatura na Ilha (poetas e prosadores maranhenses), Barbosa Filho acompanhou o lançamento do novo tomo da coleção Melhores Poemas, da Global Editora, dedicado à obra de Nauro Machado.

Aos 51 anos, Hildeberto Barbosa Filho vem saboreando uma experiência com a qual sonhava há muito tempo: compor um panorama da produção literária dos Estados do Nordeste brasileiro. Este mapeamento já resultou em vários títulos, entre os quais Letras Cearenses; Os Labirintos do Discurso, painel da literatura paraibana; e O galo da torre, sobre as expressões literárias do Rio Grande do Norte. O autor acaba de concluir Pelo Rio das Imagens, livro sobre a literatura pernambucana, a ser publicado no próximo mês de outubro, por ocasião da Bienal do Livro, em Recife. Estes livros são fruto de uma intensa atividade de crítica militante do autor, sobretudo em jornais e revistas, num período que já compreende mais de 20 anos. Com a seleção e a triagem dos artigos que considera mais sólidos, dentre os publicados na imprensa, Barbosa Filho vem reunindo em livros tudo o que já conseguiu garimpar com seus ensaios e suas pesquisas. Ele explica que sua pretensão é a de dar uma visibilidade à produção literária nordestina, não só entre os próprios nordestinos. 

Curiosamente, do ponto de vista sociológico, nós, nordestinos, nos desconhecemos muito, apesar de morarmos em Estados relativamente próximos, como Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. Da mesma forma, no Maranhão, no Piauí e no Pará existe um desconhecimento mútuo do que se faz nestas regiões. Então a minha preocupação é no sentido de tornar visível, para nós mesmos, o que fazemos, na medida em que lançamos estes livros nos diversos Estados, com isso criando uma espécie de intercâmbio, afirma Hildeberto Barbosa Filho.

Perseverante e abnegado, o escritor vem percorrendo o Brasil com esse propósito de dar visibilidade ao Nordeste literário também no eixo Rio-São Paulo. Tenho feito incursões nas regiões economicamente mais desenvolvidas do país, porque existe uma atitude preconcebida por parte da indústria editorial, com relação às regiões periféricas: o Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste. É uma forma também de se dar a conhecer o que se faz aqui dentro desse plano mais amplo da nacionalidade. É uma forma de dizer que a literatura nordestina existe, é muito rica, muito sugestiva e não deve se envergonhar em relação ao que se faz no eixo Rio-São Paulo. Ao lançar em São Luís o livro A Literatura na Ilha (poetas e prosadores maranhenses), o autor explicou que a obra faz parte de uma arrojada iniciativa. É um projeto meu, particular, que visa mapear a produção literária nordestina mais contemporânea, dos anos 50 para cá. 

Literatura na Ilha enfoca alguns dos autores mais representativos da literatura maranhense contemporânea. Como venho realizando um trabalho de crítica de literatura no Nordeste, esse livro acabou nascendo. Ele não foi planejado. Reuni alguns ensaios, contemplando poema e prosa e isso acabou gerando o livro, assim como aconteceu nos Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco, informou o professor. Os escolhidos, além de Nauro Machado, são Luís Augusto Cassas, José Chagas, Salgado Maranhão, Ferreira Gullar, Lago Burnett, Laura Amélia Damous, Sebastião Moreira Duarte, Weliton Carvalho, Arlete Nogueira da Cruz e Lino Raposo Moreira. A intenção do livro é também dar visibilidade à literatura produzida hoje no Nordeste. Quero mostrar também os trabalhos feitos fora do eixo Rio-São Paulo, onde há um monopólio editorial, voltado exclusivamente para o lucro econômico. Quero mostrar esses trabalhos realizados no Nordeste e que são menos conhecidos, destacou.

