quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Sylvio Magellano (Poemas Diversos)


CASA DA BOCAINA

Serração desce ao pé da montanha,
cobrindo toda a campina.

Pássaros cantam um trinado fino,
na copa das árvores do pomar,
anunciando a alvorada.

Fogão à lenha acorda a casa da Bocaina.

Pela janela vejo cavalos
andando pelo pasto
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COM A BRISA DA MANHÃ

Tiras de luz penetram pelas frestas da neblina,
Como um devaneio a alma se liberta no ar
E passeia com a brisa da manhã.

Um doce aroma de frutos
Vem dos pessegueiros do pomar.
Contemplo o silêncio, a sinfonia,
Do nascer de um novo dia.

Ao lado, hortênsias florescem,
Margaridas amarelas,
Ainda com gotas de orvalho,
Sorriem para mim.

Caminho pelos campos, durante todo o meu dia,
Procurando a analogia entre todas as verdades.
O espaço e o tempo
Aprisionaram minha vontade.

Nada ao redor nota a minha presença.
Nuvens brancas
Dançam um fascinante balé,
No palco infinitamente azul.

coberto de geada.
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O SILÊNCIO QUE VEM DE VOCÊ

Você passou por minha vida
E nada mudou.
No azul do mar espumas brancas batem à praia,
Numa incessante procura.
Na verde relva da mais alta montanha,
Num caminhar sem rumo,
Minha vista se perde na imensidão do nada.
Eu que sonhei tanto
Com aquela obstinada felicidade...
Em meu rosto o toque suave do vento,
Querendo conversar.
O sol brilha na manhã de sua ausência,
Sinto o silêncio que vem de você.
Preciso aprender a viver
Com o que tenho.
Por favor...
Deixe-me esquecê-la.
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PARA ALGUÉM QUE NÃO QUIS ME SALVAR

O paredão de pedras eu não consigo escalar,
Minhas mãos feridas não conseguem mais lutar.
Logo outra onda, para águas profundas,
Vai me arremessar.

Em meu desespero suplico tua ajuda.
Segura minha mão com teu braço forte,
Me deixa enlaçar tua cintura,
Leva-me a uma praia segura.
Quero ver o sol brilhar novamente.
Deixa teus cabelos negros
Pousarem na minha fronte,
Aperta-me contra teu seio,
Beija-me profundamente.

Devolve outra vez minha vida,
Por favor, me salva, querida.
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PRELÚDIO PARA UM ADEUS

Pela cortina de seda
Da janela do meu quarto,
Uma réstia de sol insuspeito
Invade nosso leito.

Com os cabelos em desalinho,
Toda tua beleza envolta em lençóis de linho.
Quantas madrugadas, nós dois,
E depois...
Correndo junto às ondas da praia.

Existia tanta vida em teu sorriso,
Até o mar indeciso
Não acreditava
Que a "doce ventura" acabava.
Os amantes não mais sorriam,
Não mais voltariam.

O "adeus" diante do mar
E, hesitante, a prece silenciosa:
"Não deixes o tempo apagar,
Pois um dia...
A vida foi tão maravilhosa".
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Sylvio Álvares de Magalhães, Paulista de São José do Barreiro, no Vale do Paraíba, radicou-se em Curitiba. Casado com Ombretta Magalhães, teve dois filhos que nasceram em Londrina, onde residiu por dez anos. Participante da Oficina Permanente de Poesia, em que proferiu várias palestras sobre a poesia romântica brasileira. Suas crônicas literárias foram editadas pela revista do Centro de Letras do Paraná, ao qual pertence. Foi homenageado pela Câmara Municipal de Curitiba, com os diplomas "Dia da Comunidade Luso Brasileira" (em agosto de 2006) e também "Contribuição à Literatura Paranaense", ambos por indicação do vereador Ângelo Batista. Da mesma CMC, recebeu, em 2011, a Medalha de Mérito Fernando Amaro. Ocupa a cadeira n. 6 da Academia Paranaense de Poesia, tendo por patrono Leôncio Correia.

Fonte:
Lilia Souza (org.). Coletânea: Academia Paranaense de Poesia. Curitiba/PR: APP, 2012.

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