Ah, cruel felicidade,
não te deixaste encontrar...
Quanto mais avança a idade,
menos posso te alcançar!
*
A noite é das mais bonitas
e ouço os teus passos na rua...
No espaço em que tu transitas,
fazemos ronda, eu e a lua!
*
Audácia e muito trabalho,
quando quiseres vencer
e o grande segredo, espalho:
— nunca deixes de aprender!...
*
Comparo, aqui, consternada
ao ver teu olhar, tão frio:
— é como apalpar o nada
ou ir de encontro ao vazio...
*
Creio que é feliz na Terra,
quem realiza o sonho belo
de morar no alto da serra:
— seja em choupana ou castelo!
*
Da face do mundo inteiro
tirei um saber profundo...
É o trabalho, e não dinheiro,
a força que move o mundo!
*
Da sedução ao cinismo
o encanto agrada e maltrata;
pode lançar para o abismo,
depois que ao céu arrebata!
*
Detectado no planeta
o aquecimento global,
talvez não mais se cometa
o infame crime ambiental!...
*
Em caminhos separados
por conta de um dissabor,
fomos dois equivocados,
mas... vencidos pelo amor!
*
Em ti quis analisar
tudo o que encanta e seduz,
mas não pude decifrar,
do teu sorriso, esta luz!
*
Entre lágrimas e risos
caminhamos nesta vida,
muitas vezes indecisos
na chegada e na partida...
*
É troca de amor fecundo
a toda mãe, concedida:
ela põe vida no mundo,
nela o mundo põe mais vida!
*
Fico a rondar madrugadas,
quando em mim grita a saudade
das noites afortunadas
ao luar... na "'flor da idade"!
*
Forte o fogo a crepitar,
desolação da queimada:
— faz a fauna dispersar
e a flora em cinzas... mais nada!
*
Meus versos exprimem mais,
grande inspiração mantenho,
se ouço acordes passionais
de um belo tango portenho!
*
Na cadência que seduz
e eleva o ardor da paixão,
dançar tango, à meia-luz,
faz transbordar a emoção!
*
Não quero, aqui, dirimir
nem citar os mais cantados,
mas para um tango ''sentir",
só mesmo os apaixonados!...
*
Não são as joias mais caras
que mais encantam a mim,
mas, sim, as belezas raras
das "flores" do meu jardim!
*
Nos alvos lençóis da cama,
pela insônia se antevê
a dimensão do meu drama
pela falta de você...
*
Nunca se dê por perdido
nos labirintos da vida;
a entrada perde o sentido,
se não se busca a saída!...
*
Os santos Anjos de Deus
aos quais Deus nos quis confiar,
os caminhos meus e os teus
hoje e sempre irão guardar!
*
Para o poeta, a partida
não é o maior dos reversos…
O tempo lhe ceifa a vida,
mas deixa vivos seus versos!
*
Parecendo até miragem
é todo encanto o luar,
que transcende na paisagem,
ao incidir sobre o mar!
*
Passei a ser um brinquedo
do teu encanto sem par,
porque o perdão te concedo,
sempre que queres voltar!
*
Pela vereda florida
contemplo a casa deserta;
lembro a infância, ali vivida...
— Quanta saudade desperta!
*
Pequenina, mas grandiosa!
E, aqui, tento descrevê-la:
quatro versos, "rubra rosa",
com o brilho de uma estrela!
*
Quem dera que, neste mundo,
a paz não fosse quimera,
mas o saber mais fecundo
praticado em qualquer era!
*
Rejeitando os meus fracassos,
num desvario sem fim,
sonho que estou nos teus braços
e amas loucamente a mim.
*
Saudade; dor que não passa
e até provoca arrepio...
É como dormir na praça
sem coberta e exposta ao frio...
*
Segue a vida sempre cheia
de encantos e desencantos,
na alegria, que permeia
a tristeza... e um mar de prantos!
*
Seja aqui, seja acolá,
minha alma sossega e pensa,
que comigo sempre está
o Pai — Eterna Presença!...
*
Sendo a vida grande empreita,
precisamos nos lembrar,
que nunca chega à colheita
quem se esquece de plantar!
*
Sendo esse amor desmedido,
segue isento de protesto:
ama a mãe, filho bandido,
tanto quanto o filho honesto!
*
Sendo lua em céu escuro
e sol sempre a iluminar,
o grande amor que eu procuro,
talvez não possa encontrar...
*
Ser nau ou pequeno barco,
a sorte as cartas vai dar,
mas o horizonte, eu demarco,
e o que vale é navegar!...
*
Seu amor, maior que o mundo,
deu a todos por igual...
Nesse intuito um dom fecundo:
que haja a paz universal!
*
Soberana a natureza,
com destreza singular,
multiplica-se em beleza
na tarde crepuscular!
*
Sozinho em seu camarim,
o idoso ator, envergado,
sente ter chegado ao fim
toda a glória do passado…
*
Tendo agora os teus carinhos,
sei porque sobrevivi
aos mais íngremes caminhos
que pisei longe de ti...
*
Ter sempre o filho aninhado
nas asas de seu querer,
da mãe é o mundo encantado...
Mas o impede de crescer!
*
Transgrides a natureza,
crente que a podes burlar?...
Ouve e acolhe esta certeza:
— o excesso ela irá cobrar!
Fonte:
Lucilia Alzira Trindade Decarli. Inquietude. Bandeirantes: Sthampa, 2008.
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