A SAGA DE DOIS BRASIS

Autor de 32 obras, entre coletânea de poemas e livros de crítica e ensaios teóricos, o escritor paraibano constata que a literatura nordestina, em certos aspectos, chega a apresentar uma qualidade até mesmo mais robusta. Mas os críticos e os colunistas dos grandes jornais e das grandes revistas fazem questão, por um complexo de superioridade, que é tão grave quanto o complexo de inferioridade, de se manterem indiferentes e com isso quem perde na verdade são eles. Porque nós, como temos o complexo de inferioridade, também negativo, mas que termina sendo bom, nos obrigamos a conhecer tudo o que eles fazem. E acaba acontecendo muito o seguinte: nós conhecemos o que fazemos e o que eles fazem. Eles só conhecem o que fazem; não conhecem o que fazemos. Então eles perdem no debate. O escritor confessa que já teve a oportunidade de demonstrar várias vezes, em palestras e seminários e, recentemente, por ocasião do Prêmio Portugal Telecom, do qual integrou o júri nacional, que há uma ignorância nababesca em relação ao Nordeste literário. Eu pude perceber, nas discussões dos colegas do Sul, que são muito capazes e competentes, que eles desconhecem, de forma principesca, a nossa realidade literária, cultural e, às vezes, até a realidade política e econômica. Isto, a meu ver, é uma coisa secular, é uma reprodução do colonialismo por que passou o país ao longo da nossa História. 

Paraibano de Aroeiras, Hildeberto Barbosa Filho mora há mais de 30 anos em João Pessoa. Ele bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal da Paraíba; tem curso de Licenciatura em Letras Clássicas e Vernáculas (UFPB); Especialização em Direito Penal, pela USP e Mestrado em Literatura Brasileira, pela UFPB, com dissertação intitulada Sanhauá: poesia e modernidade. Logo cedo, iniciou sua vida de professor, lecionando Língua Portuguesa e Literatura Brasileira em colégios públicos e particulares. Ingressou no ensino superior, através de concurso público, sendo, atualmente, professor da Universidade Federal da Paraíba (Literatura Brasileira, Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa), no Curso de Letras, ministrando aulas, também, no Curso de Comunicação Social, e ao mesmo tempo prepara-se para concluir o curso de doutorado em Literatura Paraibana. 

Algumas das publicações de Barbosa Filho marcaram época como A Caligrafia das Léguas, O Ofertório dos bens naturais, A Ira de Viver, A geometria da paixão; O livro da agonia e outros poemas; São teus estes boleros; O exílio dos dias; Desolado lobo; A comarca das pedras;. Crítica literária e ensaios: Aspectos de Augusto dos Anjos; A convivência crítica: ensaios sobre a produção literária da Paraíba; Ascendino Leite: a paixão de ver e sentir; Osias Gomes: a plenitude humana e literária; Sanhauá: uma ponte para a modernidade; A impressão da palavra: literatura e jornalismo cultural; Os desenredos da criação: livros e autores paraibanos; e Namoro com a doce banalidade.

Além de professor universitário, Barbosa Filho é crítico literário, escritor, poeta e jornalista. Mantém uma coluna no jornal O Norte, escrevendo sobre literatura. Colabora nos jornais A União, Correio da Paraíba, O Momento, Correio das Artes; Jornal do Comércio e Diário de Pernambuco (PE); O Galo (RN), O Pão (CE); D.O. Leitura (SP); Suplemento Literário de Minas Gerais (MG) e a Revista Cultura Vozes (RJ). Coordenou o Projeto LER e editou a revista Ler. Constantemente, é convidado para participar de simpósios, congressos e seminários como palestrante e conferencista. Assumiu a Cadeira nº 6 da Academia Paraibana de Letras, em 10 de setembro de 1999, recepcionado pelo acadêmico José Octávio de Arruda Mello.

Fonte:
Edição 108. 5 de janeiro de 2006

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Cássio Pantaleoni (Por que Precisamos de Poesia?)



A pergunta-título que ora se coloca não refere quem a reclama. Poderia ser formulada por quem se depara com a poesia e que, enfadado, desdenha-a. Por outro lado, poderia ser feita pelo próprio poeta, como tentativa de encontrar justificação para sua lida. Contudo, precisamos, sem pressa, preservá-la em sua condição ambivalente, para que possamos responder, tanto ao poeta quanto ao leitor mais refratário, algo que se avizinhe com o real sentido do que se investiga.

Primeiramente, é necessário dizer que se engana aquele que afirma encontrar o traço da premeditação na elaboração poética, como se houvesse alguma intenção prévia do poeta, pretendendo expor algo que já antes andava em convívio com sua alma. Ao contrário, a poesia é rastro de espontaneidade, algo que é deixado como evidência daquilo que é inaugurado no instante em que se manifesta, vazando desinteressada das fímbrias do espírito. É uma incontinência que se conforma em versos, redondilhas e lirismos. 

Ressalte-se que a elaboração poética é, sempre e de algum modo, uma distensão dos costumes, da cotidianidade, expressão que flerta com os sentidos que ainda não nos são de todo conhecidos. É fácil compreender isso. Se concordarmos que o espírito – a cultura – é uma justaposição das idéias do mundo na borda da história, então a poesia é referência, pois nos fala desde um ponto comum, formas e conteúdos legados pela cultura. Também é acedência, possibilitando o acesso para uma nova região do sentido. Ela consente que outros recursos possam colaborar para o entendimento dos tempos em que se vive e das possibilidades futuras, mostrando-se ainda como importante percurso para a invenção de novas acepções. Ela retira do discurso familiar o que é comum a todos para então projetar algo que estranha. A poesia é uma intemperança. 

Podemos perguntar se ela – a poesia – é algo presciente, ou se simplesmente se trata de uma irrupção, e assim investigar os fundamentos dessa disposição dos poetas. Mas talvez assim estaríamos desistindo daquilo que efetivamente está em jogo na poesia – o outro. 

É difícil imaginar que o poeta escreva para si mesmo, mesmo quando assim diz fazer, tal como um agente solitário diante de um mundo de descaso. Ele já sempre discorre diante de. Esse estar diante de é um estar junto com o outro de modo análogo, mas contraposto; conforme, mas independente. O poeta busca denunciar a familiaridade dos discursos. Ele avizinha representação e apresentação, sugerindo uma aventura, convidando à travessura. Assim, o poeta sempre é de algum modo diante de e adiante do outro, mas nunca sem antes encontrar conforto naquilo que aí está como legado das idéias do mundo. A poesia só existe no campo de uma certa inteligibilidade. É uma reconsideração do sentido que só pode ser realizada mediante o outro. Reconsiderar o sentido é especular, no imaginário coletivo, acerca das possíveis intenções perdidas na linguagem, contudo sem recorrer à intencionalidade. A espontaneidade é o destino da poesia e seu começo. Não poderia haver mediação intencional. Intencionalidade é imposição, é desconsideração do outro. 

Responde-se assim porque precisamos da poesia. Pois, poetas ou não, necessitamos crer na espontaneidade. Precisamos crer que ainda é possível se libertar desse condicionamento dos discursos, das idéias, dos rituais sociais. Precisamos recuperar a espontaneidade de modo arrebatador, precisamos ser tomados por ela de tal forma que cada gesto ou palavra seja uma manifestação verdadeiramente divina. Quando perdemos a espontaneidade deixamos a condição humana à deriva, pois aí, sem ela, o que visamos é apenas a autoconsideração. 

Como inspiração, vale lembrar Quintana: “Todos esses que aí estão atravancando meu caminho, eles passarão...eu passarinho!” .
––––––––––
SOBRE O AUTOR
Cássio Pantaleoni é Mestre em Filosofia pela PUCRS no campo de especialização da Fenomenologia e da Hermenêutica. Escritor, finalista da edição de 2011 da Categoria Contos da AGES, finalista do concurso de Contos Machado de Assis do SESC-DF em 2011, Segundo Lugar no 21o. Concurso de Contos Paulo Leminski em 2010, fundador da editora 8INVERSO e profissional da área de Tecnologia da Informação. Autor de "Os Despertos" (2000), "Ninguém disse que era assim" (2002), "Desmascarando a incompetência" (2005), "Histórias para quem gosta de contar histórias" (2010) e "A Sede das Pedras" (2012).cassio@8inverso.com.br
www.sextadepalavras.blogspot.com
https://www.facebook.com/cassio.pantaleoni.9

Fontes:
http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?clid=29
http://www.artistasgauchos.com.br/portal/?cid=74

domingo, 25 de novembro de 2012

Eliezer Demenezes (Poemas Escolhidos)


Nasceu em Fortaleza, Ceará, a 11 de Março de 1910. Filho de Francisco Simões da Costa e Maria de Menezes Costa.

Residiu no Rio Grande do Sul desde os 17 anos de idade, onde fundou e dirigiu a revista “Clímax”, de feição tipicamente moderna. Pertenceu ao grupo chamado do Sul, ligado à Editora Globo, colaborando na “Revista do Globo” e “ Província de São Pedro”, e nas outras revistas e jornais daquele Estado. 

Em 1942 foi para o Rio de Janeiro.

Bibliografia
“Poemas da Hora Amarga”, 1943 – Porto Alegre.
----
" CANTIGA DE AGORA E SEMPRE "

Veio o vento. Veio a chuva.
Foi-se a lava. Onde o céu.
Um chão riscado de mágoas.
Um mar revolto de sonhos.
Perdido alguém sem razão.
Caiu a estrela no fundo.
Fundiu-se o astro nas algas.
Luziu o fogo, - por quem.
Estradas de não sei onde

cruzando o destino meu.
Apelos de toda parte
- caindo em brasa nas almas,
torcendo as rotas do mundo.

Cantiga de agora e sempre.
A! Meu amigo sem face,
meu irmão que não tem nome,
- tão em mim e além eu, -
murchou a rosa dos ventos
no caule de tuas mãos!

" DULCE, - MAR, ESTRELA E SONHO "

Dulce, - mar, estrela, sonho.
Mar de estranhas águas e roteiros.
Estrela e sonho em minha mão.
Que primeiro barco te singrara.
Que primeiro gesto te colhera.
Estrela e sonho em minha mão.
Mar de aventuras e naufrágios,
longas vozes ressoam no teu corpo,
e há tesouro submerso e navios perdidos em ti.
De que longínquo céu caíste em chamas.
Estrela e sonho em minha mão.
Há em tuas margens enseadas e abrigos,
Há no teu seio, - ilhas.
E passeio neles como um peixe ou uma nuvem,
Mar que mergulho, e afloro, e navego.

Estrela e sonho em minha mão.

" ELEGIA À BRANCA IRMÃ "

É, inútil inscrever o teu nome
na pauta perdida do sonho.
Correm lágrimas na face das esfinges
e no rosto dos mortos.
Agora a desolação.
Talvez, algum dia,
possa se inscrever com a mão pesada e dolorida de séculos
o teu simples nome de três letras, ingênuo e promissor.
Agora o insossego.
Agora a devastação.
As fontes secaram na alma dos homens.
Agora é inútil o teu nome.

Estou triste e desolado
como o leito sem água de um rio, abrasado de sol.

" POEMA À AMADA CONSTANTE "

Teus olhos estão lânguidos.
E nascem cardos e urzes no meu pensamento.
Teus lábios falam promessas e pedem consolo.
E sou a árvore muda destroçada pela tempestade do mar.
Me convidas para a viagem da tua ternura.
E me obstino em ignorar a tua presença compassiva,
em comer os frutos maus e amargos da terra,
em procurar o teu oposto e a tua negação,
quando tudo em mim arde por ti, minha paz e meu bálsamo.
Minha vida e meu chão estão cheios de cinzas, -
não manches a tua túnica límpida
pois quero-te assim branca e pura.
Meus ouvidos transbordam de gritos.
Minha garganta sufoca-se de brados.
E no meu mar interior
andam barcos de velas negras,
e feios pássaros de bico recurvo,
e é noite, sempre noite sobre as águas...

Espera,
que voltarei com meu lado melhor, redimido e teu.

" POEMA A MINHA MÃE MORTA QUE NÃO CONHECI "

A tua mão pálida e ausente
tracejando bênçãos sobre meus sonhos aflitos.

Onde estas que apenas te suponho.
Na raiz dos meus pensamentos
Na força obscura dos meus desejos melhores
És talvez esse vôo desgarrado de esperanças,
que há em mim.
És talvez esse veleiro em mar alto à procura de náufragos,
que há em mim.

Na minha vida és como uma ficção ou a lenda de um milagre.
Algo que ficou intangível e suspenso.
Entretanto,
eu guardo na boca a impressão do teu seio
e o gosto do teu leite e do teu sangue.
As palavras, a ternura, os devaneios teus
que se fundiram no silêncio
repousaram na minha carne, certamente.
A tua face esta voltada para mim em mim mesmo,
e talvez só agora que a reconheci
eu possa me chamar de teu f ilho.

Fonte:
 Antologia da Nova Poesia Brasileira.  J.G . de  Araujo Jorge - 1a ed.   1948 . 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Artur de Carvalho (Tá Com Essa Cara Por Quê?)


Cientistas ingleses afirmaram que já é possível fazer transplantes de rosto.

É isso mesmo. Eu li a notícia numa dessas revistas de ciências, no consultório do meu médico A ideia dos cientistas é retirar a pele do semblante de um doador e reimplantá-la em outra pessoa. Afinal, eles dizem, a pele é apenas mais um órgão humano e, se já é possível fazer transplantes seguros até do coração, que é muito mais complicado, por que não da pele?

Eu fiquei abismado. Primeiro que eu nem sabia que a pele era considerada um órgão.Segundo que essa operação oferece possibilidades que beiram a ficção científica.

É, porque, embora os tais cientistas ingleses afirmem que a intenção deles é apenas recuperar pessoas desfiguradas por queimaduras, eu duvido muito que a coisa vá ficar por aí.

Você agora pode mudar de cara, entende? Quem sabe se, daqui alguns anos, a gente não vai poder escolher novas feições numa clínica ou até mesmo num supermercado ou num shopping?

A maioria das pessoas com quem comentei a notícia ficou entusiasmada. Afinal, quase ninguém é muito feliz com a cara que tem. Um reclama do nariz mais protuberante. A outra, de suas orelhas de abano. Um terceiro que tem muitas espinhas. Todo mundo quer mudar de cara.

Apenas um dos meus amigos não gostou muito da ideia. E com uma certa dose de razão.

— Eu é que não troco a minha cara. Apesar de feia, com essa pelo menos eu já estou acostumado.E, mesmo se fosse para trocar, eu ia querer a cara de quem? É uma pergunta interessante. A cara de quem você gostaria de ter? Do Silvester Stallone? Não. Acho que eu prefiro alguma coisa um pouco mais intelectual, Talvez do Woody Alien. Não, também não. Eu nunca fiquei bem de óculos. Do Tom Cruise? Não. As fãs não iam me deixar em paz. Do BilI Gates? Bem, só se, junto com a cara, viesse também seu saldo bancário. A verdade é que é muito difícil escolher uma nova cara.

— E tem outra— continuou meu amigo—, já imaginou ter a cara de outro homem ali, o tempo todo, encostadinha em você? Cai fora, sô...

Mas é claro que, apesar das dificuldades, muitas pessoas iam acabar aderindo aos transplantes de rosto. Umas por vaidade. Outras só porque é moda. E muitas por razões que a gente menos imagina.

— Mãe? Mas que cara é essa???

— Eu troquei de cara, filho.

— Mas... é a senhora mesmo?

— É claro que sou eu, meu filho.

— Mas essa cara, mãe, essa é a cara da... da...

— Joana Prado, filho, eu sei.

— Mas logo da Feiticeira, mãe! Não tinha outra cara pra você colocar?

— Pois é, filho. É que eu quis fazer uma surpresa pro seu pai. Pro meu pai?!

— É. Ele sempre vivia falando dessa Feiticeira pra cá, Feiticeira pra lá. E eu quis fazer uma surpresa pra ele e coloquei a cara dela.

— Puxa vida, mãe... Mas... e o pai gostou?

— Gostou nada. Quem é que disse que era da cara da Feiticeira que seu pai gostava?

==========
Artur de Carvalho colabora com o "Diário de Votuporanga", interior de São Paulo, desde 1997. É autor dos livros "O Incrível Homem de Quatro Olhos", edição do autor — Votuporanga, 2000, e "Pah!", Vialettera Editora, 2003. Além de excelente escritor, Artur é um cartunista dos melhores, com um traço bem diferente, que você poderá ver em seu site, e lá comprar os livros.
www.arturdecarvalho.com.br


Fontes:
http://www.releituras.com.br/acarvalho_menu.asp
Imagem = http://www.todanoticia.com/15411/finaliza-exito-francia-primer-transplante/

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sylvie Neeman (Sábado na Livraria)


artigo por Celso Sisto para o site www.artistasgauchos.com.br

NEEMAN, Sylvie. Sábado na livraria.
Ilustrações de Olivier Tallec.
Tradução de Cássia Silveira.
São Paulo, Cosac Naify, 2010. 32p.


Sempre se pode celebrar a vida com um livro. Com uma boa história. Para presentear a memória, para apaziguar os medos, para refazer a linha do nosso horizonte pessoal.

Pois este livro trata do amor aos livros. Um homem, freqüentador assíduo de uma livraria, é visto pelos olhos de uma menina. Ela acompanha suas ações, porque sempre está na livraria no mesmo dia em que ele está: aos sábados. Ele lê sempre o mesmo livro, sentado em uma poltrona, enquanto ela lê histórias em quadrinhos. O livro dele é pesado, o dela é divertido. O dele é grande, o dela acaba logo. Ele se emociona, ela repara. Até que um dia ele some. A menina se pergunta se ele estaria doente. O Natal se aproxima. Três dias antes, ele aparece novamente na livraria, e quando vai procurar o tal livro nas prateleiras, não o encontra. Estava certo de que ele finalmente havia sido vendido, sabia que esse dia chegaria, e prepara-se para voltar para casa, meio pesaroso, quando é surpreendido pela dona da livraria, com um pacote dourado.

A história é narrada pela menina, que presta atenção em tudo o que o velho faz na lojaa. Ela vai comparando-se a ele, a partir de suas atitudes, seus gostos, suas preferências, suas reações. O olho, como instrumento privilegiado da observação, vai costurando a história, fazendo de sua dona uma grande observadora da vida ao redor e de si mesma. O livro que cada um deles lê é um guardado de afetos: com o lugar (a livraria), com a leitura, com os leitores que se reconhecem na paixão do outro. E embutido nessa relação, estão as ideias de tempo, de constituição do leitor, de funções da leitura. Tudo de forma sutil, é claro.

O texto, bem distribuído nas páginas, é simples, direto, curto, e com lacunas que servem para reforçar um certo clima de mistério, de preservação das intimidades. Mas, também funciona como uma lente, e na medida em que vai se aproximando dos “retratados”, vai revelando, maiores detalhes.

As imagens do livro são grandes, de páginas duplas e com pinceladas fortes, com grande massa de tinta e cenas preparadas para provocar impressões! Predominam os azuis e os amarelos. O azul escuro reforça o tom invernal. O amarelo dá uma dimensão afetiva, uma humanidade para os personagens da história. O ilustrador não esconde os traços de grafite, o que confere ao livro uma atmosfera de intimidade, de participação em um segredo, coerente com o clima de aconchego suscitado por cada página.

A pergunta que fica ecoando por trás das observações da menina que olha o velho enquanto lê, poderia servir para todo e qualquer leitor: quem prazer se pode tirar disso? E vem ainda associada à sensibilidade decorrente do período natalino.

A autora nasceu na Suíça e estreou na literatura infantil com esse sensível livro. O ilustrador é francês e já fez mais de cinqüenta livros infantis. A sutileza da dupla, ao contar uma história tão recheada de emoções conduz o leitor do início ao fim. Não seria essa uma história de fins?
=======================
Celso Sisto
Celso Sisto é escritor, ilustrador, contador de histórias do grupo Morandubetá (RJ), ator, arte-educador, especialista em literatura infantil e juvenil, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura Brasileira, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Doutor em Teoria da Literatura, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e crítico literário de várias colunas dedicadas à literatura infantil e juvenil, na mídia impressa e on line. www.celsosisto.com/


Fonte:
http://www.artistasgauchos.com.br/

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Maria Helena Bandeira (As Estrelas, As Galáxias, O Universo)

Quando a gente está sozinha em casa, todos os barulhos são importantes. 

Os móveis rangem, o tapete ganha vida, os pingentes do lustre estalam perversamente.

O silencio é povoado de sons e no momento que a campainha tocou foi como se uma bomba explodisse dentro do meu ouvido. Levantei-me num choque e fui atender ao seu chamado.

Antes, espiei pela janelinha:

Lá estava eu, do outro lado, aguardando que a porta se abrisse.

Procurei me acalmar e usei um ardil.

"Quem é?"

Mas eu não me intimidava e respondi que era Antonio, o porteiro.

Não tive remédio senão abrir a porta.

Continuando o plano anterior, fingi não ter me reconhecido.

O pretexto era banal: a água iria ser fechada por uma hora para consertos no prédio.

Desprezei a falta de imaginação e também representei meu papel. Agradeci e fechei a porta delicadamente.

Então era assim.

Corri até o banheiro e olhei minha imagem refletida no grande espelho sobre a pia. No cristal eu estava obediente e senhora de mim. Seguia meus movimentos com precisão. Ali fora capturada e permanecia tranqüilamente às minhas ordens.

Fiz mais alguns movimentos, todos repetidos simetricamente pelo meu inverso. Tranqüilizada, voltei ao trabalho e aos ruídos familiares do meu silêncio interior.

Na hora do almoço, a dúvida me assaltou: quando passasse pela portaria será que eu estaria lá, fingindo ser o porteiro-chefe?

Havia um meio de descobrir.

Desci e lá estava eu sentada no banquinho ao lado do portão.

Procurei não dar importância e saí calmamente para o restaurante onde fazia as refeições.

Quando o garçom chegou, foi preciso usar astúcia novamente: o garçom também era eu.

Disfarcei e olhei para os lados: os fregueses, sentados nas mesas ao redor, todos eram eu e fingiam não me reconhecer.

Resolvi agir como eles e continuei nossa comédia. Escolhi os pratos, almocei, paguei a conta e saí, como se nada de estranho tivesse acontecido.

Na calçada, entre um e outro transeunte, eu me avistava a andar apressado.

O jornaleiro era eu e nos cumprimentamos indiferentes.

Passeava pela rua e nos meninos que brincavam com a bola, na garota de bicicleta, na jovem de mini-saia, em muitos me reconhecia, mas já não importava.

Todas as pessoas, aos poucos, rapidamente, cada vez mais depressa, iam se tornando meu espelho.

E vagavam, separadas de mim, em corpos que eu não controlava.

As lojas eram eu.

Cada tijolo e pedra da calçada também eram meu outro.

E eu era as árvores e os telhados. O céu era eu e as estrelas que brilhavam sobre minha cabeça. E eu era o Sistema Solar, era a Galáxia e o Universo.

Eu era tudo e, então, finalmente, era Ninguém.
===============
Sobre a autora:
Maria Helena Bandeira é carioca, jornalista, artista plástica e escritora.
Menção especial do Prêmio Guararapes (União Brasileira dos Escritores) - livro de poesia inédito).
Conto brasileiro do mês da "Isaac Asimov Magazine".
Colabora para o fanzine "Somnium" e em vários sites literários, como blocos Online,
onde se dedica a uma série literária.


Fonte:
Scarium